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PLANEJANDO UM PROJETO DE APRENDIZAGEM: quando todos podem participar, todos podem aprender

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PLANEJANDO UM PROJETO DE APRENDIZAGEM: quando todos podem participar, todos podem aprender

Rosa Maria Martinello Back Fabíola Stein

Este relato de boas práticas é fruto do trabalho colaborativo de uma professora e uma pesquisadora. Em 2014, na EMEF Gilberto Jorge, aconteceu o encontro entre a professora de Português e Inglês, Profª. Rosa Maria M. Back, e a concluinte do curso de Letras, Fabíola Stein. Esse encontro aconteceu porque Fabíola tinha como projeto de pesquisa para seu trabalho de conclusão de curso (TCC) realizar um estudo etnográfico em uma escola que adotasse a pedagogia de projetos. Durante nove semanas, como pesquisadora, Fabíola acompanhou as aulas da Profª. Rosa com a turma C341 na realização do projeto de aprendizagem “Ditadura: acabou?”. Neste

relato conjunto, reunimos alguns registros feitos para o TCC Stein (2014)2 ao relato

pessoal da Profª. Rosa com o objetivo de contar como foi planejado o projeto de aprendizagem. Enfocamos o planejamento porque, diferente da ideia convencional de planejamento pedagógico – em que conteúdos e temáticas são decididos de antemão pelos professores ou coordenadores e somente apresentados aos alunos –, o surgimento e a construção do projeto “Ditadura: acabou?” foi um trabalho coletivo e continuamente construído, que contou com a participação intensa de alunos, professores e equipe pedagógica3.

A ESCOLA GILBERTO JORGE, A TURMA C34 E O TRABALHO COM PROJETOS

Para entender o relato sobre o projeto de aprendizagem “Ditadura: acabou?”, especialmente em relação ao seu planejamento, precisamos contar um pouco sobre a EMEF Gilberto Jorge e a turma C34. A Gilberto tem uma história de forte engajamento

1 Pseudônimo. No ano de 2014, não havia na escola uma turma C34. Mudamos o nome da turma para

preservar a identidade dos alunos.

2 Orientador: Prof. Pedro M. Garcez. Banca examinadora: Profª. Margarete Schlatter e Profª. Lia Schulz. 3 Gostaríamos de agradecer à equipe pedagógica e a todos os professores da C34.

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social e político com a comunidade na qual está inserida (Moll, 2000). Desse engajamento do corpo docente com a comunidade, resulta o projeto político-pedagógico (PPP) da escola, fruto do trabalho conjunto entre professores, funcionários e alunos. O lema da comunidade escolar é “uma escola para todos, uma escola para cada um” (Persch et al., 2006). A proposta de formar cidadãos participativos e críticos pode ser identificada pelos seguintes princípios orientadores:

Figura 1 – Princípios da GJ (baseado no PPP da EMEF Gilberto Jorge)

A escola é estruturada por ciclos de formação, como a maioria das escolas da rede municipal de Porto Alegre. A C34 era uma turma do último ano do terceiro ciclo, o 9º ano do Ensino Fundamental, que contava com 21 alunos muito engajados. Como grupo, a C34 soube trabalhar conjuntamente para construir e viver o projeto “Ditadura: acabou?”.

Podemos afirmar que o trabalho com projetos é uma prática consolidada na Gilberto Jorge. Desde a fundação da escola, o grupo de professores e equipe pedagógica se empenhou em conceber uma pedagogia adequada ao contexto social da instituição. Foi necessário estudar muito sobre projetos para encontrar conjuntamente uma maneira de realizar essa proposta de ensino na escola. Entre os textos estudados pelo grupo de professores, está o livro “A organização do currículo por projetos de trabalho”, Hernández e Ventura (1998). Mais recentemente, o livro “Aprendizagem baseado em projetos”, Bender (2014), também foi estudado em encontros de formação. Ao longo deste texto, citamos algumas orientações desses autores, mas

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buscamos dar enfoque ao relato sobre o projeto “Ditadura: acabou?” e ao que a experiência de trabalhar com projetos nos ensinou.

PLANEJANDO UM PROJETO DE APRENDIZAGEM: quando todos podem participar, todos podem aprender

O projeto de aprendizagem “Ditadura: acabou?” envolveu diversas instâncias de participação. Houve momentos em que se estava vivendo, planejando, avaliando ou apresentando o projeto. Para isso, foram realizados encontros diversos em sala de aula ou até fora da escola. O projeto foi constituído centralmente de momentos de estudo sobre a ditadura militar no Brasil (1964-1985), bem como de reflexões sobre a realidade vivida pelos alunos e de muitas atividades de

leitura. Como fechamento do projeto, a C34 montou uma sala ambiente para realização de uma exposição de trabalhos com o mesmo título do projeto.

Na Gilberto Jorge, a escolha de um tema para o projeto é acompanhada da identificação de centros de interesse dos alunos4. Para isso, nas primeiras semanas

de aula, são propostas dinâmicas diversificadas de

pesquisa e reflexão sobre questões locais e globais. No caso da turma C34, a temática do projeto foi motivada pelo interesse dos alunospelo tema da ditadura militar, que em 2014 estava em pauta devido aos 50 anos do golpe, e também pela oportunidade de ir ao teatro assistir à peça “Bailei na curva”.

O projeto iniciou com a proposta de leitura de um livro, como acontece com frequência na escola. Neste caso, no horário de Biblioteca, a turma C34 fez a leitura da obra dramática de “Bailei na curva”5. Já nas aulas de Língua Portuguesa, foram

4 Concordamos com a asserção de Bender (2014) de que “a escolha do aluno é crucial para se obter a

participação ativa e a apropriação do projeto por ele” (p. 45).

5 O roteiro de “Bailei na curva” encontra-se publicado como livro pela editora Mercado Aberto. Foi

necessário conseguir vários exemplares do livro e também fazer cópias em xerox para que todos os alunos pudessem ler a obra.

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realizadas diversas atividades: leitura de vários tipos de texto (poemas como “No caminho com Maiakóvski” e “Eu, etiqueta”), audição e releitura/paródia de canções (como a canção “Cálice” de Chico Buarque”), debates, estudo e pesquisa na busca de respostas a perguntas emergentes do projeto, sessões de discussão de filmes (como “O ano em que meus pais saíram de férias “ e “Zuzu Angel”), avaliação da aprendizagem, produção escrita ou produção de performance artística, preparação de exposição sobre o projeto, entre outras. Esses diversos filmes, canções e textos, estudados em aulas, foram, em geral, selecionados pelo grupo de professores e equipe pedagógica. Além disso, aconteceram também atividades fora da escola, como a ida ao teatro ou à exposição sobre a ditadura militar em outra escola.

Em seguida, vamos contar mais sobre como o projeto “Ditadura: acabou?” foi planejado, pois acreditamos que esse é um dos aspectos do trabalho com projetos que pode ser desafiante para professores em formação. Nas próximas três seções deste texto, enfocamos os seguintes aspectos do planejamento de projetos:

NO PLANEJAMENTO DE UM PROJETO DE APRENDIZAGEM:

É importante tornar público o planejamento

Perguntas são centrais para realizar

um projeto

É necessário refletir sobre as aprendizagens do projeto

PAINEL DE

PROJETOS

QUADRO DE

PLANEJAMENTO

DO PROJETO

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: RESPONDENDO ÀS PERGUNTAS DO PROJETO Figura 3 – Aspectos enfocados sobre o planejamento de projetos

O PAINEL DE PROJETOS: é importante tornar público o planejamento

Em muitos contextos escolares, existe uma orientação para planejar as aulas tendo em vista uma lista de conteúdos. O curioso é que essa lista, com frequência, não é compartilhada com os alunos ou demais colegas professores. Assim, as decisões sobre o que ensinar ficam a cargo apenas do professor, tornando o planejamento, de certa maneira, uma atividade “privada”. Na Escola Gilberto Jorge, existe um lugar que

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desafia essa concepção de planejamento: o painel de projetos, apresentado a seguir, exibe cartazes sobre o que está sendo planejado em cada turma.

Figura 4 - Painel de projetos (no início de março de 2014)

A pergunta que encabeça o painel é “Como estão se encaminhando os projetos das turmas?”. Como resposta, estão expostos cartazes confeccionados em aula pelos alunos sob a orientação da supervisora pedagógica, como planejamento inicial dos projetos. Dizemos que se trata de um planejamento inicial porque o cartaz do projeto não foi pensado como uma lista fechada de conteúdos. Algumas semanas após esse painel ser fotografado, os cartazes foram substituídos por quadros de planejamento mais desenvolvidos, como mostra a figura 5.

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Figura 5 - Painel de projetos (na segunda quinzena de março de 2014)

O painel de projetos é, portanto, o lugar da escola onde o planejamento de cada turma é compartilhado, tornado público. Essa maneira de compartilhar o trabalho desenvolvido nas turmas com a comunidade escolar é muito coerente com o PPP da Gilberto Jorge, que preconiza a participação e o engajamento. Além disso, com o painel, também podemos ver que o planejamento é um processo contínuo, que pode ter diferentes momentos de revisão ao longo de um projeto.

O QUADRO DE PLANEJAMENTO DO PROJETO: perguntas são centrais para planejar um projeto

O que sabemos? O que gostaríamos de aprender? O que precisamos fazer para aprender? Essas são perguntas que orientam a elaboração do quadro do projeto, exposto no painel da figura 5 recém apresentada. Em seguida, mostramos o quadro de planejamento elaborado pela C34 - numa dinâmica de grupo, sob a orientação de dois professores e da supervisora pedagógica - para o projeto “Ditadura: acabou?”:

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Figura 6 - Quadro de planejamento do projeto

Esse quadro foi fixado na parede da sala, colado no caderno pelos alunos e exposto no painel de projetos. Diferente de um planejamento escolar tradicional, o quadro é elaborado pelos alunos e professores a partir do que já sabem e do que gostariam de aprender. Acreditamos que essa maneira de pensar o planejamento desloca o foco do “ensinar” para o “aprender”. Numa pedagogia pautada pela escuta ao aluno, é importante registrar “o que sabemos” para poder refletir futuramente sobre o que aprendemos6. Os estudantes também precisam pensar sobre como

encontrar respostas para as perguntas do projeto, planejando o que fazer para aprender.

No caso do projeto “Ditadura: acabou”, nas aulas de Português, por exemplo, foi muito recorrente o trabalho de reescrita de textos e de exploração das produções

6 Destacamos que na coluna “O que sei?” estão presentes ideias que precisaram ser revistas em aula a

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dos alunos. Como sempre estavam aprendendo mais, encontrando respostas e fazendo novas perguntas, os alunos podiam enriquecer seus textos tanto na forma como no conteúdo7.

As aulas são então organizadas de maneira a responder às perguntas do projeto. Isso exige uma flexibilização dos tempos e espaços e motiva o trabalho interdisciplinar. Pode ser necessário que numa aula estejam presentes as professoras de Português e Teatro, por exemplo. Além disso, é relevante destacar que o professor também aprende com o projeto, pois as perguntas muitas vezes escapam à área de conhecimento em que o professor é especialista.

As reuniões pedagógicas e horários de planejamento também são momentos cruciais para o planejamento. Na Gilberto, a reunião pedagógica semanal é oportunidade para que os professores compartilhem o que estão trabalhando com as turmas, programem atividades para as diferentes disciplinas e pensem dinâmicas adequadas para as turmas. Já os horários de planejamento não são momentos

solitários. Com frequência, professores trabalham em duplas ou trios em seus horários de planejamento, o que possibilita trocas de ideias e tomadas de decisão conjuntas sobre o projeto.

AVALIANDO O PROJETO: é necessário refletir sobre as aprendizagens do projeto O quadro de planejamento não é algo feito num momento inicial do projeto e depois esquecido. Um dos momentos de avaliação sobre o projeto “Ditadura: acabou?” consistiu na revisão do quadro de planejamento como uma atividade de reflexão sobre a aprendizagem (Figura 8). Assim, os estudantes tiveram a oportunidade de mostrar o que aprenderam e, ao mesmo tempo, refletir sobre a

7 Com efeito, “muitas atividades de ensino surgem naturalmente dentro do próprio projeto” (Bender,

2014, p. 47).

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realização do projeto. Pensamos que essa atividade de avaliação do projeto é um exemplo de como “estruturar oportunidades para o pensamento reflexivo” (Bender, 2014, p.50).

Figura 8 - Atividade de avaliação do projeto

REFLEXÕES PARA A PRÁTICA

Concluímos este relato com alguns destaques. Sobre o tempo de duração e a publicação, ressaltamos que o projeto aqui relatado se desenvolveu orientado para as perguntas do quadro de planejamento e questionamentos emergentes, mas, ao final de aproximadamente um trimestre de aulas8, houve um momento quando o grupo de

professores e equipe pedagógica julgaram necessário propor uma culminância para o projeto, uma apresentação pública dos resultados e trabalhos produzidos. Juntamente com os alunos, foi pensada e organizada uma sala ambiente de exposição das produções mais relevantes.

Também consideramos importante dizer que, historicamente, o protagonismo dos alunos na realização de projetos na escola foi aumentando. Isso pode ser resultado do amadurecimento da proposta de ensino, mas também pode estar relacionado com a apropriação da pedagogia de projetos pelos alunos. Por último, destacamos que os momentos de planejamento dos professores não são momentos solitários e individuais. Há oportunidades previstas, além da reunião pedagógica semanal, para planejar conjuntamente o projeto.

8 Antigamente, na escola, os projetos tinham maior duração. Aprendendo com a experiência, o grupo de

professores decidiu que era melhor fazer projetos mais curtos para garantir o interesse e o engajamento constantes dos alunos.

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Acreditamos que, com este relato, aspectos do planejamento de projetos, que pareciam apenas orientações de manuais de ensino, se tornaram mais concretos. Por fim, esperamos que este relato inspire professores a trabalhar com projetos e que desperte interesse por maneiras mais democráticas e participativas de fazer o planejamento pedagógico.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENDER, W. N. (2014). Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada para o século XXI. Porto Alegre: Penso.

HERNÁNDEZ, F., & Ventura, M. (1998). A organização do currículo por projetos de trabalho: O conhecimento é um caleidoscópio. Porto Alegre: ARTMED.

MOLL, J. (2000). Histórias de Vida, Histórias de Escola: elementos para uma pedagogia da cidade. Petrópolis: Vozes.

PERSCH, M. I., Pacheco, S. M., & Monteiro, M. R. (Orgs.). (2006). Uma Escola para todos, uma Escola para cada um. Série Escola Faz, Vol. 2. Porto Alegre: Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Secretaria Municipal de Educação.

STEIN, F. (2014). Participação em projetos de aprendizagem em uma escola pública municipal de Porto Alegre. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

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Rosa Maria Martinello Back

Formada em Letras Português/Inglês pela UNESC. Foi professora de Língua Portuguesa por 25 anos no Colégio Israelita Brasileiro nas séries finais do Ensino Fundamental. Atua como professora de Língua Inglesa e Língua Portuguesa há 24 anos na EMEF Gilberto Jorge.

Fabíola Stein

Formada em Letras Português/Espanhol pela UFRGS. Atualmente é aluna de Mestrado em Letras da UFRGS, na linha de pesquisa Linguística Aplicada, e membra do grupo de pesquisa Interação Social e Etnografia (ISE).

Referências

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