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Como treinar para vir a ser um corredor de meio fundo de alto nível

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Academic year: 2021

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Como treinar para vir a ser um corredor de meio 

fundo de alto nível 

L. Mikkelsson 

Traduzido por Joaquim Neves 

Mikkelson, L. (1996): How to train to become a top distance runner. New Studies in Athletics 11 (4): 37-44

Nota do tradutor – As expressões terminológicas no âmbito do treino desportivo estão longe do consenso. Assim, e para não induzir o leitor em erro ou adulterar as ideias do autor, optámos por manter algumas expressões em língua inglesa 

1. Introdução 

Os finlandeses desde sempre gostaram de ter sucesso nas corridas de meio  fundo  e  fundo.  As  suas  elevadas  “performances”  assentaram  no  treino  intenso e na grande perseverança dos atletas. Nesta apresentação colocarei  o  enfoque  nos  princípios  do  treino  que,  em  minha  opinião,  a  longo  prazo  conduzem ao sucesso e garantem a exploração do potencial do atleta. Se o  atleta não tiver o desejo de atingir o alto nível, todo o nosso esforço será em  vão e o tempo despendido um desperdício. 

2. Como Treinar a “Basic Endurance” 

O  corredor  necessita  de  ter  “basic  endurance”  para  estar  em  condições  de  treinar  com  prazer.  Se  o  atleta  tiver  uma  fraca  “basic  endurance”  não  apreciará  treinar  em  contacto  com  a  natureza  na  Finlândia  e,  quem  sabe,  mais tarde em diferentes cantos do mundo. 

A  exposição  ,  continuada  no  tempo,  do  organismo  ao  “stress”  fortalece  o  coração e melhora a circulação através do aparecimento de novos capilares  periféricos.  A  optimização  deste    processo  pode  verificar­se  apenas  após  muitos anos de treino. 

É importante que o jovem corredor treine na floresta, na estrada, na neve, na  pista,  enfim,  em  todos  os  tipo  de  piso.  No  desenvolvimento  da  “basic  endurance”,  o  atleta  terá  que  se  empenhar  ao  máximo  para  explorar  o  seu  potencial até ao limite. 

Sem uma rígida auto disciplina e treino continuado no tempo, será impossível  conseguir um desenvolvimento significativo. 

No  início  da  carreira,  o  corredor  deve  habituar­se  a  treinar  diariamente  e,  mais tarde, duas vezes por dia. No futuro, será possível a um corredor treinar

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três  vezes  por  dia,  desde  que  a  alimentação,  o  repouso,  a  massagem    e  outros meios de regeneração sejam optimizados. 

Os nossos corredores treinam, primeiro sobre distâncias de 5 Km, depois 10  Km e, finalmente, até 30 Km, de forma fácil sem experimentarem uma fadiga  muito  acentuada.  Para  se  evitar  uma  fadiga  excessiva,  o  volume  da  corrida  deverá ser planeado para a carreira, para a época desportiva, para o mês e  para o dia. 

A  frequência  cardíaca  varia  em  função  do  estado  de  treino  e  da  especialidade  praticada.  No  treino  de  “basic endurance”,  a  frequência  oscila  habitualmente entre 130 a 150 pulsações por minuto (figura 1). A velocidade  de corrida varia entre os 6’  ao Km até aos 3’ 30” desde o principiante até ao  corredor de alto nível. Se o volume de treino evoluir de acordo com o quadro  1,  o atleta terá seguramente uma boa “basic endurance”. Para as mulheres,  o volume de treino deverá ser cerca de 10% inferior ao indicado no quadro. 

A  linha  de  cima  indica  o  limiar  anaeróbico  e  a  linha  de  baixo  o  limiar  aeróbico 

Figura 1 – frequência cardíaca durante o treino de “basic endurance” 

Quadro 1 : Volume anual de treino recomendado (em milhas) 

14 anos  15 anos  16 anos  17 anos  18 anos  19 anos 

20­22  anos  22­35  anos  800m  1000  1250  1500  1750  2000  2250  2500  2800  1500m  1200  1500  1800  2100  2400  2700  3100  3500  5000m  1200  1600  2000  2400  2800  3200  3700  4­5000  Quadro 2 : Unidades de treino por semana 

14 anos  15 anos  16 anos  17 anos  18 anos  19 anos  20­22 anos  22­35 anos 

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Quadro 3 : Participação noutros desportos (horas semanais) 

14 anos  15 anos  16 anos  17 anos  18anos  19 anos  20­22 anos  22­35 anos 

8  7  6  5  4  3  2 

3. Como Treinar a “speed endurance” 

Uns  bons  alicerces  de  “basic  endurance” facilitam  a  assimilação  do  trabalho  de  “speed  endurance”.  Nos  estímulos  de  treino  dirigidos  para  o  desenvolvimento  desta  capacidade,  a  frequência  cardíaca  deverá  situar­se  20  a  40  pulsações  abaixo  da  máxima.  Isto  determina  a  produção  de  algum  lactato que facilmente será removido pelos músculos e pelo coração. 

Os  valores  da  frequência  cardíaca  deverão  oscilar  entre  150­170  pulsações  por minuto para atletas adultos, e entre 160­180 para jovens atletas (figura 2).  Por  outras  palavras,  o  trabalho  de  “speed  endurance”  é  realizado  a  85­90%  da  frequência  cardíaca  máxima.  Dever­se­ão,  contudo  considerar  diferenças  inter  individuais.  As  distâncias  a  considerar  neste  tipo  de  trabalho  variam  entre  3­5  Km  para  jovens  corredores  e  até  20  Km  para  corredores  de  maratona.  Estas  distâncias  poderão  ser  corridas  em  ritmo  uniforme  ou  alternando 1 km lento com 1 Km rápido. Os jovens corredores deverão correr  a  ritmos  moderados,  enquanto  que  os  melhores  corredores  finlandeses  correm a  3´­ 3´30”  ao  km  (homens)  e 3’20” – 3’ 30” (mulheres). 

A  linha  de  cima  indica  o  limiar  anaeróbico  e  a  de  baixo  o  limiar  aeróbico 

Figura 2 ­ Frequência cardíaca no treino de “speed endurance” 

Se  a  capacidade  de  “basic  endurance”  estiver  bem  desenvolvida,  os  atletas  poderão manter os ritmos máximos de “speed endurance” durante 20 Km. Na  maratona poderão suportar ritmos apenas em 10s por km inferior ao máximo.

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O volume de treino dirigido para o desenvolvimento desta capacidade é mais  importante do que a frequência da sua realização. 

Os atletas  adultos deverão correr 500 a 1000 Km anualmente (dependendo  do nível de qualificação e da especialidade) em regime de “speed endurance”  , o que corresponde a cerca de 10% do volume total de treino. 

O  trabalho  dirigido  para  o  desenvolvimento  desta  capacidade  deverá  ser  realizado  sempre  sobre  a  mesma  distância  para,  mais  facilmente,  se  poder  controlar  o  treino.  A  velocidade  a  adoptar  deverá  ser  moderada  durante  o  Outono e, progressivamente, aumentar durante o Inverno e Primavera. Com  a  progressiva  melhoria  da  condição  física,  para  a  mesma  velocidade  de  corrida, verifica­se uma descida da frequência cardíaca. 

Aquando da aplicação deste tipo de treino o treinador deverá ter em atenção  as  diferentes  condições  externas  bem  como  o  estado  do  tempo.  Quando  o  treino  é  realizado  em  percursos  com  subidas  e  descidas  a  componente  anaeróbia adquire bastante importância, o que não é problemático. 

A  velocidade  de  corrida  deverá  ir  aumentando  de  forma  progressiva.  Se  tal  não  acontecer,  provavelmente  os  treinos  orientados  para  a  regeneração  estarão a ser demasiado intensos. 

Durante o Período Preparatório, os estímulos de “Speed Endurance” deverão  ser aplicados duas vezes por semana. No período pré competitivo deveremos  aplicar este tipo de estímulos apenas uma vez por semana. O treinador tem a  obrigação de observar os atletas na realização destas unidades de treino. 

No  quadro  4  apresentam­se  registos  do  desenvolvimento  da  “Speed  Endurance”  com  distâncias  que  variam  entre  5  e  15  Km.  Outra  forma  a  considerar  para  o  desenvolvimento  desta  capacidade  baseia­se  na  frequência cardíaca, que se deverá manter entre 85 a 90% da máxima. Nos  meses  de  Maio  a  Julho  dever­se­á  garantir  a  manutenção  dos  níveis  anteriormente atingidos. 

Quadro 4 : Evolução mensal da “speed endurance” (min/Km) 

Novembro  Dezembro  Janeiro  Fevreiro  Março  Abril 

Homens  3.35  3.30  3.25  3.20  3.15  3.10  Homens  (juniores)  3.55  3.50  3.45  3.40  3.35  3.30  Mulheres  4.10  4.05  4.00  3.55  3.50  3.45  Mulheres  (juniores)  4.25  4.20  4.15  4.10  4.05  4.00

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4 – O Treino da “Maximum Endurance” 

Para  treinar  a  “Maximum  Endurance”  devemos  realizar  corridas  de  3000  a  10000  metros  à  velocidade  de  competição,  ou  então  correr  em  terrenos  de  grande exigência a velocidades elevadas. 

As  competições  de  Corta    Mato  constituem  uma  forma  natural  de  corrida  exigente com vista ao incremento do VO2 máximo. 

Neste  tipo  de  treino,  a  frequência  cardíaca  eleva­se  até  95%  da  máxima,  e,  por vezes, até à máxima no final da corrida (ver figura 3).  As competições de  3000 a 10000 metros são os estímulos mais exigentes para o incremento do  consumo máximo de oxigénio. Neste tipo de estímulos, o atleta gasta todo o  oxigénio  que  os  glóbulos  vermelhos  conseguem  transportar  a  partir  dos  pulmões  e,  habitualmente,  é  atingida  a  frequência  cardíaca  máxima.  A  formação dos corredores de bom nível exige a participação em competições  de luta intensa, vitórias e derrotas. 

Figura 3 ­ Frequência cardíaca durante o treino de “maximal endurance” 

Os conteúdos de treino mais usualmente adoptados para o desenvolvimento  do consumo máximo de oxigénio são as repetições de 1000 a 3000 metros, o  fartlek  e  as  corridas  em  rampa.  As  repetições  de  1000  metros  são  habitualmente  percorridas  à  velocidade  dos  3000  –  5000  metros  e  as  repetições  de  2000  metros  à  velocidade  dos  10000  metros  ou  ao  correspondente grau de percepção do esforço. 

Na  preparação  para  as  provas  de  Corta  Mato,  as  repetições  devem  ser  realizadas  à  velocidade  competitiva,  e  o  volume  total  da  unidade  de  treino  deve igualar a distância competitiva.

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Os  corredores  de  800  metros  podem  desenvolver  o  consumo  máximo  de  oxigénio realizando repetições de 1 a 3’ de corrida fora da pista. 

O treino de Fartlek deve ser realizado em percursos exigentes. Neste método  de  treino,  um  atleta  em  boa  condição  consegue  correr  de  forma  intensa,  a  velocidade  constante,  e  ainda  tem  capacidade  para  incrementar  o  esforço  quando  surgem  subidas  e  descidas.  O  Fartlek  é  uma  expressão  sueca  que  significa “jogo de velocidades” mas, na realidade, isto  tem pouco de lúdico. 

As  distâncias  utilizadas  no  treino  de  rampas  podem  variar  entre  300  e  600  metros  (  por  vezes  mesmo  1000  metros),  dependendo  da  especialidade  de  cada  atleta.  O  número  de  repetições  varia  de  5  a  10,  segundo  a  condição  física e idade dos praticantes. O treino de rampas promove o incremento do  consumo  de  oxigénio.  Quanto  mais  inclinada  for  a  rampa  mais  oxigénio  se  torna  necessário  para  atingir  o  topo.  O  treinador  deverá  prestar  atenção  à  técnica de corrida mesmo nos esforços mais intensos. No treino de rampas, o  bom  treinador  observa  o atleta  de  forma  próxima,  dando especial atenção  à  atitude  de  corrida  em  descontracção,  aos  joelhos  altos, bacia  alta,  extensão  potente dos tornozelos e acção intensa dos braços. Os multisaltos constituem  outra forma eficaz de utilizar as rampas. Este conteúdo de treino promove o  incremento  do  consumo  de  oxigénio  e  aumenta  a  potência  da  corrida.  Deve  prestar­se especial atenção à elevação dos joelhos até à horizontal e manter  a bacia alta. É importante realizar trabalho de saltos durante todo o ano, a fim  de evitar lesões musculares.  Na formação dos jovens corredores de meio fundo, o incremento do consumo  de oxigénio e o aumento da velocidade de corrida constituem factores chave  do processo de treino. Por si só um bom consumo de oxigénio não serve de  nada, se o atleta não tiver a capacidade de correr rápido. 

No  quadro  5  apresentam­se  alguns  exemplos  para  corredores  de  3000  –  10000 metros desenvolverem a sua “maximum speed endurance”  utilizando  repetições  de  1000  metros  quando,  no  Inverno,  os  sapatos  de  corrida  têm  uma boa aderência ao solo. 

Quadro 5 : Desenvolvimento  do  consumo  máximo de  oxigénio utilizando repetições de 1000 metros 

Janeiro  Fevereiro  Março  Abril  Maio  Junho  Julho 

Homens  2.58  2.55  2.52  2.49  2.46  2.43  2.40  Homens  (juniores)  3.08  3.05  3.02  2.59  2.56  2.53  2.50  Mulheres  3.23  3.20  3.17  3.14  3.11  3.08  3.05  Mulheres  (juniores)  3.38  3.35  3.32  3.29  3.26  3.23  3.20  Nos meses de Janeiro e Fevereiro as repetições são realizadas fora da pista,  ao  ritmo  de  corrida  dos  10000  metros.  Em  Abril  e  Maio  são  realizadas  ao  ritmo dos 5000 metros e, no Verão, ao ritmo dos 3000 metros.

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A frequência cardíaca deve situar­se entre 95 a 100% da máxima. Os atletas  seniores  deverão  realizar  8  repetições  no  Inverno,  6  na  Primavera  e  4­5  no  Verão.  Para  as  mulheres  e  atletas  juniores  sugere­se  a  realização  de  5­6  repetições  no  Inverno,  4­5  na  Primavera  e  3­4  no  Verão.  O  tempo  de  recuperação varia entre 2’ no Inverno e 4’­5’ no Verão. 

Os  conteúdos  de  treino  dirigidos  para  a  “maximum  speed  endurance”  deverão preencher 5% do volume total do treino. Assim, um atleta que corra  anualmente  5000  Km  deverá  correr  250  Km  a  velocidades  que  contribuam  para o desenvolvimento desta capacidade. 

5. O Treino da “Anaerobic Endurance” 

A  “anaerobic  endurance”  é  necessária  fundamentalmente  para  os  400­800  metros, mas é também importante para os 200, 1500, 5000 e 10000 metros,  especialmente aquando da aplicação da velocidade terminal e nas variações  de ritmo ditadas por razões de natureza táctica. 

No  treino  desta  capacidade  há  uma  considerável  produção  de  lactato.  Os  corredores  de  400  –  800  metros,  quando  estão  na  máxima  forma,  possuem  uma  excelente  capacidade  para  o  tolerar.  A  concentração  de  lactato  no  sangue capilar chega a atingir os 22­25 mmol/l. 

A  “anaerobic  endurance”  pode  ser  desenvolvida  através  do  progressivo  desenvolvimento  da  “speed  endurance”  durante  um  período  de  6  semanas.  Na  prática,  os  principais  problemas  estão  geralmente  associados  à  manutenção  do  nível elevado  de “anaerobic endurance”, ou  na  obtenção  do  seu pico, preservando uma atitude de corrida em descontracção. As grandes  variações no treino da velocidade ocasionam, frequentemente, problemas de  natureza  técnica  e  muscular.  Assim,  o  corredor  deve,  gradualmente,  acostumar­se  à  “anaerobic  endurance”  através  de  estímulos  exigentes  em  termos de  consumo de oxigénio. A diferença entre estímulos dirigidos para o  incremento  do  consumo  de  oxigénio  e  para  a  “anaerobic  endurance”  é  basicamente teórica e depende muito do nível de resistência do atleta. Para o  treinador é mais importante concentrar­se nos aspectos práticos do treino, do  que  gastar  tempo    a  conjecturar  se o  treino é  mais  dirigido  para o  consumo  máximo de oxigénio ou para a “anaerobic endurance”. 

No Inverno, os corredores de meio fundo finlandeses realizam treino básico,  trabalho de “speed endurance”  ou  “maximum endurance” combinados com  exercícios dirigidos para a melhoria da força, resistência muscular e potência. 

Antes  das  competições  de  pista  coberta  são  aplicados  alguns  estímulos  de  “anaerobic  endurance”  ,  especialmente  aos  atletas  de  800­1500  metros.  Durante  o inverno,  recomenda­se  também  a  aplicação  destes  conteúdos  de  treino aos jovens corredores daquelas distâncias. 

Não  há  razão  para    se  ter  receio  de  aplicar  estímulos  de  velocidade.  Esta  capacidade  pode  ser  desenvolvida  através  de  repetições  de  corrida  rápida,  vários  tipos  de  aceleração  e  repetições  de  corrida  com  variações  de

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velocidade.  Na  aplicação  deste  tipo  de  trabalho  a  jovens  corredores  deve  evitar­se  a  realização  de  repetições  que  entrem  no  domínio  da  “anaerobic  endurance”. 

No processo de treino dos especialistas de 800­1500 metros os estímulos de  “anaerobic endurance” devem preencher 2 a 3 % do volume anual de treino.  Para os corredores de distâncias mais longas 1% é suficiente. No treino dos  maratonistas,  este  tipo  de  estimulação  ocorre,  habitualmente,  apenas  nas  competições secundárias. 

Quadro 6 : Desenvolvimento da “anaerobic endurance” utilizando diferentes repetiçoes 

Quadro 7 : Desenvolvimento da “anaerobic endurance “ utilizando repetições de 200m 

No  quadro  6  apresenta­se  uma  sugestão  para  o  desenvolvimento  da  “anerobic  endurance”  com  atletas  de  800  metros.  Contudo,  Têm  que  se  ter  em  atenção  as  diferenças  individuais  tais  como  o  volume  de  “speed  endurance”  já assimilado ao longo da carreira desportiva. 

Os corredores mais rápidos deverão realizar menos repetições percorridas a  maior velocidade. Os corredores mais resistentes, se também competem em  1500 metros, deverão realizar mais repetições a menor velocidade. 

Outro  conteúdo  de  treino  dirigido  para  o  desenvolvimento  da  “anaerobic  endurance”  é o treino intervalado sobre 200 metros que, habitualmente, não  provoca  grandes tensões  musculares,  mesmo  no  caso do  corredor  típico  de  resistência (Exemplo – 3 x 4 – 6 x 200 / 200 / 1000).

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6. O Treino da Velocidade 

Os  corredores  de  meio  fundo  têm  que  desenvolver  a  capacidade  de  correr  rápido  debaixo  de  um  elevado  grau  de  fadiga.  Desta  forma,  terão  mais  hipóteses  de  ganhar  as  competições.  No  treino  das  especialidades  de  meio  fundo tem que se incluir estímulos de velocidade, mas a velocidade por si só  não  vale  de  nada  se  outros  já  cortaram  a  meta.    A  resistência  deverá  constituir a base sobre a qual se constrói a velocidade para o “sprint” final. 

O treino de velocidade para corredores de 800 metros e da milha pode tomar  a  forma  de  3  a  5  séries  de  3  a  5  repetições  de  corrida  rápida  com  passada  ampla  sobre  50  a  100  metros,    de  mudanças  de  ritmo  desde  a  corrida  em  descontracção  até  picos  de  velocidade  máxima,  bem  como  pequenas  competições com os companheiros de treino. 

Durante o Inverno, os corredores de meio fundo deverão desenvolver os pré  requisitos  da  corrida  rápida  através  do  treino  em  circuito,  treino  de  rampas,  corrida na neve ou em terreno pesado, treino coordenativo, treino da força e  jogos com bola. 

Durante  o  Inverno,  o  atleta  deve  aumentar  o  ritmo  de  corrida  uma  vez  por  outra  e  incluir  algumas  acelerações  durante  o  treino.  Com  estas  medidas  evita­se que os ritmos sejam excessivamente lentos, e estimula­se o sistema  neuro­muscular. 

As  rectas  em  aceleração  constituem  excelente  conteúdo  de  treino  para  o  corredor de meio fundo. O objectivo é acelerar gradualmente até à velocidade  máxima  ou  sub  máxima,  e  manter    a  velocidade  adquirida  durante  20  a  50  metros. 

Durante  a  realização  destes  exercícios  o  papel  do  treinador  é  muito  importante.  Ele  deve  observar  a  posição  da  cabeça,  a  acção  das  mãos,  a  altura da bacia, a elevação dos joelhos, a acção dos calcanhares, o trabalho  dos tornozelos e, é claro, o controlo corporal em termos globais. 

Os  filmes  em  vídeo  são  úteis  para  se  obter  uma  imagem  o  mais  realista  possível da execução técnica da corrida. Quando avalia a técnica da corrida,  o treinador tem que ter sempre em atenção as diferenças estruturais, a base  de  treino  e  as  exigências  específicas  da  especialidade  do  atleta  (dos  800  metros até à maratona). 

Embora  o  treino  da  manhã  não  seja  o  mais  eficaz  para  o  treino  da  velocidade,  a  realização  de  duas  ou  três  acelerações  durante  este  treino  prepara  o  organismo  para  o  principal  treino  do  dia.  O  treino  da  velocidade  contribui  para  a  melhoria  da  performance,  mas  não  se  pode  ser  um  bom  corredor  de  meio  fundo  se  no  treino  da  manhã  não  se  realizar  um  elevado  volume de treino. O atleta terá que decidir se quer realmente ser um corredor  de meio fundo, ou se pretende apenas brincar às corridas.

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No seu conjunto, os exercícios de velocidade realizados na relva, em terreno  de  “Cross”    e  na  pista  constituem,  no  treino  do  corredor    de  800  ­  1500  metros,  2  a  3%  do  volume  anual  de  treino.  Para  os  atletas  das  distâncias  mais  longas,  o  treino  da  velocidade  não  deverá  ocupar  mais  do  que  1%  do  volume anual. 

7. A Programação do Treino 

7.1. A Carreira do Atleta 

Os  factores  mais  importantes  a  considerar  no  planeamento  do  treino  são  o  talento  e    a  força  de  vontade  do  atleta.  A  carga  colocada  ao  atleta  pelo  emprego ou pela escola e a vontade que o atleta tem de treinar têm que ser  equacionadas  em  conjunto.  Apenas  desta  forma  as  coisas  poderão  ser  colocadas numa perspectiva correcta. Um atleta talentoso terá a recompensa  de  ver  o  seu  potencial  elevado  ao  máximo,  se  em  determinada  fase  da  sua  carreira tiver feito um forte investimento. 

O  treinador  tem  que  ter  uma  imagem  clara  de  como  treinar  os  atletas  em  diferentes idades,  e de como modificar gradualmente o treino tendo em vista  as exigências específicas da especialidade praticada. 

7.2. O Plano Anual 

Na maior parte dos casos, o treinador, em primeiro lugar, consulta o atleta e,  posteriormente,  traça  as  linhas  do  plano  anual  de  treino.  É  bom  que  os  objectivos a atingir sejam equacionados em conjunto, e que se pense sobre a  quantidade  e  qualidade  de  treino  necessário  para  se  alcançar  os  objectivos  desejados. 

Na organização anual do treino consideram­se os períodos Preparatório, Pré  Competitivo,  Competitivo  e  Transitório.  Os  espaços  temporais  de  cada  período são os seguintes:  Período Preparatório I – Out/Nov/Dez  Período Preparatório II – Jan/Fev/Mar  Período Pré Competitivo – Abr/Mai/Jun  Período Competitivo – Jul/Ago  Período Transitório – Set  7.3. O Plano Mensal 

Para  o  treinador  é  útil  escrever  no  plano  de  treino  mensal  o  treino  de  cada  dia. Contudo, ele deverá fornecer ao atleta o plano para apenas uma ou duas  semanas.  O  treinador  deverá  ter  sempre  em  atenção  as  exigências  que  o 

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7.4. O plano Semanal 

O plano  diário do treino segue, habitualmente, o ritmo semanal. Isto deve­se  ao horário escolar, ao tempo disponível para o treino e mesmo ao horário de  trabalho  do  treinador.  Há  treinadores  que  consideram  curto    o  espaço  de  tempo semanal. Alguns treinadores experientes usam microciclos de 10 dias  ou  de  duas  semanas  para  poderem  incluir  todos  os  estímulos  considerados  adequados no mesmo ciclo. 

Na prática, há interesse em, semanalmente ou de duas em duas semanas, o  atleta  fornecer  ao  treinador  os  registos  dos  treinos  efectuados.  Durante  o  período  competitivo  ou  nalgum  período  de  treino  intenso,  muitas  vezes  são  necessários  ajustamentos  se  o  atleta,  inesperadamente,  está  demasiado  fatigado.  Quando  isto  acontece  raramente  a  razão  reside  na  preguiça  do  atleta  e,  naturalmente,  é  necessário  com  a  máxima  brevidade  possível  encontrar a razão desta fadiga.  7.5. O Plano Diário  O treinador deve rever sempre o plano de treino para o dia seguinte, e ter a  confirmação de que o treino poderá ser assimilado conforme o planeado. Um  bom treinador tem sempre um plano de unidade de treino alternativo em caso  de qualquer contrariedade (por exemplo não poder utilizar o ginásio). 

As  vezes,  é  necessário  o  treinador  relembrar  aos  atletas  os  objectivos  associados  ao  plano  de  treino  que  se  pretende  executar.  Os  atletas,  por  vezes, têm que fazer sacrifícios no dia a dia se querem realmente atingir os  objectivos  a  que  se  propuseram.  Alguns  jovens  colocam  as  suas  metas  demasiado  altas,  tanto  para  a    carreira  académica  como  para  a  carreira  desportiva. Quando isto acontece, a vida torna­se demasiado complicada e é  mau para toda a gente. 

7.6. O Volume de Treino 

Os corredores de meio fundo têm que realizar elevados volumes de treino. O  volume  anual  dos  melhores  corredores  finlandeses  de  1500  metros  é  o  seguinte: 

14 anos  16 anos  18 anos  20­22 anos  22­35 anos  1200 milhas  1800 milhas  2400 milhas  3100 milhas  3500 milhas  1920 Km  2880 Km  3840 Km  4960 Km  5600 Km 

O volume de treino para os corredores de 800 metros é cerca de 15%  mais  baixo.  Para  os  corredores  de  distâncias  mais  longas  é  cerca  de  15%  mais

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alto. As mulheres e as raparigas deverão realizar um volume de treino cerca  de 10% inferior ao dos homens e rapazes. 

7.7. A Intensidade do Treino 

Em  termos  genéricos  a  intensidade  do  treino  a  realizar  anualmente  varia  segundo as especialidades da seguinte forma:  800 m  1500 m  5000­10000m  “Speed”  3%  2%  1%  “Anaerobic endurance”  3%  2%  1%  “Maximum Endurance”  6%  5%  5%  “Speed Endurance”  6%  8%  10%  “Basic Endurance”  82%  83%  83%  Estas percentagens representam apenas linhas de orientação. O treinador e  o atleta têm que tomar decisões em conjunto, e de acordo com as condições  envolventes e a situação específica do processo de treino.  8. Conclusão 

O  mais  importante  é  a  corrida  em  si  própria.  Os  atletas  devem  ser  encorajados  a  correr  muito,  e  de  forma  intensa.  Enquanto  que  o  treino  intenso  tolera  alguns  erros,  o  treino  pouco  exigente,  ainda  que  bem  conduzido, não promove o desenvolvimento do corredor da forma desejada. 

Após  o  treino  intenso  é  imperioso  repousar  de  forma  adequada.  A  competição constitui o instrumento da aferição do processo de treino. Vale a  pena levar o treino a sério, mas não demasiado a sério. 

Um  corredor  de  fundo  nunca  desiste.  Mesmo  quando  o  esforço  se  torna  intensamente  doloroso  o  atleta  tem  que  saber  superar­se  sem,  por  um  momento, deixar de acreditar em si próprio.

Referências

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