"AÇÕES SÓCIO-EDUCATIVAS E SEU IMPACTO NA REDUÇÃO DE PERDAS E DE INADIMPLÊNCIA NOS NÚCLEOS HABITACIONAIS - FAVELAS

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Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Guarulhos

Departamento de Planejamento e Projetos Divisão de Saneamento em Favelas

"AÇÕES SÓCIO-EDUCATIVAS E SEU IMPACTO NA REDUÇÃO DE PERDAS E DE INADIMPLÊNCIA NOS NÚCLEOS HABITACIONAIS - FAVELAS”

AUTOR:

Cristiane Costrov da Silva (*)

Engenheira Civil pela faculdade de Engenharia São Paulo (2004). Tecnóloga Civil pela Faculdade de Tecnologia de São Paulo (1996). Chefe da Divisão de Saneamento em Favelas do Departamento de Planejamento e Projetos do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Guarulhos.

DECLARAÇÃO:

Declaro que submeto a atender as condições estabelecidas pelo regulamento da 37ª Assembléia a ser realizada de 15 a 20 de julho de 2007 na cidade de Guarulhos - SP

PALAVRA CHAVE:

Ações sócio-educativas; Inadimplência; Núcleos Habitacionais.

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA:

(*) SAAE – Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Guarulhos

Avenida Tiradentes, nº 3.297 – Bom Clima – Guarulhos–SP–Brasil – CEP 07196-000 Fone: (11) 6472 5473 / 6472 5484

Rua Araçoiaba da Serra, 28 – Jardim Jovaia – CEP 07132-030 – Guarulhos – SP Fone: (11) 6406 4227 / 8155 8614

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"AÇÕES SÓCIO EDUCATIVAS E SEU IMPACTO NA REDUÇÃO DA INADIMPLÊNCIA NAS ÁREAS DE OCUPAÇÃO IRREGULAR – NÚCLEOS

HABITACIONAIS” 1. INTRODUÇÃO/OBJETIVO

Guarulhos, o segundo município da região metropolitana de São Paulo, em população, concentra cerca de 40% dos 1.071.299 habitantes (Censo 2000), em áreas de ocupação irregular. Esta realidade é fruto de uma herança sócio-territorial marcada por alto grau de exclusão territorial.

Segundo dados do Mapa da Exclusão/Inclusão Social, elaborado em 2003 pelas Secretarias de Economia e Planejamento e Assistência Social e Cidadania, o município de Guarulhos é caracterizado por um modelo de urbanização que resulta em pequenas porções de cidade que contam com as melhores oportunidades de desenvolvimento humano e grandes extensões compostas por bairros populares onde essas oportunidades são mais escassas e as condições de vida extremamente precárias.

Esta realidade é comprovada pelo diagnóstico da Secretaria de Habitação e Interesse Social da Prefeitura Municipal de Guarulhos, que aponta a existência de cerca de 365 favelas, 66 loteamentos clandestinos e 114 loteamentos irregulares no município. Estas áreas caracterizam-se pela carência de infra-estrutura básica, principalmente esgotamento sanitário e drenagem.

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É importante ressaltar que a questão topográfica, ordenação dos domicílios e as ocupações em margens de córregos dificultam a ação do poder público, agravando ainda mais a situação de exclusão.

Como reflexo do quadro exposto acima, o índice de atendimento dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário nestas áreas não atinge patamares aceitáveis, e as situações de clandestinidade são freqüentes, fatores estes que colaboram para o alto índice de perdas de água da Autarquia.

Sendo assim, surgiu em 2001 uma necessidade latente de pensar em uma política pública que atendesse de forma adequada a esta camada expressiva da população guarulhense e como fruto desta demanda foi criada no final deste mesmo ano, a Divisão de Saneamento em Favelas, cujo objetivo principal era garantir o abastecimento de água e a coleta de esgoto sanitário sustentável e de qualidade para áreas de baixa renda.

Desde o início o trabalho foi pautado no princípio da participação comunitária como ferramenta para garantir a qualidade e a funcionalidade da obra a executar. Muitas são as ferramentas utilizadas para alcançar este objetivo e dentre elas estão assembléias comunitárias, reuniões setoriais, palestras educativas, parcerias com secretarias da Prefeitura Municipal, esquetes teatrais entre outros.

Inicialmente não era possível avaliar os resultados desta filosofia de trabalho de forma abrangente, apenas o grau de mobilização comunitário e o envolvimento da população na execução das obras era perceptível, porém com o passar do tempo e o amadurecimento do trabalho, outros aspectos passaram a ser visualizados.

Sendo assim, o objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de trabalho utilizada pela Divisão de Saneamento em Favelas para a execução de obras de saneamento em núcleos habitacionais do município e os primeiros resultados concretos obtidos com o investimento feito pela Autarquia no trabalho sócio-educativo.

2. METODOLOGIA E, OU DESENVOLVIMENTO

Desde 2001, a Divisão de Saneamento em Favelas vem desenvolvendo suas ações, de forma pautada no trabalho social. A metodologia de trabalho pressupõe o envolvimento comunitário para garantir o sucesso final da obra.

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O trabalho possui etapas definidas que possibilitam a comunidade o conhecimento e a discussão do projeto, a discussão das questões ambientais envolvidas e a participação efetiva nas obras através do regime de mutirão.

Inicialmente são realizadas assembléias comunitárias para a apresentação da proposta do SAAE. As Assembléias funcionam como um mecanismo de divulgação da proposta e de adesão formal da comunidade.

Após as Assembléias são realizadas reuniões setoriais que tem como objetivos principais à aproximação da comunidade com o poder público, a discussão detalhada do projeto e a discussão dos aspectos sociais e ambientais envolvidos na realização da obra. Estas reuniões estreitam os laços entre as partes e garantem uma maior qualidade do projeto, visto que as particularidades são contempladas.

Além do aspecto descrito acima, as reuniões setoriais permitem a comunidade o conhecimento e a reflexão sobre questões até então desconhecidas ou pouco exploradas, como o uso racional da água e seu impacto na preservação ambiental e na economia da família, o saneamento básico de qualidade e seu reflexo na saúde da população, entre outros aspectos. Estas discussões, se olhadas de forma abrangente, permitem o amadurecimento da comunidade e o fortalecimento da cidadania.

Após as reuniões setoriais, nos casos de trabalho em regime de mutirão, são realizados os encontros de mutirão, onde são apresentados todos os passos da obra, o que facilita o entendimento da mesma e prepara o mutirante para a

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realização do trabalho, diminuindo sensivelmente os problemas anteriormente encontrados neste regime de trabalho.

Este trabalho vem sendo desenvolvido ha cinco anos, e apesar de recente já produziu resultados animadores. Inicialmente os resultados produzidos eram tímidos, perceptíveis apenas no aumento do grau de participação da comunidade nas ações desenvolvidas pela Autarquia, porém atualmente já é possível identificar reflexos na diminuição da inadimplência, no aumento da porcentagem de ligações ativas e na redução do consumo mensal dos domicílios nos núcleos habitacionais que receberam este tipo de atuação.

É importante ressaltar que se trata de um trabalho que muda conceitos, transforma realidades e que, portanto necessita de tempo para dar frutos. Sendo assim seus resultados serão observados em longo prazo.

É sabido por todos que trabalhos sociais são necessários, porém o preconceito ainda é latente e apenas o investimento na busca de resultados concretos poderá permitir um maior credibilidade a este trabalho.

Sendo assim, em 2006 com a retomada dos trabalhos do Comitê Interno de Controle e Redução de Perdas, identificou-se a necessidade de comprovação dos resultados, fato este que desencadeou um processo de informatização dos dados.

Inicialmente todos os núcleos habitacionais cadastrados pela Secretaria de Habitação foram devidamente inseridos no sistema de informações da Autarquia. Cada núcleo foi identificado por um código numérico com referência no mapa de favelas do município.

Após o cadastramento dos núcleos, iniciou-se o processo de identificação das ligações pertencentes a eles. Este trabalho foi baseado inicialmente com a sobreposição das rotas de leitura e o mapa de núcleos habitacionais e seu refinamento vem ocorrendo de acordo com a necessidade.

Este trabalho permitiu a adequação das ligações existente, porém foi necessário criar um novo procedimento para ligações novas, de forma que o banco de dados criado não se perdesse com o tempo.

O novo procedimento prevê que os solicitantes apresentem como documentação para a solicitação da ligação, além dos usuais, uma conta de água do vizinho mais próximo. O objetivo desta conta é identificar se a ligação pertence a um núcleo

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habitacional e em caso positivo a ligação é aberta no posto de atendimento já com a identificação do número do núcleo ao qual pertence.

O sistema de abertura de ordem de serviço tem interface com o sistema comercial, o que permite que a informação seja transferida diretamente para o sistema de cadastro de usuários. Desta forma cada ligação nova já é cadastrada como núcleo habitacional, e identificada no sistema com a numeração do mapa de favelas da Secretaria de Habitação.

Esta informatização permitiu a Autarquia um conhecimento mais abrangente da situação das ligações dos núcleos habitacionais, bem como a avaliação mais detalhada dos resultados do investimento do poder público nestas áreas.

Foram avaliados seis núcleos habitacionais com abastecimento de água total que receberam ações sócio-educativas, seis núcleos habitacionais com abastecimento de água total que não receberam ações sócio-educativas e seis núcleos habitacionais com abastecimento de água parcial que não receberam ações sócio-educativas.

A avaliação compreendeu a análise de dados como percentual de atendimento, quantidade de ligações ativas, consumo mensal por família, percentual de contas pagas e em aberto e os resultados, apontam para uma possibilidade de reversão, mesmo que em longo prazo, da situação atual dos núcleos habitacionais com a intensificação do investimento nestas áreas.

3. RESULTADOS/CONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES

A avaliação dos dados permitiu a Autarquia constatar que o sentimento de que as ações sociais produzem efeito positivo no trato com áreas de baixa renda, é uma realidade concreta e comprovada.

Das dezoito áreas analisadas, é possível identificar que nas áreas onde o trabalho sócio-educativo foi desenvolvido há uma considerável diminuição da inadimplência, um aumento no percentual de ligações ativas, o que indica a eliminação de parte considerável das ligações clandestinas, bem como uma redução do consumo percapita desta população.

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Os principais resultados alcançados estão relacionados no Quadro I.

Quadro I – Principais Resultados do Impacto de Ações Sócio-Educativas na Redução de Perdas e Inadimplência em Núcleos Habitacionais – Favelas

Núcleos Habitacionais Com Desenvolvimento de Ações Sócio-Educativas Abastecimento de água parcial Abastecimento de água total Abastecimento de água total 1 Dados gerais

1.1 Percentual Ligações Ativas 63% 64% 87%

1.2 Percentual Ligações Inativas 37% 36% 13%

1.3 Consumo Mensal por Domicílio (m3/mês) 14,23 11,45 9,20

1.4 Consumo Percapita Estimado (l/hab/dia) 105 88 68

1.4 Percentual de Clientes Adimplentes 58% 72% 86%

1.5 Percentual de Clientes Inadimplentes 32% 19% 7%

1.6

Percentual de Clientes em Situação de

Parcelamento de Débito 10% 9% 7%

2 Dados Financeiros Anuais

2.1 Valor Faturado por domicílio (R$/ano/domicílio) R$ 429,58 R$ 296,45 R$ 209,33

2.2 Valor Arrecadado por domicílio (R$/ano/domicílio) R$ 130,32 R$ 166,66 R$ 163,99

2.3 Valor Não Arrecadado por domicílio

(R$/ano/domicílio) R$ 252,16 R$ 103,18 R$ 24,91

2.4 Valor Parcelado por domicílio (R$/ano/domicílio) R$ 47,09 R$ 26,61 R$ 20,42

2.5 Percentual de Arrecadação 30,34% 56,22% 78,34%

(*) Densidade Populacional Considerada - 4,5 pessoas por domicílio

Item Analisado

Núcleos Habitacionais - Sem Desenvolvimento de Ações

Sócio-Educativas Item

Fonte: Divisão de Saneamento em Favelas – SAAE Guarulhos – Dez/2006

Da avaliação destes dados é possível perceber que investir na regularização do sistema de abastecimento de água e no trabalho sócio-educativo traz, na maioria dos casos, resultados satisfatórios e estabelece um relacionamento de parceria entre o poder público e a população.

É importante ressaltar que as ações sócio-educativas produzem um efeito ainda mais positivo quando associadas a outras políticas da empresa como parcelamento de débitos, corte parcial ou definitivo. Este fato é comprovado com o estudo feito na área denominada Anita Garibaldi.

Em dezembro de 2006, o SAAE iniciou um trabalho de recuperação de arrecadação na área citada acima. Foram realizadas assembléias, reuniões setoriais e plantões de dúvida com o objetivo de informar a comunidade sobre a situação

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existente e as providências necessárias para a regularização dos débitos. A adesão da comunidade às atividades foi de aproximadamente 90%. Após as reuniões setoriais o SAAE aguardou 45 dias para iniciar os cortes de forma que a comunidade tivesse tempo de regularizar seus débitos evitando assim os cortes de fornecimento de água.

Observou-se que mesmo diante da possibilidade de corte, a comunidade pouco se mobilizou para regularizar os débitos. Das 1880 ligações de água existentes, 540 encontravam-se em débito no mês de fevereiro do presente ano.

Porém quando os cortes foram iniciados houve grande movimentação para a regularização das ligações na área e alguns aspectos observados merecem destaque. A população não apresentou resistência diante das equipes de corte, o que é incomum em áreas sem trabalho sócio-educativo, 46% das ligações cortadas foi reativado em prazo inferior a um mês e não foi observada nenhuma ação de incentivo às ligações clandestinas por parte da população.

Trata-se de um quadro bastante otimista, visto que em muitos núcleos habitacionais não há condições de corte devido à resistência da população. E que mesmo quando os cortes são efetuados o número de reativações é insignificante e as ligações clandestinas multiplicam-se.

Sendo assim, a avaliação do exposto acima indica que ações sócio-educativas são essenciais para o trato com núcleos habitacionais, pois o envolvimento da população auxilia na obtenção de crédito às ações propostas, porém sinaliza que se estas forem combinadas de forma estratégica com outras políticas aplicadas à cidade formal, podem tornar-se ainda mais eficazes na redução da inadimplência nos núcleos habitacionais do município.