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Academic year: 2021

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TÍTULO: APLICABILIDADE DO INSTITUTO DA COLABORAÇÃO PREMIADA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

TÍTULO:

CATEGORIA: CONCLUÍDO CATEGORIA:

ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS ÁREA:

SUBÁREA: DIREITO SUBÁREA:

INSTITUIÇÃO: FACULDADE ANHANGÜERA DE BAURU INSTITUIÇÃO:

AUTOR(ES): OTÁVIO FELIPE DE CASTRO PEREIRA AUTOR(ES):

ORIENTADOR(ES): GUILHERME BITTENCOURT MARTINS ORIENTADOR(ES):

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1. Resumo

O presente trabalho busca analisar a aplicabilidade do instituto da colaboração premiada no ordenamento jurídico brasileiro, dando ênfase à origem do instituto e a sua aplicação em um caso concreto, consistirá em um estudo de obras doutrinárias de autores do Direito Penal, Processo Penal e sobre o instituto da colaboração premiada.

O trabalho trará com maiores detalhes a aplicação do instituto e a sua importância para o direito penal e processual penal, apresentando a sua natureza jurídica e o atual posicionamento do Supremo Tribunal Federal quanto à constitucionalidade da colaboração premiada. Instituto que é alvo de várias críticas pela doutrina e por algumas instituições.

Por fim, espera-se que a monografia esclareça com maiores detalhes o real valor do instituto da colaboração premiada para o ordenamento jurídico brasileiro. Instituto que vem ganhando espaço no direito penal brasileiro.

Palavras-chave: Persecução Penal; Sanção; Colaboração.

2. INTRODUÇÃO

O instituto da colaboração premiada teve sua origem no direito inglês, por sua vez, teve maior destaque no ordenamento jurídico norte-americano, o sistema jurídico norte-americano aperfeiçoou as técnicas utilizadas na colaboração premiada. A colaboração premiada foi de suma importância para o direito penal, pois foi muito eficaz no combate às organizações criminosas. Foi assim que se originou a ideia de premiar com redução de pena o individuo que colaborasse com as investigações.

O ordenamento jurídico italiano também adotou o instituto, foi descoberta uma gama de crimes envolvendo agentes públicos e a iniciativa privada, tratava-se de crimes de corrupção. O instituto da colaboração foi aplicado e surtiu grande efeito nas investigações. A colaboração premiada proporcionou o desmantelamento de uma organização criminosa ligada à administração pública. A operação em questão foi batizada de operação Mãos Limpas (Mani Pulite).

A colaboração premiada foi adotada no ordenamento jurídico brasileiro por volta da década de noventa, há a previsão do instituto no artigo 159, § 4º do Código Penal. Trata-se de uma redução significativa da pena do coautor. O instituto da colaboração foi adotado em outras leis. Nota-se que o instituto tem grande

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participação no combate a crimes cometidos por organizações criminosas, visto que, toda a legislação que trata do assunto adotou o instituto em seus dispositivos.

A lei nº 12.850/13 traz com maior riqueza de detalhes o instituto da colaboração premiada, descrevendo toda a forma de como a autoridade competente deve aplica-lo. Por sua vez, vale ressaltar a posição do Supremo Tribunal Federal quanto ao teor constitucional do instituto.

3. OBJETIVOS

O presente trabalho irá analisar a aplicabilidade do instituto da colaboração premiada frente às normas de direito penal e aos preceitos preconizados na Constituição Federal, com intenção de averiguar sua adequação ao sistema persecutório.

Analisará sua eficácia como meio de obtenção de provas e sua compatibilidade com os princípios que regem o processo penal brasileiro.

4. METODOLOGIA

A presente pesquisa consistira na leitura de obras de direito penal, processual penal e constitucional. O procedimento técnico que será adotado é o da pesquisa bibliográfica. Levantamento bibliográfico que será feito em bibliotecas e Internet, por meio de livros e artigos de revistas científicas.

O método mais adequado para esse tipo de pesquisa é o científico, para que assim, propicie uma melhor construção de um raciocínio lógico e senso crítico a partir do estudo do instituto.

5. DESENVOLVIMENTO

5.1 Origem do Instituto da Colaboração Premiada

O instituto da colaboração premiada se originou no direito processual inglês em 1775. O instituto foi incorporado ao ordenamento jurídico inglês após o judiciário admitir o testemunho do acusado contra os demais participes. Foi uma forma de se chegar à elucidação dos fatos que norteavam aquela ação penal. A Inglaterra adota sistema jurídico common law, significa o direito comum, é o direito que se desenvolveu por meio de decisões das cortes do judiciário. O instituto da colaboração premiada está presente em boa parte, em países que adotam o sistema

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common law. Colaboração nos processos criminais ganhou espaço no mundo

jurídico, sendo adotado no ordenamento jurídico de vários países.

5.2 A colaboração Premiada nos Estados Unidos

Afirma Carvalho, 2009, que: Os Estados Unidos também adotaram o instituto em sua legislação, foi adotado por volta dos anos sessenta. Nos Estados Unidos, a colaboração premiada (plea bargaining). O plea bargaining é conhecido como acordo entre o réu e o judiciário, teve forte influência e sofreu modificações ao decorrer do tempo. A corte norte-americana enfrentava diversos problemas para combater o crime organizado, uma vez que os acusados de detidos temiam revelar a autoria do crime e posteriormente sofrer algum atentado. O Judiciário americano se viu em um paradigma, enfrentava dificuldades para combater o crime organizado.

Diante de tamanha problemática os Estados Unidos incorporaram a colaboração premiada em seu ordenamento jurídico, porém, optou por aprimorar o meio de obtenção de provas, criando-se assim uma espécie de premiação àquele que colaborasse com as investigações de forma eficaz e que resultasse na elucidação dos fatos, para que assim a justiça pudesse chegar aos autores do crime e seus participes. Foi nesse contexto que surgiu a ideologia do direito premial.

Natália Oliveira de Carvalho afirma que:

A estratégia de investigação adotada desde o início do inquérito submetia os suspeitos à pressão de tomar a decisão quanto a confessar, espalhando a suspeita de que outros já teriam confessado e levantado à perspectiva de permanência na prisão pelo menos pelo período da custódia preventiva no caso de manutenção do silêncio ou, vice-versa, de soltura imediata no caso de uma confissão. (Carvalho, 2009, p.124).

O método adotado nos Estados Unidos consistia em submeter o réu à prisão, consistia em dilatar o prazo de prisão, para que assim o réu em estado de inferioridade, firma-se acordo de colaboração.

A prática estadunidense foi criticada ao longo do tempo, pois o réu visto encurralado poderia confessar fatos desprovidos de veracidade, poderia fazer falsas afirmações, imputando crimes a pessoa que não os cometeu.

Nos Estados Unidos vislumbrava-se a satisfação do jus puniendi, ainda não havia a preocupação por parte do legislador com os malefícios que o instituto

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poderia trazer a eficácia do processo penal. Um acusado poderia ser submetido à prisão sem ter cometido ato ilícito.

O acordo de colaboração era firmado entre o colaborador e a acusação, posteriormente, o acordo seria analisado pelo juiz da causa. O juiz tinha por obrigação a homologação ou não do acordo firmado, visto que, o juiz não era obrigado a aceitar os termos do acordo, podendo recusa-los. Foi nos Estados Unidos que o instituto da colaboração premiada ganhou espaço no cenário jurídico.

5.3 A Colaboração Premiada na Itália

Dispõe Carvalho, 2009, que: A Itália adotou o instituto da colaboração premiada no combate ao terrorismo e à corrupção. Assim como os Estados Unidos, a Itália vinha sofrendo com os efeitos do crime organizado. O instituto da colaboração premiada ficou conhecido no país por volta dos anos 90. Um dos casos mais famosos ocorridos na Itália, sem dúvidas, foi à chamada Operação Mani Pulite (mãos limpas). A Operação Mani pulite foi uma das maiores operações do judiciário italiano, envolvendo Ministério Público, polícias e o Judiciário, consistia na investigação de crimes de lavagem de dinheiro, corrupção, envolvendo o alto escalão político do país e empreiteiras que se submetiam ao pagamento de propina em troca de contratos de prestação de serviços públicos, tratava-se de relações espúrias entre agentes públicos e particulares.

Conforme entendimento de Carvalho, 2009, o instituto da colaboração premiada foi considerado de suma importância para elucidação dos fatos, uma vez que ao fato de as investigações tomarem grandes proporções, foi se descobrindo o envolvimento de autoridades políticas. Autoridades que ao verem encurraladas, iniciaram uma manobra política, criando e modificando a legislação criminal para se beneficiarem.

O instituto da colaboração premiada foi muito importante para as autoridades italianas no combate ao que se chamava de corrupção galopante. A operação mãos limpas tomou grandes proporções, as autoridades se viram diante do maior esquema de corrupção no país.

Foi através do instituto da colaboração que a justiça italiana solucionou toda a problemática em que o país se encontrava. Ao passo que o instituto da colaboração foi incorporado a variados por vários países, o instituto foi se aprimorando, foi se

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estabelecendo um elo entre o instituto e os princípios norteadores do direito processual penal.

6. A COLABORAÇÃO PREMIADA NO DIREITO BRASILEIRO

Conforme dispõe Carvalho, 2009. A colaboração premiada surgiu no Brasil na década de 90. Apontado como instrumento de forte incidência no direito processual penal internacional, vem surtindo ao longo do tempo eficácia no combate ao crime organizado e a corrupção. O Brasil antes mesmo de incorporar o instituto da colaboração premiada, já havia demonstrado interesse em premiar aquele que colaborasse com a investigação criminal. Podemos citar a previsão do arrependimento eficaz, desistência voluntaria e arrependimento posterior.

Arrependimento eficaz e desistência voluntaria estão previstos no artigo 15 do código penal, consiste na atitude onde o indivíduo mesmo podendo concretizar a ação delituosa, vem a se arrepender não chegando a concretiza-la.

Como - O agente que,

voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados .

Já o arrependimento posterior, previsto no artigo 16 do Código Penal, consiste no cometimento de crimes sem violência e grave ameaça, sendo o dano reparado e restituída a coisa fruto do crime, deverá ocorrer antes da instrução - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída à coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços .

Podemos concluir que no ordenamento jurídico brasileiro já havia institutos que se assemelham ao direito premial. O legislador buscou elaborar meios para facilitar a persecução penal, os meios técnicos para buscar a verdade real foram se aperfeiçoando ao longo do tempo. O Brasil adotou variado meio para se produzir provas no direito penal. A colaboração premiada foi um instituto que nos últimos anos, vem ganhando espaço no cenário jurídico brasileiro, há sem dúvidas maior incidência no combate ao crime organizado.

O instituto da colaboração premiada não está previsto em uma lei especifica, como visto, está presente em diversos dispositivos do ordenamento jurídico. A lei que traz com mais detalhes o instituto, sem dúvidas, é a lei 12.850/13. Lei que trata

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da organização criminosa. Define organização criminosa como associação de quatro ou mais pessoas de maneira estruturada, com divisão de tarefas, ainda que de maneira informal, que tenha por objetivo obter vantagem direta ou indiretamente, mediante práticas de infrações penais, com penas superiores a quatro anos de prisão.

Assim conceitua o § 1º do artigo 1º da lei 12.850/13:

Art. 1º. Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado.

§ 1o Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.

O instituto da colaboração premiada está previsto no artigo 3º, I da lei 12.850/13. O artigo inseriu o instituto como um meio de obtenção de prova. Porém o artigo 4º traz com maiores detalhes a forma como será aplicado no direito processual penal o instituto da colaboração.

Assim dispõe o artigo 4º da lei 12.850/13:

Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial,

reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e

voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados: I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas;

II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;

III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;

IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa;

V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.

§ 1o Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em conta a

personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração. § 2o Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério

Público, a qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal).

§ 3o O prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao

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igual período, até que sejam cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo prescricional.

§ 4o Nas mesmas hipóteses do caput, o Ministério Público poderá deixar de

oferecer denúncia se o colaborador: I - não for o líder da organização criminosa;

II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo. § 5o Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos.

§ 6o O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério Público, ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor.

§ 7o Realizado o acordo na forma do § 6o, o respectivo termo,

acompanhado das declarações do colaborador e de cópia da investigação, será remetido ao juiz para homologação, o qual deverá verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade, podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o colaborador, na presença de seu defensor. § 8o O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais, ou adequá-la ao caso concreto.

§ 9o Depois de homologado o acordo, o colaborador poderá, sempre acompanhado pelo seu defensor, ser ouvido pelo membro do Ministério Público ou pelo delegado de polícia responsável pelas investigações. § 10. As partes podem retratar-se da proposta, caso em que as provas autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu desfavor.

§ 11. A sentença apreciará os termos do acordo homologado e sua eficácia. § 12. Ainda que beneficiado por perdão judicial ou não denunciado, o colaborador poderá ser ouvido em juízo a requerimento das partes ou por iniciativa da autoridade judicial.

§ 13. Sempre que possível, o registro dos atos de colaboração será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinados a obter maior fidelidade das informações.

§ 14. Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará na presença de seu defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade.

§ 15. Em todos os atos de negociação, confirmação e execução da colaboração, o colaborador deverá estar assistido por defensor. § 16. Nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente colaborador.

É notável e claro o objetivo do legislador, cabe ao juiz decidir se beneficiará o réu. O simples acordo não enseja em beneficio ao réu, as informações prestadas devem ter peso no processo. Nota-se a importância do instituto, porém a preocupação do legislador com os direitos do réu, ao mesmo deve ser assegurado o contraditório e a ampla defesa, caso contrário estaríamos vivendo uma ditadura no direito processual penal. Vislumbra-se com o instituto a satisfação do jus puniendi, porém as autoridades não podem exceder os princípios limitadores da relação processual.

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Não menos importante, o § 16 da lei 12.850/13 dispõe que a sentença condenatória não poderá ser proferida com fundamento apenas em acordo de colaboração premiada.

Isso porque a colaboração premiada não é necessariamente uma prova, é considerado um meio de obtenção de prova, assim sendo, o juiz não poderá fundamentar sua decisão com base apenas no conteúdo do acordo de colaboração.

O conteúdo do acordo firmado deverá ser procedido de documentos, para que assim, comprove todas as alegações declaradas pelo colaborador. Os documentos que o colaborador deverá apresentar tem valor probatório. A doutrina até hoje questiona o valor probatório de um acordo de colaboração, visto que, o réu em situação vulnerável, encontra no instituto da colaboração a possibilidade de reduzir sua pena, ou até mesmo ser beneficiado pelo perdão judicial.

Portanto, o legislador dispôs sobre as condições do acordo, não basta apenas colaborar com fatos, é preciso entregar documentos, produtos do crime, para que assim não paire dúvidas sobre quem participou da conduta criminosa e qual foi o grau de participação de cada indivíduo.

7. Natureza Jurídica

A colaboração premiada possui natureza jurídica anômala, segundo a doutrina dominante, a colaboração premiada não se compara aos demais tipos de prova, é algo inovador no direito contemporâneo. Os termos delação e colaboração não são sinônimos, sendo a expressão colaboração dotada de maior abrangência. Como conceitua Natália de Oliveira de Carvalho:

Primeiramente, seguindo advertência de Gomes, destaca-se que delação premiada e colaboração à justiça não são expressões sinônimas, sendo esta última dotada de mais larga abrangência. O imputado, no curso da persecutio criminis, pode assumir a culpa sem incriminar terceiros, caso em que é mero colaborador, não havendo, inclusive, que se levantar

questionamentos éticos acerca de seu ato.

De maneira diversa, pode o colaborador confessar seu envolvimento na prática delitiva e apontar outros coenvolvidos, hipótese em que se configura a delação premiada. (Carvalho, 2009, p.112).

7.1 Críticas ao Instituto da Colaboração Premiada

O instituto da colaboração premiada ao longo do tempo vem sofrendo críticas. A doutrina é crítica ferrenha ao instituto, questiona o fato de o Estado dispor do poder

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de punir para alcançar maior número de delinquentes, isto se dá pelo fato de o réu colaborador ter sua pena reduzida, ou muitas vezes ser gratificado pelo perdão judicial. Nesse último, o réu que participou da conduta criminosa acaba por não pagar pelo crime que cometeu.

Assim dispõe Natália Oliveira de Carvalho:

Alvo de críticas também da doutrina processual penal anlgosaxâ, essa inversão de valores, ao desvirtuar a própria medida da culpabilidade, acaba por ensejar, ao final do processo, sentenças invertidas (inverted sentences), nos moldes do que Saltzburg e Capra, citados por Breda, ao comentarem o plea bargaining, procedimento através do qual a delação premiada de distúrbio do plea bargaining é nos casos de co-réus, em que os que apresentam maior culpabilidade podem ter a chance de receber uma sentença mais leve que aqueles de menor censura. (Carvalho, 2009, p.124). É um tanto quanto intrigante, o fato de dispor de um direito que é indisponível, o jus puniendi foi conferido ao Estado, é um direito indisponível, portanto ao analisarmos com maior cautela o instituto da colaboração premiada, resta a dúvida se o Estado não estaria dispondo daquilo que é considerado pela doutrina e pelo ordenamento jurídico como um direito indisponível.

7.2 Posicionamento do Supremo Tribunal Federal

Conforme dispõe Natália Oliveira de Carvalho, 2009, p. 118. Supremo Tribunal Federal ainda não havia suscitado questionamentos quanto à constitucionalidade do instituto da colaboração premiada, porém, após o surgimento da operação lava jato, o instituto passou a ser um instrumento muito eficaz no combate a corrupção, é um meio rápido, que traz maior satisfação a persecução penal.

Após quatro sessões de julgamento sobre o pedido da defesa do governador do Mato Grosso do Sul para anular a homologação do acordo de colaboração do grupo J & F, que ocorreram em junho de 2017, o Supremo Tribunal Federal decidiu por maioria de votos (08 a 11) que os acordos de colaboração podem ser homologados pelo relator do processo e só poderá ser objeto de revisão o acordo que não for cumprido pelas partes. O relator do processo é o responsável por homologação do acordo, ele que irá analisar as formalidades do acordo.

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8. RESULTADOS

Após análise de toda a pesquisa realizada, observa-se a importância do instituto para o ordenamento jurídico brasileiro, apesar de sofrer várias críticas o instituto tem trazido resultados significativos na ordem penal e processual penal. Como foi apresentado até o presente momento o Supremo Tribunal Federal não suscitou desconformidades do instituto em relação ao texto constitucional. Formalizando assim sua aplicabilidade ao ordenamento jurídico.

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O instituto da colaboração premiada sofreu ao longo do tempo expressiva transformação, houve a necessidade de aperfeiçoa-lo a cada ordenamento jurídico em que foi incorporado. É mais do que visível a manifestação por parte do Estado em criar e modificar seus mecanismos de persecução penal. O Estado detém o poder de punir (jus puniendi). Nas palavras de Fernando Capez, 2012, é um direito indelegável e irrenunciável, não podendo o dispor do jus puniendi.

O Estado deve agir com mãos de ferro na hora de exercer sua função, por outro lado, deve haver cautela ao aplicar seu poder. Como não há contrariedade frente as normas constitucionais, não há que se falar em inconstitucionalidade da colaboração premiada. O instituto visa satisfazer a persecução penal. O Estado precisa criar mecanismos para punir aquele que viola a lei, o Estado está dando uma resposta satisfatória a sociedade. Assim sendo, percebe-se que tais críticas não passam de um jogo de interesses para que a impunidade continue perpetuando na sociedade.

FONTES CONSULTADAS

BRASIL. Código Penal Brasileiro. Decreto Lei nº 2.848/40 Brasília, DF: Senado Federal.

BRASIL. Lei nº 12.850/13 criada em 02 de agosto de 2013 Dispõe Sobre Organização Criminosa.

CARVALHO, Natália Oliveira. A Delação Premiada no Brasil. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.

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