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O futuro do trabalho: impactos e desafios para as organizações em Angola

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Academic year: 2021

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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

JORGE CABRAL BAPTISTA

O FUTURO DO TRABALHO: IMPACTOS E DESAFIOS PARA AS ORGANIZAÇÕES EM ANGOLA

SÃO PAULO 2016

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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

JORGE CABRAL BAPTISTA

O FUTURO DO TRABALHO: IMPACTOS E DESAFIOS PARA AS ORGANIZAÇÕES EM ANGOLA

Tese apresentada à Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Administração de Empresas.

Campo de conhecimento: Estudos Organizacionais

Orientadora:

Profa. Dra. Maria José Tonelli

SÃO PAULO 2016

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Baptista, Jorge Cabral.

O futuro do trabalho: impactos e desafios para as organizações em Angola / Jorge Cabral Baptista. - 2016.

161 f.

Orientador: Maria José Tonelli

Tese (doutorado) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo.

1. Mercado de trabalho - Angola. 2. Angola – Condições econômicas. 3. Desenvolvimento organizacional. 4. Mão-de-obra – Angola. 5. Profissionais. I. Tonelli, Maria José. II. Tese (doutorado) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo. III. Título.

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O FUTURO DO TRABALHO: IMPACTOS E DESAFIOS PARA AS ORGANIZAÇÕES EM ANGOLA

Tese apresentada à Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Administração de Empresas.

Campo de conhecimento: Estudos Organizacionais

Orientadora:

Profa. Dra. Maria José Tonelli

Data de aprovação:

______/______/______

Banca Examinadora:

Profa. Dra Maria José Tonelli (Orientadora – FGV-EAESP)

________________________________ Prof. Dr. Leonardo Trevisan

PUC – SÃO PAULO

_________________________________ Prof. Dr. Ely Paiva

FGV – EAESP

_______________________________ Profa Dra Andrea Oltramari

UFRGS – RIO GRANDE DO SUL

______________________________

Prof. Dr. André Luís Silva FGV – EAESP

(5)

Aos meus Pais, Maria e Baptista, in memoriam. A minha esposa Bebiana Baptista; ao meu filho David Baptista, com muito amor e carinho.

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SENHOR é o meu pastor, nada me faltará.

Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas.

Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.

Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.

Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.

Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias.

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Primeiramente agradecer a Deus pai todo poderoso pela vida e proteção e por ter permitido que este proposito fosse concluído ao longo destes quatro anos transformadores da minha vida. Trabalhos desta natureza, não se cinge apenas ao orientando e o orientador, mais também com as demais pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para que este trabalho fosse possível.

Agradeço a minha família que ao longo destes anos sempre estiveram comigo dando-me amor, força e incentivo para que este estudo fosse concluído. Minhas irmãs e irmãos Rita António Baptista, Filomena Baptista do Amaral, António Baptista Junior, Francisco Janota Baptista, Mateus Baptista, Conceição Baptista, Boneca Baptista e Maria Baptista. Aos meus sogros, Domingos Cassua e Rosa Albino, meus cunhados e cunhadas, sobrinhos e sobrinhas pela força e coragem, sem vocês muita coisa na minha vida não teria sentido e muito obrigado por vocês existirem.

Agradecimento especial vai para Suas Excelências Ministro do Ensino Superior de Angola Doutor Adão do Nascimento, Generais Geraldo Sachipengo Nunda Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas Angolanas, Francisco Afonso Gonçalves Comandante da Forças Aérea Nacional e ao Instituto Nacional de Gestão de Bolsa de Estudo de Angola, pelo apoio prestado a minha formação.

Aos Tenentes Generais Cristóvão Miguel Júnior, Domingos Adriano da Silva Neto, António Francisco Catembo, Domingos Hélder Diógenes, Massaque Neto, Justino da Glória; aos Brigadeiros Adão Francisco Clemente, Casimiro Titino Franque, Domingos Neto, Vieira Dias; aos Coronéis Pedro da Silva Quinhentos, Costa Silva e Sousa, João Lunga, Manuel Santana, Beto Sampaio, Osvaldinho da Conceição, Regardino, Tenente Coronel Beto Nunda, Major Brice e tantos outros colegas de farda, o meu muito obrigado pelo incentivo.

Aos Professores Doutores Alves da Rocha, Agatangelo, Kianvu Tamu, Pedro João, pelo apoio e confiança prestada.

Aos meus colegas da Universidade Técnica de Angola e do Instituto Metropolitano de Angola e aos meus alunos do último semestre de 2015. Aos meus amigos Professores mestres Domingos Carlos Alberto e Natalio Vicente, Francisco da Cruz, e aqueles cambas do peito, pelo companheirismo, carinho e apreço dedicado.

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A minha orientadora Professora Doutora Maria José Tonelli, a quem considero amiga e conselheira, uma verdadeira mãe, confesso que não sei como lhe retribui por tudo que fez para que este trabalho se tornasse uma realidade. Obrigado pela sabia orientação e pela forma e humilde como me tratou ao longo destes quatro anos. Agradeço a Deus todos os dias por tê-la colocado na trajetória da minha vida.

Aos Professores Doutores das linhas de pesquisa de Estudos Organizacionais e Estratégia, com realce para os professores Rafael Alcadipani, Rodrigo de Melo, Maria Ester, Maria Fleury, Bertero, Ely Paiva, André Luís Silva pela inspiração acadêmica e exemplo a seguir. Agradecimento especial também para a Professora Marta Farah do curso de Administração Pública e ao Professor Diógenes Bido da Universidade Presbiteriana Mackenzie, pelo apoio e prontidão na transmissão dos seus conhecimentos. A todos os colegas do doutorado e do mestrado que ao longo dos quatro anos partilhamos momentos de estudos, de alegria, de convivência e de angustias; Luciana Iwashita, Marcos Salusse, Lorena, Miriam, Thales, Edvalter Holz, Douglas Feitosa, Debora Pessoa, Genésio Vasconcelos, Vanessa Capellos, Carminha Meirelles Toledo Cruz, Catherine, Diana, Raquel e tantos outros, o meu muito obrigado.

Aos meus amigos doutorandos e mestrandos da comunidade Moçambicana em especial o meu amigo do peito Doutor Raimundo Alfandega Mateço, pelo apoio e companheirismo.

Aos funcionários da Livraria da FGV São Paulo e da Secretária de Registos da FGV; Luiz Roberto Prada, Décio Esteves, Vinicius de Castro Gonçalves, Tereza, Pamela em especial Valdeci Araujo Souza e os demais funcionários, o meu obrigado pelo acolhimento, companheirismo e apoio dado ao longo destes quatro anos de convivência. A EAESP/FGV por se tornar na minha segunda casa, oferecendo uma estrutura condigna para que eu pudesse estudar à vontade ao longo de várias horas e poder concretizar este sonho.

(9)

RESUMO

O futuro do trabalho na atualidade tornou-se uma preocupação não só para os estudiosos na área, mas também para a sociedade no geral, tendo em conta as mudanças registradas quer em ambiente de negócio como sociais devido às profundas transformações que hoje conhecemos. Todavia, vivenciam-se hoje novas maneiras de realização do trabalho, alterações no perfil profissional das pessoas bem como nas relações com as organizações, proporcionando desafios, mormente de adaptações a estas mudanças. A presente tese tem como objetivo primordial, a compreensão sobre como a evolução do trabalho no mundo tem afetado as organizações Angolanas, quais os desafios e implicações que estas enfrentam, principalmente nas relações com os profissionais. O referencial teórico foi baseado na literatura que retrata o tema em estudo, um assunto atual e de interesse para as várias áreas de conhecimento como sociologia, economia, estudos organizacionais, antropologia e outros, o que possibilitou a compreensão de como o mercado de trabalho reage a estas transformações face as mudanças que lhe são impostas. O tipo de pesquisa adoptada foi o descritivo e exploratório numa abordagem qualitativa. Para a recolha dos dados foi utilizado o método survey com a aplicação de 181 questionários dirigida aos gestores das empresas Angolanas e os dados foram tratados a partir da técnica de estatística descritiva (frequência absoluta, frequência relativa, média, mediana e moda). Para a análise dos dados, foram levantadas três dimensões surgidas a partir dos dados teórico-empírico que possibilitou a discussão dos dados. A pesquisa conclui que apesar de Angola estar a atravessar uma economia em recessão, o impacto e desafio sobre o futuro do trabalho poderá trazer várias mudanças no mercado de trabalho com destaque para a flexibilização das condições de trabalho, o surgimento de novos modelos de gestão e prováveis mudanças sociais que poderá originar a diminuição do trabalho formal e proporcionar contratos flexíveis.

(10)

ABSTRACT

The future of work today has become a concern not only for scholars in the field, but also for society in general, taking into account the changes recorded both in business environment as social because of the profound changes that we know today. However, they are now experiencing new ways to do their work, changes in the professional profile of the people and in relations with organizations, providing challenges, in particular adaptations to these changes. This thesis has as its primary goal, the understanding of how the progress of work in the world has affected the Angolan organizations, what are the challenges and implications they face, especially in relations with professionals. The theoretical framework was based on literature that portrays the subject under study, a current topic of interest to the various areas of knowledge such as sociology, economics, organizational studies, anthropology and others, which allowed the understanding of how the labor market reacts these changes face the changes that are imposed. The kind of adopted research was descriptive and exploratory a qualitative approach. For data collection was used the survey method with the application of 181 questionnaires addressed to managers of Angolan companies and the data were treated from the descriptive statistical technique (absolute frequency, relative frequency, mean, median and mode). To analyze the data, we raised three dimensions arising from the theoretical and empirical data that enabled the discussion of the data. The research concludes that although Angola is experiencing an economy in recession, the impact and challenge of the future of work can bring several changes in emphasis to labor market for flexible working conditions, the emergence of new models of management and likely social changes that could lead to the reduction of formal work and provide flexible contracts.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 01 Mudanças tecnológicas consideradas profundas que ocorrerão no mercado de

trabalho... 34

Quadro 02 Forças para mudança... 43

Quadro 03 Pressões por mudanças na organização... 44

Figura 01 Etapas de mudanças segundo Kurt Lewin... 44

Figura 02 Mudanças do processo contínuo da mudança organizacional... 45

Quadro 04 Fontes organizacionais e individuais de resistência... 47

Figura 03 Mapa de Angola referente a situação geográfica... 49

Gráfico 01 As três etapas do crescimento de Angola... 58

Gráfico 02 Taxa de crescimento por grandes setores de atividade... 58

Quadro 05 Evolução do índice de desemprego de 2000/2014... 80

Gráfico 03 Angola: efetivo total da população nos diversos censos da época colonial... 82

Figura 04 Universidades e instituto da região acadêmica 1 – Luanda/Bengo... 89

Quadro 06 Universidades e instituto da região acadêmica 2 – Benguela/K. Sul... 90

Quadro 07 Universidades e instituto da região acadêmica 3 – Cabinda/Zaire... 90

Quadro 08 Universidades e instituto da região acadêmica 4 – L. Norte; L. Sul e Malange... 91

Quadro 09 Universidades e instituto da região acadêmica 5 – Huambo, Bié e Moxico... 92

Quadro 10 Universidades e instituto da região acadêmica 6 – Huila, C. Cubango e Cunene... 92

Quadro 11 Universidades e instituto da região acadêmica 1 – Uige e K. Norte... 93

Quadro 12 Evolução do número de instituições de ensino superior público e privado no período de 2002/2014... 94

Quadro 13 Indicadores nacionais do ano acadêmico 2014... 95

Figura 05 Evolução do número de estudantes matriculados no período 2002/2014... 95

Quadro 14 Indicadores nacionais de estudantes do ano acadêmico 2014... 97

Gráfico 04 Empresas registradas no período de 2012/2015... 104

Gráfico 05 Distribuição percentual de empresas registradas por situação de atividade no período de 2012/2015... 105

Gráfico 06 Distribuição percentual de empresas em atividade em 2015 por ano de início de atividade... 105

Gráfico 07 Distribuição de empresas em atividade por província em 2015... 106

Gráfico 08 Distribuição de empresas por atividade por seção da CAE Rev2 em 2015... 106

Gráfico 09 Distribuição percentual das empresas em atividade por forma jurídica em 2015... 107

Gráfico 10 Distribuição percentual de empresas em atividade por setores institucionais em 2015... 107

Gráfico 11 Participantes da pesquisa por setor de atividade... 114

Gráfico 12 Faturamento das organizações participantes... 114

Gráfico 13 Tempo de atuação das organizações em Angola... 115

Gráfico 14 Faixa etária da força de trabalho das organizações participantes... 115

Gráfico 15 Funcionários contratados pelas organizações participantes... 116

Gráfico 16 Percentual de profissionais mulheres das organizações participantes... 116

Gráfico 17 Tendências impactantes para o negócio... 117

Gráfico 18 Que mudanças farias na LGT... 123

Gráfico 19 Situação que gostaria de viabilizar mais existem fatores impeditivos na LGT... 125

(12)

Gráfico 22 Principais estratégica para as empresas se manterem competitivas em novos cenários de trabalho... 130

(13)

Tabela 01 Programa de emprego em Angola entre 2002/2015... 76

Tabela 02 Estrutura setorial do emprego... 77

Tabela 03 Estrutura etária da população por sexo em 2014... 84

Tabela 04 População residente com 15 ou mais anos de idade por área de residência segundo a situação perante a atividade econômica, 2014... 99

Tabela 05 Taxa de atividade por sexo... 100

Tabela 06 Taxa de emprego segundo sexo... 101

Tabela 07 Taxa de desemprego por sexo... 101

Tabela 08 Participação das mulheres nos órgãos de decisão da administração pública de 2011/2012... 102

Tabela 09 Modelos flexíveis do trabalho... 120

Tabela 10 Grau de concordância das modificações da LGT... 124

(14)

AKZ – Kwanza (Denominação da Moeda Angolana) AFDB (BAD) – Banco Africano de Desenvolvimento ANDA – Associação Nacional dos Deficientes de Angola

ANGOP (ANAP) – Agência Nacional Angola Press (Agência Oficial de Notícias de Angola)

ANIP – Agência Nacional de Investimento Privado AOA – Código da moeda Angolana o Kwanza

CEIC – Centro de Estudos de Investigação Cientifica CIA – Agência Central de Inteligência

CPLP – Comunidade dos Países da Língua Portuguesa

EAESP – Escola de Administração de Empresas de São Paulo EUA – Estados Unidos da América

ESPA – Escola Superior Politécnica de Angola ELNA – Exército de Libertação Nacional de Angola FNLA – Frente Nacional de Libertação de Angola

FAPLA – Forças Armadas Popular de Libertação de Angola FALA – Forças Armadas de Libertação de Angola

FGV – Fundação Getúlio Vargas FMI – Fundo Monetário Internacional GNL – Gás Natural Liquefeito

GTME – Grupo Técnico Multissetorial para o tratamento de dados numéricos do Mercado de Emprego

INE – Instituto Nacional de Estatísticas IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

MPLA-PT – Movimento Popular de Libertação de Angola – Partido do Trabalho MAPESS – Ministério da Administração Pública Emprego e Segurança Social OECD – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico OIT – Organização Internacional do Trabalho

OGE – Orçamento Geral do Estado ONU – Organização das Nações Unidas O&S – Organização e Sociedade

PND – Plano Nacional de Desenvolvimento PIB – Produto Interno Bruto

(15)

RAUSP – Revista de Administração da Universidade de São Paulo REA – Revista Econômica de Angola

RTP – Rádio Televisão Portuguesa

SADC – Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral SPELL – Scientific Periodicals Eletronic Library

UAN – Universidade Agostinho Neto

UNDP – Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas UNECA – Comissão Económica das Nações Unidas para a África UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola UPA – União dos Povos de Angola

USAID - Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional USP – Universidade de São Paulo

(16)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 19

CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA DA PESQUISA... 19

1 REFERENCIAL TEÓRICO... 24

1.1 Discussões contemporâneas... 24

1.2 Progressão tecnológica e trabalho... 30

1.3 Flexibilização do trabalho... 35

1.4 Mudanças organizacionais e do perfil dos profissionais... 42

1.5 O trabalho em Angola... 48

1.5.1 Realidade do país... 48

1.5.1.1 A guerra civil... 51

1.5.1.2 A reconstrução e o crescimento econômico de Angola... 56

1.6 A questão do trabalho em Angola... 63

1.6.1 Da sua descoberta a colonização... 63

1.6.2 Da conquista da independência a guerra civil... 67

1.6.3 Da mudança de regime aos dias de hoje... 70

1.6.4 Privatização... 70

1.6.5 Situação do emprego e desemprego... 71

1.6.5.1 Emprego... 72

1.6.5.2 Desemprego... 78

1.6.5.3 Mão de obra estrangeira... 80

1.6.6 Crescimento demográfico... 82

1.6.7 Ensino superior em Angola... 85

1.6.7.1 Breve historial... 85

1.6.7.2 O ensino superior do período pós-independência até os dias de hoje... 88

1.7 Trabalho e gênero... 98

1.8 Descrição das empresas em Angola... 104

2 ABORDAGEM TEÓRICO METODOLÓGICO... 108

2.1 Natureza do estudo e perspectiva da pesquisa... 108

2.2 Instrumento de colheita de dados... 108

2.2.1 Método survey (levantamento de dados) ... 109

(17)

3.2 Dimensão tendências transformadoras... 117

3.3 Dimensão flexibilidade... 119

3.3.1 Modelos flexíveis de trabalho... 120

3.3.2 Modificações da LGT... 122

3.3.3 Grau de concordância das modificações da LGT... 124

3.3.4 Fatores impeditivos da LGT... 125

3.4 Dimensão mudanças organizacionais e da expetativa do trabalhador... 126

3.5 CONCLUSÃO... 131

3.5.1 Ligação do estudo com a questão da educação... 131

3.5.2 Ligação do estudo com a questão do gênero... 133

3.5.3 Utilidade da pesquisa para Angola... 134

3.5.4 Limitação do trabalho... 134

3.5.5 Impacto e desafios para as organizações em Angola... 135

3.5.6 Principais conclusões... 136

3.5.7 Sugestões para pesquisas futuras... 138

3.5.8 REFERENCIAS... 140 APÊNDICE

(18)

INTRODUÇÃO

CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMATIZAÇÃO DA PESQUISA

Este estudo tem como proposta a análise do futuro do trabalho em Angola, seus impactos e os desafios para as organizações. A temática sobre o trabalho tem sido muito discutida, quer na sociedade, em geral, quer na academia, em particular, fruto da evolução tecnológica, das questões sobre a pós-modernidade e sobre o consumo, que, grosso modo, têm tido implicações no cotidiano do trabalhador. Vários são os questionamentos feitos por analistas sobre o futuro do trabalho, seus impactos e desafios para as organizações e para as pessoas que, em grande medida, são diretamente afetadas. A problemática do trabalho é um dos aspectos que mais desencadeia elevadas discussões, pois está diretamente ligada ao homem e à sua sobrevivência, de modo geral, datando desde os primórdios da humanidade. Essa problemática possui uma história que merece reflexão, ao olharmos de onde viemos, onde estamos e aonde vamos, além do que pretendemos para a construção de um mundo socialmente menos desigual, menos pobre, menos violento, menos corrupto. Será isso possível? A preocupação com o mundo em que vivemos é premente, principalmente pelas transformações a que estamos sujeitos, levando a mudanças sobre o modus vivendi e o modus operandi de cada um – e estas mudanças começam com aquilo que mexe com o cotidiano das pessoas: o trabalho.

Historicamente, a palavra trabalho está adstrita à perda de liberdade, cujo significado pode mesclar-se com o de infortúnio ou sofrimento, agregado à falta de independência e de liberdade, se tornando num peso social; integram-se ao entendimento da palavra trabalho, as noções de maldição e punição do pecado original (perpetrado por Adão e Eva), como se pode depreender nos escritos da bíblia no antigo testamento (Gêneses 3,19): “comerás o pão com o suor do teu rosto...” – passagem que ilustra o trabalho como sendo uma necessidade considerada fatigante que resulta de uma maldição (VATIN, 2002).

Segundo Silva (2014), a palavra “trabalho” tem sua origem no vocábulo latino tripalium, tripálio, instrumento de tortura formado por três (tri) paus (paliu) – literalmente: três paus. Assim, “trabalhar” significaria ser torturado no tripalium1, análogo a um tripé, formado por três estacas cravadas no chão, no qual eram supliciados os escravos e deixados até a sua morte.

(19)

À palavra tripalium liga-se o verbo (do latim vulgar) tripaliare, que significa torturar; ou seja, suplício que substituiu o da cruz, instrumento de tortura no mundo cristão (VATIN, 2002). Estudos de Vatin (2002) referem ainda que, da ideia inicial de sofrer, passou-se à de esforçar-se, lutar e, por fim, a de trabalhar, que esteve adicionada a palavras como: experiência dolorosa, padecimento, cativeiro e castigo, sobretudo relacionadas às atividades físicas ou braçais exercidas por camponeses, artesãos, agricultores, pedreiros etc. – que eram considerados cidadãos de segunda classe; as atividades consideradas não físicas, como a política, o estudo, a poesia, a filosofia, eram atribuídas a cidadãos de primeira classe, conforme atestam estudos de Offe (1984) e Albornoz (2008). Essa concepção ainda se faz sentir atualmente.

O trabalho constitui um tema central das sociedades. Talvez, seja por essa razão que os sociológicos o denominam como a categoria chave da sociologia, conforme frisa Offe (1984). O desaparecimento do entendimento do trabalho, segundo o qual o trabalho, a família e o lazer eram semelhantes, começa no século XIX, com o surgimento da Revolução Industrial e acaba a ligação até então existente, trazendo outro conceito: “o trabalho livre” ou, mesmo, como o denomina Webber2, o “açoite da fome” – quando a

subsistência passou a ser o foco das sociedades (OFFE, 1984:168).

Talvez seja por esta razão, sugere Pochmann (2006), que existam duas visões sobre o trabalho desde a antiga Grécia: a visão sublime e a visão pejorativa, sendo que muitas discussões sobre trabalho partem, sobretudo, dessas duas visões. Assim, vários são os significados apresentados por estudiosos desta temática, que recaem numa ou noutra visão e espelham bem as discussões em torno dela, visível a partir de questionamentos – quer negativos, quer positivos – que nos levam a crer que trabalhar é tortura, é sofrimento, é sobrevivência, é um ato prazeroso, é digno, é merecedor de valor.

A palavra trabalho tem vários significados na linguagem cotidiana e mais de um significado em todas as línguas europeias, apresentando uma dualidade de conceitos, trabalho/labor, ponos/ergon, labor/opus, labor/work e mühe/werk (ver, por exemplo, OFFE, 1984; ALBORNOZ, 2008; ARENDT, 2016). Trata-se de um conceito considerado polissêmico. Ferreira (2004:1134)3, ao se referir ao conceito do trabalho, sustenta que é a “aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar um determinado fim”; é ainda considerado como uma “atividade coordenada, de caráter

2 Citado por Offe (1984:169).

3 Novo Dicionário Aurélio, tomado como preferência, já que os demais dicionários também trazem

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físico e/ou intelectual, necessária à realização de qualquer tarefa, serviço ou empreendimento, podendo ser especializado ou de responsabilidade”.

Sem ressentimento da sua história, o trabalho conhece uma discussão central na modernidade, na qual a sua concepção é visível nos vários campos do saber, com realce para a economia, a sociologia, a psicologia, a filosofia e a antropologia. As discussões se centram no trabalho como mediação entre o homem e a natureza, na produção e seu valor, na precariedade, na economia do trabalho, na alienação do trabalho.

Todavia, a presente pesquisa se situa no campo dos estudos organizacionais, que vem ganhando espaço, observável ao longo do tempo, com o aumento de pesquisas sobre o trabalho nos mais variados campos contemporâneos. Das consultas registradas, de 2000 a 2016, nos Encontros de Estudos Organizacionais da Anpad (EnEO), constatou-se que, nesse período, foram publicados 255 artigos com a palavra-chave “trabalho” em diversos periódicos, tais como Scientific Periodicals Eletronic Library (SPELL) – 149; Revista de Administração de Empresas (RAE) – 42; Revista de Administração da USP (RAUSP) – 25; Revista de Administração Contemporânea (RAC) – 24; Organização & Sociedade (O&S) – 14; Revista de Administração Contemporânea Eletrônica (RAC-Elect) – 1; e FGV/EAESP em parceria com a PwC Brasil – 1. Embora o número de artigos publicados demostre a preocupação com o tema, verificamos que apenas a pesquisa elaborada pela FGV/EAESP e pela PwC Brasil, com o título “O futuro do trabalho no Brasil”, se assemelha às caraterísticas desta tese.

Estudos sobre o trabalho em Angola são escassos. Dos poucos existentes, o destaque vai para os do CEIC, que, normalmente, no seu relatório anual, dedica alguma atenção sobre o emprego e a produtividade, e para a Revista Angolana de Sociologia (RAS), que publicou, de 2000 a 2016, seis artigos com a palavras-chave “trabalho”. Destas pesquisas, nenhuma foi direcionada para o tema “o futuro do trabalho”.

Essa descrição nos leva ao entendimento de que os estudos organizacionais não chamaram para si a centralidade de pesquisas sobre o futuro do trabalho, o que demonstra uma preocupação, tendo em vista que as mudanças registradas no mercado de trabalho surpreendem o nosso quotidiano. Atendendo às características do mercado de trabalho de Angola e à situação econômica que vive no momento, o registro de pesquisa sobre o trabalho, quer seja de discussão global ou direcionada, é pertinente, considerando-se a lacuna de estudos neste sentido e, provavelmente, a ausência de uma área de estudos organizacionais.

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Os vários argumentos desenvolvidos por cientistas sociais, grosso modo, demonstram que o mundo do trabalho vem se transformando a cada dia e exige mudanças tanto das organizações quanto das pessoas. Nesse sentido, vários questionamentos surgem como preocupação para o futuro. Inquietações, como: “Trabalhar para que? ”, “Trabalhar é uma opção ou uma necessidade? ”, “O trabalho está cada vez mais precário” e “Trabalhamos que nem cão nos dias de hoje”. Esses e outros questionamentos são comuns na atualidade (ver, por exemplo: ANTUNES, 2009; RIVERO, 2009; GRINT, 2002; ARENDT, 2013).

Diante dessas e de outras discussões em torno do tema, concordamos com o que defende Morin (2001), segundo o qual é necessário compreender os sentidos do trabalho; sendo que essa compreensão se torna um desafio para os administradores, acatando as múltiplas mudanças que o mundo do trabalho vem conhecendo. Por essa razão, o trabalho deve merecer um sentido para as pessoas que o realizam, em detrimento das várias facetas impostas, tornando as sociedades cada vez mais consumistas e capitalistas.

Em linhas gerais, a crise do trabalho, embora seja genérica, tem sido mais caótica em países em via de desenvolvimento, que enfrentam problemas de mão de obra qualificada, com destaque para o uso das novas tecnologias, tornando mais impactante as transformações do mundo do trabalho. Angola como um país em vias de desenvolvimento, passa por esta realidade, no entanto, o mercado de trabalho passa por dificuldades fruto da maior crise econômica e financeira registrada nos últimos catorze anos. Paralelo a isso, a guerra civil sofrida ao longo dos 27 anos tem sido uma outra influência devido a destruição de infraestruturas em quase todos os setores de atividade. Como consequência, existe um número considerável de mão de obra desqualificada, desemprego em alta (26%), escassez de vagas e de oportunidades de emprego, aumento das exigências aos candidatos e maior rigor nos processos seletivos, bem como, ofertas salariais baixas. No entanto, apesar das estatísticas demonstrarem um aumento no número de técnicos superiores no país, verifica-se que em termos de qualidade a qualificação do trabalhador não é acompanhada, bem como, estes se debatem com a questão da inserção do mercado de trabalho por escassez de oferta, fazendo com que o primeiro emprego seja um sonho de muitos Angolanos.

O futuro do trabalho está adstrito às inovações tecnológicas que, de certa forma, influenciam tanto o mercado de trabalho como as pessoas, que se veem na obrigação de adaptar-se às novas transformações estruturais nessas relações de trabalho. Nesse contexto e partindo dessas considerações, este estudo pretende responder a seguinte

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questão de pesquisa: Quais as implicações e os desafios enfrentados pelas organizações angolanas para atender a evolução das características do trabalho?

O objetivo geral foi compreender: a evolução do futuro do trabalho no mundo e como essa evolução tem afetado as organizações angolanas; compreendendo, também, os desafios que essas organizações enfrentam nas relações com seus trabalhadores. De forma específica, objetiva-se: (i) descrever a situação do trabalho nas organizações angolanas; (ii) analisar se o investimento em tecnologia existente atualmente permite a adoção de novas práticas de gestão; e (iii) compreender como essas mudanças geram desafios de adaptação para as organizações e para os trabalhadores.

Com vista a dar resposta tanto à pergunta de partida, como aos objetivos, adotou-se a análiadotou-se qualitativa. O tipo de pesquisa é descritivo (estatística descritiva). Importa salientar que os dados foram obtidos através de um levantamento survey com aplicação de 181 questionários.

A estrutura desta tese comporta três capítulos. O Capítulo I se dedica ao referencial teórico, no qual abordei as mais diversas discussões contemporâneas existentes sobre o trabalho. Nele, são destacados os seguintes assuntos: progressão tecnológica e trabalho; flexibilização no trabalho; mudanças organizacionais e o perfil dos profissionais; o trabalho em Angola; crescimento e evolução da economia; empresas em Angola; emprego e desemprego em Angola; trabalho e gênero e a questão das empresas em Angola. O Capítulo II é destinado à pesquisa empírica. Nele, são abordados aspectos relacionados à coleta dos dados. O Capítulo III trata da apresentação e da discussão dos resultados. Na parte derradeira da tese, apresento as conclusões da pesquisa e as referências que serviram de sustentação teórica desta tese.

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CAPÍTULO 1 – REFERENCIAL TEÓRICO 1.1 Discussões contemporâneas

As discussões contemporâneas sobre o trabalho demonstram que a revolução tecnológica impôs determinadas mudanças relacionadas com a forma de execução do trabalho, através de novos modelos de trabalho e da sua gestão, fazendo com que as capacidades, as habilidades e as competências se adéquem a estas alterações – o que traz um repensar sobre as novas configurações do trabalho.

Castells (2016:91) ao citar Mokyr (1990:82)4 realça que ao longo do tempo, assistimos mudanças consideráveis, especialmente relacionadas com as “transformações tecnológicas, rápidas e sem precedentes – quando comparadas com modelos históricos”, como aqueles surgidos nos campos da indústria, da agropecuária e das comunicações. Neste sentido, Castells (2016) considera que:

A descontinuidade histórica fundamental irreversível foi introduzida na base material da espécie humana em um processo dependente do percurso, cuja lógica interna e sequencial [...], foram, de fato, “revoluções” no sentido de que um grande aumento repentino e inesperado de aplicações tecnológicas transformou os processos de produção e distribuição, criou uma enxurrada de novos produtos e mudou de maneira decisiva a localização das riquezas e do poder no mundo, que, de repente, ficaram ao alcance dos países e elites capazes de comandar o novo sistema tecnológico (CASTELLS, 2016:91).

Esta descontinuidade histórica mudou a cultura de trabalho, nas sociedades, de maneira drástica. Percebe-se, que, atualmente, o tratamento da informação é o que mais se evidencia como atividade laboral propriamente dita, em detrimento da transformação da matéria, já que estamos perante a mudança da sociedade industrial para a sociedade pós-industrial ou, como muitos a chamam, para sociedade da informação, da turbulência ou da 4ª revolução industrial – pressupostos de uma nova ordem econômica.

Esses impactos, ocorridos de forma diferenciada, exigem o repensar tanto das empresas como dos trabalhadores, que devem atuar de forma veloz e ágil, face as transformações que lhes são impostas. A título de exemplo, observa Castells (2016), desde a crise econômica da década de 1970, a reestruturação do capitalismo tem sido um fato, carregando abordagens diferenciadas de vários analistas que, de certo modo, sustentam a flexibilização nas estratégias organizacionais como forma de lidar com o

4 Mokyr, Joel. The Lever of Riches: Technological Creativity and Economic Progress, Nova York: Oxford

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momento, como é o caso “da transformação da produção em massa à produção flexível”. Estas transformações só foram possíveis com o envolvimento da tecnologia, que consentiu na modificação das grandes linhas de montagens, consideradas típicas de grandes empresas, para unidades de produção facilitada, através de programação tecnológica, visando atender variações do mercado (flexibilização do produto) e das transformações tecnológicas (flexibilidade do processo).

Neste sentido, fica bem claro que a maneira como o trabalho se constituiu começa a ser redimensionada, através da prática de novos métodos de trabalho, proporcionada pelas TIC, que acatam ao exercício da atividade econômica, separado do padrão tradicional de produção, centrada em máquinas e pessoas em amplas organizações fabris, a trabalhar diretamente sob vigilância do empregador (MAGANO, 1999).

Atendendo às novas formas de trabalho e à forma de realização (onde pode ser feito, isto é, qualquer lugar e a qualquer hora), a descentralização do processo produtivo deixa de ser entendida como trabalho domiciliar clássico e passa a ser vista de uma outra forma, com preponderância do trabalho intelectual sobre o manual, sem o mando direto da entidade empregadora.

O franco desenvolvimento do mercado do trabalho e as suas transformações, bem como a forma como as teorias da indústria cultural, da reificação, do fetichismo da mercadoria e da racionalidade instrumental, verificada atualmente no mundo, têm contribuído no deslocamento da atenção da produção para o consumo e os processos de mudanças culturais (FEATHERSTONE, 2007). Como consequência, nos arrastamos de um sistema fundamentado na indústria de bens materiais para outro associado (e mais essencial) com a informação (GIDDENS, 1991).

Estudos de Baumam (2008b) atestam que estamos diante a uma sociedade cada vez mais “plugada”, na qual os hábitos são altamente mutáveis. As redes sociais se tornaram no sucesso do momento e deixaram de ser consideradas o próximo sucesso. O imediatismo cercou o ser humano, tornando-o uma mercadoria atraente e desejável – ao contrário de outrora, quando a posse de grandes quantidades de bens duráveis era sinônimo de segurança (e que se tornou maior posse dos grandes produtores, ou seja, nada era imediato). Segundo Featherstone (2007), a expressão “estilo de vida” está atualmente na moda. Prossegue, dizendo que:

No âmbito da cultura de consumo contemporânea ela conota individualidade, autoexpressão e uma consciência de si estilizada. O corpo, as roupas, o discurso, os entretenimentos de lazer, as preferências de comida e bebida, a casa, o carro, a opção de férias, etc., de uma pessoa são vistos como indicadores

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da individualidade do gosto e o senso de estilo do proprietário/consumidor (FEATHERSTONE, 2007).

Esse conceito, segundo o autor, difere da noção de consumo que se tinha na década de 1950, conhecida como a era do conformismo cinzento e do consumo em massa. O estudo sobre o consumo e a cultura esteve sempre em segundo plano, ou seja, um tema secundário, periférico e feminino, ao contrário da centralidade relativa à produção e à economia, temas mais masculinos. O despertar para discussões desses temas ganhou notória importância no julgamento das afinidades sociais e dos aspectos culturais a partir da década de 1970, devido ao surgimento da era pós-industrial (FEATHERSTONE, 2007). Depreende-se, no entanto, que o tema consumo ganha proporções com o desenvolvimento da tecnologia. A figura do consumidor moderno se impõe (BAUMAN, 2008b). Contudo, nessa perspectiva, o sentido do trabalho se torna questionável, pois o trabalhador se torna um consumista e sofre as consequências que daí advêm.

Bauman (2008b) refere que somos ao mesmo tempo os promotores da mercadoria e as mercadorias que promovemos. Independentemente do nicho no qual cada um se encontra, todos somos habitantes do mesmo espaço social – conhecido como mercado. As tendências recentes da cultura do consumo trouxeram, nos dias de hoje, novas formas exacerbadas de consumo, sem regras, sem escolhas e sem segurança. Nesse aspecto, Bauman (2008b) discute a importância de uma estrutura de segurança das posses voltadas à era do não imediato, ou seja, à sociedade produtora. Ademais, o ambiente confiável, ordenado, regular e transparente se caracterizava nessa estrutura de segurança; pois, como refere:

A sociedade de produtores, principal modelo societário da fase sólida da modernidade, foi basicamente orientada para a segurança. Nesta busca, apostou no desejo humano de um ambiente confiável, ordenado, regular, transparente e, como prova disso, duradouro, resistente ao tempo e seguro. Esse desejo era de fato uma matéria-prima bastante conveniente para que fossem construídos os tipos de estratégias de vida e padrões comportamentais indispensáveis para atender à era do “tamanho é poder” e do grande é lindo: uma era de fábricas e exércitos de massa, de regras obrigatórias e conformidade ás mesmas, assim como de estratégias burocráticas e panópticas de dominação que, em seu esforço para evocar disciplina e subordinação, basearam-se na padronização e rotinização do comportamento individual (BAUMAN, 2008b p.42).

Considerada também como sendo uma era sólida e moderna (sociedade de produtores), nela, residia a satisfação, tendo o comprometimento na segurança de longo prazo e não no desfrute de prazeres imediatistas. Não obstante a descrita importância da sociedade de produtores, ao longo dos tempos, esta foi dando passagem para o surgimento

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da sociedade de consumidores. Lipovetsky (2005) e Bauman (2008b) defendem que essa passagem foi gradual, saindo da opção de não escolher para a opção de múltiplas escolhas, em função das suas necessidades, dando a primazia de o indivíduo assumir características líquidas, conforme denomina Bauman (2008b).

Paralelamente a estes quesitos, uma nova modalidade de trabalho em rede surge. Atestam Boltanski e Chiapello (2009), nos seus estudos, que, a crise estrutural do capitalismo a partir da década de 1970, começa a conhecer uma nova direção, adstrita à perda de influência do protótipo de produção usual, originária da hipergênese financeira vinculada ao novo processo de internacionalização do capital, devido à concorrência intercapitalista e da desregulação dos mercados, bem como da força de trabalho5.

Começa, assim, a nova ordem da força de trabalho, cuja proliferação do trabalho em rede ganha corpo, proporcionando mudanças entre o capital e as propriedades. O mundo conexionista, como chamam Boltanski e Chiapello (2009), provocou uma mudança no plano moral do capitalismo. Esses autores (2009) referem que, num mundo conexionista, a poupança, embora não desapareça, proporciona outro tipo de bem, no qual a raridade (pelo menos nas categorias não confrontadas como necessidade imediata) não diferencia as possessões materiais, mas sim o tempo. Neste pensar, estamos aprisionados ao tempo, sendo que a sua gestão pressupõe manter e estabelecer conexões mais lucrativas, abstendo-se dos considerados desperdícios como os de ordem afetiva. Grosso modo, o apego ao capital (dinheiro e propriedade) se afasta dos hábitos burgueses tradicionais. Como dizem Boltanski e Chiapello (2009), “os modos de atividades mais bem ajustados a um mundo conexionista marcam de fato uma guinada na história do capitalismo, porque contribuem para pôr em ação a definição ocidental da propriedade”. Atendo-se a estes ideais, o mundo do trabalho tem conhecido mudanças permanentes, sendo um fato a sua adaptabilidade às constantes mudanças. A implantação deste novo “vivendi e operandi” do trabalho muda expressivamente a maneira como a empresa organiza suas funções, seu controle e sua infraestrutura, assim como produz alterações na eficácia do indivíduo na sua forma de autodomínio na sociedade. No entanto, o próprio progresso, que veio dar oportunidades de empregos diretos e indiretos, arrecadação de tributos e tantos outros benefícios, também trouxe grandes problemas, como as dificuldades de acesso ao local de serviço, número excessivo de veículos, poluição ambiental, êxodo rural para os grandes centros, falta de segurança, carência de

5 Sobre esta questão, veja-se, com mais detalhes: ALVES, Giovani. Trabalho e subjetividade: o espírito

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residências, elevados custos dos aluguéis de residências e tantos outros, o que obriga as pessoas a residirem em bairros ou em municípios vizinhos do seu local de trabalho, ou mesmo proporcionar uma representatividade conexionada, onde o local de trabalho não constitui um apego.

Solucionado um problema, surgem outros, como a dificuldade de acesso rodoviário e de transporte e a poluição ambiental em decorrência dos gases poluentes expelidos pelos meios de transporte e, concomitantemente, os congestionamentos, trazendo imensos problemas às populações, como estresse, gastos de combustíveis desnecessários, perigos de acidentes e de assalto, perda de tempo etc. – situações registradas nas grandes cidades, que impulsionam uma diferente forma de trabalho: o trabalho descentralizado.

No entendimento de Harvey (2012), existem duas formas evidentes de narrar as transformações verificadas no final do século passado, concomitantemente às saídas neofordista e pós-fordista. Na neofordista, que se constitui uma continuidade fordista, percebeu-se uma rotura; ao passo que, na pós-fordista, que se considera como uma saída, denotou-se o inverso, sendo a inovação a tônica dominante para uma nova configuração fordista. Uma terceira opção (a que o autor mais se afinca) estaria relacionada às “tecnologias e às formas organizacionais flexíveis que, entretanto, não se mostrou hegemônica” em relação ao fordismo precedente, como defende Harvey.

Todas essas mudanças no sistema capitalista de produção contribuíram, em grande medida, na transformação dos modelos de negócio, bem como no trabalho e no perfil do trabalhador, conforme acima narrado. Não obstante, a partir da década de 1990, começam a emergir as tecnologias de informação e comunicação em rede reconfigurando os negócios, com o surgimento de transformações práticas das empresas de diferentes portes, ramos de atividade, bem como nas relações entre os stakeholders e os shareholders, além de outros tipos de relações advindas.

Nos seus estudos, Castells (2003) considera a existência de várias características de empresas emergentes em redes, como: escalabilidade, interatividade, flexibilidade (com destaque na sua administração), marca e customização. Um dos setores que considera existir um dos modelos de empresa em rede em todo espectro é o de vestuário. Castells aponta sua flexibilidade administrativa e de produção como a garantia da comercialização em grande escala global. O mercado mundial, nos dias de hoje, está suportado por conexões (redes), cujo atendimento de um determinado produto, por exemplo, comprado no Brasil, pode ser feito por um espanhol ou vice-versa. Neste prisma, defende o autor, o perfil do trabalhador passa por mudanças, tornando-o capaz de satisfazer essa nova

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exigência de perfil, adequando-se as novas modalidades oferecidas pelo mercado de trabalho e não só, pois, como afirma Castells (2003, p. 77), “se a avaliação do mercado financeiro indica o resultado final do desempenho da companhia, é o trabalho que continua sendo a fonte de informação e competitividade”. O autor prossegue, dizendo que, “além disso, o trabalho é mais importante que uma economia que depende da capacidade de descobrir, processar e aplicar informação cada vez mais em rede”. Não obstante, o trabalho nunca foi tão valorizado.

De modo geral, pode-se depreender que a tecnologia e a agência no processo de inovação não são um problema simples de explorar, como o contexto social de tecnologias de influências de uso que são construídas socialmente em um contexto de fomentador e vice-versa.

Pesquisas de Badham (2006) consideram que, a pesquisa sobre a construção social e dinâmica da ciência e da tecnologia ao longo das últimas décadas, tem influenciado fortemente as investigações da tecnologia e da transformação do trabalho, sendo a tecnologia tida como uma influência exógena, na qual o impacto discernido cientificamente pode ser adaptado. Badham (2006), ao citar McLoughlin (1999), discorre que os estudiosos consideram, cada vez mais, o termo mudança tecnológica como um processo social, em que a agência social na forma da cultura de trabalho, estrutura, e na forma de políticas de como a tecnologia é projetada, implementada e utilizada. Os debates adstritos ao tema têm produzido reconhecimento e especulações sobre o futuro do mundo do trabalho face ao impacto da nova geração tecnológica. O argumento apresentado pelo autor tem a ver com o valor de adotar uma abordagem integrativa multidimensional para explorar mudanças tecnológicas no trabalho.

Badham (2006) defende que as análises tradicionais do impacto da tecnologia, bem como explorações mais recentes do papel da agência social na definição de tecnologia, não são necessariamente uma competição, mas que ambos tratam de questões duradouras e de suma importância no estudo da tecnologia e da transformação do trabalho.

No entanto, apesar do seu valor e da sua relevância permanente, as versões mais fortes destas abordagens permanecem restritas a uma abordagem unidimensional ao local de trabalho e sua transformação, atendendo ao efeito da técnica sobre o social e vice-versa. Numa abordagem mais complexa, reconhece-se a influência entre o técnico e o social, ou seja, a abordagem bidimensional que precisa ser integrada com o explorar de uma terceira dimensão – a esfera emergente do sociotécnico, uma realidade sui generis, com características, dinâmicas e efeitos que não são redutíveis a seus componentes sociais

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e técnicos. Essa terceira dimensão é composta de complexas combinações entrelaçadas de elementos humanos e não-humanos (pessoas e coisas). Este argumento não pode ser entendido como a superioridade da abordagem tridimensional, mas, sim, como a importância de integrar as três dimensões de análise. Badham (2006) defende, ainda, que a questão não é se a tecnologia traz mudança social ou se as mudanças sociais causam o surgimento da tecnologia; a questão é o que muda e em quais circunstâncias.

1.2 Progressão tecnológica e trabalho

O século XX é apontado como o início da revolução industrial e, concomitantemente, das grandes transformações registradas no sistema capitalista. Essas transformações tiveram grande impacto no mundo do trabalho e se arrastam até a atualidade, trazendo incertezas para o futuro do trabalho. Por essa razão, vários questionamentos surgem neste sentido: a centralidade do trabalho (OFFE, 1989); a era do acesso e o fim do emprego (RIFKIN, 2001; 2004); o trabalho como opção ou necessidade (RIVERO, 2009); o adeus ao trabalho e a sua precariedade (ANTUNES, 2011). Todavia, o futuro do trabalho é da incerteza, fruto da progressão tecnológica que, cotidianamente, invade o mundo do trabalho, impondo mudanças para as empresas e para as pessoas que, sucessivamente, estão sujeitas às mudanças. Por conta disto, maiores incertezas estão na economia, com uma balança que varia entre a recessão e o boom econômico, impondo uma “nova ordem econômica”, como observa Pochmann (2002); mas também na identificação de atividades econômicas associadas a novas tecnologias que impactam o mundo do trabalho.

Nas suas pesquisas, Pochmann (2002) defende existir três características fundamentais que marcam a história do capitalismo através dos principais agentes econômicos: (i) o profundo princípio da incerteza das ações capitalistas; (ii) o crescimento da insegurança no mundo do trabalho; e (iii) a ampla instabilidade governamental. Em tese, a incerteza defendida pelo autor está patente na existência da concorrência desregulada das empresas, onde se identifica a expansão da concentração e da centralização do capital, que poderão derivar na imprecisão de quais são os grupos econômicos que continuarão dominantes. Esta incerteza torna-se mais forte com o avanço das tecnologias – o que poderá se estabilizar, como fruto de uma nova regulação da concorrência e da estabilidade tecnológica. No segundo momento, a insegurança está nos direitos da estabilidade do trabalhador, que vê as suas ocupações serem trocadas por

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segundas categorias, o que proporciona o abandono do pleno emprego e, substancialmente, a recaída para a precariedade de parte da sua ocupação; e o terceiro momento da insegurança é visível na instabilidade governamental e dos representantes sociais. Este último aspecto é muito defendido pela literatura, que tem demonstrado a incapacidade dos governos em garantir a estabilidade do emprego, o que torna o trabalhador mais frágil na luta por uma estabilidade no mundo do trabalho. Talvez seja por essa razão que Rifkin (2004), ao defender a sua tese sobre o desemprego no mundo, chame a atenção para a existência da necessidade de maior assistência social dos governos na forma do que denomina de “salário social”, assim como inputs para o desenvolvimento do terceiro setor – das organizações sem fins lucrativos.

As modificações do trabalho, que datam desde o início da revolução industrial, enfatizam as discussões relativas às mudanças impostas no que se referem às novas oportunidades de emprego e às qualidades decorrentes, propondo grandes desafios para os trabalhadores. Nesse sentido, a invasão tecnológica, no mundo do trabalho, contribuiu para as desigualdades sociais em todos os sentidos. Ao citar a tese de Tosel (1995)6, Antunes (2011) discorre que:

É a própria centralidade do trabalho abstrato que produz a não centralidade do trabalho presente da massa dos excluídos do trabalho vivo que uma vez (des) socializados e (des) individualizados pela expulsão do trabalho, procuram desesperadamente encontrar formas de individuação e de socialização nas esferas isoladas do não – trabalho (atividade de formação de benevolência e de serviço), Antunes (2011:175).

Neste sentido, como frisa o autor, a ciência está se convertendo na principal força produtiva em substituição do “valor-trabalho” – o que desconsidera, na visão do autor, a interação entre o trabalho vivo e o avanço tecnocientífico em razão do desenvolvimento capitalista.

Nos seus estudos, Kotler (2015) chama a atenção sobre o desenvolvimento da tecnologia que, no seu entender, desde o início da revolução industrial, tem vindo a causar desemprego massivo e a representar grande desafio para as indústrias que, rapidamente, têm que se automatizar, sob pena de extinção. A rápida progressão tecnológica traz consigo incertezas que tornam o ser humano um trabalhador do conhecimento que, no seu cotidiano, tem de lidar com as mudanças impostas. Nesta linha de entendimento;

6 TOSEL, André. Centralité et non-centralité du travail ou la passion des hommes superflus. In: BIDET,

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O computador pessoal, a internet, os novos materiais a substituírem os antigos, a biotecnologia, entre tantos outros novos descobrimentos técnico-científico, cria perspectivas de conformação dos novos parâmetros capazes de fundamentar a sociedade do conhecimento. Tudo isso, é claro, direcionado às perspectivas que são abertas na primeira década do século 21, (POCHMANN, 2002:11).

Em contraponto, estes avanços tecnológicos propiciam a desigualdade em termos de desenvolvimento, que se arrasta desde a primeira e a segunda revoluções industriais, afetando em demasia os países subdesenvolvidos e com renda per capita baixa, o que dificulta o desenvolvimento tecnológico e o acesso da população. Defende Pochmann (2012) que o sucesso tecnológico deve estar alinhado às condições sociais, políticas, econômicas e culturais internas e externas. Nesse sentido, a macroeconomia é fundamental para o combate às desigualdades, no que tange à remuneração e às condições de trabalho. A existência de assimetrias relativas à progressão tecnológica distancia os países desenvolvidos dos países emergentes e subdesenvolvidos (com realce para os países pobres da África), onde o acesso à tecnologia de informação é ainda considerado extremamente restrito – esse acesso reduz-se às famílias consideradas abastadas. No caso de Angola, os dados do INE, em 2014, referem que 37,5% da população com 5 ou mais anos têm acesso a telefone celular, 9,9% têm acesso a computador e 10,2% têm acesso à internet, o que espelha bem a situação dos países subdesenvolvidos.

Essas mudanças serão mais drásticas para o mundo do trabalho com o advento da quarta geração industrial, conforme denominou Schwab (2016:18), que defende que estamos diante de uma nova ciência da vida, sob a forma da biotecnologia e da nanotecnologia, pois, como afirma:

A escala e o escopo da mudança explicam por que as rupturas e as inovações atuais são tão significativas. A velocidade da inovação, em termos de desenvolvimento e rupturas, está mais rápida do que nunca. Os atuais disruptores – Airbnb, Uber, Alibaba e afins – que hoje já são nomes bem familiares eram relativamente desconhecidos a poucos anos (Schwab, 2016:18).

Para vários autores, o mundo caminha para o mais rápido desenvolvimento tecnológico da sua história sem que, contudo, estejamos preparados para enfrentá-lo ou mesmo preparados para o risco de uma guerra biológica ou química ou preparados, por fim, para a sobrevivência da própria vida humana após um holocausto nuclear. Como defende Schwab (2016), o que difere a terceira revolução industrial – a era dos microchips

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– da quarta revolução industrial – a era da nanotecnologia – é o uso das tecnologias de informação, que se liga à internet das coisas – que permite a conexão virtual e os elementos físicos reais.

Estas tendências afetarão em demasia o mundo do trabalho, que poderá assistir o desmoronar de várias indústrias que, por fatores econômicos, não poderão acompanhar as mudanças relativas ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia, tendo, como consequência, número elevado de desempregados. Segundo Kotler (2015),

Queremos avaliar não apenas o bem-estar do trabalhador hoje em dia, mas também qual será a perspectiva para o bem-estar dele no futuro, examinado especificamente se o capitalismo poderá gerar empregos suficientes para as pessoas em um futuro marcado pela crescente automatização. A Organização Internacional do Trabalho, uma agência das Nações Unidas, estima que o número de pessoas desempregadas no mundo hoje é superior a 200 milhões, e a situação provavelmente ficará pior (KOTLER, 2015:110)7.

A necessidade de mudança imposta em razão do desenvolvimento e da progressão tecnológica faz com que o trabalhador se adapte a esta nova realidade, mormente no aumento dos seus conhecimentos técnico profissionais, sob pena de cair no desemprego. Nesse sentido, as relações duradouras entre trabalhador e empresa deixam de ser uma tendência vigente do passado, quando a manutenção das pessoas na organização era vista como uma estratégia. O surgimento da quarta revolução industrial impõe mais mudanças para as organizações e para os trabalhadores, o que permitirá flexibilização nas mais variadas formas de trabalho, que constituirá estratégias para a junção entre organização e o trabalhador. Nos seus estudos sobre a presença da revolução industrial, Schwab (2016) apresenta algumas mudanças profundas à sociedade em função da conectividade digital de software, sendo que a escala do impacto e a velocidade das mudanças diferenciam-se das revoluções tecnológicas anteriores. O autor apresenta 21 mudanças tecnológicas e duas adicionais8, conforme se segue:

7 Citação retirada por Kotler (2015) em

http://www.pbs.org/newshour/rundown/more-than-200-million-people-were-unemployed-in-the-world-in-2013/.

8 O impacto sobre estas mudanças profundas referidas pelo autor foi extraído do relatório de 2015 referente à pesquisa sobre mudanças profundas – pontos de inflexão tecnológicos e impactos sociais do Conselho da Agenda Global do Fórum Econômico Mundial sobre o futuro do software e da sociedade, como resultado de uma pesquisa feita com 800 executivos, do qual, como resultado, foram extraídas 21 mudanças tecnológicas e duas adicionais.

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Quadro 1: 21 mudanças tecnológicas consideradas profundas que ocorrerão no mercado de trabalho MUDANÇA 1: TECNOLOGIA IMPLANTÁVEIS

O ponto de inflexão: o primeiro telefone celular implantável e disponível comercialmente. Até 2025: 82% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 2: NOSSA PRESENÇA DIGITAL

O ponto de inflexão: 80% das pessoas com presença digital na internet. Até 2025: 84% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra. MUDANÇA 3: A VISÃO COMO UMA ANÁLISE DE INTERFACE O ponto de inflexão:10% de óculos de leitura conectados à internet.

Até 2025: 86% dos entrevistados esperam que este ponto de inflexão ocorra. MUDANÇA 4: TECNOLOGIA VESTÍVEL

O ponto de inflexão: 10% das pessoas com roupas conectadas à internet Até 2025: 91% dos entrevistados esperam que este ponto de inflexão ocorra. MUDANÇA 5: COMPUTAÇÃO UBÍQUA

O ponto de inflexão: 90% da população com acesso regular à internet. Até 2025: 79% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra. MUDANÇA 6: UM SUPERCOMPUTADOR NO SEU BOLSO

O ponto de inflexão: 90% da população com smartphones.

Até 2025: 81% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra. MUDANÇA 7: ARMAZENAMENTO PARA TODOS

O ponto de inflexão: 90% das pessoas com armazenamento ilimitado e gratuito (financiado por

propagandas publicitárias).

Até 2025: 91% dos entrevistados esperam que este ponto de inflexão ocorra. MUDANÇA 8: A INTERNET DAS COISAS E PARA AS COISAS O ponto de inflexão: 1 milhão de sensores conectados à internet.

Até 2025: 89% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra. MUDANÇA 9: CASA CONECTADA

O ponto de inflexão: mais de 50% do tráfego da internet consumido nas casas para os aparelhos e

dispositivos (não para o entretenimento ou a comunicação).

Até 2025: 70% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra. MUDANÇA 10: CIDADES INTELIGENTES

O ponto de inflexão: a primeira cidade com mais de 5 mil pessoas e sem semáforos. Até 2025: 64% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra. MUDANÇA 11: BIG DATA E AS DECISÕES

O ponto de inflexão: o primeiro governo substituído por fontes de big data Até 2025: 83% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra. MUDANÇA 12: CARROS SEM MOTORISTAS

O ponto de inflexão: Carros sem motoristas chegarão a 10% de todos os automóveis em uso no EUA. Até 2025: 79% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 13: A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E A TOMADA DE DECISÕES

O ponto de inflexão: a primeira máquina com IA a fazer parte de um conselho de administração. Até 2025: 45% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra.

MUDANÇA 14: A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E AS FUNÇÕES ADMINISTRATIVAS O ponto de inflexão: 30% das auditorias corporativas realizadas por IA.

Até 2025: 75% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra. MUDANÇA 15: ROBÓTICA E SERVIÇOS

O ponto de inflexão: o primeiro farmacêutico robótico dos EUA.

Até 2025: 86% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra. MUDANÇA 16: BITCOIN E BLOCKCHAIN

O ponto de inflexão: 10% do produto interno bruto mundial (PIB) armazenado pela tecnologia

blockchain.

Até 2025: 58% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra. MUDANÇA 17: ECONOMIA COMPARTILHADA

O ponto de inflexão: globalmente, mais viagens/trajetos por meio de compartilhamento do que em

carros particulares.

Até 2025: 67% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra. MUDANÇA 18: OS GOVERNOS E O BLOCKCHAIN

O ponto de inflexão: primeira arrecadação de impostos através de um blockchain Até 2025: 73% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra. MUDANÇA 19: IMPRESSÃO EM 3D E FABRICAÇÃO

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O ponto de inflexão: produção do primeiro carro impresso 3D.

Até 2025: 84% dos entrevistados esperam que este ponto de inflexão ocorra. MUDANÇA 20: IMPRESSÃO EM 3D E SAÚDE HUMANA

O ponto de inflexão: o primeiro transplante de um fígado impresso em 3D. Até 2025: 76% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra. MUDANÇA 21: IMPRESSÃO EM 3D E PRODUTOS DE CONSUMO O ponto de inflexão: 5% dos produtos aos consumidores impressos em 3D. Até 2025: 81% dos entrevistados esperam que esse ponto de inflexão ocorra. MUDANÇA 22: SERES PROJETADOS

O ponto de inflexão: nascimento do primeiro ser humano cujo genoma humano inteiro foi direto e

deliberadamente editado.

MUDANÇA 23: NEUROTECNOLOGIAS

O ponto de inflexão: o primeiro humano com memória totalmente artificial implantada no cérebro. Fonte: Adaptado de Schwab (2016:115-159)

Com o começo da 4ª revolução industrial, o mundo do trabalho tem conhecido e conhecerá mudanças profundas devido os avanços desenvolvidos com as tecnologias de informação em todos os setores de atividade humana. Essas mudanças poderão trazer, por um lado, alienação e, por outro, sofrimento. Por esta razão, a flexibilização pode-se tornar uma ferramenta prática de inovação visando o alcance da subjetividade humana, atendendo os interesses e as necessidades reinantes ante o capital, pressupostos existentes no modo de produção capitalista.

Ao nos atermos nestas prováveis mudanças, ocorrerá, de certa forma, a flexibilização entre as organizações e os trabalhadores, tendo em conta que muitas destas inovações só serão possíveis com a existência do trabalho em sistema de nuvem, dispensando a presença física do trabalhador, os problemas de mobilidade geográfica e funcional e outros. A flexibilidade incentiva a qualidade e a inovação organizacional, bem como melhora as relações de trabalho entre a organização e o trabalhador em várias frentes de atuação sem, contudo, as partes se desvirtuarem das leis trabalhistas. Esses aspectos serão tratados no ponto seguinte.

1.3 Flexibilização do trabalho

Conforme as discussões já elencadas, o mundo do trabalho e do consumo está adstrito à nova faceta do capitalismo, bem como às transformações tecnológicas que, a todo tempo, vêm mudando o modus vivendi e o modus operandi das sociedades, desde as consideradas mais modernas até as consideradas em desenvolvimento ou em vias de desenvolvimento. A flexibilização do trabalho surge com a revolução industrial, embora alguns autores defendam o seu surgimento antes, de forma amiúde. Pastore (1994)

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defende que a flexibilização pressupõe a perda dos direitos adquiridos, quer seja por negociação com entidade empregadora ou pela flexibilização exposta por lei trabalhista, o que pode causar a diminuição da proteção do trabalhador, além de outros benefícios. A flexibilização pode ser adotada por vários motivos, entre os quais situações econômicas e evolução tecnológica. O surgimento de uma nova tecnologia pode dar lugar à adaptação de novas normas flexíveis que podem ser negociadas com o objetivo de salvaguardar a manutenção do emprego.

Nas suas pesquisas, Gonçalves (2007:115) fundamenta esta tese com base na visão da economia do mercado. Segundo o autor, “a flexibilização se fundamenta ideologicamente na economia de mercado e na saúde financeira das empresas”, portanto, a flexibilização, em parte, contribui para o número elevado de empregados excluídos do emprego formal que, ao ingressarem no desemprego, perdem a sua dignidade. Para Kovács (2014), a flexibilidade é sinônimo de liberdade e autonomia individual, de empreendedorismo e empregabilidade. Em termos de definição, é “a capacidade das empresas de se adaptarem as variações de atividade conjuntural ou estrutural, decorrentes de flutuações dos mercados, produtos, tecnologia ou de clientela” (GUELAUD e LANCIANO, 1991, apud KOVÁCS, 2014:34). Segundo Kovács, é um mito a afirmação segundo o qual as pessoas estão sujeitas a levar uma vida de insegurança e a aprender a desejá-la, quando falamos de flexibilização. Kovács defende a tese de que a flexibilidade de trabalho e do emprego pode conter riscos9, mas pode ser entendida como uma

oportunidade10. Todavia, a autora defende que a flexibilidade do mercado de trabalho

deve ser vista como promotora do crescimento da economia e do emprego. Apesar de esta ser uma realidade, contraria os defensores de uma perspectiva pessimista, que defendem que a flexibilização desregula o mercado de trabalho, liberaliza a privatização, promove o desemprego, aumenta o emprego precário e deteriora as condições de vida e de trabalho (KOVÁCS, 2016).

Dificilmente, o mundo ficará dissociado das tecnologias de informação e da forma como a cultura do consumo invade a vida de qualquer cidadão. É notória a forma oculta como é imposta à sociedade o uso das novas tecnologias e que, por conta disso,

9 “Precariedade de emprego, remunerações baixas e irregulares, ocupações pouco qualificadas, ausência ou

escassez de oportunidades de formação, conflitos com a vida familiar e agravamento da segregação sexual e das desigualdades sociais” (KOVÁCS, 2016:34).

10 “Possibilidade de uma participação laboral mais adequada às necessidades e aspirações individuais,

alargamento das qualificações, acesso a empregos bem remunerados, maior autonomia, melhor articulação com a esfera familiar e pessoal, e melhoria da qualidade de vida” (KOVÁCS, 2016:34).

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Figura 2: Modelo do processo contínuo da mudança organizacional
Tabela 1: Programa do emprego em Angola entre 2002 e 2015  Setores de  atividade  2002  2004  2006  2008  2010  2012  2014  2015  Agricultura,  pecuária  e  floresta  2.231.434  2.369.037  2.510.897  2.621.107  2.621.107  2.913.360  2.932.763  2.959269  Pe
Figura 5 – Evolução do número de estudantes matriculados no período 2002/2014
Tabela 05 - Taxa de atividade por sexo
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Referências

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