Caso Clínico do Ambulatório
Pré-natal Patológico
Identificação
Data da consulta: 02/02/2015
• FIA, feminina, 22 anos• Negra. União estável. Do lar.
• Natural e procedente de Paranapanema • DUM: 30/04/2014
• 1º USG (23/07/14): IG = 9S 3D (Erro data) • IG: 37S 1D
• TS: A+
• Acompanha no PN Patológico devido a cirrose hepática por hepatite B congênita.
Queixa principal e duração
• QD: Não apresentou queixas na consulta,
apenas dúvidas sobre a gestação e o
Antecedentes
• AP: Hepatite B congênita diagnosticada aos 2 meses de idade.
• Diagnóstico e início do tratamento de cirrose hepática aos 14 anos de idade – tratamento com ácido
ursodesoxicolico 300mg, 6/6h.
• Perdeu seguimento na hepatologia em 2012.
Suspendeu medicação sem orientação médica quando descobriu gravidez atual.
• Nega outras patologias, tabagismo, etilismo e drogas ilícitas.
Antecedentes
• AO: Aborto espontâneo em gestação de 4
semanas, anos 14 anos de idade.
• Antecedentes menstruais: Menarca aos
12 anos. Ciclos irregulares com duração
variável. 1º coito aos 13 anos, parceiro
único. Nega queixas sexuais.
Exame físico
• BEG, hidratada, descorada 1+/4+, ictérica 1+/4+, afebril, acianótica e colaborativa.
• Peso: 86,3kg (ganho de 6kg na gestação) • PA: 122 X 64 mmHg
• FC: 72 bpm • FR: 33 rpm
• Cardio: 2BRNF, sem sopros
• Pulmonar: MV+, sem ruídos adventícios
• Abdominal: abdome gravídico, indolor à palpação, ausência de ascite, RHA +
Exame obstétrico
• AU: 31 cm
• BCF: 141 bpm
• AT/MF: +
• DU: ausente
• Apresentação cefálica, situação
longitudinal e variedade de posição com
dorso à direita
Diagnósticos
• DON: Secundigesta, nulípara, IG: 37S 1D,
feto único vivo, cefálico, longitudinal, com
dorso à direita
• DOPP: aborto há 7 anos com IG de 4
semanas
• DOPA: -
• DCC: cirrose hepática por hepatite B
congênita
Questões da paciente
• O bebê pode ser
infectado durante a
gestação? E durante o
parto?
• Posso ter parto normal?
• Posso amamentar?
• Quais são os riscos
para o bebê?
Acompanhamento de gestantes
com hepatite B crônica?
• Retornos: mensais ≤ 32ªsemana
quinzenais 32 – 36ªsemanas semanais ≥ 36 semanas
• Provas hepáticas a cada 3 meses durante a gestação e durante 6 meses após o parto.
Se ↑ALT –pedir exame de DNA viral.
• Aferir vitalidade fetal (CTG, ecografia e dopplervelocimetria).
Duarte G. Diagnóstico e conduta nas infecções ginecológicas e obstétricas. 2 ed. Ribeirão Preto: Funpec, 2004.
FEBRASGO. Manual de gestação de alto risco, 2011. Pág114.
Lee, H; Lok, ASF. UpToDate - Hepatitis B and pregnancy, Jun 27, 2014
Como deve ser o seguimento de uma
gestante com cirrose hepática?
• Endoscopia para rastreio, clipagem e
escleroterapia para prevenção de sangramento
podem ser feito normalmente.
• Evitar B Bloqueadores pelo risco de RCIU,
hipoglicemia, bradicardia e depressão respiratória
fetal.
• Não utilizar Octreotida para tratamento de
hemorragia esofágica aguda pelo risco de isquemia
uterina.
Lee, H; Lok, ASF. UpToDate - Hepatitis B and pregnancy, Jun 27, 2014
Por que é difícil detectar uma
reativação viral na gestante?
• Durante a gestação, há diminuição
fisiológica da albumina e do hematócrino.
E aumento da fosfatase alcalina e
alfafetoproteína.
• Ao EF, gestantes podem mostrar sinais de
doença hepática como edema mmii,
spiders, e eritema palmar.
Lee, H; Lok, ASF. UpToDate - Hepatitis B and pregnancy, Jun 27, 2014 Ranger-Rogez S, Denis F. Hepatitis B mother-to-child transmission. Expert Rev Anti Infect Ther. 2004;2(1):133-45. Kast BE, Stevens JA. Viral hepatitis as a major cause of maternal mortality in Addis-Ababa. Ethiopia. Int Gynaecol Obstet. 1987;25-99.
1. Meu bebê pode ser infectado
durante a gestação?
• A transmissão do VHB da mãe portadora
crônica ou com infecção aguda pode
ocorrer no período gestacional.
Entretanto, a exposição perinatal ao
sangue materno é o modo mais
eficiente de transmissão, sendo
responsável por 95% dos casos.
Jornal de Pediatria - Vol. 75, Supl.1, 1999. UpToDate 2015 – Hepatitis B and Pregnancy
Qual o risco?
• A consequência mais grave da infecção pelo HBV no RN: formas crônicas da doença (mais de 80%)
• O risco de cronificação é maior quanto mais cedo for o momento da infecção.
• O risco de transmissão do VHB é determinado pelo nível de vírus circulante no sangue materno e é indicado pela presença do AgHBe ou pela presença de DNA do VHB.
(Um estudo de 1997, em Ribeirão Preto-SP, mostrou que 21,3% das mães portadoras de VHB no parto possuiam positividade para AgHBe)
Jornal de Pediatria - Vol. 75, Supl.1, 1999. UpToDate 2015 – Hepatitis B and Pregnancy
O que pode ser feito para
minimizar esses riscos?
• Triagem sorológica no pré-natal • Imunização das mães susceptíveis • Para os RN:
– Imunoglobulina Hiperimune para Hepatite B (IGHB):
0,5 ml IM, preferencialmente até 12 horas de vida, no máximo até̀ 48 horas (Não a utilizar após 48 horas)
– Vacina para Hepatite B*: 0,5 ml IM. Iniciar até 7 dias do
nascimento, preferencialmente até 12 horas de vida, em local diferente da IGHB e repetir com 1 mês e 6 meses de idade
* Engerix B: 10mg (0.5ml); Recombivax HB: 2,5mg (0,5ml)
– Pesquisar soroconversão 1 a 9 meses após última dose do esquema acima (antes dos 18 meses de idade), para verificar
necessidade de revacinação. Jornal de Pediatria - Vol. 75, Supl.1, 1999.
As medidas de prevenção são
muito eficazes!
• IGHB + vacina = 85 a 95% de eficácia
protetora (mesmo quando a mãe tem
AgHBe e não tem anti-Hbe)
• Vacina perinatal = previne 70 a 85% de
casos de transmissão vertical
Jornal de Pediatria - Vol. 75, Supl.1, 1999. UpToDate 2015 – Hepatitis B and Pregnancy CDC. A comprehensive immunization strategy to eliminate transmission of hepatitis B virus infection in the United
States: recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). Part 1: immunization of infants, children, and adolescents. MMWR 2005 (RR-16).
2. Posso ter parto normal?
Sim!
• parto cesáreo não é indicação para prevenção da infecção, pois não há evidências de proteção ao ser comparado ao parto vaginal.
• Por ser portadora de cirrose, no entanto, a paciente deve receber olhar mais cuidadoso em relação a sua
capacidade de fazer esforço. • Estado geral
• EDA (varizes esofágicas)
FEBRASGO. Manual de gestação de alto risco, 2011. Pág114
Yang J, Zeng XM, Men YL, Zhao LS. Elective caesarean section versus vaginal delivery for preventing mother to child transmission of hepatitis B virus – a sistematic review. Virology Journal. 2008.
3. Posso amamentar?
Sim!
• Desde que o RN já tenha recebido a IGHB e a 1
adose da vacina.
Apesar da presença de antígenos de VHB no leite
materno, não há evidências de que o aleitamento
aumente o risco de transmissão.
• Mãe portadora crônica deve ser mais cuidadosa
para não sangrar por fissuras mamárias.
Global Programme for Vaccines and Immunization (GPV) and the Divisions of Child Health and Development (CHD), and Reproductive Health (Technical Support ) (RHT) World Health Organization. Hepatitis B and breastfeeding. Nº 22, 1996 Y. Poovorawan, S. Sanpavat, S. Chumdermpadetsuk, A. Safary. Long term hepatitis B vaccine in infants born to hepatitis B e antigen positive mothers. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 1997 July; 77(1): F47–F51.
4. Quais os riscos da Cirrose
hepática para a gravidez?
• Pacientes com cirrose grave dificilmente engravidam pois apresentam ciclos anovulatórios.
• Pacientes com Cirrose precoce devem ser monitorados com atenção, pois apresentam maior risco de RCIU,
TPP, HG, DPP, Sangramento, Corioaminionite e Morte Fetal
.
• Há também maior risco de Hemorragia Varicosa no 3 trimestre e no parto pelo aumento do volume de plasma e da pressão intraabdominal
Shaheen AA, Myers RP. The outcomes of pregnancy in patients with cirrhosis: a population-based study.