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Projeções imaginárias na enunciação de imigrantes hispano-americanos em relação ao português-brasileiro, como língua estrangeira.

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Projeções imaginárias na enunciação de imigrantes

hispano-americanos em relação ao português-brasileiro,

como língua estrangeira.

Valdete de Lima Ank Morais

Centro de Educação e Ciências Humanas - Universidade Federal de São Carlos (UFScar) valdetemorais@uol.com.br

Abstract. This article aims at presenting some results of a research in progress which focus on questions related to the effects of production and attribution of meanings in reports produced by Hispanic immigrants in contexts of Brazilian culture and its language. We seek to interpret identifications of these immigrants in the process of production/attribution of meanings in which they are inserted while enunciating.

Keywords. hispanic imigrants ; identifications; enunciating

Resumo. Este trabalho tem como objetivo apresentar resultados parciais de

uma pesquisa em andamento sobre questões relacionadas aos efeitos de produção e atribuição de sentidos em relatos de experiências de imigrantes hispânicos (falantes de espanhol) imersos na língua e na cultura do brasileiro. Neste trabalho, busco interpretar as identificações do sujeito imigrante hispânico no Brasil no processo de produção/atribuição de sentidos em que ele está inscrito ao enunciar.

Palavras-chave. imigrantes hispânicos; identificações, enunciação

Introdução

Quando nos referimos aos sujeitos falantes de português e de espanhol em interlocução temos a sensação de que eles se entendem. Isso ocorre por efeito do imaginário dos falantes de português e de espanhol, no qual ambas as línguas são muito parecidas, semelhantes, o que leva ao nível do explícito, ou seja, que haja uma considerável “transparência” entre elas. Assim, muitas vezes é difícil perceber que não se compreende perfeitamente os dizeres (Althier-Revuz, 1998). Não podemos simplesmente tomar as palavras de uma língua e encontrar as mesmas significações

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desse montante de palavras na outra língua. No entanto, existe no imaginário dos falantes sobre essas línguas, o pensamento de que elas não passam de um simples código a ser decifrado. As línguas são diferentes, e uma mera decodificação do código lingüístico não é suficiente para desvendar os sentidos envolvidos.

Dessa forma, intrigada pelas questões da linguagem, mais especificamente das línguas, o português e o espanhol, consideradas tão parecidas, pretendo

atravessar o imaginário1 de “línguas parecidas” e pesquisar os efeitos da

produção/atribuição de sentidos em relatos de experiências de imigrantes hispânicos (falantes de espanhol) que apresentem situações de contado direto com a língua estrangeira.

Neste caso, como as línguas portuguesa e espanhola são consideradas muito próximas, o estudo das relações entre as línguas, estando o imigrante hispânico-americano em contado direto com o português-brasileiro, no processo de produção/atribuição de sentidos, poderá proporcionar resultados que auxiliem no planejamento e no oferecimento de curso/propostas de ensino de português para falantes hispânicos, contribuindo, dessa forma, para o desenvolvimento da competência comunicativa desses falantes no uso do português do Brasil. Os resultados e as reflexões advindas desse estudo também poderão ser utilizados em relação ao ensino/aprendizagem de outras línguas estrangeiras.

O corpus é constituído por várias seqüências discursivas produzidas por vários locutores, imigrantes hispano-americanos (chilenos, argentinos, colombianos, peruanos, mexicanos, bolivianos, etc.), ou seja, relatos de suas experiências e saberes sobre o português e o espanhol, ao entrarem em contado direto com o português-brasileiro. Pretende-se trabalhar com enunciados, discursos retomados, recuperados através da memória dos imigrantes. Dessa perspectiva, a memória é sócio-histórica, não é um simples resgate de situações vivenciadas e retomadas totalmente na íntegra pelos sujeitos envolvidos, mas, sim, um lugar de produção e de atribuição de sentidos na relação com a língua estrangeira. Portanto, o arquivo está sendo construído no campo da heterogeneidade discursiva, uma vez que o corpus é constituído de discursos que circulam no cotidiano, que pertence às práticas sociais.

Preâmbulos teóricos

O discurso é o objeto teórico da AD e é através dele que, em oposição à tradição lingüística que considerava a língua como sistema e o sentido desprovido de história e de um sujeito, é possível explicar a relação da língua com a história, com a sociedade, o que explica o funcionamento do sentido. Daí o efeito de “evidência da língua”, a língua sendo vista como transparente; e como conseqüência a “evidência do sentido”, ou seja, o que uma palavra diz é o que ela queria dizer (Pêcheux, 1980) e a “evidência do sujeito”, como origem de si próprio, o sujeito se apresenta espontaneamente (Ferreira, 2000).

Diante deste cenário das “evidências”, a AD constitui um lugar onde é possível se falar, investigar, interpretar os discursos nos espaços discursivos não-logicamente estabilizados (Pêcheux, 1988). Assim, essa pesquisa começa problematizando as evidencias.

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Nestes termos, começaremos por um pré-construido que atravessa a relação entre a língua espanhola e o português-brasileiro: A pressuposição de conhecimento da língua portuguesa pelos falantes hispânicos privilegiou a idéia de “línguas parecidas”. Esse pré-construido fornece a matéria-prima na qual o sujeito imigrante hispano-americano se considera como um sujeito-falante da língua do outro como uma extensão (na maioria das vezes do erro) de sua própria língua. A seguir explicitaremos essa questão.

Primeiro Momento

Antes de vir para o Brasil, o imigrante hispano-americano, apesar de não saber quase nada ou muitas vezes nada do país, sobre os brasileiros, de sua cultura , não tinha uma preocupação com a mudança de língua, conseqüentemente, nem de país, devido a uma série de projeções imaginárias antecipadas, sócio-historicamente construídas, que fazia da língua. Na grande maioria das vezes o conhecimento sobre a língua (que ele acreditava ter) seria crucial para que ele se adaptasse bem ao novo país.

Sobre a língua: as primeiras projeções

Em resposta a perguntas2 sobre o que o imigrante/estrangeiro sabia da língua falada no Brasil em relação ao espanhol, as seqüências discursivas3 frequentemente

enunciadas foram as seguintes:

(1) que eram muito similares (enunciador boliviano)

(2) Sabia muito pouco, só que eram bem parecidas. (enunciadora peruana)

(3) Alguns falavam que era tipo um espanhol mal falado (enunciadora peruana)

(4) Falam que são muito parecidos. (enunciador colombiano)

(5) Língua muito fácil de aprender e de comprender. (enunciadora colombiana)

(6) Falando devagar pode-se entender. (enunciador venezuelano)

(7) falam que são línguas compatíveis, ou seja, que não é difícil se comunicar, em uma ou em outra. (enunciadora argentina)

(8) . português falado não é uma língua muito diferenciado do espanhol.

(9) São línguas irmãs. Latim! (enunciador venezuelano)

(10) Antes se hablaba poco. Ahora se las compara y se dice que son parecidas.(anunciadora argentina)

(11) Sabia que era muito mal [falada], é que não tinham muita correção.

(enunciadora chilena)

(12) Espanhol fala pela garganta, português mais pelo nariz. (enunciadora argentina)

(13) todos pensam que são línguas próximas, portanto não haveria dificuldade com o idioma. (enunciadora colombiana)

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Este discurso faz parte de das formações discursivas do imigrante hispano-americano. Estas representações são da ordem de um imaginário forjado historicamente.

Nessas seqüências discursivas, percebemos formas de “heterogeneidade mostrada” (Authier-Revuz, 1990): “Sabia que; só que eram”; “Alguns falavam que”; Falavam que, todos pensam que, etc. Essas formas lingüísticas inscrevem o outro na seqüência do discurso através do discurso indireto, trazendo concepções do sujeito e da sua relação com a língua portuguesa. Percebemos que tais descrições feitas sobre a língua são feitas sob uma forma “natural” de reprodução, o que permite a representação no discurso do discurso do outro, dos “falares sociais” (Authier-Revuz, 1990). Nessas seqüências discursivas, o sujeito ocupa um lugar em que ele adere a discursos do cotidiano, incluindo-se no campo do saber do senso comum.

As seqüências enunciativas descritas acima resultam de domínios de memória dos imigrantes hispano-americanos, vinculados a um domínio de atualidade (Serrani, 2003), isto é, essas projeções imaginárias fazem parte de uma memória histórica e são trazidas para a atualidade, apontando para novas formulações. Como diz Pêcheux (1988), todo enunciado é intrinsecamente susceptível de tornar-se outro

diferente de sim mesmo, se deslocar discursivamente de seu sentido pra derivar para um outro (p.53) Tais formulações veremos no decorrer da análise.

Concordamos com Auroux (1992)quando ele diz que “Todo conhecimento é uma realidade histórica, (...) a temporalidade ramificada da constituição cotidiana do saber”e que “ seja a linguagem humana, tal como ela se realizou na diversidade das línguas; saberes se constituíram a seu respeito”. Continuando com Auroux, chegamos a afirmação de que o sujeito imigrante possui um saber lingüístico (“saber múltiplo do homem falante”) e que este saber é epilingüístico, ou seja, um saber

representado, construído e manipulado com a ajuda de uma metalinguagem (Id.,

1992). Em uma nota, Auroux explicar que Culioli:

“utiliza o termo [epilingüísmo] para designar o saber inconsciente que todo locutor possui de sua língua e da natureza da linguagem (‘a linguagem é uma atividade que supõe ela própria uma perpétua atividade epilingüística (definida como ‘atividade metalingüística não consciente’)”)”. (Culioli, apud Auroux, 1992, p.33)

Auroux (1992), o saber metalingüístico pode ser de natureza especulativa,

situado puramente no elemento da representação abstrata, ou de natureza prática, isto é, finalizado pela necessidade de adquirir um domínio4. No nosso caso, o

domínio nos interessa o “domínio das línguas” e o “domínio da escrita” (a ser tratado posteriormente). O domínio das línguas trata da questão do falar e/ou compreender uma língua materna ou não. Assim, podermos dizer que as seqüências produzidas acima tratam de um saber epilingüístico e metalingüístico5, de “natureza especulativa”, do sujeito imigrante sobre as duas línguas. A enunciação número (9) nos traz um saber lingüístico derivado do conhecimento da classificação das línguas6

quanto suas relações de parentesco. Talvez esse conhecimento explique a relação do português e do espanhol na enunciação número (7): de “línguas compatíveis”. Pois, sendo as línguas, o português e o espanhol, da mesma família ↔ parentes ↔ “irmãs”↔ “parecidas”↔ “compatíveis”7 é como se houvesse um “parentesco genético” entre elas. Podemos dizer que as projeções feitas sobre as línguas são

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limitadas se pensarmos sobre os mecanismos de determinativos na seqüência :“Sabia

muito pouco, só que eram bem parecidas”., temos no dizer do imigrante um sentido

restrito sobre as línguas. Mas através do significado do termo “compatíveis” percebemos esse adjetivo dá para as línguas um valor muito forte de aproximação: “são capazes de funcionar conjuntamente, de forma harmonizável”, podem ser “possuídas ou exercidas simultaneamente”, há “compatibilidade sangüínea”. Dessa forma, compreendemos que o sujeito imigrante, o falante de espanhol, pode falar, se comunicar no português automaticamente, como foi dito na enunciação número (7).:

“que não é difícil se comunicar, em uma ou em outra”. Nesse lugar de dizer, onde os

sentidos produzidos, dá lugar há processos de identificações8, decorrentes de filiações sócio-histórica e de memórias constitutivas desse sujeito imigrante hispano-americano. Desse processo resultam representações identitárias e imaginárias desse imigrante hispano-americano com a formação discursiva na qual ele se inscreve. Como veremos a seguir.

A constatação primeira a partir das seqüências descritas acima é do espanhol como sendo uma língua similar, semelhante, parecidas, leva, consequentemente, a não necessidade de se estudar o idioma, Que não era difícil de entender nem de falar (fala de um dos imigrantes). Essas idéias trazem ao imigrante a possibilidade da comunicação através do espanhol “mal falado”9, do espanhol a-gramatical, lugar e meio da realização do português no seu imaginário. Portanto, a utilização do espanhol mal falado resolve a situação de comunicação do imigrante no Brasil. Mas, o imigrante muitas vezes não se dá conta facilmente que falar a sua língua na “dimensão do erro”, do incorreto gramaticalmente, não é o mesmo que falar o português, pois em suas projeções imaginárias o português é uma língua que permite o erro, a incorreção e se encontra na dimensão do “idêntico”10, do “compatível”, em relação a sua língua. A projeção feita da pelos imigrantes hispano-americanos é que a língua portuguesa pertence a dimensão da sua própria língua materna.

Através deste conjunto de idéias – da ideologia (Pêcheux, 1975) – sobre a língua portuguesa constrói-se um conjunto de práticas sociais que partem de uma relação histórica entre os sujeitos e que os atravessa. De Nardi (2005) ao falar de Ideologia, em relação as discussões de Pêcheux em Semântica e Discurso, nos diz que ela “se apresenta como uma estrutura-funcionamento pela qual se cria a aparência de naturalidade e continuidade que damos aos processos, entre eles aquele no qual /pelo qual constituem-se sujeitos e sentidos”. As semelhanças entre as línguas e a quase inexistência de relações político-econômicas e sociais, não deram oportunidade no passado (ou quando existiram não foram suficientes) para que essa evidência fosse negada, apagada do imaginário desses sujeitos. (exceto em regiões de fronteira, onde as relações são outras).

O sujeito imigrante constrói o sentido da seqüência11, entre a língua portuguesa e a língua espanhola, acompanhado de conotações de significados de aparência lógica (Pêchux, 1988):

(a) Português → língua parecida → conhecimento espontâneo → língua fácil = espanhol mal falado

(b) Português→ língua similar →línguas compatíveis = espanhol mal falado

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(c) Português → língua semelhantes →língua mal falada = espanhol mal falado

Essa seqüência é muito semelhante a do trabalho de desenvolvido por Celada (2002) sobre o ensino/aprendizagem do espanhol pelos brasileiros. A autora trata da identificação simbólica do brasileiro com uma língua espontânea, conhecida como “portunhol”: “espanhol - língua parecida - língua fácil - língua espontânea = portunhol” (p.17 ). O portunhol12 é a língua que o brasileiro se apropria espontaneamente para se comunicar com falantes de espanhol. Segundo a autora:

A verdade é que o termo “portunhol”, pelo fato de funcionar como uma espécie de “curinga” que circula e se desloca por diferentes espaços, refere-se a diversos objetos, dentre eles designa a língua de mistura – entre espanhol e português – nas diversas fronteiras do Brasil com os países americanos. Por isso, “portunhol” pode designar tanto a língua dos hispano-falantes que moram neste país (à qual alguns dão o nome de “espagués”) quanto aquela produzida pela relativa audácia dos veranistas argentinos nas praias brasileiras ou, ainda, pela boa disposição dos anfitriões que aí os recebem. Pode designar também a modalidade com a qual os brasileiros “dão um jeito” de comunicar-se com os hispano-falantes dentro ou fora do Brasil. Com freqüência, o termo é utilizado ainda pelo próprio aprendiz para referir-se à língua que vai produzindo ao longo de seu processo de aprendizado. (Celada, 2002, p.43-45)

Os estudos de Celada (2002), apresentam o portunhol como uma língua que o brasileiro se apropria para falar o espanhol, uma mescla entre o espanhol e o português. Mas na seqüência deste estudo percebemos que entre os sujeitos imigrantes hispano-americanos uma identificação simbólica na dimensão da sua própria língua, da sua língua materna. Dito de outra forma, o sujeito imigrante

manifesta uma relação com a sua própria língua e o saber que ela permite construir

(Authier-Revuz, 1998, p.219).

Retornando a análise das seqüências enunciativas , a enunciação número (10)

Antes se hablaba poco. Ahora se las compara y se dice que son parecidas.(de uma

anunciadora argentina) traz uma ruptura em relação ao conhecimento do português em países da América Hispânica. Em perguntas feitas a imigrantes hispano-americanos que estão no Brasil a mais de 15 anos sobre o que eles sabiam sobre a língua portuguesa antes de virem para o Brasil, as respostas sempre eram: “Nada”, “quase nada”, “não sabia nada sobre o idioma português”. Mas os imigrantes que vieram nos últimos 10 anos já possuem conhecimentos (representações, imaginários) sobre a língua falada no Brasil e sobre os brasileiros. Numa matéria da revista Isto é sobre o Mercosul “Se enseña portugués.Argentinos lotam cursos para aprender o

idioma e fazer negócios com o Brasil” fala do avanços do ensino/aprendizagem da

língua portuguesa a partir da década de 90 na cidade de Buenos Aires. Como trato do Mercosul em 1991, o número de procura pela língua portuguesa dobrou. Segundo a reportagem:o aumento está relacionado essencialmente com o mercado de trabalho. E acrescentam:

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Hoje o português é uma ferramenta básica tanto para o alto executivo quanto para o recém-formado", avalia a diretora da Funceb, Monica Hirst. As empresas também investem na preparação dos funcionários. Na hora de convencer um cliente, não vale nem o portunhol, nem o espanhês, a versão castelhana da enrolação lingüística exibida sem constrangimentos pelos brazucas. (Revista Isto é, 1997)

Estes acontecimentos são provavelmente um início do interesse da língua portuguesa pelos países de fala hispânica. A Argentina provavelmente tem um interesse maior por ser o maior parceiro do Brasil nas transações comerciais. Mas a tendência é que o Mercosul cresça e, aos poucos, os demais países que ainda não pertencem a esse grupo possam se juntar aos demais. Como também através de outras formas de transações comerciais, além do trato do Cone Sul, o Brasil mantém relações com os países da América Latina. E a sua posição atual no mercado mundial está contribuindo para o interesse dos hispânicos em virem para o Brasil, e com eles o interesse pela língua portuguesa13. O Mercosul foi o começo e com ele chegaram as discussões lingüísticas e acordos políticos sobre o aprendizado das línguas oficiais, o português e o espanhol, nos países pertencentes ao tratado do Mercosul.

Retornando as reflexões sobre o português e o espanhol, podemos dizer que quando o sujeito toma a palavra em outra língua, se toma também uma posição enunciativa que estará relacionada a processos identificatórios decorrentes de filiações sócio-históricas e memórias, as quais são constitutivas do sujeito. Dessa forma, o sujeito ao enunciar em outra língua constrói identificações imaginárias ou simbólicas. Na identificação imaginaria, o sujeito se identifica com as imagens (do mundo inscritas no inconsciente) em que (o seu eu) se reconhece. E na identificação

simbólica opera uma relação entre o(s) significante(s) e o sujeito do inconsciente, do

interdiscurso. A identificação simbólica designa a produção do sujeito, ou seja, de discursos, os diferentes modos de dizer (Serrani, 1998 e 1998a).

Assim, entendemos com Serrani (1998a) tomar a palavra em outra língua, se inscrever em processos discursivos significa entrar no jogo dos processos identificatórios. Segundo Mannoni (1994, p.196, apud Serrani-Infante 1998a, p.253), “uma identificação é uma captura. Aquele que se identifica talvez creia que está capturando o outro, mas é ele quem é capturado”.

Notas:

1-Essa expressão que julgo adequada para este estudo consta nos estudos de Oralandi (1998).

2-Perguntas: O que você sabia sobre a língua falada no Brasil em relação a sua?; O que as pessoas de seu país comentavam sobre a língua portuguesa? Estas enunciações são as mais freqüentes feitas por quase todos: bolivianos, argentinos, peruanos, colombianos, etc.

3-Todas as seqüências discursivas apresentadas neste trabalho são descritas de acordo com a escrita original feita pelo imigrante hispano-americano.

4-Auroux comenta sobre três tipos de domínio: o domínio da enunciação o domínio das línguas e o domínio da escrita. (1992, p.17)

5-A relação entre os dois termos é como um continuum: “o primeiro não pára com o aparecimento do segundo; este último não traz automaticamente um conteúdo novo sem entrar no metalingüístico” (Aurox, 1992, p.33)

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6-No século XX, a lingüística comparada numa necessidade explicar as relações entre as línguas o fez segundo seu grau de parentesco. Colocando línguas como o inglês e o alemão como línguas da mesma família no tronco anglo-germânico, e as línguas como o francês, o italiano, português e o espanhol no tronco do indo-europeu, onde o latim também faz parte. (B.M., 2006)

A relação entre os dois termos é como um continuum: “o primeiro não pára com o aparecimento do segundo; este último não traz automaticamente um conteúdo novo sem entrar no metalingüístico” (Aurox, 1992, p.33)

7- O termo “compatível” tem o seguinte significado no dicionário: “1 passível de coexistir ou conciliar-se, a um tempo, com outro 2 capaz de funcionar conjuntamente; harmonizável; que pode ser possuído ou exercido simultaneamente por um mesmo indivíduo (cargo, função, ofício, vantagem, direito etc.)4 HEM que apresenta compatibilidade”. E “compatibilidade” significa “IMUN capacidade que apresentam dois grupos sangüíneos ou outros tecidos de se unirem e funcionarem em conjunto. * c. sangüínea HEM possibilidade de misturar o sangue de dois indivíduos” (dicionário Houaiss da língua portuguesa, 2001).

8- “A identidade é entendida como representação do ser, a identificação enfatiza a referência ao dizer”. Mais informações sobre o conceito em Serrani-Infante (1998a).

9- Considerando que essas pessoas vieram para o Brasil sem conhecerem o idioma português, não sabiam nada ou quase nada, portanto não poderiam falar, por exemplo, o portunhol que é uma língua imaginária, resultado de mistura do português e do espanhol.

10-Entendido como “muito parecido”, “semelhante”, “análogo” (dicionário Houaiss da língua portuguesa, 2001).

11-A construção dessas seqüências foi inspiradas através de metonímias apresentadas no trabalho de Celada (2002).

12-Essa língua é conhecida e famosa no Brasil. A força imaginária dessa língua. no Brasil resulta em produções “originais”de paródia na mídia, contribuindo para a sua fama. Como também se encontram nos exemplos de seu vasto uso nos diversos meios de comunicação. Para os brasileiros essa língua funciona como uma metáfora do espanhol. (Celada, 2002, p.43)

13- Mas a matéria da Revista Isto é também explicita as relações de proximidade entre essas línguas. Ao falar do ensino de português coloca um quadro contrastivo de palavras em português e em espanhol. O que leva a pensar o ensino das línguas reduzido a tradução “termo a termo” através de listas de léxico, que denuncia os “Falsos Amigos”, como as armadilhas que os aprendizes devem temer. Assim, a deixa transparecer que há identidade entre as palavras do português que correspondem ao espanhol. O que proporciona a idéia de transparência entre as duas línguas e, conseqüentemente a facilidade do processo de ensino/aprendizagem.

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