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Mediação para a resolução dos conflitos da alienação parental

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUI

NANCI NASS

MEDIAÇÃO PARA A RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Ijuí 2014

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NANCI NASS

MEDIAÇÃO PARA A RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Monografia final do Curso de Graduação em Direito da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI, apresentado como requisito parcial para a aprovação no componente curricular Metodologia da Pesquisa Jurídica. DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas Sociais.

Orientadora: Professora Drª Fabiana Marion Spengler

Ijuí 2014

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NANCI NASS

MEDIAÇÃO PARA A RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Monografia apresentada como requisito parcial para obter a aprovação no componente curricular Metodologia da Pesquisa Jurídica. DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas Sociais, na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________________ Professora Drª Fabiana Marion Spengler - Orientadora

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

CONCEITO FINAL:____________

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha mãe Marli Severo (in memória) pelo empenho e dedicação desprendidos durante a minha criação/educação, agradeço a ela pela incansável luta para fazer com que este sonho um dia se tornasse realidade.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar sou grata a Deus pelo dom da vida e pela fé que mantenho nele. Agradeço:

O carinho recebido do meu esposo Evandro Stamm, pelo orgulho de nossa longa caminhada, pelo apoio, compreensão, ajuda, e, em especial, por todo amor ao longo deste percurso. Obrigada as minhas irmãs Laurita e Vitória, minha avó Dolantina e demais familiares e amigos que buscaram estar ao meu lado em todos os momentos de angústia e indecisão, mas que foram indispensáveis na busca incessante por esta conquista.

Grata ainda aos mestres que contribuíram muito para que este momento fosse recheado de conhecimento e sabedoria e fizeram com que meu olhar sobre o direito se multiplicasse ainda mais sem perder a crença na justiça dos homens.

Aos colegas das diversas turmas pelas quais passei e que sempre me acolheram em Três Passos e Ijuí e enriqueceram-me com sua companhia me ensinando muito também cada um com suas experiências e dificuldades, e são essas as lembranças que levarei como eterno aprendizado.

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“Ninguém é tão pequeno que não possa ensinar, nem tão grande a ponto de não ter o que aprender”.

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RESUMO

O presente trabalho tratou sobre a mediação para resolução dos conflitos na alienação parental na forma de estudo hipotético-dedutivo, tendo visto este instituto como uma forma jurídica viável para os assuntos relacionados à alienação parental no âmbito do direito de família, visando assim analisar o instituto jurídico da mediação, sistematizando suas hipóteses de aplicabilidade e seu fundamento processual de forma associada à solução de conflitos familiares relacionados à síndrome da alienação parental. Sistematizando a legislação, doutrina e jurisprudência quanto à viabilidade e o alcance do instituto da mediação. Buscando analisar a aplicabilidade da mediação a resolução de conflitos familiares relacionados à alienação parental realizando pesquisa jurisprudencial no TJ/RS a fim de perquirir a submissão do cumprimento de um acordo familiar fruto de uma mediação acerca da alienação parental.

O referido trabalho estudou o instituto da família em suas diversas espécies e como elas estão crescendo em suas formulações, trabalhou ainda a alienação parental como uma séria corrente a ser reconhecida, tratada, e evitada. Devendo ser estudada para que seja possível uma maior conscientização dos alienadores, para os traumas que podem se perpetuar nessas pequenas mentes que crescem a sombra de dúvidas sobre o amor da quem lhes está cuidando. E ainda buscou a mediação como forma eficaz e com uma técnica rebuscada no trato dos litígios familiares, bem como um método restaurador para a resolução dos conflitos da alienação parental que por sua vez tem crescido demasiadamente no Brasil.

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ABSTRACT

This study dealt on mediation for conflict resolution in parental alienation in the form of hypothetical-deductive study , having seen this institute as a viable way for legal matters related to parental alienation in the context of family law , thus aiming to analyze the institute legal mediation , systematizing your chances of applicability and its procedural grounds associated with the solution of family conflicts related to parental alienation syndrome manner. Systematizing legislation , doctrine and jurisprudence as to the feasibility and scope of the institute of mediation . Seeking to analyze the applicability of mediation to resolve family conflicts related to parental alienation performing jurisprudence research with TJ / RS in order to assert the submission of compliance with a familiar result of a mediation agreement about parental alienation .

That work studied the institution of the family in its various species and how they are growing in their formulations also worked parental alienation as a serious current to be recognized , treated , and prevented. Should be studied so that a greater awareness of alienating , to the traumas that can be perpetuated in these little minds growing shadow of doubt about the love of them who is taking care possible. And sought mediation as effectively and with a florid technique in dealing with family disputes , as well as a restorative for the resolution of conflicts of parental alienation which in turn has grown too much in Brazil method.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

1 DO PASSADO AO PRESENTE: A HISTÓRIA DA FAMÍLIA ATUAL ... 11

1.1 DESDOBRAMENTOS HISTÓRICOS ... 11

2 ESPÉCIES DE FAMÍLIA ... 16

2.1 FAMÍLIA MATRIMONIAL – CASAMENTO ... 16

2.2 CONCUBINATO ... 16

2.3 UNIÃO ESTÁVEL ... 18

2.4 FAMÍLIA MONOPARENTAL ... 19

2.5 FAMÍLIA ANAPARENTAL ... 19

2.6 FAMÍLIA PLURIPARENTAL OU MOSAICA ... 20

2.7 FAMÍLIA PARALELA ... Erro! Indicador não definido. 2.8 FAMÍLIA EUDEMONISTA ... 20

2.9 FAMÍLIA OU UNIÃO HOMOAFETIVA... 21

2.10 FAMÍLIA UNIPESSOAL ... 22

3 ALIENAÇÃO PARENTAL... 23

3.1 O QUE É A ALIENAÇÃO PARENTAL E COMO DIAGNOSTICÁ-LA... 23

3.2 CONFLITOS CAUSADORES DA ALIENAÇÃO PARENTAL ... 25

3.3 EFEITOS PSICOLÓGICOS DA CRIANÇA QUE SOFRE OU JÁ SOFREU COM A ALIENAÇÃO PARENTAL ... 27

4 MEDIAÇÃO ... 29

4.1 MEDIAÇÃO COMO ALTERNATIVA À JURISDIÇÃO ... 31

4.2 MEDIAÇÃO PARA RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS DA FAMÍLIA ... 35

4.3 MEDIAÇÃO PARA RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS NA ALIENAÇÃO PARENTAL ... 37

CONCLUSÃO ... 40

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INTRODUÇÃO

O estudo do tema mediação para resolução dos conflitos da alienação parental merece ser abordado e esmiuçado para que seja possível um amplo entendimento quanto a importância referida ao uso desse instituto como meio alternativo para a busca da práticas mais afetivas e menos conflitos no âmbito familiar.

O problema levantado em questão é de que podemos inserir a mediação como um ponto maior a ser discutido nas querelas da justiça para que sejam os conflitos desse meio resolvidos e findados com maior satisfação para ambas as partes.

Importante salientar que iremos rever as mais diversificadas famílias atualmente existentes em nosso país, desde as tradicionais as mais novas formações. E dessa forma é necessário o acompanhamento dos operadores do direito para fazer com que sejam lançadas no âmbito jurídico e processual as mais inovadoras e competentes alternativas para aceleração dos desfechos jurisdicionais.

Veremos a alienação parental como um mal do século para crianças e adolescentes que são obrigados a conviver com este sofrimento dentro de suas próprias residências muitas vezes padecento brutalmente sozinhos por medo de rejeição fazendo com que assim os seus genitores passem a se preocupar cada vez menos com seus direitos mais essenciais como a saúde mental, os estudos, o direito a cultura, a diversão e ao lazer e que como passar do tempo acabam se tornando adultos com déficits em alguma parte de seu sistema intelectual e natural.

Analisaremos também que os traumas causados na infância podem se arrastar por toda a existência desses lactentes e que mais tarde podem trazer inúmeras consequências em

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desfavor destes antes infantes e que agora adultos estejam despreparados para os certos percalços que a vida nos apresenta. Visto que seres humanos envolvidos em litígios familiares tendem sempre a se tornam mais emotivos e descompensados com estas situações a que são acometidos, os menos favorecidos de inteligência podem até não concretizar seus desejos por não saber como desenvolver medos e traumas vividos desde a infância. Veremos ainda com isso pode ser tratado também quanto aos casos de alienação parental onde a criança já está exposta a um certo tipo de desconforto no âmbito afetuoso de sua vida, pois existe uma briga entre alguém da sua família e ela sem poder escolher acaba sendo a vítima desse caos.

A presente pesquisa busca a possibilidade de o ordenamento jurídico brasileiro estabelecer meios alternativos para o desdobramento final de litígios instaurados em nosso meio. O problema a ser solucionado observa que a mediação pode ser uma forma de solução mais completa e objetiva aos litigantes do meio familiar, fazendo com que ambas as partes possam expressar-se igualmente e isso as deixa mais tranquilas nos decorrer de todo o processo, formando assim um leque mais aberto para os litigantes estabelecerem suas prioridades e formalidades quanto ao que se esta em questão.

Intrínseco relacionar à mediação nos casos da alienação parental do qual irá ser tratado o terceiro capítulo que versará sobre todo o crescimento deste fenômeno assim chamado por doutrinadores e especialistas em direitos da criança e do adolescente que tem literalmente abarrotado o judiciário com pequenos litígios até mesmo graves em função de genitores que desrespeitam regras e acabam assim prejudicando seus próprios filhos de forma a violenta-los intelectualmente em desfavor de outro genitor ou membro da família, fazendo com que essa criança passe a ser uma moeda de troca entre ambos.

Diante do exposto, o estudo do assunto em questão, demonstra sua importante relevância, na medida em que, além de oferecer uma forma de assear o mecanismo judiciário, pois o uso da mediação nas questões conflitivas surgidas no ambiente da alienação parental pode impedir que estas sejam direcionadas a mesma, visa também salvaguardar a família, entidade de suma importância para a sociedade, tendo em vista que tornam mais fáceis e menos traumáticas as separações, bem como as necessárias transições para o prosseguimento das vidas dos membros das famílias envolvidas.

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1 DO PASSADO AO PRESENTE: A HISTÓRIA DA FAMÍLIA ATUAL

O conceito de família variou muito nos últimos anos, mesmo que suas mudanças tenham sido as mais diversas, a trajetória de tantos desdobramentos, os conceitos foram sempre se adaptando a realidade, e com isso a essência vem se perpetuando ao longo do tempo.

1.1 DESDOBRAMENTOS HISTÓRICOS

Para Arnoldo Wald e Priscila da Fonseca (2009, p.11), a família era simultaneamente uma unidade econômica, religiosa, política ou jurisdicional na medida em que o patrimônio era administrado pelo pater; a religião era proveniente dos antepassados de cada linhagem, fruto de uma crença doméstica; e a administração da justiça, no âmbito privado, ocorria dentro do próprio núcleo familiar. Deste modo, possuía o homem mais velho (pater) poder absoluto sobre a família, inclusive no direito a vida e liberdade destes, restando à mulher um papel secundário de pouca ou nenhuma importância.

Mas tendo a família ganho maior liberdade no Brasil, tanto social quanto legalmente, e ainda considerando-se à facilidade cada vez maior de pôr termo a estas relações, se criou uma instabilidade nas relações afetivas, o que proporcionou o surgimento massivo do fenômeno da alienação parental.

Já enfrentada e formalizada nos tribunais americanos já há algum tempo, o termo chegou ao Brasil através de pesquisas realizada por profissionais relacionados às áreas de desenvolvimento infantil e do direito de família, conforme asseveram Douglas Phillips Freitas e Graciela Pellizzaro (2012, p.18).

O entendimento da instituição familiar, deve passar por uma análise sobre a origem da família. No que diz respeito ao surgimento dessa instituição, qual seja a seio em que somos criados, Belmiro Pedro Welter (2009, p. 33), faz relevante comentário, que mostra a preferência histórica pelo patriarcalismo na formação da família:

É repudiada a possibilidade de ter existido um lar comunista, governado pelas mulheres, defendendo-se a teoria patriarcalista da origem da família. O patriarcalismo, caracterizado pela monogamia e pelo (pré) domínio do homem sobre a mulher, foi ressaltado nas legislações antigas – Legislação Mosaica, Código de Hamurabi e Código de Manu -, todas elas com cunho religioso, que sustentavam a autoridade do marido sobre a mulher, do pai sobre os filhos e do senhor perante seus servos. Essa questão foi deixada bem clara por Fustel de Coulanges, de que a superioridade do marido sobre a mulher, do pai sobre os filhos e do senhor sobre

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seus servos “derivou da religião e por esta foi estabelecida: não foi, pois, o principal elemento constitutivo da família”, impondo o modelo patriarcal e monogâmico de família, para que o culto aos antepassados não fosse perturbado pelo adultério e pela consequente contestação da paternidade, isso porque “a primeira regra do culto está em o lar se transmitir de pai para filho”.

Ao longo da história todo laço familiar era patriarcal, impondo o total poder do homem para toda e qualquer decisão que fosse necessária serem tomadas em nome da família, não havendo a menor possibilidade de intervenção da esposa ou filhos. O Brasil seguiu a mesma linha, como podemos destacar de Welter (2009, p. 41), que retrata a concepção de família nos primórdios de nossa colonização:

Desde o descobrimento do Brasil, historia Gilberto Freyre, a discriminação dos membros da família, principalmente mulher e filhos, era fato corriqueiro na Casa-Grande e na Senzala. A mulher branca, por exemplo, era destinada ao

casamento; a mulata, ao sexo, e a negra, ao trabalho, demonstrando o preconceito

impuro do homem. As moças eram criadas em ambiente rigorosamente patriarcal, vivendo “sob a mais dura tirania dos pais – depois substituída pela tirania dos maridos”. Momento seguinte, o autor relata que os homens não gostavam de casamentos longos, mas de se amasiar, se concubinar, o que era facilitado pelas leis portuguesas, que proibiam o reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento.

Decorrido o tempo, no período entre as fases colonial, imperial e republicana poucas mudanças ocorreram no sentido de família como um todo, o homem continuou a ser o dono das decisões do lar, e com a forte influência religiosa, principalmente a católica que na época era a única no Brasil, essa fase ainda se arrastou por um longo período.

Contudo, no advento do direito Canônico, que tomou forma na Idade Média após a invasão do Império Romano, o divórcio, antes permitido, passou a ser visto como o sacrilégio de uma união sacramentada e realizada por Deus: uma abominação, terminando por se tornar um instituto do qual apenas a Igreja poderia dispor, afastado da jurisdição do Estado.

Em razão disto, e dada à concretude vitalícia do casamento, a Igreja estabeleceu diversos impedimentos matrimoniais a fim de garantir a vontade dos nubentes, como a existência de coação, capacidade e do próprio consentimento, fatores que, posteriormente, foram sendo afastados (juntamente a indissolubilidade da união) pelas diversas Reformas religiosas na Europa.

No Brasil, foi à proclamação da República brasileira a responsável pela total desvinculação da Igreja e do Estado. A partir dela a competência exclusiva da União para reconhecer o casamento foi institucionalizada, devendo este ser realizado civilmente, nos termos da lei, conforme disposto na declaração de direitos aferida no artigo 72, parágrafo 4º, da Constituição republicana de 1891.

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Art. 72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes:

§ 4º - A República só reconhece o casamento civil, cuja celebração será gratuita

Mais tarde, o Código Civil de 1916, por reflexos do direito canônico, fez com que o homem assumisse o papel de chefe de família se utilizando de um posicionamento patriarcal. Ademais, o núcleo familiar se constituía em razão de um caráter mais patrimonial do que afetivo e mesmo a procriação dos filhos tinha como objetivo resguardar bens adquiridos na constância da vida dos pais, que por sua vez visavam garantir seu legado através da sucessão.

Para isso, contudo, o texto normativo reconhecia como entidade familiar apenas aquela fundamentada pelo casamento, sendo extremamente preconceituosa a visão da sociedade quanto a qualquer outra espécie de família, inclusive as tendo marginalizado, conforme refere Rolf Madaleno (2011, p.7).

Igualmente o divórcio não era previsto, posição legislativa que, aliás, se manteve mesmo no advento das Constituições de 1934, 1937, 1946 e 1967, embora tenha se tentando por diversas vezes introduzi-lo no país, conforme leciona Yussef Said Cahali (2011, p.58).

E foi justamente em razão da impossibilidade da extinção do matrimônio, que o concubinato (que à época também abarcava a união estável) se tornou um instituto comum, mesmo que hostilizado pela sociedade em geral, levando ao reconhecimento, ainda que frágil desta espécie familiar, ao ser instituída a indenização por serviços prestados a concubina quando do término do relacionamento.

Ainda assim, como referimos anteriormente, esse modelo familiar era extremamente malvisto, sendo inferiorizado e discriminado da mesma forma que os filhos ilegítimos, o que o afastava, até então, de qualquer benefício de ordem sucessória.

Portanto, a família no advento do Código Civil de 1916 tinha como características definitivas o fato de ser patriarcal, hierarquizada, heteroparental, biológica e institucional, vista como unidade de produção e de reprodução, e passou a ter novos significados apenas com a evolução da visão social do seu conceito que, aos poucos, exigiu a promulgação de novas leis dispondo sobre direitos, deveres e liberdades do núcleo familiar e seus membros.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, romperam-se os laços entre religião e direito, ocorrendo a necessária civilização, que consubstancia-se em pressuposto fundamental para a evolução de um Estado Democrático de Direito. A citada Constituição, chamada de cidadã, democratizou o instituto família, positivando o desenvolvimento da

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família em um ambiente livre de discriminações e igualitário em direitos e deveres. O trecho abaixo descrito, extraído da obra de Welter (2009, p. 46), ilustra o que foi dito:

Com o advento da Constituição cidadã, formou-se um novo tempo constitucional, em que as discriminações e violências contra a mulher e os filhos foram afastadas, parcial e formalmente, mas não de forma material, pelo que há ainda um longo caminho a ser percorrido até a compreensão da família tridimensional. Isso quer dizer que ainda é eminentemente lenta a laicização, a democratização, a humanização e a condição humana tridimensional, devido à resistência do ser humano em suspender os preconceitos violentos, espúrios e i-mundos legados pela tradição histórica. Por isso, a condição de possibilidade da compreensão do direito de família é conhecer a tradição histórica, em que o seu contexto é marcado por discriminação, hierarquia, intolerância e violência, as quais devem ser substituídas pela linguagem democrática, laica, republicana e constitucional.

Na esteira do acima exposto, Stangherlin (2007, p. 16), relata o seguinte:

Além disso, a CF/88, em seu artigo 226, parágrafos 2º, 3º, 4º e 5º, vem aprovar o desenvolvimento da família, ao explicar que a união pode ser estável, religiosa ou civil e também ao sancionar que os mesmos direitos e deveres referentes à união serão exercidos tanto pelo homem como pela mulher.

Welter (2009, p.164-165), na obra citada até o presente momento, defende que, para uma melhor compreensão e aplicação do Direito de Família na atualidade, o ser humano deve ser tratado sob três óticas a saber: a genética (afeta a parte biológica), a afetiva (ligada ao relacionamento interpessoal) e a ontológica (modo como o ser humano compreende a si mesmo). O tratamento do ser humano em sua tridimensionalidade atinge o objetivo proposto pela Constituição Federal de 1988, que é o da valorização da dignidade da pessoa humana, o que reflete sobremaneira no modo de se conceber a família na atualidade, concebendo-a como um ente que deve pautar seu relacionamento interno na dignidade da pessoa humana, rompendo com um passado de discriminação e intolerância. Em consonância ao citado, o autor afirma que:

A constituição não deve ser compreendida como uma mudança, e sim como uma revolução constitucional e hermenêutica, uma vez que a mera mudança do pensamento dogmático não será capaz de remover todos os açoites do passado e descobrir a correspondência entre passado, presente e futuro da família. É preciso vislumbrar, em cada artigo do texto constitucional, as violências do passado, presente e a expectativa da não-reificação dessas tristes lembranças no futuro.

Essa Magna Carta será compreendida pela tridimensionalidade humana se forem afastadas as condutas preconceituosas do passado, ainda pendentes no presente, mas que também podem manifestar-se no futuro, caso não sejam revistos, efetivando-se uma fusão de horizontes e uma compreensão histórica da tradição. Pela leitura gadameriana, a tradição não é simplesmente um acontecer que se

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aprende a conhecer e a dominar pela experiência, e sim uma linguagem, que fala por si mesma, sendo o que torna possível a liberdade do conhecer.

Em consonância ao exposto até o presente momento, as uniões conjugais da atualidade não são estabelecidas, pelo menos na grande maioria dos casos, com base em questões patrimoniais, mas sim com base na parte emocional. Atestando tal afirmação Eliana Riberti Nazareth (2009, p. 13), assim mostra seu entendimento:

Observa-se a intensificação de um quadro, já esboçado no começo do século XX, em que a realização pessoal e sexual passa a ser um valor a ser conseguido. A escolha do parceiro passa a se dar pelo aspecto emocional e não mais pelo patrimonial. Diminui drasticamente o apego às tradições. Aumentam, no imaginário social, os espaços para uniões não-eternas e para a busca da felicidade dos indivíduos. Com isso, aumenta também o número de divórcios e recomposições familiares.

A autoridade paterna, antes inquestionável e una, é esmaecida, e uma nova autoridade, mais divida entre os genitores e horizontalizada estrutura-se.

Atualmente a família, como já anteriormente citado, aprendeu a virar-se sozinha, sem a necessidade do pai conduzir os direitos de deveres de cada um dos membros da família um todo. Sendo assim, o formato de família tradicional, fortemente influenciado pelo modo patriarcal e pelas regras da igreja, mesmo assim não se amolda à conformação dada pela constituição atual, visto que a constituição familiar de agora se dá também com a união estável entre pessoas de sexo diferentes, ou com apenas um dos pais e seus desdentes, rompendo dessa forma o estereótipo do passado, dado que a família era o sinônimo do casamento.

Logo, resta claro que o Brasil sofreu inúmeras mudanças legislativas e sociais através da história. Ao compararmos com os demais países do globo, inclusive com nações vizinhas a nossa, é possível perceber claramente que os momentos históricos que nosso país vivenciou, embora importantes para construção social, jurídica e moral da nossa identidade como Estado, aliada aos intensos períodos de burocratização e mudanças de regime, sem dúvida, em alguns aspectos, foram responsáveis pelo atraso legislativo do país, que culminou no atrasado do reconhecimento legal da alienação parental e também da mediação.

Então percebemos que família têm em sua atualidade as relações mais de cumplicidade e afetividade entre seus membros e que não visa mais como outrora, os rigores formais, religiosos e patrimoniais, que antes lhe eram só o que realmente importava. Ao fim vemos que o respeito mútuo e as relações internas são as que agregam diferenças aos valores da família típica do Brasil da atualidade.

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2 ESPÉCIES DE FAMÍLIA

As espécies de famílias foram evoluindo ao longo dos tempos e com isso notamos que o poder familiar sofreu mudanças capazes de refletir na sociedade, ainda mais quando surgem novas leis e textos, abordando assuntos como o posicionamento do Estado no papel de “pai” do melhor interesse da criança. E ainda, vimos que o matrimônio, não sendo mais a única forma de criar laços familiares, criou-se uma era com diversas modalidades de família, as quais iremos analisar sucintamente.

2.1 FAMÍLIA MATRIMONIAL – CASAMENTO

Estudando essa espécie de família é possível que encontremos duas correntes doutrinárias. A primeira fixa-se no casamento matrimonial, como um ato formal litúrgico. Tendo o seu surgimento no Concílio de Trento em 1953. Vindo a ser o único meio de constituir família no Brasil. Os adeptos desta corrente apontam que os artigos 226, §§1º e 2ª da CF topograficamente privilegiam o casamento.

De outro modo, a segunda corrente acredita na isonomia dos laços fraternais, que levam a acreditar no casamento como modelo de família correto, tendo por base sua tese nos artigos 5º e 226 da CF, bem como no projeto do Estatuto das Famílias (Projeto nº 2.285/2007 ).

2.2 CONCUBINATO OU FAMÍLIA PARELELA

A respeito, Maria Helena Diniz( 2006, p.1413):

Concubinato. O concubinato impuro ou simplesmente concubinato dar-se-á quando se apresentarem relações não eventuais entre homem e mulher, em que um deles ou ambos estão impedidos legalmente de casar. Apresenta-se como: a) adulterino [...] se se fundar no estado de cônjuge de um ou de ambos os concubinos, p. ex., se homem casado, não separado de fato, mantiver ao lado da família

matrimonial uma outra; ou b) incestuoso, se houver parentesco próximo entre os

amantes.

O Código Civil repudia o concubinato, tendo o artigo 1642, inciso V, apontado:

Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a mulher podem livremente: [...]

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V - reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou transferidos pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado que os bens não foram adquiridos pelo esforço comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de cinco

anos; [...]

O Código Civil denomina de concubinato as relações não-eventuais existentes entre homem e mulher impedidos de casar, forte no artigo 1727 do CC, in verbis:

Art. 1.727. As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, constituem concubinato.

Estão impedidos de casar, forte no artigo 1521 do Código Civil:

Art. 1.521. Não podem casar:

I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; II - os afins em linha reta;

III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do

adotante;

IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau

inclusive;

V - o adotado com o filho do adotante; VI - as pessoas casadas;

VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.

O concubinato não vem protegido pelo projeto do Estatuto das Famílias. E por muito tempo no direito brasileiro era passível de um entendimento contravertido, porque acontecia na relação entre um casal não unido em matrimônio, portanto não poderia constituir família. Mais tarde a doutrina e a jurisprudência trouxeram uma nova visão para esta espécie de família, vindo a ser a união entre duas pessoas que optavam em não formalizar esse relacionamento.

Podemos ainda interpretar a família paralela como sendo um concubinato, essa espécie de família é aquela em que um dos cônjuges mantém duas famílias nas quais se relaciona, pois não é correto que uma pessoa se case duas vezes, ocorre nesse caso uma afronta à monogamia, mesmo que vínculo seja matrimonial ou de união estável.

O Código Civil denomina de concubinato as relações não-eventuais existentes entre homem e mulher impedidos de casar. O artigo 1521 refere que não podem casar as pessoas casadas. Preferimos denominar este concubinato de família paralela, para diferenciá-lo do concubinato em que existe apenas uma família.

Portanto, na família paralela, um dos integrantes participa como cônjuge de mais de uma família.

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Caso o impedimento seja o casamento anterior, temos duas situações: a) será União Estável se o casamento foi faticamente desfeito; b) será concubinato (na modalidade união paralela) se o casamento anterior coexista com o novo relacionamento.

Maria Berenice Dias (2007, p.48) anota ser a união paralela um relacionamento de afeto, repudiado pela sociedade. Não obstante, obtempera:

Os relacionamentos paralelos, além de receberem denominações pejorativas, são condenados à invisibilidade. Simplesmente a tendência é não reconhecer sequer sua existência. Somente na hipótese de a mulher alegar desconhecimento da duplicidade das vidas do varão é que tais vínculos são alocados no direito obrigacional e lá tratados como sociedades de fato. [...] Uniões que persistem por toda uma existência, muitas vezes com extensa prole e reconhecimento social, são simplesmente expulsas da tutela jurídica.

Negar a existência de famílias paralelas – quer um casamento e uma união estável, quer duas ou mais uniões estáveis – é simplesmente não ver a realidade.

2.3 UNIÃO ESTÁVEL

É a relação entre um homem e uma mulher que não tenham impedimento para unir-se em matrimônio, mas não o fizeram. A forma mais tradicional atualmente entre os casais da nova geração. Pode também por opção, o casal que convive em união estável fazer ou não o registro de união estável.

No artigo 1723, o Código Civil a reconhece e a define:

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.

§ 1o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente.

§ 2o As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união estável.

O Código Civil, em seu artigo 1723, §1º, considera união estável a relação existente entre aqueles que possuem casamento anterior não dissolvido formalmente. É o que se chama de separados de fato.

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SegundoVenosa (2008, p.37) a importância da convivência entre homem e mulher, de forma não passageira nem fugaz, em convívio como se marido e esposa fossem. Tais características a diferem da união de fato.

2.4 FAMÍLIA MONOPARENTAL

Segundo de Maria Berenice Dias (2007, p.47) defende que é uma tendência jurídica considerar o laço do genitor com seu filho como monoparental, já que o novo casamento de um dos genitores não importa restrições de direitos e deveres do outro.

Assim é possível analisarmos que essa espécie seja a mais complicada de limitar direitos e deveres entre as partes envolvidas.

Possui albergue constitucional, artigo 226, §4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.

Em suma, é a relação existente entre um dos pais e sua descendência. Tal família vem disciplinada no artigo 69, §1º, do Projeto do Estatuto das Famílias. Não encontra ainda assento no Código Civil.

O Projeto do Estatuto das Famílias a define no artigo 69, § 1.°: Família monoparental é a entidade formada por um ascendente e seus descendentes, qualquer que seja a natureza da filiação ou do parentesco.

2.5 FAMÍLIA ANAPARENTAL

Nessa espécie identificamos os sujeitos que possuem um vínculo de similitude, mas que não necessariamente de um ascendente e descendente, e sim, apenas fazem parte da mesma família. Encontramos a base legal no artigo 69, caput do Projeto do Estatuto das Famílias, in verbis: “Art. 69. As famílias parentais se constituem entre pessoas com relação de parentesco entre si e decorrem da comunhão de vida instituída com a finalidade de convivência familiar”.

A respeito, esclarece Maria Berenice Dias (2007, p.47): “A convivência entre parentes ou entre pessoas, ainda que não parentes, dentro de uma estruturação com identidade de propósito, impõe o reconhecimento da existência de entidade familiar batizada com o nome de família anaparental.

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Como exemplo de família anaparental, podemos destacar: a) dois irmãos que residam

juntos; b) João e Maria, irmãos, residindo com seu primo Francisco; c) tio Donald e seus

sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luizinho, como é o clássico exemplo da Disney”.

2.6 FAMÍLIA PLURIPARENTAL OU MOSAICO

Nesta espécie a família é construída a partir da união de duas pessoas que trazem os filhos provenientes de relacionamentos anteriores, criando-se a figura do padrasto e da madrasta e assim unidos, tornam-se apenas uma família, com o tradicional “os meus, os teus e os nossos”.

Esmiuçando o conceito, Maria Berenice Dias (2007, p.47):

A especificidade decorre da peculiar organização do núcleo, reconstruído por casais onde um ou ambos são egressos de casamentos ou uniões anteriores. Eles trazem para a nova família seus filhos e, muitas vezes, têm filhos em comum. É a clássica expressão: os meus, os teus, os nossos [...]

Maria Berenice Dias (2007, p.47), de forma bastante feliz, refere que família pluriparental resulta de um mosaico de relações anteriores. Como exemplo, destacamos a família formada por João, Gabriel e Rafael (filhos oriundos de anterior relacionamento de João), por sua esposa Penélope, Ana Carolina (filha de relacionamento anterior de Penélope), e Victor, filho de João e Penélope).

O Projeto do Estatuto das Famílias a define no artigo 69, § 2.°: Família pluriparental é a constituída pela convivência entre irmãos, bem como as comunhões afetivas estáveis existentes entre parentes colaterais.

2.8 FAMÍLIA EUDEMONISTA

Família eudemonista é aquela decorrente do afeto. Sistema de moral que tem por fim a felicidade do homem: o epicurismo e o estoicismo são modelos desse tipo de genealogia. Essa linhagem faz parte de um sistema ou teoria filosófico-moral segundo a qual o fim e o bem supremo da vida humana são a felicidade.

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Ética baseada na noção aristotélica de “eudaimonia” ou felicidade humana… Embora próxima da “ética da virtude”, essa abordagem distingue-se daquele quando é eliminada a identificação grega entre a ação virtuosa e a felicidade. O eudemonismo pode também variar conforme as noções do que é, de fato, a felicidade. Assim, os cirenaicos acentuam o prazer sensual; os estóicos salientam o desapego em relação a bens mundanos, como a riqueza e a amizade. Tomás de Aquino dá mais atenção à felicidade como contemplação eterna de Deus e assim por diante.

Maria Berenice Dias (2007, p.52-53) observa:

Surgiu um novo nome para essa tendência de identificar a família pelo seu envolvimento efetivo: família eudemonista, que busca a felicidade individual vivendo um processo de emancipação de seus membros. O eudemonismo é a doutrina que enfatiza o sentido de busca pelo sujeito de sua felicidade. A absorção do principio eudemonista pelo ordenamento altera o sentido da proteção jurídica da família, deslocando-o da instituição para o sujeito, como se infere da primeira parte do § 8º do art. 226 da CF: o Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos componentes que a integram.

Compreendemos então que nesta parentela acima descrito pode ser dizer que é onde cada um dos membros da irmandade luta individualmente por sua felicidade e realização pessoal sem abandonar o convívio coletivo com os demais.

2.9 FAMÍLIA OU UNIÃO HOMOAFETIVA

Família Homoafetiva (2008) é aquela decorrente da união de pessoas do mesmo sexo, as quais se unem para a constituição de um vínculo familiar. O Projeto do Estatuto das Famílias a define no artigo 68:

Art. 68. É reconhecida como entidade familiar a união entre duas pessoas de mesmo sexo, que mantenham convivência pública, contínua, duradoura, com objetivo de constituição de família, aplicando-se, no que couber, as regras concernentes à união estável.

Venosa (2008, p.408-409) “refuta a possibilidade de reconhecimento da família homoafetiva como entidade familiar, sendo apenas possível o reconhecimento de reflexos patrimoniais.”

Maria Berenice Dias (2007, p.45), em sentido contrário, obtempera: “A nenhuma espécie de vínculo que tenha por base o afeto pode-se deixar de conferir status de família, merecedora da proteção do Estado, pois a Constituição (1º, III) consagra, em norma pétrea, o respeito à dignidade da pessoa humana.”

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A União Homoafetiva restou expressamente reconhecida na Lei Maria da Penha (Lei Federal nº 11.340/2006 – Lei da Violência Doméstica), em seu artigo 5º:

Artigo 5º: Para efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

I – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente

agregadas;

II – no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por

afinidade ou por vontade expressa;

III – em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único: As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.

Em recente decisão, o STJ reconheceu a validade da união homoafetiva (REsp 820.475).

Dessa forma, a Lei penal reconhece a proteção da Lei Maria da Penha às uniões homoafetivas femininas.

Cumpre destacar que ao legislador não compete fazer juízo valorativo a respeito destas Uniões, em atenção ao princípio da dignidade da pessoa humana, devendo disciplinar estas “relações jurídicas de afeto” e suas consequências no mundo jurídico.

2.10 FAMÍLIA UNIPESSOAL

Família unipessoal é a composta por apenas uma pessoa. Recentemente, o STJ lhe conferiu à proteção do bem de família, como se infere da Súmula 364:

O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.

Euclides de Oliveira (2009, p.35) destaca que a proteção dada pela referida Súmula se dá em resguardo ao direito constitucional de moradia.

Cumpre destacar, que facilitando o reconhecimento das relações fáticas entre os indivíduos, pelo legislador, verificando a necessária defesa de cada sujeito em fazer juízo valorativo a respeito do surgimento destas novas famílias, sendo importante observar a dignidade da pessoa humana.

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3 ALIENAÇÃO PARENTAL

O assunto deste capítulo será a síndrome da alienação parental, como diagnosticar isso em cada criança, quais os conflitos que desencadeiam esses comportamentos e depois veremos os efeitos psicológicos de quem sofre desta síndrome.

3.1 O QUE É A ALIENAÇÃO PARENTAL E COMO DIAGNOSTICÁ-LA

A alienação parental é conhecida como aquela em que um dos genitores ou membro da família de uma criança tente destruir outra figura familiar, fazendo com que a criança não mais tenha afinidade ou se identifique com aquela pessoa hostilizada pelo adulto que o convenceu.

A definição do termo alienação parental, segundo Silva (2007, p. 5) é atribuída ao psiquiatra Richard Gardner, o qual, em seus estudos, percebeu que a prática de certas condutas no sentido de destruir a figura de um dos genitores para obter a guarda dos filhos, pode causar uma síndrome denominada de alienação parental. Nela há uma programação da criança no sentido de que ela passe a odiar o genitor sem motivos reais. Há uma desmoralização intencional de um dos pais (alienador) em face do outro (alienado), sendo que o filho é utilizado como instrumento de agressividade. Geralmente, o genitor alienador é a mãe pelo fato de que, na maioria dos casos, é ela quem acaba ficando com a guarda dos filhos, e o genitor alienado é o pai. Veja a alienação parental, segundo Lima (2010, p. 14)

(...) é também nominada de síndrome dos órfãos de pais vivos, síndrome de afastamento parental, implantação de falsas memórias ou tirania do guardião. Nesse mesmo sentido, Aguilar afirma que essa síndrome, identificada pela sigla SAP, é um transtorno, surge principalmente nas disputas pela guarda das crianças, decorre de um conjunto de sintomas que resulta no processo pelo qual um genitor transforma, através de diferentes estratégias, a consciência dos filhos com a finalidade de impedir, obstruir ou destruir seus vínculos com o outro genitor. Há uma sistemática doutrina (lavagem cerebral) no sentido de denegrir o pai alienado.

Quanto ao mais, há uma discussão devido ao termo usado no caso da Síndrome, porque isso seria um diagnóstico mais profissional médico de avaliar, e sendo assim causa uma dúvida ainda maior, porém é na verdade uma desvantagem, que na realidade confunde um fenômeno com um conceito. Por isso ao se falar em síndrome, neste caso específico, deve ser interpretado como sentido figurado.

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Porém há quem discorde deste pensamento e veja uma real diferença entre a Síndrome da alienação parental e alienação parental simplesmente, veja o que nos diz Gardner sobre o assunto.

(...) a alienação parental é um termo mais geral, enquanto que a Síndrome de Alienação Parental é um subtipo específico da alienação parental. Alienação parental tem muitas causas, por exemplo, a negligência parental, abuso (físico, emocional e sexual), abandono e outros comportamentos alienantes parental. Todos estes comportamentos por parte dos pais pode produzir alienação nas crianças. A síndrome de alienação parental é uma subcategoria específica de alienação parental, que resulta de uma combinação de programação dos pais e da própria contribuição a criança, e é vista quase exclusivamente no contexto de disputas de custódia-infantil.

Portanto, entende-se que a alienação parental é a desmoralização da figura do outro genitor perante a criança e que poderá ser feito por terceiros, como tios e avós, não somente pelo guardião da criança. Já a Síndrome da Alienação Parental pode ser considerada como as consequência e sequelas deixadas por essas atitudes. São os efeitos emocionais e as condutas comportamentais na criança que é ou foi vítima desse processo.

No ordenamento jurídico brasileiro, através da Lei nº 12.318 de 26 de agosto de 2010 dispõem sobre a alienação parental. Em seu art. 2º apresenta formas demonstrativas de condutas ou prática que a caracteriza e no art. 6º possibilidades em que o juiz poderá fixar, de forma cumulativa ou não, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal, tendentes a inibir ou atenuar a alienação parental.

Porém há que buscar inicialmente saber averiguar se uma criança está ou não sofrendo os riscos da alienação parental, e depois desta notada conscientização a síndrome deve ser tratada. Segundo Giselle Câmara Groeninga (2008, p.137). “A identificação do fenômeno da alienação parental significa um movimento num verdadeiro resgate das funções parentais, de sua complementariedade e da defesa dos direitos da personalidade”.

Analisamos que neste caso o assunto é delicado por ter envolvido o psicológico de crianças que sofrem com tamanha influência por parte de seus alienadores, e que estes adultos não imaginam que desenvolvem gravíssimos traumas a mente desses inocentes. Nessa linha, François Podevyn descreve:

(...) que a criança que é levada a odiar e a rejeitar um genitor que a ama e do qual necessita, o qual terá o vínculo irremediavelmente destruído. O modelo principal das crianças será o genitor patológico, mal adaptado e possuidor de disfunção. Por isso, muitas dessas crianças desenvolvem sérios transtornos psiquiátricos e tendem a reproduzir a mesma patologia psicológica que o genitor alienador.

Estudamos que mesmo sendo indefinível uma forma específica de diagnóstico para se chegar à conclusão de que um menor esteja sendo vítima da alienação parental, e que seu

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genitor seja responsabilizado por isso, é dominante que ao menos o alienador se comporte de maneira diferente. Veja os exemplos citados por Jorge Trindade (2010, p.26-27).

Dependência; Baixa autoestima; Condutas de desrespeito a regras;

Hábito contumaz de atacar as decisões judiciais; Litigância como forma de manter aceso o conflito familiar e de negar a perda; Sedução e manipulação; Dominância e imposição; Queixumes; Histórias de desamparo ou, ao contrário, de vitórias afetivas; Resistência a ser avaliado; Resistência, recusa ou falso interesse pelo tratamento.

E ainda assim existem muitas outras maneiras para que o alienador esteja cercado de motivos que não os façam parecerem como “mau” da história, posturas inadequadas e um péssimo comportamento evidenciam a desconfiança de que a alienação parental esteja acontecendo ou prestes a se iniciar. Veja como nos ensina Trindade (2010)

Apresentar o novo cônjuge como novo pai ou nova mãe; Interceptar cartas,

e-mails, telefonemas, recados, pacotes destinados aos filhos; Desvalorizar o outro

cônjuge perante terceiros; Desqualificar o outro cônjuge para os filhos Recusar informações em relação aos filhos (escola, passeios, aniversários, festas etc.);

“Esquecer” de transmitir avisos importantes/compromissos (médicos, escolares

etc.); Envolver pessoas na lavagem emocional dos filhos; Tomar decisões importantes sobre os filhos sem consultar o outro; Trocar nomes (atos falhos) ou sobrenomes; Impedir o outro cônjuge de receber informações sobre os filhos; Sair de férias e deixar os filhos com outras pessoas; Alegar que o cônjuge não tem disponibilidade para os filhos; Falar das roupas que o outro cônjuge comprou para

os filhos ou proibi-los de usá-las; Ameaçar punir os filhos caso eles tentem se

aproximar do outro cônjuge; Culpar o outro cônjuge pelo comportamento do filho;

Ocupar os filhos no horário destinado a ficarem com o outro.

A forma com que alguém da família traz a criança à memória de outro familiar deve ser cotidianamente observada, tendo em vista que são minorias as crianças ou adolescentes que não se deixam influenciar por adultos, e tão pouco imaginam que estão entre uma guerra de emoções das quais se quer tem noção ou discernimento para compreenderem.

3.2 CONFLITOS CAUSADORES DA ALIENAÇÃO PARENTAL

As frequentes brigas conjugais e familiares em dias de hoje são mais comuns, o que poucos adultos sabem é que crianças envolvidas em meio a disputas por guarda, pensão ou poder de qualquer espécie, tornam-se vulneráveis e ficam fragilizados com estas situações.

Temos atualmente um judiciário abarrotado de ações que requerem guardas de crianças menores, ou ainda pais que incansavelmente disputam bens familiares e acabam envolvendo seus filhos nessas situações embaraçosas. Há também casos em que avós e avôs

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não concordam com a criação de netos e bisnetos e adentram o judiciário em busca de melhor educação para seus entes.

Porém o que mal sabem eles é que todas essas já relatadas brigas geram nas crianças e adolescentes em questão dificuldades de entendimento, e que isso faz com que os pais ou outros membros da família passem a alienar crianças e adolescentes a ponto de que estes já não conseguem mais distinguir os fatos reais daquilo que lhes é mantido como verdadeiro. De acordo com Maria Berenice Dias: “[...] com o tempo, nem a mãe consegue distinguir a diferença entre verdade e mentira. A sua verdade passa a ser a verdade para o filho, que vive com falsos personagens de uma falsa existência, implantando - se, assim, falsas memórias”.

Vemos aqui que os pais ou aqueles aos quais as crianças e adolescentes estão vinculados acabam sendo os maiores criadores de toda essa insanidade. Porque esta alienação parental se dá quando um dos membros da família em questão sente-se inferiorizado com relação ao outro. E com isso abusa desse conflito para interferir nos sentimentos do menor que ainda pertencia aos dois, mexe com o elo que lhes mantinha ligados. Veja que Spengler, nos explica sobre o conflito (2008, p.46): “O conflito trata de romper a resistência do outro, pois consiste no confronto de duas vontades quando uma busca dominar a outra com a expectativa de lhe impor a sua solução”.

É cada vez mais comum se observar uma troca de acusações entre os genitores que não coabitam por motivações diversas. Nesse diapasão é que relutamos a acreditar nas modificações ocorridas ao longo dos anos nos conceitos de família, porque a estrutura modificou-se e isso altera todos os fatores que a levam a diante. Conforme nos ensina Mônica Guazzelli Estrougo (2004, p.332)

Embora possa, inicialmente, transparecer que a mudança dos paradigmas e a flexibilização das relações familiares resulta numa solução, pronta e acabada isso não é verdade. Com efeito, as transformações vêem acompanhadas de novos problemas, porque o formato mais hierárquico da família, por ser regido, tinha uma estrutura conhecida e enraizada em cada ente familiar, fato que, mal ou bem, mantinha a coesão entre seus membros. No entanto, essa nova família, sustentada por relações mais igualitárias e situada num novo paradigma, derruba certas garantias, antes existentes, evidenciando, sobre tudo, o medo ínsito, em cada pessoa, de ser diferente, o medo do diferente.

Talvez isso hoje não esteja claro entre as pessoas que antigamente constituíram uma família, tendo em vista que acompanharam a evolução de muitas outras particularidades ao seu meio, mas não notaram que o mesmo papel da família ainda está inserido neste meio conturbado de se viver. Porque veja o que confirma Estrougo (2008, p.333): “Como se viu, a

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família desenvolve vários papéis. Dentre os fundamentais estão à função de inserir a criança no mundo – socializando-a, dando afeto, educando-a, tornando-a um indivíduo”.

Porém na maioria das vezes a ruptura da vida conjugal gera em um dos genitores o sentimento de abandono, de rejeição, de traição, surgindo uma tendência vingativa muito grande. Quando este não consegue elaborar adequadamente o luto da separação, desencadeia um processo de destruição, de desmoralização, de descrédito do ex-cônjuge.

Isso se transforma em algo prejudicial para a criança, que é usada nessa disputa entre adultos. A capacidade da criança é muito limitada para se defender, bem como a dependência financeira e emocional em relação aos pais a torna um alvo facilmente manipulável. E com esse péssimo cotidiano, fica muitas vezes provada a carência afetiva em relação aos seus genitores, vejamos o que nos mostra (1987, p.69).

Ficamos com a certeza de que, pelo menos em nosso país, a falta de alimentação adequada representa um fator importante de atraso no desenvolvimento físico, mas que é a COINCIDÊNCIA da subnutrição com falta de estimulação adequada, e a falta de cuidados, ternura e manifestações carinhosas, que determina um bloqueio das potencialidades de desenvolvimento psicológico da criança.

Fato antigo é que os acontecimentos ocorridos na infância são determinantes e relevantes na personalidade adulta. Conturbada essa vivência na infância, isto acarreta distúrbios na vida adulta, deixando sequelas irreparáveis.

Um ponto importantíssimo a tratar é que essas crianças traumatizadas com esses conflitos dentro de seus lares, podem ainda transformar-se em cidadãos sem muitas perspectivas. E isso só afasta a ideia de que a família ainda é sagrada, e que nela é onde se deve buscar o apoio emocional par as barreiras enfrentadas em nosso dia-a-dia.

Ainda mais porque sabemos que muitos adultos da atualidade, também sofreram traumas de infância e tiveram muito menos condições de defender-se desses momentos de “maus tratos”, em épocas de que executar os filhos era educar corretamente.

Pensemos que as brigas conjugais eram também percebidas, porém não eram na frente dos filhos, e muito menos era permitido com que falassem quando presentes. O que talvez hoje faça a diferença é que estes jovens de anos atrás puderam crescer e se tornarem adultos com uma capacidade diferente para enfrentar brigas e desigualdades maritais.

3.3 EFEITOS PSICOLÓGICOS DA CRIANÇA QUE SOFRE OU JÁ SOFREU COM A ALIENAÇÃO PARENTAL

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Basta sabermos que temos uma família e a vida nos facilita outras demasiadas conquistas, mas segundo Pereira (1959, p.89-90) já advertia, antes mesmo da Constituição Federal, que:

A família é um fato natural. Não a cria o homem, mas a natureza (...) o legislador não cria a família, como o jardineiro não cria a primavera (...) ela excede à moldura em que o legislador a enquadra (...). Agora, dizei-me: que é que vedes quando vedes um homem e uma mulher, reunidos sob o mesmo teto, em torno de um pequenino ser, que é fruto de seu amor? Vereis uma família. Passou por lá o juiz com sua lei, ou o padre, com o seu sacramento? Que importa isso? O acidente convencional não tem força para apagar o fato natural.

Vemos que não só no direito, mas a alienação parental tem sido estudada em diversas outras áreas, talvez pela tamanha complexidade dos efeitos e das consequências que sofrem uma criança que passa por esta monstruosidade. Assim Priscila Maria Pereira (2006) nos apresenta o seu estudo publicado em revista.

As crianças, entre 8 e 11 anos, principalmente os meninos, são os que mais sofrem com a síndrome. Nessa etapa de desenvolvimento, as crianças já entendem o que se passa a sua volta mais ainda não possuem uma formação mental que as possibilite algum discernimento, por isso são facilmente manipuladas em relação aos adolescentes, já que estes possuem certo grau de discernimento e consciência própria, não aceitando tudo com facilidade.

Os meninos são a maioria, pois é mais comum à alienação parental advir do comportamento materno, e estes são os que mais sofrem pela ausência do pai que foi alienado da relação familiar.

Desta forma, é importante que ambos os seres humanos que desejam um dia ser pai ou mãe, fiquem atentos quanto ao tão sonhado plano de um infante em tornar-se adulto, estudar e constituir assim sua própria família, por mais longe que sejam estes planos, é necessário que sejamos educadores de crianças e não façamos com que elas desistam ou nem tentem algo que para outros não foi suficiente.

Importante ainda ressaltar que os filhos são muito inspirados por seus pais e que neles encontram fortalezas de suas crenças, sabedoria, religião entre outras, porém há que se adiantar ao tempo em perceber que a imagem distorcida de um deles trará a nossa lembrança apenas coisas ruins.

Analisamos que de certa forma atualmente a temática mais encontrada no judiciário tem sido as separações e divórcios e estas são informações que trazem com elas mais do que dados e sim nos pressionam a querer entender o porquê que o desfazimento de uma família não é simplesmente um rompimento, e sim que é tão complexo a ponto de que os menores

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que dela fazem parte irão daqui por diante sofrer bruscas mudanças em toda sua vida, ao fato de que seus dias serão diferentes de todos aqueles vividos até ali.

Estudamos que todo e qualquer fato vivido por alguma pessoa seja ela já adulta ou ainda criança fica em seu inconsciente, e mesmo que ela não lembre todos os dias, o registro da memória fica armazenado para sempre. Conforme os pensamentos de Freud. “Os registros mnêmicos de experiências infantis incapazes de tradução, que não tem acesso à consciência como tais, acabam originando as patologias neuróticas”.

Por isso a importância de sempre estar atento ao que é pronunciado e dito perto de crianças e adolescentes, e muito mais quando for de um ente familiar o assunto em questão, eis que a memória é uma caixa de mistérios e foge ao nosso controle os segredos que ela nos revela.

4 MEDIAÇÃO

No terceiro e último capítulo entenderemos as técnicas e etapas utilizadas na mediação, depois será abordado esse instituto como uma forma alternativa a jurisdição, no segundo momento se enfatizará a mediação para a consolidação dos conflitos de família, e assim concluir-se-á com a mediação na forma mais benéfica das tratativas nos casos relacionados aos litígios da alienação parental.

4.1 AS TÉCNICAS E AS ETAPAS DA MEDIAÇÃO

O termo “mediação” procede do latim mediare, que significa mediar, intervir, dividir ao meio. Derivada da palavra mediare é também a expressão mediatione e toda uma série de outras palavras.

Analisamos que a mediação teve seu ápice no período entre os anos de 1980 a 1990, onde muito se falava em meios alternativos para a solução de pendências dos mais variados tipos, visando à descentralização do judiciário como única forma para o pleito de solução de conflitos. Vejamos o que Spengler nos ensina (2013, p.44)

Culturalmente, no passado, existia a tendência nacional de adotar os chamados meios complementares, entre eles, a mediação, como mecanismo de tratar as pendências existentes, embora ausentes, de modo concreto e explícito, de normas regulamentadoras da mediação no Brasil.

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Sabemos que a mediação tem buscado seu espaço em nosso país e por isso se estudam cada vez mais suas técnicas visando sempre o desenvolvimento de um trabalho eficaz e satisfatório para aqueles que dele façam parte. Ensejando assim um então um novo método de resolução para as mais diversas modalidades de conflitos. Segundo Spengler (2014, p.45 apud WARAT, 2004, p. 55)

A mudança de lentes ao olhar para os conflitos traz uma nova concepção deles. As divergências passam a ser vistas como oportunidades alquímicas, as energias antagônicas como complementares, e o direito como solidariedade. As velhas lentes que fragmentavam, classificavam e geravam distâncias vão para a lixeira. Começa-se a entender que cada homem não é uma mônada isolada, que não são fragmentos sem conexão. Cada um é interdependente e produto forçado das interações. A sociedade é unicamente produto da complexidade desses vínculos.

Estuamos também que a oralidade é uma forte característica da mediação porque faz com que as partes possam dialogar para o encontro de um qualitativo resultado para o conflito em questão, a oralidade ajuda igualmente o mediador que busca ser o mais claro possível para que os litigantes o compreendam. Nesse contexto, analisamos o que nos diz Spengler (2014, p.55)

O fato é que essa oralidade serve também para reaproximar os conflitantes, visto que o instituto da mediação, ao contrário da jurisdição tradicional, busca o tratamento das pendências através do debate e do consenso, tendo como objetivo final a restauração das relações entre os envolvidos.

O consenso tem como ponto de partida a autonomia das decisões. Compete às pessoas optarem pelo melhor para si mesmas. Entretanto, se produzirem uma decisão totalmente injusta ou imoral é porque alguma falha ocorreu ao longo do procedimento. Não compete ao mediador oferecer a solução do conflito, porém, são de sua competência a manutenção e a orientação do seu tratamento.

Sendo assim são necessárias as etapas naturais de uma mediação para que ao final a mesma seja concluída com êxito para ambos os lados. Então é interessante que saibamos quais os passos essenciais para a busca de um bom acordo.

Estudamos que a mediação é composta por estágios que devem ser obedecidos, mas que possuem certa flexibilidade, para que efetivamente seja transcorrida uma solução daquilo que lhe fora proposto anteriormente. Para uma melhor compreensão Spengler (2014, p ) nos orienta.

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O primeiro estágio da mediação possui dois aspectos de extrema importância: a orientação dada às partes pelo mediador e a organização do espaço de reuniões. O segundo estágio vem composto pela reunião de abertura que acontece logo após a identificação das partes e a obtenção do compromisso em iniciar a mediação. Antes de começar é preciso certificar-se de que o ambiente esteja preparado.

No terceiro estágio da mediação as partes foram identificadas pelo mediador que já se reuniu com elas para a abertura do procedimento. As regras já foram explicadas e todos concordaram em observá-las. Cada uma das partes procedeu na sua declaração de abertura e demonstrou sua visão e suas angústias sobre o conflito existente. Chega a hora de proceder, se necessário, nas reuniões particulares com cada uma das partes envolvidas.

Depois de apresentados os estágios do instituto são ainda trazidos ao conhecimento das partes às técnicas para a realização e finalização de uma cessão de mediação, visando sempre que os participantes compreendam o que lhes é passado e tudo que no momento acontece. Vejamos o que nos apresentar Spengler (2014, p )

Escuta ativa, paráfrase, identificação de questões interesses e sentimento, validação dos sentimentos, resolução de questões, despolarização do conflito, afago, silêncio, inversão dos papéis, escuta ativa.

O importante na mediação é que o mediador ouve as duas partes juntas e separadamente, o que permite a ele uma melhor exploração do conflito para que possa colaborar no transcorrer da conversa, e faz com que as partes entendam de que de fato podem participar e isso faz com que os litigantes de liberem emocionalmente, o que ajuda muito na finalização da mediação.

4.2 MEDIAÇÃO COMO ALTERNATIVA À JURISDIÇÃO

Bem sabemos que a mediação é vista como uma interferência, na qual se está negociando a solução de um conflito, vejamos que Spengler nos ensina (2008, p133).

Através deste instituto, busca-se solucionar conflitos mediante a atuação de um terceiro desinteressados. Este terceiro denomina-se mediador e exerce uma função como que de conselheiro, pois pode aconselhar e sugerir, porém, cabe às partes constituir suas repostas.

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Nesse ponto analisamos que poderia a mediação estar definida como a forma ecológica de resolução de conflitos. Seria de certa forma mais cômoda as partes e podendo elas mesmas gerir suas divergentes opiniões optando pelo melhor aos dois.

Marcado no princípio da autonomia da vontade, a Mediação atribui a sua forma uma fase preliminar – a pré-mediação –, quando uma entrevista de caráter informativo, em dupla mão, tem lugar.

Vemos que essa alternativa a jurisdição tradicional é um meio ao qual se pode inserir maior número de resoluções para litígios que ligado à jurisdição comum levariam muito mais tempo para estarem esclarecidas.

Sabemos que um dos pontos mais básicos em relação aos direitos humanos é o acesso à justiça. E a mediação é como uma forma de acesso à justiça sem que necessariamente tenha que haver uma tradicional “guerra” entre as partes. Até porque identificamos que a mediação pode variar quanto ao seu desdobramento, analisando o que nos explica Spengler (2010, p.149).

O tratamento do conflito através da mediação pode acontecer mediante uma pluralidade de técnicas que vão da negociação à terapia. Os contextos nos quais é possível aplica-las são vários: mediação judicial, mediação no direito do trabalho, no direito familiar, na escola, dentre outros. Possuem como base o princípio de religar aquilo que se rompeu, restabelencendo uma relação para, na continuidade, tratar o conflito que deu origem ao rompimento.

De acordo com a atualidade de nosso poder judiciário é possível acreditar que a mediação seja absolutamente uma das formas para a busca de soluções em conflitos com menores complexidades, e que até mesmo, sejam as partes eximidas de todo um constrangimento ao qual são submetidas quando nos referimos ao poder do juiz superiorizado às partes, caso diferenciado ocorre com o mediador que esta igualmente ao lado das partes e entre elas, para ajuda-las. Para uma melhor compreensão da afirmação acima, Fabiana Marion Spengler (2010, p. 306 e 307), assim ensina:

A mediação, como ética da alteridade, reivindica a recuperação do respeito e do reconhecimento da integridade e da totalidade de todos os espaços de privacidade do outro. Isto é, um respeito absoluto pelo espaço do outro, e uma ética que repudia o mínimo de movimento invasor. É radicalmente não invasora, não dominadora, não aceitando dominação sequer nos mínimos gestos. As pessoas estão tão impregnadas do espírito e da lógica da dominação que acabam, mesmo sem saber, sendo absolutamente invasoras do espaço alheio.

Discute-se bastante, acerca da constitucionalidade da mediação prévia, no caso desta ser de caráter obrigatório, pois tal norma constituiria obstáculo ao acesso à justiça ferindo o

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