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Adaptação ao stress em árbitros e impacto no burnout e no rendimento

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Academic year: 2020

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junho 2018

Marta Daniela de Almeida Rodrigues

Adaptação ao stress em árbitros e impacto

no burnout e no rendimento

Universidade do Minho

Escola de Psicologia

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junho 2018

Marta Daniela de Almeida Rodrigues

Adaptação ao

stress

em árbitros e impacto

no

burnout

e no rendimento

Dissertação de Mestrado

Mestrado Integrado em Psicologia

Trabalho efetuado sob a orientação do

Professor Doutor Rui Gomes

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Nome: Marta Daniela de Almeida Rodrigues Endereço eletrónico: martadaniela45@gmail.com Telemóvel: 931374177

Número do cartão de cidadão: 14889608

Título da dissertação: Adaptação ao stress em árbitros e impacto no burnout e no rendimento Orientação: Professor Doutor António Rui Silva Gomes

Ano de conclusão: 2018

Designação do Mestrado: Mestrado Integrado em Psicologia

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA DISSERTAÇÃO, APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE.

Universidade do Minho, 08/06/2018 Assinatura:

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Resumo... iv

Abstract... v

Adaptação ao stress em árbitros e impacto no burnout e no rendimento ... 6

Método ... 10

Participantes ... 10

Instrumentos ... 11

Procedimento ... 13

Resultados ... 13

Estatísticas Descritivas das Variáveis em Estudo... 13

Correlações entre as Variáveis em Estudo ... 15

Diferenças nas Variáveis Psicológicas ... 19

Explicação do Burnout ... 21

Explicação da Perceção de Rendimento Individual ... 23

Discussão... 25

Referências ... 29

Índice de tabelas Tabela 1. Estatísticas Descritivas das Variáveis em Estudo ... 14

Tabela 2. Correlações entre as Variáveis em Estudo ... 18

Tabela 3. Diferenças nas Variáveis Psicológicas em Função da Idade ... 20

Tabela 4. Modelos de Regressão Linear para a Predição do Burnout ... 22

Tabela 5. Modelos de Regressão Linear para a Predição da Perceção do Rendimento Individual ... 24

Índice de figuras Figura 1. Impacto das variáveis de processo no resultado da adaptação ao stress ... 10

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Agradecimentos

Primeiro, agradecer à Universidade do Minho, em especial à escola de Psicologia.

Em segundo lugar, destacar o Professor Doutor Rui Gomes. É com imensa satisfação que me orgulho de ter escolhido este tema e o professor como orientador. Vou guardar com todo o carinho todos os momentos de boa-disposição que facilitaram, sem dúvida alguma, realizar este processo sem experienciar a síndrome de burnout. Obrigada pelo conhecimento, competência, paciência,

disponibilidade e bom-humor.

Depois agradecer a todas as instituições que contribuíram para este projeto, associações de futebol de Viana do Castelo, Braga e Porto, em especial ao Sr. Presidente Costa Lima e ao Sr. Presidente Cunha Antunes, ao Dr. Belarmino Dias e, ainda a todos os árbitros que preencheram os protocolos de avaliação. Obrigada por toda a disponibilidade e recetividade.

Ao Silva, agradeço a flexibilidade, as trocas e os horários pedidos, chillis e a muita compreensão. Ao Diogo, pela paciência, pelo carinho, por estar presente como voz de incentivo e pelo apoio de todos os dias.

Aos meus amigos, aos loucos que me permitiram manter a sanidade durante este ano e durante os outros todos, e ainda (assim espero) nos que estão para vir.

Por último, agradecer à minha família. À mãe a ao pai, sem eles não teria chegado aqui e às minhas irmãs, por se tornarem umas verdadeiras flores de neve, porém, sem elas provavelmente teria chegado aqui mais rápido. E um especial obrigada, aos especiais, por estarem sempre lá quando preciso e por serem um exemplo para mim.

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Resumo

A ação de arbitrar pode ser gratificante ou desafiadora, mas também se pode tornar uma experiência associada a altos níveis de stress e burnout. Neste estudo, avaliou-se como os árbitros se adaptam às situações de stress desportivo a 24 a 48 horas antes de um jogo, analisando fontes de stress, avaliação cognitiva, emoções, burnout e perceção de rendimento individual. Participaram 394 árbitros de futebol do sexo masculino (92.6%%) e feminino (7.4%). Dos principais resultados, destaca-se que o jogo foi percecionado com pouco a moderado stress por 81.9% dos participantes e 2.1%

relataram níveis elevados de burnout. Cometer erros foi a principal fonte de stress e a fadiga física foi o principal sintoma de burnout. Árbitros mais jovens relataram níveis de stress mais elevados e níveis inferiores de burnout. Níveis elevados de burnout foram explicados por níveis elevados de stress associado à vida familiar e pessoal, confrontação e perceção de ameaça, e níveis baixos de perceção de desafio e de confronto. Uma maior perceção de rendimento, foi explicada por níveis baixos de perceção de ameaça e níveis elevados de perceção de desafio e de confronto e, inesperadamente, de stress associado à carreira desportiva.

Palavras-chave: Stress, Avaliação Cognitiva, Emoções, Burnout, Rendimento Desportivo, Modelo Transacional, Arbitragem.

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Abstract

The action of refeering can be a much rewarding or challenging one, but it can also become an experience associated with high levels of stress and burnout. In this study, the adaptation of referees to stressful sport situations was assessed 24 and 48 hours before a match, by analysing stress sources, cognitive appraisal, emotions, burnout and performance. 394 referees were involved, being 92,6% men and 7,4% women. The main results show that the match was perceived as a low to moderate stress event by 81,9% of the participants, with 2,1% reporting high levels of burnout. Making mistakes was reported to be the main source of stress, and physical fatigue as the main symptom of burnout. Younger referees mentioned higher levels of stress and lower levels of burnout. The high levels of burnout were explained by high amounts of stress related to personal and familiar life, confrontation and perception of menace, and low levels of perception of challenge and conflict. A higher perception of outcome/performance was explained by low levels of perception of menace and high levels of

perception of challenge and conflict, and also, surprisingly, with stress related to the sports career. Key words: Stress, Cognitive Appraisal, Emotion, Burnout, Performance, Transational Model, Referreeing.

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Adaptação ao stress em árbitros e impacto no burnout e no rendimento

O futebol ocupa um lugar de destaque na atualidade (Ferreira & Brandão, 2012) e, apesar de inicialmente ser considerado uma figura secundária no futebol, com o passar dos anos a relevância do árbitro também ocupou um lugar de grande destaque. Tal facto, levou a comunidade científica a investigar e a publicar trabalhos que possam fundamentar a sua importância, assim como fornecer indicações para melhorar o seu desempenho. (Silva, Rodriguez-Añez & Frómeta, 2008).

A atividade de arbitrar é altamente difícil, não só pela tarefa em si, que é complexa, mas também pela exposição a críticas e pressões por parte de adeptos, agentes desportivos e meios de comunicação social (Balch & Scott, 2007). Os erros cometidos pelos árbitros são entendidos como imperdoáveis (Silva et al., 2008), podendo estes vir a sofrer abusos verbais, ameaças ou agressões físicas (Alonso-Arbiol, Arratibel, & Gómez, 2008). Assim, esta atividade, pode ser gratificante ou desafiadora, mas também pode tornar-se uma experiência emocionalmente esgotante, atingindo altos níveis de stress e frustração (Ferreira & Brandão, 2012).

Os árbitros exercem um papel fundamental na atividade desportiva, podendo não só definir um jogo, como influenciar o resultado de todo um campeonato (Ferreira & Brandão, 2012). A arbitragem acarreta, assim, uma enorme responsabilidade. Por isso, torna-se relevante analisar como os árbitros se adaptam às situações com que se confrontam em contexto desportivo, entre elas, preocupações com o desempenho, conflitos interpessoais, pressões e lesões, apenas para referir algumas (Nicholls & Polman, 2007). Tais exigências e desafios vão influenciar o modo como os árbitros se adaptam no desporto (Tamminen, Crocker & McEwen, 2014). Para além de todas as críticas e pressões, na arbitragem o reforço positivo é escasso e a probabilidade de terminar um evento desportivo sem cometer erros é baixa (Brandão, Serpa, Rosado & Weinberg, 2014). A incapacidade para lidar com disrupções resultantes de conflitos interpessoais, conflitos relacionados com a tarefa, medo de falhar e outros fatores contextuais envolvidos na atividade de arbitrar pode levar a vários resultados, um deles, a experiência de burnout (Chang et al., 2017) e, consecutivamente, à desistência da carreira desportiva (Taylor, 1991).

O burnout, originalmente definido por Freudenberger (1974), e entendido posteriormente como um fenómeno tridimensional de Maslach e Jackson (1984) (as cited in Pedrosa & Garcia-Cueto, 2016), tem sido entendido como uma reação afetiva ao stress, ocorrendo como resultado de uma exposição prolongada a situações stressantes crónicas (Sirin & Dosyilmaz, 2017). A experiência de burnout traduz-se no decréscimo gradual de recursos energéticos intrínsecos de uma pessoa (Melamed, Shirom, Toker, Berliner, & Shapira, 2006). Este fenómeno caracteriza-se pelas dimensões exaustão

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emocional, fadiga cognitiva e fadiga física. A exaustão emocional refere-se aos sentimentos de cansaço afetivo relativo aos relacionamentos interpessoais, manifestando-se por falta de sensibilidade na relação com os outros (Shirom & Melamed, 2006). A fadiga cognitiva diz respeito aos sentimentos de desgaste cognitivo, traduzindo-se, por exemplo, na diminuição da capacidade de concentração (Shirom & Melamed, 2006). Já a fadiga física, refere-se aos sentimentos de cansaço físico, podendo exprimir-se pelo decréscimo de energia (Shirom & Melamed, 2006).

Os sintomas de burnout podem ocorrer ao nível psicossomático, psicológico e comportamental e normalmente manifestam-se a nível individual, profissional e social (Zanatta & Lucca, 2015). Porém, a experiência de burnout reflete-se também ao nível institucional (Cardoso, Baptista, Sousa & Júnior, 2017) constituindo um problema social em qualquer âmbito profissional (Pedrosa & Garcia-Cueto 2016). A nível individual, é frequente a exaustão física e emocional, a irritação, ansiedade e tristeza (Cardoso et al., 2017). O burnout também causa problemas físicos, tais como dores de cabeça e de estômago, problemas intestinais, hipertensão, contração muscular e fadiga crónica (Sirin & Dosyilmaz, 2017), assim como úlceras, insónias, e ainda abuso de álcool e medicamentos (Carlotto, 2002). Relativamente às instituições, destaca-se o elevado índice de absenteísmo, acidentes de trabalho, baixa médica, diminuição de qualidade de vida no trabalho e aumento de conflitos interpessoais (Cardoso et al., 2017).

A síndrome de burnout é, pois, um desafio social que tem recebido particular atenção na Psicologia do Desporto, principalmente devido aos efeitos negativos consequentes da sua experiência, entre os quais, a redução da motivação, diminuição do desempenho e abandono da carreira desportiva (Gustafsson, Hancock e Côté, 2014). No início, o burnout foi estudado em profissões como, por exemplo, médicos, psicólogos ou advogados, mas a partir da década de 80 passou a ser investigada no contexto desportivo (Caccese e Mayberg, 1984). Apesar dessa atenção dirigida à síndrome de burnout, os estudos em contexto desportivo são predominantemente realizados com atletas e

treinadores (Oliveira, Penna, & Pires, 2017). É dada pouca atenção ao facto de os árbitros sofrerem de stress e sintomas de burnout (Al-Haliq, Altahayneh & Oudat, 2014), sendo escassos os estudos a debruçar-se sobre esta relação (González-Ponce, Miguel, Amado, Chamorro & Pulido, 2012). Em suma, os árbitros como agentes desportivos estão propensos à experiência de burnout (Brandão, Serpa, Krebs, Araújo e Machado, 2011), o que já não pode ser considerado uma surpresa, na medida em que arbitrar não é uma tarefa fácil (Brandão, Serpa, Rosado, & Weinberg, 2014).

Neste estudo, optamos por estudar este fenómeno numa perspetiva transacional (Lazarus, 1991), colocando em conjunto a experiência de burnout com o stress experienciado pelos árbitros e os

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processos de avaliação cognitiva implicados nesta relação. Além disso, procuramos ir um pouco mais longe e analisamos a importância desta relação transacional na expectativa que os árbitros tinham do seu rendimento desportivo no próximo jogo que iriam realizar. A opção pela abordagem transacional prende-se com a importância de analisar como cada pessoa avalia e reage a um acontecimento potencialmente gerador de stress. Lazarus, em 1999, afirma que é mais relevante identificar que fatores conduzem o individuo a avaliar uma situação como stressante, do que listar e identificar todas as situações stressantes. Tal facto é facilmente compreendido quando o stress é entendido como dependente do sujeito que o experiencia. O stress é então, uma transição contínua entre exigências do ambiente e a perceção de recursos pessoais (Gomes, 2014), ou seja, a consequência da interação entre o stressor e a perceção de controlo sobre esse mesmo stressor. Em suma, o stress resulta de uma relação dinâmica, bidirecional e mutuamente recíproca entre o indivíduo e o ambiente que o rodeia (Lazarus & Folkman, 1984). No contexto do presente estudo, é possível afirmar que uma reação de stress é desencadeada quando uma atividade em contexto desportivo é percecionada como

demasiado exigente, tendo em conta os recursos pessoais que o árbitro julga possuir para lidar com essa atividade.

O modelo transacional de Lazarus e Folkman (1984) postula que um potencial evento stressante ativa uma avaliação cognitiva. Por sua vez, a avaliação cognitiva divide-se em dois processos distintos: avaliação cognitiva primária e avaliação cognitiva secundária (Lazarus, 1991). De acordo com Vilela e Gomes (2015) a avaliação cognitiva primária é responsável pela interpretação das respostas às situações e a avaliação cognitiva secundária determina as respostas que irão ocorrer face ao acontecimento stressante. Na avaliação cognitiva primária, o indivíduo interpreta a situação como ameaçadora ou desafiante, percebendo-a como potencialmente geradora de perda ou benefício, respetivamente (Vilela & Gomes, 2015). É de salientar que este tipo de avaliação só ocorre quando o acontecimento em causa é avaliado como pessoalmente significativo para o individuo (Lazarus, 1991). Na avaliação cognitiva secundária estão envolvidos os processos de coping para lidar com os eventos percebidos como geradores de stress (Vilela & Gomes, 2015). Atualmente a investigação tem sido centrada na avaliação cognitiva secundária, isto é, no confronto com as situações stressantes (Gomes, 2013), mais especificamente nas estratégias de coping que são utilizadas em tais situações (Dias, Cruz & Fonseca, 2012).

Outro aspeto a salientar, prende-se com o facto da avaliação cognitiva ativar as respostas emocionais envolvidas na adaptação ao stress (Gomes, 2014). Deci (1980) citado por Jones (2003) definiu como emoção, uma reação a um estímulo, que pode ser real ou imaginário. Lazarus (2000)

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define-a como uma reação psicológica organizada às relações contínuas com o ambiente. A avaliação cognitiva influencia a intensidade das emoções que surgem na situação de stress (Lazarus & Folkman, 1991). Emoções positivas podem ter influência positiva na adaptação antes, durante e depois de situações stressantes (Fredrickson, 1998). Avaliações de desafio tendem a estar associadas a emoções agradáveis (Nicholls, Levy, Jones, Rengamani, & Polman, 2011), tais como prazer e excitação (Lazarus & Folkman, 1984). Por outro lado, avaliações de ameaça tendem a resultar em emoções

desagradáveis (Nicholls, Perry & Calmeiro, 2014).

Considerando estes aspetos, este estudo adota uma perspetiva transacional (Lazarus, 1991), analisando o stress, a avaliação cognitiva, as emoções o burnout e a perceção de rendimento individual de uma forma integrada. A mais valia dessa abordagem é tornar possível uma perspetiva integradora das diferentes etapas da adaptação a uma situação stressante (Gomes, 2013). Na maioria dos estudos não são analisadas essas relações de forma integrada (Gomes, 2013). Mais, investigação tem utilizado, maioritariamente, uma perspetiva retrospetiva (Nicholls & Polman, 2007), enquanto que no presente estudo é utilizada uma abordagem de incidente crítico.

Primeiramente, procura-se identificar e caracterizar as variáveis envolvidas no processo de adaptação a uma situação de stress e, consequente, burnout, representado por um jogo significativo para o árbitro. Neste caso tentamos compreender o processo de adaptação enfrentado pelo árbitro, mas também analisar as relações entre as diferentes variáveis associadas a este processo de adaptação.

Em segundo lugar, procuramos perceber este fenómeno em função da idade dos árbitros. Neste caso, existem dados que evidenciam que os mais jovens jovens mostram-se menos preparados para lidar com o stress do que os mais velhos (Bebetsos & Antoniou, 2003), podendo interferir no processo de adaptação ao stress. No entanto, no contexto da arbitragem escasseiam os dados sobre este tema. Assim, pretende-se compreender de que forma a idade pode influenciar a forma como o árbitro se adapta a um evento stressante, na medida em que procuramos identificar as diferenças nas fontes de stress, avaliação cognitiva, emoções, burnout e perceção de rendimento individual em função da idade.

Por fim, analisamos a relevância das variáveis de processo, isto é, o stress, avaliação cognitiva e emoções na explicação das variáveis de resultado, neste caso, o burnout e a perceção de rendimento individual. Isto significa não só compreender que variáveis explicam alterações na perceção de rendimento individual e na experiência de burnout, mas também quais as dimensões de cada variável em que tal relação é verificada, assim como a sua direção (ver Figura 1).

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Figura 1. Impacto das variáveis de processo no resultado da adaptação ao stress. Em suma, os objetivos específicos deste estudo foram os seguintes:

1. Identificar e analisar as variáveis psicológicas mais experienciadas pelos árbitros antes de um jogo considerado importante.

2. Analisar as relações entre burnout, stress, avaliação cognitiva, emoções e perceção de rendimento.

3. Identificar diferenças ao nível das variáveis psicológicas em função da idade.

4. Observar as variáveis preditoras do burnout, mas também da perceção de rendimento individual.

Método Participantes

O presente estudo contou com uma amostra não probabilística por conveniência. Os participantes foram 394 árbitros de futebol, 29 (7.4%) do sexo feminino e 364 (92.6%) do sexo masculino e com idades compreendidas entre 17 e 48 anos (M = 26.53; DP = 7.33). Os árbitros pertenciam a diversas categorias e foram incluídos árbitros de todos os escalões, infantis (n = 8; 2.0%), iniciados (n = 34; 8.6%), juvenis (n = 53; 13.5%), juniores (n = 69; 17.5%) e séniores (n = 228; 57.9%), tanto a nível distrital (n = 323; 82.0%) como nacional (n = 64; 16.2%), profissional (n = 4; 1.0%) e

Stress Avaliação Cognitiva Emoções

Perceção de Rendimento

Burnout

Variáveis de Processo Variáveis de Resultado

Antecedente Mediadora Consequentes

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internacional (n = 1; 0.3%). Relativamente aos anos de prática de arbitragem, os valores variaram entre 0 e 30 anos (M = 6.82; DP = 5.55).

Instrumentos

Questionário demográfico. É constituído por seis itens: sexo, idade, categoria, divisão competitiva, escalão competitivo e anos de prática de arbitragem em competições oficiais.

Questionário de Stress em Árbitros – QSA (Gomes, 2017). Avalia as fontes de stress que estão associadas a situações recorrentes da atividade de arbitragem no desporto. Inclui 20 itens, divididos em cinco subescalas de stress associado à atividade de arbitragem: cometer erros (α = .89), confrontação (α = .80), estado competitivo (α = .86), carreira desportiva (α = .84), e vida familiar e pessoal (extradesportiva) (α = .81). Estas são avaliadas numa escala tipo likert de cinco pontos. Assim, valores mais elevados significam maiores níveis de stress em cada dimensão avaliada. Também este instrumento pode ser aplicado numa versão mais geral ou numa versão mais específica. Para este estudo foi utilizada a segunda opção, onde os árbitros indicam o nível de stress referente à próxima situação competitiva. A análise fatorial confirmatória demonstrou boas propriedades psicométricas do instrumento (c2(160 g.l.) = 481.106, p < .001; CMIN/DF = 3.007; RMSEA = .071, 90% C.I. [.064; .079]; CFI = .925; TLI = .911) (Bentler, 2007).

Escala de Avaliação Cognitiva – EAC (Gomes, 2008). Tem como objetivo avaliar duas dimensões: avaliação cognitiva primária e avaliação cognitiva secundária e é baseada no modelo transacional de Lazarus (1991; Lazarus & Folkman, 1984). Para avaliar a avaliação cognitiva primária são utilizadas as subescalas: perceção de importância (α = .91), perceção de ameaça (α = .85) e perceção de desafio (α = .90). Os itens denotam a importância e significado pessoal da situação em causa. Relativamente à avaliação cognitiva secundária, as subescalas utilizadas são: perceção de potencial de confronto (α = .88) e perceção de potencial de controle (α = .75). Os itens avaliam os recursos que a pessoa julga possuir para lidar com uma situação. No total, são avaliados 15 itens, três para cada subescala. Valores elevados significam scores elevados em cada uma dessas subescalas. As escalas utilizadas são tipo likert de sete pontos. É de salientar que será utilizada a versão específica, ou seja relativo ao próximo jogo. A análise fatorial confirmatória demonstrou boas propriedades

psicométricas do instrumento (c2(80 g.l.) = 206.332, p < .001; CMIN/DF = 2.58; RMSEA = .063, 90% C.I. [.053; .074]; CFI = .965; TLI = .953) (Bentler, 2007).

Questionário de Emoções no Desporto – QED (Gomes, 2008). Adaptado a partir de uma versão de Jones e colaboradores (2005), considerando igualmente os contributos de Lazarus (2000) e Hanin (2000). Este instrumento tem como objetivo avaliar os sentimentos subjetivos associados às emoções

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e procura observar e analisar respostas emocionais dos atletas a um acontecimento desportivo concreto, avaliando cinco dimensões: ansiedade (α = .88), a tristeza (α = .93), raiva (α = .91), a excitação (α = .78) e a alegria (α = .91), perfazendo uma totalidade de 22 itens. Estes itens são medidos numa escala tipo likert de cinco pontos, onde valores mais elevados significam uma maior experiência ou intensidade emocional no domínio em causa. Para além disso, é proposto, que para cada item, seja adicionado uma escala tipo likert de sete pontos (-3 = Muito negativo; 0 = Nada importante; +3 = Muito positivo), na qual o atleta avalia o possível efeito que aquela emoção pode ter na sua realização desportiva. O QED tem duas versões distintas, uma pré-competitiva e outra pós-competitiva, tendo sido utilizado neste estudo a primeira versão. A análise fatorial confirmatória demonstrou boas propriedades psicométricas do instrumento (c2(197 g.l.) = 618.742, p < .001; CMIN/DF = 3.141; RMSEA = .074, 90% C.I. [.067; .080]; CFI = .938; TLI = .928) (Bentler, 2007).

Medida de “Burnout” de Shirom-Melamed – MBSM (Gomes, 2012). Adaptada a partir dos trabalhos de Shirom e Melamed (2012) e Shirom e Melamed (2006). Este instrumento avalia os níveis de burnout (esgotamento) resultante da exposição continuada a situações de stress. Mais

especificamente, avalia três dimensões: a fadiga física (α = .90), a fadiga cognitiva (α = .94) e a exaustão emocional (α = .88). Estas estão distribuídas por 14 itens, respondidos numa escala tipo likert de sete pontos. Valores mais elevados correspondem a níveis mais elevados de fadiga física, fadiga cognitiva e exaustão emocional. Consequentemente valores mais altos nestas dimensões correspondem a valores mais altos de burnout. São sugeridos, como valores meramente indicativos, para ser considerado como sentimento de burnout, valores iguais ou superiores a cinco, na escala já mencionada. A análise fatorial confirmatória demonstrou boas propriedades psicométricas do instrumento (c2(72 g.l.) = 193.122, p < .001; CMIN/DF = 2.682; RMSEA = .065, 90% C.I. [.054; .077]; CFI = .974; TLI = .967) (Bentler, 2007).

Questionário de Perceção de Rendimento Desportivo – QPRD (Gomes, 2016). Este instrumento avalia a perceção de rendimento desportivo dos atletas, tendo sido devidamente adaptado para a atividade de arbitragem. Por exemplo, o questionário avalia os indicadores globais de perceção de rendimento desportivo ao nível individual e coletivo, porém na presente investigação serão apenas utilizados os primeiros cinco itens (α = .90), referentes à perceção de rendimento individual. Estes itens são indicados numa escala tipo likert de cinco pontos. É de salientar que valores mais elevados representam uma perceção mais elevada de sucesso com o rendimento desportivo. O presente instrumento tem uma versão retrospetiva e uma versão pré-competitiva. Só a segunda será utilizada, avaliando as expetativas dos atletas face a um acontecimento desportivo futuro. A análise fatorial

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confirmatória demonstrou boas propriedades psicométricas do instrumento (c2(2 g.l.) = 5.528, p < .001; CMIN/DF = 2.764; RMSEA = .067, 90% C.I. [.000; .137]; CFI = .997; TLI = .986) (Bentler, 2007).

Procedimento

O estudo foi inicialmente aprovado pela Comissão Ética da Universidade do Minho (SECSH 0162015). Inicialmente foram contactadas as associações de futebol de Viana do Castelo, Braga e Porto, que aceitaram colaborar com o presente estudo e ajudar naquilo que fosse possível. É de ressaltar que o presente estudo possui um design transversal e se trata de uma investigação de natureza quantitativa.

Através da colaboração das associações e dos núcleos de arbitragem os questionários foram distribuídos diretamente aos participantes. Juntamente com o questionário demográfico e com os instrumentos mencionados na secção anterior, foi entregue o consentimento informado, onde consta os objetivos e condições da presente investigação. Este foi datado e assinado e salienta-se que os participantes realizaram o estudo de modo voluntário, sendo garantido o anonimato e a

confidencialidade dos dados recebidos. O questionário foi respondido 24 a 48 horas antes do jogo e teve uma duração de aproximadamente 15 minutos. Dos 394 entregues, o mesmo número de questionários foi recebido, obtendo uma taxa de retorno de 100%.

Resultados

O tratamento e análise dos dados foi feito no programa SPSS (versão 24). De seguida serão relatados os procedimentos efetuados.

Estatísticas Descritivas das Variáveis em Estudo

Primeiro, foram analisados os níveis globais de stress que os árbitros experienciaram antes da competição realizada, identificando os fatores e fontes de stress mais prevalentes. Como se pode verificar na Tabela 1, 43.5% relatou experienciar moderado stress antes da realização do jogo que seguiu à recolha de dados. Relativamente aos fatores de stress, os valores mais elevados foram os das dimensões cometer erros e carreira desportiva, enquanto que a dimensão da confrontação foi a relatada como menos causadora de stress nos árbitros. Quanto às emoções, foram relatadas como mais relevantes para o rendimento desportivo a alegria seguida da excitação, enquanto que a raiva e a tristeza foram as relatadas como as menos relevantes. Na avaliação cognitiva, os árbitros reportaram como mais relevante para o seu rendimento o potencial de confronto, enquanto que a perceção de ameaça obteve os valares mais baixos. Ainda de salientar, nos resultados do burnout, média mais

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elevada na dimensão fadiga física e menor na exaustão emocional, tendo o mesmo sucedido nos valores percetuais calculados.

Tabela 1

Estatística Descritiva das Variáveis em Estudo

Amostra total

QSA: Nível geral de stress n (%)

Nenhum Stress 26 (10.2)

Pouco Stress 98 (38.4)

Moderado Stress 111 (43.5)

Bastante Stress 18 (7.1)

Elevado Stress 2 (0.8)

QSA: Fatores de stress M (DP)

Cometer Erros 2.17 (0.92)

Carreira Desportiva 2.02 (1.00)

Estado Competitivo 1.55 (0.99)

Vida Familiar e Pessoal 1.47 (0.94)

Confrontação 1.17 (0.74)

EAC: Avaliação cognitiva M (DP)

Potencial de Confronto 5.11 (0.73) Perceção de Controle 4.74 (0.87) Importância 4.62 (1.21) Desafio 4.53 (1.22) Ameaça 1.47 (1.28) QED: Emoções M (DP) Alegria 1.37 (1.06) Excitação 1.05 (0.91) Ansiedade .14 (0.99) Raiva .03 (1.12) Tristeza .02 (1.17) MBSM – Medida de Burnout M (DP) Fadiga Física 2.56 (1.16) Fadiga Cognitiva 2.02 (1.04) Exaustão Emocional 1.71 (0.95) n (%) Fadiga Física ≥ 5 17 (4.5) Fadiga Cognitiva ≥ 5 9 (2.4) Exaustão Emocional ≥ 5 7 (1.8) Burnout Total ≥ 5 8 (2.1) QPRD: Rendimento Desportivo M (DP) Rendimento Individual 3.89 (0.76)

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Correlações entre as Varáveis em Estudo

A partir desta fase, apenas foram incluídos na análise de dados participantes que avaliaram o jogo a realizar como minimamente significativo, uma vez que a adaptação ao stress implica que a pessoa percecione a situação como relevante para o seu bem-estar. Assim sendo, e à semelhança de estudos anteriores, estabeleceu-se como “ponto de corte” nesta dimensão da EAC, o valor igual ou inferior a dois para retirar esses participantes das análises seguintes (Gomes & Teixeira, 2013), tendo sido retirados 12 participantes. Para analisar as correlações entre as variáveis em estudo, procedeu-se ao cálculo dos coeficientes de correlação de Pearson (ver Tabela 2).

Relativamente ao QSA, foram encontradas correlações estatisticamente significativas positivas entre todas as dimensões. Isto significa que cada vez que uma das fontes de stress aumentou, todas as outras lhe seguiram o trajeto. Por exemplo, quando o stress associado a cometer erros aumentou, o stress associado ao estado competitivo, carreira desportiva, vida familiar e pessoal e confrontação também e assim sucessivamente.

Em relação à EAC, foi encontrada uma correlação estatisticamente significativa positiva entre perceção de potencial de confronto e perceção de desafio, ou seja, quando o primeiro aumenta, o segundo aumenta. Foi encontrada uma correlação estatisticamente significativa positiva entre perceção de potencial de controlo e, perceção de desafio e de potencial de confronto, isto é, quando o primeiro aumentou os seguintes seguiram o mesmo trajeto. Por fim, obteve-se uma correlação estatisticamente significativa negativa entre perceção de ameaça e de potencial de controle, o que significa que quando a primeira aumentou, a segunda diminuiu.

No que diz respeito à QED, foram encontradas correlações estatisticamente significativas positivas entre todas as emoções. Isto significa que cada vez que uma das emoções aumentou, todas as outras lhe seguiram o trajeto. Por exemplo, quando o aumento da ansiedade se verificou, a tristeza, excitação, raiva e alegria também aumentam e assim consecutivamente.

No que concerne ao burnout, foram encontradas correlações estatisticamente significativas positivas entre todas as dimensões. Isto significa que cada vez que uma das dimensões aumentou, todas as outras seguiram o mesmo caminho. Por exemplo, quando a fadiga física aumentou, as outras também aumentaram, neste caso, a fadiga cognitiva e a exaustão emocional, e assim sucessivamente.

Relativamente às relações entre as dimensões de stress e da avaliação cognitiva, foram encontradas correlações estatisticamente significativas positivas entre as dimensões de stress e perceção de ameaça, ou seja, cada vez que aumentou uma fonte de stress também aumentou a perceção de ameaça. Por outro lado, foram encontradas correlações estatisticamente significativas

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negativas todas as dimensões de stress e perceção de desafio, ou seja, cada vez que aumentou uma fonte de stress, a perceção de desafio diminuiu. Por fim, foram encontradas correlações

estatisticamente significativas negativas entre as fontes de stress: cometer erros estado competitivo e confrontação, e perceção de potencial de controlo, ou seja, cada vez que uma dessas fonte de stress aumentou, a perceção de potencial de controlo diminuiu.

No que diz respeito, às relações entre as dimensões de stress e emoções, foram encontradas correlações estatisticamente significativas negativas entre vida familiar e pessoal e confrontação, e excitação. Isto significa que quando o stress associado a essas fontes de stress aumentaram, a excitação diminuiu.

No que concerne, às relações entre as dimensões de stress e burnout, foram encontradas correlações estatisticamente significativas positivas entre as fontes de stress: estado competitivo, vida familiar e pessoal ou confrontação e todas as dimensões de burnout, ou seja, quando o stress

associado ao estado competitivo, vida familiar e pessoal ou confrontação aumentou, os valores das três dimensões de burnout também aumentaram. Também foram encontradas correlações estatisticamente significativas positivas entre carreira desportiva e fadiga física e ainda, entre cometer erros e fadiga cognitiva, ou seja, quando as primeiras aumentaram, as segundas seguiram o mesmo trajeto.

Relativamente à relação entre stress e perceção de rendimento, foram encontradas correlações estatisticamente significativas negativas entre as fontes de stress: cometer erros, estado competitivo, vida familiar e pessoal e confrontação, e a perceção de rendimento individual. Isto significa que quando o stress associado a essas fontes de stress aumentaram, a perceção de rendimento individual

diminuiu.

No que diz respeito, às relações entre as dimensões de avaliação cognitiva e emoções, foram encontradas correlações estatisticamente significativas positivas entre as dimensões de avaliação: perceção de desafio, potencial de controlo e de confronto, e a excitação e alegria. Isto significa que quando as uma das dimensões de avaliação cognitiva aumentou, a excitação aumentou e alegria também. Por outro lado, foram encontradas correlações estatisticamente significativas negativas entre a perceção de ameaça, e a excitação e alegria. Isto significa que quando a perceção de ameaça aumentou, tanta a excitação como a alegria diminuíram.

Relativamente às relações entre as dimensões de avaliação cognitiva e burnout, foram encontradas correlações estatisticamente significativas positivas a perceção de ameaça e todas as dimensões de burnout, ou seja, quando a perceção de ameaça aumentou, os valores das três dimensões de burnout também aumentaram. Por outro lado, foram encontradas correlações

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estatisticamente significativas negativas entre a perceção de desafio e a perceção de potencial de controlo, da avaliação cognitiva, e todas as dimensões de burnout, ou seja, quando a perceção de desafio ou a perceção de potencial de controlo aumentaram, os valores das três dimensões de burnout diminuíram. Por fim, foram encontradas correlações estatisticamente significativas negativas entre a perceção de desafio, a perceção de potencial de controlo e a perceção de potencial de confronto, da avaliação cognitiva, e fadiga cognitiva e exaustão emocional, ou seja, quando a perceção de desafio, a perceção de potencial de controlo ou a de confronto aumentaram, a fadiga física e a exaustão

emocional diminuíram.

Relativamente às relações entre as dimensões de avaliação cognitiva e rendimento, foram encontradas correlações estatisticamente significativas positivas entre a perceção de desafio, a perceção de potencial de controlo e a perceção de potencial de confronto, dimensões da avaliação cognitiva, e a perceção de rendimento. Isto significa que quando as primeiras perceções mencionadas aumentaram, a perceção de rendimento individual também aumentou. Por outro lado, foi encontrada uma correlação estatisticamente significativa negativa entre a perceção de ameaça e o rendimento, isto é, quando a perceção de ameaça aumentou a perceção de rendimento diminuiu.

No que diz respeito às relações entre as emoções e as dimensões de burnout, foram

encontradas correlações estatisticamente significativas negativas entre excitação e alegria, e todas as dimensões de burnout. Isto significa que quando a excitação ou a alegria aumentam, as dimensões do burnout diminuíram.

No que diz respeito às relações entre as emoções e a perceção de rendimento individual foram encontradas correlações estatisticamente significativas positivas todas as emoções e a perceção de rendimento. Isto significa que cada vez que uma das emoções aumentou, a perceção de rendimento também aumentou.

No que diz respeito às relações entre as dimensões de burnout e a perceção de rendimento individual foram encontradas correlações estatisticamente significativas negativas entre todas as dimensões de burnout e a perceção de rendimento. Isto significa que cada vez que a fadiga física, fadiga cognitiva ou exaustão emocional aumentaram, a perceção de rendimento diminuiu.

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Tabela 2.

Correlações entre as Variáveis em Estudo

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

QSA

1. Cometer Erros

--2. Carreira Desportiva ,711**

--3. Estado Competitivo ,604** ,557**

--4. Vida Familiar e Pessoal ,396** ,430** ,569**

--5. Confrontação ,507** ,430** ,497** ,477** --EAC 6. Perceção de Ameaça ,203** ,187** ,202** ,277** ,307** --7. Perceção de Desafio 0,047 -0,012 0,039 -0,101 -0,082 -0,073 --8. Potencial de Confronto -,250** -,127* -,230** -,118* -,286** -0,321 ,198** --9. Potencial de Controle -,107* -0,042 -,128* -0,029 -,189** -,136* ,233** ,420** --QED 10. Ansiedade -0,070 -0,056 -0,056 -0,020 -0,029 -0,052 0,069 0,048 0,104 --11. Tristeza -0,039 -0,053 -0,084 -0,091 -0,071 -0,113 0,110 0,062 0,058 ,726** --12. Excitação -0,004 0,012 -0,100 -,188** -,155** -,221** ,396** ,155* ,194** ,314** ,255** --13. Raiva -0,038 -0,060 -0,083 -0,094 -0,071 -0,080 0,102 0,046 0,057 ,738** ,914** ,260** --14. Alegria 0,048 0,082 -0,055 -0,064 -0,106 -,162** ,421** ,120* ,145** ,190** ,183** ,745** ,195** --MBSM 15. Fadiga Física 0,080 ,165** ,151** ,266** ,257** ,187** -,208** -0,091 -,106* 0,075 0,021 -,182** 0,027 -,244** --16. Fadiga Cognitiva ,129* 0,105 ,222** ,308** ,332** ,264** -,188** -,233** -,155** 0,003 -0,035 -,241** -0,009 -,264** ,641** --17. Exaustão Emocional 0,028 0,086 ,178** ,225** ,261** ,388** -,129* -,171** -,133* 0,046 -0,008 -,187** -0,005 -,279** ,531** ,680** --QPRD 18. Perceção de Rendimento Individual -,142 ** -0,034 -,144** -,163** -,189** -,174** ,228** ,406** ,265** ,142* ,117* ,196** ,150** ,210** -,173** -,257** -,196** --*p < .05; *--*p < .01

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Diferenças nas variáveis psicológicas

Nesta etapa analisaram-se as diferenças nas variáveis em estudo em função da idade (ver Tabela 3). Assim, a partir da análise da mediana da distribuição dos resultados na idade, foram definidos dois grupos de comparação. Em concreto, consideraram-se como Mais Novos, os árbitros com idade igual ou superior a 25, e como Mais Velhos, os árbitros com mais de 25 anos.

Relativamente aos resultados com diferenças estatisticamente significativas, os árbitros mais novos apresentaram valores mais elevados de stress associados às dimensões cometer erros e carreira desportiva. Por sua vez os árbitros mais velhos demonstraram uma maior perceção tanto de confronto como de controle, mais excitação e ainda valores mais elevados na dimensão de burnout, fadiga física.

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Tabela 3

Diferenças nas Variáveis Psicológicas em Função da Idade

Mais Novos

M (DP) (n)

Mais Velhos

M (DP) (n)

g.l F p

QSA: Fatores de Stress

Cometer Erros 2.31 (0.95) (177) 2.06 (0.87) (147) 1, 322 6.25 .013 Carreira Desportiva 2.18 (0.94) (177) 1.90 (1.04) (147) 1, 322 6.32 .012 Estado Competitivo 1.63 (0.99) (177) 1.52 (1.02) (147) 1, 322 1.05 .306 Vida Familiar e Pessoal 1.46 (0.92) (177) 1.51 (0.97) (147) 1, 322 0.23 .629 Confrontação 1.15 (0.75) (177) 1.20 (0.71) (147) 1, 322 0.32 .574 EAC: Avaliação cognitiva

Potencial de confronto 4.97 (0.65) (181) 5.26 (0.71) (160) 1, 339 14.97 .000 Perceção de controle 4.67 (0.81) (181) 4.85 (0.80) (160) 1, 339 4.09 .044 Desafio 4.58 (1.13) (181) 4.62 (1.10) (160) 1, 339 0.11 .738 Ameaça 1.47 (1.20) (181) 1.49 (1.35) (160) 1, 339 0.02 .876 QED: Emoções Alegria 1.34 (1.01) (158) 1.36 (1.11) (117) 1, 273 0.03 .858 Excitação 0.93 (0.84) (158) 1.19 (1.00) (117) 1, 273 5.57 .019 Ansiedade 0.12 (0.92) (158) 0.17 (1.10) (117) 1, 273 0.17 .677 Raiva 0.06 (1.06) (158) -0.03 (1.20) (117) 1, 273 0.45 .505 Tristeza 0.03 (1.15) (158) -0.05 (1.26) (117) 1, 273 0.29 .591 MBSM: Medida de Burnout Fadiga Física 2.41 (1.17) (192) 2.69 (1.12) (171) 1, 361 5.53 .019 Fadiga Cognitiva 1.93 (1.09) (192) 2.12 (0.98) (171) 1, 361 2.92 .088 Exaustão Emocional 1.65 (0.92) (192) 1.81 (0.99) (171) 1, 361 2.46 .118 QPRD: Perceção de rendimento Individual 3.94 (0.75) (198) 3.87 (0.74) (169) 1, 365 0.88 .349

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Explicação do Burnout

Nesta etapa analisamos as variáveis que explicam a experiência de burnout dos árbitros. Para tal foi efetuada uma análise de regressão hierárquica (método “enter”).

À semelhança da análise da predição da perceção de rendimento individual, foram definidos quatro blocos, sendo que no primeiro foram inseridas as dimensões de stress, no segundo

acrescentaram-se as dimensões de avaliação cognitiva primária, no terceiro as dimensões de avaliação cognitiva secundária e no quarto bloco acrescentaram-se as dimensões das emoções (ver Tabela 4).

No bloco 1 foram introduzidas as dimensões de stress, sendo que o stress associado à vida familiar e pessoal e à confrontação surgiu como preditor do burnout com o modelo a explicar 14% da variância. Isto significa que o burnout foi explicado por maiores níveis de stress associados tanto à vida familiar e pessoal como à confrontação.

No bloco 2 foram introduzidas as dimensões de avaliação cognitiva primária, sendo que a perceção de ameaça e a perceção de desafio apareceram como preditoras do burnout, com o modelo a explicar 18% da variância. O burnout foi explicado por menores níveis de perceção de desafio e maiores níveis de perceção de ameaça.

No bloco 3 foram introduzidas as variáveis de avaliação cognitiva secundária, sendo que o potencial de confronto se revelou preditor do burnout, com o modelo a explicar 20% da variância. Neste caso, o burnout foi explicado por uma avaliação de menor potencial de confronto.

No bloco 4 foram introduzidas as emoções, sendo que a alegria e a raiva surgiram como preditoras do burnout, com o modelo a explicar 24% da variância. O burnout foi explicado por menores níveis de alegria e maiores níveis de raiva.

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Tabela 4

Modelos de Regressão Linear para a Predição do Burnout

R2 (R2 Aj.) ∆R2 ∆F F  t IT VIF

Bloco 1 .17 (.14) .15 7.45** (8, 209)

5.37**

QSA: Cometer Erros -.18 -1.86 .409 2.445

QSA: Carreira

Desportiva .05 0.54 .453 2.210

QSA: Estado

Competitivo .07 0.47 .486 2.059

QSA: Vida Familiar e

Pessoal .22 2.80** .637 1.570 QSA: Confrontação .25 3.20** .643 1.555 Bloco 2 .21 (.18) .04 5.59** (10, 207) 5.61** EAC: Ameaça .14 2.11* .889 1.125 EAC: Desafio -.16 -2.43* .885 1.130 Bloco 3 .24 (.20) .03 3.69* (12, 205) 5.41** EAC: Potencial de confronto -.17 -2.24* .647 1.544 EAC: Perceção de controle -.06 -0.81 .797 1.254 Bloco 4 .30 (.24) .06 3.42** (17, 200) 5.05** QED: Ansiedade -.04 -0.35 .359 2.784 QED: Tristeza -.17 -1.16 .164 6.113 QED: Excitação .04 0.40 .367 2.728 QED: Raiva .34 2.16* .144 6.967 QED: Alegria -.26 -2.75** .380 2.633 *p<.05; **p<.01

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Explicação da Perceção de Rendimento Individual

Nesta etapa analisamos as variáveis que explicam a perceção de rendimento individual dos árbitros antes de um jogo. Para tal foi efetuada uma análise de regressão hierárquica (método “enter”).

Foram definidos quatro blocos, sendo que no primeiro foram inseridas as dimensões de stress, no segundo acrescentaram-se as dimensões de avaliação cognitiva primária, no terceiro as dimensões de avaliação cognitiva secundária e no quarto bloco acrescentaram-se as emoções (ver tabela 5).

No bloco 1 foram introduzidas as dimensões de stress, sendo que a carreira desportiva apareceu como preditora da perceção de rendimento individual, com o modelo a explicar 6% da variância. Isto significa que a perceção de rendimento individual foi explicada por maiores níveis de stress associados à carreira desportiva.

No bloco 2 foram introduzidas as dimensões de avaliação cognitiva primária, sendo que a perceção de ameaça e a perceção de desafio apareceram como preditoras da perceção de rendimento individual, com o modelo a explicar 16% da variância. A perceção de rendimento individual foi explicada por maiores níveis de perceção de desafio e menores níveis de perceção de ameaça.

No bloco 3 foram introduzidas as variáveis de avaliação cognitiva secundária, sendo que o potencial de confronto se revelou preditor da perceção de rendimento individual, na medida em que o modelo explica 29% da variância. Neste caso, a perceção de rendimento individual foi explicada por uma avaliação de maior perceção de potencial de confronto.

No bloco 4 foram introduzidas as emoções, sendo que nenhuma emoção se revelou preditora da perceção de rendimento individual.

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Tabela 5

Modelos de Regressão Linear para a Predição da Perceção do Rendimento Individual

R2 (R2 Aj.) ∆R2 ∆F F  t IT VIF

Bloco 1 .09 (.06) .07 3.36** (5, 211)

2.65**

QSA: Cometer Erros -.15 -1.46 .410 2.441

QSA: Carreira

Desportiva .27 2.71** .450 2.221

QSA: Estado

Competitivo -.15 -1.55 .494 2.024

QSA: Vida Familiar e

Pessoal -.07 -0.81 .639 1.566 QSA: Confrontação -.11 -1.38 .632 1.583 Bloco 2 .20 (.16) .11 13.64** (2, 209) 5.10** EAC: Ameaça -.18 -2.69** .882 1.134 EAC: Desafio .28 4.32** .899 1.112 Bloco 3 .32 (.29) .13 19.64** (2, 207) 8.28** EAC: Potencial de confronto .39 5.44** .639 1.565 EAC: Perceção de controle .08 1.28 .793 1.260 Bloco 4 .34 (.29) .02 1.00 (5, 202) 6.14** QED: Ansiedade .16 1.66 .366 2.729 QED: Tristeza -.09 -0.62 .154 6.496 QED: Excitação .04 0.43 .358 2.790 QED: Raiva .00 0.00 .135 7.411 QED: Alegria .01 0.13 .370 2.704 *p<.05; **p<.01

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Discussão

O principal objetivo do presente estudo foi analisar a forma como os árbitros experienciam e se adaptam a uma situação de stress. Para tal, concebeu-se uma relação transacional entre as fontes de stress, que ativam a avaliação cognitiva e despoletam um conjunto de emoções. Este processo pode resultar em diferenças na perceção de rendimento e na experiência de burnout de um árbitro de futebol. A inclusão dos processos psicológicos que indicam o que acontece desde o inicio da situação de stress até às suas consequências é a grande vantagem dessa abordagem (Gomes, 2013).

Antes de iniciar a análise dos objetivos propostos, examinaram-se as estruturas fatoriais dos instrumentos utilizados. As análises fatoriais e os índices de fidelidade dos instrumentos revelaram que as medidas usadas neste estudo podem ser relevantes para investigar os processos de adaptação ao stress em árbitros de futebol.

Quanto ao modo como os árbitros se sentiram antes da realização do jogo, é de ressaltar que 81.9% dos árbitros relataram níveis de stress entre pouco stress e moderado stress. Tais resultados corroboram o que foi encontrado em alguns estudos (Gencay, 2009; Rainey, 1994; Rainey & Hardy, 1997; Rainey & Winterich, 1995; Stewart, Ellery, Ellery & Maher, 2004). É de salientar que cometer erros foi a dimensão com níveis mais elevados de stress, sendo que um estudo de Gustafsson, Sagar, e Stenling em 2017, também demonstrou que o medo de cometer erros pode ter implicações na adaptação desportiva. Uma possível explicação, prende-se com o facto de as decisões do árbitro poderem definir o resultado de um jogo e até de uma competição ou campeonato (Ferreira & Brandão, 2012) e os erros cometidos serem entendidos com imperdoáveis (Silva et al., 2008). No que diz respeito ao burnout, apenas 2.1% dos árbitros questionados relataram uma experiência de burnout total, elevada. Esses resultados apontam para a existência de uma adaptação positiva ao stress, resultados semelhantes também foram encontrados noutros estudos (Al-Haliq et al., 2014; Oliveira et al., 2017; Pedrosa & Garcia-Cueto., 2015). Apesar da presença de fontes de stress, os árbitros parecem não percecionar o stress em geral como elevado, sendo capazes de manter um equilíbrio entre esse stress e a recuperação, na medida em que poucas vezes os sintomas de burnout são manifestados.

No que diz respeito ao segundo objetivo, as relações entre variáveis, foram encontradas inúmeras correlações significativas, resolvendo-se destacar as correlações entre as variáveis de processo e as variáveis de resultado. Para relembrar, o stress, a avaliação cognitiva e as emoções são variáveis de processo enquanto que o burnout e a perceção de rendimento são as variáveis de

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maior parte das dimensões do stress, o que vem ao encontro da literatura existente (Al-Haliq et al, 2014; Brandão et al, 2011). Também foram verificadas relações entre as dimensões de burnout e a avaliação cognitiva, no sentido de que a perceção de ameaça se correlacionou positivamente com o burnout e avaliações de desafio com níveis inferiores, tal como no estudo de Vilela e Gomes, 2015. Destaca-se assim, a importância da avaliação cognitiva no processo entre o stress e as suas

consequências (Cremades et al., 2011; Vilela & Gomes, 2015). O burnout também se correlacionou negativamente com emoções positivas, espelhando os resultados observados na literatura (Fredrickson, 1998; Gomes, 2014; Nicholls et al, 2014). Assim, as emoções também têm um papel fulcral na recuperação do stress. Quanto à perceção de rendimento, os principais resultados foram as relações positivas entre a perceção de rendimento individual e a maior parte das dimensões do stress, salientando as consequências negativas do stress na experiência de arbitragem. Também foram verificadas relações entre a perceção de rendimento e a avaliação cognitiva, no sentido de que a perceção de ameaça se correlacionou com níveis inferiores de perceção de rendimento e a perceção de desafio, confronto e controle, com níveis superiores, como esperado.

No que concerne às diferenças de idade na adaptação a uma situação stressante, verificou-se que os árbitros mais novos apresentaram valores mais elevados de stress associados às dimensões cometer erros e carreira desportiva. Por sua vez, os árbitros mais velhos demonstraram uma maior capacidade de se confrontar e controlar as fontes de stress na sua atividade. Uma possível explicação para estes resultados prende-se com a possibilidade do passar dos anos aumentar a capacidade dos árbitros mais velhos para lidar com situações de stress (Al-Haliq et al., 2014). Tais diferenças foram corroboradas pela revisão literária efetuada, pois alguns estudos demonstram que à medida que se vão tornando mais velhos percecionam menos experiências de stress (Al-Haliq et al., 2014; Bebetsos & Antoniou, 2003). Outra explicação possível é o facto dos mais novos criarem mais expetativas associadas à arbitragem, sentindo níveis de pressão mais elevados (Al-Haliq et al., 2014).

Contrariamente ao que se sucedeu com o stress, o valor da dimensão fadiga física, da escala de burnout, foi mais elevado nos árbitros mais velhos. Alguns estudos demonstram que árbitros jovens tendem a experienciar níveis mais elevados de burnout, seguindo o trajeto do stress (Al-Haliq et al., 2014, Kruger, Strydom, Ellis, & Emekci, 2012; Karademir, 2012). Porém, no presente estudo, tal como na investigação de Oliveira et al, 2017, esse resultado não é verificado. No nosso caso, os árbitros mais velhos tendem a descrever mais sintomas de cansaço físico, fadiga e falta de força, do que os seus colegas mais novos. Assim os resultados obtidos podem dever-se ao decréscimo energético que se verifica geralmente, em pessoas mais velhas comparativamente com pessoas mais novas.

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Relativamente ao último objetivo deste estudo, os modelos de regressão demonstraram resultados de salientar. No que se refere ao burnout, níveis mais elevados de stress associados à vida familiar e desportiva e à confrontação, estiverem relacionados como uma maior propensão para o burnout. Isto pode-se explicar pelo facto de uma das consequências da exposição ao stress ser precisamente a experiência de burnout (Sirin & Dosyilmaz, 2017; Vilela & Gomes, 2015). Também a avaliação cognitiva teve um papel importante na explicação do burnout, sendo que níveis mais elevados de burnout foram explicados por uma maior perceção de ameaça e menor perceção de desafio e potencial de confronto. Assim, os resultados obtidos no presente estudo retratam dados da literatura atual, evidenciando o importante papel da avaliação cognitiva na compreensão do burnout (Cremades et al., 2011; Vilela & Gomes, 2015). A avaliação cognitiva tem assim um papel fulcral na adaptação ao stress (Gomes, 2013, 2014; Lazarus, 1999; Lazarus & Folkman, 1984; Nicholls et al., 2014; Vilela & Gomes, 2015).

No que concerne, à explicação da perceção de rendimento individual, níveis mais elevados de stress associadas à carreira desportiva relacionaram-se com maior perceção de rendimento. Esses dados são inesperados face à literatura existente. Tratando-se apenas de uma hipótese, e carecendo de esclarecimento futuro, uma explicação possível pode estar associada ao facto dos árbitros

percecionarem maior stress quanto à sua carreira desportiva como um indicador da maior

possibilidade de terem maior rendimento no jogo que iriam disputar. A avaliação cognitiva também teve um papel importante na explicação da perceção de rendimento individual. Uma maior perceção de desafio e potencial de confronto foram preditores de uma maior perceção de rendimento. Enquanto que níveis elevados na perceção de ameaça foram preditores de níveis mais baixos na perceção de rendimento individual. Neste caso, os resultados obtidos no presente estudo também retratam os resultados da literatura atual, evidenciando o importante papel da avaliação cognitiva.

Em suma, foram encontrados resultados relevantes na explicação do burnout e na perceção de rendimento individual, assim como no processo de adaptação ao stress em geral. Não obstante, é necessário continuar a analisar as dimensões das variáveis estudadas, em vez de índices globais, pois não se verificou um padrão uniforme de resultados. É de ressaltar, ainda, o papel da avaliação

cognitiva na adaptação ao stress, tornando-se essencial considerar este aspeto no momento de intervir junto destes agentes desportivos.

A presente investigação contou com algumas limitações, como a dificuldade em generalizar a amostra. Apesar de um número razoável de árbitros terem participado no estudo, pertencem todos à mesma localização geográfica e a maioria arbitra a nível distrital e não profissional. Também a relação

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entre sexo masculino e feminino, é bastante discrepante. Outra limitação inerente, é tratar-se de um estudo transversal, impossibilitando as relações causa-efeito entre as variáveis estudadas. Futuras investigações podem optar por uma abordagem longitudinal, por exemplo, observando o stress jogo a jogo ou comparando a adaptação ao stress durante a época desportiva e fora da época desportiva, como sugerido por Gencay (2009).

Na medida, em que a avaliação cognitiva se destacou no processo de adaptação ao stress e dado que as indicações de Lazarus e Folkman (1984) postulam que à medida que a situação stressante se aproxima, a avaliação cognitiva se torna mais intensa, seria interessante verificar se existem diferenças na avaliação cognitiva, consoante o espaço temporal entre essa avaliação e a situação stressante. O questionário utilizado na presente investigação foi passado 24 a 48 horas antes de um jogo, controlando o número concreto de horas entre a avaliação e o incidente crítico, tornar-se-ia possível proceder à análise sugerida.

Por último, após uma reflexão sobre todas as variáveis investigadas, surgiram algumas ideias que podem ser utilizadas mais tarde. Apesar das emoções não se terem destacado na explicação das variáveis de resultado, burnout e perceção de rendimento, elas são essenciais no estudo da adaptação ao stress, pois o stress implica uma emoção (Lazarus, 1991; Lazarus & Cohen-Charash, 2001; Lazarus e Folkman, 1984). Assim, seria interessante analisar as emoções não só a nível cognitivo, como físico e fisiológico, para um entendimento integral da influência desta variável. Foi estudada a perceção de rendimento individual, porém a perceção de rendimento coletiva também seria uma variável relevante, na medida em que a arbitragem no futebol é efetuada em equipa. Essas duas variáveis podem manifestar até relações entre si. Nesse seguimento, também pode ser efetuada uma análise comparativa entre árbitros principais e árbitros assistentes, dadas as diferenças de

responsabilidades e consequente diferença na exposição a pressões a que estão sujeitos. Apesar das limitações discutidas e das sugestões propostas, o presente estudo fornece

contribuições para o conhecimento do modo como os árbitros lidam com a sua atividade e se adaptam ao stress e burnout que podem experienciar.

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Figura 1. Impacto das variáveis de processo no resultado da adaptação ao stress.

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