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O adolescente e os vínculos familiares

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Academic year: 2021

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DHE – DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO

ADRIANE LOURDES DALLABRIDA ROTILI

O ADOLESCENTE E OS VÍNCULOS FAMILIARES

IJUI 2012

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ADRIANE LOURDES DALLABRIDA ROTILI

O ADOLESCENTE E OS VÍNCULOS FAMILIARES

Trabalho de Conclusão de Curso submetido à Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ como requisito final do Curso de Psicologia e obtenção do título de Bacharel em Psicologia.

Orientadora: Profª. Ana Dias

Ijui 2012

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ADRIANE LOURDES DALLABRIDA ROTILI

O ADOLESCENTE E OS VÍNCULOS FAMILIARES

Este exemplar corresponde à redação final aprovada do Trabalho de Conclusão de Curso de Adriane Lourdes Dallabrida Rotili.

Banca Examinadora:

Data da aprovação: ______/______/_______

Assinatura:___________________________ Orientadora: Ana Dias

Assinatura:___________________________ Professora: Eliziane Felzke Schonardie

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4 Dedico este trabalho:

Á meu esposo: Sérgio Luis Rotili.

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Agradecimentos

Agradeço ao meu esposo Sérgio, as minhas filhas Paola e Pâmella, pessoas amadas e especiais, por saberem respeitar este momento, apoiando-me e encorajando-me em meus passos nesta realização.

Agradeço à Psicóloga Luciana á quem me auxiliou e acompanhou em meu estágio clínico, no posto de saúde de Ajuricaba.

Agradeço à minha orientadora, Ana Dias pelo caminho percorrido sempre em conjunto, levando-me a evoluir tanto no conhecimento quanto como pessoa.

Agradeço a minha amiga e comadre Maristela e sua familia pelo carinho e dedicação que sempre prestaram.

Agradeço a minha sobrinha Luciana pela disposição e carinho nas horas que mais precisei.

Agradeço às minhas colaboradoras Marines, Francieli e Alessandra por apostar e colaborar comigo neste momento importante em minha vida.

Agradeço as colegas Naiara, Patrícia, Marisa, Andressa, Roseli, Juliane, Emilie, Silvia, Emanueli, Juliana e Ana pelas horas em que estivemos juntas, dividindo nossas experiências de vida e amadurecendo neste período acadêmico.

Agradeço, ao apoio recebido de todos os professores, familiares e amigos, durante este período de dedicação à construção de um saber.

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RESUMO

Este trabalho pensa, retoma, estuda o tema do adolescente e sua familia, situando-o no contexto histórico. Constata a importância da relação pais/adolescente como fator de interferência positiva ou negativa no processo de construção dos seus lugares. O tema envolve a dificuldade que os pais tem hoje de assumir a sua posição de autoridade de forma que possibilite aos filhos constituir referências simbólicas. Enfim, pensa a possibilidade da construção do lugar de cada um na relação pais/filhos e sua importância no processo de construção subjetiva.

Palavraschaves: Adolescência/Pais de adolescentes – Desejo Lugar Psíquico -Crise.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 08

CAPÍTULO I – UM BREVE RESGATE HISTÓRICO SOBRE A ADOLESCÊNCIA... 10 CAPITULO II – A CONCEPÇÃO DA ADOLESCÊNCIA NA PSICANÁLISE.... 19 CAPITULO III – O LUGAR DOS PAIS E A ADOLESCÊNCIA DOS FILHOS... 34 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 45 REFERÊNCIAS... 47

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INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo pensar a importância da relação pais/filhos como fator de interferência positiva ou negativa no processo de construção subjetiva na adolescência. Este período é conflitante, talvez porque filhos e pais convivem em tempos diferentes, gerando dificuldades no relacionamento do adolescente com a família.

Várias questões subjetivas tentam explicar estas dificuldades, mas, o que mais implica são o amor e o ódio, uma ambivalência necessária na formação da estrutura psíquica. Para o adolescente esta fase é conflitante principalmente na pré-adolescência onde ele necessita perder. Ou seja, fazer o luto dos objetos infantis para investir em novos objetos, então ele precisa elaborar este luto para novos investimentos.

Esse tema surgiu a partir da realização dos estágios em Psicologia e Processos Educacionais em uma instituição escolar e também de alguns casos clínicos de minha prática no Estágio Supervisionado de Psicologia e Processos Clínicos em uma instituição Pública (posto de saúde). Foram surgindo questões referentes às mudanças subjetivas dos pacientes, em especial, a dos adolescentes em sua relação com o social, com os vínculos estabelecidos e com o relacionamento familiar. Mas o que faz questão aqui é realmente o lugar do adolescente e dos pais neste processo de “adolescer”.

Nesse contexto, o respectivo trabalho apresenta-se em três capítulos. O primeiro refere-se a um breve resgate histórico sobre o tempo adolescente, com alguns recortes de elementos que fizeram parte da história da educação e da família. Nessa perspectiva, é analisado como os laços psíquicos se estabeleceram

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9 nas relações que o sujeito construiu ao longo da vida e como isso interferiu na família e no adolescente.

O segundo capítulo aborda o lugar do adolescente: como este adolescente ocupa este lugar psíquico. A família, a turma, enfim os amigos ocupam um lugar de referência para o adolescente. Então, como ele está conseguindo se colocar ou se ver neste lugar?

E o terceiro capitulo, trata do lugar dos pais, como eles entendem essa adolescência dos filhos em suas vidas? Como é passar por essa mudança? O que implica neles a adolescência dos filhos? Traz, portanto, a importância do estabelecimento desse vínculo entre o adolescente e os pais numa relação de construção.

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CAPITULO I -

UM BREVE RESGATE HISTÓRICO SOBRE A

ADOLESCÊNCIA

Até o século XVIII, a adolescência foi confundida com a infância, e era entendida de diversas maneiras, como por exemplo, no latim utilizava-se pelos colégios, as palavras “puer e adolescens.” Sendo que em francês a palavra era

“enfant”. Era entendida como uma longa duração da infância, que provinha da

indiferença em relação aos fenômenos biológicos. A infância não era limitada pela puberdade, mas sim pelo fim da dependência. A essa categoria dava-se o nome de juventude, o que não é sinônimo do que chamamos atualmente de adolescência, pois se tratava de pessoas, que apesar de pouca idade, já exerciam funções sociais definidas. (Gutierra, 2003, p.26).

Segundo Gutierra (2003), a idéia de adolescência começou a ser pré-configurada no século XVIII por meio de duas personagens: na literatura o Querubim

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e no âmbito social o Conscrito2. O Querubim caracterizava-se pelo aspecto efeminado resultante da transcrição da criança em adulto, que traduzia na verdade o tempo do amor nascente. Entretanto esse aspecto não era considerado uma característica da adolescência, pois esses jovens agiam como homens feitos, comandando e combatendo. E a figura do Conscrito representava o embrião social da adolescência, no caso dos meninos através da valorização da força viril, típica do jovem, quando se tratava de recrutamento militar. A “juventude” agora relacionada ao que chamamos de adolescência passou a ser efetivamente um tema literário, preocupação de moralistas e políticos, capazes de reavivar a sociedade velha e esclerosa.

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A origem é do latin que significa anjo/um ser abençado trabalhador e prestativo, alguém que desde a infância já sabe o valor das coisas. Sempre pronta para oferecer ajuda mesmo sendo alguém muito ocupada.

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É um termo geral para qualquer trabalho involuntário requerido por uma autoridade estabelecida, mas ao que é mais frequentemente associado é ao serviço militar obrigatório, seria então convocado para o serviço militar.

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11 A consciência da juventude passou a ser fenômeno geral e banal principalmente após a Primeira Guerra Mundial, quando os combatentes da frente de batalha se opuseram em massa às velhas gerações da retaguarda. No século XVII a família não era configurada como a família moderna, pois conservava uma enorme sociabilidade. Enquanto que a atual família separa-se do mundo e da sociedade constituindo um grupo solitário de pais e filhos, formando o sentimento de intimidade e valorizando a casa e os dados de identificação pessoal. Percebe-se que as funções da familia dependiam do lugar que ela ocupava na organização social e na economia.

Nesta época as famílias eram numerosas e o que se valorizava era os cultos aos Deuses e a produção auto-suficiente para a sobrevivência enfim, suas funções eram inúmeras: não só na reprodução fisiológica, mas também na reprodução de costumes e valores, a preservação da saúde, da religião, o cuidado com os velhos e deficientes, a produção artesanal, bem como a profissionalização dos filhos. Com a redução da familia e com a entrada da industrialização, essas funções ficaram cada vez mais restritas, cabendo a ela a proteção e alguns aspectos da educação, pois várias funções foram excluídas, pelos meios de comunicação em massa.

Para pensar sobre a antiguidade e modernidade, em relação à mulher e a função paterna e suas influências para a familia, observamos que a mulher antigamente apenas administrava a casa, agora conquista espaço fora do ambiente doméstico e divide com o homem seu espaço no mercado de trabalho. A figura do pai é enfraquecida, e acentua-se um declínio da Função Paterna. A independência da mulher constitui novas formas parentais, ou seja, famílias isoladas ou descontinuas.

Aparecem então, pais cada vez mais ausentes, os filhos à mercê de fantasias e ansiedades, delegando a terceiros o cuidado que deveria estar a cargo dos parentais, sendo que a palavra e os significados que são indispensàveis no processo mental e simbólico, são repassados a babás num bombardeio de informações e imagens. Com isso a imagem de pai que fora sustentada por séculos,

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12 hoje pede para não desaparecer, e ocupa um lugar passivo que causa um mal-estar instalando-se na família e na sociedade, onde toda familia fica assujeitada a ordem simbólica. Portanto, este estado de passividade, de promessas de completude narcísicas que a modernidade nos apresenta é sem limites, por isso ficamos passivos e sem discurso próprio, repetindo.

É importante lembrar que dependendo do tipo de relações estabelecidas em cada tempo ou lugar, o sujeito desde o seu nascimento, recebe determinado tipo de educação e aprende a se comportar segundo as normas da sociedade a que pertence. Portanto, a familia influenciava no que as pessoas deviam dizer fazer ou pensar. O filho nascia, crescia e estava traçado o seu destino, não havia o laço social onde se permitia a tomada de decisão. É evidente que não estou dizendo que com isso não restava aos indivíduos liberdade alguma para reagir a essas influências. Apenas enfatizar que a educação dada pela família fornecia este “solo” a partir do qual, o homem pode agir ou se rebelar contra os valores recebidos.

Nesta sociedade tradicional o pai é a autoridade “O PATER-FAMÍLIA”. A fidelidade e a repetição são tomadas por esta sociedade como ideais a serem compartilhados, como normas. A tradição é uma sociedade com pequenas movimentações que não afetam a estrutura. Os ideais dos pais eram passados para os filhos com o objetivo de dar continuidade aos valores de cada família e a partir do momento em que o filho deste pai (tradicional), começa a pensar, e ter um olhar diferenciado, nasce um novo sujeito, alterando a sua subjetividade.

Dar-se então, uma auto-fundação, o que da início à Modernidade, o filho começa a pensar sobre sua forma de agir, de tomar atitudes e não mais segue à risca as normas da tradição. De acordo com Fleig, “autoconsciência e

autodeterminação são traços específicos do sujeito moderno enquanto razão que se submete ao próprio tribunal da razão” (FLEIG, 1993 p.5).

No final do feudalismo surge o sistema capitalista iniciando então a Modernidade, o saber está no homem e suas descobertas científicas. Há novos

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13 movimentos: políticos, filosóficos, culturais e religiosos. Cai por terra o saber do poder do pai, patriarcado. O conhecimento é concebido a todos. O senhor/escravo do feudalismo cede lugar ao capitalismo, segundo FLEIG, (1993):

A escravidão crescente ao mundo do objeto, a prevalência do objeto como valor determinante do social e da economia subjetiva é patente em nossos dias. (...) um dos impasses nodais da modernidade é a busca da sansão simbólica que legitimaria ao sujeito ocupar o lugar de gozo que lhe diga respeito. (...) em decorrência desta elasticidade do simbólico, enquanto registro do lugar de pertença e participação de cada sujeito, a definição do lugar de gozo a ser ocupado por cada um dentro de um tecido cultural, como momentos cruciais da própria constituição do sujeito, fica jogada no impasse entre se colar as imagens veiculadas pelos ideais de gozo.(p.7).

A nova fase da sociedade que surge a partir da Revolução Francesa (1789) com os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade marca a contemporaneidade. No período vivenciamos as conseqüências da passagem da Antiguidade/tradição para o mundo da ciência. Este sujeito que advém com a modernidade rompe com a relação instituída pela tradição.

Como enfatiza Jerusalisky (2004), a instauração do paradigma individualista na modernidade e o atravessamento do mundo infantil ao mundo adulto, e onde o ingresso nas redes de trocas sociais se complexificam com ideais preestabelecidos que sirvam de referência para os individuos. É neste conceito, portanto, que surge o conceito de adolescência e isso ocorre por volta do século XIX.

Segundo Guitierra (2003), o tempo da adolescência surge como fruto da modernidade, dos movimentos históricos e sociais, forçando por sua vez, alterações e transformações significativas na subjetividade. Pois esta é uma operação psíquica efetuada no interior de cada subjetividade, em equivalência aos processos simbólicos de “adultificação” presentes nas sociedades tradicionais. Então, uma operação psíquica, em tempos de crise, sendo que esta “crise” caracteriza “o

momento em que o sujeito não encontra o lugar de seu gozo”. Sendo que na

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14 passagem da infância para a idade adulta. E na falta destes dispositivos o sujeito teve que lidar solitariamente com a questão, não podendo senão adolescer. (p.29).

Adolescer3 é solicitar uma moratória para poder responder somente após um segundo crescimento ao apelo social. Na adolescência o que se põe é uma tarefa, cabendo a cada sujeito construir a sua. O “adolescer” é o substituto desta eficácia ritual perdida na modernidade, a resposta do jovem ao se separar com o real pubertário será adolescer, palavra de origem latim que significa “crescer”. O tempo da adolescência surge como fruto da modernidade, dos movimentos históricos e sociais, forçando por sua vez, alterações e transformações significativas na subjetividade. Tratando-se de uma operação psíquica efetuada no interior de cada subjetividade, em equivalência aos processos simbólicos de “adultificação” presentes nas sociedades tradicionais. Como a operação psíquica, tempo de crise – em que “crise” caracteriza “o momento em que o sujeito não encontra o lugar de seu gozo.” (p.29).

Segundo Jerusalisky (2004), o que acontece é que em nossa sociedade moderna, ao sair da infância, o sujeito se vê diante de um excesso pulsional para o qual não se encontra vias definidas para extravasar ou escoar esse excesso de forma que o encontro com o Outro sexo ou com o Outro da cultura se torne um problema, sendo assim o sujeito se submete a um intenso trabalho psíquico, caracterizando na adolescência.

Segundo Rappaport (1993), a adolescência, portanto, longe de ser puramente biológica ou social, é antes o produto de impacto pubertário e a intesificação de exigências sociais sobre o jovem em vias de deixar a infância, sob certas condições de cultura que caracterizam a civilização ocidental hoje, e a partir do estabelecimento de certas alterações na história dessa civilização que especificam a modernidade.

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15 Resumidadamente a adolescência veio ao mundo quando a passagem da criança ao adulto tornou-se problemática, em função da perda eficácia dos dispositIvos societários, que agiam de modo a enfrentar aquela problematicidade. Na falta destes dispositivos o sujeito teve de lidar solitariamente com a questão, não podendo senão adolescer. Adolescer é solicitar uma moratória para poder responder somente após um segundo crescimento ao apelo pubertário social. Na adolescência o que se põe é uma tarefa.

Pensando sobre as questões familiares e a sua história, refererindo-se a construção da história do sujeito ela não se dá simplesmente pelo seu passado e sim pela historiarização deste passado no presente. Trata-se, portanto, de uma construção simbólica. E como toda a história sempre existirá brechas “não-ditas”, situações silenciadas que possivelmente aparecerão na vida do sujeito como repetições ou sintomas. Ou seja, o sujeito estará atravessado pela sua história familiar, com suas sombras e fantasmas operando efeitos em sua subjetivação. Diante disto, destaca-se a agressividade como componente necessário para conseguir delinear-se diferenciar-se e elaborar os seus ideais narcísicos e conquistar uma maior autonomia.

Não podemos ignorar a participação da mídia na construção da concepção da adolescência, pois os meios de comunicação em massa, por exemplo, marcaram como um determinante importante na construção de vários significados sociais. Portanto, a moda teens invade as lojas, a dança de rua virou moda nas academias, o mundo atual cultua a adolescência. Os “grupos de pares” ou o “melhor amigo” fazem parte da dinâmica do adolescente á medida que, por meio deles, os jovens vivem a semelhança e a alteridade, possibilitando processos identificatórios essenciais para a constituição do novo adulto.

Com a modernidade o espaço do adolescente ao laço social se permite, este lugar é próprio, portanto discursivo. A cultura atual valoriza a autonomia, a liberdade, promovendo como ideal aquele que faz a exceção à norma. É isso que o

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16 adolescente, em sua tentativa de reconhecimento pelo Outro social, vai interpretar do discurso da sociedade e vai tentar realizar com seu comportamento aberrante. A adolescência, então, carrega em si a obrigatoriedade da realização do ideal recalcado pelo adulto, ou seja, o ideal de autonomia, de liberdade e de ausência de regras.

Calligaris (2009) faz uma leitura do social na adolescência a partir do referencial psicanalítico, a respeito da adolescência na modernidade como uma forma de interpretar o adulto: “(...) A adolescência, assume assim a tarefa de

interpretar o desejo inconsciente (ou simplesmente escondido, esquecido) dos adultos.” (p.26).

O adolescente, segundo ele, é aquele que “interpreta” e realiza o desejo inconsciente do adulto moderno. Ao adolescente é permitida a vivência de um prazer pleno marcado pela ausência dos limites aos quais os adultos tiveram de se submeter. Apesar das exigências ao jovem de que se submeta às regras e limites sociais nas entrelinhas o que se deseja é a realização daquilo que o adulto foi impedido de concretizar. A mensagem subliminar transmitida ao jovem é: “Faça o que eu desejo não o que eu peço.”

No entanto para nossa cultura Ocidental, a felicidade está muito atrelada à juventude. Sendo assim, os conflitos internos dessa geração não precisam ser levados em conta. Ele é jovem e isso basta. Tem obrigação de ser feliz. Pelo olhar dos adultos, principalmente daqueles mais saudosistas, é como se a adolescência fosse o passaporte para a mais plena felicidade. Muitos querem resgatar nos adolescentes os seus sonhos frustrados, perdidos, ou quem sabe, aqueles que por covardia, foram deixados de lado?

Sendo assim, a sociedade moderna capitalista, nos mostra o homem caracterizado pela ambição, individualidade, rebeldia e questionamentos. E a Função Paterna? O Sujeito moderno se afirma quando recalca os princípios da tradição, porque lá não havia conflitos, tudo era metodicamente organizado. Na

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17 contemporaneidade há crises subjetivas. Há um sujeito livre e moderno. Para FLEIG, (1993):

Certamente que uma transformação importante em termos de história diz respeito ao que se chama de modernidade e tem como eixo central nessa transformação o surgimento da prevalência do Eu, como ocorre na fundação que Descartes vai fazer dos saberes baseado no cogito, “ergo sum” (penso logo existo) que demarca um novo lugar de fundação que não é mais a autoridade, nem a divindade, nem a tradição, mas sim, a subjetividade... que vai significar a prevalência do ideal de autonomia. (p.03)

É importante observar, que nas mudanças sociais que ocorreram com a modernidade, a família ocupa um lugar de grande importância, pois ela reflete modelos, ela precisa estar preparada para lidar com as contradições sociais. Ou seja, com realidades diferentes deste âmbito familiar, a fim de oportunizar ao adolescente, o tempo e o espaço necessário para que ele consiga definir o “seu lugar”. A vida familiar diferencia-se e distancia-se da vida social e o processo adolescente começa a delimitar-se neste tempo em que o jovem terá de sair do meio familiar e escolar para ingressar na sociedade mais ampla e na vida profissional. Então a puberdade passa a ser elaborada pela própria subjetividade. E as mudanças físicas não tinham um lugar tão privilegiado, pois eram representadas pelo meio social, e pelo material simbólico da comunidade tradicional. Enfim a cultura individualista que preza a autonomia e o sucesso profissional, que cultua a independência e a juventude, fomenta a esse sujeito a transgressão como meio de reconhecimento.

A adolescência é um mito criado no começo do século 20 e que se fortaleceu após a Segunda Grande Guerra. Portanto nestes tempos modernos, o que permite a um adolescente atravessar esse momento de sua história subjetiva sem a angústia que o invade? O que do real assola o corpo em todas as mudanças que neste tempo se apresentam? O que escutar da parte dos adolescentes nestes tempos modernos, os quais permitem tantos “diagnósticos”, como: depressões, distúrbios alimentares, drogas, etc, sem que isto seja visto como efeito esperado do luto a ser feito aí? Será que podemos sustentar com rigor, a suposição de que a

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18 estrutura de nossa modernidade facilita o aparecimento de casos de melancolia em adolescentes, disfarçados sobre os véus do luto no adolescente?

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CAPITULO II – A ADOLESCÊNCIA NO CAMPO DA PSICANÁLISE

“A adolescência é um tempo ao qual as crianças almejam chegar, ao qual os adultos sonham em voltar e do qual os adolescentes só querem sair.”

(Alfredo Jerusalisky)

A adolescência constitui-se em uma vivência fundamental na constituição identitária, permeada por mudanças, remodelamentos subjetivos, ressignificações de diversas ordens. O adolescente necessita reeditar sentimentos e vínculos primários em relação às figuras parentais, revisando assim, seus objetivos internos e sua identidade. É como se o adolescente tivesse perdido uma casca e ainda não houvesse reconstruído a outra, o que o torna muito vulnerável do ponto de vista psíquico, uma vez que o sujeito é interpelado pela cultura a ocupar um lugar de reconhecimento fora do contexto familiar. Portanto, se faz necessário o adolescente fazer um luto dos pais idealizados da infância para assumir a sua identidade que lhe dá condições de posicionar-se subjetivamente.

Para falar sobre um sujeito em sua adolescência, primeiramente precisamos falar sobre a imagem do corpo estabelecida no estádio do espelho4 e sobre o narcisismo5. “(...) Esta concepção do “estádio do espelho” encontra seus

antecedentes na concepção freudiana, no narcisismo primário, correspondente ao início da vida, onde existem apenas as pulsões auto-eróticas.” (Rappaport, 1993,

p.14).

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Expressão cunhada por Jacques Lacan, em 1936 para designar um momento psíquico e ontológico da evolução humana, situada entre os primeiros seis e dezoito meses de vida, durante o qual a criança antecipa o domínio sobre sua unidade corporal através de uma identificação com a imagem do semelhante e da percepção de sua própria imagem num espelho (Dicionário de psicanálise, p.194).

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O narcisismo é o encantamento e a paixão que sentimos por nossa própria imagem ou por nós mesmos, porque não conseguimos diferenciar um do outro. Narcisismo, em psicanálise, representa um modo particular de relação com a sexualidade. É um conceito crucial no seu desenvolvimento teórico. O narcisismo é um protetor do psiquismo e um integrador da imagem corporal, ele investe o corpo e lhe dá dimensões, proporções e a possibilidade de uma identidade, de um Eu.

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20 Por meio desse investimento externo sobre o psiquismo vai ser instaurado (no psiquismo primário) um estado precoce em que a criança investe toda sua libido em si mesma. O pequeno sujeito vai passar não só a ser alimentado por uma imagem ao mesmo tempo integrada e de perfeição, mas também vai poder, a partir daí definir-se, identificar-se e reconhecer-se. Essa imagem de cumpletude como o “eu ideal6” é uma relação de amor consigo mesmo e à medida que se constitui essa imagem de si mesmo esta vai ser defendida como uma necessidade de satisfação narcísica, que se transformará em uma demanda: demanda de ser objeto de amor de um Outro. E o narcisismo secundário, definido por Freud, é um estado de regressão, ou seja, quando há retorno ao ego da libido retirada dos seus investimentos objetais.

No estádio do espelho, o eu constrói-se à imagem do semelhante e primeiramente da imagem que me é devolvida pelo espelho, “este sou eu”. O olhar do outro devolve a imagem do que eu sou. O bebê olha para a mãe buscando a aprovação do Outro simbólico. A idéia é que o bebê só conseguirá encontrar uma solução para tal estado de desamparo por intermédio de uma “precipitação” pela qual ele “antecipará” o amadurecimento de seu próprio corpo, graças ao fato de que ele se projeta na imagem do Outro (figura materna).

O bebê, antes do “Estádio do Espelho” (6 meses a 18 meses), não se vê como um corpo unificado, se sente como um corpo fragmentado. Sua mãe/seio faz parte dele e ela sente como se ele (filho/falo) fosse parte dela. Com o princípio prazer/desprazer verificamos que a energia é maior no desprazer, o bebê busca o prazer através do seio materno (leite e libido oral). Porém só quando o bebê perde o objeto do seu desejo (mãe/seio) é que ele verifica que sua mãe não faz parte do seu corpo e não é completa. Esta perda/separação vem através do “Significante Nome

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É uma relação de amor consigo mesmo. Na medida em que se constitui essa imagem de si mesmo, esta vai ser cultivada e defendida como uma necessidade de satisfação narcísica, que se transformará em uma demanda: demanda de ser um objeto de amor de um Outro.

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21 do Pai7” que incluem as leis e limitações naturais da vida (trabalho, individualidade, necessidades outras, etc.).

Durante a infância os pais representam-se para a criança verdadeiros Deuses, figuras ideais. É um processo necessário essa alienação ao Outro encarnado nas figuras parentais ou pessoas que exercem essa função. A figura desse Pai Ideal vai, no processo adolescente, ser destronada desse lugar. Além da perda dessa figura ideal, para o adolescente o real do corpo e do sexo se impõe trazendo profundas mudanças frente às quais ele não tem nenhum poder. Diante desse desamparo e dessas perdas, algo precisa ser colocado no lugar. É nesse momento que as crises adolescentes irrompem tomando as mais diferentes formas.

O final do estádio do espelho é marcado pela mediatização do desejo do Outro e no que diz respeito ao sujeito sexual no complexo de Édipo8. Portanto, podemos pensar que na infância o endereço das produções subjetivas é situado nos pais ou em seus substitutos. Nesse sentido a adolescência inicia a partir de encerramento do período denominado por Freud de latência.9. Para o adolescente esta momento é conflitante, pois é onde ele necessita perder, ou seja, fazer o luto dos objetos infantis para investir em novos objetos, então ele precisa elaborar este luto para novos investimentos. Tal mudança de endereço caracterizará a chamada passagem adolescente, em que o sujeito deixa a posição infantil e os laços familiares para se voltar, em outra posição, aos laços pelos quais ele procura inserir-se no social a sua atividade pulsional. O início da adolescência inserir-será marcado pela necessidade de uma afirmação própria do sujeito, pela qual ele responderá ao apelo de deixar a latência e a se inserir, desde uma posição sexuada, nos laços sociais. Assim, o fator desencadeador da adolescência não está na biologia, mas na

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O pai exerce uma função essencialmente simbólica; ele nomeia, dá seu nome, e através desse ato, encarna a lei. Sendo que a função paterna não é outra coisa senão o exercício de uma nomeação, que permite a criança adquirir sua identidade.

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O complexo de Édipo é ao mesmo tempo normativo e “patológico”. Normativo porque todos passam, vivenciam, experenciam de forma singular. E patológico porque neurotiza. Sendo que a forma como se desenvolve o Complexo de Édipo e o Complexo de Castração é fundamental para a constituição as estrutura do sujeito.

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Período que vai do declíneo da sexualidade infantil, até o início da puberdade. Segundo a psicanálise este período tem origem no declíneo do Complexo de Édipo.

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22 disposição do sujeito a se encontrar com um olhar capaz de apressar a determinação de sua atividade pulsional.

Em "Introdução ao Narcisismo", (1914) Freud escrevendo sobre a relação pais/filhos, destaca a posição dos pais na constituição do narcisismo primário dos

filhos, ele vai dizer que estes últimos são investidos narcisicamente pelos primeiros,

isto é, pelos pais. Os pais se vêem nesses filhos; eles são o seu prolongamento, serão aqueles que realizarão seus sonhos, terão todas as coisas que eles, pais, não puderam alcançar. O amor dos pais aos filhos é o narcisismo dos pais renascido e transformado em amor objetal, portanto o narcisismo primário representaria de certa forma, uma espécie de onipotência que se cria no encontro entre o narcisismo nascente do bebê e o narcisismo renascente dos pais. Escreve Freud: "No ponto

mais sensível do sistema narcisista a segurança é alcançada por meio do refúgio na criança. O amor dos pais nada mais é senão o narcisismo dos pais renascido.”. (p.98). Este, portanto, é o primeiro modo de satisfação da libido seria o auto-erotismo conceituado como o prazer que o órgão retira de si mesmo; essas pulsões,

de forma independente, procuram cada qual por si, sua satisfação no próprio corpo. Nesse período, ainda não existe uma unidade comparável ao eu, nem uma real diferenciação do mundo.

No caso do narcisismo secundário há dois momentos: primeiro o investimento nos objetos; e depois esse investimento retorna para o seu ego. Quando o bebê já é capaz de diferenciar seu próprio corpo do mundo externo, ele identifica suas necessidades e quem ou o que as satisfaz; o sujeito concentra em um objeto suas pulsões sexuais parciais, há um investimento objetal, que em geral se dirige para a mãe e o seio como objeto parcial. Com o tempo, a criança vai percebendo que ela não é o único desejo da mãe, que ela não é tudo para ela. Essa é a ferida infligida no narcisismo primário da criança. A partir daí, o objetivo consistirá em fazer-se amar pelo Outro, em agradá-lo para reconquistar o seu amor; mas isso só pode ser feito através da satisfação de certas exigências; a do ideal do seu eu.

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23 A escolha objetal narcísica é segundo Freud, amar a si mesmo através de semelhante; e todo amor objetal comporta uma parcela de narcisismo. O eu representa um reflexo do objeto. O ideal sexual tem uma relação auxiliar com o ideal de ego. Pode ser empregada para satisfação substituta, onde a satisfação narcisista encontra reais entraves. A pessoa amará segundo o tipo narcisista de escolha objetal, (Freud, 1914). Mas é importante sublinhar que essa imagem amada é sexualmente investida. O narcisismo secundário é o investimento libidinal da imagem do eu, e essa imagem é constituída pelas identificações do eu com as imagens dos objetos.

Antes da introdução do conceito de narcisismo em 1914, o eu (ego) era compreendido como massa ideacional consciente cujo principal objetivo é conservar a vida e reunir o conjunto de forças que, no psiquismo, se opõe a sexualidade. O eu (ego) é responsável pelo processo de recalcamento do representante ideativo do impulso sexual, e constitui-se como a sede das pulsões10 de auto-conservação11.

Em Lacan, o estágio do espelho não é apenas um momento no desenvolvimento do ser humano; é uma estrutura, um modelo de vínculo que operará durante toda a vida. O espelho situa a instância do eu, ainda antes de sua determinação social, em uma linha de ficção. O Eu aí constituído é o ego ideal, diferente do ideal de ego. O ego ideal é uma imago antecipatória prévia, o que o sujeito não é mas deseja ser. É uma imagem mítica, narcisista, incessantemente perseguida pelo homem. O ideal do ego surge da inclusão do sujeito no registro simbólico. O estágio do espelho traz a reflexão sobre a intersubjetividade humana. O olhar do Outro produz no sujeito sua identidade, por reflexo. Através do olhar do Outro, o sujeito sabe quem ele é, e nesse jogo narcisista, se constitui a partir de fora.

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A finalidade da pulsão é sempre a satisfação, sendo que a satisfação é definida como a redução da tensão provocada pela pressão. Freud (1915) fala que as pulsões podem ser inibidas em sua finalidade, mas mesmo nesses mecanismos há uma satisfação substitutiva, parcial.

11

Freud também chama as pulsões de autoconservação de pulsões do eu (ou pulsões do ego). Pulsões do eu, portanto, são pulsões que visam à conservação de si mesmo, e não à reprodução.

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24 Para Rassial (1999), a adolescência é uma reedição da fase do espelho, é um tempo de consolidação de sentimentos, colocando o adolescente frente a necessidade de recapitular o conjunto de suas identificações para acessar a própria identidade. Neste período se identificam as aspirações sociais através da busca de novos pares e a construção de ideais, quando os laços sociais são estabelecidos pelo compartilhar com o grupo social. Há uma necessidade de ordenamento das identificações infantis, na passagem da criança a adulto, levando o adolescente a rupturas infantis e isto pode acabar fragilizando-a e a sua imagem. A adolescência surge então como um tempo de intervalo, que provoca uma crise de identidade não somente nos adolescentes, mas também nos pais.

As modificações na imagem do corpo decorrentes da puberdade fisiológica são sempre vivenciadas com impacto, quando não como uma catástrofe. E este impacto incide sobre a imagem do corpo estabelecida no estádio do espelho. “Esta

imagem é uma matriz, um primeiro momento de constituição do sujeito (entre os seis e os dezoito meses de idade, aproximadamente) quando a criança recolhece a sua imagem no espelho.” (Rappaport, 1993. p.12). Esta imagem especular mostra o

próprio corpo em sua totalidade.

Na adolescência o luto ocorre relacionado à perda deste corpo infantil, mesmo que o amadureciemento lhe traga vantagens, como maior liberdade a ele cabe buscar mais espaços, além do familiar, onde possa afirmar a sua singularidade. Esse luto é o trabalho tanto da relativação das imagos infantis, como da aceitação de experiências de dúvida, falta e solidão.

O interesse de abordar esse tema surge na própria conflitiva adolescente, segundo Freud, de substituir sua escolha de objeto original os pais da infância para a sua própria sexualidade. Se trata de uma reação frente à perda de um ente querido. É um trabalho intrapsíquico, pois é uma perda de interesse do mundo exterior, ocorre um super investimento das lembranças ligadas ao objeto perdido havendo um desligamento progressivo delas. A realidade vai se colocando aos poucos e de forma fragmentada, até se concluir o trabalho.

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25 Essa passagem opera uma mudança radical no direcionamento da libido e este direcionamento aponta para a direção do saber. Na adolescência há a demanda primordial de uma nova unificação, em função da imagem corporal que se modifica, produzindo também um novo lugar para os pais. Torna-se imprescindivel que a libido retorne ao eu, o que faz do seu corpo um lugar narcísico ideal para efetuar novas experimentações. Assim, o retorno ao narcisismo se torna não só necessário, mas fundamental.

A adolescência é o momento que o sujeito, sob o olhar do Outro, deve apropriar-se de uma imagem do corpo transformada. Na adolescência esta imagem esta afetada pelos seus atributos e funções (pêlos, seios, mudança de voz, menstruação), pela semelhança do corpo do adulto, no caso pelo outro do mesmo sexo e a importância do olhar deste Outro.

Segundo Rassial, (1999):

(...) não se trata apenas de um reajuste, mesmo difícil, da imagem na adolescência, mas sim de uma modificação do valor mesmo do corpo, tal qual funcionava para a infância: o portador do olhar, privilegiado, não mais um dos pais, mas um semelhante cujo desejo está ele mesmo engajado. (p.19).

Considerando a afirmação de Rassial, podemos observar que, na adolescência o jovem deve transformar esta imagem de si mesmo, pois é chamado a responder de outro lugar em função da transformação do olhar do Outro diante das modificações pubertárias. Os jovens expressam claramente esta passagem e esse questionamento sobre o próprio lugar diante da demanda do adulto, quando reclamam dizendo: “Para algumas coisas sou adulto e para outras sou criança? Falta apenas completar: “O que vocês querem de mim?”

Como exemplo, podemos perceber que a timidez é uma referência que surge, e para muitos adolescentes é motivo de sofrimento. Entendendo que este sentimento tem a ver com o trabalho que este sujeito está fazendo na construção do

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26 seu eu, na construção de sua identidade. Esse processo também pode ser observado por isolamentos ou por excesso de atividades. Sendo que isso pode ser compreendido também como uma forma de lidar com seus medos e inseguranças. E muitas vezes encontram alívio temporário com seu grupo ou um amigo mais próximo, estar entre os iguais funciona como uma fonte de identificação e também de diminuição da angústia que permeia o processo de amadurecimento.

Assim, na adolescência desmorona-se a consciência parental imaginária do Outro, e a imagem corporal é modificada. É intensa a preocupação com o corpo demonstrada pelo adolescente. O corpo apresenta-se como um desconhecido que interroga e interpela o sujeito. Podem ficar horas em frente ao espelho, verificando sua imagem, pois não é mais aquela infantil. Antes o valor era atribuído pelos pais, agora na adolescência esse valor advirá do Outro sexo e do Outro social. É o que Rassial (1999) afirma:

O sujeito deve agora se apropriar da identificação especular que sustentava seu ser no olhar e na voz do Outro, antes de dar de novo ao Outro uma nova consciência: se o Outro do lactente deve ser referido á mãe e o Outro do Édipo, aos pais, o outro do adolescente esta imaginariamente ligado ao Outro sexo. (p.49).

A adolescência é um tempo em que uma montagem é desarrumada, onde a interrogação sobre o ser é reavivada e o alicerce especular deixa aparecer suas fraquezas. Devido ao desmoronamento da consistência parental imaginária do Outro e à modificação da imagem do corpo, a identificação especular vacila, devendo ser reformulada, a partir de uma posição nova, onde o Outro e o objeto têm um novo valor psíquico. Por um lado, esta apropriação explica os conflitos entre o adolescente e seus pais: a imagem que ele lhes “dá”, o tom que ele “toma” para se dirigir a eles perturbam o que a infância havia organizado do laço familiar. “Olhe para você”, “Escute-se” estas censuras que, às vezes, os adultos lançam ao adolescente traduzem bem, involuntariamente, o que está em jogo.

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27 Trata-se, então, da apropriação, pelo adolescente, do sintoma que ele era no desejo12 dos pais, agora que ele deve enfrentar sua própria responsabilidade sexual. Entende-se que ele possa ficar paralisado diante desta tarefa: é toda a aposta da adolescência, enquanto processo. É por isso que a puberdade pode ser vivida por alguns adolescentes como uma doença.

O momento é, então, de desconfiança em relação ao mundo adulto, mas também de tentativa de inscrição e de busca de algo que possa funcionar como semblante daquela “segurança” da infância. Há uma desconfiança a partir dessas transformações que denominamos estruturais no campo dos três registros. (...) “nesse tempo, entre o passado, entre a infância e a maturidade, o sujeito deve

realizar um trabalho psíquico que envolve os três registros13:

Real- ao lidar com a puberdade não simbolizada e com a “não relação

sexual” que “não cessa de não se escrever”.

Simbólico – ressituar-se frente á filiação e á cadeia significante,

construindo novos Nomes-do-pai e fazendo novos laços sociais;

Imaginário – modificação do estatuto e do valor do corpo num

aprés-coup14 do estádio do espelho.” (Gutierra, 2003, p.72).

Verefica-se nesse tempo da adolescência, que envolve os três registros (RSI), um momento de “amarração”, que implica a ele situar-se como sujeito, respondendo conforme o seu próprio desejo, assumindo assim uma nomeação própria.

A partir dessas transformações, que denominamos estruturais, é possível refletir brevemente sobre alguns aspectos marcantes da adolescência na

12

Tanto para Freud como para Lacan, o desejo inconsciente leva a recuperar um objeto de fato fundamentalmente perdido e incestuoso.

13

Real, simbólico e imaginário.

14

O après-coup é uma questão de tempo. Não se pode isolá-lo de uma concepção psicanalítica mais ampla da temporalidade. Insere-se num conjunto do qual a afirmação freudiana da atemporalidade do inconsciente é a formulação mais original. No entanto, as formas da inscrição psíquica do sujeito humano no tempo interpelam tanto a teoria analítica quanto sua prática.

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28 modernidade. Por exemplo: os “grupos de pares” ou o “melhor amigo” fazem parte da dinâmica do adolescente à medida que, por meio deles, os jovens vivem a semelhança e a alteridade, possibilitando processos identificatórios essenciais para a constituição do novo adulto.

Segundo Rappaport (1993):

As categorias lacanianas do simbólico, do real e do imaginário, apresentam um recorte da realidade humana diferente daquele que busca a pureza empírica dos seus constituintes elementares. Seu recorte é antes lógico e topológico. O que sobrevem ao sujeito desde o “exterior”, advirá do real ou simbólico, conforme apresente estes ou aqueles atributos em um ou outros destes campos. O “exterior” aqui evocado nada tem a ver com a diferença entre o endógeno e o exógeno, apenas é “exterior” -com aspas- diante do imaginário da subjetividade que o vê. (p. 34)

O mundo da “exterioridade15,” instaurado como “realidade” pela função imaginária do eu, mesmo este, por mais intuitivamente construído que seja é recortado por territórios mais genuínos para a condição humana do que aquele obtido da distinção entre o biológico e o sociológico. Tendo seu regime de funcionamento próprio, o Campo do Outro, recortado pelo real e pelo simbólico, e imaginariamente reduplicado pelo sujeito enquanto realidade deve agora, ser concebido também com aquilo de onde vem ao sujeito a demanda em resposta a qual o adolescer se produz.

Então a adolescência pode se repensada como uma reprodução subjetiva, provocada por algo do real do campo do Outro, enquanto tentativa de simbolização do que houve de brutal nesse encontro com o real para o jovem púbere.

Segundo Blos, (1998):

Voltemos à primeira idéia de que na adolescência inicial ocorre uma decatexia dos objetos amorosos familiares, com uma consequente

15

A “exterioridade” é chamada por Lacan de o “Campo do Outro” – campo tanto do desejo quanto do mundo em meio ao qual circula o sujeito -, de onde o que advém ao homem se inscreve como demanda do Outro (seu semelhante).

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29 busca de novos objetos. O jovem adolescente volta-se para o “amigo”. Na verdade o amigo adquire uma importância até então desconhecida, e uma significação tanto para o menino como para a menina. A escolha objetal da adolescência inicial segue o modelo narcisista. Nessa idade, o amigo é diferente do companheiro de aventuras da pre-adolescência, entre os meninos, ou da companheira de segredos cochichados entre as meninas. (p.104) Logo, o adolescente vai experimentar as possibilidades de seu corpo em alguma atividade e se colocar como objeto de desejo do Outro, ou seja, trata-se do retorno do narcisismo. Ele vive frequentes dramas amorosos, se apaixona por alguém impossível ou por alguém bem próximo, ou até mesmo, a troca incessante de pares o que podemos chamar de “ficar”, que não exige envolvimento afetivo. A explicação para este comportamento é que: “(...) na adolescência um busca no outro

um ideal narcísico, e daí as grandes e intensas paixões e as trágicas desilusões.” (RAPPAPORT, 1993, p. 21)

As mudanças coporais vão dando formas distintas nos meninos e nas meninas, as meninas vão assemelhando-se a padrões de beleza valorizados pelo social, e buscam a todo momento esta confirmação. A menstrução evidencia a modificação corporal dirigida ao olhar materno. Segundo Rappaport, (1993):

A garota irá afirmar sua existência pela renuncia fálica, isto é, irá se definir, pelo que não tem, em ralação a função simbólica de significante mestre do phallus, função que funde o sujeito como assugeitado à fala e à falta. Será uma nova confrontação com a castração simbólica, já imposta na infância, mas agora com um corpo capaz de consumar a relação sexual (p.20).

A insegurança torna-se um traço próprio do adolescente, pois este passa a enxergar uma série de exigências sociais contraditórias, como o imperativo e se tornar independente. Mesmo que lhe digam não estar preparado, já tem maturação sexual, todavia não pode assumir um relacionamento. (...) “o adolescente não

precisa de muito esforço, pois a cultura popular também idealiza a própria adolescência rebelde.” (Calligaris, 2009, p.28).

A crise adolescente não se dará somente do lado desse sujeito que sai de um período de latência e se vê frente a tantas mudanças e perdas. A crise se instala

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30 também no meio da família e atinge principalmente os pais ou os que exercem essa função, que são reenviados a seus próprios questionamentos, à suas perdas. Se há crise de adolescência... há também crise dos pais. Os pais revivem certas forças pulsionais recalcadas, ao mesmo tempo que devem fazer um importante trabalho de luto. Portanto, os pais entram também no luto, o que veremos no próximo capítulo deste trabalho.

Portanto, esse luto,16 a que me refiro na adolescência, ocorre no inconsciente17, estando relacionado à perda deste corpo infantil. Então é importante que o adolescente busque novos espaços além do familiar, onde possa afirmar a sua singularidade.

Segundo Aberastury, (1981) pode-se observar na adolescência a elaboração de três lutos fundamentais: o luto pelo corpo infantil, o luto pela identidade e pelo papel infantil, e luto pelos pais da infância. Nesse primeiro luto, ele vive um momento de perda do seu corpo infantil com um psiquismo ainda na infância e com um corpo que vai se tornando adulto. Já o luto pela identidade e pelo papel infantil traz uma certa confusão de papéis, pois ao não poder manter a dependência infantil e ao não poder assumir a independência adulta, o sujeito sofre então um fracasso de personificação. O pensamento, então, começa a funcionar de acordo com as características grupais que lhe permitem uma certa estabilidade e apoio, onde o sujeito delega, no grupo, grande parte de seus atributos e nos pais, a maioria das obrigações e responsabilidades. No luto pelos pais da infância, esta relação de dependência vai sendo abandonada paulatinamente e com dificuldade. Normalmente, o adolescente vai aceitando as perdas do seu corpo infantil, e de seu papel infantil, e ao mesmo tempo em que vai mudando a imagem de seus pais infantis, substituindo-a pela de seus pais atuais, num terceiro processo de luto.

16

Portanto, pode-se observar que o abandono (ou desistência) do investimento libidinal - direcionado a objetos exteriores ao indivíduo. A causa desta perda de interesse pela vida -originada pela falta de investimento libidinal por objetos exteriores ao indivíduo é bem conhecida no luto, estando diretamente associada a perdas que provocam um corte no investimento libidinal do indivíduo.

17

Na primeira tópica, caracteriza o lugar dos conceitos recalcados, aos quais são recusadas as representações de palavras. Na segunda tópica, caracteriza o estado do isso, e em certa medida, o eu e o supereu.

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31 Então, a adolescência “normal” necessariamente implicaria nos três lutos (pelo corpo infantil perdido, pelo papel e identidade infantil, pelos pais da infância e pela bisexualidade infantil) Assim, caracteriza-se uma dinâmica de desestruturações e reestruturações no psiquismo, na busca de auto-afirmação e consolidação de uma identidade, tanto por parte dos pais quanto dos filhos.

Na infância a criança se sente amada, protegida, querida. Quando entra na adolescência constata que de certa forma, perdeu a atenção que até então tinha sido voltada para ela. A sensação é que de agora em diante será lançado a um mundo novo e "sozinho", até descobrir os seus iguais. Num primeiro momento, precisa aprender a lidar com as mudanças físicas, que em alguns casos são alvo de piadas, apelidos, etc. Depois, tenta olhar para dentro de si e aprendera lidar com um mundo novo e desconhecido, que embora seja cobrado, pressionado e "exaltado" nem os próprios adultos saber lidar.

Agora, ainda que não queira, é hora de crescer, e para isso será necessário renunciar à segurança de amor incondicional de outrora. Por conseqüência, ele não é mais nada, nem criança amada, nem adulto reconhecido. Entre a criança que se foi e o adulto que ainda não chega, o espelho do adolescente é freqüentemente vazio. Podemos entender então como essa época da vida possa ser campeã em fragilidade de auto-estima, depressão e tentativas de suicídio. O adolescente vive a falta do olhar apaixonado que ele merecia quando criança e a falta de palavras que o admitam como par na sociedade dos adultos. A insegurança se torna assim o traço próprio da adolescência.

A adolescência também é um tempo de retomada do narcisismo, em função do abalo sofrido pela perda da imagem corporal infantil. A estabilidade oferecida pelos pais da infância é rompida. Portanto, o adolescente necessita rever um conjunto de identificações18. É o momento em que o sujeito, sob o olhar do Outro,

18

A identificação pode proceder ou substituir a “escolha do objeto”. A psicanálise responde: do processo a que chamamos identificação. E este processo de identificação resulta na constituição, dentro de cada um de nós, de um eu, isto é, de uma parte nossa que vai nos parecer a única, porque é apenas dela que temos consciência.

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32 apropria-se de uma imagem de corpo transformada, pois ele está lidando com a perda dos pais da infância, e também com o luto da perda da identidade infantil, para acessar a própria identidade. Neste momento ele é chamado a responder de outro lugar. A adolescência parece nos falar deste mal-estar, que tem sua origem na resolução de seus desejos edípicos incestuosos, em prol da vivência em coletividade e da busca de seus ideais.

É um momento determinante na estruturação psíquica. O adolescente deve elaborar um processo de reconstituição de sua imagem corporal, sendo que esta transformação do estatuto e do valor do corpo na adolescência, Rassial nomeia como um aprés-coup do estádio do espelho. Trata-se de um segundo tempo no processo identificatório do sujeito, pois o primeiro está situado nos processos envolvidos no estádio de espelho. Outra mudança vivida pelo púbere relaciona-se à libido, ou seja, a energia correspondente aos processos e transformações que ocorrem no âmbito da sexualidade. O substituto psíquico desta libido é nomeado libido do ego. Assim, se o processo da puberdade pressupõe a eleição de um objeto alheio ao primado da genitalidade, isso implicará na transformação da libido narcísica em libido de objeto. Essa escolha do objeto sexual alheio exige um trabalho psíquico do jovem, pois implica no abandono dos pais da infância.

Sendo assim, a adolescência será um momento de conclusão, de “amarração” que implica na assunção do sexo e em finalmente situar-se como sujeito, respondendo conforme o próprio desejo, assumindo uma nomeação própria.

Nesse contexto, questiono também o comportamento de alguns pais, que para não "perder" a criança que tanto amam e controlam, tendem a aprisioná-la numa redoma invisível, impedindo-o de tomar decisões e fazer as suas próprias escolhas. Tratarão este adolescente, jovem e depois adulto eternamente como criança, impedindo-o de crescer e dar os seus próprios vôos.

O adolescente deve convencer não apenas a seus pais que ele agora é diferente de quando era criança, mas para si mesmo. Cabe aos pais ouví-los, atendê-los e proporcionar este tempo psíquico de que ele necessita. Pois o

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33 adolescente não abandonará seus pais, ele apenas quer um tempo e espaço para elaborar as suas perdas e lutos. E seus pais continuam sendo esse genitor onde possam se identificar e que servirá de modelo para sua vida adulta.

Fica claro o quanto o processo do adolescente apresenta-se como conflitivas e angústias específicas do momento, as quais necessitam ser “metabolizadas” pelo adolescente e sua família. Faz-se fundamental, portanto, ressignificar os lugares e papéis até então ocupados, reformular-se subjetivamente para que possa adquirir uma identidade própria, condizente com seu desejo, e não alienada ou subordinada às figuras parentais. Assim como os pais, ao se defrontarem com a adolescência dos filhos precisam ressignificar a sua passagem por essa etapa e elaborar suas angústias, como veremos no próximo capítulo.

Cabe a sociedade não esquecer que o adolescente está em processo de mutação, porém necessitando de ideais, entendendo a adolescência como um tempo em que não há garantias, com uma intensa procura por seu lugar próprio. Cabe aos pais mostrar esse universo do adulto, inclusive com suas imperfeições. O que é processo difícil, porque exige não somente a tolerância, mas certa abertura que para os pais coloquem a sua própria identidade em questão.

(34)

34

CAPITULO III - O LUGAR DOS PAIS

“(...) não é a mesma coisa ser pai e mãe de uma criança e tornar-se pai e mãe de um adulto...(Rassial, p.75).

A adolescência surge como um tempo de construção, que provoca crises de identidade, não somente nos adolescentes, mas também nos pais. Porque os pais já não são mais aqueles pais perfeitos, como os da infância, pois perdem esse lugar que tinham e neste momento se questionam quanto ao seu novo lugar.

Para os pais trata-se de um processo semelhante ao que o adolescente passa, pois é um momento angustiante e confuso também a eles, já que necessariamente vão se deparar com questões referentes à separação, diferenciação, alteração de lugares e papéis na dinâmica familiar, além de inevitáveis frustrações decorrentes do crescimento e das escolhas dos filhos. Sabe-se que os pais também precisam promover elaborações psíquicas complexas, já que o crescimento dos filhos reativa sua própria história, fazendo-se necessária a ressignificação de suas próprias adolescências.

O adolescente é reconhecido, como aquela “pessoa problemática”, em constante conflito com todos e consigo, além de ambivalente19. Essas características tão difundidas cotidianamente são realizadas mediante observações do senso comum. Contudo, é importante observar que essas afirmações nem sempre correspondem ao que de fato vem caracterizar o mundo adolescente. No social, os adolescentes buscam meios para se ajustar, encontrando dificuldades, pois estão num momento de reorganização de suas identificações e estas se apresentam incertas, uma vez que uma das características da sociedade contemporânea é esse enfraquecimento nos referenciais.

19

Presença simultânea em relação ao mesmo objeto de tendências, atitudes e sentimentos conflitantes, especialmente o amor e o ódio.

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35 Diante disso, destaca-se a importância da agressividade como componente necessário, para conseguir desalienar-se, diferenciar-se e elaborar os ideais narcísicos deles e de seus pais e com isso, conquistar uma maior autonomia. Observa-se assim a importância de uma reorganização e reconstrução desta historicidade, revisando permanentemente seu universo simbólico de significações, a fim de o adolescente assumir e conquistar a sua subjetividade.

Diferenciar-se das expectativas de seus pais desperta sentimentos e angústias difíceis de serem elaboradas. A perda da dependência infantil traduz-se como ameaça ao adolescente, colocando à prova a estabilidade dos sistemas narcisistas do filho e dos pais. A construção dos seus próprios ideais apresenta-se como uma missão desafiante e dolorosa, porém necessária para a tão desejada e temida autonomia.

A adolescência, período caracterizado por uma posição egóica, implica no desenlace de uma operação simbólica. É neste espaço, considerado de transição e de incertezas, que um estado-limite (Rassial, 1997) pode vir se instaurar, em virtude de se encontrar parado diante da dificuldade de validação da lei, o que o levará a uma “pane” que é enfrentada pelo adolescente e que vem abranger seus pensamentos, atos, seus ideais, onde toda a dimensão de vida parece imersa numa confusão.

Rassial (1997), por outro lado, faz distinção entre puberdade20 e adolescência, ao considerar que ambas podem ocorrer em uma temporalidade distinta uma da outra. Portanto, a puberdade estaria relacionada à maturação biológica, enquanto que a adolescência se caracteriza como uma operação subjetiva que está inscrita essencialmente nas relações cotidianas do sujeito.

20

Significa um conjunto de alterações físicas e psicológicas que acontecem na vida dos rapazes e das moças, é uma etapa anterior e muito importante: a ADOLESCÊNCIA. A idade de início da puberdade apresenta ampla variação individual, ocorrendo no sexo feminino mais frequentemente entre 10 e 13 anos e no sexo masculino entre 12 e 14 anos de idade.

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36 O psicanalista belga Jean-Piere,21ao dizer: “ensinem os filhos a falhar”, comenta que nos últimos trinta anos, o modelo tradicional de familia passou por alterações significativas, principalmente no mundo ocidental. A idéia dos pais como senhores do destino dos filhos vem desabando progressivamente, no ritmo das transformações sociais. As consequências disso não são necessariamente ruins. O que vale é a capacidade dos pais de fazer os filhos crescer. Esse é o bom ambiente familiar, por exemplo: “Manter uma criança em satisfação permanente, com sua chupeta na boca o tempo todo, fazendo por ela tudo o que ela pede, isso fará com ela impeça de ser confrotada com a perda da satisfação completa. E isso vai ser determinante em sua formação”. E essas perdas futuramente podem trazer um caminho autodestrutivo. Não nascemos humanos, nós nos tornamos. Não se trata apenas de aprender a ortografia ou usar as palavras corretamente.

Aprendemos a construir as pontes que levam a um entendimento superior do mundo e de nossa condição, isso é o que nos diferencia e nos torna completamente humanos. Um desiquilíbrio nesse processo pode ter consequências. E é aí que entra a explicação para o ingresso no universo das drogas. Aprender a falar ou tornar-se humano, é algo que não ocorre espontaneamente. É uma reação à perda do estado permanente de satisfação completa com a qual somos confrontados na primeira infância. Ou seja, o processo de humanização começa pelo entendimento de que jamais haverá a satisfação completa. É esse o curso saudável das coisas. Se os pais boicotam esse processo, podem estar cometendo um grande erro.

Hoje os pais precisam discutir, negociar o que antes eram ordens definitivas. Isso não é necessariamente negativo, desde que fique claro que, despois de discutir, trocar idéias, são eles que decidem. Pois hoje a organização social não está mais constituída como pirâmide, mas como rede, e na rede não existe mais esse lugar diferente, que era conhecido como uma autoridade. As dificuldades para impor limites se acentuam, causando grande apreensão nas pessoas quanto ao futuro de seus filhos. Para evitar que os filhos andem por caminhos “errados”, é preciso

21

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37 ensiná-los a falhar. Uma coisa certa na vida é que os filhos vão falhar, não tem como ser diferente. Aprender a lidar com o fracasso evita para eles que se torne algo destrutivo. Hoje os filhos se tornaram um indicador de sucesso dos pais. Isso é perigoso, porque cada um tem a sua vida. Não é fácil que, além de carregarem o peso das próprias dificuldades, os filhos também tenham de suportar a angústia de falhar em relação à expectativa depositada neles. Aprender a lidar com o insucesso é fundamental para livrar-se de apuros na vida adulta.

Para a Psicanálise, a Função Paterna22 é um conceito introduzido por Lacan, o qual trabalha com a figura do pai como tendo uma dupla missão: enquanto privador, ele priva o bebê da mãe - objeto de seu desejo - e ao mesmo tempo, priva a mãe do bebê - objeto fálico. Ser pai, além do biológico, é função, e para existir essa função denominada por Lacan como Função Paterna, depende de que o discurso da mãe, que nesse caso só pode ser castrada, o reconheça como homem e o considere como representante da lei. É a partir do exercício da função materna que se delínia a Função Paterna. Segundo Lacan (1957-58/1999, p. 197), essencial é que a mãe funde o pai como mediador daquilo que está para além da lei dela e de seu capricho, ou seja, pura e simplesmente, a lei como tal. Trata-se do pai, portanto, Nome-do-Pai, estreitamente ligado à enunciação da lei, como todo o desenvolvimento da doutrina freudiana anuncia e promove. E é nisso que ele é ou não aceito pela criança como aquele que priva ou não priva a mãe do objeto de seu desejo.

Lacan, em (1957-58/1999) demonstra a necessidade de se procurar os próprios objetos de desejo. Ao se referir à metáfora paterna, Lacan diz que ela “(...)

concerne à função do pai, como se diria em termos de relações inter-humanas”

(1957-58/1999, p. 166). Portanto, ele demarca que a metáfora paterna está

22

Os estudiosos em psicanálise sabem que mais do que se falar em pai e mãe biológicos, devemos nos referir à função paterna e a função materna. Em outras palavras, verifica-se que a presença ou ausência do pai real cedem diante da incidência mediadora do pai simbólico. Assim, como o pai simbólico tem por estatuto uma existência significante, apenas este Significante Nome-do-Pai, pode potencialmente ser sempre presentificado como instância mediadora na ausência do pai real. Importante notar que basta que ele o seja no discurso da mãe, de forma que a criança possa entender que o desejo da mãe se encontra “referido” a ele, ou, em caso extremo, que pelo menos o tenha estado, e ao menos durante certo período.

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38 relacionada diretamente com a questão edipiana, uma vez que “(...) o pai substitui a

mãe como significante (...)” (Lacan, 1957-58/1999, p. 181). A partir das afirmativas

de Lacan sobre a metáfora paterna, evidencia a idéia de que esta metáfora efetiva-se no nível inconsciente, e que efetiva-se trata da substituição, como uma metáfora, de um significante por outro significante. Isto significa que há um deslocamento do significante materno. Com isto, o significante paterno passa a representar o falo e conseqüentemente, há uma queda do lugar da onipotência materna, enquanto possuidor do falo.

Lacan (1957-58/1999), ainda nos chama a atenção ao falar sobre a metáfora paterna, para o fato de que não se pode confundir o papel normatizador do pai com a posição ocupada por ele na família. O autor parece preocupar-se em esclarecer que o pai ausente pode ser normatizador da lei, e aquele muito presente pode não conseguir normatizar a lei paterna, por não exercer a função do pai. Deste modo através da noção da Função Paterna em Lacan podemos compreender que a presença da figura do pai não garante o exercício da função, isto é, da saída da mãe do lugar de onipotência sobre a criança.

A metáfora paterna então opera uma separação no sujeito e no Outro, através da operação de castração simbólica. Em outras palavras, a separação, no contexto da psicanálise, supõe a saída da criança da posição de alienação ao desejo do Outro Primordial, e a ascensão como sujeito de linguagem, uma vez que o seu desejo sustenta-se para além ou para aquém do desejo da mãe. Faz-se necessária, desta forma, a entrada de um significante, que retire de cena o significante materno: a metáfora paterna.

Segundo Freud (1910), a cultura educa, molda, enquadra e controla o ego, que aprende e deixa pra trás o prazer em nome do princípio da realidade. Ao pai cabe proibir mãe e criança: ao filho – não dormirás com a tua mãe – e à mãe – não reintegrará o teu produto. O pai exerce uma função simbólica: nomeia, dá seu nome e encarna a lei com a intersessão dele na relação mãe/filho, fazendo surgir de novo a falta, o desejo de completude de um Sujeito.

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