AÇÕES GARANTEM
O FUTURO
Sr. Luiz Barsi
Nesta semana damos continuidade à entrevista com Luiz Barsi Filho
realizada nas últimas semanas, a qual abordamos um pouco mais sobre o
início da carreira de investidor de Barsi, qual era seu modo de operar no início, e como ele se comportou em alguns “Crashes” da bolsa.
Na publicação de hoje, Barsi fala um pouco sobre algumas de suas perdas no mercado e sobre períodos difíceis que já viveu na bolsa, com a quebra de inúmeros bancos que ocorreram nos anos 90, e que Barsi detinha
participação em alguns deles, mas que apesar disso, não prejudicou sua
trajetória de sucesso no mercado, mostrando que é inevitável que o investidor cometerá erros no seu
percurso, mas que o importante é que os acertos mais que compensem os erros.
Ainda, Barsi fala um pouco sobre o efeito do congelamento de preços ocorrido ao final dos anos 80, sobre suas empresas, e dá detalhes também sobre a grande oportunidade que
ocorreu em Klabin, que o levou a
adquirir, na época, 5 milhões de ações, pagando centavos por cada uma.
Barsi se aproveitou de um cenário adverso, mas pontual, vivido pela
empresa, para adquirir grande posição e mostrou que aproveitar crises para comprar grandes empresas, costuma ser um ótimo negócio, além de,
principalmente, ter entrado em contato com diretores e gestores da empresa, justamente para entender melhor suas estratégias e sua mudança de
posicionamento, o que naturalmente passa tranquilidade e maior segurança aos investidores.
Hoje (ou mesmo na época em que
Barsi realizou a compra de Klabin) não é fácil entrar em contato diretamente com os diretores de uma empresa, mas para isso temos o R.I, e Barsi mostra que entrar em contato com a empresa e esclarecer suas dúvidas é, com toda certeza, um fator fundamental no
sucesso de um investidor.
Suno Research: Alguma empresa da carteira do Barsi quebrou nesse
período difícil do Brasil, nos anos 80? Luiz Barsi: Quebrou sim. Por exemplo, a empresa siam-util, que eu tinha um pouco no fracionário, quebrou. Outra que quebrou nessa época foi a
Vigorelli, uma empresa que fazia máquinas de costura e aí surgiu um boato que eles passariam a produzir metralhadoras, algo que iria alavancar o negócio, o papel subiu muito mas eu não subi, acreditei que poderia dar
certo.
Depois, nos anos 90, também perdi no Banco Nacional, que eu tinha ações. Nessa época eles patrocinavam o Senna, quem diria que iria quebrar aquela família tradicionalíssima? Era algo improvável, eu acabei perdendo dinheiro ali também.
Suno Research: Como estava a
diversificação da carteira do Barsi no começo dos anos 80?
Luiz Barsi: Eu já tinha uma certa diversificação, eu tinha Banco
Bandeirantes, Banco Noroeste, Banco Real de Investimentos, eu tinha papéis que pagavam ótimos dividendos.
Mesmo as empresas que eu tinha pouca coisa, no mercado fracionário, elas me pagavam ótimos dividendos, o que acabou compensando ainda assim. Mas depois de um tempo, chegou um determinado momento, que tinha um cidadão que tinha um escritório no
viaduto santa Ifigênia, um prédio ali que hoje é uma empresa de eletricidade, e eles eram sócios de um pequeno
Banco que tinha aqui na Rua Boa Vista, e eles tinham também uma corretora, aí o Macedo chegou para mim e me ofereceu a posição de ações deles, e eu falei que queria era vender, e num daqueles dias eu vendi todos meus
papéis no fracionário desta empresa, e caí fora.
Eu passei a comprar só os papéis que eu já tinha, então eu comprava Banco do Brasil, Banco Noroeste, Banco
Bandeirantes, Banco Bandeirantes de investimentos que ninguém queria e pagava um dividendo extraordinário. Esse banco se tornou Unibanco, e de Unibanco se tornou Itaú.
Suno Research: Nos anos 80, além de escrever para o Diário Popular, você exercia alguma outra atividade
profissional?
Luiz Barsi: Não. Nessa época eu já estava totalmente focado nas ações. Eu fui professor durante uns 5 ou 6 anos apenas, mas às vezes me
convidavam para dar algumas aulas
ocasionais sobre investimentos, análise de balanços, contabilidade, etc, mas era algo pontual mesmo.
Suno Research: O congelamento de preços ocorrido nesta época prejudicou alguma empresa da sua carteira?
Luiz Barsi: Em geral não prejudicou muito, sabe por que? Pois a maioria das minhas empresas na época eram empresas de energia elétrica. Porém, eu tinha também papéis da Klabin já nesse período, que também acabou sendo afetada pelo congelamento, eu comprei Klabin nos anos 70, há muito tempo.
Apesar do congelamento afetar a Klabin, não foi por conta dos
congelamentos que eu tive grande
oportunidade de comprar muitas ações da empresa, eu vou até falar mais um pouco sobre isso pois é bem
interessante.
A Klabin fazia papel higiênico, papel toalha, papel de escrever, fazia uma série de papéis, então eles
“re-formataram” a estratégia operacional da Klabin, chegou uma hora que eles queriam sair da maioria das operações e ficar apenas com papel de
embalagem e com o cartão, um cartão especial que vende para a Tetra pak, então se eles iriam priorizar o
segmento de papel de embalagem, a primeira coisa que eles se
preocuparam em fazer foi comprar do concorrente uma empresa que
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A Suzano possuía uma empresa que produzia o papel de embalagem, e a Suzano estava de olho na Baía Sul, que era da Vale do Rio Doce, e para a Suzano comprar essa participação da Vale, ela necessitava vender algo,
então venderam pra Klabin, só que a Klabin como não tinha dinheiro para ir às compras teve de emitir debêntures, se endividando.
Só que havia um cidadão chamado
Pedro Piva, que acabava "segurando o negócio", ele foi suplente de senador do José Serra, e quando o José Serra foi para Ministro, o Pedro Piva assumiu o senado, não tenho dúvida nenhuma que naquela época a Klabin emitia
debêntures para o BNDES e comprou a Igaras, e a Aracruz na época queria
comprar a Riocell, só que a Aracruz só compraria de um, e a Riocell, quem era controlador da Riocell era uma
empresa chamada KIV, que significava Klabin Iochpe Votorantim, então o que a Klabin fez?
Comprou a participação dos demais para vender, e nesse processo todo a empresa emitiu mais debêntures e foi se endividando de maneira tal, que seu grau de alavancagem ficou muito
elevado e perigoso, e por conta disso os fundos passaram a vender as ações da Klabin, jogando os papéis nos
centavos, quando chegou nesse
patamar eu pensei: "A Klabin não vai quebrar", então fui lá e comprei 5
milhões de ações.
Eu então, para entender melhor a situação da empresa e suas
perspectivas, esclarecer todas essas questões do endividamento e
reposicionamento, peguei o telefone e liguei para a secretária do Josmar
Verillo, que era diretor da empresa, não era fácil falar com ele, o cara era “deus” na Klabin, ela perguntou quem era que desejava falar, eu não falei meu nome, falei que apenas que eram "5 milhões de ações da Klabin". Ela falou com ele, disse então para eu ir no outro dia lá na empresa.
Eu fui, ficamos quase 1 hora
conversando, um cara simpático, ele me disse que essa série de
movimentos foi justamente para
modificar o mix da Klabin, e de fato, hoje se você olhar, a Klabin é a única que fabrica caixa de papelão assim, e eles foram vendendo gradualmente
algumas participações justamente para também compensar o endividamento e controlá-lo.
A Klabin vendeu então a Riocell, entrou o dinheiro, venderam também a
produção de papel jornal para uma empresa chamada PISA, Papel de
Imprensa S/A, venderam também outra para uma empresa norueguesa, eles focaram apenas no papel de
embalagem, e o papel de embalagem na verdade é para fazer papelão, pois aí eles fazem a caixa de papelão.
Luiz Barsi Filho - Economista
A caixa de papelão é uma máquina de fazer dinheiro ao meu ver, é aqui em Jundiaí, se você for analisar é o
seguinte, chega às vezes um caminhão com 3 bobinas, e cada bobina pesa
umas 20-30 toneladas, a máquina vai lá e coloca uma bobina aqui, outra ali, uma no meio e liga a máquina, em 20 minutos aquela bobina não tem mais, tem toda uma programação, então por exemplo, uma Caixa feita para a Sadia, a caixa já sai com um corte específico. Muitas vezes o Caminhão que trazia as bobinas já levava também o produto. A Klabin é uma empresa
impressionante, e essa época adversa foi que consolidei minha participação na empresa, o que evidentemente, se valorizou muito e me entregou enormes dividendos.