Número no TRT de Origem: AIRR-209300/2009-0045-02. Órgão Judicante: Órgão Especial
Relator: Ministro Renato de Lacerda Paiva
Peticione neste processo:
Peticionamento Eletrônico (e-DOC) V2
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(Processo Eletrônico) Partes do processo
Embargante:
SIND EMP PREST SERV TELECOM TELEAT SISTEMAS REDES TV POR ASSINATURA CABO MMDS DTH EQUIPTOS COMPON INCLUINDO INSTAL MANUT DO ESTADO SAO PAULO (SITESP)
Advogado: Dr. Leandro Araújo Cabral de Melo
Embargado(a): SINDICATO PAULISTA DAS EMPRESAS DE TELEMARKETING, MARKETING DIRETO E CONEXOS - SINTELMARK Advogada: Dra. Carla Teresa Martins Romar
Histórico do processo
29/05/2019 Recebidos os autos (retorno do TST)
28/05/2019 Remetidos os Autos para Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região o TRT 27/05/2019 Transitado em Julgado em 20/05/2019
Transcrição da sentença
S E N T E N Ç A
SINDICATO PAULISTA DAS EMPRESAS DE TELEMARKETING DIRETO E CONEXOS - SINTELMARK, qualificado às fls. 03 apresentou RECLAMAÇÃO TRABALHISTA em face de SINDICATO DAS EMPRESAS PRESTADORAS DE SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES, TELEATENDIMENTO, SISTEMAS, REDES, TV POR ASSINATURA, CABO, MMDS, DHT, EQUIPAMENTOS, COMPONENTES INCLUINDO INSTALAÇÃO E MANUTENÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO, requerendo os títulos mencionados às fls. 23. Alegou em síntese: nulidade do ato jurídico consistente na assembléia de fundação do sindicato réu.
Assim, pugnou pela procedência da ação.
Regularmente citada, a reclamada apresentou defesa às fls. 44/58.
Processo: AIRR - 209300-70.2009.5.02.0045 - Fase Atual: ED-Ag-AgR-E-ED-Ag (Tramitação Eletrônica)
Alegou a ré, em síntese: carência da ação, validade do ato de constituição do sindicato.
Assim, pugnou pela improcedência da ação.
Juntados documentos em apenso pela reclamante, e às fls. 59 (volume de documentos) pela reclamada. Depoimentos às fls. 41. Manifestação do autor às fls. 64/88.
As partes deixaram de apresentar razões finais.
Sem outras provas, a instrução processual foi declarada encerrada. Última tentativa conciliatória infrutífera.
DECIDE-SE:
DAS CONDIÇÕES DA AÇÃO
Há carência da ação quando estão ausentes as condições da ação:
legitimidade ad causam, interesse (utilidade/necessidade) de movimentar a máquina judiciária e possibilidade jurídica do pedido. Presentes as condições da ação no caso sub judice.
M É R I T O
DA ALEGAÇÃO DE NULIDADE DO ATO DE CONSTITUIÇÃO DO SINDICATO RÉU
O Sindicato-autor, às fls. 11, alegou que é nulo e imperfeito o ato jurídico de constituição do Sindicato-réu, sob a alegação de que a assembléia de fundação do referido Sindicato encontra-se eivada de nulidade.
Segundo o autor, os representantes das empresas de
teleatendimento/telemarketing não se fizeram presentes na assembléia Pró-Fundação do Sindicato-réu, tendo em vista que o edital de convocação para a “assembléia extraordinária de aprovação do fundação do Sindicato-réu” não fez constar o nome das empresas da categoria econômica das prestadoras de serviço de teleatendimento/telemarketing.
O Sindicato-réu afirmou que todos os seus atos de formação são válidos, e que teve expedida a Carta Sindical emitida pelo Ministério do Trabalho e Emprego, dando-lhe plena legitimidade para representar as empresas prestadoras de teleatendimento do Estado de São Paulo.
Como é cediço, o sindicato, para sua fundação, prescinde de autorização para sua constituição, mas está submetido a procedimento específico. A Constituição Federal de 1988 prevê expressamente em seu artigo 8º que: “É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:
I – a lei não poderá exigir autorização do Estado para fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical”.
Neste diapasão, da análise do incisos I do artigo 8º da Constituição Federal, denota-se que à Secretaria das Relações de Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, através do Arquivo de Entidades Sindicais Brasileiras, cabe a função de depositária dos atos constitutivos dos sindicatos, competindo-lhe unicamente a função cadastral.
Sob este contexto, a Portaria nº 376/2000, que alterou a Instrução Normativa GM/MTb nº 1/97, determina que o registro sindical deverá ser instruído com:
“I - edital de convocação dos membros da categoria para a assembléia geral de fundação da entidade, publicado com antecedência mínima de dez dias de sua realização, prazo que será majorado para trinta dias, quando a entidade interessada tiver base territorial interestadual ou nacional, nos seguintes veículos de comunicação impressa: (*) em jornal diário de grande circulação no Estado ou Estados abrangidos pela pretensa base territorial, e, também, se houver, em jornal de circulação no Município ou Região da pretendida base territorial; e no Diário Oficial dos Estados ou da União.
II - ata da assembléia geral a que se refere o inciso anterior;
III - cópia do estatuto social, aprovado pela assembléia geral, que deverá conter os elementos identificadores da representação pretendida, em especial: a categoria ou categorias representadas,nos termos do art. 511 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT; a base territorial.
IV - recibo de depósito, em favor do Ministério do Trabalho e Emprego, relativo ao recolhimento da importância correspondente ao custo das publicações no Diário Oficial da União, cujo valor será indicado em Portaria Ministerial”.
Cumpridas as formalidades acima descritas, à Secretaria das Relações de Trabalho do Ministério do Trabalho caberá conceder o regular registro do sindicato (carta sindical), sem entrar no mérito da validade ou não da sua criação, conferindo-lhe portanto, personalidade jurídica para atuar em nome e defesa de seus associados.
Todavia, ao Judiciário cabe conhecer as questões atinentes à validade da documentação apresentada ao órgão competente, para o registro sindical. No caso dos autos, a alegação de invalidade recaiu sobre a ata da assembléia que aprovou a fundação do Sindicato-requerido.
De logo, cumpre mencionar que tem razão o autor, eis que o edital de convocação da assembléia extraordinária de fundação do requerido não fez
constar o nome das empresas prestadoras de serviços de
teleatendimento/telemarketing, pois constou apenas o nome dos “membros da categoria econômica das prestadoras de serviços de telecomunicações”. Note-se que não se pode confundir a categoria econômica composta pelas empresas de prestação de serviços de telecomunicações com as empresas de telemarketing/teleatendimento, pois estas sim possuem natureza similar, vez que o termo teleatendimento não é nada mais do que o significado do termo alienígena “telemarketing”.
Telemarketing, termo inglês criado por Nadji Tehrani em 1982, designa a promoção de vendas e serviços via telefone ou seja marketing pelo mesmo. Atualmente, o termo foge deste escopo , ao abranger também a telecobrança (cobrança via telefone), atendimento ao consumidor e o suporte técnico. Pode-se dizer que o telemarketing é um "atendimento telefônico comercial ou não padronizado" que segue certos roteiros (scripts)
de atendimento (fonte: A Enciclopédia Livre Wikipédia –
http://pt.wikipedia.org/wiki/Telemarketing.
Operador de telemarketing é o trabalhador que utiliza o sistema de teleatendimento seguindo roteiros planejados e controlados para atender clientes; oferecer serviços e produtos etc (fonte: A Enciclopédia Livre Wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Telemarketing). Portanto, trata-se de termos sinônimos.
Telecomunicações é a transmissão, emissão ou recepção, por fio, radioeletricidade, meios ópticos ou qualquer outro processo eletromagnético, de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de
qualquer natureza (fonte: A Enciclopédia Livre Wikipédia -
http://pt.wikipedia.org/wiki/Telecomunica%C3%A7%C3%A3o).
Dessa forma, não se pode confundir a representação dada à categoria
econômica das empresas prestadoras de serviço de
teleatendimento/telemarketing com a categoria econômica das empresas prestadoras de serviços de telecomunicações, já que se tratam de atividades completamente distintas.
Portanto, da análise dos autos, verifica-se que o ato de constituição do Sindicato-réu contrariou o disposto na Portaria nº 376/2000, que alterou a Instrução Normativa GM/MTb nº 1/97, pois o edital de convocação (volume de docs.) para a assembléia geral de fundação da entidade ré não fez constar o nome das empresas da categoria econômica das prestadoras de serviço de teleatendimento/telemarketing.
Dispõe do art. 166, IV do Código Civil que “é nulo o negócio jurídico quando não revestir a forma prescrita em lei”.
Sendo assim, acolhe-se a pretensão do autor para declarar a nulidade do ato de jurídico de constituição do Sindicato-réu, consistente na ata de assembléia de fundação do referido Sindicato.
DISPOSITIVO
EX POSITIS, a 45ª Vara do Trabalho de São Paulo julga PROCEDENTE a ação ajuizada pelo SINDICATO PAULISTA DAS EMPRESAS DE TELEMARKETING DIRETO E CONEXOS - SINTELMARK em face do SINDICATO DAS EMPRESAS PRESTADORAS DE SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES, TELEATENDIMENTO, SISTEMAS, REDES, TV POR ASSINATURA, CABO, MMDS, DHT, EQUIPAMENTOS, COMPONENTES INCLUINDO INSTALAÇÃO E MANUTENÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO, pelas razões de fato e de direito expostas na fundamentação, para declarar a nulidade do ato jurídico de fundação do Sindicato-réu, consistente na ata de assembléia de fundação do referido Sindicato, bem como para determinar que o Sindicato-réu se abstenha de
representar a categoria econômica das empresas prestadoras de serviços de teleatendimento/telemarketing, sob pena de multa diária no importe de R$ 100,00, em caso de descumprimento, nos moldes do art. 461, § 5º do CPC, aplicável ao processo trabalhista por força do art. 769 da CLT.
Custas pela reclamada, no importe de R$ 20,00 calculadas sobre o valor da condenação, ora arbitrado em R$ 1.000,00.
Intimem-se as partes.
SIMONE APARECIDA NUNES