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Utilização das tecnologias digitais nos contextos educativos: concepções de licenciandos em matemática / Use of digital technologies in educational contexts: conceptions of licensors in mathematics

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Academic year: 2020

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p.47444-47453 jul. 2020. ISSN 2525-8761

Utilização das tecnologias digitais nos contextos educativos: concepções de

licenciandos em matemática

Use of digital technologies in educational contexts: conceptions of licensors in

mathematics

DOI:10.34117/bjdv6n7-397

Recebimento dos originais: 03/06/2020 Aceitação para publicação: 16/07/2020

Marcia Lorena Saurin Martinez

Doutoranda em Educação pela Universidade Federal de Pelotas – UFPEL. Mestrado em Educação em Ciências pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Especialização para Professores de

Matemática (EspMat - FURG). Licenciatura em Matemática - FURG E-mail: mms_rg@yahoo.com.br

Fernanda Fátima Cofferri

Doutoranda em Educação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. Analista técnico de Pedagogia na Universidade Aberta do SUS-UFCSPA

E-mail: fernandacofferri@hotmail.com Tanise Paula Novello

Doutora em Educação Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Professora do Instituto de Matemática, Estatística e Física – IMEF - FURG e do Programa de Pós-Graduação em

Educação em Ciências na Universidade Federal do Rio Grande - FURG. E-mail: tanisenovello@furg.br

RESUMO

As tecnologias, em especial, as digitais tornaram-se ferramentas essenciais para o desenvolvimento individual e coletivo dos seres humanos nos âmbitos sociais e educativos. Nesse sentido, integrar diferentes tecnologias no cotidiano escolar e universitário tem proporcionado a criação de outros saberes e formas de aprender até então impensados. Nesse processo, faz-se necessário que espaços educativos e seus sujeitos insiram-se emergencialmente nessa realidade tecnológica. Assim, o objetivo do presente artigo é de compreender as concepções de licenciandos do primeiro semestre do curso de Licenciatura em Matemática de uma universidade pública federal, sobre a utilização das tecnologias digitais nos contextos educativos, especialmente no que tange o ensino de matemática, a partir de discursos produzidos durante a disciplina de Tecnologias Aplicadas a Educação Matemática. Para tanto, utiliza-se o método de Análise Textual Discursiva, ao qual propõe fazer uma leitura aprofundada de materiais textuais, com o objetivo de descrevê-los e de interpretá-los, no intuito de atingir uma melhor compreensão dos fenômenos e dos discursos a partir dos quais foram produzidos. A análise será realizada pelo entremear dos discursos com autores que balizam o entendimento e a compreensão dos mesmos. Esta reflexão ainda pretende dar maior visibilidade e aplicabilidade desta temática inserida nos processos de formação inicial da docência. A relevância do uso das diversas tecnologias na educação foi reafirmada nos discursos dos graduandos, visto que inserir as tecnologias nos cursos de formação inicial de professores buscando estratégias para incorporá-las nos processos pedagógicos, é uma emergência para o contínuo desenvolvimento dos contextos educativos e dos sujeitos em formação docente.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p.47444-47453 jul. 2020. ISSN 2525-8761 Palavras-chave: Ensino de Matemática, Tecnologias Digitais, Licenciatura.

ABSTRACT

Technologies, especially digital, have become essential tools for the individual and collective development of human beings in the social and educational spheres. In this sense, integrating different technologies in the school and university routine has led to the creation of other knowledge and ways of learning that were previously unthinkable. In this process, it is necessary that educational spaces and their subjects are inserted urgently in this technological reality. Thus, the aim of this article is to understand the conceptions of undergraduate students in the first semester of the Mathematics Degree course at a federal public university, on the use of digital technologies in educational contexts, especially with regard to the teaching of mathematics, starting from of speeches produced during the discipline of Technologies Applied to Mathematics Education. For that, the Discursive Textual Analysis method is used, which proposes to make an in-depth reading of textual materials, in order to describe and interpret them, in order to achieve a better understanding of the phenomena and speeches to from which they were produced. The analysis will be carried out by interweaving the speeches with authors that guide their understanding and understanding. This reflection still intends to give greater visibility and applicability of this theme inserted in the processes of initial teaching formation. The relevance of the use of different technologies in education was reaffirmed in the speeches of the students, since inserting the technologies in the initial teacher training courses, seeking strategies to incorporate them in the pedagogical processes, is an emergency for the continuous development of the educational contexts and of the students. subjects in teacher training. Keywords: Mathematics teaching, Digital Technologies, Graduation.

1 INTRODUÇÃO

Estamos inseridos em uma sociedade que vivencia constantes mudanças, em que os processos de produção, comunicação e transporte vêm alterando-se rapidamente. Nesse contexto, as metodologias educacionais parecem estar em descompasso com essas transformações. Tal descompasso se dá pelo fato de vivenciarmos uma época de transitoriedade temporal em que a sociedade, de maneira geral, está imersa nas tecnologias digitais. Sendo assim, esse fato demanda uma organização na educação escolar e universitária, contemplando a geração chamada nativos digitais.

Os professores, por sua vez, são imigrantes digitais1, fundamentados em práticas pedagógicas alicerçadas em outros modelos, comumente distante das tecnologias digitais. Para Serres (2013) as crianças de nossa época, habitam um mundo virtual e adquiriram a habilidade de lidar, simultaneamente, com múltiplas informações. Portanto, não tem mais a mesma cabeça nem vivem no mesmo lugar de seus antepassados, de seus pais e professores.

1 Para Prensky (2001) os imigrantes digitais são aquelas pessoas que aprenderam a usar as tecnologias digitais ao longo

de suas vidas adultas, mesmo que aprendam a ser fluentes no uso da linguagem digital, eles ainda manifestam certo “sotaque” que pode ser observado no modo com que usam a mesma tecnologia e recursos digitais que os nativos em seu dia a dia.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p.47444-47453 jul. 2020. ISSN 2525-8761 Nesse sentido, Serres (2013, p. 47) afirma que “É preciso saber ouvir os estudantes”, é necessário “saber o que eles sabem [...], escutar a novidade para compreender”, a fim de contemplar o mundo onde os estudantes habitam. Uma vez percebida e assimilada essa “novidade”, pode-se adaptar o ensino e, desse modo “a relação ao saber alterou-se profundamente” (SERRES, 2013, p. 47), bem como a relação pedagógica e cognitiva.

Ao pensarmos sobre a formação docente, é preciso que esta formação inicial adquirida nas universidades, atenda as expectativas e a dinamicidade dessa geração que não consegue somente ficar parada, sentada em seus lugares, enquanto os professores discorrem assuntos apenas desenvolvendo aulas expositivas, visto que a aprendizagem desses jovens pertencentes aos nativos digitais acontece de forma interativa e baseada em suas descobertas, isto é, aprendem fazendo (MATTAR, 2010).

Diante disso, o ato de ensinar supera a simples transmissão de informações, passando para uma aprendizagem altamente social, quer seja pela participação em redes sociais, jogos em grupos, os estudantes compartilham suas descobertas e dúvidas em comunidades, de tal forma que a interação e comunicação entre os mesmos possibilitam um contexto propício para o “ensino entre pares e para a emergência de comunidades de aprendizagem” (OBLINGER, 2004, p. 03).

Entendemos a necessidade de contemplar a utilização de diversas ferramentas digitais no contexto curricular, isto é, em todas as disciplinas, com a intenção de modificar e ressignificar o processo de ensino e aprendizagem. O desafio é ainda mais amplo quando nos referimos ao ensino de matemática, nessa transitoriedade, uma vez que essa disciplina historicamente naturalizou o discurso de uma ciência difícil com linguagem abstrata e consequentemente “é para poucos”. Assim, a inserção das tecnologias nas aulas de Matemática pode modificar a dinâmica da sala de aula e também nas formas de ensinar e de aprender os conteúdos. Para tanto, faz-se necessário promover processos de formação inicial e continuada que compreendam os limites e possibilidades das tecnologias digitais na educação.

É nesse contexto que elaboramos o presente artigo, com o objetivo de compreender as concepções de graduandos do primeiro semestre do curso de Licenciatura em Matemática de uma universidade pública federal, sobre a utilização das tecnologias digitais nos contextos educativos, especialmente no que tange o ensinar matemática, a partir de discursos produzidos durante a disciplina de Tecnologias Aplicadas a Educação Matemática. A análise será realizada pelo entremear dos discursos com autores que balizam o entendimento e a compreensão dos mesmos.

2 ABORDAGEM METODOLÓGICA

Com a intenção de discutir as concepções de 16 licenciandos em Matemática, durante o primeiro semestre na disciplina de Tecnologias Aplicadas em Educação Matemática, realizamos uma

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p.47444-47453 jul. 2020. ISSN 2525-8761 atividade em que dispomos em cartões de cores distintas, três questionamentos, visando obter os entendimentos dos estudantes com relação ao uso das tecnologias (Figura 1).

Figura 1 – Cartões com perguntas

Fonte: As autoras.

De acordo com estes questionamentos, os estudantes responderam individualmente e operamos com os discursos, tornando-os corpus de estudo na elaboração deste artigo. Na apreciação dos discursos, utilizou-se o método de Análise Textual Discursiva, na perspectiva apresentada por Moraes e Galiazzi (2007). Esse método se propõe a fazer uma leitura rigorosa e aprofundada de materiais textuais, com o objetivo de descrevê-los e de interpretá-los, no intuito de atingir uma melhor compreensão dos fenômenos e dos discursos a partir dos quais foram produzidos.

A Análise Textual Discursiva2 pode ser entendida como um processo auto-organizado,

composto por um ciclo de três elementos: a unitarização, que consiste na desmontagem do texto; a categorização, em que são construídas as relações entre os elementos unitários, combinando-os e classificando-os; e a construção de um metatexto, contendo a compreensão construída a partir de uma nova combinação dos ciclos anteriores. A partir dessa análise tece-se a discussão dos dados pelo diálogo das falas dos sujeitos de pesquisa, que serão identificados por letras aleatórias do alfabeto, a fim de garantir o anonimato dos participantes, juntamente com o suporte teórico que baliza o presente estudo.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p.47444-47453 jul. 2020. ISSN 2525-8761 No processo de análise, destacamos extratos que emergiram dos discursos, tais como: o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) como potencialidade tecnológica; a importância de utilizar as tecnologias para transformar o ensino e a aprendizagem da Matemática; o uso das TIC para dinamizar a metodologia das aulas; e a presença das TIC no nosso dia-a-dia. A seguir, os excertos serão problematizados e discutidos com base nas percepções das autoras, articulados às contribuições de pesquisadores da área das tecnologias na educação.

3 CONCEPÇÕES DE LICENCIANDOS ACERCA DAS TECNOLOGIAS

As tecnologias desde tempos remotos vêm influenciando o comportamento e as relações na sociedade. Quando pensamos em tecnologias, mencionamos diretamente as digitais (telefone celular, computadores, internet, entre outros), contudo ela é muito anterior a essas que hoje fazem parte do nosso dia a dia e muitas delas são imperceptíveis, devido sua naturalização.

Muitos dos equipamentos e produtos que utilizamos em nosso cotidiano não são notados como tecnologias. Alguns invadem nosso corpo, como próteses, alimentos e medicamentos, óculos, dentaduras, comidas e bebidas industrializadas, vitaminas e outros tipos de medicamentos são produtos resultantes de sofisticadas tecnologias. “Tudo o que utilizamos na nossa vida diária, pessoal e profissional, tais como: utensílios, livros, giz e apagador, papel, canetas, lápis são formas diferenciadas de ferramentas tecnológicas” (KENSKI, 2012, p.19).

Ao questionar os estudantes sobre o(s) entendimento de tecnologias, é notável que os mesmos refiram-se às tecnologias digitais como ferramentas que surgiram para aprimorar as atividades do dia a dia. Nesse sentido, sobre as tecnologias, os licenciandos afirmam: “Maneira cada vez mais evoluídas de realizar tarefas, meios que facilitam”. (Licenciando C); “Tecnologia é uma ciência que é aplicada no desenvolvimento de melhorais para o dia a dia de nossas vidas”. (Licenciando F) e “O que consigo compreender é o que está relacionado ao nosso dia a dia nos pequenos afazeres está presente”. (Licenciando H)

Por outro lado, percebe-se uma preocupação com a dependência tecnológica advinda dessa evolução. “É um avanço que ajuda em muitas coisas, porém, todas as coisas devem ser utilizadas com moderação para não se transformarem em muletas digitais”. (Licenciando M) Essa fala vai ao encontro de uma pesquisa realizada pela Universidade Maryland, dos Estados Unidos, na qual constatou que a dependência em tecnologia é semelhante ao do uso de drogas. Ao analisar 1.000 jovens de 17 a 23 anos concluiu-se que 79% deles apresentam desconforto, confusão mental, isolamento, e até coceira, quando submetidos à restrição de eletrônicos.

Tal dependência tecnológica é destacada no contexto escolar, visto que, enquanto os estudantes possuem a destreza ao uso de ferramentas digitais e manuseio das múltiplas fontes na

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p.47444-47453 jul. 2020. ISSN 2525-8761 internet, que avançam periodicamente, os docentes ainda mostram-se resistentes à utilização desses recursos nas práticas pedagógicas. Para que as tecnologias sejam usufruídas de modo profícuo no ensino, é necessário que o professor acredite nas potencialidades das tecnologias, sejam elas digitais ou não. Segundo Stahl (2001, p. 302), “é preciso que os professores estabeleçam o quê, como, onde, por quê, e para quê ensinar, como também reflitam sobre a quem e para quem servem as tecnologias, e só então fazer uso delas, um uso consciente e responsável.”

No entanto, o que vemos nos últimos anos, quanto ao uso de tecnologias digitais para potencializar a aprendizagem no contexto escolar, é que se constituem meios diferentes de buscar e construir conhecimento, bem como, um instrumento motivacional para um número limitado de docentes e não como a efetivação de uma cultura digital imbuída à prática docente e que possibilite a participação ativa dos estudantes neste processo.

Nesse sentido, a fala do Licenciando C, demonstra a preocupação com o afastamento entre o contexto escolar e a realidade dos estudantes com relação ao manuseio diário das tecnologias digitais: “a tecnologia aproxima o conhecimento das pessoas e sem ela voltaríamos aos livros, mas perderíamos muitos conteúdos atuais que são exclusivamente digitais”. (Licenciando C). No entanto, o relato do Licenciando D descaracteriza o uso dos livros e aponta que a educação sem o uso de tecnologias digitais também não caracteriza na melhora do ensino, visto que “seria pouco diferente, porque as tecnologias são muito pouco utilizadas para educação” (Licenciando D).

A nossa tarefa enquanto professores e cidadãos do século XXI é compreender as múltiplas faces das tecnologias digitais, reconhecendo e usufruindo do seu potencial, no sentido de auxiliar no processo de ensino e aprendizagem, mas também, discernindo quando elas não são as melhores ferramentas de ensino e deixando-as de lado quando for o caso.

Esse contexto aponta a realidade em que vivemos nas salas de aula e, segundo Elorza (2012), é preciso que o professor dê novo significado a sua prática de sala de aula por meio da mediação que deve considerar três aspectos: o processo tecnológico, o processo pedagógico e o processo formativo. O primeiro refere-se às potencialidades encontradas na tecnologia que será utilizada. O processo pedagógico está relacionado à maneira que as atividades são desenvolvidas e que objetivos querem ser alcançados. Por fim, o formativo é o processo de desenvolvimento da atividade que inclui a recriação e redefinição dos procedimentos de uso dos instrumentos utilizados.

Conforme os discursos dos licenciandos “com a ajuda da tecnologia a matemática fica mais simples de se entender.” (Licenciando G) e “sem as tecnologias seria bem mais difícil estudar, não só matemática, mas qualquer outra disciplina” (Licenciando H). Entendemos que as potencialidades das tecnologias auxiliam no processo de ensino e aprendizagem, ao utilizar softwares e recursos

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p.47444-47453 jul. 2020. ISSN 2525-8761 digitais, pois quanto mais nos aproximamos do mundo real, mais facilmente entenderemos os conceitos matemáticos, oportunizando uma educação com sentido para os estudantes.

Sobre a importância das tecnologias e as relações com a Matemática, D’Ambrosio (1996), destaca que a Matemática e a tecnologia estão intimamente relacionadas e se desenvolveram ao longo da evolução da humanidade numa relação que poderíamos dizer simbiótica. A matemática e a tecnologia entendida como convergência do saber (ciência) e do fazer (técnica) são inerentes à construção de um saber associado à própria evolução da sociedade. Assim, a geração do conhecimento matemático não pode, portanto ser dissociada da tecnologia disponível.

Diante desse contexto, além de refletir a respeito da forma com que as tecnologias são inseridas e utilizadas no processo de ensinar e aprender matemática, é necessário também problematizar a inserção das TIC no processo educativo como estratégias que transcendem a informatização das salas de aula. Deve ser permeada por dois fatores que possuem a mesma importância: a disponibilização das tecnologias e a formação dos professores, visto que, grande parte destes são imigrantes tecnológicos enquanto que os alunos são nativos. Os professores precisam ter ferramentas pedagógicas para incorporar as tecnologias em suas aulas, destacando que o maior desafio não é o saber manusear tecnicamente os recursos, e sim incorporá-los de forma a transformar a aula em um momento de aprendizado.

Nesse sentido Sampaio e Leite (2004) trabalham com o conceito de alfabetização tecnológica do professor e destacam que

É necessário o professor dominar a utilização pedagógica das tecnologias, de forma que elas facilitem a aprendizagem, sejam objeto de conhecimento a ser democratizado e instrumento para a construção de conhecimento. Essa alfabetização tecnológica não pode ser compreendida apenas como o uso mecânico dos recursos tecnológicos, mas deve abranger também o domínio crítico da linguagem tecnológica. (SAMPAIO e LEITE, 1999, p. 25)

Problematizar a incorporação das tecnologias na educação matemática, junto aos licenciandos, é fundamental para superar o discurso do senso comum de que a inserção das tecnologias por si só pressupõe maior qualidade do ensino. Ratificando sobre a proeminência de trabalhar com as TIC na formação de professores, de acordo com Brasão (2011),

As aulas tradicionais já não atendem às demandas sociais e de formação do homem do século XXI. É preciso inovar, ressignificar a ação pedagógica, sobretudo no Ensino Superior, buscar novas metodologias, práticas educativas e conteúdos que atendam às necessidades atuais. (BRASÃO, 2011, p. 21)

Em concordância com a citação acima, o Licenciando C, afirma: “é importante o uso da tecnologia para o entendimento da matemática pelo motivo de variar um pouco a aula e sair daquele clássico quadro com giz”. Acreditamos ser fundamental essa troca de quadro e giz por tecnologias

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p.47444-47453 jul. 2020. ISSN 2525-8761 digitais, entretanto, entendemos que a mudança deve ser muito mais profunda e extrema. De acordo com Barco (2013), o futuro, que em partes, já começamos a viver, vai exigir habilidades além das capacidades básicas de memória, atenção e concentração, que foram suficientes para a escola do século XIX. Será preciso desenvolver competências superiores de lógica, reflexão, questionamento, argumentação, generalização, abstração e síntese. Assim, escolas, universidades e professores precisam exercer um novo papel em uma realidade radicalmente transformadora.

Sendo assim, o papel da escola é formar cidadãos para analisar criticamente o excesso de informações e mudanças, a fim de lidar com as inovações e as transformações sucessivas dos conhecimentos em todas as áreas. É compromisso buscar estratégias que potencializem processos formativos escolares e que permitam a aquisição de habilidades, atitudes e valores para que se possa viver e conviver em uma sociedade em permanente processo de transformação.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estudos e discussões sobre a utilização das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) com potencial pedagógico têm sido cada vez mais frequente e possibilitado refletir sobre a formação inicial e continuada de professores. Considerá-las no processo formativo dos docentes é fundamental, uma vez que a escola vem passando por mudanças estruturais, funcionais e pedagógicas que, por implicação, envolvem o fazer pedagógico do professor. Assim, acreditamos que a criação de espaços para planejar e vivenciar ações pedagógicas em que as tecnologias digitais estejam conectadas intentando tornar o processo educativo um espaço de coautoria coletiva, proporciona ensinar e aprender matemática como uma ciência instigadora, criativa e desafiadora.

Com base neste estudo, percebemos que, na atualidade é imprescindível abordar as tecnologias nos cursos de licenciaturas promovendo uma formação que atenda às necessidades sociais, educativas e culturais. O discurso dos licenciados convergiu para a necessidade do uso das tecnologias (principalmente digitais), remetendo à dinamização do processo de ensino e ao planejamento das aulas, bem como, possibilidade em aprender através delas.

É inegável que algumas tentativas para incluir as tecnologias nos currículos dos cursos de formação de professores (licenciaturas) esbarram em dificuldades, como a disponibilidade de equipamentos, a carência de professores formadores que estabeleçam vínculos e relações entre os conhecimentos técnicos e pedagógicos. Contudo, incluir as tecnologias nos cursos de formação requer estratégias que permitam não só ao professor integrá-las na sua prática pedagógica, mas também que ele tenha subsídios para superar entraves administrativos e pedagógicos, possibilitando, assim, a transição de um sistema fragmentado de ensino para uma abordagem integradora. Dessa

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p.47444-47453 jul. 2020. ISSN 2525-8761 forma, organizar a formação inicial e continuada requer planejar a integração da tecnologia na cultura da escola, superando os fatores que reforçam uma formação que rejeita a tecnologia.

Ao analisar os fragmentos dos licenciandos, percebemos que a nova geração de professores reconhece a necessidade de acrescentar no planejamento de suas aulas, materiais e artefatos didático-pedagógicos, sejam eles digitais ou não, que despertem o interesse dos alunos e auxiliem na construção do conhecimento. Nos excertos, os acadêmicos afirmam sobre a necessidade da preparação e apropriação dos diversos saberes e que a formação inicial precisa dar conta dessa atualização nos processos de ensino e aprendizagem, acompanhando a constante e rápida mudança da sociedade. Da mesma forma, os discursos evidenciam que as tecnologias têm potencial para que os conteúdos matemáticos sejam abordados de forma mais dinâmica, embora, seja uma disciplina com algoritmos, procedimentos e técnicas prontas e acabadas, ao utilizar as tecnologias digitais nesse processo, a matemática torna-se mais instigante, imaginativa e desafiadora aos olhos tanto dos estudantes quanto dos professores.

Contudo, não basta apenas que o professor se dê conta dessa necessidade. É substancial garantir que os currículos escolares incluam habilidades e competências para lidar com as tecnologias digitais. Pois, pelo estudo realizado nesse artigo, percebemos que a formação inicial e continuada de professores em novas tecnologias é uma forma de potencializar o trabalho do professor, ressignificando o aprendizado e as experiências vividas durante sua formação e suas vivências na sala de aula.

Há uma urgência em fazer uso das tecnologias digitais, tornando acessível a sua aplicabilidade atentando para outras configurações que vêm sendo construídas. Desse modo, é fundamental propor soluções e estratégias pedagógicas para diminuir as distâncias entre educadores, estudantes e sistemas socioeducativos. Acreditamos em uma formação inicial que permita ao futuro professor realizar uma prática pedagógica que possibilite desenvolver o pensamento criativo e reflexivo, fortalecer a autoestima das pessoas, realizando momentos de interação social almejando uma educação cidadã, tecnológica e significativa.

REFERÊNCIAS

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KENSKI, Vani. Moreira. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação. Campinas: Editora Papirus. 2012.

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SAMPAIO, Marisa Naraza & LEITE, Lígia Silva. Alfabetização tecnológica do professor. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

SERRES, Michel. Polegarzinha: uma nova forma de viver em harmonia e pensar as instituições, de ser e de saber. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: Bertrand Brasil, 2013.

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Figura 1 – Cartões com perguntas

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