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A produção do espaço jurídico-político dos municípios no direito internacional: a práxis do consórcio intermunicipal da fronteira(CIF)

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Academic year: 2021

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CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

Idir Canzi

A PRODUÇÃO DO ESPAÇO JURÍDICO-POLÍTICO DOS MUNICÍPIOS NO DIREITO INTERNACIONAL: A PRÁXIS DO

CONSÓRCIO INTERMUNICIPAL DA FRONTEIRA(CIF).

Tese submetida ao Programa de Doutorado em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de Doutor em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Arno Dal Ri Júnior

Florianópolis 2016

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Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor,

através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.

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Este trabalho é dedicado a todos aqueles que acreditam na produção do espaço local e global que torna a vida mais interessante em tempos de grandes mudanças de paradigmas.

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À Universidade Federal de Santa Catarina pela expansão do Curso do Doutorado em Direito, via convênio firmado com a Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECÓ), Chapecó-SC (Dinter 2012/2016).

À Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Direito (CPPGD) da Universidade Federal de Santa Catarina.

À CAPES, avaliadora da qualidade do Programa de Pós-Graduação em Direito.

Ao professor orientador Dr. Arno Dal Ri Júnior, referência profissional para a pesquisa, amizade e saber jurídico-político decisório.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD) da UFSC pelas aulas ministradas, incentivos e contribuições teóricas.

Aos professores membros da banca examinadora, pelas sugestões, críticas e incentivos.

À UNOCHAPECÓ, instituição de ensino superior que possibilitou o espaço da minha experiência docente/profissional.

A todos os professores do Curso de Direito da UNOCHAPECÓ e colegas da turma do Dinter pela trajetória de vida, trabalho, estudo, pesquisa e vivências.

Aos dirigentes, integrantes e funcionários do Consórcio Intermunicipal da Fronteira (CIF), pela indispensável contribuição em material e base do objeto do estudo e pesquisa.

Aos professores Arno Dal Ri Júnior, Altamir Dutra, Celso Zarpelon, Maria Aparecida Lucca Caovilla, Marcelo Markus Teixeira, Reginaldo Pereira e Silvana Winkler pela parceria de vivências, amizade e trabalho, para além da produção de um mundo de coisas boas.

Aos acadêmicos da graduação em Direito da UNOCHAPECÓ pela história de vida compartilhada.

Ao amigo Victor Rojas, pelas conversas sobre utopia e realidade da cidade educadora, perspectiva e futuro de todos nós.

Ao amigo, do “bom dia da bicicleta”, Sr. Lima, e aos jardineiros, Ademir e Roseli, da Rua Servidão Oliveira, Rio Vermelho – Florianópolis-SC.

Aos familiares pelo amor e carinho recebidos, em especial Iraci, Eduarda, Daniel, Maria e Tarcísio. À Família da alegria e do vinho – família Canzi, obrigado!

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“A cidade deveria ser bem mais interessante do que é” (Eduarda Andrade Canzi, 2016).

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A tese versa sobre a produção do espaço jurídico-político dos municípios no direito internacional, tomando por base a práxis dos municípios de Dionísio Cerqueira (SC), Bernardo de Irigoyen (Província de Misiones), Barracão (PR) e Bom Jesus do Sul (PR), integrantes do Consórcio Intermunicipal da Fronteira (CIF). O problema central de pesquisa indaga sobre a seguinte questão: os municípios do Consórcio Intermunicipal da Fronteira (CIF), ao produzirem o espaço social, político, econômico e cultural a partir da práxis do local e seu entorno, com atividades nas relações internacionais, se tornam ou não sujeitos jurídicos de direito internacional? O desenvolvimento da tese estruturou-se em três capítulos, com densidade temática aprofundada na doutrina, legislação e documentos de fonte primária, primeiramente com destaque sobre a produção do espaço como dimensionalidade jurídico-política da cidade, seguido da abordagem da produção do espaço jurídico-político dos municípios no direito internacional e fechando com a análise da práxis dos municípios integrantes do Consórcio intermunicipal da Fronteira (CIF). O aporte teórico foi sedimentado a partir de Fustel de Coulanges, Pietro Costa, Henri Lefebvre, Ding, Dallier e Pellet, Dominique Carreau, Jean Touscouz, Paolo Grossi, Santi Romano, Arno Dal Ri Junior, jurisprudência da Corte Internacional de justiça (CIJ) remissiva à decisão do caso Folke Bernadotte, legislação e fontes primárias vinculadas a documentos e leis originárias produzidas pelos municípios do Consórcio Intermunicipal da Fronteira. A pesquisa utilizou-se do método analítico-crítico de abordagem e de procedimento monográfico. A hipótese não se confirmou, pois os municípios do Consórcio Intermunicipal da Fronteira (CIF), ao produzirem o espaço social, político, econômico e cultural, a partir da práxis do local e seu entorno, com atividades nas relações internacionais, criam uma juridicidade específica, relacional e própria dos espaços de representação glocalizada, caracterizada por um sistema consuetudinário de direito internacional à margem do direito oficial.

Palavras-chave: 1. Produção do espaço jurídico-político. 2. Municípios. 3. Sujeitos de Direito Internacional.

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The thesis deals with the production of the legal and political space of the municipalities in international law, based on the practice of Dionísio Cerqueira (SC), Bernardo de Irigoyen (Misiones Province), Barracão (PR) and Bom Jesus do Sul (PR), members of the Consórcio Intermunicipal da Fronteira (CIF). The main problem of research asks the following question: the municipalities of the Consórcio Intermunicipal da Fronteira (CIF), to produce the social space, political, economic and cultural from the local practice, with activities in international relations, become or not legal subjects of international law or deals with the production of a specific, relational and own legality of representation spaces, not responding to national or international definitions? The development of the thesis was structured into three chapters, with thematic density in the doctrine, legislation and primary source documents, first with emphasis on the production of space as a legal-political dimensionality of the city, followed by the approach to the production of juridical space political municipalities in international law and closing with the analysis of praxis of the municipalities of the Consórcio Intermunicipal da Fronteira (CIF). The theoretical framework was pelleted from Fustel de Coulanges, Pietro Costa, Henri Lefebvre, Ding, Dallier and Pellet, Dominique Carreau, Jean Touscouz, Paolo Grossi, Santi Romano, Arno Dal Ri Junior, jurisprudence of the International Court of Justice (ICJ) remitting the decision of the case Folke Bernadotte, legislation and primary sources related to documents originating and laws enacted by the municipalities of the Consórcio Intermunicipal da Fronteira. The research used the analytical-critical method of approach and monographic procedure. The hypothesis has not been confirmed, since the municipalities of the Consórcio Intermunicipal da Fronteira (CIF) to produce social space, political, economic and cultural, from the local practice, with activities in international relations, create a specific, relational juridicity, particular from the spaces with a “glocalizaded” representation, characterized by a consuetudinary system of international law on the margins of official law.

Keywords: 1. Production of the legal and political space. 2. Municipalities. 3. International Law Subject.

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La tesis aborda la producción del espacio legal y político de los municipios en el derecho internacional, basado en la práctica de municipios Dionisio Cerqueira (SC), Bernardo de Irigoyen (provincia de Misiones), Barracão (PR) y Bom Jesus do Sul (PR), los miembros del Consórcio Intermunicipal de Fronteira (CIF). El problema central de la investigación pide a la siguiente pregunta: ¿los municipios del Consórcio Intermunicipal de Fronteira (CIF), para producir el espacio social, político, económico y cultural del lugar y sus alrededores práctica, con actividades en las relaciones internacionales, hacer o no sujetos jurídicos de derecho internacional, o se trata de la producción de una legalidad específica, relacional y propia de los espacios de representación, que no responden a las etiquetas nacionales o internacionales? El desarrollo de la tesis se estructura en tres capítulos, en profundidad la densidad temática en la doctrina, la legislación y las fuentes primarias de documentos, primero con énfasis en la producción del espacio como una dimensión jurídico-político de la ciudad, seguido de la aproximación a la producción del espacio jurídico-político de los municipios en el derecho internacional y se cierre con el análisis de la praxis de los municipios del Consórcio Intermunicipal da Fronteira (CIF). El marco teórico se sedimentó de Fustel de Coulanges, Pietro Costa, Henri Lefebvre, Ding, Dallier y Pellet, Dominique Carreau, Jean Touscouz, Paolo Grossi, Santi Romano, Arno Dal Ri Junior, la jurisprudencia de la Corte Internacional de Justicia (CIJ) remitiendo la decisión del caso Folke Bernadotte, la legislación y las fuentes primarias relacionadas con los documentos originarios y las leyes promulgadas por los municipios del Consórcio Intermunicipal da Fronteira. La investigación utilizó el método analítico-crítica del procedimiento de aproximación y monográfico. La hipótesis no fue confirmada debido los municipios del Consórcio Intermunicipal de la Frontera (CIF), produciren el espacio social, político, económico y cultural, desde el punto de práctica y su entorno, con actividades en las relaciones internacionales, creando una juridicidad específica, relacional y particular de la representación glocalizada del espacio, que se caracteriza por un sistema de derecho internacional consuetudinario en los márgenes del derecho oficial.

Palabras-clave: 1. La Producción del Espacio Legal y Político. 2. Los Municipios. 3. Sujeto de Derecho Internacional.

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Figura 1 – Croqui Parque Turístico Ambiental de Integração... 164 Foto 1 – Memorial de inauguração da Escuela nº 604 ... 178 Foto 2 – No quadro da escola Argentina, palavras escritas pelo

professor brasileiro ... 179 Tabela 1 – Total de Alunos estrangeiros nas escolas do município de Dionísio Cerqueira ... 180

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ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

AFEPA – Assessoria para Assuntos Federativos Parlamentares AID – Associação Internacional para o Desenvolvimento AIEA – Agência Internacional de Energia Atômica ALCA – Área de Livre Comércio das Américas AM – Amazonas

ASN – Sociedade de Nações

BIRD – Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento BIS – Bank for International Settlements

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CAT – Centro de Atendimento ao Turista

CDIF – Comissão Permanente para o Desenvolvimento e a Integração da Faixa de Fronteira

CEE – Comunidade Econômica Europeia CIJ – Tribunal Internacional de Justiça

CNM – Confederação Nacional dos Municípios CIF – Consórcio Intermunicipal da Fronteira CF/88 – Constituição Federal de 1988

CPPGD – Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Direito CPPLR – Conselho Popular Para Ligas das Regiões

CREAS – Centro de Referência Especializada da Assistência Social CRAS – Centro de Referência da Assistência Social.

DINTER – Doutorado em Direito DIP- Direito Internacional Público

FAO – Food and Agriculture Organization –Organização das Nações Unidas para a Alimentação e à Agricultura

FARBOM – Cooperativa de Laticínios Farbom de Bom Jesus do Sul-SC FIDA – Fundo Internacional do Desenvolvimento Agrícola

FMI – Fundo Monetário Internacional

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IFPR – Instituto Federal do Paraná

INDEC – Instituto Nacional de Desenvolvimento Econômico INSS – Instituto Nacional de Seguro Social

FMS – Fórum Social Mundial GGI – Gabinete de Gestão Integrada MG – Minas Gerais

MERCOSUL – Mercado Comum do Sul MMM – Organização Metereológica Mundial

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de Fronteira do Estado do Paraná

NAFTA – North American Free Trade Agreement

NFSC – Núcleo Estadual de Integração da Faixa de Fronteira do Estado de Santa Catarina

OAA – Organização para a Alimentação e Agricultura OACI – Organização da Aviação Civil Internacional

OCDE - Organização de Cooperação de Desenvolvimento Econômico OEA – Organização dos Estados Americanos

OIs – Organizações Internacionais

OIT – Organização Internacional do Trabalho OMC – Organização Mundial do Comércio

OMCI – Organização Intergovernamental Consultiva da Navegação Marítima

OMI – Organização Marítima Internacional

OMPI – Organização Mundial da Propriedade Intelectual OMS – Organização Mundial da Saúde

OMT – Organização Mundial do Turismo ONU – Organização das Nações Unidas

ONUDI – Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial

ONGs – Organizações Não Governamentais OP – Orçamento Participativo

OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte PB – Pernambuco

PDT – Partido Democrático Trabalhista PEC – Projeto de emenda à Constituição PIB – Produto Interno Bruto

PF – Polícia Federal PM – Polícia Militar

PIDIF/SC – Plano de Desenvolvimento e Integração Fronteiriço do Estado de Santa Catarina

PPGD – Programa de Pós-Graduação em Direito PR – Paraná

PTI – Parque Tecnológico Itaipu RI – Relações Internacionais RS – Rio Grande do Sul RJ – Rio de Janeiro

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SFI – Sociedade Financeira Internacional SC – Santa Catarina

SDR – Secretaria de Desenvolvimento Regional SP – São Paulo

SDN – Sociedade das Nações

TFUE – Tribunal Federal da União Europeia TPI – Tribunal Penal Internacional

UE – União Europeia

UFSC – Universidade Federal do Estado Santa Catarina UIT – União Internacional das Telecomunicações

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNOCHAPECÓ – Universidade Comunitária da Região de Chapecó UPU – União Postal Universal

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1 INTRODUÇÃO ...27 2 A PRODUÇÃO DO ESPAÇO COMO DIMENSIONALIDADE JURÍDICO-POLÍTICA DA CIDADE, RELACIONADA AO MUNICÍPIO ...33 2.1 ESTUDO DAS INSTITUIÇÕES NA EXPERIÊNCIA JURÍDICA DAS CIDADES GREGAS, DE ROMA E DAS CIDADES

MEDIEVAIS ...36 2.1.1 A origem da cidade e do regime municipal na teoria de Coulanges ...36 2.1.2 As cidades-Estado e a fundamental contribuição à vida jurídico-política ...41 2.1.2.1 Cidades-Estado gregas ...42 2.1.2.2 A cidade-Estado jurídica e a virtude cívica como ideal de cidadão em Atenas e Esparta ...44 2.1.2.3 As cidades-Estado de Roma ...48 2.2 A CIDADE NA IDADE MÉDIA ENQUANTO ENTE POLÍTICO PRINCIPAL DOTADO DE IURISDICTIO E DE AUTOGOVERNO PELO EFETIVO EXERCÍCIO DE FATO DE SUA IURISDICTIO DE CITTÀ ...50 2.3 A TEORIA DA PRODUÇÃO DO ESPAÇO DE HENRI

LEFEBVRE: A PRODUÇÃO DA CIDADE POLÍTICA, DA CIDADE COMERCIAL E DO VALOR DE USO, DA CIDADE INDUSTRIAL E DA URBANIZAÇÃO ENQUANTO ESPAÇO SOCIALMENTE PRODUZIDO ...55 2.3.1 A produção do espaço ...59 2.3.1.1 A cidade política ...62 2.3.1.2 A cidade comercial e do valor de uso ...65 2.3.1.3 A cidade industrial e da urbanização ...72 2.4 A RECONFIGURAÇÃO DA PRODUÇÃO DO ESPAÇO

JURÍDICO-POLÍTICO A PARTIR DO ESTADO MODERNO ....77 3 A PRODUÇÃO DO ESPAÇO JURÍDICO-POLÍTICO DOS MUNICÍPIOS COMO SUJEITOS DO DIREITO

INTERNACIONAL ...89 3.1 O DIREITO INTERNACIONAL APLICADO À SOCIEDADE INTERNACIONAL ...90 3.2 O CASO BERNADOTTE COMO MARCO JURÍDICO INICIAL DA REVISÃO DO CONCEITO DE SUJEITO DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO ...93

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REVISÃO DO CONCEITO DE SUJEITO DE DIREITO

INTERNACIONAL ... 96 3.4 AVANÇOS NO DEBATE SOBRE A NATUREZA E ALCANCE DE DIREITOS DAS COLETIVIDADES PÚBLICAS

TERRITORIAIS ... 103 3.5 CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO DE SUJEITO DE DIREITO INTERNACIONAL DE JEAN TOUSCOZ ... 105 3.6 PRINCIPAIS SUJEITOS TRADICIONAIS ... 107 3.6.1 O Estado ... 108 3.6.2 As organizações internacionais ... 112 3.7 AS PESSOAS COLETIVAS NÃO ESTATAIS – SUJEITOS EMERGENTES ... 116 3.7.1 As organizações internacionais não-governamentais ... 117 3.7.2 As sociedades transnacionais ... 119 3.7.3 Os governos não-centrais ... 121 3.7.3.1 Os Estados federados e comunidades não estatais nos

ordenamentos europeus ... 122 3.7.3.1.1 Os Länder da República Federativa da Alemanha ... 124 3.7.3.1.2 As comunidades e regiões da Bélgica ... 126 3.7.3.1.3 A cooperação descentralizada e acordos pelas comunidades territoriais da França ... 129 3.7.3.1.4 As iniciativas das comunas e governos infraestatais da Itália ... 133 3.7.3.1.5 Outras ordenações Europeias – Áustria, Finlândia,

Luxemburgo, Portugal, Suécia, Suíça ... 136 3.7.3.1.6 Os Municípios brasileiros ... 138 3.7.3.1.6.1 A ampliação da atuação internacional dos municípios brasileiros ... 143 3.7.3.1.6.2 O parecer da proposta de Emenda Constitucional – PEC 475/2005 da paradiplomacia ... 148 3.7.3.1.7 Considerações ao compartilhamento de competências dos governos não centrais, situados na dimensão subnacional dos Estados ... 151 4 A PRÁXIS DA PRODUÇÃO DO ESPAÇO GLOCAL PELOS MUNICÍPIOS DO CONSÓRCIO INTERMUNICIPAL DA FRONTEIRA(CIF) COMO DIMENSIONALIDADE AO

RECONHECIMENTO OU NÃO DA CONDIÇÃO DE SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL ... 153

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4.2 OS NÚCLEOS ESTADUAIS DE SANTA CATARINA E

PARANÁ DE INTEGRAÇÃO DA FAIXA DE FRONTEIRA .... 158 4.3 CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO GLOCAL DOS MUNICÍPIOS INTEGRANTES DO CONSÓRCIO INTERMUNICIPAL DA FRONTEIRA (CIF)... 161 4.4 MECANISMOS E INSTRUMENTOS DE ATUAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DO CONSÓRCIO INTERMUNICIPAL DA FRONTEIRA (CIF)... 169 4.4.1 O Consórcio Intermunicipal da Fronteira ... 169 4.4.2 O protocolo entre os municípios do CIF e entes subnacionais e estatais ... 173 4.4.3 Ações planejadas, realizadas e em execução no âmbito de atuação do CIF ... 175 4.4.4 A integração intercultural bilíngue ... 177 4.5 A PRODUÇÃO DE UMA JURIDICIDADE ESPECÍFICA,

RELACIONAL E PRÓPRIA DOS ESPAÇOS DE

REPRESENTAÇÃO GLOCALIZADA ... 181 CONCLUSÃO ... 187 REFERÊNCIAS ... 193

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O objetivo central da pesquisa da tese é o de analisar a produção do espaço jurídico-político dos municípios no direito internacional, tomando por base a práxis dos municípios de Dionísio Cerqueira (SC), Bernardo de Irigoyen (Província de Misiones), Barracão (PR) e Bom Jesus do Sul (PR), integrantes do Consórcio Intermunicipal da Fronteira (CIF).

O estudo, objeto da tese, se justifica pelo forte despertar de interesse na ampliação de sua abordagem por parte de professores, estudantes e pesquisadores ante o complexo processo da globalização, o qual abriu novas perspectivas para a atuação dos novos sujeitos de direito internacional. Os novos sujeitos de direito internacional, incluindo os governos não centrais, vêm gradualmente disputando e conquistando espaços na agenda internacional com os governos centrais e se consolidando como sujeitos emergentes da dinâmica internacional.

O desenvolvimento da tese estruturou-se em três capítulos, com densidade temática aprofundada na doutrina, legislação e documentos de fonte primária, primeiramente com destaque sobre a produção do espaço como dimensionalidade jurídico-política da cidade, seguido da abordagem da produção do espaço jurídico-político dos municípios no direito internacional e fechando com a análise da práxis dos municípios integrantes do Consórcio intermunicipal da Fronteira (CIF).

A questão indagativa para o problema de pesquisa foi formulado da seguinte forma: os municípios do Consórcio Intermunicipal da Fronteira, ao produzirem o espaço social, político, econômico e cultural, a partir da práxis do local e seu entorno, com atividades nas relações internacionais, se tornam ou não sujeitos jurídicos de direito internacional? A hipótese, resposta provisória inicial atribuída, era afirmativa à possibilidade indicada no problema de pesquisa. Entretanto, no decorrer do desenvolvimento dos conteúdos da tese, delinearam-se limitações impostas pelo direito internacional oficial, motivadora da apresentação de uma conclusão dissonante da resposta provisória inicial, objeto de abordagem resguardada para apresentação no final da pesquisa.

A opção teórica em priorizar a abordagem sobre a produção do espaço como dimensionalidade jurídico-política na constituição dos sujeitos de direito internacional, implica também no método não separado da análise. A análise expressa o método que se está a usar: analítico-crítico de abordagem e de procedimento monográfico. Aliás, a análise, a partir da produção do espaço, não exclui a diversidade teórica

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dos paradigmas na abordagem da inserção e atuação dos sujeitos emergentes, incluídos os governos não centrais, no Direito e Relações Internacionais. Entretanto, adverte-se que a produção do espaço conjuga o espaço teórico e o espaço concreto respectivamente.

A pesquisa utilizou-se de referenciais bibliográficos1, com assento teórico sedimentado a partir de Fustel de Coulanges, Pietro Costa, Henri Lefebvre, Ding, Dallier e Pellet, Dominique Carreau, Jean Touscouz, Paolo Grossi, Santi Romano, Arno Dal Ri Junior, jurisprudência da Corte Internacional de justiça (CIJ) remissiva à decisão do caso Folke Bernadotte, legislação e fontes primárias vinculadas a documentos e leis originárias produzidas pelos municípios do Consórcio Intermunicipal da Fronteira.

A abordagem inicial da presente tese encontra-se delineada pela busca da reconstituição de elementos da cidade antiga, medieval e moderna que assumem dimensionalidades diferentes e complementares, para repensar o compartilhamento de sentidos e formas de ordenação da cidade no tempo presente, relacionada ao município, ente jurídico-político e administrativo responsável pelo autogoverno local.

Em “Cidade Antiga”, Fustel de Coulanges tece contribuições indispensáveis para a compreensão da experiência expressa pelo modo de vida greco-romana, com suas crenças, costumes, religião e direito. A origem da cidade e do regime municipal teria marcado profundamente o modo de ordenação da cidade antiga.

O resgate da abordagem sobre as cidades-Estado gregas e de Roma aponta para a interdependência e autossustentabilidade das referidas cidades. A ordenação da cidade não se encontrava sob o jugo do Estado soberano como conhecido e ordenado pelos modernos. O mesmo se pode dizer em referência às cidades medievais, cuja reflexividade da teoria de Pietro Costa remete a um mergulho à literatura historiográfica e jurídico-política, na detida busca da compreensão da riqueza de elementos e interações sobre a ordenação da cidade, vinculada à concepção e visão de mundo expressa no contexto medieval. Costa persiste na busca de estabelecer os contrapontos da forma de ordenação da cidade medieval, sem que isso incorresse na afirmação da existência da centralidade de um poder soberano, diverso daquele assumido com o surgimento do Estado moderno.

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Para fins de exposição, o autor deste trabalho, sob orientação do Prof. orientador, escolheu utilizar o sistema de referências numérico de chamadas, em conformidade às normas da ABNT no formato, com a intenção de facilitar ao leitor a compreensão da obra.

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Em prosseguimento, a teoria da produção do espaço de Henri Lefebvre estabelece uma ligação fundamental da dimensão da ordenação política da cidade antiga, o modo equilibrado do valor de uso com o valor de troca que alimentou e tornou interessante a vida das cidades comerciais medievais na Europa, sem perder o assento sobre a abordagem da cidade moderna, imersa no contexto industrial e da urbanização. O nascimento e expansão da indústria, que se conecta com o modo de desenvolvimento da vida urbana, fez implodir o centro de referência político da cidade antiga e desequilibrou o modo de produção do espaço das cidades medievais, em que tudo circulava e se voltava ao desenvolvimento local da própria cidade e seu entorno.

Henri Lefebvre, em sua teoria dialética tridimensional da produção do espaço, liga a prática das atividades humanas (prática espacial), representação do espaço e espaços de representação. O espaço é sempre produzido socialmente. Não existe o espaço em “si mesmo”. Espaço e tempo são relacionais. O espaço representa simultaneidade, a ordem sincrônica da realidade social. O tempo corresponde ao processo histórico da produção social. Espaço e tempo são entendidos como produtos da prática social, resultado e pré-condição da produção da sociedade (relação entre os seres humanos por meio de suas atividades práticas). Por decorrência, como espaço e tempo são produzidos socialmente, só podem ser compreendidos no contexto de uma sociedade específica (cidade política grega, cidade comercial medieval, cidade industrial e da urbanização na modernidade). Tal assertiva implica que o espaço e tempo são relacionais e históricos, não separados da experiência vivida.

A juridicidade integra a própria concepção de produção do espaço de Lefebvre, presente nas atividades da prática social, representações do espaço e espaços de representação, diretamente interconectados na produção do espaço. A normatividade é ao mesmo tempo constitutiva e resultante do ambiente produzido, da organização, da orientação e da co-determinação das atividades. A juridicidade integra a ordem espacial das relações sociais de produção e concorre para o controle das contradições, em benefício dos interesses predominantes na sociedade e seu modo de produção. O direito à cidade, à vida urbana, diferente da urbanização, assume uma condição de humanismo e de democracia renovados. O direito à cidade possui relação direta com o acesso e o valor de uso da cidade. A urbanização no processo industrial da sociedade capitalista privilegia o valor de troca em descaracterização ao urbano, à reunião, à convergência, dos encontros. A produção do espaço é social. O jurídico integra e emerge do social. Neste particular, em

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sentido similar, concorrem também os referenciais teóricos de Santi Romano e Paolo Grossi de que o direito é ordenamento do social.

A segunda parte do texto, referente à produção jurídico-política dos municípios como sujeitos do direito internacional, remete preliminarmente ao fato de a ordenação político-jurídica dos Estados nacionais ter fortalecido centralmente o Estado como sujeito de direito e as organizações internacionais que constituem e de que são membros. Entretanto, as transformações processadas ao longo do século XX, com as Conferências de Paz de Haia, a experiência das duas guerras mundiais, a Liga das Nações e a criação da ONU, as Conferências de Viena, a guerra fria e a dinâmica imposta pela globalização econômica, influíram decisivamente para fazer ressurgir o debate sobre os sujeitos emergentes da sociedade internacional contemporânea, incluindo aqueles situados na dimensão subnacional e local – governos não centrais (Estados, municípios e comunidades territoriais não estatais). Ainda, com a devida atenção, o texto remete para a definição do próprio direito internacional e sua vinculada aplicação à sociedade internacional contemporânea, além da definição de sujeito de direito internacional e classificação dos referidos sujeitos em suas especificidades. O referido capítulo da tese assumiu o desafio teórico à edificação vinculada ao direito internacional de uma fundamentação consistente que configura a produção jurídico-política dos municípios como sujeitos jurídicos, a partir de suas atividades emergentes e que são objeto de uma regulamentação internacional.

No que tange à classificação dos sujeitos do direito internacional, a pesquisa adotou por base àquela apresentada pelo jurista Jean Touscoz. Para referido internacionalista, um sujeito de Direito, numa determinada ordem jurídica, é uma entidade que detém direitos e suporta obrigações nessa ordem jurídica. Por outro lado, a qualidade de sujeito de Direito não depende da quantidade de direitos e de obrigações de que uma entidade é titular. Estas duas afirmações permitem sustentar que não só os Estados e as Organizações interestatais, mas também as pessoas singulares e coletivas são sujeitos de direito internacional (estas últimas são ligadas a uma ordem jurídica nacional). Do conceito emerge a seguinte classificação dos sujeitos de direito internacional: o Estado, as Organizações Internacionais e as pessoas coletivas não estatais que abrangem as sociedades transnacionais, as Organizações não governamentais (ONGs) e aquelas pessoas coletivas, pessoas jurídicas com ligação a uma ordem jurídica nacional, não regidas por um conjunto coerente e preciso de regras jurídicas internacionais que determine o seu estatuto internacional e regulamente a sua atividade.

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Portanto, incluiu-se também aquelas pessoas coletivas, sujeitos situados na dimensão subnacional e local – governos não centrais (Estados federados, municípios e comunidades territoriais não estatais.

A abordagem sobre os denominados governos não centrais remete ao estudo da doutrina internacionalista quanto à sedimentação ou não de uma resposta adequada para a imputação de direitos e obrigações às comunidades territoriais não estatais, considerados os elementos que determinam a condição de reconhecimento da personalidade jurídica internacional. Trilha em apontar o reconhecimento de direitos e a dificuldade de reconhecimento de obrigações, notadamente no que versa à assinatura de tratados internacionais. Também, aponta para o compartilhamento de competências entre Estado e entidades territoriais de caráter público no equilíbrio interno dos Estados, com flexibilização da soberania Estatal centralizada. A inserção dos municípios brasileiros, com destaque para aqueles situados em faixa de fronteira ou que mantêm algum tipo de atividade(s) nas relações e no direito internacional, vincula-se ao cenário das mudanças provocadas pela globalização jurídico-política e econômica.

A terceira parte do texto versa em específico sobre a práxis da produção do espaço glocal pelos municípios integrantes do Consórcio Intermunicipal da Fronteira (CIF), objetivando evidenciar a experiência da ordenação político-jurídica e administrativa dos municípios de Dionísio Cerqueira (SC), Bom Jesus do Sul e Barracão (PR), situados em território brasileiro e de Bernardo de Irigoyen, Província de Missiones – República da Argentina. O complexo que envolve o local e seu entorno insere a produção do espaço vivido pelo cidadão e os sujeitos no território. O local serve de referência para o global, transpondo a análise de ser apenas determinado pelo global. A experiência dos municípios integrantes do Consórcio Intermunicipal da Fronteira (CIF), com suas ações, passam a ser referência de uma práxis importante de contraste em relação aos impactos do Estado moderno e da Federação sobre os governos locais e seu entorno.

Os municípios do Consórcio Intermunicipal da Fronteira (CIF) constituem-se em institucionalidades jurídico-políticas e administrativas responsáveis pelo autogoverno local e seu entorno, com atuação no Direito e Relações Internacionais, destacadamente por suas ações e localização em faixa de fronteira entre a República Federativa do Brasil e a República Federativa da Argentina.

A peculiaridade da práxis dos municípios integrantes do Consórcio Intermunicipal da Fronteira (CIF) permite responder ao problema de pesquisa, objeto da presente tese, ou seja: a práxis dos

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referidos municípios possibilita ou não o reconhecimento da condição de sujeito(s) jurídico(s) de direito internacional?

O conjunto de ações executadas, em execução e planejadas pelos municípios integrantes do CIF, nominadas em específico no texto, aponta para a práxis existente que pode ou não conferir legitimidade e normatividade à condição de sujeitos jurídicos aos referidos municípios.

O texto delineado insere abordagem à legislação brasileira e da Argentina sobre Consórcios de Municípios; à política adotada pelo Núcleo da Fronteira no Estado de Santa Catarina e Paraná, Brasil. Na sequência, o desenvolvimento temático adentra em específico na descrição e análise da produção do espaço glocal pelos municípios integrantes do CIF, com seus mecanismos e instrumentos de atuação, desafios e perspectivas em ampliar sua capacidade, habilidade, influência e autonomia no direito e relações internacionais.

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MUNICÍPIO

A premissa basilar deste capítulo é a evidenciação teórico-prática da produção do espaço, a partir da experiência jurídico-política, inicialmente das cidades-Estado Gregas e de Roma, seguida do contexto das cidades medievais e da reconfiguração do espaço com o surgimento do Estado moderno, da industrialização e urbanização. A teoria de conteúdos pauta-se destacadamente em Fustel de Coulanges, Pietro Costa e Henri Lefebvre. Serve de base fundamentadora para analisar a produção do espaço e da experiência de atuação dos municípios integrantes do “Consórcio da Fronteira2”, delineados na presente tese.

O estudo do tema que versa sobre o município tem privilegiado a construção de abordagens restritivas, principalmente ao limitar a vinculação do referido ente público à estrutura formal da organização político-administrativa dos Estados, com dimensionalidade, via de regra, adstrita ao direito administrativo. Os poucos escritos nacionais com análises mais extensivas sobre os municípios têm desafiado novos estudos para reestabelecer o desenvolvimento de abordagens que recuperem os aspectos construtivos de uma teoria que ligue a produção do espaço como dimensionalidade jurídico-política da cidade, relacionada ao município, ente jurídico-político responsável pelo autogoverno local e, muitas vezes, com atuação no Direito e Relações Internacionais, a exemplo dos municípios de Fronteira. Fronteiras de papel, criadas pelos políticos, e quase inexistentes nas relações da vida das pessoas e das cidades.

A problematização do debate, com a glocalização do espaço, a partir do complexo que envolve o local e seu entorno, retoma a importância e força que adquire o local, feito de carne e osso, onde o cidadão mora e produz seu cotidiano, que serve de referência para o global, transpondo a análise de ser apenas determinado pelo global. A lógica da relação local-global acabou resultando no glocal. A origem do conceito de glocal é geralmente atribuindo ao sociólogo inglês

2

O Consórcio da Fronteira (CIF) é integrado pelos Municípios de Dionísio Cerqueira (SC), Bom Jesus do Sul e Barracão (PR), situados em território brasileiro e de Bernardo de Irigoyen, Províncina de Missiones – República Federativa da Argentina.

(34)

Robertson3, primeiro teórico a tratar sobre glocalização no ocidente, o qual propôs uma atualização de paradigma, ao sugerir a troca do conceito de globalização por glocalização, ao aproximar, também, a perspectiva conceitual de global-local à de universal e particular.

O estudo das instituições na experiência jurídica das cidades Gregas, de Roma e medievais concorre para a evidenciação da forma de ordenação da cidade e da vida local, servindo como referencial importante de contraste em relação aos impactos do Estado moderno e da Federação sobre os governos locais e seu entorno.

Destaca-se aqui a importância, no caso de Fustel de Coulanges, do enfoque à composição das instituições da cidade antiga (família, fratria, tribo e cidade). O regime municipal da cidade antiga encontra-se entre as referências que pode ter contribuído na gradual e progressiva formação da base originária para a criação durante a República Romana do município (municipium) enquanto unidade político-administrativa.

Ato contínuo, o texto sobre as cidades-Estado concorre no sentido de situar a fundamental contribuição à vida jurídico-política na ordenação das cidades autogovernadas na experiência das cidades-Estados Gregas e de Roma. Trata-se de uma contribuição complementar e ao mesmo tempo diferente do estudo de Coulanges. Complementar porque não desconecta a análise com as regras e cultura das comunidades locais. Diferente porque o destaque conferido à análise é jurídico-política, com ênfase para as cidades de Atenas, Esparta e Roma, intrigantes no tocante ao Direito.

Pietro Costa, com sua pesquisa elaborada dentro do rigor acadêmico e científico, historia, problematiza e questiona os conceitos de soberania, democracia e representação, no contexto da Idade Média, situando a cidade enquanto ente político principal dotado de iusdictio (jurisdição) e de autogoverno pelo efetivo exercício de fato de sua iurisdictio de cittá. A rica experiência plural medieval, principalmente das cidades comerciais, congrega um direito pautado no fazer cotidiano, amparado nos costumes locais e de uma lex não desvinculada da realidade dos fatos, caracterizada pela vinculação do direito ao autogoverno da cidade. A referida experiência medieval possibilita entender o vínculo de continuidade gradual para a edificação do Estado moderno, sem deixar de perceber a diferenciação existente no que tange a centralidade do governo e poder no comando da cidade.

A teoria da produção do espaço de Henri Lefebvre constitui um

3

ROBERTSON, Roland. Globalização: teoria social e cultura global. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.

(35)

marco referencial estruturante para situar a cidade política, a cidade comercial, a cidade industrial e da urbanização enquanto espaço socialmente produzido. A produção jurídico-política não se processa de modo separada dos aspectos da vida social, econômica e cultural. As condições sociais contemporâneas, ligadas aos processos de urbanização e globalização têm provocado o ressurgimento da teoria da produção do espaço de Lefebvre, rica em uma epistemologia de fundamento que contempla os contextos espaciais em diferentes níveis, incluindo o jurídico-político. O local é a realidade onde se produz o espaço cotidiano e assume uma dimensionalidade da produção material da vida mediada pela ordenação jurídico-política da economia, do social e da cultura.

A divisão da história ocidental em três épocas – a antiga, a medieval e a moderna, atribuída à Renascença4, não afasta a divergência para afirmar a continuidade e maturidade dos tempos5, quanto à experiência jurídico-política. A reconfiguração da produção do espaço a partir do estado moderno implica uma análise não desvinculada das relações de produção e reprodução imersas no contexto do surgimento da sociedade industrial e capitalista. A centralidade do poder ante a soberania dos Estados-Nações incide significativamente sobre a vida e ordenação das cidades e seus municípios e/ou comunidades territoriais.

Portanto, a linha de raciocínio subsequente encontra-se articulada de modo a explicitar e problematizar sobre o desenvolvimento pontual dos diferentes tópicos da temática anunciada, sem perder de vista que a produção jurídico-política do espaço encontra forte imbricação entre a cidade, o município e o Estado em suas múltiplas dimensionalidades.

4

KUMAR, Krishan. Da sociedade pós-industrial à pós-moderno: novas teorias sobre o mundo contemporâneo. Trad. Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997. p. 85.

5

GROSSI, Paolo. A ordem jurídica medieval. Trad. de Denise Rossato Agostinetti. São Paulo: Martins Fontes, 2014. p. 157-247.

(36)

2.1 ESTUDO DAS INSTITUIÇÕES NA EXPERIÊNCIA JURÍDICA DAS CIDADES GREGAS, DE ROMA E DAS CIDADES MEDIEVAIS

2.1.1 A origem da cidade e do regime municipal na teoria de Coulanges

Fustel de Coulanges6 foi um dos mais importantes historiadores franceses do século XIX. Sua obra mais conhecida é La Cité Antique Étude sur Le Culte. Le Droit, Les institutions de La Grèce et de Rome7, publicada em 1864 é considerada um clássico da investigação histórica sobre o panorama do funcionamento das cidades gregas e romanas à época das gens, tribos e cidades-Estado.

A obra Cidade Antiga8, sob o encadeamento de uma lógica cultural de abordagem, encontra-se dividida em cinco livros, versando o primeiro sobre as antigas crenças, o segundo dedicado à família, o terceiro à cidade, o quarto às revoluções e o quinto ao desaparecimento do regime municipal. Prioriza-se aqui uma abordagem da obra de Coulanges com destaque para a cidade e o regime municipal.

Para Coulanges a família recebeu suas leis da religião e não da cidade. O direito privado teria existido antes da cidade. A lei imperativa era aquela originada na família onde o esposo possuía o poder de senhor do lar, de rei, de magistrado. As famílias se agrupavam em genos (gens em latim) que formavam um grupo com descendência comum e origem pura, com seus deuses comuns:

6

Numa Denis Fustel de Coulanges nasceu em Paris em 18 de março de 1830 e faleceu em Massy em 12 de setembro de 1889. Célebre historiador Francês do século XIX. Sua obra mais conhecida é A Cidade Antiga (La Cité Antique), publicada em 1864. Coulanges também é o autor de L’Histoire des institutions

politiques de l’ancienne France que influenciou várias gerações de historiadores

inclusive March Bloch. Diretor de l’École Normale Superieure e titular da primeira cadeira de História Medieval na Sorbonne.

7

COULANGES, Numa Denis Fustel de. La cité antique étude sur le culte: le droit, les institutions de la Grèce et de Rome. Paris: Libraire Hachette, 1900. 8

COULANGES, Numa Denis Fustel de. A cidade antiga: estudo sobre o culto, o direito e as instituições da Grécia e Roma. Trad. de Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martin Claret, 2009.

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A família (gens) foi inicialmente a única forma de sociedade. O que vimos da família, com a sua religião doméstica, os deuses que criara, as leis que se impusera, o direito de primogenitura sobre o qual se fundamentara, a unidade, o desenvolvimento de século em século até formar a gens, a justiça, o sacerdócio, o governo interior, tudo isso leva inexoravelmente o nosso pensamento para uma época primitiva, em que a família era independente de todo poder superior e a cidade nem sequer existia.9

Com o agrupamento das famílias foi necessário conceber uma divindade superior aos deuses domésticos que fosse comum e velasse pela fratria como um todo.

Várias famílias formavam a fratria; várias fratrias, a tribo; várias tribos, a cidade. Família, fratria, tribo, cidade são, de resto, sociedades exatamente semelhantes entre si, nascidas umas das outras por uma série de federações.10

O engrandecimento das fratrias potencializou a geração da tribo com seus altares aos deuses e heróis e, por consequência, um direito mais complexo. As cidades se caracterizavam por serem reuniões de tribos que se submetiam ao deus das famílias mais fortes e numerosas. O lar também passou a ser o altar de um deus maior. Assim, verifica-se a passagem de estado de fratria ou cúria (latina) para o estado de cidade.

A cidade foi o advento de associações de tribos, guardando seus ritos, segredos e identidades. “O dia em que se fez essa aliança, a cidade passou a existir”11. Cada pessoa, a exemplo de Atenas, era ligada a uma família, a uma fratria, a uma tribo e cidade. Família, Fratria, tribo e cidade eram instâncias que não necessariamente se comunicavam simultaneamente, uma vez que um homem quando criança pertence à família, depois à fratria e assim sucessivamente, até que vinha a ser iniciado no culto público, tornando-se cidadão. Todavia, cada família mantinha seus cultos, seu altar, seus chefes, juízes e leis próprias.

9

COULANGES, A cidade antiga: estudo sobre o culto, o direito e as instituições da Grécia e Roma, p. 123.

10

Idem, ibidem, p. 143. 11

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A cidade era uma confederação. Por isso foi obrigada, pelo menos durante vários séculos, a respeitar a independência religiosa e civil das tribos, das cúrias e das famílias, e não teve a princípio, o direito de intervir nos negócios particulares de cada um desses pequenos grupos. Assim, a cidade não é uma reunião de indivíduos: é uma confederação de vários grupos que já estavam constituídos antes dela e que ela deixa subsistirem.12

Quanto a civitas e a urbe, Coulanges registra: A civitas e urbs não eram palavras sinônimas entre os antigos. Civitas era a associação religiosa e política das famílias e das tribos; a urbe, o lugar de reunião, o domicílio e, sobretudo, o santuário desta sociedade13. Quando as famílias, as fratrias e as tribos convencionaram unir-se e terem o mesmo culto comum, era fundada a urbe, para representar o santuário desse culto. Desta forma, a fundação da urbe foi sempre um ato religioso, com rituais que a assentavam a partir de uma cidade. Tudo era presidido pelo fundador, o homem que realizava os ritos religiosos, sem o qual não se estabeleceria a urbe. Este era considerado o pai da cidade e acabava por ser um deus-lar para a cidade, sendo perpetuado pelo fogo e sacrifícios anuais das vítimas cerimoniais. O comando político ou governo da cidade estava sob a autoridade religiosa do rei-sacerdote, também seu chefe político. A autoridade política estava legitimada pelo ser sagrado, motivo que lhe conferia, por extensão, o poder de magistrado. O rei era escolhido entre os pater famílias – os senhores do lar que reinavam absolutos nos tempos das famílias e que, na cidade, representavam a aristocracia.

Os pontífices eram considerados os únicos jurisconsultos competentes para estabelecerem a lei em razão de sua origem religiosa. Em virtude das leis advirem dos deuses, natural que o direito fosse exercido pelo rei-pontífice. Não era suficiente habitar a urbe para estar submetido e protegido pelas leis do pontífice, sendo necessário ser cidadão. A lei não beneficiava o escravo e o estrangeiro, estes estavam excluídos também das coisas sagradas. A naturalização em uma cidade vinculava o pertencimento à urbe – terra pátria. Cada cidade, por exigência da sua própria religião devia ser absolutamente

12

COULANGES, A cidade antiga: estudo sobre o culto, o direito e as instituições da Grécia e Roma, p. 144.

13

(39)

independente14, motivando o isolamento comum entre cidades e preservando a sua autonomia política, jurídica, governamental, religiosa e moral. Entretanto, tal regime municipal15 sempre esteve ameaçado pela resistência interna de clientes, escravos e oposição de outras cidades. A confederação de cidades surgiu para conformar as novas reivindicações políticas, jurídicas e mediar avenças e a própria expansão do poder das cidades, a exemplo de Atenas, Esparta e Roma.

Cada cidade tinha não só a sua independência política, mas também o seu culto e o seu código. A religião, o direito, o governo, tudo era municipal. A cidade era a única força viva; nada acima, nada abaixo dela; nem unidade nacional nem liberdade individual16. O progressivo desmonte do regime municipal se processou por diversos fatores, entre estes Coulanges incluiu: as revoluções pela retirada da autoridade política dos reis, com apoio da Aristocracia e chefes de família; alterações na constituição da família, com a supressão da primogenitura, desagregando as gens; pela libertação dos clientes com direito à posse de terras, sem título de propriedade; pela participação da plebe17 no regime da cidade, provocando a inclusão no poder dos tiranos, chefes que não podiam ser reis, por faltar-lhes os segredos religiosos, inaugurando o poder do homem sobre o homem, com a missão central de proteger a plebe contra os ricos.

A aristocracia, com dificuldades de retornar ao poder, concorria fortemente para instalar regimes monárquicos, organizados em um corpo semelhante à aristocracia, com disseminação extensiva a toda Grécia e Itália, notadamente no século VII ao V a.C. As classes passaram a distinguir-se basicamente pela quantidade de posses e propriedade de bens e riqueza. No dimensionamento conferido ao novo regime, cada cidadão podia exercer temporariamente o sacerdócio, sem privilégios de nascimento, de religião ou política. Roma foi exceção, onde o patriciado manteve o poder, criando-se o tribunado da plebe18 – o

14

COULANGES, A cidade antiga: estudo sobre o culto, o direito e as instituições da Grécia e Roma, p. 218.

15

Regime Municipal caracterizado pela constituição de uma religião antiquíssima que fundara primeiro a família, depois a cidade; que estabelecera primeiro o direito doméstico e o governo das gens, depois as leis civis e o governo municipal. In: Idem, ibidem, p. 367.

16

Idem, ibidem, p. 218. 17

A plebe é uma população desprezada e abjeta, fora de religião, fora da lei, fora da sociedade, fora da família. In: Idem, ibidem, p. 253.

18

O tratado de aliança entre patrícios e plebeus deu origem ao tribunado da plebe, instituição completamente nova e que em nada se assemelhava ao que as

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plebeu tornava-se ele mesmo sagrado para que pudesse legislar sobre a plebe. A sacralidade era transmitida de tribuno a tribuno, por doação dos religiosos do patriciado que eram os criadores da sacralidade doravante transmitida.

Destaca-se que o direito tornou-se público, passando a ser do povo a emanação do poder de promulgar leis que o legislador antes possuía. As leis deixam de ser patrimônio das famílias sagradas. Por consequência, tornou-se extensivo a qualquer cidadão, em tese, ser magistrado e/ou alcançar a hierarquia social de cargos e funções indiferente de ser eupátrida(s) ou patrício(s). As guerras forjaram as classes superiores à concessão de armas e títulos às classes inferiores, ampliando a participação do povo.

Na visão de Coulanges, entre outros fatores que influíram para o enfraquecimento do regime municipal, pode-se registrar a unificação das cidades-Estado, das críticas dos sofistas e dos filósofos como Pitágoras, Anaxágoras, Sócrates, Platão, Aristóteles, Zenão e os estoicistas. Referidos críticos passaram a falar de uma nova justiça, a combater as leis da cidade e da tradição, a contrariar o regime da cidade, a defender a emancipação do indivíduo, rejeitando a religião da cidade, desdenhando da servidão do cidadão ao Estado, libertando sua consciência, incitando-o a participar da pincitando-olítica.

Coulanges precisa ser interpretado na estreita ligação de seu tempo e busca de referências na constituição das cidades Greco-Romanas. Percebe-se que muitas das questões presentes na obra de Coulanges refletem a ligação com o contexto do século XVIII, com destaque para a estratificação e hierarquização da sociedade francesa19, a cidades tinham conhecido antes. Entretanto, o tratado limitava-se que no futuro a plebe, constituída como uma sociedade quase regular, teria chefes tirados do seu próprio seio. Não houve reconhecimento pelo patriciado da participação religiosa e política da vida da cidade. In: COULANGES, A cidade antiga: estudo sobre o culto, o direito e as instituições da Grécia e Roma, p. 309. 19

A situação da França no século XVIII era de extrema injustiça social na época do Antigo Regime. Os impostos eram pagos somente pelos trabalhadores urbanos, camponeses e a pequena burguesia comercial, para manter os luxos da nobreza. O regime do país era absolutista, com controle da economia, justiça, política e religião dos súditos. O clero estava no topo da pirâmide, seguido na hierarquia pela nobreza, formada pelo rei, sua família, condes, duques, marqueses e outros nobres que viviam de banquetes e muito luxo na corte. A base da sociedade era formada por trabalhadores, camponeses e burguesia (terceiro estado) que desejavam melhorias na qualidade de vida e de trabalho, condição social melhor, participação política e mais liberdade econômica. O

(41)

busca de novos territórios, ascensão do poder político da Burguesia, o nacionalismo e também as reformas da Cidade (Paris). A cultura à época de Coulanges teve o espaço urbano como lugar central da representação da nação, com participação do indivíduo na construção da cidade e suas instituições.

A obra de Coulanges reflete um estudo da história civil do mundo Greco-Romano, além de deixar transparecer a todo o tempo que o território antigo foi constituído por modelos morais pelas instituições das cidades Greco-Romana. Durkheim afirma que Fustel de Coulanges insistiu justamente sobre o caráter religioso da sociedade romana; mas, comparado com os povos anteriores, o Estado Romano era muito menos penetrado de religiosidade20.

A origem da cidade e do regime municipal a partir da teoria de Fustel de Coulanges são fundamentais para entender a composição das instituições da cidade Greco-Romana que gradativa e progressivamente contribuíram na formação da base originária para a criação do municipium21 durante a República Romana.

2.1.2 As cidades-Estado e a fundamental contribuição à vida jurídico-política

Coulanges atesta que a origem da cidade foi o advento de associações de tribos, guardando seus ritos, segredos e identidades. A contribuição da teoria de Coulanges foi fundamental para entender a história civil do mundo Greco-Romano, ainda que marcada por modelos de ordem moral das instituições das cidades, presente nas regras e cultura envolvidas.

A cidade era a única força viva, motivo fortalecedor da continuidade do estudo sobre o autogoverno das cidades-Estados.

Martin afirma que só nas cidades autogovernadas é que, os

chamado terceiro estado foi o protagonista da Revolução Francesa, com marco inicial a partir da queda da Bastilha (prisão política) em 1789.

20

DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2012. p. 143.

21

“Na República Romana, os Municípios eram constituídos de agrupamentos de famílias, reunidas em uma circunscrição territorial, que gozavam de direito de cidadania romana, tendo em troca, a obrigação de pagar a Roma certos Tributos e a servir a seus exércitos”. In: FERREIRA, Wolfran Junqueira. O Município à

(42)

gregos, os romanos e talvez também os etruscos e os fenícios22 (Cartago) puderam criar um novo princípio de governo. Ainda, que só nestas cidades houve uma forma de governo que perdurou durante séculos e que constituiu o mundo clássico23. Martin denuncia que muito pouco se sabe da cidade Estado-Cartago porque Roma fez um serviço minucioso de destruição, não só da cidade, mas dos registros que poderiam lançar alguma luz sobre a história e governo de Cartago24. Cartago – a nova cidade, na língua Fenícia, teria sido fundada na Costa do Mediterrâneo, um pouco antes de Roma25.

Por conseguinte, o estudo desta sessão prossegue sobre as cidades Gregas e de Roma, com destaque conferido à análise das contribuições jurídico-políticas, notadamente de Atenas, Esparta e Roma.

2.1.2.1 Cidades-Estado gregas

A civilização helênica26 teve seu marco inicial no ano de 800 a.C., estendendo-se até o ano de 322 a.C., com a morte de Alexandre Magno27. Esse período possibilitou a verificação de características comuns a todas as cidades-Estado28 que floresceram entre os povos

22

LEICK, Gwendolyn. Mesopotâmia: a invenção da cidade. Rio de Janeiro: Imago Editora, 2003. 365 p.

23

MARTIN, Van Creveld. Ascensão e declínio do Estado. Trad. Jussara Simões. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 31.

24

Idem, ibidem, p. 31. 25

O duelo entre Roma e Cartago retrata bem a ação de Roma contra Cartago. In: GRIMAL, Pierre. História de Roma. Trad. Marias Leonor Loureiro. São Paulo: Unesp, 2011. p. 59-76.

26

Os habitantes da Grécia intitulavam-se helenos e dividiam-se em quatro grupos – jônios, dórios, aqueus, que dominaram o Peloponeso em tempos pré-históricos e predominaram entre as tribos gregas, e eólios, dos quais se pode dizer um tanto vagamente que são os que não pertencem a nenhuma das outras divisões. Na Hélade floresceu por excelência a civilização jónica e no Peloponeso a civilização dórica, representadas uma por Atenas e outra por Esparta, sem que isso signifique que cada um desses centros absorvesse os demais, apenas que num dado momento impôs sua hegemonia. In: VICENTINHO, Cláudio. História geral. São Paulo: Scipione, 1997. p. 60-81. 27

OLIVEIRA, Odete Maria de. Teorias globais e suas revoluções: elementos e estrutura. Ijuí: Ed. Unijuí, 2004. v. 1. p. 39.

28

Entre as cidades-Estados gregas de maior relevo pode-se citar Atenas, Esparta, Tebas e Corinto. Entretanto, havia centenas de pequenas cidades-Estado Gregas, inclusive muitas delas mantinham sua ligação com os Persas e a Ásia Menor, exemplificadas na Liga de Delos. O século V a.C. representou o

(43)

helênicos. A característica fundamental foi a cidade-Estado, ou seja, a pólis, a sociedade política de maior expressão29. A pólis tornou-se o centro da vida política e a identidade do indivíduo era levada em grande consideração. A pólis era vista para os Gregos como a única forma de vida associada admissível30.

Embora houvesse diferenças profundas entre os costumes de Atenas e Esparta, duas das principais cidades-Estado Gregas, a concepção de ambas como sociedade política era bem semelhante, o que permite a generalização31.

O ideal visado pela cidade-Estado era a auto-suficiência, de tal forma que, quando determinada cidade efetuasse conquista dominando outros povos, não se efetuasse a expansão territorial e não se procurasse a integração de vencedores e vencidos numa ordem comum32.

Ainda, Dallari destaca que na cidade-Estado grega o indivíduo possuía uma posição peculiar. Havia uma elite da classe política com intensa participação nas decisões da cidade, a respeito dos assuntos de caráter público. Entretanto, nas relações de caráter privado a autonomia de vontade individual era bastante restrita. Os assuntos do governo eram conduzidos e decididos apenas por uma faixa restrita da população – os cidadãos33. Tal característica influiu para a manutenção das cidades-Estado, sob o controle por um pequeno número34.

apogeu econômico e político de Atenas. Após a vitória sobre os persas, Atenas, por meio da Liga de Delos, se consolida como a maior potência do Mar Egeu sob o governo de Péricles que faz as reformas necessárias para dar a democracia ateniense um caráter de massas. In: WATSON, Adam. A evolução da sociedade

internacional: uma análise histórica comparativa. Trad. René Loncan. Brasília:

UnB, 2004. p. 72-99. 29

DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 63.

30

DAL RI JÚNIOR; OLIVEIRA, op. cit., p. 26. Neste sentido vide também: CAMASSA, G. Le instituzioni politiche greche: in storia dele idee politche economiche e sociali. Torino: UTET, 1982. p. 03.

31

DALLARI, op. cit., p. 63. 32

Idem, ibidem, p. 63. 33

Idem, ibidem, p. 64. 34

Os escravos, estrangeiros, mulheres e crianças não participavam das decisões públicas na pólis.

(44)

2.1.2.2 A cidade-Estado jurídica35 e a virtude cívica como ideal de cidadão em Atenas e Esparta

A cidade-Estado não era para os Jônios, como para todos os Gregos da Ásia Menor o fim último, como em Esparta e Atenas36. No entanto, não se pode negar o papel dos Jônios no desenvolvimento da história do espírito Grego, incluindo o campo político. Entre outros, os reflexos da vida da pólis Jônica encontra evidência nas narrativas da famosa guerra dos Gregos contra os Troianos em que Heitor aparece como defensor e libertador da Pátria.

No caso de Atenas, a evolução da vida da pólis resta mais bem evidenciada com a suplantação da Monarquia dos Códridas pela Aristocracia constituída ao tempo de Sólon37.

Drácon (621 a.C.), vinculado à Oligarquia, tornou-se referência entre os legisladores em Atenas pela severidade de suas leis, conservadoras de todos os sentimentos da sua casta e instruídas no direito religioso. As leis de Drácon reconheceram a existência legal dos cidadãos e indicaram o caminho da responsabilidade individual38.

Sólon, como novo legislador (em 594 a.C.), ligado à aristocracia e ao comércio, influenciou a reforma de toda a estrutura da cidade-Estado Ateniense, no que diz respeito à economia, sociedade e política39.

Coulanges atesta que foi o povo que investiu Sólon do direito de fazer leis; que a lei tem como princípio o direito dos homens e como fundamento o assentimento do maior número; que a Lei das Doze Tábuas passou a considerar que a propriedade pertença não mais à gens, mas ao indivíduo que pode dispor por testamento; que o Código de Sólon correspondeu a uma grande revolução social.40 A amplitude do Código de Sólon para um novo estado social, pode ser exemplificada no fato de que as leis passaram a não estabelecer distinção entre eupátrida,

35

A nomenclatura aqui adotada tomou por referência “O Estado Jurídico e seu ideal de cidadão” inserido na Paidéia. In: JAEGER, Werner Wilhem. Paidéia: a formação do homem grego. Trad. Arthur M. Parreira. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994. 36 Idem, ibidem, p. 131. 37 Idem, ibidem, p. 132. 38

CASTRO, Flávia Lages de. História do direito geral e do Brasil. 10. ed. Rio de Janeiro: Lumen Jurís,2014. p. 73.

39

Idem, ibidem, p. 74. 40

COULANGES, A cidade antiga: estudo sobre o culto, o direito e as instituições da Grécia e Roma, p. 323-329.

(45)

o mero homem livre e o tetra. Também foram inovações da legislação ao tempo de Sólon, o testamento e a concessão do direito a todo cidadão de processar judicialmente um crime41.

A elevada estima pelo Direito aparece não apenas nos testemunhos que exaltam a justiça como fundamento da sociedade humana. Aparece tanto na literatura jônica, desde os tempos primitivos da epopeia até Heráclito. A importância fundamental estava ligada aos progressos que o Direito implicava para a vida pública daqueles tempos (século VIII até o início do século VI). A administração abusiva da justiça pelos nobres e a consequente restrição às manifestações do Direito, levou o povo a exigir leis escritas42. Nesse sentido:

As censuras de Hesíodo contra os senhores venais que na sua função judicial atropelavam direito, eram o antecedente necessário para esta reclamação universal. É por ele que a palavra direito, dike, se converte no lema da luta de classes. A história da codificação do direito nas diversas cidades processa-se por vários séculos e sabemos muito pouco sobre ela. Mas é aqui que encontramos o princípio que a inspirava. Direito escrito era direito igual para todos, grandes e pequenos.43

Enquanto Themis refere-se principalmente à autoridade do direito, a sua validade, dike significa cumprimento da justiça (dar a cada um o que lhe é devido). Curioso é que, à época, procurava-se uma “medida” justa para a atribuição do direito e foi na exigência da igualdade, implícita no conceito de dike que se encontrou essa medida44. Em tal contexto é que a dike constituiu-se em plataforma da vida pública para o homem Grego.

Progressivamente a lei escrita passou a se constituir para os gregos como critério infalível do justo. Por decorrência da fixação escrita do nomos, do direito consuetudinário válido para todas as situações, o conceito de justiça ganhou conteúdo palpável. Consistia na

41

COULANGES, A cidade antiga: estudo sobre o culto, o direito e as instituições da Grécia e Roma, p. 330-331.

42

JAEGER, op. cit., p. 133-134. 43

Idem, ibidem, p. 133-134. 44

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