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FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Homens livres na ordem escravocrata. 4ª ed.são Paulo:Fundação Editora da UNESP, 1997 Ana Cristina Guanaes Rego 1

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1 Departamento de História

PET-História Projeto Resenha

Tutor: Prof. Dra. Eunícia Fernandes 2008.1

FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Homens livres na ordem escravocrata. 4ª ed.São Paulo:Fundação Editora da UNESP, 1997

Ana Cristina Guanaes Rego1

Maria Sylvia é professora do departamento de filosofia da USP e UNICAMP, sua obra Homens Livres na Ordem Escravocrata, publicada em 1969, originou-se de sua tese de Doutorado na faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, defendida em 1964.

A pesquisa centra-se na sociedade cafeeira do século XIX que surgiu no Vale do Paraíba. A documentação utilizada ora se refere a região do Vale, ora se relaciona a sociedade brasileira como um todo e ora contempla a cidade de Guaratinguetá e vizinhanças. O trabalho é todo embasado em documentação oficial como atas, correspondência, inventários, testamentos e processos criminais da Câmara de Guaratinguetá do período de 1830 a 1899 e em fontes bibliográficas. 2

Segundo a autora a utilização de mão de obra externa (negra) foi fundamental para a instalação do sistema de produção mercantil, mas no momento da produção cafeeira do século XIX, a manutenção do escravo foi uma opção. Visto já existir no território mão de obra livre disponível suficiente para o trabalho. O sistema econômico mercantil baseado na escravidão que se instalou no Brasil permitiu o surgimento de homens livres e expropriados dos meios de produção, desvinculados dos processos principais da sociedade, era um grupo a rigor desnecessário e dispensável.

1 aluna do 5° de História naPUC-Rio (2008.1), bolsista do PET-História desde 2007. 2

Maria Sylvia de Carvalho Franco. Homens livres na ordem escravocrata. 4ª ed.São Paulo:Fundação Editora da UNESP, 1997, p.17

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2 O trabalho parte da premissa que apesar do sistema colonial português privilegiar a monocultura em larga escala para suprir as necessidades do mercado externo. Não impediu que ao redor das grandes plantações os sitiantes, vendeiros, tropeiros e diversas outras categorias de homens livres, que não tinham a propriedade da terra, mas o direito de uso, utilizassem o espaço para suprir as necessidades da vizinhança com alimentos, animais para transporte e etc.

O objetivo da Maria Sylvia na tese é comprovar que os conceitos tradicionais de relação comunitária, de autoridade tradicional, e de sociedade estamental tal como é representada nos tipos ideais de Weber não são os melhores parâmetros para o estudo da sociedade brasileira.

O livro é dividido em quatro capítulos e a conclusão. Em cada capitulo vão sendo descritos as diversas facetas desta sociedade que comprovam a incompatibilidade do uso dos conceitos de Weber para o seu entendimento. E nos fornece uma analise da estrutura da sociedade brasileira na época.

No primeiro capitulo - Código do Sertão – a autora descreve como homens livres e pobres convivem com a violência institucionalizada no seu cotidiano nas suas relações com seus familiares, no trabalho e no laser. É uma relação comunitária onde se prezam a bravura e a ousadia, e as ações de violência são legitimas e imperativas. A violência existente no interior desta vizinhança é incompatível com o conceito de Weber de comunidade onde prevalecem as relações de amizades e de ajuda mutua que também existe nessas sociedades porem, estão associados a um alto grau de violência. Neste capitulo são descrito diversas passagens violentas de homens mortos no laser, no trabalho, nas festas e nos diversos momentos da vida cotidiana dessa população. O primeiro caso descrito de violência foi o do Manuel da Ponte que sai para caçar paca e acaba esfaqueado por um conhecido, José Mineiro. É conhecido, pois o ferido o denuncia pelo nome e os amigos que o socorreram identificam o assassino.

...”Passado algum tempo voltou seu filho muito pálido e assustado

e disse a ela depoente que fosse ver a Manuel da Ponte (....) Então ela depoente para ali se dirigiu e com efeito encontrou Manuel da Ponte deitado no chão e perguntou-lhe como se tinha atirado, ao que respondeu

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Manuel da Ponte que não era tiro, mas sim uma facada que José Mineiro (que estava lavrando madeiras) lhe dera e que não culpassem a outros.”3

O segundo capitulo trata da relação entre dois extratos da sociedade. Os tropeiros, vendeiros e sitiantes, extrato inferior e os fazendeiros, extrato superior da sociedade. Esses agentes sociais a principio mantém uma relação de troca de favores. Mas em uma analise cuidadosa das relações sociais deste grupo percebe-se uma dominação dos fazendeiros sobre os demais seguimentos. Esta situação muitas vezes passa despercebida por existir também uma relação de proximidade, como é o caso do sitiante que entrega seu filho para ser batizado pelo fazendeiro. Mascarando a situação de dominação impedindo que o dominado perceba sua falta de autonomia e lute pela liberdade.

Neste capitulo também não é possível usar a analise Weberiana de uma dominação tradicional do tipo dominação patriarcal. Apesar de encontramos suas principais características: o caráter comunitário, a fidelidade das relações que se legitima pelo habito. Não encontramos a relação de “senhor e súdito” como é descrito por Weber . 4 Apesar de existir uma proximidade com a idéia de chefe da família do fazendeiro com sua família estendida, seus afilhados e protegidos, criando uma relação de respeito que mascara a sua dominação sobre os demais. Esta situação algumas vezes até se assemelha a uma relação patriarcal, mas em moldes diferenciados dos padrões de Werber.

No terceiro capitulo a autora demonstra que não existe um distanciamento do que é publico e do que é privado.

A aplicação dos recursos privados em obras publica era uma rotina. A idéia do Governo central de burocratizar a administração publica na região era romper com estas tradições. Era promover reformas fiscais para ampliar as finanças governamentais para não existir mais a necessidade de usar fundos privados para solucionar questões publica. O que não era do interesse da classe dominante local. Esta queria a permanência dessa relação de dominação pessoal como forma de manter seu poder político na região.

3 Maria Sylvia de Carvalho Franco. Homens livres na ordem escravocrata. 4ª ed.São Paulo:Fundação

Editora da UNESP, 1997pp.22

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Gabriel Cohn. Max Weber: sociologia. 7ª ed. São Paulo: Ática, 2006 - Coleção grandes cientistas sociais, 13 p.131-133

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4 O representante do Governo que deveriam promover estas mudanças não há faz, por ser mais fiel ao poder local - aos fazendeiros, que ao governo central, e esta realidade se mantém.

A dificuldade de se promover as mudanças esta mais relacionada com a legitimidade do poder de fato estabelecido -dos fazendeiros- do que dificuldades técnicas de se implantar uma administração burocrática nessa região

O quarto capitulo esta tratando do fazendeiro do primeiro ciclo do café, sua relação com seus pares e a forma como se organiza a sua produção e sua inserção no mercado. A autora ressalta que a fazenda tradicional ajustou-se a economia moderna. Produzindo em grande escala, a preços reduzidos para inserir sua produção no sistema capitalista da época.

Nas conclusões da autora os homens livres pobres ou os que conseguiram fazer fortuna no contexto estudado agiam sempre de forma individualizada. A presença do trabalho escravo foi um dos impedimentos a formação de classes de trabalhadores. E a dominação pessoal dos fazendeiros, se limitava ao seu latifúndio e arredores o que dificultava a organização em grupos e a caracterização desta sociedade como sendo uma sociedade estamental onde as classificações sociais são estáveis, fechadas, claramente diferenciadas e reconhecidas em um espaço geográfico maior que suas propriedades. Em fim o que definia a estratificação social não eram critérios honoríficos e sim a situação econômica. No capitulo 3 os relato de viajantes mostra que havia pouca diferenciação entre os proprietários e agregados. ..”Os homens eram ricos apenas em

terras, possuindo muito pouco escravos e estando a gente branca em pé de excessiva igualdade para que pudessem servir uns aos outros” , apud Loock5

Na obra da Maria Sylvia além da critica ao uso de categorias Werberianas para o entendimento da sociedade brasileira, também encontramos uma critica a forma como o a economia brasileira se inseriu e ainda se insere - época da produção do trabalho - no sistema capitalista de produção, sempre buscando a produção para fora, sem insentivar o desenvolvimento do mercado interno. Esta questão na época da elaboração da obra ainda era um tema muito dicutido pela sua recorrencia. A forma como se organizou a economia brasileira é apontada como um dos maiores entraves ao nosso desenvolvimento e a nossa posição marginalisada na economia mundial ainda hoje.

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Maria Sylvia de Carvalho Franco. Homens livres na ordem escravocrata. 4ª ed.São Paulo:Fundação Editora da UNESP, 1997 pp. 118

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5 Na década de 60 a sociedade brasileira representada pelos seus intelectuais e políticos estava envolvida no debate sobre o progresso industrial e tecnológico como forma de alavancar a economia não apenas urbana, mas também rural.

A autora defende sua tese no ano do golpe militar e publica seu livro um ano após o AI-5 era um momento político de repressão. A posição de Maria Sylvia como intelectual expressa na obra foi que: a opção política de produzir para o exterior em detrimento do mercado interno até então implantadas não foram as mais acertadas no sentido de buscar o progresso e avanço socioeconômico da sociedade.

Referências:

AL ASSAR, Ragda Ahmad Salah. Nação, Democracia e Desenvolvimento no Ambiente Intelectual dos nos 1950/1960. Orientador, Luís Reznik

COHN, Gabriel. Max Weber: sociologia. 7ª ed. São Paulo: Ática, 2006 - Coleção grandes cientistas sociais, 13

FREUND, Julien. Sociologia de Max Weber. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1980.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Roberto_DaMatta [22/04/2008] http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Goulart [22/04/2008]

Referências

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