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PSICOTRÓPICOS AMERICANOS: USOS E MITOS

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Academic year: 2021

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PSICOTRÓPICOS AMERICANOS: USOS E MITOS

Daniel Dias Michellon1

Marcelo Ló2

Resumo: Utilizadas quase na totalidade da América, as substâncias psicoativas foram em uma grande variedade de formas utilizadas, tanto em formas quanto em objetivos, buscando analisar as relações entre os mitos e a religiosidade dos povos nativos. Contrastando também a visão europeia quando se depararam com uma religião muito diferente da conhecida por eles.

Palavras-chaves: psicotrópicos; povos americanos; religiosidade; etnocentrismo.

1. Introdução

“Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: Infinito.” William Blake apud Aldous Huxley, As Portas da Percepção. Entre

o Céu e o Inferno.(1954)

Buscamos por meio deste artigo realizar uma análise referente ao uso de drogas psicotrópicas pelos povos pré-colombianos ressaltando que não utilizamos de conceitos pejorativos. Estas também utilizadas para rituais Xamãs onde podemos colocar como uma forma de expressão que caracterizaria uma aproximação com os deuses ou experiências visionais futuristas onde essa “expansão mental” revelaria ações que deveriam ser tomadas. Essas experiências caracterizam as formas com que essas populações se relacionavam com a natureza, com seus mitos e suas compreensões sobre o mundo e o local onde habitavam.

Essas formas de rituais tiveram (e ainda tem) uma repressão muito grande, de carácter religioso (no começo da colonização) e nos dias contemporâneos uma dominação ideológica e política que trata os psicotrópicos como algo pejorativo, criando um tabu por seu aspecto subversivo, onde muitas vezes é relacionado com degeneração pessoal e principalmente por sua característica de fazer dos usuários pessoas não adaptadas a forma de vida produtiva, que a organização social predominante tem como a ideal para a vida das pessoas.

Abordaremos então o uso dos psicotrópicos por parte dos povos pré-colombianos, nas diferentes regiões da América, descrevendo e situando as plantas utilizadas e a relação com os dias atuais, tanto seu caráter de uso na época (primordialmente ritualístico) com a feita atualmente (caracterizada por seu uso recreativo, mas que pode ser compreendida também como ritualística, visto que seu uso taxado como recreativo é

1 Acadêmico de História na Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS 2 Acadêmico de História na Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS

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pregado pelo poder estatal dominante que ridiculariza seu uso de forma muitas vezes preconceituosa, descontextualizada e por interesses particulares). Os psicotrópicos citados serão os mais variados desde bebidas, cactos, folhas, raízes, vegetais, fungos, etc.

2. Psicotrópicos Americanos

Temos que ter bastante cuidado quando falamos em drogas psicotrópicas pois podemos considerar até alimentos regulares, considera-se todo droga psicotrópica responsável por uma alteração ou manutenção do metabolismo.

Utilizaremos de referências da coroa espanhola em relação a América Pré-colonial e Colonial do Séc. XV ao XVII sendo assim, devemos tomar bastante cuidado pois havia muito preconceito religioso e um eurocentrismo muito forte desconsiderando todas as outras culturas.

A planta que fora totalmente absorvida pelos europeus fora o Tabaco primeiramente utilizado como chás, sucos sendo também mastigada, e contavam também faziam o uso de inserção retal como enema3, a relatos de que o tabaco era utilizado para

comunicação com os deuses e com os mortos alguns chegavam a ter visões na fumaça. Para os indígenas, falar em alucinógenos não teria muito sentido, visto que essa experiência para eles não era uma alucinação ou uma ilusão e sim um acontecimento que levaria a um entendimento supremo das coisas. (MONTENEGRO, 2006. p.8-9)

Diferentemente de drogas psicotrópicas que normalmente atuam somente para acalmar ou para estimular (tranquilizantes, cafeína, álcool, etc.), os alucinógenos agem no sistema nervoso central para trazer um estado parecido com o de sonho, marcado, como Hofmann havia notado, por alteração extrema na esfera da experiência, na percepção da realidade, mudanças até mesmo de espaço e tempo e na consciência de si. (SCHULTES apud VARELLA, 2005. p.9)

Esse conceito para alucinógenos, da lugar para a imaginação de como esses povos tinham em mente a utilização desses recursos para uma compreensão de suas vivências no seu tempo e encontrar explicação para muitas de suas dúvidas.

Uma bebida característica do Andes é a chicha (em sua receita tem como principal elemento o milho), utilizada em cerimoniais. Em “História General de las Índias” de Gómara, ele descreve em uma passagem a utilização do milho onde “Fazem (os naturais

3 Montenegro, Guilherme Amorim. O uso de Psicotrópicos na América pré-colombiana a partir de uma perspectiva Religiosa. Ameríndia. Volume 2, nº2/2006.

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da Nova Espanha) vinho de milho, que é seu trigo, com água e mel. Chama-se atulli, e é beberagem bem comum em toda parte, e o mesmo é de todas as outras sementes suas; porém , não emborracha se não o cozem ou confeccionam com algumas ervas ou raízes”. (GÓMORA apud VARELLA, 2005. p.16)

Observa-se assim o conhecimento que os povos pré-colombianos tinham de química e também sua curiosidade de experimentação para chegarem aos resultados nas transformações nessas receitas. O milho ainda era relacionado “de onde havia supostamente saído a linhagem real Inca, o que traz paralelos com o mito do deus/herói mexicano Quetzalcoatl, em sua saga de haver e tornado uma formiga para resgatar a semente do milho nas entranhas de uma grande montanha para servir de alimento ao ser Humano...” (VARELLA, 2005. p.17)

Notasse o grande apreço dos povos pelo milho, onde sua produção e utilização tiveram uma importância muito maior que apenas servir para a complementação de uma dieta alimentícia ou seja seus diversos usos psicoativos e não apenas alucinógenos.

A semente do cacau e a folha de coca foram também muito utilizados pelos povos pré-colombianos, tanto era a sua abundância, que muitas vezes eram utilizados até como uma moeda de troca primitiva, “quando então também seriam ingeridos como alimentos estimulantes ou medicinas, e mesmo oferecidos em sacrifício e ainda usados como complementos em receitas alucinógenas”. (VARELLA, ibid. p.18)

Tamanha importância apresentavam (e ainda apresentam) para a população indígena, principalmente a folha de coca utilizada pelos seus benefícios as pessoas que vivem em regiões extremas de altitude. As sementes do cacau também geravam muita energia para as pessoas que dela se utilizavam como estimulante para realização de seus trabalhos de subsistência, muito antes de tornar-se um ingrediente fundamental para o chocolate que tinham enorme prestígio em sua produção posterior a conquista pelos espanhóis e sua colonização, sendo então essa semente uma das preferências de cultivo nas colonias tropicais.

O peiote é um dos grandes psicotrópicos da região do atual norte do México, mas cactos com o principio ativo em comum com ele (mescalina), também podiam eram encontrados e utilizados na região dos Andes, onde era retirado do cacto chamado de San Pedro ou Achuma (VARELLA, 2005. p.22), onde seu principal uso (e ainda é utilizado no norte do Peru) era por curandeiros e xamãs. No México antigo haviam ainda sementes conhecidas como tlililtzin e ololiuhqui, que contém um ácido semelhante ao do LSD. (VARELLA, 2005.p.22)

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Schultes e Albert Hofmann apresentam uma lista de 91 (noventa e uma) plantas com esse poder psicoativo (VARELLA, 2005. p 20), imaginemos então a quantidade de plantas que podem haver, visto que muito da produção de conhecimento dos povos ameríndios foi destruída por uma colonização eurocêntrica, preconceituosa que perpetua a cultura indígena à visão pejorativa, incompreendida que muito tinha (e tem) para acrescentar culturalmente, medicinalmente e principalmente numa construção de humanidade.

3.A utilização dos psicotrópicos em rituais religiosos.

Vamos nos referir ao xamanismo sendo que este advém desde os povos caçadores-coletores boreais e subárticos advindo da migração para América pelo estreito de Bering. Não podemos considerar o xamanismo como um sistema de organização religiosa.

Não haveria de ter uma diferenciação entre a vida e a morte, mas sim uma ligação do mundo real com o mundo místico. Detinha-se da noção de que todas as doenças eram causados por problemas espirituais assim, existia o xamã líder e curandeiro. Uma vez o ritual de iniciação dos xamãs era uma constante de rituais de morte, vida e ressurreição depois do xamã concluir sua formação assim de certo modo este devia dedicar-se totalmente aos problemas espirituais da comunidade, sendo que não eram poucos. O xamã ocupa um espaço bastante importante dentro da sociedade, este possuía alguns privilégios os quais era a não necessidade do trabalho sendo sustentado pela comunidade e futuramente a criação do Estado a partir da religião forneceu aos xamãs grande presença em seu meio.

Numa análise aprofundada encontramos muitos mitos com relação ao xamãs aos quais poderiam se transformar em animais e muitas outras formas abstratas, na visão dos colonizadores podemos perceber um grande preconceito em relação a estes mestres espirituais sendo chamados de bruxos, enviados do demônio e muitos outros conceitos pejorativos. A não compreensão por parte dos colonizadores fizeram com que muito da tradição xamanista fora muito destruída, assim também prejudicando bastante a pesquisa nesta área.

4.A busca do “Êxtase” pelos Psicotrópicos.

O êxtase tem significado advindo do grego que significaria arrebatamento ou seja a separação da alma e do corpo. Essa busca pelo êxtase era de suma importância para os

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lideres religiosos pois com este utilizassem do transe causado pelas drogas psicotrópicas, fazia com que estes ficassem mais perto das divindades a qual também ocorria uma absorção da energia dos seus deuses. Este transe fazia com que os lideres religiosos pudessem prever guerras, secas e uma gama muito grande de acontecimentos relacionados a sua comunidade.

Percebemos também que este êxtase era utilizado para obter o conhecimento, alguns autores mais contemporâneos como Aldous Huxley ao qual fez o uso da mescalina e depois de algum tempo redige o livro “As portas da percepção entre o Céu e o Inferno” onde relata de forma muito especifica a sua reação a droga, onde contrasta uma aprendizagem até antes nunca sofrida pelo autor, sendo diferente de tudo que o mesmo já tivesse experimentado também relata que ao mesmo tempo que se encontrava se perdia.

Percebemos uma grande diferença em relação a estas substâncias psicotrópica se compararmos a América que conta com mais de 1 centena de psicoativos e a Europa que conta 10 ou 12 substâncias do mesmo gênero. Podemos dizer que esta diferença se da pelo conhecimento adquirido pelos grupos religiosos da América que faziam um grande uso dos mesmos, assim conheciam mais facilmente estas propriedades, a ligação que estes povos tinham com a natureza também pode ser uma grande resposta a isso.

5 .Os colonizadores e Psicotrópicos

A partir da chegada dos europeus e da assimilação acerca do uso das drogas psicotrópicas percebe-se que algumas drogas além de influenciarem na produtividade também possuía um grande valor comercial, assim como as folhas de coca foram mantidos na comunidade, mas não podemos esquecer da grande pressão da igreja para que as mesmas fossem proibidas. Outras como o cacau fora transformada na base do chocolate, o tabaco se difundiu pelo mundo todo e nos dias atuais ainda é umas das drogas lícitas mais utilizadas no mundo. O Guaraná e o Mate perderam toda sua consistência religioso e passou a ser produto de consumo por parte dos colonizadores.

Tirando a utilização das substâncias acima citadas todas as outras que não rendessem lucro ou utilizado pelos europeus era totalmente proibida. Pela colonização europeia tinha a noção de que as drogas foram enviadas pelo demônio para desvirtuar os puros. Devemos deixar explicito que como as drogas psicotrópica faziam parte de um sistema sócio-cultural dos ameríndios e que criava uma forte resistência as conquistas espanholas, assim dificultando ou até ameaçando este domínio, sendo que este que não

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passava de uma reserva de almas e ouro para os colonizadores.

6. Considerações Finais

Podemos dizer que o uso da natureza como meio de “distorção da realidade” é algo que acompanha os seres humanos praticamente desde a sua existência na Terra. Todas a formas de tentar impedir o uso de substâncias que criassem essa possibilidade tem carregado consigo tabus, tanto religiosos como de conduta considerada como “exemplar” pelas sociedades dominantes. Essa forma de preconceito as diferenças, talvez também seja tão antiga quanto.

Os povos ameríndios não são exceção da forma preconceituosa com que a cultura dominante trata essas formas diferenciadas de vivência, esse etnocentrismo perpetuasse perante o extermínio de culturas divergentes, onde ocorreu (e ainda ocorre em demasia) a destruição da produção de conhecimento indígena já citada, em que compromete de forma muito significativa a pluralidade cultura e de formas de enxergar-se como um ser que tem autonomia para escolher oque lhe é melhor para sua vida e assim haver um respeito fundamental para que se possa realmente dizer, que se goza de uma liberdade considerada aceitável e experiencialista.

Gostaríamos de ressaltar que nesta linha de pesquisa possuem poucos resultados também entendemos a dificuldade de encontrar fontes concretas, pois alguns textos dos quais analisamos soou de uma forma um tanto tendenciosas, pois se tratam de textos referentes a diários de colonizadores e relatos dos mesmos. Este artigo é indicado para todos as pessoas que tem por pretensão compreender um pouco melhor a relação que se estabeleceu entre a mitologia dos povos americanos e dos povos europeus.

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7.Referências bibliográficas

CASTANEDA, Carlos. A erva do Diabo. Empreenda desconhecida

MONTENEGRO, Guilherme Amorim. O uso de Psicotrópicos na América Pré-colombiana a partir de uma perspectiva religiosa. Ameríndia,Volume 2, Nº2/2006.

VARELLA, Alexandre Camera. A cultura do uso de Psicoativos nas grandes civilizações Pré-colombianas (aproximações e perspectivas).Trabalho final na disciplina “ As bebidas alcoólicas e outras drogas psicoativas na História” Da Pós-graduação em História Social da Universidade de São Paulo – USP(2º Semestre de 2004-Ministrada pelo Dr. Henrique Carneiro) Versão revisada - Maio de 2005.

Referências

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