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SÊNECA: UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO DO HOMEM ROMANO COSTA, Lorena Munhoz da 1 BORDIN, Reginaldo Aliçandro 2

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SÊNECA: UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO DO HOMEM ROMANO

COSTA, Lorena Munhoz da1 BORDIN, Reginaldo Aliçandro2

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho procurou investigar a concepção de educação do homem romano a partir das obras de Lúcio Aneu Sêneca (4a.C -64), um dos mais influentes pensadores de sua época e ilustre representante do estoicismo. Nascido em Córdoba, na Espanha, de uma família abastada, foi um dos homens mais influentes de Roma, chegando a ocupar o posto de administrador do Império Romano; entretanto, foi como filósofo que se destacou.

Sêneca recebeu uma educação esmerada, compatível com sua classe social. Levado por seu pai para Roma junto com os três irmãos, Sêneca estudou filosofia e também se interessou por retórica, que o habilitava a seguir a carreira política. Ambicioso, ao final da adolescência já realizava seus primeiros discursos no fórum e assumiu as primeiras magistraturas.

Apesar da rápida ascensão, sua carreira política foi interrompida por problemas de saúde, que o obrigaram a se retirar para o Egito, onde morou até seus 35 anos. Em 31 d.C. Sêneca voltou a Roma e retomou suas funções políticas, chegando a ocupar cargos de orador e senador, o que lhe permitiu acumular uma fortuna. Seus talentos literários e em retórica causaram inveja ao imperador Calígula3. Na corte romana, suas habilidades políticas não ficaram isentas das intrigas palacianas. Em 41,

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Acadêmica do curso de Psicologia do Centro Universitário de Maringá – CESUMAR, Maringá – PR. Participante do Programa de Incentivo à Iniciação Científica do Cesumar – PICC.

(lo_munhoz@yahoo.com.br). 2

Docente do curso de Psicologia do Centro Universitário de Maringá – CESUMAR, Maringá – PR. (r.a.bordin@uol.com.br).

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Caio Calígula (12 a 41 d.C.) foi o último filho de Germânico, filho adotivo de Tibério, segundo imperador de Roma, e de Agripina.

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no governo de Cláudio4, sua carreira foi mais uma vez interrompida ao ser acusado de adultério com Júlia Livilla5, resultando em exílio na Córsega (LI, 1996).

Longe da agitação política da capital romana, o estóico dedicou seu tempo à meditação filosófica, do que resultaram algumas de suas principais obras, dentre as quais se destacam: Consolação à minha mãe Hélvia, em que analisa a dor causada pela ausência de uma pessoa amada; Sobre a brevidade da vida, em que buscava convencer o destinatário a abandonar a vida pública e voltar-se ao ócio literário e ao estudo da filosofia; Sobre a constância do sábio, em que discorre sobre a soberania inabalável do sábio; e Consolação a Políbio (LEONI, 1961).

O exílio estava próximo do fim, graças às reviravoltas políticas na Cidade Eterna. Em 48, Sêneca retornou à Roma a convite de Agripina, que o nomeou preceptor de seu filho Nero6, futuro herdeiro do Império. Com a morte de Cláudio, Nero, então como 16 anos, assumiu o controle do Império Romano, mas quem governaria de fato seria Sêneca. No governo, o filósofo não poupou esforços para afastar seus adversários e banir rivais, inclusive Agripina, contribuindo para seu assassinato (LI,1993).

Não obstante, a aliança entre o filósofo e o imperador teve vida curta. Durante os primeiros anos, Nero governou seguindo as orientações do mestre; no entanto, Sêneca tornou-se um incômodo para o imperador, que o deixou de ouvir. As incompatibilidades criaram as condições para Sêneca retirar-se da vida pública, mas Nero recusou-se a upera -las. Em 65, foi acusado de conspiração contra Nero, que o condenou ao suicídio (ULLMANN, 1996).

Por fim, importa considerar que foi com Sêneca que o estoicismo amadureceu e experimentou o poder. Apesar de suas contradições, soube entender as necessidades de seu tempo e por isso apontou os caminhos para upera-las. Sêneca viu na educação

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Cláudio César Germânico (10 a 54 d.C.) foi imperador de Roma entre 41 e 54 d.C.. Influenciado por sua última esposa, Agripina, deserdou o próprio filho, e nomeou Nero, seu enteado, como seu sucessor. 5

Júlia Livilla era uma das três filhas de Germânicus e irmã de Agripina. 6

Nero (37 – 68 d.C.), filho de Agripina, sucessor de Cláudio no cargo de imperador de Roma. Governou de 37 a 68 d.C.

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moral do homem romano a chave para curar os males causados por uma vida desregrada e apegada mais ao poder do que às virtudes filosóficas e culturais. CONCLUSÃO???

2. A DOUTRINA DE SÊNECA

Sêneca pertenceu ao chamado Pórtico Novo, a última das três fases7 do Estoicismo, doutrina filosófica fundada por Zenão de Cítio (336-264 a.C.), em Atenas. O Estoicismo foi um movimento moral e espiritual que demonstrou admirável vigor entre os povos do Mediterrâneo e da Ásia Menor. Sua aceitação e expansão, principalmente entre os romanos, talvez se devesse ao fato de que essa doutrina procurava proporcionar aos seus contemporâneos orientação, refúgio e consolo para as crises que passavam.

Ao refletir sobre os complexos problemas de seu tempo, Sêneca encontrou na educação os meios para superá-los tendo em vista os fins que pretendia atingir: a formação do homem sábio e virtuoso. Para atingir esse objetivo, Sêneca buscou na filosofia estóica os instrumentos pedagógicos que possibilitassem o processo educativo. Diferentemente dos pensadores gregos, Sêneca priorizou uma filosofia que transcendia à pura especulação teórica para se converter numa doutrina prática, que requisitava um determinado modo de conduta de vida. Apesar do contato com a cultura grega, os romanos reescreveram os modelos filosóficos segundo suas necessidades, de modo a atender ao seu espírito prático (PEREIRA MELO, 2004).

Para Sêneca, a filosofia, antes de tudo, deve ensinar o homem a viver bem, conforme a virtude. Nada lhe importa, exceto aquilo que possibilita uma vida virtuosa, desapegada dos vícios e das paixões. Nesse caso, considerou que a meditação filosófica predispõe a uma vida tranqüila e, por isso entendeu ser ela um bem universal, que deve se estender a todos os homens (FRAILE, 1971).

Nesse sentido, Sêneca considerava a filosofia como algo que predispõe o homem a praticar a virtude, motivo de recomendá-la como meio de alcançar a

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felicidade. Com essa característica, a filosofia, em Sêneca, ganhou um estatuto ímpar: é ela quem, pedagogicamente, dirige o homem pelos caminhos da prudência e da sabedoria. Segundo o pensador romano, a filosofia não se resume a preceitos, mas define-se como exercício da virtude e manifesta-se na própria vida. Ela dá forma e estrutura à alma, ensina o rumo da vida, aponta o que deve ser feito e discerne os verdadeiros valores (PEREIRA MELO, 2004).

Mas só a filosofia nos reanimará; só ela poderá sacudir o nosso pesado sono. Consagra-te inteiramente a ela: és digno dela e ela é digna de ti. (...) A filosofia é soberana; decide o teu tempo: não és tu que lhe dás esmola. Não é uma ocupação secundária, porém essencial; como mestra absoluta, está presente e dá as ordens (SÊNECA, 2002, 157-158).

A filosofia, destarte, é uma técnica da vida feliz, porque conduz o indivíduo à reta ação. Sua tarefa principal era a salvação pessoal e a plena realização da vida. Além disso, era entendida como recurso libertador, com vistas à realização de algum bem. Além disso, Sêneca compreendia que a filosofia deveria ser vivida, uma vez que concebia a vida como espaço do bem e do mal, motivo pelo qual o filósofo recomendava a prática filosófica (LI, 1993).

SÁBIOIOOO

Superar as adversidades da vida era a marca registrada de Sêneca, por esse motivo sua doutrina destacava a formação moral do homem. Sêneca considerava que a atividade filosófica permitiria ao homem se libertar da servidão dos vícios e cultivar valores morais, a exemplo da amizade, lealdade e amor à humanidade. Segundo ele, as experiências físicas não passavam de torturas e os deveres da vida política são males necessários; por isso, propõe romper com essas convenções sociais cultivando a serenidade do espírito (KOESTER, 2005).

Para esse pensador, a natureza deu ao homem uma vida suficientemente longa, mas os desejos, os vícios e o apego ao dinheiro e a atividades consideradas inúteis tornaram a vida leviana e passageira. O homem não deve empregar seu tempo com circunstâncias que não permitam a meditação filosófica, porque seu espírito fica ocupado com tantas coisas que ele não pode se dedicar nem à eloqüência nem aos

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estudos liberais, nem à busca da verdade. Além disso, o homem ocupado não sabe viver, pois aprender a viver é uma tarefa árdua e exige tempo livre.

Por que nos queixamos da Natureza? Ela mostrou-se benevolente: a vida, se souberes utilizá-la, é longa. Mas uma avareza insaciável apossa-se de um, de outro, uma laboriosa dedicação a atividades inúteis, um embriaga-se de vinho, outro entorpece-se na inatividade; a este, uma ambição sempre dependente das opiniões alheias o esgota, um incontido desejo de comerciar leva aquele a percorrer todas as terras e todos os mares, na esperança de lucro; a paixão pelos assuntos militares atormenta alguns, sempre preocupados com perigos alheios ou inquietos com seus próprios. (...) a maioria, que não persegue nenhum objetivo fixo, é atirada a novos desígnios por uma vaga e inconstante leviandade, desgostando-se com isso (SÊNECA, 1993, p. 26).

Por isso, o pensador estóico indicava o exercício da parcimônia, ou seja, a satisfação das necessidades sem ultrapassar o necessário. Sêneca não recomendava ao homem se ocupar com a moda, o corpo ou os banquetes excessivos. Também aconselhava modéstia nos gastos com os estudos; os livros – afirmava - devem ser comprados com a finalidade de ler e ser útil, e não para ostentação. A regra, portanto, era clara: nada em excesso (SÊNECA, 2006).

Se a filosofia ensina o homem a agir determinando-lhe uma conduta prática, o filósofo, não menos importante, é aquele que prepara o caminho para a vida. O filósofo, a exemplo de Epicuro (341-270 a.C.), é o médico da alma; é aquele que ensina a enfrentar a morte, a superar a dor e o sofrimento.

Sêneca também prescreve a prudência como remédio para os vícios e receita o ócio para administrar a vida com sabedoria; por isso recomendava “dialogar” com eles, que podem servir e orientar o homem, além de oferecer-lhe acesso à eternidade.

Nenhum destes forçará tua morte, todos te ensinarão a morrer, nenhum dissipará teus anos, mas te oferecerá os seus. Nunca a conversação com eles será perigosa, fatal a amizade ou onerosa a deferência. Conseguirás deles tudo o que quiseres: não será deles a culpa se não tiveres exaurido tudo o que desejas. Que felicidade, que bela velhice não aguarda o que se dispôs a ser seu cliente! (SÊNECA, 1993, p. 47).

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Ainda que se mantenha nos quadros gerais do estoicismo, Sêneca não se sujeitou com exclusividade a nenhuma doutrina. Procurou conservar sua liberdade de pensamento, ao assumir uma posição eclética e, por vezes, cética. Entendeu que era possível dialogar com outros pensadores, porque suas doutrinas contribuiriam para preparar o caminho que conduz o homem das trevas à luz, além de ultrapassar os estreitos limites da fraqueza humana (SÊNECA, 1993).

É-nos consentido disputar com Sócrates, duvidar de Carnéades, repousar com Epicuro, vencer a natureza humana com os estóicos, transcendê-la com os cínicos. Dado que a natureza nos permite entrar em comunhão com qualquer época, por que não deveríamos, partindo dessa exígua e caduca porção de tempo, dedicar-nos com toda a alma às coisas que são imensas, eternas, das quais participamos junto com os melhores espíritos? (SÊNECA, 1993, p. 46).

Com essas características a filosofia desempenhou um papel central na formação do homem, ao definir um papel que se ajustasse às necessidades da sociedade romana. Amparada pelo estoicismo grego, a doutrina de Sêneca sustentava a necessidade da meditação filosófica como meio de superação das mazelas mais comuns da vida do romano: o apego ao poder, ao dinheiro e à vida militar, todos considerados danosos por esse pensador. Coube ao filósofo e à filosofia uma nova dinâmica pedagógica, que, em última instância, levava à aquisição da virtude e, com esta, à conquista da felicidade. Nesse caso, o destino do homem era lutar para se libertar das limitações a que estava submetido, e a educação deveria contribuir para o cumprimento dessa meta (PEREIRA MELO, 2004).

Nesse sentido, Sêneca colocou em relevo a figura do sábio enquanto modelo e guia do processo pedagógico. A verdadeira virtude está somente na pessoa do sábio, que se sobrepõe às aparências. O sábio não é insensível, experimenta as paixões e a dor, mas sabe sobrepujá-las, submetendo-as ao controle da razão. Nunca se deixa dominar pela ira e pelo ódio. Nunca o sábio poderá viver sem o corpo, mas procura não viver para o corpo. Não se apega às riquezas nem se altera quando as perde. O sábio afronta os perigos e luta para vencê-los. Sua vida é um constante e heróico esforço para não se deixar dobrar pelas adversidades da vida nem se deixar vencer pela fortuna. Além disso, o sábio deve manter, acima de tudo, uma serenidade imperturbável (FRAILE, 1971).

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O sábio é aquele que realiza constantemente um exame interior para progredir moralmente. Suporta as injúrias e não se apega aos bens materiais, porque a maior riqueza é a sabedoria. Além disso, é aquele que armazenou tudo dentro de si e não confia nada ao acaso e ao destino. O sábio procura viver tranqüilo, suportando dores e perdas e as situações mais duras com placidez e as mais favoráveis com parcimônia (SÊNECA, 2000).

Na concepção de Sêneca, sábio é quem mantém uma consciência reta, evitando o desvirtuamento da lei natural e positiva; ele dever ser o legislador, o jurista e o político, porque é quem melhor sabe discernir o que é justo e injusto para o Estado (ULLMANN, 1996).

Outra característica é o sentimento de liberdade. Para Sêneca, o sábio é um homem livre, pois supera as ofensas, colocando-se acima delas, procurando fazer de si mesmo a fonte das próprias alegrias. É aquele que procura, acima de tudo, afastar de si as coisas exteriores, para que não tenha uma vida atormentada pelo medo do riso e do escárnio alheio (SÊNECA, 2000).

Tais recomendações evidenciam uma preocupação de Sêneca: deve o sábio se afastar da vida pública? Quais as suas obrigações políticas? O filósofo, apesar de sua participação na administração do Império Romano, mostrou-se decepcionado com a ação política. Por isso, compreendeu a necessidade de o político dispor de tempo para a meditação, condição primeira para o exercício dessa função. Além disso, entendeu que, sem meditar, o homem público poderia ser levado a decisões e atitudes injustas, incoerentes com a prática da verdadeira política. No seu entendimento, se não era possível evitá-las, o melhor seria diminuí-las, pois para Sêneca, o homem envolvido com muitas coisas perdia o controle de si mesmo para concedê-lo à sorte (PEREIRA MELO, 2006).

Tudo indica que Sêneca considerava as atividades políticas incompatíveis com a prática filosófica e, por isso, se possível, recomendava o seu afastamento. Apesar

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disso, compreendia a necessidade de o sábio trabalhar para o bem de seu semelhante, porque dispunha dos meios de influenciar a sociedade com conselhos. Ao buscar um equilíbrio entre o descanso e a ação, entre a vida retirada e a pública, Sêneca privilegiou o repouso do espírito enquanto meio para encontrar a disposição necessária para agir.

Ao sábio era recomendado o ócio como condição para cultivar a virtude. Por ócio, Sêneca entendia o tempo disponível para a meditação filosófica, além da retirada do filósofo dos encargos públicos e administrativos. Para Sêneca, aqueles que são ocupados desprezam os instantes mais preciosos esbanjando a vida em futilidades: uns se apegam a gastar o que desonestamente adquiriram, outros mendigam em suas orações o acréscimo de uns poucos anos; uns ficam perturbados com a morte, enquanto outros se apegam aos bronzes coríntios, enquanto a paixão pelos jogos e corridas se apossa dos mais tolos (SÊNECA, 1993).

A vida é breve - afirmava Sêneca - por isso não devemos esbanjá-la. Nesse caso, ócio não se definia por preguiça, mas como tempo livre para a reflexão. Portanto, a grandeza da alma estava em ocupar o tempo dedicando-se à sabedoria e ultrapassar as limitações, próprias da natureza humana.

Dentre todos os homens, somente são ociosos os que estão disponíveis para a sabedoria; eles são os únicos a viver, pois, não apenas administram bem sua vida, mas acrescentam-lhe toda a eternidade (SÊNECA, 1993, p. 45).

Sêneca, ao aconselhar seu sogro, Pompeius Paulinus8, a uma vida virtuosa, revelou a importância de pensar que a vida é apenas um empréstimo, e que um dia terá que devolvê-la. Por isso, saber morrer é fundamental. Tomando como referência outros pensadores, a exemplo de Sócrates, Sêneca observou que as maiores personalidades também experimentaram os piores sofrimentos, mas permaneceram firmes e corajosos. Dessa forma, põe-se a encorajar o destinatário de suas cartas a ser como esses homens, sacrificando essa pequena parte da vida para tornar-se eterno.

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Dentro desta perspectiva, Sêneca procurou analisar a psicologia humana e descobriu a consciência como força espiritual e moral. Além dos deuses, que são os juízes das ações humanas, a consciência guia a vida moral, podendo decidir entre o bem e o mal. Dela afirmava filósofo que ninguém pode se esconder, porque o homem não pode esconder-se de si mesmo. Nesse caso, o ideal do homem sábio e virtuoso é “consultar” a sua consciência e decidir-se pelo bem. Influenciado por Platão, entende que o corpo é cárcere da alma e é preciso libertá-la das mazelas que a vida dedicada aos vícios acarreta. A busca pela consciência como mediadora do agir humano é também o retorno à alma para libertar-se do corpo e alcançar a pureza (REALE, 1994).

Ao colocar a consciência como intermediária da ação moral, Sêneca compreendeu que a educação não deveria se fundamentar num ensino teórico, mas possibilitar ao homem a realização da virtude suprema: a felicidade. Nessa direção, sua proposta pedagógica prescrevia o exercício constante do exame interior. Para ele, o exame da consciência tinha por objetivo o progresso da virtude e o triunfo sobre as más inclinações (ULLMANN, 1996).

Posto isto, vale dizer que o traço principal do pensamento pedagógico de Sêneca tem fundamento na idéia de que a filosofia deveria ser vivida mediante o rompimento com a acumulação de conhecimentos desprovidos de conteúdo moral. Esse foi o motivo de Sêneca ter negado qualquer valor à ação voltada para si mesma. Segundo ele, o valor de uma ação estava no seu fundamento ético: fazer um benefício, orientar, ensinar, meditar, praticar austeridade física eram práticas que incorporaram valor se tivessem por fim a moral (PEREIRA MELO, 2004).

Tudo indica que Sêneca soube compreender as contradições de seu tempo e, por isso, elaborou uma filosofia que se ajustasse às suas necessidades: priorizou uma formação moral propondo novos valores, a exemplo da meditação filosófica e do ócio. Estes eram considerados os meios para atingir uma vida feliz, que, no seu entendimento, só era garantida quando os jovens cultivassem as virtudes, os únicos bens considerados eternos.

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Importa considerar que, na ânsia de compreender as contradições de seu tempo, o filósofo deu importante contribuição à educação, em razão do fim que pretendia alcançar, isto é, a formação moral do homem romano. Para isso, traçou uma proposta pedagógica baseada na noção de sábio, cujo fio condutor passava pelo cultivo da moral, do dever e da sujeição do indivíduo à disciplina e à ordem natural das coisas. Assim, o sábio, enquanto modelo de sua pedagogia, representava aquele que buscava viver de acordo com a natureza universal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FRAILLE, G. Historia de la filosofía. Madrid: BAC, 1971.

KOESTER, H. Introdução ao Novo Testamento: história, cultura e religião do período helenístico. Paulus: São Paulo, 2005, Vol 1.

LEONI, C. D. Obras: consolação à minha mão Hélvia, A Tranqüilidade da Alma, Medeia, Apokolokintosis. São Paulo: Atena, 1961.

LI, W. Introdução à obra de Sêneca In. Sobre a Brevidade da Vida. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

PEREIRA MELO, J.J. O sábio e o processo educativo senequiano. Revista Cesumar: Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Maringá: Cesumar, 2 junho/dez. de 2004, vol. 9, nº 2, p. 50-60.

__________, A responsabilidade e a dimensão social do sábio senequiano. Assis: Unesp, 2006. disponível em: www.assis.unesp.br/neam/anais2006/texto5.

__________, Sêneca e a Formação do Sábio. In: III Jornada de Estudos Antigos e Medievais, 2003, Maringá. Anais Completos III Jornada de Estudos Antigos e Medievais. Maringá : Universidade Estadual de Maringá, 2003. v. 1. p. 1-8.

REALE, G. História da Filosofia Antiga. São Paulo: Loyola, 1994. V.4 (Série História da Filosofia).

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SÊNECA, L. A. A Tranqüilidade da Alma. São Paulo: Escala, 2006.

________, Sobre a providência divina e Sobre a firmeza do homem sábio. São Paulo: Nova Alexandria, 2000.

________, A. Sobre a Brevidade da Vida. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

ULLMANN, R. A. Estoicismo Romano: Sêneca, Epicteto, Marco Aurélio. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996.

Referências

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