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Liderança em uma biblioteca: compreensões sob a perspectiva da Liderança Relacional Socioconstrucionista

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO TECNOLÓGICO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA E GESTÃO

DO CONHECIMENTO

Marouva Fallgatter Faqueti

Liderança em uma biblioteca:

compreensões sob a perspectiva da Liderança Relacional

Socioconstrucionista

FLORIANÓPOLIS

2019

(2)

Marouva Fallgatter Faqueti

Liderança em uma biblioteca:

compreensões sob a perspectiva da Liderança Relacional

Socioconstrucionista

Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina para obtenção do grau de Doutora em Engenharia e Gestão do Conhecimento.

Orientador: Prof. João Bosco da Mota Alves, PhD.

Coorientador: Prof. Cristiano José Castro de Almeida Cunha, Dr. rer. pol.

Florianópolis 2019

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Marouva Fallgatter Faqueti

Liderança em uma biblioteca: compreensões sob a perspectiva da Liderança Relacional

Socioconstrucionista

O presente trabalho em nível de doutorado foi avaliado e aprovado por banca examinadora composta pelos seguintes membros:

Profa. Andrea Valéria Steil, Dra. Universidade Federal de Santa Catarina

Prof. Marcio Vieira de Souza Dr. Universidade Federal de Santa Catarina

Profa. Simone Ghisi Feuerschütte, Dra. Universidade Estadual de Santa Catarina

Prof. Cláudio Paixão Anastácio de Paula, Dr. Universidade Federal de Minas Gerais

Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi julgado adequado para obtenção do título de Doutora em Engenharia e Gestão do Conhecimento.

____________________________________________ Prof. Roberto Carlos dos Santos Pacheco, Dr.

Coordenador do Curso

____________________________________________ Prof. João Bosco da Mota Alves, PhD.

Orientador

Florianópolis, 08 de agosto de 2019.

Joao Bosco da Mota Alves:01243560282

Assinado de forma digital por Joao Bosco da Mota Alves:01243560282

Dados: 2019.08.29 17:37:48 -03'00'

ROBERTO CARLOS

DOS SANTOS

PACHECO

Assinado de forma digital por ROBERTO CARLOS DOS SANTOS PACHECO Dados: 2019.09.02 17:27:50 -03'00'

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AGRADECIMENTOS

Gratidão a todas as pessoas que, de uma forma ou de outra, participaram do processo de doutoramento, desde o despertar da ideia até a sua conclusão.

Em especial agradeço:

Ao meu companheiro de vida, Enir Faqueti, e às nossas preciosas pérolas, Alini e Amanda, que, com amor e muita paciência, me apoiaram nesta grande aventura.

Às amigas que, com suas palavras de incentivo e carinho, me ajudaram a fortalecer a crença de que tudo é possível. Dentre elas destaco: Caroline Becker, parceira de todas as horas, com mil afinidades, muito além das profissionais; a Sigrid Weiss Dutra, companheira desde os primeiros anos de profissão na UFSC e com quem trilhei os primeiros passos no PPGEGC; Sirlei de Fátima Albino, que, com sua alegria e otimismo contagiante, me apoiou incondicionalmente para estar aqui; a Marcia Prim, com sua generosidade ímpar, disponibilizou seu tempo e saberes para acalmar meu coração, e a Vera Flesch, com sua rigorosidade amorosa, contribuiu brilhantemente na revisão desta tese.

Ao meu orientador João Bosco da Mota Alves, que me abriu as portas para o doutorado. Com seu jeito simples, bem-humorado e dotado de grande sabedoria, acompanhou-me durante todo o processo, proporcionando liberdade de escolha em todas as encruzilhadas.

Ao professor Cristiano J. C.de A. Cunha, que, muito mais do que meu coorientador, foi um conselheiro, um amigo, um mestre. Quando as forças se esvaíam e o caos parecia dominar, suas palavras assertivas me influenciavam positivamente para encontrar novas luzes e seguir em frente.

Às amizades construídas no Laboratório de Gestão Responsável, relacionalidades que geraram aprendizado contínuo e profundo. Gratidão por fazerem parte da minha história e contribuírem diretamente neste processo de crescimento e lapidação profissional, emocional e espiritual: Isabella Bertoncini, Marta Mello, Micheline Krause, Helen F. Günther, Fabiana Grankow, Alessandra Zoucas, Cristiane Iata, Tatiana Schreiner, Aulia Esper, Bruna Adriano, Solange M. da Silva, Ricardo Pereira e Suelen Fernanda S. Wiedemann.

Aos participantes da pesquisa, que gentilmente compartilharam comigo suas valiosas percepções e experiências vividas no ambiente cotidiano de trabalho em uma biblioteca.

Ao Instituto Federal Catarinense, que, através da política de incentivo à qualificação de servidores, oportunizou-me estar integralmente dedicada ao doutorado.

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A questão decisiva consiste em saber se o homem ainda conserva a noção de que, embora objetivado, o mundo social foi feito pelos homens e pode ser modificado por eles.

(BERGER; LUCKMAM, 1985, p. 123)

Todas as coisas estão ligadas umas às outras e essa unidade é sagrada. Marcus Aurélius (apud GERGEN, 2009)

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RESUMO

Esta tese teve como objetivo compreender como emergem processos de Liderança Relacional em uma biblioteca, a partir da perspectiva Socioconstrucionista. Para tanto, foi desenvolvido um estudo de caso com abordagem qualitativa, tendo como instrumento de coleta de dados a entrevista com todos os servidores de uma biblioteca pertencente a um instituto federal de ensino (IF), que se enquadra como biblioteca mista, pois atende ao público escolar (educação básica e técnica) e acadêmico/universitário (educação superior). A relacionalidade é um dos elementos-chave para a liderança em bibliotecas que se situam no nível intermediário da estrutura organizacional macro a que pertencem. Assim, uma das linhas de pesquisa na área de liderança que se adequa a este contexto é a abordagem da Liderança Relacional Socioconstrucionista (LRSC), que envolve estudos sobre construções sociais de liderança em meio a dinâmicas relacionais entre indivíduos engajados em atividades conjuntas. A análise temática foi baseada no modelo de Três Componentes de Endres e Weibler (mecanismo de liderança, conteúdo de liderança e manifestação de liderança) e nos referenciais da Ontologia DAC – Direção, Alinhamento e Compromisso. Os resultados revelaram como ocorrem os processos de interação e construção social com potencial para a emergência de processos de LRSC; quais os elementos facilitam e dificultam a construção de conexões relacionais positivas e como os processos de LRSC se manifestam em atividades cotidianas de trabalho na biblioteca. Em síntese, conclui-se que processos de LRSC emergem no trabalho cotidiano de uma biblioteca quando pessoas, em atividade conjunta, estabelecem dinâmicas relacionais positivas e cocriam forças influenciadoras, capazes de gerar Direção, Alinhamentos e Compromisso. Como contribuição ao modelo de Três Componentes, foi proposta a inclusão dos referenciais da ontologia DAC para análise dos processos de manifestação de liderança e identificada a situação atípica de “interrupção do processo de liderança em curso”, que ocorre quando forças influenciadoras mediadoras não emergem nos processos de construção social, não descrita no modelo. A inclusão da ontologia DAC no processo de análise gerou um resultado inesperado ao oferecer suporte para sugerir que a produção de DAC em atividades cotidianas de trabalho em conjunto (interpessoal e / ou coletivo), na perspectiva socioconstrucionista, ocorre quando forças influenciadoras são coconstruídas em processos dinâmicos de interação relacional de alta qualidade. As contribuições científicas para o campo de liderança em bibliotecas se referem ao ineditismo quanto ao uso da perspectiva da LRSC, a indicação de que processos de LRSC, em atividades de trabalho cotidianas, favorecem o alcance dos resultados organizacionais e o fato de que problemas relacionais dificultam a emergência de processos de LRSC.

Palavras-chave: Biblioteca acadêmica. Biblioteca escolar. Liderança Relacional.

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ABSTRACT

This thesis aimed to understand how Relational Leadership processes happen in a library, from the Socio-constructionist perspective. For this, a case study with a qualitative approach was developed, having as a data collection instrument the interview with all the public servants of a library that belongs to a Federal Educational Institute (IF), which fits as a mixed library, as it serves the school students (basic and technical education) and academic/university students (higher education). The relationality is one of the key elements to leadership in libraries placed in the intermediary level of the macro organizational structure they belong. Thus, one of the research lines in the leadership área that fits this context is the Socio-constructionist Relational Leadership (RSCL) approach, which involves studies about social constructions in leadership amid relational dynamics among individuals engaged in joint activities. The thematic analysis was based on the Three Component model of Endres and Weibler (leadership mechanism, leadership content and leadership manifestation) and in the DAC ontology framework – Direction, Alignment and Commitment. The results revealed how the processes of interaction and social construction work as a potential for the emergency of RSCL processes; which of the elements facilitate and hinder the construction of positive relational connections and how the RSCL processes manifest in daily work activities in the library. In synthesis it concludes that RSCL processes emerge in the daily work of a library when people, in joint activities, establish positive relational dynamics and co-create influencing forces, capable of creating Direction, Alignment and Commitment (DAC). As a contribution to the Three Component model, was proposed the inclusion of the DAC ontology frameworks for the analysis of the processes of leadership manifestation and identified the atypical situation of “interruption of the ongoing leadership process”, which occurs when mediating influencing forces fail to emerge in the social construction processes, not described in the model. The inclusion of the DAC ontology in the analysis process created unexpected results, as it offered support to suggest that the DAC occurrence in daily joint works (interpersonal or collective), in the socio-constructionist perspective, happens when influencing forces are co-constructed in high quality dynamic processes of relational interactions. The scientific contributions to the field of leadership in libraries refer to unprecedented use of the RSCL perspective, the indication that RSCL processes, in daily joint work activities, favors the reach of organizational results and also that relational problems hinder the emergency of RSCL processes.

Keywords: Academic library. School library. Relational Leadership.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Interdependência e relacionalidade de uma biblioteca ... 17

Figura 2 – Modelo de três componentes da liderança relacional socioconstrucionista ... 20

Figura 3 – Delimitação temática e contextual da Tese ... 25

Figura 4 – Evolução histórica das teorias da liderança ... 34

Figura 5 – Matriz de quatro campos da Liderança Relacional ... 46

Figura 6 – Modelo de três componentes da liderança relacional socioconstrucionista ... 48

Figura 7 – Megacompetências de liderança em bibliotecas acadêmicas ... 58

Figura 8 – Papéis de liderança no contexto educativo, exercidos por bibliotecários escolares ... 63

Figura 9 – Percurso metodológico ... 68

Figura 10 – Paradigmas, metáforas e as escolas de análise organizacional relacionadas ... 69

Figura 11 – Fases da análise temática ... 76

Figura 12 – Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica no território nacional ... 82

Figura 13 – Níveis de sistemas que envolvem as bibliotecas ... 84

Figura 14 – Estrutura hierárquica parcial do campus estudado ... 85

Figura 15 – Representação do Mecanismo de Liderança ... 94

Figura 16 – Classificação dos espaços interacionais que se criam no ambiente de trabalho ... 95

Figura 17 – Elementos facilitadores e dificultadores do processo de liderança ... 114

Figura 18 – Representação da manifestação da LRSC no Episódio 1 ... 139

Figura 19 – Representação da manifestação da LRSC no Episódio 2 ... 141

Figura 20 – Diferentes níveis interacionais que ocorreram relacionados ao Episódio 3 ... 150

Figura 21 – Representação da manifestação de processos de LRSC no Episódio 3 ... 150

Figura 22 – Representação da manifestação de processos de LRSC no Episódio 4 ... 155

Figura 23 – Representação dos fluxos de influência no Episódio 5 ... 161

Figura 24 – Representação dos fluxos de influência no Episódio 6 ... 163

Figura 25 – Interrupção de um processo de LRSC no Episódio 7... 166

Figura 26 – Emergência de processos de LRSC em atividades de trabalho cotidianos em uma biblioteca ... 174

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Teses no PPGEGC sobre liderança, vinculadas ao LGR ... 25

Quadro 2 – Teses no PPGEGC/UFSC relativa a bibliotecas ... 26

Quadro 3 – Teses e dissertações no PPGEGC/UFSC relativas a instituições da RFEPCT ... 26

Quadro 4 – Comparação entre liderar e gerenciar ... 33

Quadro 5 – Aspectos da concepção da liderança tradicional heroica X liderança pós-heroica ... 36

Quadro 6 – Quadro conceitual sobre abordagens de liderança... 37

Quadro 7 – Síntese dos resultados da busca sistemática ... 53

Quadro 8 – Estudos de liderança em bibliotecas relacionados a mudança e inovação ... 54

Quadro 9 – As macrodimensões da análise no campo ... 72

Quadro 10 – Perfil dos entrevistados ... 73

Quadro 11 – Exemplo do processo de codificação e construção de temas ... 77

Quadro 12 – Síntese dos processos de LRSC a partir dos componentes dos modelos de Endres e Weibler (2017) e a ontologia DAC (2008) ... 172

Quadro 13 – Síntese dos outros fenômenos sociais a partir dos componentes dos modelos de Endres e Weibler (2017) e a ontologia DAC (DRAHT et al., 2008) ... 174

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LISTA ABREVIATURAS E SIGLAS

CEFETS Centros Federais de Educação Tecnológica

DAC Direção Alinhamento e Compromisso

DDE Diretoria de Desenvolvimento Institucional EGC Engenharia e Gestão do Conhecimento EPT Educação Profissional e Tecnológica

IBICT Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

IF Instituto Federal

LGR Laboratório de Liderança Responsável LR Liderança Relacional

LRSC Liderança Relacional Socioconstrucionista MEC Ministério da Educação e Cultura

OIC Organização Intensiva em Conhecimento PPCs Projetos Políticos pedagógicos dos Cursos

PPGEGC Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento RFEPCT Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica

SIBI Sistema de Bibliotecas

UFSC Universidade Federal de santa Catarina UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná UNEDS Unidades Descentralizadas de Ensino

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 15 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMATIZAÇÃO ... ...15 1.2 OBJETIVO ... ...21 1.2.1. Objetivo geral ... 21 1.2.2. Objetivos específicos ... 21 1.3 JUSTIFICATIVA E INEDITISMO ... ...22 1.4 ADERÊNCIA AO PROGRAMA ... ...24 1.5 DELIMITAÇÃO DO TRABALHO ... ...27 1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO ... ...27 2 REVISÃO DA LITERATURA ... 29

2.1 BIBLIOTECAS COMO ESPAÇOS RELACIONAIS E INTENSIVOS EM CONHECIMENTOS ... ...29

2.2 LIDERANÇA ... ...31

2.2.1 Liderança x gestão ... 33

2.2.2 Teorias e abordagens da Liderança ... 34

2.3 LIDERANÇA RELACIONAL ... ...39

2.3.1 Perspectiva baseada na Entidade ... 42

2.3.2 Perspectiva Construcionista ... 43

2.3.3 O Modelo de Liderança Relacional Socioconstrucionista (LRSC) ... 45

2.4 LIDERANÇA EM BIBLIOTECAS ACADÊMICAS/UNIVERSITÁRIAS E ESCOLARES ... ...52

2.4.1 Liderança, mudança e inovação em bibliotecas ... 54

2.4.2 Competência e habilidades de liderança em bibliotecas ... 57

2.4.3 Estilo de Liderança em Bibliotecas ... 60

2.4.4 Liderança em bibliotecas educacionais... 62

2.4.5 Liderança e relacionamentos em bibliotecas ... 64

2.4.6 Pesquisas sobre liderança em bibliotecas no Brasil ... 65

2.4.7 Síntese ... 66 3 METODOLOGIA ... 68 3.1 FUNDAMENTO FILOSÓFICO ... ...68 3.2 FUNDAMENTOS PARADIGMÁTICOS ... ...69 3.3 DELINEAMENTO DA PESQUISA ... ...70 3.4 COLETA DE DADOS ... ...72

3.5 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS ... ...75

4 RESULTADOS: LIDERANÇA RELACIONAL EM ATIVIDADES COTIDIANAS DE TRABALHO EM UMA BIBLIOTECA ... 79

(13)

4.1 CAMPO DE ESTUDO ... ...80

4.1.1 Institutos Federais ... 80

4.1.2 Bibliotecas dos IFs ... 82

4.1.3 Sistema de Bibliotecas (SIBI) ... 83

4.1.4 Biblioteca do campus Beta ... 84

4.1.4.1 Estrutura organizacional ... 84

4.1.4.2 Atividades desenvolvidas na biblioteca Alfa ... 86

4.1.4.2.1 Atividades relativas à gestão/liderança formal da biblioteca ... 86

4.1.4.2.2 Atividades técnicas biblioteconômicas ... 89

4.1.2.2.3 Atividades de atendimento aos usuários ... 90

4.2 ANÁLISE DOS PROCESSO DE LIDERANÇA RELACIONAL SOB A PERSPECTIVA SOCIOCONSTRUCIONISTA ... ...91

4.2.1 Mecanismos de Liderança ... 93

4.2.1.1 Espaços Interacionais ... 94

4.2.1.1.1 Níveis de constituição das reuniões ... 95

4.2.1.1.2 Níveis de articulação das reuniões... 96

4.2.1.1.3 Níveis de interação ... 103 4.2.1.1.4 Níveis de vinculação ... 106 4.2.1.2 Situações mobilizadoras ... 106 4.2.1.2.1 Tarefas ... 107 4.2.1.2.2 Resolução de problemas ... 108 4.2.1.2.3 Atividades criativas ... 109 4.2.1.3 Redes interacionais ... 110

4.2.1.3.1 Redes sociais colaborativas ... 110

4.2.1.3.2 Redes operacionais ... 111

4.2.2 Conteúdo da Liderança ... 112

4.2.2.1 Elementos facilitadores do processo de liderança ... 114

4.2.2.1.1 Relações respeitosas ... 114

4.2.2.1.2 Envolvimento colaborativo ... 117

4.2.2.1.3 Diálogos construtivos ... 119

4.2.2.2 Elementos dificultadores do processo de liderança ... 122

4.2.2.2.1 Resistência negativa ... 123

4.2.2.2.2 Ações individualistas ... 125

4.2.2.2.3 Distúrbios na comunicação ... 126

4.2.3 Manifestação da Liderança ... 129

4.2.3.1 Compreensões sobre manifestação da LRSC ... 131

4.2.3.1.1 Forças influenciadoras motivacionais ... 132

(14)

4.2.3.1.3 Forças influenciadoras mediadoras ... 134

4.2.3.2 Manifestação de LRSC na ação ... 136

4.2.3.2.1 Nível interpessoal ... 136

4.2.3.2.2 Nível coletivo ... 142

4.3 OUTROS CENÁRIOS PREVISTOS NO MODELO ... ...159

4.3.1 Formas gerais de relacionamentos sem a Manifestação de Liderança (a) ... 160

4.3.2 Manifestação de Liderança em Relacionamentos (b) ... 162

4.3.3 Processos de Liderança Relacional Socioconstrucionista destrutivos (c) ... 165

4.4 CENÁRIO NÃO PREVISTO NO MODELO – INTERRUPÇÃO DO PROCESSO.. DE LIDERANÇA ... ...165

5 ACHADOS DA PESQUISA ... 168

6 CONCLUSÕES... 178

6.1 CONTRIBUIÇÕES NO CAMPO DA LRSC ... ...179

6.2 CONTRIBUIÇÕES NO CAMPO DA ONTOLOGIA DAC.. ...181

6.3 CONTRIBUIÇÕES NO CAMPO DE LIDERANÇA EM BIBLIOTECAS ... ...181

6.4 LIMITAÇÕES DO ESTUDO ... ...182

6.5 OPORTUNIDADES PARA FUTURAS PESQUISAS ... ...182

REFERÊNCIAS ... 184

APÊNDICE A – Roteiro da entrevista ... 199

(15)

1 INTRODUÇÃO

Esta seção introdutória foi organizada em quatro subseções. Na primeira apresento a contextualização temática e a problematização da pesquisa. Na segunda subseção descrevo os objetivos geral e específicos que a norteiam. Nas subseções seguintes, discorro sobre a justificativa, o ineditismo e a relevância da pesquisa, bem como a sua aderência ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGEGC/UFSC) e finalizo descrevendo a estrutura do trabalho. 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMATIZAÇÃO

Bibliotecas são unidades de informação, subordinadas a uma organização maior e criadas com a missão de atender às necessidades informacionais e educacionais de um determinado público. Com base nesse público, desenvolvem-se os serviços e produtos que visam atender às suas demandas. Nesse sentido, as bibliotecas são categorizadas como: biblioteca escolar, biblioteca universitária/acadêmica, biblioteca especializada, biblioteca pública. Bibliotecas que se destinam a atender dois ou mais tipos de públicos são classificadas como bibliotecas mistas (LUBISCO, 2018).

Assim, o objeto de estudo desta pesquisa é uma biblioteca pertencente a uma instituição da Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica, que oferta cursos profissionalizantes de nível médio e cursos de nível superior (tecnologia, graduação e pós-graduações). Portanto, enquadra-se como uma biblioteca mista, pois atende ao público escolar (educação básica e técnica) e acadêmico/universitário (educação superior). Atualmente, o trabalho em bibliotecas tem sido cada vez mais desafiador. Mudanças complexas e constantes nos campos tecnológicos, informacionais e organizacionais instigam o repensar de seus serviços e produtos, a fim de garantir sua sustentabilidade.

No tocante às questões tecnológicas, os desafios contemporâneos em bibliotecas pertencentes a instituições educacionais, especialmente de nível superior, são transformadores. Catálogos automatizados, pesquisa em banco de dados baseados na Web, acesso remoto fora do campus, streaming de vídeo, e-books para download e aquisição orientada pelo usuário são alguns exemplos de avanços tecnológicos que mudaram a forma como os bibliotecários realizam seus trabalhos. Esses avanços tecnológicos criaram inúmeras pressões sobre os bibliotecários, desde a mudança de responsabilidades de trabalho até às frequentes reorganizações de bibliotecas (LEWIS, 2015).

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A informação antes disponível basicamente no formato impresso migrou para formatos digitais/virtuais, fato que afeta o gerenciamento de acervos e instiga as equipes a desenvolverem novas competências e habilidades para o seu manuseio. Conteúdos informacionais digitais ganham novas formas de acesso e de comercialização, como, por exemplo, a venda por assinaturas anuais, que significa a perda da posse do conteúdo após a expiração do prazo, se não houver renovação (VALENTIM, 2016). Mudanças dessa natureza geram dilemas organizacionais internos para busca de melhores soluções e o desenvolvimento de novos saberes, no sentido de incorporar este serviço ao cotidiano das bibliotecas.

No contexto organizacional, de forma geral, constata-se um crescente aumento da complexidade, ambiguidade, incerteza e diversidade, de conflitos paradoxais e da interdependência (MARION; UHL-BIEN, 2001). No campo das bibliotecas, esse cenário não é diferente. Pode-se afirmar que elas se configuram cada vez mais como ambientes dinâmicos, complexos e multirrelacionais. Garantir sua sustentabilidade envolve estar em contínuo fluxo de geração de novas estratégias relacionais com a comunidade à qual atende (MATARAZZO; PEARLSTEIN, 2015) e com outras bibliotecas, para unir esforços e otimizar os recursos financeiros cada vez mais restritivos. “Para haver melhor harmonização qualitativa de nossas bibliotecas, é primordial aumentar a integração entre elas e, por conseguinte, os escassos recursos financeiros poderão ter enormes efeitos multiplicadores” (CUNHA, 2018, p. 366).

Seja qual for o tipo de biblioteca, há a necessidade de inovar tanto nos serviços oferecidos quanto na gestão, face aos avanços tecnológicos de acesso à informação, bem como às necessidades do público. Valenza e Johnson (2009) afirmam que é preciso deixar de pensar a biblioteca como uma mercearia, onde simplesmente se vai obter livros, e idealizá-la como um lugar onde se vai fazer diversas atividades. Assim, as bibliotecas tornam-se espaços (físicos ou virtuais) de produção de conhecimentos. Os serviços deixam de enfatizar somente o como acessar a informação e se ampliam a como avaliá-la e utilizá-la de forma adequada (JOHNSON, 2013).

Importa destacar que as bibliotecas tradicionalmente ocupam um espaço no nível intermediário dentro da organização a que pertencem, e assim a necessidade relacional não é novidade. Portanto, a interdependência e a relacionalidade são os pilares da constituição organizacional das bibliotecas.

Esses pilares requerem formas de atuação diferenciadas e isso significa dizer que os bibliotecários encaram cotidianamente desafios interacionais, de onde processos de

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influência emergem. Por exemplo: nas relações hierárquicas institucionais, os bibliotecários trabalham para garantir espaços de atuação na instituição, em que muitas vezes tendem a ser marginalizados e excluídos. Nas relações horizontais, eles estabelecem parcerias e desenvolvem serviços e produtos colaborativamente. Junto ao seu público, influenciam os usuários, ajudando-os a se tornarem leitores e produtores de novos conhecimentos.

A figura 1 ilustra a inter-relação de uma biblioteca com os demais setores da organização, demonstrando, de forma sistêmica, a interdependência e a relacionalidade.

Figura 1 Interdependência e relacionalidade de uma biblioteca

Fonte: A autora (2019).

A liderança, nesse contexto intermediário, é caracterizada pela interação, negociação, em meio a redes de relações profissionais e de poder em constante mudança (BRANSON; FRANKEN; PENNEY, 2016).

Assim, construir relacionamentos, motivar os outros, negociar, comunicar e colaborar são as principais competências da liderança em bibliotecas (AMMONS-STEPHENS et al., 2009). Essas competências são necessárias para que a liderança possa efetivamente cumprir o seu papel, a fim de inserir-se de forma plena no cotidiano da organização à qual está vinculada. Ammons-Stephens et al. (2009) destacam que é no tecer relacional que a biblioteca ocupa seu espaço, expande seus serviços e contribui com o contexto ao qual está vinculada.

O foco na relacionalidade convida a perceber a liderança como um processo de construção. Wood e Dibben (2015, p. 41) afirmam que:

BIBLIOTECA Administração superior Setores administrativos Público que atende Setores educacionais

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Como tal, delineamos uma forma distinta de conceituar a liderança como um evento em formação. Considerar a liderança dessa maneira supera algumas crenças humanistas e substitui a familiar bifurcação de líderes distintos e autocontidos e seguidores com uma apreciação mais diversa, nova e coerente (WOOD; DIBBEN, 2015, p.41).

O sucesso de bibliotecas como organizações é determinado pelas ações dos indivíduos que nelas trabalham (AMMONS-STEPHENS et al., 2009) e a forma como os processos de liderança ocorrem “[...] afeta a eficácia da biblioteca, seu papel na instituição acadêmica e sua adaptabilidade para novas funções e iniciativas” (WEINER, 2003, p. 5, tradução nossa).

Os resultados da revisão integrativa sobre liderança em bibliotecas educacionais (acadêmicas e escolares) revelaram predominância de estudos focados na liderança gerencial, sendo que estilos de liderança, traços, atributos e papéis dos líderes têm recebido considerável atenção. Nesta pesquisa, constatei também que em bibliotecas acadêmicas existe uma tendência maior para o desenvolvimento de estudos focados na liderança atribuída, em detrimento da liderança emergente (WONG, 2017).

A liderança atribuída é baseada em um título ou posição formal em uma organização, enquanto a liderança emergente é resultante do que se faz e como alguém adquire suporte de liderados (NORTHOUSE, 2015). Stewart (2017) conclui que há necessidade de ampliar os estudos sobre liderança em bibliotecas, que ultrapassem o campo gerencial e administrativo.

A necessidade de estudos na área da liderança emergente pode ser justificada em função das mudanças que vêm ocorrendo na estrutura organizacional das bibliotecas, que tendem a se tornar mais fluídas e planas, favorecendo que a liderança emerja em qualquer lugar da biblioteca (WONG, 2017).

No Brasil, Faqueti et al. (2017) também constataram essa tendência à estruturação organizacional de bibliotecas rumo a um sentido mais horizontal, dentro de configurações menos hierárquicas. Com base na análise de regimentos de Sistemas de Bibliotecas (SIBI) de universidades e de instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (RFEPCT), os autores perceberam que está ocorrendo uma modificação na estruturação organizacional de SIBI, saindo de modelos estruturais mais centralizados para estruturas mais horizontalizadas.

Este cenário, em que as bibliotecas tendem a se constituir em uma estrutura organizacional mais horizontalizada e ao mesmo tempo necessitam estar em contínuo processo de construção e reconstrução de seus papéis, abre espaço para a emersão de formas

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de liderança diferentes das tradicionais. Neste sentido, percebo o estudo da liderança sob a perspectiva relacional como uma abordagem que vem ao encontro do novo papel das bibliotecas modernas, visto as exigências contínuas de mudança e geração de novos conhecimentos que se apresentam à sociedade contemporânea.

O olhar sobre a liderança na perspectiva relacional ancora-se na visão da liderança como um processo de influência social, por meio do qual uma liderança emerge. Neste sentido, novos valores, mudanças e atitudes diferenciadas são construídos e produzidos (UHL-BIEN, 2006). De forma geral, a Liderança Relacional (LR) envolve o estudo da interação e qualidade do relacionamento entre indivíduos engajados em atividades de liderança (ENDRES; WEIBLER, 2017), além dos relacionamentos construídos “a partir da hierarquia” (MURRELL, 1997 apud UHL-BIEN, 2006. p.39).

Os estudos na área de LR são recentes (UHL-BIEN, 2006). Nesse sentido, na revisão da literatura realizada, pude perceber que este é um campo aberto para investigações, com escassez de pesquisas empíricas na área educacional e nenhuma referência de estudos na área das bibliotecas.

Importa destacar que duas correntes de pesquisa se distinguem nos estudos de LR (UHL-BIEN, 2006; ENDRES; WEIBLER, 2017) e cada qual se fundamenta em princípios ontológicos e epistemológicos distintos, sendo elas: a LR baseada na entidade e a LR com base na perspectiva socioconstrucionista.

A perspectiva da LR com base na entidade se fundamenta no princípio ontológico realista, que compreende a realidade como existente de forma independente. Os estudos que se fundamentam nesta perspectiva têm como foco central os indivíduos e seus traços, identidades, papéis, habilidades individuais, estratégias e estilos de comportamento (ENDRES; WEIBLER, 2017).

A LR na perspectiva socioconstrucionista (LRSC) compreende a realidade como uma construção social, que emerge das interações dentro de um processo intersubjetivo, sensível ao contexto, historicamente e culturalmente situado (ENDRES; WEIBLER, 2017). Os estudos nesta corrente têm como foco compreender como as relações e identidades são construídas por meio de interações, experiências cotidianas intersubjetivas, e como os processos de influência emergem entre os espaços (UHL-BIEN, 2006).

Endres e Weibler (2017) avançaram nos estudos sobre LRSC ao apresentarem o modelo de três componentes, desenvolvido a partir de uma revisão sistemática. O modelo se propõe a ser um referencial que possibilita distinguir movimentos de Liderança

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Relacional na perspectiva socioconstrucionista (LRSC) de outras formas de liderança que afloram nas relações interacionais, no cotidiano das atividades de trabalho.

O primeiro componente desse modelo é o Mecanismo de Liderança, compreendido enquanto construção social (ou seja, processos de intersubjetividade criando realidades sociais através de interpretação e interação contínua). O segundo componente é o Conteúdo de Liderança, que representa o olhar sobre os Relacionamento e a comunicação de alta qualidade (ou seja, todos os fios visíveis e invisíveis que conectam as pessoas). E o terceiro componente é a Manifestação da Liderança, cujo o foco é dirigido aos processos de influência que emergem nos níveis de interação interpessoal e/ou nível coletivo (figura 2).

Figura 2 – Modelo de três componentes da liderança relacional socioconstrucionista

Fonte: Endres e Weibler (2017, tradução nossa).

Assim, a LRSC emerge na intersecção desses três componentes, ou seja, sua manifestação na forma de fluxos de influência tanto nos níveis diádicos e/ou coletivos ocorre em processos interacionais de construção social em meio a conexões relacionais de alta qualidade.

Considerando o exposto, optei por definir como lente teórica deste estudo a abordagem da LR na perspectiva Socioconstrucionista, com o objetivo de responder à seguinte questão de pesquisa:

Como emergem os processos de Liderança em atividades cotidianas de trabalho em uma biblioteca, sob a perspectiva da Liderança Relacional Socioconstrucionista?

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Cumpre informar que, em função de determinadas limitações do modelo de Três Componentes (ENDRES; WEIBLER, 2017), as quais serão discutidas posteriormente, foi necessário incluir os referenciais teóricos da ontologia DAC (Direção, Alinhamento e Compromisso) (DRATH et al., 2008) para distinguir, de outros fenômenos sociais de influência, os processos de influência que geram liderança.

Trata-se de uma ontologia alternativa, que oferece sustentação para estudos de liderança que vão além da tríade líder/liderado/objetivo comum (BENNIS, 2007), como por exemplo, as lideranças plurais (DENIS; LANGLEY; SERGI, 2012). Assim, identifiquei os processos de manifestação de lideranças sob duas perspectivas:

a) quanto aos fluxos de influência que emergem nos processos de interações relacionais, nos níveis interpessoal e coletivo (ENDRES; WEIBLER, 2017); b) quanto aos resultados que o processo de liderança gera (DRATH et al., 2008). O uso dessas duas abordagens contribuiu para colocar luz sobre a importância das dinâmicas de interação relacional como fontes geradoras de processos de liderança tanto nos níveis diádicos/interpessoais quanto no nível coletivo, na condução de uma biblioteca. 1.2 OBJETIVOS

De acordo com a questão de pesquisa, formulei o objetivo geral e os objetivos específicos que a norteiam.

1.2.1. Objetivo geral

O objetivo geral desta pesquisa consiste em compreender como emergem processos de Liderança em uma biblioteca, sob a perspectiva da Liderança Relacional Socioconstrucionista.

1.2.2. Objetivos específicos

a) Analisar como ocorrem os processos de interação relacional e construção social com potencial para emergência de processos de LRSC.

b) Identificar elementos que contribuem para a construção de conexões relacionais positivas, com potencial para a emergência de processos de LRSC.

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c) Analisar como os processos de Liderança Relacional Socioconstrucionista se manifestam em atividades de trabalho cotidianas na biblioteca.

1.3 JUSTIFICATIVA E INEDITISMO

As bibliotecas na atualidade enfrentam muitos desafios, incluindo as rápidas mudanças trazidas por tecnologias e outras influências externas (JOHNSON, 2013). Garantir espaços de atuação, inovar nos serviços, manter-se em constante processo de construção e reconstrução de seus papéis junto à organização a que pertencem e à sociedade contemporânea são seus principais desafios (VALENZA; JOHNSON 2009).

A complexidade desses desafios ancora-se nas incertezas, dilemas, situações paradoxais e interdependências relacionais que caracterizam a era do conhecimento e afetam as organizações de forma global (MARION; UHL-BIEN, 2001) e, por consequência, as bibliotecas. Neste contexto de mudanças globais contínuas, é necessário repensar as formas de conduzir os trabalhos localmente, para que os objetivos delineados nas bibliotecas possam ser alcançados. Isto significa refletir sobre novas formas de liderança, que auxiliem as bibliotecas a ocuparem seus espaços e garantirem sua sustentabilidade (STEWART, 2017).

Importa salientar que a biblioteca é um setor dentro da instituição que atua no nível intermediário da estrutura organizacional, e os processos de liderança incluem a construção e manutenção de interações relacionais com diferentes segmentos da instituição No caso de bibliotecas acadêmicas, isso envolve desenvolver relacionamentos mais fortes em toda a universidade, a fim de manter e promover sua relevância para todas as partes interessadas (DELANEY; BATES, 2015).

Conforme analisam Branson, Franken e Penney (2016), a liderança intermediária em instituições educacionais precisa ser entendida como um empreendimento relacional altamente complexo, caracterizado por compromissos negociados em meio a estruturas de liderança e hierarquias em relações nos eixos vertical e lateral (horizontal).

Em relação à importância dos relacionamentos em processos de liderança em bibliotecas, Berggren (2013) afirma que relacionamentos positivos entre administradores e bibliotecários são essenciais para aumentar a conscientização e defesa das bibliotecas, de maneira que os bibliotecários possam cumprir com êxito seus papéis enquanto líderes educacionais.

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Ao realizar a revisão integrativa da literatura sobre liderança em bibliotecas, percebi que estudos mais recentes sobre liderança em bibliotecas buscam desvincular a liderança de cargos de gerência e indicam sua presença em diferentes níveis da estrutura organizacional. Constatações desta natureza vêm ao encontro dos objetivos desta tese.

Com base nesse contexto, a liderança sob a perspectiva relacional socioconstrucionista desponta como uma abordagem de estudo, pois agrega valor às demandas da biblioteca, com o propósito de atender às exigências que se apresentam no século XXI. Assim, optei por adotar a lente da LRSC respaldada em três motivos:

a) a revisão sistemática realizada por Endres e Weibler (2017) aponta para a necessidade de mais estudos exploratórios que abordem os fenômenos de liderança de forma indutiva, de modo que ela seja compreendida a partir das dinâmicas e práticas de interação à medida que estas ocorrem em um ambiente específico;

b) o estudo sobre a temática da LRSC vem corroborar o conjunto de pesquisas desenvolvidas pelo Laboratório de Liderança e Gestão Responsável (LGR), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento (PPGEGC) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), coordenado pelo professor dr. Cristiano J. C. de A. Cunha, e do qual participo; c) sinto-me particularmente motivada a aprofundar os estudos sobre a relevância da

inter-relacionalidade no processo de liderança em bibliotecas. Ao longo de mais de 25 anos de atuação profissional como bibliotecária e líder formal de uma biblioteca, reconheço experiencialmente o valor do interagir e relacionar-se como meio gerador de processos de influência a favor dos objetivos da biblioteca. Porém, este entendimento ainda carece de comprovação científica. Assim, escolhi uma biblioteca da RFEPCT como universo de investigação em função da minha experiência enquanto bibliotecária. O conhecimento prévio do campo contribuiu sobremaneira no processo de coleta de dados, posto que os participantes sentiram-se tranquilos em dialogar sobre o assunto com uma profissional da mesma área e que conhece a realidade dos institutos federais experiencialmente. A opção por entrevistar todos os servidores atuantes na biblioteca vem ao encontro da premissa de que processos de liderança podem emergir independentemente de atribuições formais.

A busca nas bases de dados nacionais da literatura sobre LR confirmou a insuficiência de estudos na área, apontada por Endres e Weibler (2017), e me revelou que,

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no contexto brasileiro, o tema da liderança na perspectiva socioconstrucionista ainda não foi explorado.

No tocante a estudos sobre Liderança em bibliotecas, a revisão narrativa me indicou que no nível internacional o tema está em ascensão, porém, a maioria dos estudos foca no líder, seus traços, comportamentos e competências e habilidades. Assim, não encontrei estudos que adotassem a perspectiva da Liderança relacional como uma lente de estudo. No nível nacional, os estudos científicos sobre liderança em bibliotecas são escassos.

Enfim, acredito que compreender como emergem os processos de liderança em atividades cotidianas de trabalho em uma biblioteca utilizando a lente relacional socioconstrucionista contribuirá para o aprofundamento das pesquisas na área em um contexto ainda não pesquisado, ou seja, um setor intermediário, pertencente a uma instituição educacional brasileira.

1.4 ADERÊNCIA AO PROGRAMA

A presente tese apresenta aderência à linha de pesquisa Teoria e Prática em Gestão do Conhecimento do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGEGC/UFSC). A aderência se caracteriza visto que o objeto de estudo é o conhecimento e como o seu fluxo pode interferir no processo de lideranças que emergem nas interações relacionais. Para o programa, o conhecimento é definido como produto, processo e resultado das interações sociais e tecnológicas entre agentes humanos e não humanos (PPGEGC, 2019).

A liderança é um tema consolidado no PPGEGC/UFSC, estudado pelo Laboratório de Liderança e Gestão Responsável (LGR) e reconhecido como estratégia básica para a consolidação do conhecimento organizacional (SELIG; PACHECO; KERN, 2015).

Configura-se igualmente como um dos aceleradores da gestão do conhecimento (YOUNG, 2010), sendo, portanto, condição básica para seu êxito nas organizações. Assim, esta pesquisa é aderente ao PPGEGC/UFSC, posto que visa agregar novos conhecimentos no âmbito da Liderança Relacional, no contexto de organizações educacionais intensivas em conhecimento, mais especificamente às bibliotecas da RFEPCT. Na figura 3 ilustro esta interação.

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Figura 3 Delimitação temática e contextual da Tese

Fonte: A autora (2019).

No levantamento de teses e dissertações defendidas no PPGEGC/UFSC no período de 2008 a 2015, Günther (2017) identificou 12 teses e seis dissertações sobre liderança, vinculadas ao LGR. Dessa forma, listo, no quadro 1, uma dissertação e as três teses defendidas entre 2016 e 2018, igualmente vinculadas ao LGR.

Quadro 1 Teses no PPGEGC sobre liderança, vinculadas ao LGR

Autoria Título Tipo Ano

Gramkow, Fabiana

B. Liderança complexa em uma equipe de desenvolvimento de software Tese 2017

Gunther, H. Fischer Práticas de liderança na escola pública: um estudo comparativo

Tese 2017

Schreiner, Tatiana Os processos de liderança na implantação de um Centro de Inovação sob a da perspectiva construcionista

Dissertação 2017

Zoucas, Alessandra

C. Liderança como prática em iniciativas de melhoria de processo de software Tese 2017 Fonte: A autora (2019).

Com a pesquisa desenvolvida nesta tese, viso ampliar os estudos no campo da Liderança. Seu diferencial está relacionado ao uso da Liderança Relacional enquanto lente de pesquisa e quanto ao seu contexto de análise (bibliotecas). Vale apontar que o campo de estudo na área da Ciência da Informação, tendo como contexto bibliotecas universitárias, também está contemplado no PPGEGC/UFSC em três teses, porém, nenhuma delas aborda o tema Liderança, conforme pode ser observado no quadro 2.

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Quadro 2 Teses no PPGEGC/UFSC relativa a bibliotecas

Autoria Título Tipo Ano

Miranda, A. C. D. Propostas de diretrizes para bibliotecas universitárias nortearem a gestão do conhecimento institucional em

Instituições Federais de Ensino Superior

Tese 2010

Ramos, M. C. L. Diretrizes para produção do conhecimento em bibliotecas universitárias

Tese 2012

Bem, R. M. de Framework de Gestão do Conhecimento para bibliotecas universitárias

Tese 2015 Fonte: A autora (2019).

Nessa busca identifiquei, também, pesquisas desenvolvidas no PPGEGC/UFSC tendo como campo de estudo instituições da RFEPCT, porém, estas não abordam o tema liderança e não envolvem discussões relativas ao escopo das bibliotecas. No quadro 3 listo estas publicações.

Quadro 3 Teses e dissertações no PPGEGC/UFSC relativas a instituições da RFEPCT

Fonte: A autora (2019).

Diante do exposto, considero que a tese que ora apresento é adequada e inovadora para ser desenvolvida no âmbito do PPGEGC/UFSC e aponto que a interdisciplinaridade está claramente identificada, visto que, ao estudar a liderança em bibliotecas, trabalhei com elementos objeto de estudo em diferentes áreas.

Autoria Título Tipo Ano

Cemin, Xênia Sistemas de memória organizacional: um estudo de caso

Dissertação 2018 Torres,

Maricel Karina Lopez

Teoria substantiva da trajetória de um curso superior de tecnologia em design de produto, no contexto e história de um instituto federal

Tese 2017

Consoni, Deizi

Paula Giusti Competências empreendedoras: estudo de caso Dissertação

2016 Ramos, Taís

Leite

Comunicação da marca e gestão do conhecimento nos institutos federais: estudo de caso

Dissertação 2015

Lamego, Sônia

Regina Diretrizes para a institucionalização da gestão do conhecimento na rede federal de educação profissional, científica e tecnológica, Brasil

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1.5 DELIMITAÇÃO DO TRABALHO

O estudo sobre processos de liderança na perspectiva relacional socioconstrucionista apresenta delimitações teóricas, metodológicas e operacionais.

Quanto à fundamentação teórica, esta pesquisa tem embasamento epistemológico no construcionismo social. Tal abordagem compreende que a realidade é construída socialmente em meio às interações relacionais de forma intersubjetiva (ENDRES; WEIBLER, 2017).

Quanto às delimitações metodológicas, realizei uma pesquisa de cunho qualitativo: seus resultados não são generalizáveis e retratam meu olhar sobre um determinado momento, dentro de contextos específico em que a desenvolvi (TAYLOR; BOGDAN, 1997). Sendo de natureza interpretativista, dentro das peculiaridades, por meio deste estudo proporcionei novas reflexões sobre a temática. Espero que no futuro os resultados obtidos possam ser comparados a estudos semelhantes e assim contribuir na construção do conhecimento científico.

Quanto aos processos de operacionalização, delimitei o campo de investigação aos servidores que atuam na biblioteca de uma instituição educacional da RFEPCT.

1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO

Estruturei esta tese em seis capítulos. No primeiro capítulo faço a introdução, com a contextualização e a problematização da pesquisa, o objetivo geral e os objetivos específicos. Incluo, ainda, a justificativa e o ineditismo, bem como a aderência ao

PPGEGC/UFSC e a delimitação do estudo e, finalmente, a estrutura do trabalho.

No segundo capítulo apresento os principais conteúdos teóricos que norteiam o estudo de caso, com base na revisão sistemática da literatura. Nele, abordo os temas relacionados a Bibliotecas e Organizações Intensivas em Conhecimento. Também analiso os temas da Liderança, especialmente a Liderança Relacional e a Liderança em bibliotecas acadêmicas, universitárias e escolares, tema desta pesquisa.

No terceiro capítulo apresento os procedimentos metodológicos e os métodos utilizados para o estudo de caso, bem como os instrumentos utilizados na coleta, tratamento e análise dos dados.

(28)

No quarto capítulo apresento o estudo de caso, bem como os resultados da pesquisa, a análise dos dados e as discussões do trabalho. No capítulo 5 abordo os achados da pesquisa.

Por fim, no sexto capítulo, analiso as contribuições do estudo realizado, suas limitações e as sugestões para trabalhos futuros.

(29)

2 REVISÃO DA LITERATURA

Nesta seção são apresentados os fundamentos teóricos que embasam o desenvolvimento desta pesquisa. Sua estruturação foi delineada para situar o leitor, de forma progressiva, sobre os temas essenciais abordados no estudo empírico.

De início, faz-se uma breve caracterização das bibliotecas enquanto espaços relacionais e intensivos em conhecimento. Na sequência, contextualiza-se o tema Liderança e, posteriormente, aborda-se o campo da Liderança Relacional e o modelo de Três Componentes (ENDRES, WEIBLER, 2017), utilizado como principal referencial teórico. Em seguida, apresenta-se o tema da liderança em bibliotecas acadêmicas e escolares e os resultados de uma revisão integrativa sobre estudos empíricos realizados envolvendo esses dois constructos. A revisão objetivou analisar como o tema vem sendo abordado na literatura. Os resultados confirmam a lacuna de conhecimentos no que tange à utilização da lente da Liderança Relacional em bibliotecas escolares ou acadêmicas.

Por fim, nas considerações finais são conectados ambos os construtos.

2.1 BIBLIOTECAS COMO ESPAÇOS RELACIONAIS E INTENSIVOS EM CONHECIMENTOS

As organizações, nos dias de hoje, existem para além de suas atividades fins e/ou funções específicas. Tornaram-se ambientes dinâmicos de aprendizado e inovação, construídos na teia relacional (BERGER; LUCKMANN, 1985).

Organizações são locais cultural e historicamente únicos, onde os membros se engajam na construção de uma realidade social. Uma organização é ativamente mantida viva não somente por suas políticas, regras e procedimentos, mas também pela rede de relacionamentos, construída e estabelecida por meio de uma interação contínua. Todos os universos socialmente construídos se modificam, e a transformação é realizada pelas ações concretas dos seres humanos nas suas interações (BERGER; LUCKMANN, 1985).

Nesse contexto, as relações emergem como forma de agregar valor à organização e aos indivíduos. Para Hosking e Bouwen (2000), todas as realidades sociais todos os saberes de si e de outras pessoas e coisas são vistas como construções dependentes ou codependentes, existentes e conhecidas apenas quando em relação. Nessa visão, o conhecimento não é uma coisa ou produto existente, que pode ser aprendido, negociado, transferido e armazenado.

(30)

Em se tratando de bibliotecas, as interações relacionais representam o grande desafio para a sua sobrevivência e para se manterem competitivas perante os avanços tecnológicos e a redução de investimentos (MATARAZZO; PEARLSTEIN, 2015). A necessidade de produzir respostas rápidas e eficazes para diversas mudanças emergentes requer o reconhecimento do potencial de sua equipe e um ambiente em que o conhecimento possa ser valorizado e compartilhado (DANESHGAR; PARIROKH, 2012)

Nesse ambiente, as bibliotecas são consideradas organizações intensivas em conhecimento dentro de um sistema complexo (BEM, 2015), que reflete tendências sociais, culturais (WITT; SMITH, 2019), econômicas e tecnológicas (VALENTIM, 2016).

Mudança e inovação são inerentes ao seu contexto. Nesse universo, existe um movimento contínuo de negociação e renegociação da identidade das bibliotecas, no sentido de garantir sua sobrevivência e expandir seu escopo de atuação (MATARAZZO; PEARLSTEIN, 2015). A biblioteca, que se reconstrói continuamente para sobreviver enquanto organização, é representativa de um movimento de saída do paradigma da era industrial, em que a visão era “trabalhar para”, e entrada no paradigma da era do conhecimento, em que a estratégia é “trabalhar com” (DAVIS; MACAULEY, 2011).

O surgimento da internet, o desenvolvimento veloz da rede de computadores, os diversos sites de buscas disponíveis aos usuários mudaram o status da biblioteca como a principal provedora de informações (SARRAFZADEH; MARTIN; HAZERI, 2010). Essas mudanças a obrigam a procurar formas de transformar-se/reinventar-se. O bibliotecário precisa trabalhar com diversos tipos de informações e conhecimentos, visto que os usuários também se tornaram mais exigentes. Assim, a biblioteca precisa desenvolver novas formas de atender a essa demanda e agregar valor aos seus serviços (RUSULI et al., 2012).

O trabalho em bibliotecas passa por transformações contínuas e reage a vários fatores sociais, tecnológicos e econômicos. Com as novas tecnologias de informação e comunicação (TIC), as bibliotecas foram recriadas, e novas funções e papéis emergiram. Acessar a informação deixa de ser apenas o problema a ser resolvido pelas bibliotecas, e seus serviços são ampliados para o campo educativo e social. Ou seja, o foco dos serviços oferecidos migrou do centramento no acervo (acesso à informação) para a aprendizagem (geração de conhecimento) (SARRAFZADEH; MARTIN; HAZERI, 2010).

As bibliotecas são consideradas Organizações Intensivas em Conhecimento (BEM, 2015). Suas atividades abrangem aquisição, organização e disseminação de conhecimentos para a geração de aprendizagens e produção de novos conhecimentos. Utilizando a analogia

(31)

de Davis e Macauley (2011), pode-se afirmar que ambos, o conhecimento e as bibliotecas, são motoristas e veículos do principal motor econômico do crescimento neste século XXI. 2.2 LIDERANÇA

A liderança vem sendo ressignificada ao longo dos tempos. Modelos e formas de liderar da era industrial (perfil do líder herói) não se adequam ao novo contexto da era da informação e do conhecimento, em que a atualização e a mudança contínua são fundamentais para a sobrevivência das organizações, inclusive das bibliotecas (CHE RUSULI; TASMIN; TAKALA, 2012). Neste período de transição entre paradigmas, este é um fator que contribui para complexificar os estudos na área. Indivíduos, grupos, organizações e mesmo países estão evoluindo em um continuum e encontram-se atualmente em diferentes estágios de compreensão, desde a era industrial até a era do conhecimento (DAVIS; MACAULEY, 2011).

Dessa forma, pesquisadores analisam o tema liderança sob diferentes perspectivas e com base em uma variedade de abordagens teóricas: com foco em processos grupais, nos traços de líderes, no comportamentos e ações, nas relações de poder, como um processo de transformação e usando uma perspectiva de habilidades (NORTHOUSE, 2015). Estudos atuais sobre liderança apontam que as pesquisas não se concentram apenas no líder, mas se diversificam com foco nos liderados, contextos e culturas (TAL; GORDON, 2016).

Quanto à definições de liderança, a literatura aponta grande diversidade e falta de um consenso quanto ao seu significado básico (GRINT; JONES; HOLT, 2016). Dentro de uma perspectiva mais ampla, Yukl (2010) compreende a liderança como um movimento processual de influências, que se desenvolve na interação entre indivíduos, dentro de um contexto, em que buscam alcançar objetivos comuns. Northouse (2015, p.2), quando define liderança também como um processo, esclarece que não se trata de “[...] um traço ou característica que reside no líder, mas é um evento de transação que ocorre entre o líder e seus liderados. O processo implica que um líder afeta e é afetado por liderados”.

Outro ponto de destaque, ao se referir à liderança como processo, são as premissas de que sua manifestação é diferenciada em contextos distintos e todas as pessoas são capazes de exercê-la, independente da sua posição formal na organização (ROWE; GUERRERO, 2012).

Na perspectiva tradicional de liderança, os estudos de liderança ancoram-se no tripé: líder/liderados/objetivo comum a ser alcançado (BENNIS, 2007). Esta não é uma

(32)

definição de liderança, e sim a descrição dos elementos essenciais e indispensáveis à liderança e sobre as quais qualquer teoria da liderança deve, portanto, discorrer (DRATH et al., 2008).

Com a evolução dos estudos de liderança em contextos mais complexos e colaborativos, a ontologia tradicional não oferece sustentação para respaldar novas teorias e práticas de liderança, como, por exemplo, as lideranças plurais (DENIS; LANGLEY; SERGI, 2012), em que as relações de liderança vão além das relações interpessoais entre líder e liderado e um objetivo comum.

Para transcender a ontologia tradicional, Drath et al. (2008) propõem uma ontologia alternativa, na qual as entidades essenciais são três resultados de liderança:

a)

direção: trata-se do acordo generalizado em um coletivo, sobre objetivos, metas e missão gerais;

b)

alinhamento: refere-se à organização e coordenação do conhecimento e do trabalho em um coletivo; e

c)

compromisso: compreende a disposição dos membros de um coletivo em concentrar seus esforços e benefícios a favor de interesses e benefícios coletivos. A ontologia DAC respalda o desenvolvimento de estudos consonantes com a visão socioconstrucionista.

Sob a perspectiva socioconstrucionista, Ospina e Sorenson (2006, p.188-189) apresentam uma compreensão diferenciada sobre liderança, considerando-a “[...] intrinsecamente relacional e de natureza social, sendo, portanto, o resultado da construção de significados compartilhados, enraizada em seu contexto”. Nessa visão, em vez de identificar leis "objetivas" do comportamento humano, o estudo da liderança deve aprofundar a compreensão da experiência e das práticas cotidianas intersubjetivas, das pessoas envolvidas nas atividades de liderança e como os processos de liderança são criados por meio da interpretação e interação contínuas entre indivíduos A influência nas relações é uma palavra-chave nesse processo. Ela ocorre multidirecionalmente entre líder e liderados, dentro de um contexto (ENDRES; WEIBLER, 2017).

A liderança entendida como um processo, na visão construcionista, refere-se a “atos de organizar" influentes, que contribuem para a estruturação de interações e relacionamentos, nos quais as definições de ordem social são negociadas, consideradas aceitáveis, implementadas e renegociadas (HOSKING, 1988). Nessa perspectiva, o foco

(33)

dos estudos migra dos indivíduos para as interações e as relações que se estabelecem “entre os espaços” (UHL-BIEN, 2006). Central para essa abordagem contemporânea é o fato de que a liderança não reside necessariamente em uma pessoa; em vez disso, ela pode ser compartilhada, distribuída e, de fato, gerada coletivamente.

2.2.1 Liderança x gestão

Outra questão comumente apresentada pela literatura sobre liderança diz respeito ao fato de que as funções de liderança e de gestão muitas vezes se entrelaçam. Northouse (2015) analisa que a liderança é realmente um processo, que se assemelha ao gerenciamento de muitas maneiras, pois tanto a liderança quanto a gestão envolvem influência, relacionamentos com pessoas e objetivos. Contudo, também existem diferenças entre essas funções.

O quadro 4 mostra as principais diferenças entre liderar e gerenciar, segundo as visões de Kotter (1998) e Zalenski (1998), conforme descrito por Almeida, Novaes e Yamaguti (2008).

Quadro 4 – Comparação entre liderar e gerenciar

LIDERAR GERENCIAR

Gestão da mudança Gestão da complexidade

Alinhar pessoas com a visão e as estratégias Organizar e treinar pessoas Falar com muitas pessoas em todas as

direções

Desenvolver e comunicar planos de ação

Apresentar valores às pessoas Selecionar pessoas de acordo com funções

Motivar as pessoas Decidir sobre delegação de autoridade

Apresentar visão de futuro Definir estrutura e hierarquia

Lidar com barreiras à mudança Controlar pessoas e solucionar problemas Fonte: Adaptado de Almeida, Novaes e Yamaguti (2008).

Ambas as funções são importantes para uma organização prosperar. A função primordial da gestão é fornecer ordem e consistência às organizações, enquanto a principal função de liderança é produzir mudança e movimento (NORTHOUSE, 2015).

Na prática laboral cotidiana dentro das organizações, apesar de existirem diferenças claras entre liderança e gestão, há uma quantidade considerável de sobreposições (YUKL, 2010). Quando os gerentes estão envolvidos em influenciar um grupo para o cumprimento

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de objetivos, eles estão envolvidos na liderança. Quando os líderes estão envolvidos no planejamento, organização, recursos humanos e contabilidade de custos, eles estão envolvidos na gestão (NORTHOUSE, 2015).

2.2.2 Teorias e abordagens da Liderança

A produção científica sobre liderança é vasta e apresenta uma variedade de abordagens teóricas que buscam explicar a complexidade dos processos de liderança organizacional. Na figura 4, uma linha do tempo apresentada por Reitz (2015) e baseada nos escritos de Gordon (2002) mostra a evolução histórica das teorias e abordagens de liderança.

Figura 4 – Evolução histórica das teorias da liderança

Fonte: Reitz (2015, p. 4, tradução nossa).

Nesta evolução histórica, o primeiro marco é a teoria dos traços, que surge no início do século XX, representando uma das primeiras tentativas de sistematizar conhecimentos sobre liderança. Ela foi fortemente influenciada pela teoria do grande homem, que se concentrava em identificar faz que pessoas (principalmente do gênero masculino) alcançavam e mantinham posições de alta influência (BOLDEN, 2004).

(35)

O caminhar para compreensões diferenciadas sobre liderança se fundamenta no entendimento de que os conhecimentos já adquiridos ainda são insuficientes para explicar este fenômeno (VAN SETERS; FIELD, 1990). Nesse caminho, Gordon (2002 apud REITZ, 2015) destaca, como segundo marco histórico, o surgimento de estudos com foco no estilo de liderança. Nessa perspectiva, as atenções se dirigem para a forma como os líderes se comportam. A abordagem dos estilos centra-se no que os líderes fazem e como eles agem, incluindo as ações dos líderes em relação aos subordinados e em vários contextos (NORTHOUSE, 2015).

O terceiro marco diferencial é a abordagem contingencial, que argumenta não existir “um melhor estilo” ou conjunto de comportamentos que poderiam ser atribuídos à “boa” Liderança. Em vez disso, nessa abordagem a liderança está relacionada a situações, ou seja, fatores situacionais determinam quem é reconhecido como um “bom” líder. Sendo assim, a liderança é explicada em termos de como os líderes se adaptaram às necessidades de uma situação (REITZ, 2015).

O quarto marco histórico se refere às “novas lideranças” e reúne perspectivas como a liderança transformacional e a liderança transacional. Segundo Gordon (2002 apud REITZ, 2015), enquanto nos três primeiros marcos, acima descritos, os estudos estavam centrados somente na figura do líder, nesta categoria os estudos reconhecem os processos interativos entre líder e liderado. O autor destaca, porém, que os quatro primeiros marcos se fundamentam em conceitos de diferenciação, ou seja, existem limites claros entre líderes e liderados.

No último nível, Reitz (2015) atualiza a linha do tempo apresentada por Gordon (2002), denominando-a como “lideranças não tradicionais”. Assim, o último nível engloba estudos em que o papel dos líderes é dissociado da hierarquia organizacional. Nesse modelo, indivíduos em todos os níveis da organização e em todos os papéis podem exercer influência de liderança sobre seus colegas e, assim, participar dos processos de liderança na organização (REITZ, 2015).

A linha de tempo representada na figura 3 apresenta o período de surgimento de diferentes concepções de liderança, mas não significa que as mais antigas estejam em desuso. Atualmente, estudos continuam sendo desenvolvidos sob diferentes concepções, em maior ou menor proporção. Um exemplo é a teoria dos traços, que foi uma das primeiras a surgir e continua como um campo de pesquisa ativo (DAY; ANTONAKIS, 2012).

Em síntese, o que se visualiza nesta linha do tempo é que grande parte da literatura é sustentada na dualidade líder versus liderado. A atualização de Reitz (2015) compreende,

(36)

no quinto marco, diferentes tipos de liderança, que a autora classificou como não tradicionais. Porém, dentre os citados nesse quinto marco diferencial, observa-se que existem tipos de liderança sustentada na visão “líder versus liderado” (liderança servidora e espiritual), como também de liderança centrada nas relações, em que o foco dos estudos não é mais o líder versus liderado e sim a liderança enquanto um processo de influência entre pessoas em interação (liderança dispersa, compartilhada, relacional).

Nas últimas décadas, em resposta às mudanças nas organizações, abordagens mais horizontalizadas despontam no cenário, tendo como exemplos a liderança distribuída, compartilhada, coletiva (CREVANI; LINDGREN; PACKENDORFF, 2007). Essas formas de lideranças construídas coletivamente fazem parte do conjunto de liderança pós-heroica. Os principais aspectos que diferenciam a liderança heroica (foco no líder) da liderança pós-heroica são sintetizados por Crevani, Lindgren e Packendorff (2007) no quadro 5.

Quadro 5 – Aspectos da concepção da liderança tradicional heroica X liderança pós-heroica

Liderança tradicional heroica Liderança pós-heroica Fontes

• um líder único responsável; • foco em heróis posicionais visíveis; • subordinados são vistos como

inferiores, drones intercambiáveis; • toda a sabedoria está concentrada

no lider;

• o líder precisa manter a sua aparência;

• organização se torna vulnerável, se o líder a deixa;

• individualismo, controle, assertividade e habilidades de advocacia e dominação são importantes para a liderança; • lógica dominante da eficácia: como

produzir coisas; • fazendo masculinidade; • foco em indivíduos; • funções estáticas. • os colaboradores assumem a responsabilidade e adquirem conhecimento; • os líderes incentivam a inovação e a participação; • consenso na tomada de decisão; • o líder torna-se dispensável; • a empatia, vulnerabilidade e habilidades de investigação e colaboração tornam-se importantes para a liderança; • lógica dominante da

eficácia: como fazer crescer as pessoas; • fazendo feminilidade; • foco em ações e interações; • processos dinâmicos de construção coletiva. Collinson (2005), Eicher (2006), Fletcher (2004), Huey (1994), Knights e Willmott (1992), Pearce e Manz (2005).

Fonte: Adaptado de Crevani, Lindgren e Packendorff (2007, tradução nossa).

No quadro 6 observa-se um panorama conceitual sobre teorias e abordagens de liderança que se relacionam com esta pesquisa. A ênfase maior na seleção realizada foi privilegiar abordagens que entendem a liderança como um processo de influências que

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