TE-5
REMESSA DE documentos de CAIXA, EXTRA-CAIXA E CONTABILIDADE PARA MICROFILMAGEM DIBAN/DPSAG - Depto. de Processos e Suporte às Agências
Síncope em crianças e adolescentes
INTRODUÇÃO
A síncope é a perda súbita e transitória da consciência e do tônus postural decorrentes da hipoperfusão cerebral com recuperação completa e espontânea.1,2,3,4
OBJETIVO
Orientar a avaliação inicial do paciente pediátrico com síncope Auxiliar na sua classificação etiológica
Identificar fatores de risco para doenças potencialmente fatais, destacando sinais de alerta para etiologia cardíaca.
POPULAÇÃO ALVO
Crianças e adolescentes com idade inferior a 16 anos.
INCIDÊNCIA UPA
Em 2016, foram atendidos 118 pacientes menores de 16 anos com síncope nas UPAs, o que corresponde a 0,1% dos atendimentos.
DIRETRIZ
Cerca de 15 a 20% das crianças terão um episódio de síncope até a segunda década de vida.2,5,6 Ocorre principalmente em adolescentes entre 15 e 19 anos e no sexo feminino, correspondendo a cerca de 1 a 3% das consultas em pronto atendimento pediátrico.7
Diretoria Espécie Especialidade Status Etiologia
A principal causa de síncope em crianças e adolescentes é a neurocardiogênica, de etiologia autonômica ou reflexa, neuromediada.1,6,9É também chamada de desmaio comum, síncope vasovagal ou vasodepressora. Geralmente é precedida por um período de sintomas premonitórios com duração de 10 a 20 segundos, chamado de pródromo.
A síncope de etiologia cardíaca porém é a mais preocupante pois está associada a alta mortalidade.3,8,10
Tabela 1. Etiologias da Síncope
Diagnóstico diferencial
Quando não há perda de consciência ou a perda de consciência não está relacionada à hipoperfusão cerebral, pode-se afastar o diagnóstico de síncope.1
Reflexa ou
neuromediada
Neurocardiogênica ou Vasovagal
Síncope do lactente (choro com perda de fôlego) Hipotensão postural
Síndrome da taquicardia ortostática postural Síncope situacional
Disautonômica (Sd de Riley-Day)
Intoxicação com depressão cardiovascular
Cardíaca Doença cardíaca estrutural
Cardiomiopatia hipertrófica
Displasia arritmogênica de ventrículo direito Arritmia cardíaca (congênita ou adquirida)
Obstrução ao fluxo de ventrículo esquerdo (estenose aórtica) Miocardiopatia dilatada
Miocardite aguda Anomalia coronarianas Hipertensão Pulmonar
Tabela 2. Diagnósticos Diferenciais da Síncope Neurológica Convulsão Trauma Meningite Enxaqueca AVC
Pseudo-síncope Psicogênica Histeria/conversão
Depressão Síndrome do pânico Perda de fôlego Intoxicação Drogas Substâncias de abuso Monóxido de Carbono Outras Hipoglicemia Hipocalcemia Anemia aguda Hipóxia
Doença respiratória obstrutiva Anafilaxia
Gestação e causa associadas
Avaliação inicial
Baseia-se em anamnese completa, exame físico detalhado e na realização de
eletrocardiograma de 12 derivações.1,2,3,4,7,8,11
Anamnese
Características da síncope: tempo de duração, atividade motora durante a síncope, liberação de
esfíncteres, palidez, cianose ou hiperemia da vasodilatação. Pode haver movimentos mioclônicos de membros, mas diferentemente do que ocorre na convulsão, os movimentos ocorrem depois que há perda da consciência. Lesão da língua e liberação de esfíncter anal são incomuns e sugerem convulsão. É necessário interrogar pessoas que testemunharam o episódio (Tabela 3).
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Sinais e Sintomas pós-síncope: fraqueza, fadiga, palpitações, dor torácica. Pode ocorrer
incontinência urinária. Confusão mental sugere convulsão.
Posição e atividade no momento da síncope: ortostática, sentado, em repouso. Síncope em
posição supina ou durante esforço físico são sinais de alerta para síncope de origem cardíaca.
Síncope reflexa geralmente ocorre após mudança de posição ou após exercício físico.
Desencadeante:7ingestão de bebida gelada, tosse, esforço para evacuar, esforço para urinar, vômito, banho quente ou de banheira, choro com perda de fôlego, altitudes elevadas, espirro, levantamento de peso são desencadeantes de síncope situacional. Emoção forte ou medo (punção venosa, vacinação), odor desagradável podem desencadear síncope de origem central ou psiquiátrica.
Passado médico: cardiopatia congênita corrigida ou não, episódio prévio de síncope, uso de
medicações (anti-hipertensivo, beta-bloqueador, diurético, antiarrítimico, medicações que prolongam o
intervalo Q-T), dieta rigorosa. Doença neurológica ou metabólica conhecida.
História familiar: morte súbita em familiares (principalmente <30 anos, incluindo síndrome da morte
Tabela 3. Anamnese na síncope
ETIOLOGIA Dados da Anamnese
Reflexa ou Neuromediada Pródromo
Após som ou cheiro desagradável ou dor Náusea e vômito
Durante ou logo após a refeição
Com movimento da cabeça ou pressão cervical Após exercício
Choro intenso com perda de fôlego
Hipotensão Postural Após se levantar
Relação com introdução de nova medicação ou mudança na dose Após estar sentado por muito tempo e/ou em lugares lotados e abafados Presença de neuropatia autonômica
Após exercício
Situacional Desencadeante (vide acima)
Cardíaca Doença cardíaca estrutural
Durante exercício Posição supina
Precedida de palpitações História familiar de morte súbita Exame físico
Geral: palpação de pulso nos quatro membros, sopro cardíaco, frequência cardíaca em posição
supina e ortostática (após 3-5 minutos), ritmo de bulhas, bulhas cardíacas acessórias, dispnéia. Fraqueza muscular e alterações neurológicas sugerem doença neurológica ou disautonomia.
Pressão arterial: aferir a pressão arterial (PA) nos quatro membros, principalmente se houver
alteração na palpação dos pulsos. Gradiente 20 mmHg na PA sistólica entre membros inferiores e superiores sugere coarctação de aorta. Aferir PA em posição supina e após 3 minutos na posição ortostática. Queda de pressão arterial sistólica 20 mmHg ou da pressão arterial diastólica de 10 mmHg (considerar queda 20% em crianças menores) caracteriza hipotensão postural.
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átrio-ventricular, freqüência cardíaca (RR), intervalo PR, complexo QRS, intervalo QT corrigido
(QTc), segmento ST e sinais de sobrecarga atrial e ventricular.1,2,7,8
Tabela 4. Alterações doECG na avaliação da síncope
ECG ARRITMIA
RR aumentado Bradicardia sinusal
Intervalo PR alargado QRS alargado
Alteração da condução átrio-venticular
BAV 2ograu Mobitz tipo 2 ou BAV 3ograu
RR curto P presente ou ausente TSV paroxística RR curto QRS alargado TV Intervalo PR encurtado
Onda delta (empastamento da porção inicial do complexo QRS)
Sd Wolff-Parkinson-White (pré-excitação
ventricular) Intervalo QTc* >0,45 s
Torsade de pointes
Sd do QT longo (congênita ou adquirida**)
Intervalo QTc ≤0,30 s Sd do QT curto
Padrão de bloqueio de ramo direito Elevação de segmento ST de V1 a V3
Sd de Brugada (ou induzida por drogas***)
Onda T invertida nas derivações precordiais ondas épsilon (entalhe no final do complexo QRS) Potencial ventricular tardio
Displasia Arritmogênica de Ventrículo Direito
Alterações no segmento ST Inversão de onda T
Onda Q presente e onda R diminuída ou ausente nas derivações laterais
Cardiomiopatia Hipertrófica
Bloqueio bifascicular Risco para BAV 3ograu
Complexo QRS alargado 0,12 s Alterações no sistema de condução AV
Intervalo PR alargado BAV 2ograu Mobitz tipo 1
Bradicardia sinusal assintomática
Pausa sinusal 3 s sem uso de medicação
Doença do Nó Sinusal
BAV=bloqueio átrio-ventricular/ TSV=taquisupraventricular/ TV=taquicardia ventricular. *QTc=QT corrigido=QT(ms)/√RR(ms)/ **Drogas que causam Sd. do QT longo: ondansentron, domperidona, claritromicina – vide www.qtdrugs.org/ ***Drogas que geram alterações de ECG semelhantes às da Sd. de Brugada: bloqueadores de canal de sódio e de cálcio, nitratos, ß-bloqueadores, fluoxetina, antidepressivos tricíclicos, dimenidrato, intoxicação por álcool e cocaína
Avaliações complementares
Quando a avaliação inicial é normal (ausência de sinais de alerta, exame físico normal, ECG nl) não há necessidade de exames de complementares.1,8,11
Exames como glicemia, dosagem de hemoglobina, gasometria, dosagem do ß-HCG, eletrólitos, exame toxicológico, dosagem de carboxiemoglobina, radiografia de tórax, função renal, etc. podem ser solicitados de acordo com a suspeita diagnóstica, podendo auxiliar o diagnóstico diferencial da síncope (ex: hipoglicemia, anemia, hiperventilação da pseudo-síncope psicogênica, doença pulmonar, intoxicação) ou identificar fatores predisponentes à síncope (ex: gravidez, distúrbio eletrolítico precipitando arritmia, etc).7,12
No entanto, quando há sinais de alerta e suspeita de síncope de etiologia cardíaca, sugere-se avaliação pelo cardiologista para investigação complementar devido ao elevado risco de morte. Dependendo de cada caso indica-se ecodopplercardiograma, Holter 24h, Tilt test (teste da mesa inclinável), gravador de ritmo (externo ou implantável) e até mesmo o estudo eletrofisiológico.1,3,8
A avaliação por neurologista ou psiquiatra pode ser necessária em casos de difícil distinção entre síncope verdadeira e situações que simulam síncope como convulsões atípicas ou episódios de origem psicogênica.
Tratamento
O tratamento deve ser específico, ou seja, direcionado para a causa da síncope. No caso da síncope vasovagal, o tratamento baseia-se em medidas educacionais, mudança de hábitos, como ingerir líquidos e alimentos com sal especialmente durante atividade física e exposição ao calor, movimentar as pernas quando estiver sentado ou em pé por muito tempo e evitar mudanças súbitas de posição.2,4,6,13
Os tratamentos específicos são instituídos por especialistas e incluem desde medicações até ablação, implante de marcapasso ou desfibrilador automático.1,2,3,8
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Avaliação do especialista se SINAIS DE ALERTA (doença cardíaca estrutural, durante exercício ou na posição supina, precedida de palpitações, história familiar de morte súbita)
Síncope neurocardiogênica abrange a maioria dos casos
CONCLUSÃO
Mesmo com uma avaliação inicial cuidadosa e posterior investigação, dados de literatura indicam que em cerca de 25 a 40% dos casos não se encontra a etiologia da síncope.2,8,11
Portanto o paciente pediátrico que é trazido ao pronto atendimento com suspeita de síncope deve ser cuidadosamente examinado e avaliado.
Em casos de suspeita de síncope de etiologia cardíaca ou na presença de sinais de alerta, o paciente deve ser internado para investigação e/ou tratamento por equipe especializada.
A seguir encontra-se a proposta de um fluxograma para auxiliar o pediatra em sua atividade no pronto atendimento.
Diretoria Espécie Especialidade Status REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
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ELABORAÇÃO DESTE DOCUMENTO Autor: Thomaz Bittencourt Couto e Daniela Akashi
Grupo de Protocolos de Pediatria das Unidades de Pronto Atendimento: Elda Maria Stafuzza Gonçalves Pires, Cristina Quagio Grassioto, Ariel Levy, Edwin Adolfo Silva Tito, Flávio Rocha Brito Marques.
Sandra Cristina P. L. Shiramizo (03/04/2013 07:53:08 AM) - Protocolo auxilia na diagnóstico da criança com síncope
Elda Maria Stafuzza Gonçalves Pires (06/12/2014 09:05:36 AM) - Diretriz reformatada. Carlos Eduardo Fonseca Pires (22/08/2017 04:07:18 PM) - Diretriz atualizada.