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Mulheres no exílio x esquerda masculina a marxista: diálogos (im)pertinentes à base do feminismo brasileiro

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Academic year: 2021

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Anais do IV Simpósio Lutas Sociais na América Latina ISSN: 2177-9503

Imperialismo, nacionalismo e militarismo no Século XXI 14 a 17 de setembro de 2010, Londrina, UEL

GT 7. Feminismo e Marxismo na América Latina

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Ayla Camargo∗

A origem do “Círculo das mulheres brasileiras em Paris”

Em 1964 acontece no Brasil o golpe civil-militar. Milhares de pessoas são presas, torturadas e forçadas a deixar o país pelas suas posições contrárias ao governo autoritário. O Ato Institucional nº 5, editado em 13 de dezembro de 1968, foi o ponto culminante do processo de restrição aos direitos civis. Esta data marca o endurecimento do regime, são os “anos de chumbo” e, a partir dali, qualquer atividade política que questionasse o regime era considerado crime. Muito (a)s militantes de esquerda foram obrigado (a)s a se exilarem e entre os exilados havia várias mulheres que, ou se exilaram em função de sua própria militância política ou porque acompanhavam seus companheiros militantes. Independentemente de quaisquer destes motivos, o resultado foi uma experiência totalmente nova.

Logo após o golpe, os primeiros exilados dirigiram-se principalmente para os países da América Latina. O Chile, pela proximidade geográfica com

Graduanda em Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina; pesquisadora bolsista do

Grupo Feminismo e marxismo, vinculado ao Grupo de Estudos de Política da América Latina (GEPAL). End. eletrônico: aylalegiao@hotmail.com

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o Brasil, mas principalmente pela euforia e a mobilização política proporcionadas pelo governo do então presidente socialista Salvador Allende, atraiu a maior parte dos exilados. Muitos acreditaram que este era um porto seguro e que seria o espaço de rearticulação do movimento de oposição e enfrentamento ao regime autoritário brasileiro e à ordem capitalista.

Com o golpe militar em 1973 que pôs fim ao governo Allende e iniciou a onda de terror que assolou o Chile, os brasileiros vivenciaram uma nova etapa: o exílio no exílio. Um dos países que mais acolheram os exilados políticos latino-americanos foi à França, sobretudo a cidade de Paris.

A convivência com outra cultura, com outra realidade traz uma série de conflitos, principalmente para os casais que se vêem diante do problema das questões domésticas que, no Brasil, era ocultado por um “regalo”, um presente da herança escravista: a empregada doméstica. A mão-de-obra caríssima no país de acolhida impossibilitava que os casais exilados, cuja maioria era de classe média, se beneficiassem desta regalia. Os primeiros anos no exílio foram traumáticos para muitas mulheres. Era a primeira vez que se deparavam com o machismo de seus companheiros de esquerda e, além disso, grande parte delas careciam de formação profissional, ou porque a militância política havia se tornado a atividade central em suas vidas ou, pior, porque a militância de seus companheiros era mais importante e ficavam na retaguarda do lar, cuidando dos filhos e da casa.

Mas foi também na experiência no exílio parisiense que muitas das mulheres brasileiras tiveram contato com o efervescente movimento feminista que, no bojo dos acontecimentos de Maio de 1968, colocavam em questão a condição feminina. Encontraram ali uma inovadora face do feminismo que, além de tratar das questões gerais, abordava também a especificidade da questão feminina numa perspectiva marxista, como a questão da saúde da mulher, o planejamento familiar, a sexualidade e o aborto. De acordo com Moraes (1996), estava agora colocada a “dupla tarefa de pensar teoricamente a questão da mulher e estudar a realidade da mulher brasileira” (MORAES, 1996, p. 5).

Assim, em Paris, surgiram grupos autônomos de mulheres que viam na luta de classes e na luta pela libertação das mulheres, duas questões opostas, pelo conflito político existente. O “Círculo das mulheres brasileiras em Paris” foi um destes grupos que adotou tanto a causa da luta de classes como a reflexão feminista européia (PINTO, 2003). Mas quem eram as mulheres que o compunham? O Círculo de Mulheres brasileiras de Paris que era formado por feministas de esquerda integrantes, em sua maioria, do Debate, dissidência política que surge no exílio agrupando ex-militantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), da Vanguarda Armada

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Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) e do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e mulheres autônomas. (LEITE, 2003).

Assim sendo, nos lembra Bastos:

“O Círculo de mulheres brasileiras tinha como centro de discussão a especificidade da questão de gênero que era também atrelada à luta de classes. Ele foi fundado em Paris entre 1975 e 1976, por iniciativa de algumas mulheres militantes de organizações de esquerda, entre elas Regina Carvalho, militante do Campanha1. O texto base para a formação do Círculo foi o documento intitulado Por uma tendência feminina revolucionária, feito em novembro de 1975 por militantes do Campanha, assinado como Grupo Brasileiro de Mulheres Revolucionárias” (BASTOS, 2006).

Albertina Costa, em Memória das mulheres do exílio, traz diversas entrevistas com mulheres que foram exiladas. As várias entrevistas citam informações importantes sobre o Círculo e sobre as mulheres em geral. Por exemplo, mencionam como lidavam com a língua, com a comida, etc. Mas a ênfase é a dificuldade na relação com os companheiros, que no geral era de muito conflito, sobretudo quando elas se colocavam a favor das lutas feministas na França e/ou passavam a freqüentar grupos de mulheres, como os do Círculo. Seus companheiros, em sua maioria, julgavam que estavam saindo do foco da luta de classes e muitas eram impedidas de freqüentar as reuniões por conta do machismo enraizado na sociedade brasileira. Como observa Pinto,

“O ideário feminista foi visto com grande desconfiança pelos seus companheiros homens. À esquerda exilada marxista e masculina via no feminismo uma dupla ameaça: A unidade da luta do proletariado para derrotar o capitalismo e ao próprio poder que os homens exerciam dentro dessas organizações e em suas relações pessoais” (PINTO, 2003, p. 53). Muitas famílias chegaram a sofrer ameaçadas de perderem os auxílios de seguridade, caso suas mulheres participassem destes grupos. Todavia, as ameaças não conseguiram conter o avanço da organização de mulheres no exílico. O depoimento de Danda Prado2, transcrito a seguir, é bastante significativo da efervescência dos grupos de mulheres em Paris.

Eu fiquei muito espantada quando cheguei em Paris, porque eu, até então, só tinha participado de grupos políticos, nunca tinha atuado em grupos de mulheres. No Brasil, não existiam grupos de mulheres. E quando eu

1 O Campanha foi um jornal criado em Santiago do Chile, em 1972 por um pequeno grupo de militantes

trotkistas ligados a organização Fração Bolchevique, cujo lema era “Fazer do Exílio uma Campanha”. Este grupo via o exílio como tempo e lugar de atuação política no combate ao regime militar. A proposta do periódico era de ser um organismo centralizado e mobilizador dos brasileiros no exterior, que originaria o partido operário revolucionário (Rollemberg, 1999).

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cheguei na França, em 1970, em todo canto eu via uns cartazes estranhos, às vezes escritos à mão, dizendo REUNIÃO DAS MULHERES. (...) E realmente, nessa época, era difícil para mim não aceitar que o inimigo principal não fosse o capital, mas sim o homem. Quer dizer, o sexo masculino tinha ocupado, dentro da sociedade, uma limitação à vida da mulher. Isso eu aprendi lá. Eu via o pessoal discutindo e até achava que poderia convencê-lo do contrário, porque eu estava convicta de uma outra visão.” (CARDOSO, 2004).

Na capital francesa existiram dois importantes grupos de mulheres: o Grupo Latino-Americano de Mulheres em Paris, fundado por Danda Prado, em 1972; e o Círculo de Mulheres Brasileiras em Paris, fundado por um grupo de mulheres brasileiras em 1976 (GOLDBERG, 1987). Enquanto o primeiro grupo dá ênfase à questão da classe social e à luta contra a ditadura, este último com uma composição híbrida, segue duas orientações: a das mulheres que defendiam a dupla militância (gênero e classe) e as que estavam fortemente influenciadas pelo movimento de libertação das mulheres, dando ênfase às questões da sexualidade e do corpo. Juntamente com o Grupo Latino-Americano de Mulheres e o grupo de Berkeley, o Círculo, segundo Cardoso (2004), foi responsável pela substituição da questão de classe para a questão de gênero na abordagem do feminismo brasileiro. Para a autora, os grupos organizados no exílio influenciaram a agenda do feminismo brasileiro. Foi por meio de seus documentos que “as primeiras bandeiras e conceitos de gênero chegaram ao Brasil, promovendo a reflexão das feministas brasileiras para o abandono das prioridades de classes rumo às prioridades de gênero” (CARDOSO, 2004).

Mas é possível afirmar que houve mesmo uma substituição de prioridades? Se esta alteração ocorreu, como definir os amplos segmentos de mulheres dos setores populares que se organizaram a partir de e em torno de questões de classe no Brasil?

Encontro marcado: feministas ex-exiladas e movimentos de mulheres Quando essas brasileiras voltaram do exílio para tomar frente das manifestações estavam essas mulheres que bebiam nas fontes européias, as idéias frescas do feminismo, essas mulheres que tiveram como seu livro sagrado A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, de Engels, e se encantava com aquelas manifestações parisienses para a conquista ao aborto, por exemplo.

Quando voltaram, essas exiladas encontraram organizações de mulheres muito diferentes. Em vez de aborto, o Movimento Feminino pela Anistia queria os maridos presos ou desaparecidos de volta para casa; em

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vez de amor livre, o Movimento Feminino contra a Carestia queria as panelas cheias.

“Durante os vinte e um anos em que o Brasil esteve sob o regime militar, as mulheres estiveram à frente nos movimentos populares de oposição, criando suas formas próprias de organização, lutando por direitos sociais, justiça econômica e democratização” (SOARES, 1998, p.34).

A influência católica nos movimentos já organizados e a urgência da luta contra a miséria num país atrasado fizeram com que as bandeiras feministas se subordinassem às questões mais urgentes de um país imenso e desigual. Não foi preciso que se debatesse o direito de a mulher trabalhar fora, pois na maioria dos lares, essa era uma imposição do salário baixo, tão baixo que, às vezes, também pede ajuda aos músculos magros dos filhos pequenos. Empurradas para o mercado de trabalho, as mulheres não aceitavam mais ser posse passiva de seus maridos, daí que a primeira bandeira de sua luta foi contra a violência em casa.

Aqui no Brasil, as organizações de mulheres estavam menos preocupadas com a mulher em si e mais com as lutas como: creches para poderem trabalhar, melhores salários, e melhores condições de infra-estrutura. Como lembra Gonçalves:

“Enquanto as mulheres dos meios populares tinham reivindicações mais ligadas as dimensões de classe (lutar contra a carestia, exigir a instalação de água potável, a construção de creches, etc.) trouxeram novas questões que complementam a agenda. E uma relação de conflito e de solidariedade se instalou entre os movimentos de mulheres e o movimento feminista”. (GONÇALVES, 2009, p. 5).

O choque foi inevitável. Resultado de muita distorção por parte da imprensa e do tradicionalismo masculino, o movimento feminista foi visto por muitos grupos, inclusive os das mulheres, como elemento contraditório às regras que colocavam em oposição homem/mulher; como um ‘pecado’ ou até mesmo como uma coisa de pequenos burgueses. Assim, logo no início causou uma certa rejeição. Porém, veio a inovação de unir as lutas. Soares denomina o resultado desta junção de “feminismo com de múltipla face”: o das mulheres dos movimentos populares e os das mulheres feministas ex-exiladas. Esta aliança impulsionou alguns debates de imensa importância como a discriminação no trabalho, a questão da violência doméstica, do direito ao divorcio, juntamente com debates sobre o estupro dentro do casamento, o péssimo tratamento hospitalar, a maternidade e a sexualidade. (GONÇALVES, 2009). Como lembra Céli Pinto,

“O encontro do feminismo à moda do Primeiro mundo com a realidade brasileira daquela época promoveu situações tão complicadas quanto criativas: as mulheres [...] que estiveram na Europa [...] voltam para o Brasil

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trazendo uma nova forma de pensar sua condição da mulher, em que o antigo papel de mãe e esposa não mais servia” (PINTO, 2003, p. 65).

À guisa de (in)conclusão: desdobramentos desta união

Da aliança feita com o movimento de mulheres e com o movimento feminista, houve muitas conquistas. O balanço das conquistas feministas do final da década de 1980 era incrível. A partir daí surgiram muitos grupos de mulheres, principalmente com volta à normalidade, o começo do fim dos vinte anos de censura. (GONÇALVES, 2009).

O feminismo que havia surgido, em sua maioria, era composto por mulheres de classe media alta e mulheres intelectualizadas. Este feminismo tinha por definição a luta de questões especificas da mulher (o corpo, a sexualidade etc.). Os movimentos de mulheres, sobretudo das mulheres dos movimentos populares, eram mais ligados a reivindicações da luta de classes (lutar contra a carestia, saneamento básico, creches e etc.). São nestas reivindicações públicas onde criam uma maior visibilidade com as esferas institucionalizadas de poder como nos lembra Pinto:

“Comunidades de interesse organizam-se com o objetivo de reivindicar á prefeitura, ao governo do Estado, ao governo federal sues direitos ou exigir mudanças em suas condições de vida. [...] a visibilidade advêm do próprio fato de a relação entre os movimentos sociais e o Estado se dar no âmbito publico”. (PINTO, 1992).

Nesta perspectiva, é oportuna definir o feminismo brasileiro de “feminismo revisitado” , como propõe Elizabet Souza-Lobo (1991). Este ganha fôlego principalmente a partir da chamada década da mulher, que vai de 1975 a 1985, promulgada pelas Organizações das Nações Unidas (ONU) como a década da mulher. Esta promulgação da ONU contribuirá em muito para a mudança no que diz respeito às atividades feministas e dos movimentos de mulheres. É a partir deste momento que o tema da mulher toma outra conotação, pelos olhares da sociedade e do próprio regime autoritário. Neste contexto, cabe destacar, ocorreu no Rio de Janeiro, com patrocínio da ONU, o evento: “O papel e o comportamento da mulher na realidade brasileira”, onde foi criado o Centro de Desenvolvimento da Mulher Brasileira. (PINTO, 2003).

Segundo Sarti, numa perspectiva de mudar e transformar a sociedade como um todo, grupos feministas agiram articuladas as demandas femininas das organizações de bairro tornando-as próprias do movimento geral das mulheres brasileiras. É aí que dão impulso a debates acerca das discriminações no trabalho, da violência domestica, do direito ao divorcio, e etc. Sem se esquecerem de tratar da maternidade, saúde e sexualidade,

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entendendo e questionando a domesticação do corpo que ocorre na nossa sociedade (SARTI, 2004).

O movimento feminista tomou novos rumos especialmente na cena política: se inseriu nas instituições do Estado, fez-se conhecer como a bancada feminista ou, nos termos mais pejorativos, “o lobby do batom”; mas o importante é que apesar da pouca participação no legislativo, apresentou mais de trinta emendas sobre os direitos da mulher, tendo como base as reivindicações feministas. Atuou massivamente para os novos temas da década de 1980 e na construção da constituição de 1988. Data deste período a criação do Conselho Nacional dos direitos da mulher (CNDM) que viria a protagonizar a luta por direitos individuais reivindicado pelo movimento feminista, que exigia direitos como o meio ambiente, ao menor, a família e outros. Nesta época foi entregue em Brasília a “Carta das Mulheres”, um documento que defendia a justiça social, saúde, ensino publico e gratuito para todos os níveis, autonomia sindical, reforma agrária e tributaria negociação da divida externa e por aí vai. E também os direitos individuais das mulheres como direitos de propriedade e a sociedade conjugal. Esta carta foi muito importante, pois trazia a questão da violência contra a mulher, a questão do aborto, ainda muito polêmica e que, por isto mesmo, não entrou na lista de reivindicações por conta principalmente do ainda pensamento conservador brasileiro (PINTO, 2003).

A produção acadêmica foi igualmente efervescente no período. Surge em 81, o Jornal Mulherio, o jornal Brasil Mulher, e o Nós Mulheres. Há uma difusão do feminismo e a mudança cultural, alcançando também o congresso nacional e nos legislativos estaduais a discussão sobre o assédio sexual, ganha legitimidade no código penal (PINTO, 2003).

Souza-Lobo traz uma analise sobre as práticas e os discursos das mulheres operárias, e coloca em destaque a experiência dessas mulheres e os destinos de gênero no Brasil, mostrando principalmente os estudos do trabalho e das trabalhadoras realizados no Brasil até a década de 70, que expressavam uma visão homogênea da classe trabalhadora, que tornava o sexo feminino invisível. Dando uma importante alavanca para as discussões do trabalho da mulher e das desigualdades de gênero no mercado de trabalho (SOUZA-LOBO, 1991). O papel do feminismo no movimento sindical brasileiro trouxe para as mulheres trabalhadoras o questionamento do poder masculino dentro das indústrias. O debate de Souza-Lobo é atrelado à história conflituosa da classe trabalhadora que atravessou a década de 60 e 70 com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, que a partir da década de 40 tem um crescimento visível da presença feminina. Lembrando também a questão da dupla jornada de trabalho, a exploração da trabalhadora doméstica, o trabalho na casa como uma forma não remunerada de trabalho, as mistificações do discurso empresarial que

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justificavam as divisões e desigualdades de condições de trabalho para trabalhadores e trabalhadoras e o sindicato como um espaço masculino que excluía as mulheres. (SOUZA- LOBO, 1991). Portanto este debate se torna interessante para compreensão da questão de gênero dentro da indústria brasileira, mostrando a relação complexa entre, as mulheres que lutavam no movimento sindical, com/e as mulheres do movimento feminista e do movimento de mulheres.

Uma década mais tarde, nos anos noventa, muitas coisas haviam mudado. Inúmeras feministas se inserem no aparelho de Estado para, a partir de lá, fazer política voltada para as mulheres. Algumas consideram esta decisão uma importante estratégia para o movimento na direção de um projeto de sociedade. Gradativamente, o feminismo vai perdendo sua característica de combatividade. A cooptação deixa de ser uma ameaça e passa a ser uma realidade. A este respeito, Maria Lygia Quartim de Moraes observou que foram afrouxados “os laços que tinham unido intelectuais feministas e movimentos populares de mulheres; desapareceu a militância não-profissional ao mesmo tempo em que a discussão sobre a questão da mulher, bem como sobre o ponto de vista feminino desloca-se cada vez mais para os espaços acadêmicos” (MORAES, 1996, p. 9). O feminismo se volta cada vez mais para a academia, surgem os núcleos e revistas de estudos de gênero e as especialistas. É também neste período que pululam as Organizações Não Governamentais (ONGs), que como escreve Castro, “é um novo termo para miniempresas que comerciam com o social, ou que se constituem em organizações neogovernamentais, em que o comum seriam mulheres de classe média representarem ou prestarem serviços especializados a outras mulheres, as de setores populares” (CASTRO, 2000, p. 105).

Muita coisa mudou... Eis um assunto para outra pesquisa...

Bibliografia

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MORAES, Maria Lygia Quartim. Marxismo e feminismo no Brasil. Campinas: Unicamp, Coleção Primeira versão, 1996.

PINTO, Céli Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Perseu Abramo, 2003.

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