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Narrativas e trajetórias da docência: uma vez normalista, sempre professora?

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS MESTRADO

NARRATIVAS E TRAJETÓRIAS DA DOCÊNCIA: UMA VEZ

NORMALISTA, SEMPRE PROFESSORA?

Dissertação de Mestrado

ONEIDA GONÇALVES DOS SANTOS

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ONEIDA GONÇALVES DOS SANTOS

NARRATIVAS E TRAJETÓRIAS DA DOCÊNCIA: UMA VEZ

NORMALISTA, SEMPRE PROFESSORA?

Dissertação apresentada para fins de qualificação, sendo requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Educação nas Ciências, nível de Pós-Graduação, na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí.

Linha de Pesquisa: Educação Popular em Movimentos e Organizações Sociais.

Orientadora: Prof.ª Dra. Noeli Valentina Weschenfelder

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Catalogação na Publicação

Eunice Passos Flores Schwaste CRB10/2276

S237n Santos, Oneida Gonçalves dos.

Narrativas e trajetórias da docência: uma vez normalista, sempre professora? Oneida Gonçalves dos Santos. – Ijuí, 2018.

103 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Educação nas Ciências.

“Orientadora: Noeli Valentina Weschenfelder”.

1. Histórias de vida. 2. Formação. 3. Normalista. I. Weschenfelder, Noeli Valentina. II. Título.

CDU: 371.13

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS MESTRADO

A comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertado de Mestrado

NARRATIVAS E TRAJETÓRIAS DA DOCÊNCIA: UMA VEZ

NORMALISTA, SEMPRE PROFESSORA?

Elaborada por

ONEIDA GONÇALVES DOS SANTOS

Como requisito para a obtenção do título de

MESTRE EM EDUCAÇÃO

COMISSÃO EXAMINADORA

______________________________________________ Noeli Valentina Weschenfelder, Dra. (Unijuí)

(Orientadora)

______________________________________________ Ana Rosa Fontella Santiago, Dra. (Unijuí)

______________________________________________ Hedi Maria Luft, Dra. (Unijuí)

_______________________________________________ Helenise Sangoi Antunes, Dra. (UFSM)

_______________________________________________ Marcele Homrich Ravasio, Dra. (Unijuí)

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AGRADECIMENTOS

Destaco que esta construção acadêmica acontece a partir da colaboração de várias pessoas, cada uma com sua maneira especial, que dedicaram seu tempo para ajudar de alguma forma.

Às normalistas, que fizeram parte da biografia, enriquecendo com suas experiências.

À orientadora, que foi o amparo e o socorro nos inúmeros momentos de construção e desconstrução da escrita e grande incentivadora desde a Graduação.

Às bancas de qualificação do Projeto e Dissertação, que proporcionaram caminhos a seguir e aspectos a considerar, pois sempre temos muito a aprender com a experiência.

Às colegas da Linha 3 de pesquisa, que deram incentivos e emprestaram os ouvidos para a escuta, fazendo a leitura deste trabalho, além de darem suas contribuições com a opinião.

Aos amores de minha vida, que sempre apostaram no meu potencial e são os grandes incentivadores; sem o apoio deles, as chances de estar aqui seriam nulas.

E acima de tudo e de todos, a Deus, por ter me proporcionado conhecer, aprender e conviver com pessoas especiais na minha vida; a Ele meu eterno obrigado, pois me proporcionou, com esta pesquisa, lidar melhor com o passado.

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Pedacinhos coloridos de cada vida que passa pela minha e que vou costurando na alma. Nem sempre bonitos, nem sempre felizes, mas me acrescentam e me fazem ser quem eu

sou.

Em cada encontro, em cada contato, vou ficando maior... Em cada retalho uma vida, uma lição, um carinho, uma saudade…

Que me tornam mais pessoa, mais humana, mais completa. E penso que é assim mesmo que a vida se faz:

De pedaços de outras gentes, que vão se tornando parte da gente também. E a melhor parte é que nunca estaremos prontos, finalizados…

Haverá sempre um retalho novo para adicionar à alma. Portanto, obrigada a cada um de vocês,

Que fazem parte da minha vida

E que me permitem engrandecer minha história com os retalhos deixados em mim. Que eu também possa deixar pedacinhos de mim pelos caminhos

E que eles possam ser parte das suas histórias. E que assim, de retalho em retalho,

Possamos nos tornar um dia, Um imenso bordado de "nós".

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RESUMO

Esta pesquisa foi desenvolvida abordando sobre Histórias de Vida e Formação de Normalistas. A escolha do assunto foi a partir da minha experiência como normalista e pela falta de contato com as colegas daquela época. A escrita baseia-se em pesquisa de nomes de formandas de 1994 de uma escola da rede pública do município de Ijuí (RS) nas redes sociais e nas respostas obtidas por meio de e-mail e whatsApp, empregados como ferramentas tecnológicas de apoio para a sua localização. O estudo tem por objetivo responder à pergunta do título da investigação “Narrativas e trajetórias da docência: uma vez normalista, sempre professora?”, elucidando outras questões que venham a surgir em decorrência do desenvolvimento da pesquisa ou do processo de interação com as pesquisadas. A dissertação pretende resgatar a trajetória de vida da formação normalista e comprovar como a história de vida é importante para a formação do sujeito e escolhas profissionais, além de validar como as marcas na vida das pessoas influenciam e desencadeiam novas perspectivas; assim, ao abordar a formação inicial, estou considerando a importância para a docência. Alguns conceitos são merecedores de serem aprofundados no decorrer da escrita, pois fazem parte do contexto ao qual a formação esteve inserida, como espaço, tempo, lugar, pertencimento, memória, trajetória, formação, cultura, linguagem, docência, entre outros. Permito-me, ainda, afirmar que esta pesquisa se constituiu de “retalhos” de pessoas que passaram em minha vida, o que não menospreza o sentido da palavra, mas a profundidade de como somos constituídos a partir das interações com os sujeitos que estão ao nosso redor.

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ABSTRACT

This research was developed addressing Life Stories and Normalist Training. The subject choice was based on my experience as a normalist and the lack of contact with my colleagues at that time. The writing is based in a 1994 survey of trainee names of a public school in the municipality of Ijuí (RS) on social networks and in the answers obtained through e-mail and whatsApp, used as technological support tools for their location. The study aims to answer the question of the title of the research "Narratives and trajectories of teaching: Once a normalist, always a teacher?" Elucidating other issues that may arise due to the development of the research or the process of interaction with the researched ones. The dissertation intends to rescue the life trajectory of the normal training and to prove how life story is important on the formation of the subject and professional choices, besides validating how the marks in the life of people influence and trigger new perspectives; thus, in addressing the initial training, I am considering the importance of teaching. Some concepts deserve to be deepened in the course of writing, since they are part of the context to which the teacher training was inserted, such as space, time, place, belonging, memory, trajectory, training, culture, language, teaching, among others. I would also like to say that this research was made up of pieces of people that have passed through my life, which does not underestimate the meaning of the word, but the depth of how we are constituted from the interactions with the subjects around us.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Materiais encontrados em universidades – 2001 a 2015 ... 15

Quadro 2 – Entrevistas com professoras não atuantes ... 46

Quadro 3 – Autobiografia ... 48

Quadro 4 – Entrevista com professoras atuantes 1 ... 49

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SUMÁRIO

A COLCHA DE RETALHOS FOI FEITA ASSIM... ... 10

EM BUSCA DOS RETALHOS ... 13

1 ANALISANDO OS RETALHOS QUE FAZEM PARTE DA HISTÓRIA ... 23

1.1 Contando a história de várias vidas ... 24

1.2 Quando entra a memória na história ... 28

1.3 Caminhos da escolarização na história ... 30

1.4 Feminização: história contada pelo tempo ... 31

1.5 Trajetória e formação ... 33

2 MONTANDO A COLCHA DE RETALHOS ... 34

2.1 Localizando a caminhada: Que tempo e lugar é esse? ... 34

2.2 A linguagem e o pertencimento deste lugar ... 39

2.3 Esse tempo e espaço da formação em Magistério ... 42

2.4 Apresentando as colaboradoras da pesquisa ... 43

2.4.1 Caracterização entrevistas – professoras não atuantes ... 46

2.4.2 Caracterização entrevistas – professoras atuantes ... 49

3 ASSIM SE CONSTITUI A DOCÊNCIA – UMA COLCHA SENDO TECIDA .... 57

3.1 Escolha pela docência ... 57

3.2 Ser docente: caminhada construída de experiências ... 67

3.3 Assim se faz uma ex-professora ... 72

3.4 Ser professora sim! ... 74

3.5 Docente: a caminhada não pode parar ... 80

4 ASSIM SE CONSTITUI A DOCÊNCIA – UMA COLCHA INACABADA ... 85

4.1 A nossa história se fez assim ... 85

4.2 As primeiras vivências ... 90

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS – O QUE APRENDI COM MINHA COLCHA DE RETALHOS ... 92

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A COLCHA DE RETALHOS FOI FEITA ASSIM ...

A ideia de brincar com o termo “colcha de retalhos” é interessante, pois, metaforicamente, somos constituídos desta forma: por pedacinhos que cada um deixou ao passar em nossa vida, independente das situações e do tempo em que fizeram parte da nossa existência.

Considerando que somos constituídos por todos que passam em nossa vida, a escolha desta temática aconteceu a partir da minha experiência como normalista e pela falta de contato com as colegas daquela época, o que proporcionou o reencontro com a história do grupo. Assim, fui em busca dos retalhos que fizeram parte da minha vida. O caminho que cada colega tomou depois da formatura ocasionou a perda de contato, sendo a localização das mesmas viabilizada pela pesquisa junto a redes sociais.

Esta dissertação se desenvolve a partir da pesquisa qualitativa, quando busco nas lembranças adolescentes da época de 1991 que optaram pela formação normalista em uma escola estadual do município de Ijuí-RS. Para tanto, foram utilizadas ferramentas tecnológicas como facebook, e-mail e whatsApp, o que veio a proporcionar a localização das mesmas e a coleta de informações para fomentar esta escrita.

A necessidade de estabelecer uma lista padrão de perguntas semiestruturadas constituiu-se uma forma de abordar as normalistas via e-mail e, em algum momento, um esclarecimento mais profundo ou detalhado de algo que não senti o pleno entendimento foi feito pelo whatsApp, por ser atendido com maior rapidez.

Visando a contextualizar esta formação e parte deste período de construção de experiências e conhecimentos, na qual a trajetória de sete normalistas é desvelada de acordo com as circunstâncias e oportunidades obtidas no período que compreende de 2016 a 2018, foram trocados e-mails e mensagens com dúvidas, quando obtive respostas que possibilitaram subsídios de informações.

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Os sujeitos da pesquisa caracterizam-se por todas serem mulheres, morarem em Ijuí (RS) e terem cursado Graduação na área de Educação na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí. Destas, quatro seguiram a carreira docente e três partiram para o trabalho junto ao comércio da cidade; tiveram filhos; atualmente têm idade entre 40 e 43 anos; as que são professoras atuantes permanecem estudando e fazendo cursos de formação continuada.

Ao ter em mãos o retorno das perguntas, proponho-me a analisar as respostas conforme a sua ordem de numeração corrente, sem rotular ou determinar qual a melhor, mantendo a fidelidade das respostas, considerando que esta demonstra o indivíduo uno e as oportunidades que este teve para a constituição de sua história de vida, além de levar em conta que são fragmentos de suas memórias que estão ali transcritas.

A dissertação está estruturada em quatro capítulos, com a disposição de responder às inquietações que originaram esta pesquisa sobre normalistas oriundas de formação em escola pública. Desta forma, cabe ressaltar que tenho por objetivo resgatar a trajetória de vida da formação normalista, comprovar como a história de vida é importante para a formação do sujeito e escolhas profissionais e validar como as marcas na vida das pessoas influenciam e desencadeiam novas perspectivas.

Desta maneira, a escrita organiza-se da seguinte forma:

Capítulo primeiro – o início da pesquisa, contando as histórias de várias vidas, pontuando sobre memória, trajetória e formação.

Capítulo segundo – aqui se apresenta o lugar do qual falamos, onde localizamos a caminhada e este lugar, além de abordar a linguagem, pertencimento, tempo e espaço de formação.

Capítulo terceiro – a constituição da docência, escolha pela mesma, caminhada construída de experiências, ser uma ex-professora, ser docente; sim e a caminhada não pode parar.

Capítulo quarto – proporciona uma retomada às narrativas pela nossa história assim como as primeiras vivências das normalistas.

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Para finalizar esta dissertação, as considerações finais se propõem a uma retomada da pesquisa e verificação sobre os objetivos alcançados e conhecimentos construídos até o momento, assim como as referências bibliográficas mostram os autores pesquisados.

Assim, a caminhada continua e a nossa história segue adiante, cada um fazendo a sua vida de acordo com as oportunidades, escolhas e possibilidades que a existência e as circunstâncias oferecem.

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EM BUSCA DOS RETALHOS

[...] em se tratando de pesquisa [...] A coisa só principia a funcionar quando consigo encontrar um título, que provisoriamente resuma meu problema e se constitua em hipótese a ser trabalhada (MARQUES, 2011, p. 16).

Seguindo a ideia de Marques supracitada, começo falando sobre a escolha do título que dá nome a esta dissertação de Mestrado: NARRATIVAS E TRAJETÓRIAS DA DOCÊNCIA: UMA VEZ NORMALISTA, SEMPRE PROFESSORA? Optei pelos termos narrativa e trajetórias, pois quero contar aqui alguns fragmentos de histórias de vida e isso faz parte da minha constituição de pessoa. Assim, busquei em normalistas da mesma época contribuições para ajudar a compor e a responder a pergunta: Sempre professora? Fui, portanto, em busca dos retalhos que fizeram parte da minha vida.

Aqui passo a expor a minha vivência e experiência de ter estudado e concluído a formação em Curso de Magistério e ter feito parte da história da escola pública em que desenvolvi meus estudos. Quanto aos demais elementos que constituem esta pesquisa, no decorrer do mesmo espero resultados significativos para elucidar a pergunta-título.

Desta maneira, o trabalho aqui apresentado pode ser descrito conforme as palavras de Mario Osorio Marques, quando ele se refere ao ato de escrever desta forma:

[...] ao escrever, estou sob a mirada de muitas leituras. Acho-me numa interlocução de muitas vozes que me agitam, conduzem, animam, perturbam. É isso que faz de meu escrever uma interlocução de muitas vozes, uma amplificação de perspectivas, abertura de novos horizontes, construção de saberes novos (2011, p. 29).

Inicio trazendo uma das muitas vozes que compõem esta dissertação. O dicionário Aurélio traz o significado da palavra passeio como: “ato de passear, percurso de um local a outro, para exercício ou como divertimento, lugar onde se passeia” (FERREIRA, 2009, p. 613). Considerando que a nossa vida é um percurso

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que se constitui do nascimento à morte, podemos afirmar, metaforicamente, que passeamos pela vida enquanto se desenvolve este período de experiências e aprendizagens.

Esta dissertação principia numa abordagem que se dá a partir de um ponto do caminho já conhecido e trilhado chamado passado, do qual se tem lembranças que podem contribuir com a pesquisa e que promovam um significado para esta caminhada, revisitando a história de vida e a formação de sete normalistas1 e seus subsequentes desdobramentos profissionais.

Promover este passeio determina uma busca na memória por situações marcantes e informações que possam contemplar respostas para as vivências de nossos dias, posto que podemos olhar o passado com as experiências de hoje que já fazem parte da constituição como sujeitos.

A escolha do assunto, a abordagem a ser utilizada e o modo de desenvolver o trabalho, determinam muitas idas e vindas sem respostas junto a orientadora e a colegas até surgir uma possibilidade de caminho a construir.

Quando se estabelece uma possibilidade de assunto a ser desenvolvido para esta dissertação, vou em busca de delimitações sobre o que deve ser tratado, elencando questões que tenham a ver com o meu viver, uma vez que faço parte desta turma de normalistas das quais pretendo buscar informações para constituir a escrita.

A partir deste ponto, sigo uma pesquisa de história da arte para a familiarização do que já está escrito sobre o assunto ou, que seja, de alguma forma, correspondente às situações as quais estou disposta a investigar, isto é, Magistério, histórias de vida, formação Normal, autobiografias, trajetórias. Assim sendo, cataloguei os seguintes materiais encontrados no período de 2001 a 2015 sobre o assunto em algumas universidades que desenvolvem pesquisas sobre este campo do conhecimento.

1 Normalista: desta forma se faz a referência à aluna/estudante do curso de Magistério (período de 1991 a 1994).

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Quadro 1 – Materiais encontrados em Universidades – 2001 a 2015

Ano Universidade Mestranda Doutoranda

Título Palavras-chave

2001 Unijuí Solange Catarina Manzoni Rufino O aprender da docência nas narrativas da experiência dos participantes -

2006 Unijuí Ana Luisa Klein Faistel

A construção da

identidade nos discursos de professoras

Identidade. Subjetividade. Sujeito. Formação continuada. Técnicas de si.

2007 UFSM Neoclesia Chenet A condição docente no olhar de três gerações de professores formadores

Geração. Formação. Docentes.

2008 UFSM Elinara Leslei Feller

Processos formativos e ciclos de vida de uma professora alfabetizadora

Processos formativos. Ciclo de vida profissional. Alfabetização.

2009 UFSM Silvania Regina Pellenz Irgang Baús de saberes e de significações imaginárias: o lugar da infância na formação docente de três professoras egressas do curso de pedagogia Infância. Formação de professores. Saberes. Significações imaginárias. 2010 UFSM Fernanda Gabriela Soares dos Santos

Abrindo o livro da sua vida: Trajetórias de formação de quatro professoras negras Professoras negras. Trajetórias. História de vida. Formação.

2014 Unijuí Priscilla Lucena Vianna Dias

Histórias de vida, formação docente no curso Normal e o cinema: imagens e narrativas

Cinema e docência. História de vida e formação docente. Identidades. 2015 Unijuí Maria Regina

Palha

Aprendizagem da

docência: conhecimentos das ciências humanas e da natureza para os anos iniciais da escolarização

Formação.

Significação docente. Abordagem histórico-cultural

2015 UFSM Lorena Ines Peterini Marquezan Trajetórias e processos formativos na/da docência: memórias e (res)significações Autobiografia. Trajetórias docentes. Processos formativos. Complexidade Compreensão cênica. Fonte: Elaborado pela autora/2018.

Desta forma, passo a constituir esta com aporte de trabalhos já apresentados no mundo acadêmico que serviram de fomento, pois determinam alguns aspectos que podem ser úteis na elaboração desta escrita.

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A escrita desenvolve-se a partir de minhas vivências, e proponho-me a fazer uma análise de percurso como pessoa e profissional considerando que, para trabalhar também as biografias, se faz necessário esta abordagem. Enriqueço este percurso com os depoimentos de seis colegas que tiveram esta mesma experiência, o que favoreceu o entrelaçamento e o enriquecimento de informações e expectativas para a constituição como professoras.

Tal encontro, virtual ou não, possibilitou um reencontrar com a história de vida e a formação de Magistério, atualmente Curso Normal. Nesta perspectiva, permite-se retomar as experiências vivenciadas, refletir e considerar os efeitos que produzem em nossa vida. Isto acaba por fazer com que possamos produzir outros laços e pertencimentos. Os fragmentos de memórias individuais e coletivas fazem parte de como vivemos e convivemos em sociedade, o que determina novas vivências e aprendizados.

A ideia de recuperação da memória vai propiciar que esta seja retomada mediante fragmentos da história vivida. Os momentos produziram marcas em nossa vida, o que vai proporcionar que sejam revividos, reconsiderados nos dias atuais pois temos experiência, que nos permite olhar o passado com outros olhos.

Não conseguimos recuperar a totalidade da intensidade de uma ação vivida no passado com todas as suas nuances de sentimentos de fragilidade, medo, insegurança, temor, alegria, ódio, amor, etc. O que conseguimos, através da escrita das autobiografias, é uma aproximação dessas lembranças que ainda resistiram com o passar do tempo e conseguem ser revividas e (re)significadas (ANTUNES, 2011, p. 139).

Para agregar informações, analisamos e compartilhamos esta caminhada que se sustenta na construção da investigação junto as normalistas da primeira turma de Magistério, hoje Curso Normal,2 de uma escola pública do município de Ijuí (RS), sendo esta a primeira turma que fez seleção para ingresso no curso, em 1991, e que concluiu os estudos em 1994.

2 O Curso Normal surge no período imperial, no entanto com a Lei 5.692/71 recebe o nome de Curso Magistério. Com a promulgação da Lei 9.394/96, retorna à denominação de Ensino Médio modalidade Normal.

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Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, não houve necessidade de quantificar todas as normalistas formadas como fonte de informação para a constituição da mesma. Às localizadas foi feito um convite para participar deste estudo, sendo considerados para inclusão a disponibilidade de tempo para a produção de dados, a afinidade e o interesse.

Desta turma de alunas somos sete professoras que possuem em comum a formação normalista, e encontramos espaços sociais, econômicos e culturais de acordo com a nossa realidade de vida, o que determina experiências diferentes num mesmo contexto, quando todas se encontram na escola. Podemos ainda declarar que somos profissionais atuantes, mulheres jovens, casadas, com filhos, que cursaram Graduação na área de Educação na Unijuí.3 Acreditamos no valor da educação e que ser um profissional é imprescindível, pois deixamos marcas nas pessoas com quem convivemos.

Assim, o estudo tem por objetivo responder à pergunta do título da investigação “Narrativas e trajetórias da docência: Uma vez normalista, sempre professora?” Busco, então, elucidar outras questões que venham a surgir em decorrência do desenvolvimento da pesquisa ou do processo de interação com as pesquisadas.

A dissertação pretende resgatar a trajetória de vida da formação normalista e comprovar como a história de vida é importante para a formação do sujeito e escolhas profissionais, além de validar como as marcas na vida das pessoas influenciam e desencadeiam novas perspectivas; assim, ao abordar a formação inicial, estou considerando a importância para a docência.

Para tanto, a história de vida será retomada, pois esta “representa a possibilidade de se conseguir uma maior aproximação com os sujeitos da investigação, [...] dar voz aos professores, buscar uma aproximação dos aspectos significativos de suas histórias de vida” (ANTUNES, 2011, p. 43).

Busco as informações por meio de registros escritos via ferramentas tecnológicas adotadas para coletas de dados, sendo considerados os meios de comunicação para tal o E-mail e o WhatsApp, para posterior catalogação e análise das informações obtidas. A partir das referências alcançadas junto as normalistas da

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época, elencamos as suas respostas de acordo com as perguntas enviadas, fazendo, então, uma categorização de informações a serem dispostas no decorrer do trabalho, usando de suas afirmações particulares e únicas de histórias de vida para ilustrar e refletir junto a autores, esta experiência.

Assim, também queremos resgatar a trajetória da formação normalista. Como afirma Fontana (2000, p. 124 apud ANTUNES, 2011, p. 150), “não nascemos professoras, nem nos fizemos professoras de repente. O fazer-se professora foi se configurando em momentos diferentes de nossas vidas”, comprovando como as vivências são importantes para a formação do sujeito e das escolhas profissionais, e observando como as marcas na vida das pessoas interferem e desencadeiam novas perspectivas e influenciam e determinam o que reflete na existência e na carreira profissional.

Pretendo, com isso, obter informações, a partir dessas histórias de vida, de como nós normalistas nos constitumos como professoras. Nesse sentido, Souza destaca que:

[...] o resgate da história de vida e a própria narração da história permitem compreender o modo como cada sujeito, permanecendo ele próprio, se transforma. Também evidencia o processo e movimento que cada pessoa empreende para internalizar seus sentimentos, valores, máscaras, as suas energias, para ir construindo a sua identidade, num diálogo contínuo com os seus contextos (2006c, p. 88).

Acredito que esta retomada no tempo em busca das experiências pessoais possa também permitir às normalistas uma reflexão sobre sua identidade, sua trajetória e seu processo de construção, seja ele pessoal ou profissional, proporcionando a estas maior equilíbrio e determinação para cumprir seus objetivos nas escolhas feitas.

A professora é um ser único. Nóvoa (2013) afirma que “hoje sabemos que não é possível separar o eu pessoal do eu profissional, sobretudo numa profissão fortemente impregnada de valores e de ideais e muito exigente do ponto de vista do empenhamento e da relação humana”; e reafirma: “o professor é a pessoa; e uma parte importante da pessoa é o professor” (p. 9). Assim sendo, a professora é um transformador que se constitui competente em suas atribuições de ser humano e profissional, quando consegue se identificar como profissional e está satisfeita como pessoa atuante dentro de suas designações sociais às quais se impôs como cidadão.

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Para dar início a esta pesquisa, descobri que poderia usufruir de busca junto às ferramentas tecnológicas. Propus uma pesquisa nas redes sociais de alguns nomes que eram ainda lembrados. A partir da localização de uma, seguia-se na busca por outra, e, assim, sucessivamente, se constituiu a procura pelas mesmas, o que proporcionou o encontro de várias normalistas por meio das redes sociais. Após este processo, formamos um grupo específico no aplicativo whatsApp, denominado “MEMÓRIAS DO MAGISTÉRIO”. A partir desse primeiro contato foram expostas as intenções desta pesquisa, obtendo a disponibilidade de algumas para contribuir. Este grupo é constituído por mulheres4 que seguiram a formação docente e outras que abandonaram essa carreira.

No grupo do whatsApp “MEMÓRIAS DO MAGISTÉRIO”, todas as convidadas dispuseram de espaço para socialização das informações que julgaram necessárias e, até o momento, usamos o mesmo para amenidades e contatos rápidos, recados e troca de mensagens que necessitem uma resposta ágil.

Criei uma linha direta de comunicação individual com cada uma das normalistas. Desta forma, evito expor ao grupo questões particulares e íntimas de cada uma. Essa metodologia permitiu um melhor entendimento das informações individuais e esclarecimentos de dúvidas a partir das narrativas pessoais e profissionais.

Desenvolvi, também, contato via e-mail para perguntas, questionamentos e envio do questionário, os quais foram sendo utilizados em momento oportuno no decorrer do processo de pesquisa para a dissertação. Para isso, houve manifestação de concordância das participantes da pesquisa.

A análise dos dados acontece a partir das informações obtidas, considerando que a história de vida é constituinte da formação da professora e de real importância para a vida profissional do sujeito. Por conseguinte, as significações do período de escolarização e formação profissional também devem ser consideradas para análise das histórias de vida das estudantes de Magistério.

4 Turma exclusivamente de mulheres, com idades de adolescência (16 a 18 anos) e uma sendo mais velha (aproximadamente 38, 40 anos).

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Souza assevera que

[...], através do texto escrito, pode ser compreendido para cada sujeito e para o pesquisador, em primeira instância, como indicador do sistema de valores, das suas representações socioculturais, das suas referências de compreensão, porque expressam diferentes aspectos simbólicos e subjetivos de cada história e das aprendizagens e experiências que são construídas ao longo da vida (2006b, p. 59).

A escrita encontrada na pesquisa tem suas peculiaridades representativas sociais e individuais e, por isso, acredito que todas as histórias de vida dos sujeitos da pesquisa são uma fonte de informação e podem contribuir com este estudo e com a educação, considerando, ainda, que as lembranças sejam fragmentos das histórias vividas.

Este trabalho não tem a pretensão de comparar as normalistas, analisar as oportunidades que surgiram a cada uma ou como se desenvolveram os acontecimentos no decorrer de sua vida. O que se procura é a imparcialidade nas situações a que cada uma esteve sujeita e, dentro do possível, contextualizar, junto a escrita desta, algum embasamento acadêmico de autores.

Encaminhados os questionários vai e-mail, quando recebo o retorno faço a transcrição das informações para o registro coletivo de apontamentos, e analiso o que a formação inicial de Magistério representou para essas normalistas. Uso a ferramenta whatsApp também para a coleta de dados e transcrevo ao arquivo especial para a devida categorização da mesma. As dúvidas em eventuais respostas também são sanadas a partir destas duas ferramentas. A análise de dados proporciona um panorama dos aspectos abordados pelas normalistas, o que propicia uma busca por embasamentos teóricos em autores que possibilitam um diálogo com suas contribuições.

Busquei apoio teórico-metodológico em diversos autores para as informações reunidas no decorrer da escrita da dissertação, como de Ivor Goodson, professor inglês que desenvolve estudos sobre histórias de vida, além de pesquisas narrativas sobre a vida e carreiras dos professores e seu profissionalismo docente.

Tomei posse, ainda, das contribuições de António Nóvoa (2013, 2014), professor português e grande estudioso de educação, um pesquisador de histórias de vida e formação de professores.

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Elizeu Clementino de Souza, professor brasileiro, também contribuiu com a pesquisa quando me reportei a histórias de vida em formação e da pesquisa biográfica em educação. Ele atua, principalmente, nos seguintes temas: história de vida, formação de professores, pesquisa (auto)biográfica, abordagem autobiográfica e narrativas de formação.5

Fiz referência, na pesquisa, a Marie-Christine Josso (2004), uma das principais especialistas internacionais no campo das Histórias de Vida e Formação.

Busquei escritos de Helenise Sangoi Antunes (2011) e Valeska Fortes de Oliveira (2000), professoras brasileiras, gaúchas, vinculadas ao programa de Pós-Graduação da UFSM e PPGE/UFSM, em que coordenam projetos de Formação de Professores, Saberes e Desenvolvimento Profissional.

Apropriei-me também de escritos de Ricardo Vieira (2013), Andréa Becker Narvaes (2000), Mario Osorio Marques (1993, 2011), Noeli Valentina Weschenfelder (2000), João Monlevade (2001), entre outros.

Acredito que este estudo seja uma parte do que estou me dispondo a pesquisar, portanto não chegará ao fim, pois as interlocuções sempre nos levam à busca de mais informações que podem ampliar o campo da análise. Esta escrita dissertativa limita-se a analisar a importância do processo de formação inicial do Curso Magistério das normalistas que se dispuseram a participar, sem a ambição de desvelar qual foi a mais bem-conduzida nas suas histórias ou em seus fragmentos de memória, pois todas são importantes para a constituição da pesquisa e de suas próprias vivências.

Esta visita ao passado determina um passeio pelo tempo que faz parte de nossa vida e ao qual estamos inseridos. Uma busca por fatos marcantes que ficaram registrados na memória, e que, hoje, constituem os apontamentos desta pesquisa a partir das colocações das normalistas.

Ao elaborar esta dissertação, procuro catalogar, no decorrer da produção escrita, algumas apreciações que julguei necessárias para a constituição do mesmo, considerando que espaço, tempo, lugar, histórias de vida, memória, identidade,

5 Disponível em: <https://www.escavador.com/sobre/1140953/elizeu-clementino-de-souza>. Acesso em: 21 jul. 2018.

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história, trajetória, formação, linguagem, pertencimento, são concepções que devam ser articuladas nesta produção por fazerem parte da narrativa de constituição das normalistas.

Ao reportar-me a essa caminhada de vida, vou em busca de aspectos que foram marcantes a essas normalistas nas suas formações pessoais e coletivas, o que deve subsidiar resposta ao título deste estudo, chamado “Narrativas de trajetórias da docência: Uma vez normalista, sempre professora?”

Na sequência, começo as descrições deste passeio, que foi o modo de coleta de informações, e que deve levar a novas curiosidades e inúmeros aprendizados.

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1 ANALISANDO OS RETALHOS QUE FAZEM PARTE DA HISTÓRIA

Pois um acontecimento vivido é finito ou pelo menos encerrado na esfera do vivido, ao passo que o acontecimento lembrado é sem limites, porque é apenas uma chave para tudo o que veio antes e depois. Num outro sentido, é a reminiscência que prescreve, com rigor, o modo de textura (Walter Benjamin).6

Considerando a citação supra de Benjamin (1994, p. 197-221 apud SOUZA, 2006c, p. 13), parto em busca do acontecimento vivido e que ficou na lembrança. É a jornada que está se abrindo à navegação em um passado rico de histórias. Este capítulo aborda a cultura7 em que estamos inseridos, pois esta define a história de vida, memória e passado e a construção da identidade, temas nos quais busquei contribuições para constituir a escrita desta dissertação. No caso deste estudo, significa uma busca nas vivências das normalistas, suas trajetórias e formação.

As narrativas contam a história a partir de experiências únicas, trazendo à dissertação os fragmentos que fizeram parte da nossa cultura, constituíram a nossa história de vida e formaram uma trajetória num tempo e lugar que busca na memória as lembranças significativas que moldam a nossa identidade.

Abordar histórias de vida nos proporciona parar no tempo e fazer uma busca nas vivências. É a partir dessa situação que encontramos fragmentos de nossa história na memória. Dessa forma, inicio este trabalho buscando uma definição para nossa vida, proporcionado pelo ato de narrar as situações que produziram significado.

6 Walter Benjamin (1892-1940) foi um filósofo, ensaísta, crítico literário e tradutor alemão. Deixou vasta obra literária, além de ter contribuído para a teoria estética, para o pensamento político, para a filosofia e para a história. Disponível em: <https://www.ebiografia.com/walter_benjamin/>. Acesso em: 31 maio 2018.

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1.1 Contando a história de várias vidas

Contar histórias é uma arte das mais antigas, pois era assim que se propagavam pelas gerações. Desta forma, nasce a história oral, que tem por fonte de informação pessoas que testemunharam o fato/acontecimento que está sendo assunto e, assim, passa para as gerações futuras. É a narração das experiências que proporciona ampliação de conhecimentos e de horizontes, além de uma fonte de imaginação.

O ato de contar histórias requer concentração para buscar na lembrança o enredo. Segundo Oliveira (2000, p. 11), “as lembranças às vezes afloram ou emergem, quase sempre são uma tarefa, uma paciente reconstituição” que traz os personagens, os fatos, e assim vai considerando os aspectos necessários e o foco do tema a ser explorado.

As histórias de vida ficam registradas na memória, na qual se tem a capacidade de guardar informações e recuperá-las quando julgar necessário, podendo ser de longo prazo, e onde os acontecimentos determinantes que fazem parte deste processo ficam alojados. Considerando que a memorização acontece por fatos que se tornaram marcantes de alguma forma, somente depois que conseguimos elaborar as informações anteriores temos condições de alterá-las; assim, passa a se constituir a evolução das informações já contidas em nosso cérebro e que serão, a todo o momento, processadas de acordo com as influências externas.

Os registros passam a falar por si quando, no ato de contar, nos reportam a um passado que foi determinado por um período da história de vida e que produziu significado para cada uma. De acordo com Oliveira (2000, p. 17), “histórias de vida põe em evidência o modo como cada pessoa mobiliza os seus conhecimentos, os seus valores, as suas energias, os seus repertórios”, mostrando o ser na sua integralidade, além de estabelecer marcos na sua existência.

A intencionalidade do tema “história de vida” passa pelas abordagens a que as normalistas se remetem na busca de fragmentos da nossa constituição como sujeitos; uma procura na memória por elementos mais significativos e que estão consolidados na formação no nível de Ensino Médio, habilitação Magistério (1974-1996) e Curso Normal (1996 em diante).

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Para Marie-Christine Josso (2004, p. 45), “a narrativa de formação obriga também a um balanço contábil do que é que se fez nos dias, meses e anos relatados, ela nos permite tomar consciência da fragilidade das intencionalidades e da inconstância dos nossos desejos.” Podemos ir além do contado quando afirmamos que a história de vida precisa ser reconhecida por nós porque somos constituídos por trajetórias únicas que determinam a carreira, assim como todos que fazem parte deste período de vivências também possuem suas histórias que se entrelaçam e reproduzem significados.

Escrever sobre a nossa trajetória nos remete a lembranças que vamos buscar no tempo vivido; é uma busca no tempo, como pessoas que constroem sua história a cada dia, além de produzir experiências únicas que serão consideradas ao longo da vida.

Pode não ser uma atividade muito fácil rebuscar o baú da memória, uma vez que o seu armazenamento foi constituído por vivências, o que leva a pensar sobre o acontecido e constituir uma linha de tempo na história da vida, pois, nesta, encontram-se fatos que marcaram, de alguma forma, esta vivência, e os fragmentos vêm à tona não numa ordem cronológica, mas na intensidade do que aconteceu.

Na busca por lembranças significativas da formação de professora, que pode ter acontecido em qualquer tempo da vida, Souza (2006c, p. 61) destaca que:

Na escrita da narrativa a arte de evocar e de lembrar remete o sujeito a eleger e avaliar a importância das representações sobre a sua identidade, sobre as práticas formativas que viveu de domínios exercidos por outros sobre si, de situações fortes que marcaram escolhas e questionamentos sobre suas aprendizagens, da função do outro e do contexto sobre suas escolhas, dos padrões construídos em sua história e de barreiras que precisam ser superadas para viver de forma mais intensa e comprometida consigo próprio.

É importante fazermos uma reflexão a respeito da dificuldade que se tem de lidar com o passado e as situações que nos constituíram como ser humano e social. Na perspectiva desta abordagem, busco resgatar quem somos a partir do que nos constituiu e que nos levou a sermos as pessoas e profissionais que nos tornamos. Isso, Marie-Christine Josso chama de recordação-referência:

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[...] A recordação-referência pode ser qualificada de experiência formadora, porque o que foi aprendido [...] serve, daí para frente, quer de referência a numerosíssimas situações de gênero, quer de acontecimento existencial único e decisivo na simbólica orientadora de uma vida. São as experiências que podemos utilizar como ilustração numa história para descrever uma transformação (2004, p. 40).

Quando se busca a ideia das lembranças da infância, percebemos que estas interferem na vida das pessoas, produzem saudade, medos e experiências que marcam significativamente o ser humano. Por isso, esta fase é muito importante, pois ela constitui o sujeito social que vive numa sociedade em que as trocas são constantes. Desta forma, segundo Souza (2006c, p. 60),

a escrita da narrativa tem um efeito formador por si só. Isto porque coloca o autor num campo de reflexão, de tomada de consciência sobre sua existência, de sentidos estabelecidos à formação ao longo da vida, dos conhecimentos adquiridos e das análises e compreensões empreendidas sobre a sua vida [...] que a escrita de si e sobre si exige.

A escrita de si nos permite uma parada para contemplar a existência e nos posicionar diante da vida para analisar, com as experiências vividas, as transformações que foram possíveis ser alcançadas.

A nossa vida é uma trajetória que vai deixando experiências a cada dia. O tempo vai passando e oportunizando aprendizados necessários para a nossa constituição como sujeito. Vamos vivendo experiências e aprendizados que determinam caminhos que proporcionam escolhas.

Ao olharmos as nossas vivências fazemos interpretações e elaborações a partir do lugar social em que estamos, e isso, como consequência, desencadeia na escolha de uma profissão e influencia no processo de formação das pessoas.

Considerando as histórias de vida das normalistas, constatamos que elas se encontraram dentro de um grupo social determinado, e que este grupo foi fundamental para sua vida, pois, no seu cotidiano, criou-se uma rede de convivência que permitiu que aprendessem umas com as outras, construindo conhecimentos e aprendizagens. No momento em que as informações são revividas na memória, nos damos conta que esta é a base para o nosso conhecimento, pois é a partir desta que tomamos o sentido mais amplo na vida. Assim, podemos considerar que recordar é uma necessidade, pois determina uma retrospectiva da vida, proporcionando reviver os estudos, a formação, complementá-los, contemplar a caminhada, ampliar as ideias e descobrir novos conceitos e explicações que se somam ao currículo de nossa vida. Na prática, às vezes, não percebemos toda a caminhada já percorrida.

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Ao conhecer a história da pessoa podemos entender as suas ações e reações, além de compreender como acontece o seu aprendizado, contextualizado na trajetória de vida da qual faz parte e pelas influências externas.

As experiências, a constituição dos sujeitos e a culturalidade fazem parte da história do indivíduo, por isso a ideia de abordar as histórias de normalistas da primeira turma do IEGCK8 (1991). A busca por suas identidades neste grupo de pertencimento, ao qual se apoderou e criou vínculo, mostrou que a identidade é realmente algo constituído ao longo do tempo por processos inconscientes das pessoas. Tendo isso como fundamento, entendo que a “identidade do professor é construída ao longo de sua trajetória como profissional do magistério. No entanto, é no processo de sua formação que são consolidadas as opções e intenções da profissão que o curso se propõe a legitimar” (PIMENTA; LIMA, 2008, p. 62).

Segundo as autoras, independentemente de gênero, o “eu” constitui-se como um ser produtor de cultura em virtude das vivências e constituições oriundas de um passado cheio de marcas, valores e recordações, que servem de referência para o presente. São estas marcas que conduzem, constituem e transformam, pela aprendizagem, os sujeitos sociais; sujeitos estes que sofrem e vão absorvendo e reproduzindo cultura em todos os momentos de socialização.

Consequentemente, os fazeres vão proporcionando a constituição do sujeito, independentemente de gênero. As pessoas se realizam com as atividades que desempenham e têm satisfação em seu trabalho, pois usufruem de vivências significativas, atitudes produtivas, independentes e criativas para atender suas necessidades como sujeitos em permanente formação. É por meio do trabalho significativo que se aprende o que ninguém pode ensinar, pois ele determina as experiências, os compartilhamentos e as aprendizagens que irão compor a existência, seja qual for sua escolha. São esses conhecimentos que constituem uma bagagem adquirida que pode transformar vidas e influenciar decisões e posicionamentos. São informações ou noções adquiridas por experiência ou aprendizagens que são incorporadas.

8 Atualmente designado pelo nome de Instituto Estadual Guilherme Clemente Köehler – Ijuí (RS), pois, na época, possuía a denominação de Escola Estadual de 1º e 2º Graus Guilherme Clemente Köehler.

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Quanto aos aspectos culturais, percebemos o fato de que cada uma que chega a esse determinado espaço (escola/formação Magistério) possui uma bagagem própria que será compartilhada com o passar do tempo de convivência. Todas essas transformações são consequência do que ocorre dentro do processo, tornando-se inerentes à condição humana, determinadas pelo momento em que vivem. Quanto maior o campo de contribuições, melhor se torna a ampliação e intensificação do sujeito como um todo.

Quando trago para a dissertação o elemento narrativo da história de vida, não tenho por objetivo avaliar o sucesso ou fracasso nem mesmo considerar uma línea tênue de parâmetros ideais vividos. A consideração está na maneira que se delineia o ideal de vida de cada uma, sendo único, o que é proporcionado pelas escolhas julgadas necessárias para o momento, o que sugere um foco a ser alcançado na vida.

1.2 Quando entra a memória na história

Segundo Antunes (2011), uma divindade da mitologia grega, chamada de mnemon, tinha por objetivo proporcionar a guarda da lembrança do passado; era considerada uma servidora de um determinado herói e possuía a missão de acompanhar as pessoas para as lembrar de uma ordem divina, cujo esquecimento poderia levá-los à morte. Com a evolução e o desenvolvimento da escrita, as memórias, que eram consideradas vivas, passam a ser transcritas. Isso proporcionou os montantes de memórias arquivadas que, hoje, contam a história da humanidade.

Assim sendo, essa mesma autora cita Bergson (1999) e Bosi (1999), que “apontam como sendo a possibilidade de recriar o passado a partir das experiências do presente” (apud ANTUNES, 2011, p. 54), podendo traduzir em memórias os acontecimentos que foram significativos.

Construir um acervo com informações que podem ser retomadas conforme a necessidade e interesse, é uma forma de expor os principais episódios de uma narrativa que constam como de maior importância e interesse para a composição da história. Utilizando a ideia de registro, partimos da memória vivida pelas mulheres normalistas e resgatamos seus fragmentos para reconstituí-las nesta pesquisa.

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Retomando a caminhada, ela nos remete a fatos que passamos a organizar para constituí-la. Recorremos, então, à memória individual, ou seja, os sujeitos envolvidos que vão ajudar a compor esta retrospectiva. Assim, orientamo-nos pela memória e pelo que esse processo pode significar, posto que “as lembranças às vezes afloram ou emergem, quase sempre são uma tarefa, uma paciente reconstituição”, como explana Oliveira (2000, p. 11). Essas lembranças podem aflorar demonstrando os sentimentos de quando aluna, que influenciaram o ser professora atualmente. Dessa forma, a organização do pensamento proporciona que as situações sejam revividas e a história montada a partir dos fatos selecionados e relevantes para o sujeito narrador.

É a partir dos fragmentos da memória que fazemos uma retomada, em nós mesmos, dos fatos que permitiram a nossa formação; as experiências concebidas na vida. Segundo Oliveira (2000, p. 16), a memória “organiza, busca, junta, rejunta, cola, desmonta”, proporcionando sentido à existência e valendo-se dos acontecimentos que sintetizam a formação, que são as aprendizagens e as vivências, às quais estivemos sujeitas no período de estudo, assim como as interferências familiares que fizeram parte, também, do processo.

Relembrar produz temores, porque traz de volta situações já vividas; no entanto, essa busca no passado proporciona uma avaliação pessoal e nos devolve no presente uma narrativa histórica e única. A vivência individual determina um resgate no campo da memória, levando o sujeito a organizar o que ele pensa ou considera na representação que faz de si.

Podemos afirmar, ainda, com Helenise Sangoi Antunes, que

a memória existe para que as pessoas não se esqueçam de que possuem uma história, um compromisso e uma responsabilidade de usarem a imaginação e a capacidade de criação, a fim de pensar novas formas de educar (2011, p. 46).

Segundo essa autora, a memória proporciona uma forma de reflexão porque se constitui de momentos singulares, cheios de significados e que foram vivenciados. A prática docente proporciona que sejam incorporados somente os aspectos positivos das experiências, e os negativos sirvam para não serem revividos, se constituindo, a partir daí, novos conhecimentos e saberes.

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Bosi (1999, p. 55 apud ANTUNES, 2011, p. 48) argumenta que,

na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas repensar, com imagens e ideias de hoje, as experiências do passado. A memória não é sonho, é trabalho. [...] A lembrança, é uma imagem construída pelos materiais que estão, agora a nossa disposição, no conjunto de representações que povoam nossa consciência atual.

Assim, hoje, nós, ex-normalistas, podemos rever o nosso passado com mais sabedoria, uma vez que tudo serve para aprendizado, podendo nos mostrar outros significados, reconstruídos pelo trabalho de memória e pelas lembranças no conjunto de representações que temos no presente.

Quando recorremos à memória para obter informações, trazemos à tona também as tristezas e mazelas que nos feriram e nos fizeram sofrer. São os sentimentos da dor, que também podem ser relembrados e comparados com o tempo de agora, produzindo conhecimento. Por consequência, encontrar a “inexistência de lembranças manifesta-se como uma forma de negação do sofrimento. [...] e há aqueles que conseguem lembrar, falar e escrever sobre essas lembranças” (ANTUNES, 2011, p. 75). Foi desta maneira que busquei, junto as normalistas e em mim mesma, lembranças que nos marcaram na formação. Posso afirmar, ainda, que estas possuem intensidades diferentes, umas sendo mais evidentes que as outras, o que demonstra a intensidade e o quanto foi significativo o acontecimento que produziu as marcas no indivíduo.

A memória humana é algo tão fascinante que me permite entrar nesse profundo e desafiador oceano de histórias de vida, em que o que importa não é chegar a um determinado porto, cumprir simplesmente uma tarefa, uma exigência, mas sim estar envolvida completamente pelo prazer de descobrir novos horizontes (ANTUNES, 2011, p. 218).

Com esta ideia das descobertas das potencialidades da memória, vamos nos encontrando e buscando estas lembranças que ficaram, algumas submersas e outras ainda latentes. É a situação de se propor a se redescobrir, olhando o passado com a experiência de hoje.

1.3 Caminhos da escolarização na história

À mulher sempre foram limitados seus acessos em todos os campos da sociedade, pois a mesma tinha somente espaço para afazeres domésticos e de cuidados, por sua aparência fragilizada ou por ser considerada e ensinada para outros valores que hoje não estão mais em voga.

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A educação era restrita e somente as famílias que possuíam alguma condição financeira tinham como bancar um professor para dar os devidos ensinamentos escolares aos filhos. Assim, se excluía também as mulheres em algumas situações, pois, na maioria das vezes, se restringiam às prendas domésticas, suas especialidades, e deviam cuidar da casa, do marido e dos filhos, ou seja, elas foram criadas para o lar e o homem para os negócios.

Recordando a história, sempre foi aos homens oferecida a possibilidade de estudo, e os mesmos podiam ser religiosos ou tutores, dependendo da condição financeira familiar; desta forma eram passados os ensinamentos.

É possível considerar a presença significativa da mulher em alguma profissão. Era a possibilidade de uma melhor condição financeira e a chance de exercer uma atividade longe dos afazeres domésticos, sendo uma maneira aceita pela sociedade de a mulher seguir seus estudos, conciliando com os demais afazeres, até porque esta era a única forma de a mulher ter acesso à vida pública e a conhecimentos que lhes eram negados até então, porque não existia legislação que garantisse a instrução para ela.

1.4 Feminização: história contada pelo tempo9

Até a primeira metade do século 19 existia muito professor homem. Com a expansão do capitalismo, na segunda metade deste período os homens passaram a migrar para uma remuneração maior que era encontrada nas indústrias. Desta forma, viram na mulher uma possibilidade de cobrir esta falta. Vive-se uma nova fase com a chegada de mulheres no ensino, com uma divisão de funções para cobrir as necessidades.

Surge a habilitação específica para o Curso Magistério, pois o modelo anterior caiu em decadência e desprestígio. Transformações acontecem com o início do processo de entrada das mulheres na educação primária. A escolarização, que por muito tempo ficou aquém das expectativas, passou por momentos em que não era permitida além da oportunidade de ter uma profissão como referência para si.

9 Alguns elementos da parte histórica da feminização e do Magistério foram proporcionados a partir de

leituras em vários ambientes virtuais, como

<http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe3/Documen-tos/Coord/Eixo5/477.pdf>. Acesso em: 26 set. 2018. Outras passagens estão em: <http://www.educabrasil.com.br/hem-habilitacao-especifica-para-o-magisterio/>. Acesso em: 8 maio 2018. Ainda em: CHAMON, Magda. Trajetória de feminização

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A história de ser professora é marcada por lutas e conquistas em todos os tempos, pois sempre foi uma profissão que tinha raízes num passado que pouco valorizava a profissional mulher.

No momento em que surgem as escolas Normais no Brasil, nasce uma formação para atender à necessidade que a evolução do tempo pedia, pois a profissionalização feminina estava tendo oportunidade no Magistério de seguir carreira. “A proposta de ensino nas escolas normais era extremamente simples, e seu objetivo consistia em preparar professoras para o trabalho de ensinar na escola elementar” (Chamon, 2005, p. 77).

Considerando esta abertura com nossas antepassadas professoras, avançamos na história com a nossa trajetória, que se estabeleceu dentro de uma escola, quando a formação escolhida Magistério tem sua contribuição na história do Brasil. Barros e Pisciotta (2012, p. 46) comentam que “a primeira escola a formar professores era chamada de escola Normal fundada no ano de 1835, na capital do estado do Rio de Janeiro em Niterói.” Aranha (2006 apud BARROS; PISCIOTTA, 2012, p. 46) lembra que “a princípio a formação era apenas para homens, pois mulheres não exerciam nenhum tipo de profissão”. A Escola Normal passou a atender o público feminino após 30 anos de fundada. Com isso, as mulheres passaram a ser predominantes no curso.

Desta forma, segue um pequeno relato sobre a Escola Normal:

As Escolas de Habilitação Específica para o Magistério foram criadas no contexto em que, em nome da profissionalização do Magistério, acabou-se com o chamado curso normal e criou-se a habilitação específica no âmbito do ensino profissionalizante de segundo grau. Dessa forma, o aluno concluía o segundo grau habilitado para lecionar nas séries iniciais do primeiro grau (Ensino Fundamental).

Com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996, as escolas que oferecem a Habilitação Específica para o Magistério, nos termos da Deliberação 30/87, poderão continuar a fazê-lo. Apesar da LDB10 prever que a formação de professor para o ensino básico deve ser feita em nível superior, em curso de Licenciatura ou de Graduação plena, ela admite como formação mínima, para o exercício do Magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do Ensino Fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. Em razão disso, a Habilitação Específica para o Magistério, que vem sendo oferecida, passará a denominar-se Curso Normal. A continuidade dos cursos de HEM11 também é possível porque, de acordo

10 Lei de Diretrizes e Bases da Educação. 11 Habilitação específica para o Magistério.

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com a descentralização do ensino, prevista na Constituição de 1988, cada Estado pode ter uma decisão diferente a respeito da formação de professores e exigências de diploma (MENEZES; SANTOS, 2001).12

Podemos perceber, ao longo dos anos, a menor incidência masculina dentro do espaço escolar, pois estes vão em busca de outras oportunidades em razão dos baixos salários praticados e desprestígio da profissão. Desta forma, Chamon, (2005, p.80) conta que [...] a presença de professores do sexo masculino na educação elementar era grande. A sua presença só se garantia enquanto não se encontravam melhores oportunidades de trabalho em outros setores mais vantajosos da sociedade.

Estes fatores servem para uma constatação superficial, sem intenção de aprofundamento do que a história da Educação no Brasil possa ter a nos contar sobre estes aspectos sociais e de gênero.

1.5 Trajetória e formação

Escolho para este estudo somente a trajetória de mulheres normalistas da turma de 1991, ponderando que o fundamento anterior ainda é vigente em nossa sociedade, pois é assim que se justifica a pouca procura dos homens para este tipo de formação no Curso de Magistério. Constata-se, porém, que nas turmas há a presença de homens procurando a formação para atender os níveis médio e superior, em que o tipo de trabalho a ser desenvolvido é diferenciado, assim como valores recebidos, e, deste modo, eles cumprem o desejo de ser um professor agente de educação e participante da formação dos sujeitos.

Ao tratar de formação continuada, Narvaes (2000, p. 51) afirma que “entende-se por formação um processo que atravessa toda a vida dos sujeitos”. As normalistas em estudo, ou outra pessoa, começam a construir a sua trajetória a partir de um início que pode ser considerado o princípio da vida, e passa por toda a existência. Assim, neste tempo decorrido, aconteceram momentos de intenso aprendizado que vamos acumulando em todas as instâncias de nossa existência, nos reconstruindo com o passar dos dias a partir das convivências socioculturais a que estamos sujeitos. O conhecimento do qual usufruímos está em constante transformação e proporciona novas reorganizações, pois este somente é absorvido quando ele se sobrepuser aos conhecimentos antigos, passando a fazer parte da memória, integrando a história do sujeito.

12 Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/hem-habilitacao-especifica-para-o-magisterio/>. Acesso em: 14 maio 2018.

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Este primeiro capítulo proporcionou uma abordagem ampla dos aspectos que podem ser determinantes numa formação normalista, como o ato de contar sobre suas experiências de vida e o resgate desta memória. A questão da feminização do Magistério também é algo bastante discutido, além da trajetória e formação. Para dar continuidade ao trabalho, os próximos capítulos serão de localização da pesquisa, da linguagem e do pertencimento deste espaço de formação do Magistério, apresentando as colaboradoras da pesquisa sobre histórias de vida.

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2 MONTANDO A COLCHA DE RETALHOS

Para contextualizar a pesquisa, neste capítulo abordo o lugar desta caminhada, a linguagem e o pertencimento, a cultura, o tempo e o espaço da formação em Magistério13 neste lugar chamado escola, na qual se determinam escolhas e caminhos a seguir.

Aqui também apresento as normalistas envolvidas na pesquisa e compartilho as contribuições dadas na investigação.

2.1 Localizando a caminhada: Que tempo e lugar é esse?

No momento em que selecionamos o assunto de nosso estudo, passamos a delimitar a temática. Feito isso, é possível buscar subsídios para construir uma pesquisa qualitativa que visou o enriquecimento de conceitos e informações. Passamos, desta forma, a utilizar ferramentas que venham a contribuir com o trabalho desenvolvido – o aporte de ferramentas tecnológicas –,14 com o objetivo de propiciar a aproximação e a exposição de situações deste período de transição aluna-professora para professora iniciante, que se desenvolve nos ambientes escolares.

13 Magistério porque corresponde ao período em que cursamos a nossa formação de 1991 a 1994; era denominado de Curso Magistério.

14 Ferramentas tecnológicas: denominados para afirmar que os contatos foram feitos por meio de whatsapp e e-mails e consulta a site para ilustrar.

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Assim, busco na música de Cazuza e Arnaldo Brandão, O tempo não para, integrada ao álbum com o mesmo nome, de 1988, trechos que se referem ao tempo, futuro e passado.

Disparo contra o sol Sou forte, sou por acaso Minha metralhadora cheia de mágoas

Eu sou um cara Cansado de correr Na direção contrária

Sem pódio de chegada ou beijo de namorada Eu sou mais um cara

Mas se você achar Que eu tô derrotado

Saiba que ainda estão rolando os dados Porque o tempo, o tempo não para

Dias sim, dias não

Eu vou sobrevivendo sem um arranhão Da caridade de quem me detesta

A tua piscina tá cheia de ratos Tuas ideias não correspondem aos fatos

O tempo não para

Eu vejo o futuro repetir o passado Eu vejo um museu de grandes novidades

O tempo não para Não para não, não para Eu não tenho data pra comemorar Às vezes os meus dias são de par em par

Procurando agulha num palheiro Nas noites de frio é melhor nem nascer Nas de calor, se escolhe, é matar ou morrer

E assim nos tornamos brasileiros Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro

Transformam um país inteiro num puteiro Pois assim se ganha mais dinheiro

A tua piscina tá cheia de ratos Tuas ideias não correspondem aos fatos

O tempo não para

Eu vejo o futuro repetir o passado Eu vejo um museu de grandes novidades

O tempo não para Não para não, não para

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Dias sim, dias não

Eu vou sobrevivendo sem um arranhão Da caridade de quem me detesta

A tua piscina tá cheia de ratos Tuas ideias não correspondem aos fatos

Não, o tempo não para Eu vejo o futuro repetir o passado Eu vejo um museu de grandes novidades

O tempo não para

Não para não, não, não, não, não para.15

Isso reporta-me ao tempo da adolescência, quando ansiávamos por viver novas experiências, tínhamos sede por alcançar a maioridade, e o tempo, com a sua velocidade constante, foi nos levando para a vida adulta cheia de novas responsabilidades e vivências de oportunidades.

A música, na sua letra, expressa que “o tempo não para”. Realmente é assim que a nossa vida acontece. O nosso tempo é o aqui e agora em que estamos para aprender. Desta forma, trago para o ambiente de pesquisa este subsídio de conhecimento público que é a música de Cazuza e Brandão, que produz significado para nossa vida de alguma forma.

Este processo de incertezas e novidades vivido traz junto as dúvidas e a construção de uma identidade profissional,16 a qual me distingue dos outros profissionais e são proporcionadas por minhas características diante das circunstâncias. Costumo deixar marcas próprias e exclusivas, o que permite que eu seja uma pessoa única, portadora de um conjunto de características peculiares e raras. Considero que estas particularidades se apresentam de acordo com as relações sociais e profissionais vividas em contextos cotidianos.

A criação da nossa imagem sofre alteração a partir do momento em que evoluímos com as vivências, por isso podemos afirmar que o eu profissional e o indivíduo são seres únicos e indivisíveis, que precisam caminhar em harmonia, pois são essas configurações que irão nos conduzir na profissão escolhida.

15 Disponível em: <https://www.letras.mus.br/cazuza/45005/>. Acesso em: 8 maio 2018.

16 Identidade profissional: são as características únicas que fazem um indivíduo diferente do outro no seu ambiente de trabalho e são moldadas pela convivência social através do tempo.

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Os fragmentos de memória que constituem esta pesquisa são originados desse período de acontecimentos ocorridos que denominamos tempo,17 cuja intensidade vivida desperta emoções por ter sido uma fase na qual as dificuldades necessitavam ser superadas e os primeiros passos começavam a ser dados.

A convivência mostrou, no decorrer dos dias, o que foi o período de formação do Curso Magistério, alcançando conquistas e perdas pelo caminho. Considera-se que as escolhas pela formação foram originadas em algum momento no tempo de infância, quando foram produzidas as primeiras marcas, determinadas por experiências18 positivas com professores comprometidos com a profissão. A profissão docente determina a figura de um professor que possui uma vivência que serve de exemplo de comportamento e ocupação, além de ser responsável, atuante e comprometido com a sua escolha. Tanto as professoras quanto os conhecimento que estas detêm mudam rapidamente e precisam se manter em constante qualificação, o que é alcançado com a formação permanente.

A profissão é também relacional, pois trata das interações com as pessoas, o que visa a oportunizar maior conhecimento e criticidade para o desenvolvimento das suas atividades. Esta pode produzir desgastes, assim como também deixar marcas importantes para ambos (professora e aluno), pois estabelece aprendizagens.

Olhar para a história pode ser uma oportunidade de novas aprendizagens, pois podemos ver com quem andamos e até onde chegamos, além de que é possível projetar um futuro para continuar trilhando e produzindo entendimentos que possibilitem a formação embasada em conhecimentos e práticas.

Para marcar o tempo desta formação no Curso Magistério, o currículo é um documento estabelecido pelos órgãos competentes e visa a determinar as disciplinas a serem oferecidas a cada ano e carga horária necessária para a formação. Ele fazia parte da documentação pedagógica da escola, que determinava quatro anos de estudos, incluindo o estágio, que perpassava praticamente um semestre. Foram anos de histórias que nos proporcionaram convivências e aprendizados e também serviram de base para a nossa constituição como sujeitos. As experiências aprendidas com prática e vivência, assim como as socializações realizadas no convívio, produziram aprendizados que proporcionaram significados para outras escolhas.

17 É um período em que os acontecimentos se desenrolam e os personagens realizam suas ações no decorrer de um tempo tem sequência. Disponível em: <https://www.dicionarioinformal.com.br/signi-fica-do/tempo%20cronol%C3%B3gico/13520/>. Acesso em: 11 jun. 2018.

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