“Casas de negro vestidas
No meio de serras erguidas
Mulheres de negro trajadas
Rostos marcados
De rugas sulcadas.”
M. Teresa Sá Carvalho
No Açor
em redor
do xisto
Do alto dos cumes avista-se uma paisagem admirável. O recorte da serra do Açor esconde, em cada falda, a simplicidade de uma história secular por onde passaram inúmeros testemunhos vividos entre o esquecimento das velhas veredas utilizadas pelos almocreves e a vida de uma zona turística por excelência.
Para aportarmos ao Açor, vale bem a pena cada minuto calcorreado pelas curvas imensas de uma montanha que se eleva até às nuvens dos invernos rigorosos. Do alto das Portas do Inferno avistam-se léguas de distância. Mesmo ao lado, o monte Colcurinho presenteia-nos com um perfil que importa descobrir (lá mais para o final da viagem). Para trás, fica um horizonte que vai da serra do Luso passando pelo
ROTAS DA REGIÃO
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Jan | Fev | Mar | 2012 | ELMCaramulo, S. Macário, Bornes, Alhadas e até mesmo o Marão. Indescritível… Na encosta que desce abrupta, fica a aldeia do Piódão. Um verdadeiro presépio imaginário que povoa a mente dos viajantes.
Para se lá chegar, há que galgar curvas sem fim até ao largo da igreja. A origem remota da aldeia, classificada de interesse público e fazendo parte do mapa das aldeias históricas de Portugal, perde-se na época medieval. Da vontade de povoamento de D.Dinis, passando pelas histórias mais escuras de uma terra onde se escondiam malfeitores, assim se fez a história do Piódão. Por volta do sec. XIII, cresceu um povoado a que se denominou de “Casas Piódão”, daqueles que andam a pé. Um pouco mais tarde, a localização ficou-se onde atualmente se situa junto da construção de um mosteiro da ordem de Cister (abadia da Ordem de São Bernardo da qual não restam vestígios). O largo principal do Piódão fica marcado pelo contraste vivo do sombrio xisto das casas e o branco da igreja matriz. Encostadas às encostas do S. Pedro do Açor, ficam as ruelas estreitas por entre casa típicas que vale a pena descobrir em cada passo. A igreja da Sra. da Conceição foi edificada beleza da paisagem pode contrastar com a impiedade do
relevo, do clima, do agreste da montanha. Contudo, é no rosto das gentes do Açor que se distinguem passados longínquos de afetos a uma terra que não regateia simplicidade e formas de vida simples. Pelos horizontes pairam suaves brisas por entre os recortes da serra que transformam cada recanto num momento único que se vive intensamente.
no séc. XVII e reconstruída no final do séc. XIX. O traço é composto por quatro torres cilíndricas completadas por cones. Para além deste monumento, podemos descobrir a igreja de São Pedro, a capela das Almas, a fonte dos Algares e o lugar da eira.
Antes de aceitar o desafio deste percurso todo terreno, utilize a magnífivca piscina interior da unidade da Inatel, descance no seu acolhedor bar com lareira e no restaurante experimente os muitos pratos de sabores locais. Mas façamo-nos ao caminho à volta do Açor. O percurso começa aqui, junto da unidade hoteleira da Inatel, um verdadeiro piscar de olho à tranquilidade dos dias passados em plena serra. Depois do asfalto, percorremos os altos cumes da serra sempre em estradões que têm como pano de fundo a ligação entre os horizontes do norte e do sul. A descida até à Benfeita (classificada
ROTAS DA REGIÃO
“aldeia de xisto”) é muito agradável, por entre uma vegetação característica. A aldeia fica às portas de uma das mais belas áreas protegidas de Portugal: a mata da Margaraça. Atravesse a zona com toda a cautela desfrutando daquilo que a Natureza tem para oferecer de belo. A mata da Margaraça ocupa cerca de 68 ha, constituindo uma das raras amostras existentes da vegetação natural das encostas xistosas do centro de Portugal, preservada tal como existiria há séculos. As espécies predominantes repartem-se entre os castanheiros e o carvalho-alvarinho que coexistem com outras espécies como o azereiro, o azevinho e o loureiro.
Nestas paragens, a predominância do xisto e de fraturas profundas deram origem a um tipo de relevo sulcado por vales com grandes
[ ONDE DORMIR ]
• Piodão - Inatel Piódão Tel: 235 730 100/1 Fax: 235 730 104 inatel.piodao@inatel.pt 6285-018 Piódão[ ONDE COMER ]
• Restaurante Piódão XXILargo Cónego Manuel Fernandes Nogueira
Telm. 967537491 6285-018 PIÓDÃO
desníveis e linhas de água abruptas que se transformaram em quedas de água. Exemplo disto é a Fraga da Pena. Numa linha de água permanente, situam-se diversas quedas de água sendo um local muito agradável para se visitar. Nas margens, conservam-se alguns exemplares antigos de carvalho-alvarinho, azevinho e castanheiro.
Até ao final de etapa, destaque ainda pela passagem da localidade de Pomares antes da subida ao alto do monte do Colcurinho. Sensivelmente a meio, antes da subida do corta-fogo, poderá fazer um desvio para visitar um dos maiores santuários da região centro, o santuário da Sra. da Preces, e descobrir a lenda de frei Simão. Daí até ao alto, é sempre a subir… Mas vale a pena. A paisagem junto da capela da Sra. das Necessidades, onde se consegue “tocar as nuvens” e ver o mar em final de tarde, é única e indescritível. A tranquilidade apenas é incomodada pela brisa que sopra do alto da Estrela, mesmo ali ao lado…
Antes de se ir embora, dê uma volta pelos sabores da região. Bacalhau à lagareiro, trutas com arroz de grelos, bola de carne, borrego, bucho e cabrito fazem as delícias e podem ser acompanhadas com biscoitos de mel, broas de natal, filhós com mel, pudim de castanhas ou tigelada. E agora, mesmo à beira do inverno, que bom deve saber uma manta típica junto de uma lareira…
Recordações para um dia voltar.