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Apresentação da demanda e procedimentos subseqüentes (parágrafo 1º ao 6º)

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1988

APLICABILIDADE DA OBRIGAÇÃO DE ARBITRAGEM EM VIRTUDE DA SEÇÃO 21 DO ACORDO DE 26 DE JUNHO DE 1947 RELATIVO À SEDE DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

(1988) 20. Parecer Consultivo de 26 de abril de 1988

A Corte proferiu um parecer consultivo sobre a questão da aplicabilidade da obrigação de arbitragem em virtude da seção 21 do acordo de 26 de junho de 1947 relativo à sede da Organização das Nações Unidas. Depois de um processo acelerado, a Corte proferiu este parecer em resposta a uma demanda apresentada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em sua Resolução 42/229B, adotada em 2 de março de 1988.

Em sua decisão, a Corte expressou a opinião de que os Estados Unidos da América são obrigados, conforme a seção 21 do acordo relativo à sede da Organização das Nações Unidas, a recorrer à arbitragem para a solução de uma controvérsia entre este e a Organização.

A Corte estava composta como se segue: Presidente Ruda, Vice-Presidente Mbaye, juízes Lachs, Nagendra Singh, Elias, Oda, Ago, Schwebel, Sir Robert Jennings, Bedjaoui, Ni, Evensen, Tarrassov, Guillaume, Shahabuddeen.

O juiz Elias anexou uma declaração ao parecer da Corte. Os juízes Oda, Schwebel e Shahabuddeen anexaram suas opiniões individuais ao parecer consultivo.

A demanda da Assembléia Geral foi apresentada em razão da situação criada pela promulgação da lei contra terrorismo, adotada pelo Congresso dos Estados Unidos em dezembro de 1987 e visando expressamente a Organização da Libertação da Palestina (OLP); esta lei declara ilegal o estabelecimento ou manutenção de um Escritório da OLP dentro dos limites da jurisdição dos Estados Unidos. Portanto, esta lei diz respeito em particular ao Escritório da Missão de Observação da OLP junto à Organização das Nações Unidas, estabelecida em Nova York depois que a Assembléia Geral conferiu em 1974 o status de observador à OLP. O Secretário Geral das Nações Unidas estimou que a questão da manutenção deste Escritório relacionava-se com o acordo de sede concluído em 26 de junho de 1947 com os Estados Unidos.

Após ter mencionado os relatórios apresentados pelo Secretário Geral sobre os contratos e debates que ocorreram com o governo dos Estados Unidos a fim de evitar o fechamento do Escritório da OLP, a Assembléia Geral apresentou a seguinte questão à Corte;

“Dados os fatos consignados nos relatórios do Secretário Geral, os Estados Unidos da América, enquanto parte no acordo entre a Organização das Nações Unidas e os Estados Unidos da América relativo à sede da Organização das Nações Unidas, estão obrigados a recorrer à arbitragem conforme a seção 21 do acordo?”

Apresentação da demanda e procedimentos subseqüentes (parágrafo 1º ao 6º)

A questão sobre a qual um parecer foi demandado à Corte figura na Resolução 42/229B que a Assembléia Geral adotou em 2 de março de 1988. O texto integral desta resolução é o seguinte:

“A Assembléia Geral,

Relembrando sua Resolução 42/210B de 17 de dezembro de 1987 e considerando sua Resolução 42/229A abaixo,

Tendo examinado os relatórios do Secretário Geral de 10 e 25 de fevereiro de 1988 [A/42/915 e Add.1],

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Confirmando a posição do Secretário Geral, que constatou a existência de uma controvérsia entre a Organização das Nações Unidas e o país hospedeiro quanto à interpretação ou aplicação do acordo entre a Organização das Nações Unidas e os Estados Unidos da América relativo à sede da Organização das Nações Unidas, de 26 de junho de 1947 [ver Resolução 169 (II)], e notando que ele concluiu que as tentativas de solução amigável tinham chegado a um impasse e que, conforme o procedimento de arbitragem previsto na seção 21 do acordo, designou um árbitro e solicitou ao país hospedeiro que designasse o seu,

Considerando a dificuldade de tempo que requer a implementação imediata do procedimento de solução de controvérsias conforme a seção 21 do acordo,

Notando que se pode extrair do relatório do Secretário Geral, de 10 de fevereiro de 1988 (A/42/915), que os Estados Unidos da América não estavam em posição e não desejavam tornar-se oficialmente parte no procedimento de solução de controvérsias previsto na seção 21 do acordo de sede, e que os Estados Unidos ainda estavam examinando a situação,

Levando-se em conta as disposições do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, em particular os artigos 41 e 68,

Decide, conforme o artigo 96 da Carta das Nações Unidas, demandar à Corte Internacional de Justiça, aplicando o artigo 65 de seu Estatuto, um parecer consultivo sobre a seguinte questão, considerando a dificuldade de tempo:

‘Dados os fatos consignados nos relatórios do Secretário Geral [A/42/915 e Add.1], os Estados Unidos da América, enquanto parte no acordo entre a Organização das Nações Unidas e os Estados Unidos da América relativo à sede da Organização das Nações Unidas [ver Resolução 169 (II)], estão obrigados a recorrer à arbitragem conforme a seção 21 do acordo?’”

Em uma decisão de 9 de março de 1988, a Corte declarou que considerava que uma resposta rápida à demanda seria desejável (Regulamento da Corte, artigo 103) e que a Organização das Nações Unidas e os Estados Unidos da América eram julgados suscetíveis de fornecer informações sobre a questão (Estatuto, artigo 66, parágrafo 2º) e, acelerando seu procedimento, fixou em 25 de março de 1988 a data de expiração do prazo para o depósito de exposições escritas por eles e por qualquer outro Estado-parte no Estatuto da Corte que tenha manifestado o desejo de submeter uma exposição escrita. A Corte recebeu as exposições escritas da Organização das Nações Unidas, dos Estados Unidos da América, da República Árabe Síria, e da República Democrática Alemã. No curso das audiências públicas ocorridas em 11 e 12 de abril de 1988 com fins de conhecer as observações eventuais de participantes sobre as exposições apresentadas por outros, a Corte considerou as observações do conselheiro jurídico da Organização das Nações Unidas e das respostas que deu às questões colocadas por certos membros da Corte. Nenhum dos Estados que apresentou exposições escritas manifestou o desejo de ser ouvido. A Corte conheceu igualmente dos documentos que o Secretário Geral lhe havia fornecido conforme o artigo 65, parágrafo 2º do Estatuto.

Fatos a serem levados em conta para qualificar a situação (parágrafo 7 ao 22)

Para responder a questão que lhe foi colocada, a Corte deveria inicialmente examinar se existia entre a Organização das Nações Unidas e os Estados Unidos uma disputa do tipo previsto na seção 21 do acordo relativo à sede da Organização, cuja passagem pertinente assim dispõe:

“a) Qualquer disputa entre a Organização das Nações Unidas e os Estados Unidos com relação à interpretação ou aplicação do presente acordo ou de qualquer acordo adicional será, se não for solucionada por via de negociação ou por qualquer outro modo de solução acordado pelas partes, submetida, com a finalidade de proferir uma decisão definitiva, a um tribunal composto por três árbitros, em que um deles será designado pelo Secretário Geral, outro pelo Secretário de Estado dos Estados Unidos, e o terceiro escolhido pelos outros dois, ou, na falta de acordo entre eles sobre esta escolha, pelo Presidente da Corte Internacional de Justiça.”

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Para este fim, a Corte fez a cronologia dos eventos que conduziram em primeiro lugar o Secretário Geral, depois a Assembléia Geral das Nações Unidas, a concluir que tal disputa existia.

Estes eventos diziam respeito à Missão Permanente de observação da Organização de Libertação da Palestina na Organização das Nações Unidas em Nova York. Pela Resolução 3237 (XXIX) de 22 de novembro de 1974 da Assembléia Geral, a OLP foi convidada “a participar das sessões e trabalhos da Assembléia Geral na qualidade de observadora”. Em conseqüência, ela instalou uma Missão de Observação em 1974 e possui um Escritório em Nova York fora do distrito administrativo da sede da Organização das Nações Unidas.

Em maio de 1987, uma proposta de lei foi apresentada ao Senado dos Estados Unidos tendo por objeto “tornar ilegal a criação ou a manutenção nos Estados Unidos de um Escritório da Organização de Libertação da Palestina”; o artigo 3º desta proposta dispõe notoriamente que tal fato seria ilegal a contar da data de sua entrada em vigor, “não obstante qualquer disposição legal contrária, de estabelecer ou manter um escritório, uma sede, locais ou qualquer outra instalação ou estabelecimento dentro dos limites da jurisdição dos Estados Unidos, sob ordem da Organização de Libertação da Palestina ..., ou com fundos dela provenientes”.

Esta proposta de lei foi apresentada no outono de 1987 ao Senado sob forma de emenda ao Foreign Relations Autorization Act, Fiscal Years 1988 and 1989 (lei de abertura de créditos para assuntos exteriores, exercícios orçamentários de 1988 e 1989). Os termos deste texto deixavam o temor de que o governo americano procurasse fechar o Escritório da Missão de Observação da OLP se a lei fosse promulgada. Por conseguinte, em 13 de outubro de 1987, o Secretário Geral enfatizou em uma carta endereçada ao representante permanente dos Estados Unidos na Organização das Nações Unidas que a legislação visada era contrária às obrigações decorrentes do acordo de sede e, no dia seguinte, o observador da OLP levou a questão à atenção de um comitê das Nações Unidas, o Comitê de Relações com o País Hospedeiro. Em 22 de outubro, o porta-voz do Secretário Geral indicou, em uma declaração, que as seções 11 e 13 do acordo de sede impunham aos Estados Unidos a obrigação, em virtude deste acordo, de permitir ao pessoal da missão entrar e permanecer nos Estados Unidos para a prática de suas funções oficiais.

O relatório do Comitê de Relações com o País Hospedeiro foi submetido à 6ª Comissão da Assembléia Geral, em 24 de novembro de 1987. Durante o exame deste relatório, o representante dos Estados Unidos notou que:

“o Secretário de Estado dos Estados Unidos declarou que o fechamento desta missão constituiria uma violação das obrigações dos Estados Unidos em virtude do acordo de sede, que o governo dos Estados Unidos se opunha vigorosamente a tal situação, e que o representante dos Estados Unidos na Organização deu ao Secretário Geral as garantias no mesmo sentido”.

A posição adotada pelo Secretário de Estado dos Estados Unidos, de que os Estados Unidos “estão na obrigação de permitir ao pessoal da Missão de Observação da OLP entrar nos Estados Unidos e aí permanecerem para a realização de suas funções oficiais na Sede da ONU”, foi expressamente mencionada por um outro representante e confirmada pelo representante dos Estados Unidos.

As disposições de emenda mencionadas acima foram incorporadas na lei de abertura de créditos para assuntos exteriores, exercícios orçamentários de 1988 e 1989 dos Estados Unidos, como título X, sob o nome de Anti-Terrorism Act of 1987 (lei de 1987 contra o terrorismo). No início de dezembro de 1987, este texto não havia ainda sido adotado pelo Congresso dos Estados Unidos. Em 7 de dezembro, prevendo esta adoção, o Secretário Geral lembrou ao representante permanente dos Estados Unidos sua posição, de que os Estados Unidos eram juridicamente obrigados a manter as disposições concernentes à Missão de Observação da OLP, em vigor há muito tempo, e demandou, no caso do texto proposto adquirir força de lei, que lhe dessem a garantia de que estas disposições não seriam afetadas.

A Câmara de representantes e o Senado dos Estados Unidos adotaram a lei contra terrorismo em 15 e 16 de dezembro de 1987; no dia seguinte, a Assembléia Geral adotou a Resolução 42/210B, pela qual

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solicitava ao país hospedeiro que respeitasse as obrigações decorrentes do acordo e, a este respeito, que se abstivesse de tomar qualquer medida que impedisse a missão de realizar suas funções oficiais.

Em 22 de dezembro, o Presidente dos Estados Unidos assinou e promulgou a lei de abertura de créditos para assuntos exteriores, exercícios orçamentários de 1988 e 1989. A lei de 1987 contra o terrorismo, parte integrante da lei de abertura de créditos, deveria, segundo seus próprios termos, entrar em vigor 90 dias após esta data. No momento em que informou ao Secretário Geral, o representante permanente em exercício dos Estados Unidos declarou em 5 de janeiro de 1988:

“Visto que as disposições concernentes à Missão de Observação da OLP poderiam usurpar os poderes constitucionais do Presidente e que, se fossem aplicadas, seriam contrárias às nossas obrigações jurídicas internacionais decorrentes do acordo de sede das Nações Unidas, o governo tem a intenção de tirar vantagem do prazo de 90 dias que deve preceder a entrada em vigor desta disposição para consultar o Congresso a fim de regulamentar a questão.”

Entretanto, o Secretário Geral respondeu observando que não havia recebido a garantia que havia pedido e que não considerava que as declarações dos Estados Unidos permitiam assegurar o pleno respeito do acordo de sede. Ele prosseguiu nestes termos:

“Assim sendo, existe uma disputa entre a Organização e os Estados Unidos com relação à interpretação e aplicação do acordo de sede e, pelo presente, eu invoco o procedimento de solução de controvérsias enunciado na seção 21 do acordo acima mencionado.”

Em seguida, o Secretário Geral propôs que as negociações começassem conforme procedimento estabelecido na seção 21 do acordo.

Aceitando que as discussões oficiosas tivessem lugar, os Estados Unidos fizeram saber que ainda estavam avaliando a situação resultante da aplicação da lei e que não poderiam tomar parte no procedimento de solução de controvérsias previsto na seção 21. Entretanto, segundo uma carta enviada ao representante permanente dos Estados Unidos pelo Secretário Geral, em 2 de fevereiro de 1988:

“O procedimento previsto na seção 21 é o único recurso jurídico disponível à Organização das Nações Unidas no presente caso e ... urge o momento em que não terei outra escolha a não ser agir, seja com os Estados Unidos no quadro da seção 21 do acordo de sede, seja informando a Assembléia Geral do impasse no qual nos encontramos”.

Em 11 de fevereiro de 1988, o Conselheiro Jurídico das Nações Unidas informou ao Conselheiro Jurídico do Departamento de Estado que as Nações Unidas haviam escolhido seu árbitro em virtude de uma arbitragem nos termos da seção 21 e, devido às circunstâncias pediu-lhe que informasse o mais rápido possível à Organização das Nações Unidas o nome do árbitro escolhido pelos Estados Unidos. Mas nenhuma comunicação a este respeito foi recebida de sua parte.

Em 2 de março de 1988, a Assembléia Geral adotou duas resoluções sobre a questão. Na primeira, Resolução 42/229 A, a Assembléia, inter alia, reafirmou que a possibilidade de estabelecer e de manter locais e instalações adequadas para as necessidades da Missão de Observação deveria ser dada à OLP e considerou que a aplicação da lei contra o terrorismo em desacordo com esta reafirmação seria contrária às obrigações jurídicas internacionais consentidas pelos Estados Unidos em relação ao acordo de sede e que o procedimento de solução de controvérsias estabelecido na seção 21 do acordo deveria ser utilizado. Na segunda Resolução (42/229B), já mencionada, a Assembléia demandou à Corte um parecer consultivo. Embora os Estados Unidos não tenham participado na votação de nenhuma das duas resoluções, seu representante permanente em exercício fez uma declaração após esta votação em que declarou que seu governo não havia tomado uma decisão definitiva quanto à aplicação ou à implementação da lei contra o terrorismo no que concerne à missão da OLP e que pretendia “encontrar uma solução apropriada a este problema com base na Carta das Nações Unidas, no acordo de sede e nas leis americanas”.

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Fatos marcantes posteriores à apresentação da demanda (parágrafo 23 ao 32)

A Corte, percebendo que a Assembléia Geral havia demandado um parecer “à luz dos fatos expostos nos relatórios” apresentados pelo Secretário Geral antes de 2 de março de 1988, não considerou no presente caso que esta formulação a obrigava a não considerar os eventos pertinentes posteriores a esta data. Assim, a Corte levou em consideração a evolução do caso posteriormente à apresentação da demanda.

Em 11 de março de 1988, o representante permanente em exercício dos Estados Unidos informou ao Secretário Geral que o Attorney General havia estabelecido que a lei contra o terrorismo o colocava na obrigação de fechar o Escritório da Missão de Observação da OLP, mas que, se fosse necessário intentar uma ação para assegurar o respeito à lei, nenhuma outra medida seria tomada para obter o fechamento do Escritório “enquanto pendente uma decisão do litígio. Nestas condições, os Estados Unidos estimam que submeter este caso à arbitragem não seria de nenhuma utilidade”.

O Secretário Geral energicamente contestou este ponto de vista em uma carta de 15 de março. Ao mesmo tempo, em uma carta de 11 de março, o Attorney General advertiu o observador permanente da OLP que a partir de 21 de março a manutenção de sua missão seria ilegal. Como a missão da OLP não tomou medidas para se conformar às prescrições da lei contra o terrorismo, o Attorney General acionou o Tribunal Federal do Distrito Sul de Nova York. Em suas exposição escrita, os Estados Unidos informaram à Corte, entretanto, que “à espera de uma decisão judicial” não tomariam “nenhuma medida para fechar a missão. Como a questão levada a nossos tribunais ainda está pendente acreditamos que uma arbitragem não seria oportuna ou que não seria o momento adequado para recorrer a tal solução”.

Limites à tarefa confiada à Corte (parágrafo 33)

A Corte observou que sua única tarefa, tal como definida pela questão que lhe foi colocada, era de determinar se os Estados Unidos estavam obrigados a se submeter à arbitragem em virtude da seção 21 do acordo de sede. Em particular, a Corte não foi chamada a se pronunciar sobre a questão de saber se as medidas adotadas pelos Estados Unidos concernentes à Missão de Observação da OLP eram ou não contrárias a este acordo.

Existência de uma controvérsia (parágrafo 34 ao 44)

Dados os termos da seção 21, a), citados acima, a Corte deveria determinar se uma controvérsia existia entre a Organização das Nações Unidas e os Estados Unidos e, em caso afirmativo, determinar se tratava-se de uma controvérsia relacionada à interpretação ou à aplicação do acordo de sede e se assegurar que ela não havia sido regulamentada por via de negociações ou por qualquer outro modo de solução acordado pelas partes.

Para tal fim, a Corte relembrou que a existência de uma controvérsia, isto é, de um desacordo sobre um ponto de direito ou de fato, uma contradição, uma oposição de teses jurídicas ou de interesses, demandava ser estabelecida objetivamente e não poderia depender de simples afirmações ou contestações das partes. No presente caso, o ponto de vista do Secretário Geral, aprovado pela Assembléia Geral, era de que uma controvérsia que recaía sobre os dispositivos da seção 21 existiu a partir do momento em que a lei contra o terrorismo foi promulgada e na ausência de garantias adequadas de que esta lei não seria aplicada à Missão de Observação da OLP; ademais, o Secretário Geral contestou formalmente a conformidade da lei ao acordo de sede. Os Estados Unidos jamais contradisseram expressamente este ponto de vista, mas tomaram medidas contra a missão e indicaram que estas medidas seriam aplicadas quaisquer fossem as obrigações que teriam em virtude do acordo de sede.

Entretanto, na opinião da Corte, o simples fato de que a parte acusada de ter violado um tratado não apresentou nenhuma argumentação para justificar sua conduta tendo em vista o direito internacional não impedia que as atitudes opostas das partes fizessem nascer uma controvérsia relativa à interpretação ou aplicação do tratado. Porém, no curso das conversações de janeiro de 1988, os Estados Unidos fizeram saber que “a existência de uma controvérsia” entre a Organização das Nações Unidas e eles “ainda não estava estabelecida no momento atual já que a lei em questão ainda não havia sido aplicada” e, conseqüentemente,

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ao se referir à “controvérsia atual relativa ao estatuto da Missão de Observação da OLP”, havia expresso a opinião que a arbitragem seria prematura. Depois de impetrar uma ação perante os Tribunais nacionais, os Estados Unidos informaram à Corte, em sua exposição escrita, que eles pensavam que uma arbitragem não seria “oportuna e que este não seria o momento para recorrer a tal solução”.

A Corte não poderia fazer prevalecer considerações de oportunidade sobre as obrigações resultantes da seção 21. Ademais, o processo de arbitragem previsto por este acordo tinha precisamente por objeto permitir a solução de controvérsias entre a Organização das Nações Unidas e o país hospedeiro sem recurso prévio aos tribunais nacionais. A Corte não poderia igualmente admitir que o compromisso de não tomar nenhuma medida para obter o fechamento da missão antes da decisão da jurisdição interna impedisse o nascimento de uma controvérsia.

A Corte considerou que o objeto principal, se não exclusivo, da lei contra o terrorismo era o fechamento do Escritório da Missão de Observação da OLP e notou que o Attorney General estimou que estava na obrigação de tomar as medidas para proceder a tal fechamento. O Secretário Geral constantemente contestou as decisões inicialmente contempladas e depois tomadas pelo Congresso e pela Administração dos Estados Unidos. Nestas condições a Corte estava obrigada a constatar que as atitudes opostas da Organização das Nações Unidas e dos Estados Unidos mostravam a existência de uma controvérsia, qualquer que fosse sua data de origem.

Qualificação da controvérsia (parágrafo 46 ao 50)

Quanto à questão de saber se a controvérsia diz respeito à interpretação ou à aplicação do acordo de sede, a Organização das Nações Unidas chamou a atenção para o fato de que a OLP havia sido convidada a participar das sessões e trabalhos da Assembléia Geral na qualidade de observadora; a Missão de Observação da OLP estava, em conseqüência, coberta pelas disposições das seções 11 a 13 e deveria ter a possibilidade de estabelecer e manter locais e instalações adequados para a realização de suas funções. Na opinião das Nações Unidas, as medidas visadas pelo Congresso, e finalmente tomadas pela administração dos Estados Unidos, seriam assim contrárias ao acordo se fossem aplicadas à missão, e sua adoção teria por conseqüência criar uma controvérsia relativa à interpretação ou aplicação do acordo.

Em seguida à adoção da lei contra o terrorismo, os Estados Unidos inicialmente visaram interpretar esta lei em um sentido compatível com as obrigações impostas pelo acordo, mas em 11 de março, seu representante permanente em exercício fez conhecer ao Secretário Geral que o Attorney General havia entendido que esta lei o colocava na obrigação de fechar a missão quaisquer que fossem estas obrigações. O Secretário Geral contestou este ponto de vista em nome da preeminência do direito internacional sobre o direito interno. Dessa forma, em uma primeira fase, as discussões versaram sobre a interpretação do acordo e, nesta perspectiva, os Estados Unidos não contestaram que certas disposições do acordo se aplicavam à Missão de Observação da OLP, mas em uma segunda fase, fizeram prevalecer a lei sobre o acordo, e o Secretário Geral contestou que tal ato pudesse ser feito. Ademais, os Estados Unidos tomaram um certo número de medidas contra a Missão de Observação da OLP. O Secretário Geral as considerou como contrárias ao acordo. Sem contestar este ponto de vista, os Estados Unidos declararam terem tomado estas medidas “quaisquer que fossem as obrigações impostas ... em virtude do acordo”. Estes dois pontos de vista eram inconciliáveis; desta maneira, existe entre a Organização das Nações Unidas e os Estados Unidos uma disputa relativa à aplicação do acordo de sede.

Pode-se questionar se, no direito interno americano, a lei contra o terrorismo poderia ser considerada como sendo efetivamente aplicada somente na hipótese em que, ao final dos processos judiciais em curso perante os tribunais nacionais, a missão fosse efetivamente fechada. Mas este fato não é determinante em relação à seção 21, que visa a aplicação do próprio acordo, e não a aplicação das medidas tomadas no direito interno dos Estados Unidos.

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A condição concernente à não regulamentação da disputa por qualquer outro modo de solução acordado (parágrafo 51 ao 56)

A Corte abordou em seguida a questão de saber se a controvérsia não poderia, conforme a seção 21, a), “ser regulamentada por via de negociações” ou por “qualquer outro modo de solução acordado pelas partes”. O Secretário Geral não só invocou o procedimento de solução de controvérsias mas também sustentou que negociações deveriam ser inicialmente tentadas, e propôs que estas começassem em 20 de janeiro de 1988. De fato, consultas já haviam começado em 7 de janeiro e foram levadas adiante até 10 de fevereiro. Ademais, em 2 de março, o representante permanente em exercício dos Estados Unidos declarou à Assembléia Geral que o seu governo havia conduzido consultas regulares e freqüentes com o Secretariado das Nações Unidas “a propósito de uma solução apropriada à questão”. O Secretário Geral reconheceu que os Estados Unidos não entendiam que estes contatos e consultas se inscreviam formalmente no quadro da seção 21 e notou que a posição adotada pela parte americana era que, enquanto continuava a avaliar a situação que resultaria da aplicação da lei contra terrorismo, ela não poderia tomar parte no processo de solução de controvérsias enunciado na seção 21.

A Corte constatou que, levando em consideração a atitude dos Estados Unidos, o Secretário Geral exauriu no presente caso as possibilidades de negociação existentes, e que as Nações Unidas e os Estados Unidos não mais haviam contemplado solucionar sua diferença por um “outro modo de solução acordado”. Em particular, a ação atualmente iniciada perante os tribunais americanos não poderia constituir “um modo de solução acordado” no quadro da seção 21, dado que esta ação tem por objetivo assegurar a observação da lei contra o terrorismo e não o de solucionar a disputa relativa à aplicação do acordo. Além disso, a Organização das Nações Unidas jamais concordou que esta controvérsia fosse solucionada pelos tribunais nacionais. Conclusão (parágrafos 57 e 58)

A Corte deveria, portanto, concluir que os Estados Unidos estavam obrigados a respeitar a obrigação de recorrer à arbitragem. Esta conclusão deveria permanecer intacta mesmo se a declaração segundo a qual as medidas contra a missão fossem adotadas “quaisquer que fossem as obrigações” a cargo dos Estados Unidos em virtude do acordo de sede, fosse interpretada como se referindo não somente às obrigações substanciais prescritas nas seções 11 a 13, mas igualmente à obrigação de recorrer à arbitragem prevista na seção 21. Bastava relembrar o princípio fundamental de direito internacional da predominância deste sobre o direito interno, predominância consagrada há muito tempo pela jurisprudência.

Por estes motivos, a Corte, unanimemente, é da opinião:

“Que os Estados Unidos da América, enquanto parte no acordo entre a Organização das Nações Unidas e os Estados Unidos da América relativo à sede da Organização das Nações Unidas, datado de 26 de junho de 1947, são obrigados, conforme a seção 21 deste acordo, a recorrer à arbitragem para a solução da controvérsia que os opõe à Organização das Nações Unidas”.

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