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André Amorim Alencar A MACRODINÂMICA DO CRESCIMENTO COM DESEMPREGO ESTRUTURAL: DETERMINANDO A DISTRIBUIÇÃO DA RENDA NA TRAJETÓRIA DO EQUILÍBRIO

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Academic year: 2019

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Texto

(1)

m m

í h I

1

U N I V E R S I D A D E D E B R A S Í L I A D E P A R T A M E N T O D E E C O N O M I A

P R O G R A M A D E P Ó S - G R A D U A Ç Ã O E M E C O N O M I A M E S T R A D O A C A D Ê M I C O

A n d ré A m o rim A le n c a r

A M A C R O D I N Â M I C A D O C R E S C I M E N T O C O M D E S E M P R E G O E S T R U T U R A L : D E T E R M I N A N D O A D I S T R I B U I Ç Ã O D A R E N D A N A

T R A J E T Ó R I A D O E Q U I L Í B R I O

D is s e rta ç ã o d e M e s tra d o

B ra s í lia - D F

(2)

U n iv e rs id a d e d e B ra s í lia

D e p a rta m e n to d e E c o n o m ia

A n d ré A m o rim A le n c a r

A M a c ro d in â m ic a d o C re s c im e n to co m D e s e m p re g o E s tru tu ra l: D e te rm in a n d o

a D is trib u iç ã o da R e n d a na T ra je tó ria d o E q u ilíb rio

D is s e rta ç ã o a p re s e n ta d a a o c u rs o d e

M e s tra d o A c a d ê m ic o e m C iê n c ia s

E c o n ô m ic a s d a U n iv e rs id a d e d e B ra sília ,

c o m o p a rte d o s re q u is ito s p a ra o b te n ç ã o

d o títu lo d e M e stre .

O rie n ta d o r: P rof. J o a n ílio R o d o lp h o T e ix e ira

(3)

A le n c a r, A n d ré A m o rim

A M a c ro d in â m ic a d o C re s c im e n to c o m D e s e m p re g o E s tru tu ra l: D e te rm in a n d o a

D is trib u iç ã o d a R e n d a na T ra je tó ria d o E q u ilíb rio \ A n d ré A m o rim A le n c a r. - B ra s ília ,

C iê n c ia s E c o n ô m ic a s /U N B , 2 0 0 8 .

D is s e rta ç ã o d e M e s tra d o - U n iv e rs id a d e d e B ra s ília , D e p a rta m e n to d e E c o n o m ia .

1. M a c ro d in â m ic a d o c re s c im e n to ; 3 . D e s e n v o lv im e n to ; 2 .T e o ria s d o c re s c im e n to

e c o n ô m ic o ; 3 . T ra je tó ria d o e q u ilíb rio .

Departam ento de Econom ia Brasil ia-DF

(4)

“ ... as idéias dos econom istas e dos filósofos políticos, estejam elas certas ou erradas, têm mais im portância do que geralm ente se percebe. D e fato, o m undo é governado por pouco mais do que isso. Os hom ens objetivos que se julgam livres de qualquer influência intelectual são, em geral, escravos de algum econom ista defunto. Os insensatos, que ocupam posições de autoridade, que ouvem vozes no ar, destilam seus arrebatam entos inspirados em algum escriba acadêmico de certos anos atrás. Estou convencido de que a força dos interesses escusos se exagera muito em com paração com a firme penetração das idéias. É natural que elas não atuem de m aneira imediata, mas só depois de certo intervalo; isso porque, no domínio da filosofia econôm ica e política, raros são os homens de vinte e cinco ou trinta anos que são influenciados por novas teorias, de modo que as idéias que os funcionários públicos, os políticos ou mesm o os agitadores aplicam aos acontecimentos atuais têm pouca probabilidade de serem as mais recentes. Porém, cedo ou tarde, são as idéias, e não os interesses escusos, que representam um perigo, seja para o bem ou para o mal”

John M aynard Keynes, 1935

(Traduzido em Teoria geral do emprego, do juro e do dinheiro. - Inflação e deflação. Abril Cultural, Coleção os Econom istas, São

(5)

Agradeço ao meu orientador Joanílio Teixeira, pelo apoio, pelas longas a agradáveis conversas e principalm ente pela liberdade que me concedeu neste projeto.

Agradeço aos Professores Cláudio Ham ilton dos Santos e Ricardo Araújo pela colaboração e conselhos.

(6)

R E S U M O

O presente esforço consiste fundam entalm ente num a tentativa de determ inar a trajetória do equilíbrio com crescimento, por m eio de um arcabouço teórico que não seja restrito ao cenário de pleno emprego da força de trabalho. Para esta tarefa partim os do modelo de crescimento de FePDm an, que pressupõe desemprego da m ão-de-obra disponível e a existência de dois setores, e seguimos incorporando condições de mercado nesta abordagem. Estas condições foram estabelecidas através da função de poupança diferencial por classe social do cham ado Processo Kaldor-Pasinetti. Com essa estratégia conseguimos estabelecer como o mercado equilibrado determ inaria a alocação do investimento entre os setores de bens de consumo e bens de investimento, variável que é chave no modelo de F el’Dman. A partir deste resultado determ inam os a taxa de lucro de equilíbrio e a taxa de crescimento da econom ia numa trajetória com desemprego. Estas proposições foram generalizadas ao longo da dissertação com a incorporação de pressupostos mais abrangentes de poupança, bem como com a introdução do governo. Por fim, estabelecem os quais as condições necessárias para que um a econom ia com desemprego atinja o pleno em prego da força de trabalho e vice-versa.

P a l a v r a s - c h a v e : M a c r o d i n â m i c a d o c r e s c i m e n t o ; D e s e n v o l v i m e n t o ; T e o r i a s d o c r e s c i m e n t o e c o n ô m i c o ;

T r a j e t ó r i a d o E q u i l í b r i o .

(7)

ABSTRAT

The present effort consists fundam entally in an attempt o f determ ining the growth equilibrium path in a context o f unem ploym ent in labor-force. For this task we start with FePD m an’s growth model, which presupposes unem ploym ent o f the labor force and the existence o f two sections, and following by the incorporation o f m arket conditions in this approach. These conditions were established through a differential saving function by social class, o f the called Kaldor-Pasinetti Process. W ith that strategy we showed how the allocation o f the investm ent am ong the consumption section and investment section (Fel'D m an's m ain variable) is established in a market equilibrium. From this result we determined the equilibrium profit tax and the econom ic growth tax in an unem ploym ent path. Following along the dissertation we generalized those results by introducing less restricted save functions and government. Finally, we established the necessary conditions for an econom y with unem ploym ent reaches the full employment and vice versa.

(8)

ÍNDICE

Introdução... 1

0 Processo Kaldor-Pasinetti em P erspectiva... 9

A Trajetória do Equilíbrio com C rescim ento...26

3 .1 C a s o C lá s s ic o E x tr e m o d e P o u p a n ç a...30

3 .2 C a s o C lá s s ic o M o d e r a d o...39

3 .3 R e g im e P a s in e tti a n o d e P o u p a n ç a... 42

3 .4 R e s t r i ç õ e s a o s V a lo r e s d e s c e s w...50

Introduzindo o G o v ern o ... 52

4 .1 C a s o C lá s s ic o E x tr e m o c o m G o v e r n o...53

4 .2 C a s o C lá s s ic o G e r a l c o m G o v e r n o... 60

Uma Ilustração N um érica e o Em prego da Força de T rabalho...63

5 .1. I n tr o d u z in d o p r e ç o s... 63

5 .2 O p e r a ç ã o d o M o d e l o...68

5 .3 O E m p r e g o d a F o r ç a d e T r a b a lh o... 76

C onclusão... 80

(9)

C A P Í T U L O 1

I N T R O D U Ç Ã O

0 presente esforço consiste fundam entalm ente num a tentativa de determ inar a trajetória do equilíbrio com crescim ento (TEC), por meio de um arcabouço teórico que não seja restrito ao cenário de pleno

emprego da força de trabalho. Com isso, buscam os um a forma de adequar algumas abordagens

algébricas do crescim ento econôm ico elaboradas no pós-guerra, principalm ente aquelas que se

seguiram aos trabalhos de H arro d (l939,1948) e de Domar( 1946,1947), com a finalidade de interpretar

o processo de acum ulação em sistemas de produção que operam com desemprego estrutural da força de

trabalho1. Tal adequação é proposta porque aqueles modelos da segunda metade do século passado

emergiram sobre o pressuposto do pleno emprego deste fator.

As interpretações de sistem as em desenvolvim ento2 vêm sendo propostas, desde aquela época, num a

direção totalm ente distinta do cam inho adotado pela teoria econôm ica para interpretação do

crescimento em sistem as desenvolvidos (de pleno emprego). Enquanto que a formalização algébrica

norteou esta últim a abordagem , o crescim ento com desemprego, característica de um sistem a em

desenvolvimento, tem sido analisado sob argumentos práticos e m uitas vezes fora do domínio

econômico. Por considerarm os que o cam inho adotado pela Teoria do Crescim ento chegou a um

arcabouço analítico muito mais consistente que aquele alcançado pelas Teorias do Desenvolvim ento,

1 O t e r m o d e s e m p r e g o e s t r u t u r a l , e m n o s s a a b o r d a g e m , r e f e r e - s e a o d e s e m p r e g o d o t i p o m a r x i s t a , a q u e l e c o m “ e x é r c i t o d e

r e s e r v a ” , e n ã o a o d o t i p o k e y n e s i a n o , d e c a r á t e r c í c l i c o .

2 A c a r a c t e r í s t i c a d o s u b d e s e n v o l v i m e n t o q u e n o s i n t e r e s s a é a p r i n c i p a l d e c a r á t e r e c o n ô m i c o , o u s e j a , a e x i s t ê n c i a d e

(10)

nossa intenção é sugerir, pelo menos incipientemente, um a adequação das modelagens de pleno

emprego à analise do crescim ento com desem prego. 3

A importância da em preitada de se buscar na teoria econôm ica um a alternativa formal de analise de

economias que operam fora do pleno em prego da força de trabalho4 é evidente quando sabem os que

nos dias atuais, cerca de dois terços do planeta opera neste cenário, um a vez considerada a dim ensão

população. Assim , nos arriscarem os neste terreno, apesar de um a longa tradição na teoria econôm ica

sugerir o contrário, ou seja, um a dissociação entre a abordagem do pleno emprego e a do

desenvolvimento.

Para ilustrar tal tradição vem os que W an(1971), na introdução da obra “Econom ic G rowth”, caracteriza

a diferença entre Teoria do Crescim ento e o que ele denom ina de Teoria do Desenvolvim ento,

enfatizando que estas têm naturezas analíticas distintas. Para ele, economias em desenvolvim ento

operam sobre regim es diferentes das já desenvolvidas. M otivo pelo qual a Teoria do Crescim ento está

focada nas econom ias desenvolvidas, enquanto a Teoria do Desenvolvim ento trata tanto do regim e em

que operam as econom ias em desenvolvim ento, quanto do processo de transform ação que levaria um a

economia subdesenvolvida a se tom ar desenvolvida. Ele, então, sustenta que um a abordagem seria

inadequada para análise do objeto da outra. N esse sentido, os desenvolvim entos formais da Teoria do

Crescimento pouco serviriam para a interpretação do processo de crescimento de econom ias não

desenvolvidas. Outro reconhecido autor deste cam po da teoria econôm ica que expressou essa

concepção foi Hicks(1965), em seu celebrado livro, “Capital and G rowth”, também no capítulo

introdutório, afirm a que é com um se pensar na existência de um a conexão entre essas duas abordagens,

em seus term os, Teoria do Crescim ento e a Econom ia do Subdesenvolvimento. Segundo ele, isso

ocorre porque a Teoria do Crescim ento se desenvolveu num período em que os econom istas estavam

3 E s s a p r o p o s i ç ã o d e c o r r e d o d i a g n ó s t i c o d e q u e a p r i n c i p a l d e f i c i ê n c i a d o s e s f o r ç o s t e ó r i c o s d e i n t e r p r e t a ç ã o d e p r o c e s s o s c a p i t a l i s t a s s u b d e s e n v o l v i d o s é a l i m i t a d a p r e s e n ç a d e m o d e l o s a l g é b r i c o s r o b u s t o s .

4 N o p r e s e n t e t r a b a l h o e n t e n d e m o s q u e o d e s e n v o l v i m e n t o s ó é a l c a n ç a d o a p a r t i r d o m o m e n t o e m q u e a s e c o n o m i a s a t i n g e m o p l e n o e m p r e g o d a f o r ç a d e t r a b a l h o , m o m e n t o e m q u e a s c o n d i ç õ e s s o c i a i s d a m a i o r p a r t e d o s i n d i v í d u o s

(11)

muito preocupados com o subdesenvolvimento, mas ele duvida que exista algum a conexão de fato.

Continuando seu argumento Hicks afirm a que a Econom ia do Subdesenvolvimento apesar de ser muito

importante, não é um assunto formal ou teórico. Seria um assunto prático, que deveria englobar

qualquer braço da teoria econôm ica com algum a relevância para o tema, inclusive, até argumentos

sociológicos. Prossegue citando o caso da Teoria do Comercio Internacional como sendo de especial

relevância ao subdesenvolvim ento. Para ele, não há nenhum a relação especial entre as duas linhas de

pesquisa. Finalmente, ressalta que a Teoria do Crescim ento não tem nenhum suporte no

subdesenvolvimento, com pletando que esse últim o assunto não desem penhou papel em nenhum a parte

essencial das proclam adas M odernas Teorias do Crescimento.

Em nosso trabalho nos perm itim os discordar do posicionam ento daqueles autores, acreditando que a

formalização algébrica desenvolvida nas M odernas Teorias do Crescim ento5 pode fornecer um a

plataforma consistente para a análise de regim es que operam com desemprego. N osso foco não é

discutir todas as características que norteiam o problem a do desenvolvimento, apenas tentarem os

avaliar com o o processo de crescim ento econôm ico pode ser representado algebricam ente num

contexto de desem prego estrutural.

Os cam inhos que seguiram as análises do crescim ento em econom ias desenvolvidas e em econom ias

não-desenvolvidas foram efetivam ente distintos, como Hicks e Wan achavam que deveria ser.

Observando as abordagens surgidas a partir do m odelo Harrod-Dom ar, vem os duas linhas diferentes, os

modelos m acroeconôm icos de crescim ento, como os pós-keynesianos e os neoclássicos, e

paralelamente, às teorias com o objetivo de explicar o processo de desenvolvimento, as quais podem

ser agrupadas em três conjuntos: i) as teorias que tom am a experiência dos países ricos como m odelo a

ser seguido; ii) as que enfatizam o papel das relações entre países como causa do subdesenvolvim ento e

iii) as que enfocam o problem a a partir das relações de produção existentes nos países. Em qualquer um

5 O t e r m o M o d e r n a s T e o r i a s d o C r e s c i m e n t o f o i c u n h a d o p a r a d e n o m i n a r o s t r a b a l h o s i n s p i r a d o s n a s d i s c u s s õ e s s u s c i t a d a s p e l o c h a m a d o m o d e l o H a r r o d - D o m a r .

(12)

dos conjuntos é evidente a ausência de form alização algébrica. N os dias atuais, estas abordagens vêm

sendo tratadas com um crônico e crescente desinteresse pelos econom istas, de form a que apesar da

maior parte do mundo se encontrar sob sistem as de produção com desemprego crônico da força de

trabalho, como enfatizam os acima, as direções tom adas pela teoria econôm ica têm de certa forma

negligenciando este tema. Limitamos nossa contribuição a tarefa de retornar aos modelos precursores

desta linha de pesquisa e discutir um a generalização que independa de tal pressuposto. Ao obter algum

sucesso nesse sentido, esperam os estar contribuindo para reduzir o hiato analítico existente entre as

analises dos dois cenários.

Determinar a trajetória de equilíbrio em um sistem a capitalista de produção significa inferir variáveis

como taxa de lucro, taxa de crescimento econôm ico e alocação do investimento quando ocorre

igualdade dinâm ica entre a produção e dem anda pelos bens e serviços. Como ficará claro adiante,

durante nossa busca por tal objetivo, a dicotom ia entre a produção de bens de consumo e de bens de

capital m ostrou-se um a peça chave.

/

Focaremos nossos desenvolvim entos na literatura diretamente decorrente das contribuições de

Harrod( 1939,1948) e Dom ar( 1946,1947), mas avançaremos nossa abordagem com preocupações bem

mais m odestas que as daqueles autores, já que nossa preocupação se lim ita as condições de existência

do equilíbrio dinâm ico. Mas porque não se basear em modelos mais atuais? Primeiro, porque o grau de

sofisticação m atem ática e com plexidade de m odelos recentes tom aria a tarefa pretendida m uito extensa

e difícil. Segundo, porque os m odelos iniciais eram m ais focados nos determ inantes do cam inho do

equilíbrio do que suas orientações posteriores. Por fim, consideram os que um a m udança de perspectiva

como a proposta deve iniciar com os modelos precursores, já que estes constituem as bases do

programas de pesquisa. Se há formas de obterm os sucesso, estas são m aiores nestes modelos.

(13)

Às principais concepções da abordagem proposta pela Escola de Cam bridge do Crescim ento e

Distribuição6 serviram com o alicerce ao nosso modelo, sendo que, em especial, utilizarem os a

*

concepção de poupança diferencial por classe7. Apoiarem o-nos na vertente dessa escola que ficou

tonhecida com Processo Kaldor-Pasinetti. A escolha da abordagem da Escola de Cam bridge se deve,

i I

íèntre outros aspectos, à crença de que esta com portaria m elhor a retirada da hipótese de pleno emprego

da força de trabalho, do que a alternativa neoclássica. A lém do que, ela apresenta as condições da

trajetória do equilíbrio com m aior grau de generalidade que a segunda. Sendo assim, no próxim o

capítulo apresentam os um “survey” da literatura de interesse, onde procuram os contextuai izar o

Processo Kaldor-Pasinetti, desde seus trabalhos precursores, Harrod( 1939,1948) e Dom ar( 1946,1947),

e suas abordagens concorrentes, neoclássicas, até seus desdobramentos mais recentes. Iniciam os com

uma breve associação dos m odelos neoclássicos e cam bridgiano ao o m odelo Harrod-Dom ar (H-D).

Para isso, derivarem os o resultado fundamental do modelo H-D, apresentando a condição da taxa

garantida e ressaltando o papel da hipótese de pleno em prego do trabalho na condição de crescimento

em “idade dourada” . Seguim os ressaltando a fragilidade dessa condição e como o problem a de fio da

navalha de Harrod leva ao dilem a H-D. Assim argumentam os que tanto o modelo neoclássico de

crescimento com o o Processo Kaldor-Pasinetti consistem num a tentativa de solução ao dilem a H-D.

Em seguida, identificam os quais cam inhos foram utilizados por cada escola para tal resposta,

evidenciando tam bém , que a preocupação central dessas abordagens era dem onstrar a existência do

equilíbrio dinâm ico com pleno emprego. Dam os seqüência com a controvérsia que se seguiu ao

resultado da teoria da distribuição da Escola de Cambridge, discussão essa conhecida como

controvérsia em tom o da Equação de Cambridge. Por fim tratam os dos desdobram entos relacionados

ao relaxam ento de hipóteses ligadas ao M odelo da Escola de Cambridge, bem como da discussão

originada com a introdução do governo nesses modelos.

6 A E s c o l a d e C a m b r i d g e n ã o t e m u m a l i n h a d e a r g u m e n t a ç ã o , o u m e s m o a b o r d a g e m , h o m o g ê n e a . F o r a m a g r u p a d o s s o b r e o m e s m o “ g u a r d a - c h u v a ” a u t o r e s c o m e l e v a d a a u t o n o m i a , t e n d o c o m o p r i n c i p a i s p r e c u r s o r e s K a l d o r , R o b i n s o n , C h a m p e m o w n e , K a h n , P a s i n e t t i e S r a f f a . E s t e s c o n s i d e r a v a m e c o n o m i s t a s c l á s s i c o s c o m o s e u s p r o g e n i t o r e s , a l é m d e

K e y n e s e K a l e c k i . A v e r t e n t e d e s s a e s c o l a q u e m a i s n o s i n t e r e s s a é a q u e l a l i g a d a a o s t r a b a l h o s d e K a l d o r e P a s i n e t t i .

A d e c o m p o s i ç ã o d a f u n ç ã o p o u p a n ç a f o i i n i c i a l m e n t e p r o p o s t a p o r K a l d o r ( 1 9 5 6 ) , o n d e a d i s t i n ç ã o f o i f e i t a p o r c a t e g o r i a

d e r e n d a , o u s e j a , a g e n t e s q u e r e c e b e m l u c r o s t ê m p r o p e n s ã o a p o u p a r d i s t i n t a d a q u e l e s q u e r e c e b e m s a l á r i o s . J á e m P a s i n e t t i ( 1 9 6 2 ) a d i s t i n ç ã o e r a e n t r e c l a s s e s s o c i a i s , t r a b a l h a d o r e s e c a p i t a l i s t a s , e i n d e p e n d i a d o t i p o d e r e n d a q u e e s t e s a u f e r i a m . E m n o s d e s e n v o l v i m e n t o s u t i l i z a m o s a s e g u n d a c o n c e p ç ã o .

(14)

No capítulo 3 é desenvolvido o m odelo básico proposto. N este, representarem os a econom ia através de

uma abordagem a dois setores, sendo um produtor de bens de consumo e o outro de bens de capital.8

Iniciamos supondo uma econom ia fechada e sem governo, com duas classes de agentes, capitalistas e

trabalhadores, sendo que num segundo m om ento será introduzido o governo. Tam bém suporemos

ausência de depreciação e de progresso técnico. N ão será incorporado o lado monetário da econom ia, o

que de certa forma contrasta com as recom endações pós-keynesianas, pelo menos na visão das teorias

mais recentes dessa corrente. D e qualquer forma, consideramos que mesmo com o elevado grau de

abstração, a modelagem pretendida é capaz de oferecer importantes “insights” sobre o processo de

crescimento econôm ico em sistem as sem pleno em prego da força de trabalho.

\

Neste terceiro capítulo a preocupação central é determ inar a trajetória do equilíbrio com crescimento

num contexto geral, independente da hipótese de pleno emprego. Estruturam os nosso modelo a partir

da abordagem bi-setorial de Fel'D m an. Tom amos essa referencia como ponto de partida porque ele

divide a econom ia exatam ente em setores produtores de bens de consumo e produtores de bens de

investimento, além de supor abundancia da força de trabalho. Essa suposição é realizada no sentido de

que a produção é restrita apenas pelo estoque de capital acumulado. Com o o modelo de FePDm an é

desenhado para um a econom ia planificada, sem preocupação com questões de mercado, seguimos

contornando essa lim itação, redefinindo o modelo a partir de um conjunto de parâm etros de m ercado e

hipóteses capazes de se corresponderem com ele. A preocupação central daquele autor era definir os

efeitos, em term os do produto e sua com posição, provocados pela decisão de alocação do investimento

entre os dois setores. D essa forma, buscam os dem onstrar como um a econom ia de mercado

determinaria estas alocações, utilizando o conceito de equilíbrio dinâmico. Repartim os esta tarefa em

três seções, cada um a correspondendo a suposições distintas de poupança agregada. Com eçam os pelo

caso extrem o de poupança, onde é suposto que trabalhadores não poupam e que os capitalistas não

consomem.

(15)

Dada tal suposição, na seção 3.1 iniciamos determinando a dem anda agregada por consum o e

investimento e através destas e do conceito de cam inho do equilíbrio de Harrod-Dom ar, derivamos qual

a distribuição do investimento entre os setores que garante esse caminho. Em seguida utilizam os estas

alocações para inferir a única taxa de lucro que garante o equilíbrio progressivo. Com esta taxa

chegamos a um resultado mais geral que a Equação de Cam bridge, um a vez que determ inam os a taxa

de lucro de equilíbrio independentem ente do pleno emprego da força de trabalho. No contexto da

Equação de Cam bridge era o ritmo de crescim ento do capital, ditado exogenam ente pela taxa natural,

que determinava a taxa de lucro, passando essa a ser indeterminada em qualquer contexto em que a

economia cam inhe descolada da taxa natural. Em nossa abordagem é a taxa de lucro endogenam ente

determinada que dita o ritmo de crescim ento do capital.

Na seção 3.2 partim os para o caso clássico m oderado de poupança, buscando as mesm as derivações da

seção anterior. N a m aior seção do capítulo, seção 3.3, discutim os o regim e pasinettiano de poupança.

Determinamos as dem andas agregadas por bens de investimento e bens de consumo, as alocações do

investimento e a taxa de lucro em equilíbrio nesse contexto de poupança. Em seguida dem onstram os

como podem os utilizar as derivações de Pasinetti para a Equação de Cambridge, afim de reduzir o caso

mais geral ao caso clássico moderado. Concluím os que apesar de considerarm os que os trabalhadores

poupam parte de seus recursos, essa poupança é irrelevante para determ inação das alocações do

investimento, da taxa de lucro e do ritm o de crescimento da economia. Continuam os a seção,

argumentando que a generalidade dessa proposição se limita ao caso em que é suposta a igualdade

entre o retom o que os capitalistas têm por suas poupanças, taxa de lucro, e o retom o que os

trabalhadores têm pelas suas, a taxa de juros. Dem onstram os por que discordam os de Pasinetti em

relação à generalidade da Equação de Cam bridge. Para este autor, esta seria válida mesm o num

contexto em que a taxa de lucro difere da taxa de juros. Seguimos apontando um “escorregão lógico”,

para utilizar próprio term o de Pasinetti, com etido por este autor ao tentar proceder tal generalização.

(16)

No capítulo 4 introduzimos o agente governo em nossa modelagem. Para tanto, adicionam os certas

hipóteses complementares, definindo os m ecanism os de gastos e de arrecadação do governo. Seguimos

nossas derivações como no capítulo anterior, partindo da hipótese mais restrita de poupança agregada,

para casos mais gerais. Ao longo do capítulo, prim eiro supomos que o governo opera com orçam ento

equilibrado, para então trabalharm os com orçam ento desequilibrado.

No último capítulo nos propom os a realizar um a ilustração num érica do funcionamento da econom ia

sob diferentes condições im postas pelos parâm etros iniciais. Como também a realizar um a análise da

relação entre a taxa endógena de crescimento, que é derivada ao longo da dissertação, e a taxa natural

de crescimento, ressaltando o papel do em prego da força do trabalho nessa dinâmica. Para tom ar

possível o exercício de simulação numérica, prim eiro desenvolvem os um mecanism o de preço,

reescrevendo nestes term os todos os resultados alcançados nos capítulos anteriores.

(17)

C A P ÍT U L O 2

O P R O C E S S O K A L D O R - P A S I N E T T I E M P E R S P E C T I V A

A partir de meados da década de 50 do século passado, surgiram diversos trabalhos teóricos em

resposta aos resultados obtidos pelo cham ado modelo H arrod-Dom ar (modelo H-D), principalm ente

aqueles relacionados ao cam inho do equilíbrio com pleno em prego da força de trabalho. N os textos de

Harrod( 1939,1948) e D om ar( 1946,1947), os autores se propõem a estender a análise de Keynes(1936)

ao longo-prazo. No cerne dos desenvolvim entos de Keynes, essencialm ente de curto-prazo, as

implicações que o nível de investimento tem no estoque de capital e, por conseqüência, no produto

potencial, são ignoradas. Para ele o estoque de capital é tido como dado pelas condições iniciais, sendo

independente do nível de investimento, o qual tem sua influencia restrita a dem anda efetiva. A proposta

comum a Dom ar e H arrod era, então, de que no longo-prazo o investimento aum entaria a capacidade

produtiva, aum entando o nível potencial do produto. Dessa forma ao dinam izar parte da análise

keynesiana, eles estavam introduzindo condições de oferta junto com as proposições de K eynes sobre a

demanda efetiva, passando ambas a terem papel ativo no funcionamento da expansão econômica.

Assim, estes buscaram determ inar em que condições um a econom ia poderia crescer num processo

contínuo de plena utilização da capacidade produtiva. N esse sentido, H arrod e D om ar foram pioneiros

na vertente econôm ica denom inada de Teoria do Crescim ento Econôm ico, cuja prerrogativa

fundamental é lidar com os cam inhos dinâm icos de variáveis macroeconômicas, concentrando-se nas

tendências de longo-prazo.

Podemos identificar duas linhas de respostas aos resultados obtidos pelo modelo H-D, sendo uma

centrada no program a neoclássico de pesquisa e a outra denom inada de Escola de Cam bridge do

Crescimento e Distribuição, com posta inclusive por discípulos de Keynes em Cam bridge. Estas

(18)

vertentes são concorrentes e tal cenário deu inicio a um sistemático processo de discussão e confronto,

o qual se arrastou por décadas, originando por fim, dois programas de pesquisa concorrentes dentro das

Modernas Teorias do Crescim ento Econôm ico. Faremos uso da abordagem de D om ar para

apresentação do modelo H-D, porque seu enfoque se dá na natureza dual que a taxa de investimento

tem no processo de crescimento de um a econom ia de m ercado9. Outra característica interessante deste

autor é que ele não faz uso de um a função investimento, ao contrário de Harrod, que utilizou o

princípio acelerador keynesiano. Sendo assim, Dom ar se concentra fundamentalmente nas condições de

consistência dinâm ica do equilíbrio, características que serão com uns aos desenvolvim entos dos

capítulos que se seguem em nosso trabalho, portanto a opção por este autor. Após apresentarm os o

modelo H-D, m ostrarem os que o modelo neoclássico de crescimento constitui um a tentativa de

resposta a alguns dos desafios lançados pelo prim eiro, onde apresentarem os as principais m otivações e

características da abordagem neoclássica. O capítulo continua com o desenvolvim ento da abordagem

da Escola de Cam bridge e do Processo Kaldor-Pasinetti, ambos contextualizados pela discussão

precedente10.

Partindo de um a econom ia fechada definimos Y como a renda verdadeira ou produto realizado, Y *

como nível potencial do produto, s como a propensão marginal e m édia a poupar, / com o fluxo de

investimento e, finalm ente, l / f i como a produtividade potencial m édia do investimento, ou seja, relação

marginal produto/capital. A partir destes parâm etros tem os as ferram entas necessárias para a

modelagem de Domar. A poupança (S ) do tipo keynesiana é função da renda efetiva (Y ) através de s ,

sendo: S ( t) = s Y ( t) , com o < s < l . A relação marginal produto-capital refere-se à m udança da capacidade

potencial do produto associada a determ inado nível de investimento. Supondo-se ausência de

depreciação, algebricam ente temos: l/fi= d Y * ( t) /I ( t ) . Também considerando que não há progresso

9 A d u a l i d a d e d o i m p a c t o d o i n v e s t i m e n t o e m D o m a r o c o r r e p o r q u e o n í v e l i n v e s t i m e n t o t a n t o d e t e r m i n a o v e r d a d e i r o n í v e l d e r e n d a a t r a v é s d o m u l t i p l i c a d o r k e y n e s i a n o , c o m o t a m b é m a u m e n t a , a t r a v é s d a a m p l i a ç ã o d o c a p i t a l , o n í v e l p o t e n c i a l d e r e n d a

H á u m a f o r t e l i g a ç ã o e n t r e o s m o d e l o s H - D , n e o c l á s s i c o e c a m b r i d g i a n o . E n q u a n t o o s n e o c l á s s i c o s a s s u m i r a m o s

p r e s s u p o s t o s d e p o u p a n ç a a g r e g a d a e d e i n v e s t i m e n t o a g r e g a d o d o m o d e l o H - D , i n t r o d u z i n d o c o n d i ç õ e s d e o f e r t a

(19)

técnico, essa relação é tida com o constante ao longo do tempo. Como o nível da renda verdadeira é

determinado pelo processo m ultiplicador simples de Keynes, Y ( t) = ( l/s ) I ( t) , segue-se que a taxa de

mudança da renda verdadeira é d Y ( t) /d t = ( l /s ) d I ( t) /d t .

Assim Dom ar(1946) estabelece que ao partir de um a situação de plena utilização do capital instalado, o

caminho do equilíbrio será determ inado por d Y * ( t) /d t= d Y ( t) /d t, implicando que I ( t ) / p = ( l / s ) d l ( t) , ou

d l(t)/l(t)= s /p . N essa relação fundamental a taxa de crescimento do investimento deve ser igual à razão

da propensão a poupar pela relação capital-produto, para que a econom ia se m antenha em um equilíbrio

dinâmico, partindo de um a posição de equilíbrio. Essa taxa de crescimento é conhecida como taxa de

crescimento em “steady state” . Harrod(1939) chega à m esm a conclusão, mas introduzindo um

mecanismo acelerador simples, com o função investimento. Ao fazer isso ele dissocia os determ inantes

do investimento, daqueles da poupança. Essa dissociação através do principio do acelerador leva

Harrod a concluir pela instabilidade do cam inho do tipo “steady state”. Não formalizaremos esse

aspecto da abordagem de Harrod porque estes desenvolvim entos não têm relação com o modelo a ser

apresentado a partir do capítulo seguinte, de form a que apenas discutirem os brevem ente a idéia por

trás desta conclusão11. Basicam ente o problem a de instabilidade de Harrod surge no mecanismo de

formação de expectativa dos investidores. Estes, ao anteciparem um a taxa de crescimento m aior do que

a taxa garantida, determ inariam um a taxa real de crescimento da dem anda m aior que a taxa esperada.

Sendo assim, num segundo m om ento ao invés deles acharem que previram um a taxa m uito alta,

achariam que tinham previsto abaixo, sendo levados, dessa forma, a se distanciarem cada vez mais da

taxa garantida. Analogam ente, se antecipassem um a taxa m enor que a garantida, a taxa real acabaria

sendo ainda m enor que a esperada. Essa conclusão ficou conhecida como problem a do “fio da

navalha’, porque, um a vez que as decisões dos investidores levassem a econom ia para fora do cam inho

de “steady state”, ela tenderia a se distanciar cada vez mais desse caminho.

11 P a r a u m a a p r e s e n t a ç ã o f o r m a l d o p r o b l e m a d e “ f i o d a n a v a l h a ” d e H a r r o d v e j a J o n e s ( 1 9 7 9 ) , c a p í t u l o 3 .

(20)

Os desenvolvimentos do m odelo H-D apresentados até o momento estão relacionados unicam ente ao

processo de crescim ento em que a acum ulação de capital dita o ritmo, no sentido desta ter sido

considerada como o único fator limitante do produto potencial. Mas é quando incorporamos outro fator

relevante no processo de produção, a força de trabalho, que surge um segundo ponto fundamental da

abordagem. Incorporando o trabalho no modelo H-D, temos que o crescimento do produto

acompanhará o ritm o de expansão da mão-de-obra, dada a hipótese de que a relação capital-produto é

constante. Isso ocorrerá desde que a quantidade de trabalho requerida no processo seja equivalente ao

nível potencial da força de trabalho. Caso contrário, quando há abundância de mão-de-obra, a taxa

garantida irá refletir o crescim ento da econom ia em equilíbrio. Mas, se a taxa garantida for superior à

taxa de crescimento da força de trabalho potencial, na ausência de progresso técnico, em algum ponto a

economia atingirá a barreira do pleno emprego. Daí em diante a am pliação do capital em pregado no

processo produtivo ficará restrita ao crescim ento da disponibilidade da força de trabalho.

Essa barreira foi denom inada por Harrod, como taxa natural de crescimento (n ), que na ausência de

progresso técnico equivale à taxa de crescimento da força de trabalho. Logo, para a manutenção do

pleno em prego, a taxa garantida (s /p ) deve ser equivalente a n . Essa condição foi popularizada por Joan

Robinson, em Robinson(1956[1969]), como crescimento em “idade dourada” e diz que para alcançar

uma posição de equilíbrio progressivo com pleno emprego, a taxa de crescimento da econom ia e a

relação capital-produto devem ser tais que induzam um a taxa de investimento igual à taxa que os

agentes estão dispostos a poupar em relação à renda de pleno emprego. No caso em que tal igualdade

não ocorre, sendo a taxa garantida superior à taxa natural, o crescimento irá atingir a barreira do pleno

emprego tão logo o estoque inicial de m ão-de-obra ociosa acabe. Contudo, quando a taxa garantida for

inferior à taxa natural, terem os um acum ulo progressivo de m ão-de-obra ociosa.

Harrod indica que não há razão algum a para se supor que a econom ia irá seguir perm anentem ente a

trajetória do pleno emprego. O problem a surge porque naquele modelo, a fração poupada da renda, a

taxa de crescim ento da força de trabalho e a relação capital-produto são determinadas exogenamente.

(21)

Isto é, de form a independente um a da outra, e assim, a condição de idade dourada só pode ocorrer se

houver um a coincidência. Não existem m ecanism os no modelo H-D que levem a econom ia aos valores

necessários para atingir esta condição. D essa forma, a trajetória do equilíbrio com pleno-em prego seria

pouco provável. Essa conclusão dram ática levou ao chamado “dilem a H arrod-D om ar” (dilem a H-D).

Este consiste no fato dessa previsão contrastar com os resultados obtidos pelas econom ias capitalistas

desenvolvidas durante as décadas de 1950 e 1960. Neste período ocorreram elevadas taxas de

crescimento, em conjunto com baixas taxas de desemprego, que se mostraram bastante estáveis,

elementos que caracterizariam um a trajetória em idade dourada.

O m odelo H-D levantou então dois problem as distintos inerentes ao cam inho do equilíbrio. Sendo um o

resultado da instabilidade, conhecido como problem a do “fio da navalha” de Harrod, e o outro o

problem a da baixa probabilidade de ocorrência do equilíbrio com pleno em prego da força de trabalho,

o qual foi apresentado no parágrafo anterior como problem a de baixa probabilidade do crescimento em

idade dourada. É com um observarm os na literatura certa confusão entre esses dois produtos do modelo

H-D, com o por exem plo, Pasinetti(1974[1979], p. 149), quando afirma:

“ ... s = f i n (e m n o s s a n o ta ç ã o )... . S e e s s a s m a g n itu d e s f o s s e m to d a s c o n s ta n te s , e n tã o a

r e la ç ã o . . . s ó p o d e r i a s e r s a tis fe ita p o r u m a c a s o f e l i z . E s te é o q u e p o d e s e r c h a m a d o d e

p r o b l e m a d e f i o - d e - n a v a l h a d e H a r r o d - D o m a r . ”

Pasinetti no m encionado artigo confunde o problem a de instabilidade e o de baixa probabilidade da

trajetória de pleno em prego do modelo H-D, já que na verdade o resultado de “fio da navalha” está

ligado à instabilidade e não a condição de idade dourada, a qual ele faz referência. A dificuldade de se

distinguir com clareza as diferenças entre estes dois problem as levantados pelo modelo H-D, levou a

algumas confusões quando buscou-se avaliar em que medida os desenvolvim entos da teoria neoclássica

(22)

é de que am bas escolas inicialmente se concentraram em resolver o dilem a H-D, contornando o

resultado de “fio da navalha” de Harrod através da suposição de que o investimento seria dado pelos

determinantes da poupança12. A Escola de Cam bridge de Crescim ento e Distribuição, que foi

incorporada ao rótulo de pós-keynesiana, num segundo m om ento atacou o problem a de fio da navalha

introduzindo funções de investimento com determ inantes diferentes daqueles do nível de poupança. Já

a abordagem neoclássica prosseguiu ignorando essa questão, sem incorporar um a função investimento

e defendendo essa posição através do argum ento de que no longo-prazo a econom ia se com porta como

se o investim ento fosse dado pelos determ inantes da poupança, ou seja, os possíveis desvios entre o

nível de investim ento e poupança ocorridos no curto-prazo, teriam seus efeitos restritos a este

horizonte. A presentarem os nesse “survey” apenas os m odelos de resposta ao dilem a H-D, ignorando os

desenvolvimentos relativos ao problem a de “fio da navalha”, um a vez que os determinantes do

investimento não serão objeto de análise em nossa modelagem dos capítulos posteriores.

As duas escolas atacaram o resultado de baixa probabilidade da trajetória em idade dourada,

argumentando que a incapacidade de Harrod de enxergar as razões pelas quais a econom ia garantiria

uma relação de igualdade entre a taxa garantida e a taxa natural, seria devida à ausência de mecanismos

de distribuição de renda. O ponto que as diferencia esta relacionado à definição de quais seriam estes

mecanismo de distribuição. Assim, como ficará mais claro nos parágrafos seguintes, a preocupação

central de am bas era dem onstrar a possibilidade de ocorrência de crescim ento balanceado com pleno

emprego, através de ajustam entos na distribuição de renda.

O m odelo mais conhecido de resposta ao problem a de divergência entre a taxa garantida e a taxa

natural de Harrod foi elaborado por Robert Solow e Trevor Swan no ano de 1956, sob o pressuposto de

seguir a tradição da escola neoclássica de pensam ento econômico. Para o primeiro, as divergências do

equilíbrio estável aparentam ser muito menores, casuais e contidas do que prevê o resultado de H-D.

12 O u s e j a , c o l o c a r a m d e l a d o a a b o r d a g e m d o a c e l e r a d o r d o m o d e l o d e H a r r o d , s e m , n o e n t a n t o , s u b s t i t u í - l a p o r u m a t e o r i a

d o i n v e s t i m e n t o a l t e r n a t i v a .

(23)

Suas idéias são apresentadas no artigo “A Contribution to the Theory o f Economic Growth”, e Swan

publica suas concepções em “Econom ic Growth and Capital Acum ulation”. N o exato ano destas

publicações, N icolas Kaldor apresentava “Alternative Theories o f D istribution”, que continha a idéia

fundamental da resposta pós-keynesiana ao dilem a H-D. Ambas vertentes atribuíam a causa desse

dilema à excessiva e irrealística rigidez das hipóteses originais sob as quais o m odelo foi construído,

mas divergiam quanto à identificação dos pontos de rigidez.

A estratégia neoclássica foi utilizar um conjunto de hipóteses que garantissem um papel inativo para a

demanda no processo de crescimento, introduzindo um a função de produção com substituição ilimitada

entre fatores. Isso possibilitou a m ão-de-obra disponível ser plenamente em pregada dada qualquer

quantidade de capital utilizado na produção. Assumiram que o investim ento planejado e o nível de

poupança são sem pre equivalentes. Com essas concepções tornou-se possível focar atenção apenas na

oferta. A m eta era dem onstrar que a flexibilidade da relação capital-trabalho seria a chave que

asseguraria a igualdade entre taxa garantida e taxa natural. Já os participantes da Escola de Cambridge

defenderam que o ajuste se daria pela variação da taxa de poupança, através da distribuição funcional

da renda. H acche(1979, p.21), na seguinte passagem, ressalta as características comuns aos modelos

que foram desenvolvidos em resposta ao dilem a H-D:

" ...T h e y a r e c o n c e r n e d c h ie fly w ith th e m o v e m e n t o v e r tim e o f a g g r e g a te q u a n titie s , r e la tiv e

p r i c e s a n d in c o m e d is tr ib u tio n . C e r ta in te c h n ic a l a n d b e h a v io u r a l r e la tio n s h ip s a re

p o s tu la t e d , a n d th e m o v e m e n t o f th e e c o n o m y im p li e d b y th e in te r a c tio n o f th e s e

r e la t io n s h ip s is e x a m in e d . B u t a lm o s t u n iv e r s a lly , th e c h i e f c o n c e r n is w ith th e p o s s i b i l i t y o f

s te a d y - s ta te g r o w th ... ”

Tan to os desenvolvim entos pós-keynesianos quanto os neoclássicos no campo do crescimento

(24)

resultado de longo-prazo do processo de acum ulação capitalista. Vale observar que quando utilizamos

o termo pós-keynesianos querem os nos referir apenas a um a parte dessa escola, aquela diretamente

relacionada ao Processo Kaldor(1956) - Pasinetti(1962) e seus desdobramentos. Um grande conjunto

de modelos sob este m esm o rótulo, não estava particularm ente interessado na análise do equilíbrio,

como a abordagem de tem po histórico de Joan Robinson e o seu legado, os quais atingem grande parte

das abordagens atuais desta escola13. Tendo isso em mente, com ecem os nossa exposição pela

abordagem neoclássica.

A hipótese fundam ental subjacente ao raciocínio neoclássico é de natureza essencialm ente

microeconômica e baseada no conceito de produtividade marginal decrescente dos fatores de produção.

Assim, quanto m aior o estoque de capital, se a mão de obra em pregada é constante, m enor o produto

marginal do capital. N esse sentido o capitalista teria incentivo a am pliar a quantidade de capital na

produção, enquanto o valor do produto marginal for m aior que a taxa de lucro do mercado. A expansão

da utilização deste fator continuaria até que alcançada a igualdade entre produtividade marginal e taxa

de lucro, constituindo um equilíbrio neste ponto, onde não há mais incentivo à expansão, porque o

capital adicional tem rendim ento m enor que seu custo de oportunidade. Assim, na teoria neoclássica, a

taxa de lucro aparece com o refletindo apenas as condições técnicas de produção.

0 modelo de Solow(1956) e de Swan(1956), baseiam -se no mesm o raciocínio acima, mas para um

estoque de capital agregado. O aum ento desse estoque por trabalhador aum enta o produto, mas, da

mesma form a que a análise micro, a taxas cada vez menores. A relação capital-trabalho varia até que a

taxa de crescim ento econôm ico se iguale à taxa natural de crescimento, quando se atinge um equilíbrio

do tipo “steady state”, em que a renda por trabalhador perm anece constante. Então, no modelo

neoclássico a relação capital-trabalho é a variável que assume o papel fundamental na determinação da

taxa de lucro. Sendo assim, é utilizada neste modelo um a conceituação de função de produção

(25)

agregada, onde o produto é determ inado por infinitas com binações possíveis entre estoques de capital e

quantidades de trabalho. Essa função tem como pressupostos retornos constantes de escala e

produtividade marginal dos fatores decrescente. O mercado de fatores trabalha num am biente de

concorrência perfeita com a taxa de salários e taxas de lucros se ajustando instantaneam ente a

mudanças nas circunstâncias.

Samuelson(1962) observou que a abordagem neoclássica de crescimento im plica no que ele denom inou

de três parábolas fundamentais. A prim eira é que a taxa de lucro é determ inada por propriedades

técnicas do retom o marginal decrescente do capital. A segunda que m aiores quantidades de capital

levam a m enores produtividades marginais, então a menores taxas de lucro, o que garante relação

inversa e m onotônica entre a taxa de lucro e relação capital-trabalho. A últim a parábola consiste no

resultado de que a distribuição funcional entre trabalhadores e capitalistas é explicada pela escassez

relativa e produtividade marginal dos fatores. Ou seja, a distribuição funcional da renda é dada por

circunstâncias puram ente técnicas. Essas hipóteses garantem que apenas a produção tem papel ativo no

processo de crescim ento, diferentem ente do m odelo H-D, onde a dem anda efetiva dita o ritmo.

O desenvolvim ento de Solow(1956) em resposta ao dilem a H-D, se concentrou em dem onstrar que a

dificuldade de tal m odelo em gerar um a trajetória de crescimento equilibrado em pleno-em prego era

devida a hipóteses dem asiadam ente restritivas em relação à tecnologia de produção. A culpa seria da

hipótese de coeficientes fixos. Se essa fosse substituída pelo pressuposto convencional neoclássico de

substitutabilidade contínua entre capital e trabalho, os resultados de baixa probabilidade da condição de

“idade dourada” ou do “fio da navalha” não mais se seguiriam. O ponto central do argum ento é que a

economia irá se ajustar, em term os de variação da relação capital-trabalho, até o equilíbrio estacionário.

Quando a taxa garantida é m aior que a taxa natural, um a vez atingida a barreira do pleno emprego, o

trabalho se tom a cada vez mais caro em relação ao capital. D essa forma a resposta das firmas será

introduzir cada vez mais técnicas poupadoras de trabalho, o que tom a a relação capital-produto

(26)

taxa garantida é m enor que a natural, a opção por técnicas mais intensivas em trabalho, em decorrência

desse fator estar se tom ando mais barato, irá ocasionar num a elevação da taxa garantida. Passemos ao

modelo.

Mantendo as m esm as hipóteses de poupança do modelo H-D, Solow(1956) chega à equação

fundamental neoclássica: d k ( t) / d t~ s .f( k ( t ) ) - n .k ( t). Sendo k relação capital-trabalho e f ( k ) a função de

produção na form a intensiva. O term o n .k expressa o volum e de investimento que seria necessário para

manter a relação k constante, dado o crescim ento da força de trabalho. O s é exatam ente igual ao

modelo H-D e resum e a concepção K eynesiana de poupança. A trajetória balanceada ocorre quando

chegamos a um a relação capital-trabalho que equilibra a taxa garantida do modelo H-D com a taxa

natural, ou seja, quando essa não varia mais, sendo d k ( t) /d t= 0 . N esse ponto temos: s .f( k ) = n .k . Essa

equação nos rem ete ao resultado fundamental de H-D, já que f ( k ) = Y / L, sendo L a mão-de-obra. Desse

ponto de vista, não há mais um a contradição fundamental entre a taxa garantida e a taxa natural de

crescimento. Enquanto no m odelo H-D tem os s, /? e n exógenos, a função de produção neoclássica

implica na existência de toda um a gam a de valores da relação capital-trabalho, ou seja, tam bém da

relação capital-produto14, através das quais a econom ia irá se ajustar aquela que assegura a igualdade

entre a taxa garantida de crescim ento e a taxa natural. Este modelo então determ ina uma relação

capital-trabalho de equilíbrio k * e um produto por trabalhador tam bém de equilíbrio^*.

Conforme apontado por Jones(1979), as duas proposições básicas do m odelo neoclássico são: Existe

uma solução de crescim ento balanceado para esse modelo, sendo essa estável no sentido de que

quaisquer que sejam os valores iniciais das variáveis, a econom ia se move continuam ente em direção à

tendência de crescim ento balanceado. A taxa de crescimento balanceado é a taxa constante exógena de

crescimento da força de trabalho, sendo inteiram ente independente da proporção de renda poupada.

14 N o m o d e l o n e o c l á s s i c o q u a n t o m a i o r é a r e l a ç ã o c a p i t a l - t r a b a l h o , m e n o r é a r e l a ç ã o c a p i t a l - p r o d u t o , j á q u e s e p r e s s u p õ e u m a p r o d u t i v i d a d e m a r g i n a l d e c r e s c e n t e d o s f a t o r e s . A s s i m m u d a n ç a e m u m a r e l a ç ã o i m p l i c a e m m u d a n ç a n a o u t r a .

(27)

Já resposta alternativa ao dilem a H-D, elaborada pelos seguidores de Keynes em Cam bridge manteve o

papel ativo da dem anda efetiva no processo de crescimento. Este cenário deu origem a um a longa

disputa teórica que fomentou extensa literatura em ambos os lados. Essa disputa ficou conhecida como

controvérsias em tom o da Equação de Cambridge. Os autores mais im portantes envolvidos nesse

confronto, pelo menos num a prim eira fase da discussão, foram Kaldor, Robinson, Pasinetti, Meade,

Solow, Swan, Samuelson e M odigliani. Tratou-se de um debate fundamental para a teoria econôm ica,

uma vez que questões com o distribuição, determinação da taxa de lucro e convergência estavam

envolvidas.

Por causa da direta associação da m aioria dos fundadores da vertente concorrente a neo-clássica com

Keynes, essa escola acabou sendo denom inada de pós-keynesiana. Mas esse título não resum e

completamente as características desse program a de pesquisa. Um exem plo é a seguinte afirm ação do

próprio Pasinetti:

“T h e p o s t- k e y n e s ia n th e o r ie s o f e c o n o m ic g r o w th a n d d is tr ib u tio n c a n b e d ir e c tly g r a fte d

o n to th e R i c a r d ia n th e o r e tic a l f r a m e w o r k , a s i f n o th i n g h a p p e n e d in b e t w e e n ”

(P a s in e tti, 1 9 7 4 , p . 9 2 )

Para Lavoie(1992) m uitos dos desenvolvim entos recentes do program a de pesquisa pós-keynesiano é

mais K aleckiano do que propriam ente Keynesiano. Vale ressaltar que não existe algo como uma

unidade de visão nem mesm o no braço do program a pós-keynesiano de pesquisa conhecido como

Escola de Cam bridge. Divergências quanto aos pontos em que as proposições neoclássicas são mais

questionáveis, ou mesm o quais cam inhos a teoria do crescimento deve seguir, são a regra dentro dessa

escola. Como já enfatizado, iremos centrar nossa análise em apenas um dos desenvolvim entos dessa

escola, aquele relacionado com a teoria de determinação da taxa de lucro, em especial ao Processo

Kaldor-Pasinetti. A proposição de Kaldor(1956) em certo sentido pode ser considerada pós-keynesiana

(28)

porque nela o princípio da dem anda efetiva, resum ida na função poupança, é o determinante do nível

de atividade econôm ica, tendo os determ inantes do investimento um papel fundamental nesse nível de

demanda. A pesar de Keynes não assum ir pleno emprego, pelo contrário, estar preocupado com a

realização de equilíbrio com desemprego. Kaldor(1956) inicia a parte do artigo que trata da teoria

Keynesiana da distribuição com a frase:

“K e y n e s a s f a r a s I k n o w , w a s n e v e r in te r e s te d in th e p r o b le m o f d is tr ib u tio n a s s u c h . O n e

m a y n e v e r t h e le s s c h r is te n a p a r t i c u l a r th e o r y o f d is tr ib u tio n a s “K e y n e s ia n ” i f it c a n b e

s h o w n to b e a a p p lic a tio n o f th e s p e c ific a lly K e y n e s ia n a p p a r a tu s o f th o u g h t... ”

Antes de apresentarm os o Processo Kaldor-Pasinetti, ressaltemos as principais diferenças entre as

escolas pós-keynesiana e neo-clássica do cresciemento. Como vimos, os desenvolvimentos baseados no

modelo de Solow(1956) assumem que o investimento é dado pelo nível de poupança em pleno

emprego. Para os pós-keynesianos essa é um a grande deficiência daquele m odelo, já que decisões de

investimento são diferentes das decisões de poupança. Segundo Joan Robinson, o m odelo neoclássico

deixa de fora o elem ento m ais im portante para um a teoria do crescimento, as decisões que governam a

taxa de acum ulação de capital. N essa escola decisões de investimento são explicitam ente tratadas como

independentes das decisões de poupança, sendo que desequilíbrios entre poupança e investim ento têm

repercussões reais, não apenas financeiras, ou seja, limitadas à taxa de juros, como acontece no modelo

neoclássico.

Enquanto que a estratégia neoclássica consistiu em introduzir um a função de produção, junto com uma

série de hipóteses que garantissem um papel inativo da dem anda efetiva na determinação do ritmo de

crescimento, a abordagem pós-keynesiana seguiu caminho inverso e em relação a distribuição

funcional da renda tom ou as condições de oferta sem papel ativo. N esse sentido, eles argumentaram

que em um a econom ia crescendo a pleno em prego da força de trabalho, as condições de dem anda são

(29)

suficientes para a determ inação da taxa de lucro e da distribuição da renda, independentem ente da

função de produção pressuposta.

A literatura econôm ica apresenta um a divergência com relação à abordagem do equilíbrio balanceado

como ponto central para a análise do crescimento. No cerne dessa cisão esta a hipótese de pleno

emprego da força de trabalho. Enquanto que a modelagem de Kaldor(1956) é baseada no pleno

emprego, Robinson, pelo menos num a segunda fase de seus trabalhos, não vê significância empírica,

nem validade nessa hipótese. Para ela, questões levantas por Keynes, como incerteza fundamental e

desequilíbrio, não podem ser deixadas de fora. Enquanto o modelo de Kaldor é focalizado na

abordagem do equilíbrio, Robinson baseia seus desenvolvim entos teóricos num a abordagem de

caminho histórico do crescimento, onde o processo ocorre através de interrelações causais,

estabelecidas entre as variáveis relevantes.

Nossa atenção se concentrará na abordagem de Kaldor do equilíbrio em pleno em prego e em suas

generalizações e desdobram entos. O ponto de partida desse modelo é a desagregação da poupança total

por categoria de renda. O princípio essencial dessa teoria é que a participação do lucro na renda

nacional é determ inada pela necessidade de se fazer a propensão média a poupar da econom ia equivaler

a taxa de investim ento a pleno em prego da capacidade produtiva. Supondo um a propensão a poupar

diferenciada por categoria de rendim entos, m udanças na participação do lucro, alteram a propensão

média a poupar da econom ia. Inicialm ente, a cham ada Equação de Cambridge ou Teorem a de

Cam bridge foi atribuída a Kaldor, mas coube a Pasinetti(1962), m ostrar que ela poderia ser obtida sem

qualquer referencia ao valor da propensão a poupar dos trabalhadores, desde que certos limites as

propensões a poupar fossem observados. N este caso essa propensão seria irrelevante quanto à

determ inação da taxa de lucro ao longo de um a trajetória de crescimento em idade dourada. O mesmo

ocorrendo com a distribuição de renda.

(30)

A abordagem de diferenciação dos agentes por classe rem onta os clássicos e até mesmo autores

anteriores. Quesnay, na época da Escola Fisiocrata, dividia a econom ia em três classes: proprietários,

classe produtiva e classe estéril. Considerava que cada classe segue características particulares de

comportamento. Para Ricardo os indivíduos deviam ser agrupados também em três classes, mas estas

seriam trabalhadores, em presários e proprietários de terra, sendo que cada um a tinha direitos e

comportamento econôm ico particulares. Ele utilizava a hipótese de que proprietários e trabalhadores

consumiam todo sua renda, enquanto que em presários poupavam e reinvestiam toda a sua.

Kaldor(1956) trata-se de um sistem a com diferentes funções para poupanças provenientes de lucros (S c)

e provenientes de salários (S w) . Tem os a poupança total (S ) dada por S (t) = sw. W (l) + s c.IJ (t), onde s w e

sc são, respectivam ente, propensão a poupar dos salários e dos lucros e T I(t) é o lucro total da economia. A concepção keynesiana de poupança, utilizada no modelo H-D, é um caso particular dessa função,

ocorre quando s w= sc. Para os pós-keynesianos o fato fundamental sobre a poupança é que a m aior parte

dela vem dos lucros, concepção que é expressa pela hipótese s w< s c. Essa percepção tam bém estava por

trás da im portância que Ricardo dava a questão da distribuição da renda. Para ele, com o lucro

determinando a poupança e essa determinando a taxa de acumulação, a relevância fundamental da

distribuição de renda era evidente, já que determ inava a taxa de acumulação. Quem retom ou essa

concepção à tona no século XX, foi Kalecki(1971) em artigo de 1933, mas para este, ao contrário de

Ricardo que considerava o investimento sendo governado pela poupança, há independência entre essas

variáveis. Considerada tal independência, junto com a hipótese de que todos os salários são gastos

integralmente com consumo, tem os a relação de causalidade em que os lucros são determ inados pelos

investimentos e não o contrário.

Voltando a Kaldor, a partir da identidade entre a renda total e a soma dos salários agregados com os

lucros agregados, chegam os à um a segunda equação para poupança: S ( t) = ( s c-s w) I l ( t ) + s w. Y (t). Como em

equilíbrio dinâm ico tem os S ( t) = I ( t) , ou seja, identidade dinâm ica entre poupança e investimento, e

supondo o caso clássico de que a poupança dos trabalhadores é zero, podemos, através de simples

m anipulações algébricas, obter: l J ( t ) / K ( t ) = ( l / s p) I ( t) /K ( t ) . Já que I I ( t) /K ( t ) é a taxa de lucro e I ( t) /K (t) é

(31)

a taxa de crescim ento do estoque de capital, então em pleno emprego da força de trabalho temos:

r=g„/sc, onde r é a taxa de lucro de equilíbrio e g„ é a taxa natural de crescimento, que na ausência de progresso técnico equivale a taxa de crescimento da população. Esse resultado ficou famoso por

constituir um a teoria alternativa a teoria neoclássica de distribuição. Essa expressão ficou conhecida

como a Equação de Cam bridge, onde a taxa de lucro é determinada, em estado de crescim ento

balanceado, pela propensão a poupar das receitas de lucro. Dessa forma, de acordo com a equação, os

capitalistas determ inam seus próprios lucros, quando investem e consomem, não tendo os trabalhadores

nenhum papel na determ inação da taxa de lucro de longo-prazo. Então Kaldor, ao mesmo tem po em

que Solow form ulava os prim eiros passos da abordagem neoclássica, já estava dem onstrando que na

trajetória do crescim ento com equilíbrio em pleno emprego, a taxa de lucro deve ser determ inada pelas

condições da Equação de Cam bridge, independentemente de todas as proposições neoclássicas,

inclusive sua função de produção. Como resultado do modelo de Cambridge, os capitalistas ao

investirem e consum irem , estariam determ inando seu próprio lucro. Este resultado remete a parábola de

Keynes de “w idow ’s cruse” . 15

O trabalho de Pasinetti foi além e dem onstrou que independentemente da hipótese clássica s w= 0

adotada por Kaldor, poderíam os alcançar a Equação de Cambridge. Para obter-lo Pasinetti propõe uma

modificação no m odelo de Kaldor, que ele próprio denom ina de um a correção a um ‘escorregão

lógico’, onde basicam ente introduz o pressuposto de que se os trabalhadores poupam , só o fazem

porque eles podem ser proprietários de capital e consequentem ente recebem retom o pela aplicação de

tal capital no processo produtivo. Podem os derivar a Equação de Cam bridge nesse contexto de forma

bem sim ples através de quatro hipóteses adicionais, seguindo Teixeira(1998): i) igualdade no longo-

prazo entre a taxa de lucro recebida pelos capitalistas e a taxa de juros recebida pelos trabalhadores; ii)

a parcela do estoque de capital possuída por cada classe é proporcional a suas poupanças acum uladas;

iii) capitalistas poupam um a proporção constante de seus rendim entos e os trabalhadores poupam um a

15 A p a r á b o l a k e y n e s i a n a d e “ w i d o w ’ s c r u s e ” r e m e t e a c o n c e p ç ã o d e q u e a r e n d a d o s c a p i t a l i s t a s s e r i a u m r e s u l t a d o d e s u a s p r ó p r i a s d e c i s õ e s d e g a s t o , m a i s d o q u e o i n v e r s o , e m q u e c o n s i d e r a s s e o s g a s t o s c o m o s e n d o d e c o r r e n t e s d a r e n d a . O u s e j a , o s p r ó p r i o s c a p i t a l i s t a s a c a b a r i a m p o r d e t e r m i n a r s e u s g a n h o s , i n d e p e n d e n t e m e n t e d e t u d o m a i s .

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