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Vista do Picaresca ou malandragem em Memórias de um sargento de milícias | Acta Científica

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Academic year: 2021

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MeMórias de uM sargento de Milícias

luís Francisco martorano martini1 resumo: Este artigo tem como objetivo discutir a questão da picaresca na literatura

brasi-leira. Nossa proposta é rever a querela Antonio Candido x Josué Montello, e propor, ainda que em caráter experimental, uma releitura da crítica à obra Memórias de um Sargento de

Milícias, de Manuel Antonio de Almeida. O caminho trilhado não roça a originalidade,

contu-do busca uma forma de rever posições que foram colocadas como definitivas num universo cambiante como o literário.

Palavras-chave: Memórias de um Sargento de Milícias; Manuel Antonio de Almeida;

Pica-resca; Josué Montello; Antonio Candido

Picaresque or trickery in memórias de um sargento de milícias

abstract: This article aims to discuss the issue of the picaresque in brazilian literature. Our

proposal is to revise the complaint Antônio Candido x Josué Montello, and propose, albeit on an experimental basis, a critical reading of the book Memórias de um Sargento de Milícias, Manuel Antonio de Almeida. The path chosen not smacks of originality, however, seeking a way to review these positions were placed as a permanent shade as the literary universe.

Keywords: Memórias de um Sargento de Milícias, Manuel Antonio de Almeida; Picaresque;

Josué Montello, Antonio Candido.

O surgimento do romance picaresco pode ser remontado à situação política es-pecífica por que passa a Espanha durante um lento desenrolar histórico. A invasão da Península Ibérica pelos muçulmanos do norte da África produziu um lento (em torno de 700 anos) processo de reconquista territorial, a qual culmina com a expulsão do último reduto mouro da Península de Granada, por volta do ano de 1492.

A Espanha, neste período, inicia seu projeto expansionista — a descoberta da Améri-ca. Além de muitas outras conquistas intelectuais, como a primeira gramática castelhana, de Antonio de Nebrija, e a criação da universidade, dentre outras. Nesse período, os reis católicos introduzem a Inquisição na península, forçando os mouros e muçulmanos à conversão ao cristianismo. Cria-se assim uma nova classe e, por conseguinte, uma nova arena de disputas.

Nosso objetivo aqui não é traçar a história da Espanha, senão apenas observar seu contexto maior, do qual se depreende a figura do pícaro, uma espécie de autóctone, cujo objetivo maior é o de ascensão social por meio de estratégias e artimanhas pitorescas. O próprio termo pícaro é discutível. Maurice Molho (apud BOTOSO, 1998) o define como

originado do “verbo picar, passando a significar ajudante de cozinha”, uma das muitas 1 Mestre em Estudos Comparados das Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade de Marília. Professor na

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“profissões” do anti-herói. Outra posição, segundo Milton (1986, p. 13), é que o vocábulo mencionado pode ser oriundo da Picardia, província francesa cujos mendigos eram vistos como covardes, bandidos, ladrões de estradas e famosos pelos atos contrários a moral católica. Se a etimologia já apresenta dificuldades, não menos sua caracterização enquanto romance e sua permanência no cenário literário, em especial, o brasileiro.

a definição de “picaresca” já aponta o picaresco

A obra introdutória O romance picaresco, de Mario Gonzáles (1988, p. 38-39), não nega as

dificuldades de uma definição criteriosa do gênero, e enumera duas razões básicas para isso: Em primeiro lugar, o fato de que, a menos que nos limitemos à manifestação inicial clássica […] a enorme quantidade e dispersão das obras que podem ser aproximadas desse modelo dificulta reuni-las sob o mesmo rótulo.

Ainda segundo o crítico, pode-se verificar a divergência nos dezessete textos clássicos espanhóis. Fica claro que um gênero não deve ser medido apenas por algumas de suas obras, antes por todo o conjunto que o compõe. Mesmo os textos do núcleo clássico trazem dife-renças sensíveis. Verifica-se, por conseguinte, uma evolução de Lazarillo de Tormes a El Buscón.

“Em segundo lugar, não é fácil estabelecer os critérios a serem levados em conta para se estabelecer um conceito válido de picaresca” (GONZÁLES, 1988, p. 39). Qual seria, portanto, o critério legítimo a que se pode submeter o gênero picaresco?

Os críticos propõem que seja estabelecido a partir de um marco: Guzmán de Alfarache

(o protótipo). Outros consideram a conduta do personagem picaresco. Outros ainda acredi-tam que o pícaro é apenas espanhol, e que as migrações degeneraram o fenômeno. Enfim, Gonzáles (1988) ressalta o fato de que os críticos não arriscam uma definição. Contudo, Claudio Guillén (apud GONZÁLEZ, 1988, p. 39), em “Toward a definition of picaresque” e em

outros estudos, dá elementos para que se possam catalogar romances picarescos mesmo distantes da Espanha do século XVII. Gonzáles (1988, p. 40) apresenta duas razões que têm dividido os críticos sobre esse ponto: “alguns críticos se negam a aceitar essa extensão, seja porque se prendem rigorosamente ao modelo clássico não aceitando a sua evolução, seja por entender que a picaresca é produto de um modelo histórico espanhol irrepetível.”

Sabemos que os modelos clássicos (Lazarrillo de Tormes, Guzmán de Alfarache e El Buscón) apresentam divergências quanto ao tratamento dado ao anti-herói. Lazarillo é uma

narrativa previsível, cuja estrutura narrativa opera em duas sequências — Infância e In-tegração. Guzmán de Alfarache constitui-se de uma narrativa mais complexa, composta de

duas partes nos moldes do romance de viagem. E El Buscón é uma leitura definitiva da

picaresca, construída como intertexto das duas obras anteriores.

Posto isso, uma pergunta persiste: a partir de que elementos se constrói a definição? A alternativa dada por Gonzáles (1988, p. 42) é definir o núcleo intertextual originário. Nas palavras do crítico, a definição estaria na

pseudo-auto-biografia de um anti-herói que aparece definido como marginal à sociedade; a narração das suas aventuras é a síntese crítica do processo de ascensão

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social pela trapaça; e nessa narração é traçada uma sátira da sociedade contemporânea do pícaro.

Nesta definição encontramos dois problemas, a definição de toda uma produção (dezessete obras) por apenas três e o problema da autobiografia. Embora a autobiografia seja a forma corrente do núcleo clássico, o próprio Gonzáles (1988, p. 42), em nota de rodapé, declara que a terceira pessoa foi tomando o espaço da primeira. Haveria, portanto, duas modalidades de picaresca, em primeira pessoa e em terceira pessoa.

Sublinhamos aqui que para nossa discussão na próxima sessão utilizaremos o conceito de picaresca em terceira pessoa, como uma forma tipicamente tradicional e, portanto, aceitável. Comentemos, agora, as principais características do pícaro clássico. São elas: o parecer-ser (o fingir), a trapaça, o rufianismo, a itinerância e a sátira social. Os acontecimentos da vida dos pícaros também são motes para que o gênero possa ser analisado. Devemos, entretanto, ressaltar, sem cair na redundância, que essas caracterís-ticas não são armações “pré-construídas”.

Todos os pícaros do núcleo clássico têm como horizonte de vida o tornar-se “ho-mem de bem”, à custa da própria honra. Portanto, não trabalhar é o grande objetivo da vida do anti-herói. Vale lembrar que o pícaro tem como modelo a fidalguia vadia. É pro-curando ser um “homem de bem” que ele entra na luta de fingimentos. Temos, então, que o pícaro é egocêntrico e pragmático. Daí advém outra característica: o fingir, que o torna o oposto dos cavaleiros andantes, “não apenas porque carece de todas as suas virtudes, mas porque todas as suas ações se projetam em proveito próprio” (GONZÁLEZ, 1992, p. 17).

O ambiente de furto no qual nasce o pícaro é impulsionador das ações delinquen-tes. Todos têm origem suspeita. Pai e mãe não gozam da melhor reputação. Fato esse que faz com que o pícaro, desde cedo e por força da necessidade, busquem na itinerância e na vida servil (servem a amo ou amos) uma forma de subsistência. Seus outros pais, os amos que os acolhem, não representam também uma forma de vida digna; são na maioria das vezes (afora o amo de Pablos) pessoas que não têm em sua forma de vida os mais altos valores. De acordo com Mario González (1988, p. 43), “Trapaça e aventura confluem na fonte de recursos que Lázaro ainda ignora, mas que Guzmán descobre e Pablos leva ao apogeu: o jogo trapaceiro, no qual se unem o risco e a mentira”.

Nota-se, por essa definição do crítico, que há uma evolução do modo como o píca-ro se appíca-ropria de formas mais complexas de trapaças e mentiras. Se Lázapíca-ro a ignora, Guz-mán a aperfeiçoa e Pablos leva-a ao apogeu. Podemos aqui fazer uma breve observação sobre a picaresca: uma de suas características, ao nível do anti-herói, é a sua permanente evolução da forma de aventura.

O rufianismo é outro elemento caracterizador do gênero, usado pelas persona-gens como uma forma de conquistar ou até mesmo manter o que conquistaram. Isso está de acordo com o pragmatismo que lhes é inerente. Embora Lazarillo pareça não aceitar ou não querer aceitar o caso que sua mulher mantém com o religioso na casa de quem trabalha, acaba fechando os olhos à traição da esposa porque é sustentado pelo Arcipreste de San Salvador.

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Outras características aparecem no núcleo clássico mais ou menos marcadas. A celeuma continua: há uma definição para a picaresca? A resposta é simples: se tomarmos apenas as produções literárias da Espanha do século XVII, a resposta é afirmativa. En-tretanto, se ampliarmos o eixo da picaresca, o problema persiste. Com isso, preferimos utilizar os pressupostos de Gonzáles (1988) como alicerce para nossa análise.

De acordo com o crítico mencionado, a picaresca não pode ser confundida com uma obra, nem com um protótipo, antes deve ser vista como resultado de um in-tertexto. O estabelecimento de período é outro fator, desde que possa ser diferencia-do em suas situações histórico-geográficas, e que marquem as fases de sua evolução e as formas de transgressões do modelo. Deve-se tratar o romance picaresco como a mediação da realidade e não como a realidade em si, não podendo “ser o efeito de uma única causa”. E o crítico continua: “achamos que toda conceituação de ‘picares-ca’ há de atender à integração de certo tipo de história num certo tipo de discurso” (GONZÁLES, 1988, p. 40).

Isso posto, compreender as obras posteriores, alheias à realidade espanhola medie-val, torna-se uma questão mais fácil do que tem sido demonstrada.

Memórias de um sargento de milícias : um pícaro deslocado no tempo ou

mais uma criação da pretensa originalidade brasileira

Nesta sessão, procuraremos pontuar as críticas feitas por Antônio Candido a Josué Montello, buscando assim uma abordagem atualizada segundo os corolários apresentados acima. Em “Dialética da malandragem”, Antônio Candido (1978), conflitando com as ob-servações de Sílvio Romero, Mário de Andrade e Josué Montello, afirma categoricamente que Memórias de um Sargento de Milícias não pode ser tratado como um romance picaresco,

devendo ser considerado como o primeiro malandro da literatura nacional. As razões para isso, segundo Candido (1978, p. 319), seriam as de que

em geral, o próprio pícaro narra as suas aventuras, o que fecha a visão da realidade em torno do seu ângulo restrito; e esta voz na primeira pessoa é um dos encantos para o leitor, transmitindo uma falsa candura que o autor cria habilmente e já é recurso psicológico de caracterização”.

Quanto a isso, como vimos acima, não é um elemento primordialmente picaresco. Outras obras pícaras foram construídas em terceira pessoa. Fato que não as fez mais ou menos picarescas que as do núcleo clássico. Se, como vimos acima, o crítico está levando

em conta apenas as três obras — Lazarillo, Guzmán de Alfarache e El Buscón — sua crítica a

Montello tem fundamento. Porém, o mesmo cai na petição de princípios da qual acusa o crítico maranhense. Isto é, parte do princípio de que todos os romances picarescos devam ser escritos em primeira pessoa — um erro histórico.

Leonardo Filho é caracterizado da seguinte forma por Montello (1997, p. 351): “Manuel Antônio de Almeida dá preferência ao herói modesto, que se defende das hostilidades do mundo com o improviso de embuste e ardis, ou seja: ao pícaro, da velha

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tradição literária espanhola”. Sua caracterização do anti-herói é perfeitamente coerente com a caracterização do pícaro clássico. Obviamente, com as transformações conse-quentes ao sistema literário brasileiro.

Para Candido (1978, p. 319), a diferença entre os pícaros e Leonardo Filho é que “lhe falta um traço básico do pícaro: o choque áspero com a realidade, que leva à mentira, à dissimulação, ao roubo, e constitui a maior desculpa das ‘picardias’”.

De fato, Leonardo não tem um “choque áspero com a realidade”, como os tradi-cionais pícaros. A vida lhe é mais fácil, o padrinho torna-se um pai muito melhor do que os seus biológicos. Entretanto, chega à vida adulta sem trabalho, tendo sido preso por Vidigal. Encontramos aqui paralelo com Guzmán de Alfarache, que também fora preso,

mas libertado por denunciar os colegas que preparavam um motim a bordo do navio em que estava. Da mesma forma, Leonardo Filho, ao tornar-se Sargento de Milícias, coloca-se na posição de delator.

À semelhança dos pícaros, Leonardo Filho torna-se agregado primeiro do padri-nho de quem recebe alguma educação, mais tarde de Tomás da Sé. O próprio narrador nos adverte: “Ninguém se admire da facilidade com que se faziam semelhantes coisas […]” (ALMEIDA, 1998, p. 106), e continua sua descrição do agregado Leonardo Filho: “outras vezes, e estas eram em maior número, o agregado, refinado vadio, era um verda-deiro parasita que se prendia à árvore familiar […]” (ALMEIDA, 1998, p. 107). Vê-se, pois, que Leonardo facilmente, por meio de embustes e trapaças, conquista a “vaga” de agregado, o que o livra do trabalho. Não trabalhar é o horizonte do pícaro e de Leonardo Filho. O trabalho, tanto no contexto brasileiro quanto no contexto espanhol, está associa-do à servidão (mouros e negros escravos).

Os pontos de contato até aqui apresentados estão mais próximos dos corolários propostos que da simples observação e altivez intelectual com que Antonio Candido ataca Montello, rechaçando a aproximação que este estabelece entre Leonardo Pataca Filho e os pícaros espanhóis. De acordo com Candido (1978, p. 319),

na origem o pícaro é ingênuo; a brutalidade da vida é que aos poucos o vai tornando esperto e sem escrúpulos, quase como defesa; mas Leonardo, bem abrigado pelo Padrinho, nasce malandro feito, como se se tratasse de uma qualidade essencial, não um atributo adquirido por força das circunstâncias.

Este é um ponto importante. Uma diferença a se considerar. Enquanto o pícaro é um indivíduo em devir (aos poucos vai se tornando o que é) Leonardo Filho já nasce como tal. Porém, ao se observar os anos iniciais de Leonardo Filho, ver-se-á algumas características que colocam seu lado pícaro em devir. “Gastava às vezes as noites em fazer castelos no ar a seu respeito; sonhava-lhe uma grande fortuna e uma elevada posição, e tratava de estudar os meios que o levassem a esse fim” (ALMEIDA, 1998, p. 20, grifos nossos). Aqui, meio e fim são

sintomáticos. Os meios (fossem eles quais fossem), trapaça, trabalho honesto etc., deveriam conduzir o anti-herói a ser um “homem de bem” nos padrões dos pícaros tradicionais.

A presença dos ciganos oriundos de Portugal pode ser vista como parte do proces-so de “educação de Leonardo”.

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Gente ociosa e de poucos escrúpulos, ganharam eles aqui reputação bem merecida dos mais refinados velhacos: ninguém que tivesse juízo se metia com eles em negócio, porque tinha certeza de levar carolo. […] para cá só trouxeram maus hábitos, esperteza e velhacaria, e, se não, o nosso Leonardo pode dizer alguma coisa a respeito (ALMEIDA, 1998, p. 27-28).

Dizer que Leonardo não é pícaro, a nosso ver, até este instante, é uma pretensa for-ma de originalidade. Que Leonardo é for-malandro, isso não se pode negar. Contudo, afirfor-mar também que não se trata de um pícaro à brasileira é, a nosso ver, um excesso.

Mais uma vez Candido (1978, p. 320) parece cair na má interpretação das falsas analogias: “Por isso, nunca aparece seriamente o problema da subsistência, mesmo quan-do Leonarquan-do passa de raspão e quase como jogo pelo serviço das cozinhas reais, o que o aproximaria vagamente da condição de pícaro no sentido acima referido.”

Se o “passar de raspão” pela cozinha aproxima Leonardo do pícaro, ainda que vagamente, podemos supor que nem mesmo Antonio Candido tem os princípios exatos para classificá-lo de uma forma e não de outra. Conforme aponta Candido, o pícaro não é dado a sentimentos amorosos, é egoísta e pragmático. As relações sociais, bem como o casamento, são para interesse próprio. Entretanto,

o nosso Leonardo, embora desprovido de paixão, tem sentimentos mais sinceros neste terreno, e em parte o livro é a história do seu amor cheio de obstáculos pela sonsa Luisinha, com quem termina casado, depois de promovido, reformado e dono de cinco heranças que lhe vieram cair nas mãos sem que movesse uma palha (CANDIDO, 1978, p. 321).

Vemos assim que a herança para Leonardo Filho o aproxima dos “homens de bem”, projeto de vida dos pícaros espanhóis.

considerações finais

A busca pela originalidade é uma eterna caminhada rumo à legendária El Dourado.

Inevitavelmente, morre-se na selva sem sequer vislumbrar a cidade de ouro. Ou ainda, torna-se um Sísifo — a pedra rola e, num esforço hercúleo, volta-se com ela para cima do monte, em sucessivas repetições.

Contudo, está aqui uma discussão que, pelos objetivos deste trabalho, não se pre-tende peremptória. Aliás, como não se pode ser terminante com qualquer obra da litera-tura. Fica patente que muitos outros aspectos poderiam ser abordados, diferenças salien-tadas e identidades ressalsalien-tadas. O convite se coloca para que alguém termine, prolongue ou critique impiedosamente as conclusões a que chegamos, ou as possíveis contradições que possivelmente se encontrem.

Se Montello errou, nas palavras de Candido, ao afirmar serem as Memórias um

ro-mance picaresco, errou também o notável professor ao não ver nas Memórias uma forma

de transgressão histórica e geográfica do tempo da picaresca clássica. E, ainda, se Candido se refere ao pícaro espanhol como malandro (“O malandro espanhol termina sempre, ou

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numa resignada mediocridade, aceita como abrigo depois de tanta agitação, ou mais mi-serável do que nunca, no universo do desengano e da desilusão, que marca fortemente a literatura espanhola do Século de Ouro” [CANDIDO, 1978, p. 320, grifo nosso]), por que não podemos nos referir ao malandro brasileiro, como pícaro? Quem sabe, então, para não desagradar o grande mestre, poderemos dizer neopícaro, segundo a terminologia de Mario González (1988), ou seja, um novo pícaro, uma recriação com as características dos ancestrais espanhóis e muitas outras adquiridas em terras brasileiras.

referências bibliográficas

ALMEIDA, M. Memórias de um Sargento de Milícias. 30. ed. São Paulo: Ática, 1998.

BOTOSO, A. Do pícaro ao malandro: uma poética da rebeldia. Dissertação (Mestrado em

Letras), Unesp — Campus de Assis, 1998.

CANDIDO, A. A dialética da malandragem (Caracterização das Memórias de um sargento de milícias). In: ALMEIDA, M. Memórias de um sargento de milícias. Rio de Janeiro: Livros

Técnicos e Científicos, 1978.

GONZÁLES, M. O romance picaresco. São Paulo: Ática, 1988.

__________. Introdução. In: Lazarilho de Tormes. Tradução de Pedro Câncio da Silva. São

Paulo: Scritta Editorial, 1992.

MILTON, H. C. A picaresca espanhola e “Macunaíma” de Mário de Andrade. Dissertação

(Mestrado em Letras), FFLCH-USP, 1986.

MONTELLO, J. M. A. In: COUTINHO, A. A literatura no Brasil: era

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