A METODOLOGIA
DA SALA DE AULA
INVERTIDA
NA EDUCAÇÃO CORPORATIVA
Wellington Moreira
Palestrante e consultor empresarial, é mestre em
Administração de Empresas, autor de dois livros já
publicados e atende projetos de educação
corporativa em várias empresas do país.
AUTOR:
www.caputconsultoria.com.br
O que é?
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Os treinamentos corporativos tradicionais já não respondem mais às demandas de aprendizagem dentro das empresas, muito menos ao perfil do profissional do século XXI. O ensino híbrido, também chamado de Blended Learning, que combina a transmissão de conteúdo de forma presencial (tradicional) e on-line (e-learning), surge como uma nova proposta de ensinar e aprender nas organizações.
Dentre as metodologias utilizadas no modelo híbrido, a Sala de Aula Invertida – do inglês,
Flipped Classroom – tem conquistado um importante espaço na educação corporativa. O método
sugere uma inversão do modelo de ensino tradicional e propõe que os treinandos tenham acesso ao conteúdo do curso previamente e sejam orientados a estudá-lo em casa ou na própria companhia (HORN; STAKER; CHRISTENSEN, 2014).
Portanto, a sala de aula – ponto de encontro físico entre o facilitador e os participantes do treinamento - se transforma em um espaço dinâmico e interativo, reservado para a realização de atividades em grupo, debates e discussões nas quais todos saem ganhando. O instrutor, que no modelo tradicional de ensino é o
detentor de todo conhecimento, passa a exercer o papel de condutor e encorajador do debate, em vez de ser visto como o “oráculo da turma”.
Essa inversão representa muito mais do que uma mudança nos horários e espaços físicos dos
treinamentos corporativos. Trata-se de uma metodologia que oferece aos profissionais a possibilidade de
aprenderem de forma personalizada e autônoma,
valorizando suas habilidades e competências. Em outras palavras, permite que os treinandos sejam protagonistas da própria aprendizagem.
Sala de aula tradicional
Para a aplicação do método, o primeiro passo é a preparação do material do curso e a
disponibilização de todo conteúdo aos participantes por meio de uma plataforma on-line (vídeos, áudios, games, textos) ou física (materiais impressos) antes do encontro presencial. Assim, os profissionais em treinamento podem estudar no próprio ritmo e visualizar os conteúdos de acordo com suas necessidades individuais; cabendo ao facilitador, por sua vez, monitorar o progresso de cada um deles, tanto on-line como off-line.
Só depois de terem conhecido e estudado o tema, os treinandos se reúnem em grupo para interagir e realizar atividades colaborativas. Na ocasião, o condutor da capacitação assume o papel de guia da aprendizagem ao tirar dúvidas, aprofundar o tema, orientar sobre a aplicação do conteúdo no dia a dia de trabalho, e estimular o debate de forma a proporcionar aos profissionais um
aprendizado mais amplo e completo.
Ao contrário do que pode parecer, essa estratégia não diminui o trabalho ou a relevância daquele que está à frente do treinamento, tampouco transforma o encontro presencial numa reunião qualquer. O material estudado remotamente e a interação em sala são complementares. O método também não implica na terceirização de responsabilidade quando muda o papel de quem orienta o aprendizado do grupo. Pelo contrário, a mudança requer um grande esforço daquele que está facilitando o curso.
A adoção da Sala de Aula Invertida requer, portanto, que a pessoa ou empresa
designada para fornecer a capacitação apresente um bom planejamento dos objetivos do curso e uma programação detalhada do conteúdo a ser ensinado - o que irá subsidiar a escolha dos assuntos a serem estudados previamente e das atividades mais
adequadas para a aplicação em sala de aula.
Como a metodologia funciona na prática
Metodologia que
oferece aos
profissionais a
possibilidade de
aprenderem de
forma
personalizada e
autônoma,
valorizando suas
habilidades e
competências.
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Questões críticas para a adoção do método
no meio corporativo
Como vimos, a Sala de Aula Invertida provoca uma série de rupturas com o modelo de tradicional de ensino, quando aplicada nos programas de educação corporativa:
- Confere espaço de autonomia. O
profissional treinando administra a agenda
de estudos, por isso, tem mais liberdade
para escolher o horário e local no qual
prefere assimilar os conteúdos.
- Exige disciplina pessoal. A abordagem
demanda que os treinandos tenham
disciplina e saibam administrar o próprio
tempo para conseguir estudar aquilo que é
necessário antes do encontro presencial e,
na sequência, obter um melhor
aproveitamento das discussões e
atividades em grupo.
- Requer a aceitação do protagonismo.
Como a atual metodologia de treinamentos
corporativos ainda se vincula muito
intimamente ao aprendizado por meio de
aulas expositivas, alguns colaboradores
podem se sentir perdidos e desmotivados.
Por isso, é possível que eles tenham que
passar por uma adaptação até se sentirem
confortáveis com a Sala de Aula Invertida.
- Pede uma participação ativa. A nova
abordagem demanda que os profissionais
treinandos façam a transição de agentes
passivos para agentes ativos na instrução
que lhes é oferecida pela companhia. Além
disso, a interação entre aquele que
ministra o curso e os colaboradores é bem
diferente das relações que se estabeleciam
quando da utilização do método
tradicional.
Dois outros pontos de atenção
Outra questão desafiadora na implantação do método da Sala de Aula Invertida é o aumento da carga de trabalho, não só do facilitador, mas também dos profissionais em formação. Preparar-se e realizar atividades antes dos encontros presenciais não é tarefa comum em cursos aplicados no meio corporativo, por isso as empresas deverão orientar os participantes sobre a necessidade de administrarem bem o próprio tempo e dividirem as horas de estudo e trabalho.
Também é papel das organizações garantir
acessibilidade às plataformas virtuais utilizadas nos treinamentos. De nada adianta fazer o uso de
tecnologias se elas não podem ser acessadas remotamente e com facilidade pelos profissionais. É recomendável, portanto, que disponibilizem os
equipamentos necessários para o acesso ao conteúdo dentro da empresa. Não há como solicitar que o colaborador assista a um vídeo no horário do
expediente, se ele não possui caixas de som acopladas
- Capacidade de lidar com a sensação de perda de controle. Quem conduz os
treinamentos corporativos também precisa aprender a compreender o seu novo papel, especialmente no que diz respeito à perda de parte da autoridade que tinha em sala. O facilitador deixa de ser o único a ditar o ritmo das interações e debates e a deter o conhecimento.
- Mudança de postura. Os facilitadores
não são apenas transmissores de
conhecimento, mas sim os intermediadores de uma proposta de contribuição
colaborativa. E, ao mesmo tempo, também precisam saber se comportar
assertivamente caso os participantes não realizem o estudo prévio indicado ou
encontrem dificuldades para acompanhar a interação em sala, o que pode gerar
desmotivação e desinteresse pelo conteúdo, interferindo negativamente no aprendizado.
- Plano de aula completo. O conteúdo
prévio a ser disponibilizado aos profissionais que participam do programa de capacitação deve constar no roteiro de aprendizagem elaborado pelo facilitador, bem como tudo o que será desenvolvido em sala quando os participantes estiverem reunidos.
- Conhecimento das tecnologias disponíveis. É
fundamental que o condutor do processo se
preocupe com a seleção criteriosa de conteúdos on-line que possam auxiliar os participantes a
aprenderem tudo aquilo que é necessário antes de chegarem na sala de aula. Recomendamos, para isso, plataformas como TED, Khan Academy, Knewton, Smarth e Sparrow, que trazem uma
riquíssima fonte de conhecimento nos mais variados assuntos relacionados à educação corporativa.
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Uma companhia sabe que o modelo de Sala de Aula Invertida tem funcionado em suas
iniciativas de aprendizagem quando:
- Os profissionais têm a posse do material estudado e podem acessá-lo a qualquer
tempo;
- Discussões, dúvidas e pontos de vista são levantados pelos próprios
colaboradores nos encontros presenciais e apenas mediados pelo facilitador;
- Os debates são enriquecidos pelo aprendizado construído previamente.
Geralmente, atingem ordens superiores de pensamento crítico;
- O trabalho colaborativo proposto pelo condutor do treinamento é realizado a
partir de várias discussões simultâneas;
- Os profissionais desafiam uns aos outros durante as atividades práticas, graças
ao conhecimento adquirido;
- Lideranças surgem espontaneamente no grupo, em função das tarefas
colaborativas;
- Os aprendizes fazem perguntas exploratórias e têm a liberdade de ir além do
currículo básico do módulo de treinamento;
- Os participantes se sentem ativamente engajados na resolução de problemas
propostos durante o curso;
- Os treinandos saem da posição de ouvintes passivos para sujeitos ativos no
processo de ensino-aprendizagem.
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Indicadores do bom uso da metodologia
na educação corporativa
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Resultados
A aplicação da metodologia da Sala de Aula Invertida na
educação corporativa se justifica por facilitar o alcance de
importantes resultados. São eles:
- Maior riqueza dos encontros presenciais. A
possibilidade de promover debates mais avançados nos
encontros em grupo e na presença do facilitador, uma vez
que o conteúdo foi previamente estudado pelos treinandos,
proporciona um nível de discussão mais elevado e um
conhecimento mais abrangente a todos os envolvidos.
- O que ainda precisa ser aprendido fica claro. As
lacunas na compreensão do conteúdo se tornam visíveis,
tanto por parte do condutor do processo como dos
participantes, devido à constante interação e orientação na
aplicação do conhecimento.
- A relação entre facilitador e aprendiz é estreitada. A
metodologia possibilita que aquele que ensina e aquele que
aprende tenham uma interação muito mais proveitosa, já
que há o compromisso mútuo em fazer com que o processo
de aprendizagem realmente dê certo.
O método da sala de aula invertida é uma tendência na
educação corporativa, pois atende aos anseios de uma nova
geração de profissionais ávida por conhecimento e aberta às
inovações tecnológicas que estão surgindo. A inversão do
modelo tradicional de ensino nos treinamentos aplicados nas
empresas se mostra eficaz principalmente porque os
colaboradores, que passam a controlar como, quando e onde
aprendem, se tornam protagonistas do processo de
aprendizagem e podem caminhar de acordo com o seu
próprio ritmo.
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BAILEY, Jonh. et al. Blended learning implementation guide. Version 1.0. Supported by:
Foundation for Exellence in Education. In: Association with: Getting Samrt. Fevereiro,
2013. Disponível em: <http://goo.gl/gA6APl>. Acesso em: 14 dez. 2014.
HORN, M. B., STAKER, H. Blended: usando a inovação disruptiva para aprimorar a
educação. Porto Alegre: Penso, 2015.
FLIPPED INSTITUTE. What is a flipped classroom? 2015. Disponível em: <http://
flippedinstitute.org/>. Acesso em: 15 jun. 2015.
GREENBERG, Brian; HORN, Michael. O modelo Sala de Aula Invertida. Khan Academy,
2015. Disponível em: <http://goo.gl/ Bj1Efu>. Acesso em: 04 jan. 2015.
Referências bibliográficas
Escritório – Caput Consultoria
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