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ENSAIOS DO PROCESSO DE TRABALHO NA SAÚDE À LUZ DAS CONCEPÇÕES DE NATUREZA EM MARX: reflexões para o conceito de Saúde Socioambiental na área da Saúde Coletiva

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Saúde & Amb. Rev., Duque de Caxias, v.4, n.2, p.15-19, jul-dez 2009. Página 15

ENSAIOS DO PROCESSO DE TRABALHO NA SAÚDE À LUZ DAS

CONCEPÇÕES DE NATUREZA EM MARX: REFLEXÕES PARA O CONCEITO

DE SAÚDE SOCIOAMBIENTAL NA ÁREA DA SAÚDE COLETIVA

NADIA FERRETTI1*, MARTA REGINA CEZAR-VAZ1

1 Departamento de Educação Ambiental e Enfermagem.Universidade Federal do Rio Grande - FURG.* nadia.ferretti@hotmail.com Rua Visconde de Paranaguá 102 Centro - Rio Grande CEP único: 96.201-900.

RESUMO

Os planejamentos para as ações em saúde têm relação com a compreensão do conceito de saúde, que por sua vez, pode ser re-elaborado na praticidade das ações. Entretanto, dentro de mesmas áreas, a saúde apresenta dificuldades no planejamento e entrelaçamento de suas ações, uma vez seu conceito ter diferentes significados para os setores dos quais depende. Frente à magnitude da problemática socioambiental atual, a compreensão do conceito de saúde exige a sua discussão mais ampla do processo de trabalho, para ultrapassar os limites setoriais. Com a finalidade de contribuir com os estudos que refletem o processo de trabalho na relação entre saúde e ambiente, esse ensaio pretende pensar o conceito de Saúde Socioambiental na aplicação relacional das “Três Naturezas compreendidas em Marx”.

Palavras-chave: trabalho, saúde, natureza, transformação.

TESTING THE PROCESS OF WORKING IN THE LIGHT OF HEALTH

PLANNING IN NATURE MARX: REFLECTIONS ON THE CONCEPT OF

ENVIRONMENTAL HEALTH IN THE AREA OF PUBLIC HEALTH

ABSTRACT

The planning for health actions are related to understanding the concept of health, which in turn can be re-established the practicality of the shares. However, within the same areas, health presents difficulties in planning and intertwining of their actions, since its concept has different meanings for the sectors on which it depends. Faced with the magnitude of current environmental problems, understanding the concept of health requires its broader discussion of the work process, to overcome the sector boundaries. In order to contribute to studies that reflect the process of working on the relationship between health and environment, this essay seeks to consider the concept of Environmental Health in the implementation of the relational "Three Natures included Marx.

Keywords: work, health, nature, transformation. INTRODUÇÃO

Este estudo reflete considerações acerca da produção da saúde, em especial para o trabalho na Saúde Coletiva, utilizando como elementos articuladores à compreensão das “Três naturezas em Marx”, por meio de apropriações de

parágrafos da obra „Marx e a Natureza em o Capital‟ e algumas citações que Marx fez em seus manuscritos.

As fontes apresentadas anteriormente permitem, ao menos, três concepções de natureza em Marx: a natureza física corresponde aos recursos renováveis e primitivos (fauna, flora, água, terra, sol, terra etc); a natureza humana, caracterizada pela essência humana, em que o “homem alienado de si mesmo é também o pensador alienado de sua essência; da essência natural e humana” (MARX, 1995, p. 47); e, a natureza criada, seja criada com

o equilíbrio entre a natureza humana e física, ou da desarmonia entre essas.

A justificativa dessa reflexão com o conceito e produção da saúde também tem inspiração em Leopardi et all (1999), ao inferir que o processo de trabalho em saúde se dá em congruência ao conceito de saúde. Logo o planejamento e o desenvolvimento das atividades em saúde dependem da produção do conceito da saúde: Se o conceito se ampliar, modifica-se o

significado e complexifica-se a própria natureza dessa profissão. Tal processo, no entanto, dependerá da mudança conceitual no interior da sociedade como um todo, para o que profissões voltadas para um sentido de qualidade de vida, possam contribuir, dispondo-se a certos

enfrentamentos sociais, anunciando suas posições de modo mais enfático e denunciando os diversos tipos de iatrogenias, sejam elas mecânicas,

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químicas, psíquicas ou morais. (LEOPARDI et all, 1999, p.17)

Ao trazermos esta consideração, observamos que a compreensão de um conceito não se sustenta apenas com o imaginário teórico, mas pela sua aplicabilidade frente às necessidades atuais. Isso explica, portanto, porque muitos conceitos que foram oportunos e acreditados em épocas passadas, não mais correspondem aos anseios atuais. Ou seja, as vivências ao longo da história foram “testando” os conceitos por meio de sua praticidade e, em principio essas praticidades reformularam os conceitos. Um conceito somente pode se dar o direito à conservação quando se constituir por elementos em movimento e flexíveis ao tempo.

O Processo de Trabalho na Saúde e as Duas Naturezas em Marx

Para compreensão do processo de trabalho, partimos da premissa de que o trabalho entendido como toda e qualquer atividade humana, não somente constitui seu produto, mas ao próprio homem por meio da re-laboração da sua consciência nesse processo. Ou seja,

O homem atua sobre a natureza com o objetivo de se apropriar de suas matérias para a satisfação de suas necessidades orgânicas e, no que ele a transforma, transforma também a sua própria

naturez. (MARX, 1981, p. 192, apud DUARTE,

1995, p.63)

Por essa frase também se evidenciam ambas duas concepções de natureza em Marx: a natureza

física que se satisfaz com a atenção as suas

necessidades orgânicas, e a natureza humana. Fica explicito que ambas tem uma forte relação. Podemos associar algumas citações do autor, para com entre as condições ambientais de

sobrevivência fisiológica do individuo e, a saúde. Na citação a seguir, por exemplo, ele adverte que, com o advento do lucro, a saúde humana (em analogia ao ar como condição de existência) que era permeada diretamente pelas relações do indivíduo com a natureza, ficou subjugada ou secundária a necessidade da realização de um objeto do qual, antes, não era condição direta para sua existência. Mas, que pelo arranjo do mercado posto, passa a ser, mesmo que o trabalho ali proposto não seja suficiente para a digna sobrevivência:

A própria necessidade de ar livre deixa de ser necessidade para o trabalhador; o homem retorna à caverna que, entretanto, está envenenada com pestilência mefítica da civilização, e ele habita apenas precariamente, como um poder estranho,

que pode escapar dele a cada dia, e da qual pode a cada dia ser expulso, senão pagar. (MARX p. 256, apud DUARTE, 2005, p.50)

Distintamente, o trabalho consciente e a potencialidade humana da previsão do objeto de trabalho, quando produzido segundo o desejo do trabalhador, significam o privilégio do homem sobre os demais seres vivos:

O ser humano e o trabalho não adquirem o mero significado da substituição, o trabalho é sua criação, o significado sua interpretação criativa que, além da coextensiva `a compreensão, tem uma estrutura de antecipação, vinculando-se a algo pré-dado, de modo que o antecipar e explicar se conjugam indissoluvelmente em todo o ato de interpretar. Ato que é realizado espontaneamente na compreensão. O trânsito entre potência e ação circunscreve e limita a compreensão, reafirmando a participação finita do individuo, de modo que somente pode ser compreendido em seu desenvolvimento como trabalho, diferentemente da pura atividade instintiva para a sobrevivência. (CEZAR-VAZ, 1999, p. 58)

Justamente esta dialética entre a potencialidade do homem para a ação transformadora da

natureza e a sua capacidade em projetar o trabalho e prever seu produto que precisam ser revistas e praxizadas a fim da harmonia e sustentabilidade socioambiental. Essa modificação conjugada caracteriza uma mútua transformação sujeito-objeto na elaboração do produto. O produto é um valor-de-uso, um material da natureza adaptado às necessidades humanas através da mudança de forma” (MARX, 1982, p.205).

Ocorre que, no trabalho dado, se originalmente “a natureza se apresenta ao homem como sua fonte de meios de vida e de meios de trabalho”, no capitalismo, “quanto mais o trabalhador se apropria da natureza, mais ela deixa de lhe servir como meio para seu trabalho e meio para si próprio” (MARX e ENGELS, 1841, apud DUARTE, 1995, p.47).

Assim, este atributo inerente à espécie humana não pode ser compreendido, atualmente, como sinônimo de qualidade humana, pois serve para o sustento da reprodução da lógica interna do modo de produção vigente que coloca “ser capitalista” como uma situação de sobrevivência e proteção individualista. Em outras palavras,

No mundo contemporâneo viver em sociedade pode significar enquadra-se às opções oferecidas pelo sistema de produção e consumo, orientar-se pelas leis e normas sociais, atender aos apelos da

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moralidade vigente, responsabilizando-se individualmente por sua ascensão na hierarquia das classes. (CEZAR-VAZ, 1999, p.11) Em oposto ao individualismo, valorizamos o trabalho coletivo. Entendemos por „coletivo‟, uma rede de relações em que, por exemplo, considera que nem sempre basta apenas o desejo dos profissionais e moradores locais de uma

comunidade, para se construir a melhoria de sua qualidade de vida. É preciso que os diversos setores tratem a saúde como não restrita a um bem ou meta individual em si, mas dependentes de várias variáveis, principalmente políticas,

econômicas, sociais e ambientais que estruturam a sociedade. Segundo Tambellini & Câmara, p.52, 1998.

(...) os níveis de saúde encontrados nas coletividades são conseqüências do jogo complexo de interações que se desenvolvem no interior de formações sociais definidas. E é neste sentido que o nível de saúde de uma coletividade é contingente em termos ambientais e sociais às relações de produção e sua dinâmica que, ao se relacionarem e/ou submeterem os indivíduos e seus coletivos, distribuem possibilidades diferenciadas de exposições a agentes, cargas e riscos, fase pretérita iniciante dos processos mórbidos. Assim, a questão da saúde passa a apontar para o plano das relações entre produção, ambiente e saúde.

As colocações anteriores permitem pensar a saúde no sentido da potencialidade humana - inerente da

natureza humana - sobre a natureza física. Nesse

exercício associamos que ainda há uma indução do mercado à produção da saúde no seu conceito mais restrito.

A Saúde na Consideração da Terceira Natureza em Marx

Marx apresentou em suas escritas, a consideração de uma terceira natureza. A essa, atribuiu um caráter de construção, ou seja, a compreende como produto da criação humana.

Para o autor, o caráter de uma espécie se constrói no tipo de atividade vital que ela exerce. O caráter genérico do indivíduo é a sua atividade livre e consciente, diferentemente do animal, que é imediatamente uno com sua atividade genérica. Já o trabalho alienado faz da essência humana somente um meio para sua existência:

(...) natureza devindo na história humana – no ato de produção da sociedade humana-é a natureza

efetiva do homem, por isso a natureza como ela se

torna através da indústria, ainda que de forma

alienada, é a verdadeira natureza antropológica. (MARX p.245, apud DUARTE, 1995, p. 52) Este produto, por sua vez, produz novas carências de ajustamento e necessidade de aquisição, significando “uma história natural interagindo com uma natureza histórica” (DUARTE, 1995, p. 55).

A natureza criada pela ação humana, ou terceira natureza precisa ser considerada na produção da saúde, pois ela produz as mudanças das carências e organizações sociais. Para a terceira natureza, Marx exemplifica que,

(...) as árvores frutíferas, enquanto objetos naturais que, longe de estarem onde sempre estiveram, foram historicamente “produzidas”: A cerejeira foi como quase todas as árvores

frutíferas, como se sabe, plantada em nossa região há poucos séculos, através do comércio, e a “certeza sensível” de Feuerbach foi, portanto, dada primeiramente através dessa ação de uma determinada sociedade num determinado tempo. (MARX P. 392, apud DUARTE, 1995, p. 53-4) Ao considerarmos a produção da saúde mediada pelo caráter genérico do individuo, ou

propriamente seu potencial de trabalho, tratamo-la de forma mais ampla, seja a saúde do ambiente enquanto dispondo de um conjunto ecossistêmico harmonioso que favorece o do trabalho de produção: “saúde socioambiental do planeta”; e a

saúde do indivíduo enquanto absorvido/

apoderado da relação desses elementos, expressos em si como unidade concreta.

(...) a saúde como um bem em si, um valor humano desejado, uma meta ideal (a realização e gozo do potencial humano) e, portanto, além das contingências do ambiente ou do sistema social. Mas também fica claro que os níveis de saúde encontrados nas coletividades são conseqüências do jogo complexo de interações que se

desenvolvem no interior de formações sociais definidas. (...). Assim, a questão da saúde passa a apontar para o plano das relações entre produção, ambiente e saúde. (TAMBELLINI & CÂMARA, 1998, p.52)

Pensando a saúde nesse conceito ampliado, adotamos o termo “saúde socioambiental” por pensar a saúde do ambiente que depende do indivíduo, no sentido de que pode oscilar entre a preservação e a destruição; e a saúde do próprio

indivíduo, que também depende de suas relações

com o ambiente e com outros indivíduos. A natureza é o corpo inorgânico do homem, a saber, a natureza enquanto ela mesma não é corpo humano. O homem vive da natureza, significa: a

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natureza é o seu corpo, com o qual ele tem de ficar num processo contínuo para não morrer. Que a vida física e mental do homem está

interconectada com a natureza não tem outro sentido senão que a natureza está interconectada consigo mesma, pois o homem é uma parte da natureza. (MARX, 1844, apud ANTUNES, 2004, pág.182 - 183)

Em relação a produção do conceito de saúde, versamos novamente a terceira identificação de natureza em Marx (1844)2 por concebê-la como corpo inorgânico do homem, ou seja, como extensão do corpo humano. Ao considerar essa colocação fica evidente que a intervenção em saúde deixa de ser apenas em si ou no corpo humano (orgânico) e passa a ser ambiental (corpo inorgânico).

Em consonância, as carências dos sujeitos são influências diretas a sua saúde: “(...) carências materiais são aberturas para processos de desvitalização e, por conseqüência, processos doentios. A dor, os sofrimentos e os desconfortos são referencias de déficits na bio-processualidade e os profissionais da saúde podem agir para que se revertam em ganhos para a vida” (LEOPARDI et all, 1999, p.22).

A compreensão da saúde que pode ser pensada em Marx também aparece na frase:

O homem vive da natureza, significa: a natureza é o seu corpo, com o qual ele tem de ficar num processo contínuo para não morrer. Que a vida física e mental do homem está interconectada com a natureza não tem outro sentido senão que a natureza está interconectada consigo mesma, pois o homem é uma parte da natureza. (MARX, 1844, apud ANTUNES, 2004, pág.182 - 183)

Ao relacionarmos vida espiritual ou satisfação mental com saúde, isso representa que a saúde mental do homem também se produz na interação homem-natureza.

A problemática surge então do estado de

harmonia dessa interação entre natureza humana e natureza física primitiva, que origina a

possibilidade da natureza criada. Na atualidade o que se vivencia é um perfeito desequilíbrio dessa interação.

O objeto de trabalho é, portanto, a objetividade da vida genérica do homem (...). No que o trabalho alienado usurpa do homem o objeto de sua produção, ele usurpa sua vida genérica, sua rela objetivação genérica e transforma sua vantagem sobre o animal na desvantagem de que seu corpo

inorgânico, a natureza, lhe é subtraído. (D., p. 90; apud DUATE, 1995, p.48-9)

Não à toa, carências no contato com a natureza, com a terra, com as matas, com as plantas etc., são hoje necessidades humanas dos que vivem em meio à dinâmica estressante do trabalho diário em grandes metrópoles. Há casos em que as pessoas compram terra (chácaras) para passarem o final de semana distante da cidade e tentarem recuperar seu equilíbrio físico-emocional.

Nesse sentido, “A alienação é a doença do espírito, assim com é a carência de afeto, de justiça e de liberdade e tantas outras. A pobreza nas relações também é pobreza de vida e, portanto, déficit na saúde ou suporte à saúde” (LEOPARDI et all, 1999, p.21-22).

Assim, mesmo que aparentemente a lógica da saúde em sua internalidade possa parecer autônoma em si mesma, ou independente das ações dos seres humanos, traz em si a construção histórica dos indivíduos. Essa arquitetura se desenvolve, por meio das atividades humanas – os diferentes tipos de trabalho, na particularidade de cada indivíduo e na genericidade como

participante social (CEZAR-VAZ, 1996). O individuo, ao tempo que tem em sua generacidade o potencial de desenvolver o trabalho por meio e por sobre a natureza, está condicionado as limitações desta:

O trabalhador nada pode criar sem a natureza, sem o mundo exterior sensível (sinnliche). Ela é a matéria na qual o seu trabalho se efetiva, na qual [o trabalho] é ativo, [e] a partir da qual e por meio da qual [o trabalho] produz. Mas como a natureza oferece o meio de vida, no sentido de que o trabalho não pode viver sem objetos nos quais se exerça, assim também oferece, por outro lado, o meio de vida no sentido mais estrito, isto é, o meio de subsistência física do trabalhador mesmo. (MARX, 1844, ANTUNES, 2004, p.178)

A falta desse equilíbrio estaria representada pela distancia entre o indivíduo e natureza, provocado pelo trabalho que não atende somente suficiência ou subsistência, mas a criação de novas necessidades e, com elas, novas

carências.

Quanto mais, portanto, o trabalhador se apropria do mundo externo, da natureza sensível, por meio do seu trabalho, tanto mais ele se priva dos meios de vida segundo um duplo sentido: primeiro, que sempre mais o mundo exterior sensível deixa de ser um objeto pertencente ao seu trabalho, um meio de vida do seu trabalho; segundo, que [o mundo exterior sensível] cessa, cada vez mais, de ser meio de vida no sentido imediato, meio para a

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subsistência física do trabalhador. (MARX, 1844, ANTUNES, 2004)

Outra importante colocação de Marx a que podemos fazer relação com a da saúde é do desenvolvimento das atividades em coletivo, sendo esse uma essência humana. Por sua vez, necessidade essa contrária à lógica vigente do sistema.

Na sociedade vigente: “cada produto é uma isca com a qual se quer atrair o ser dos outros, seu dinheiro; toda necessidade real ou possível é uma fraqueza que arrastará as moscas ao melado - exploração universal da essência humana coletiva do homem..” (MARX, 1987, p.182); ou ainda “o trabalho alienado aliena a natureza do homem, aliena o homem de si mesmo, (...) transforma a vida genérica em meio da vida individual” (MARX, 1987, p.216).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em analogia às três concepções de natureza em Marx, compreendemos, então: a natureza física primitiva correspondendo à saúde da natureza e seus recursos não renováveis; a natureza humana correspondendo à unidade em si e a satisfação do processo de trabalho no sentido do desenvolvimento de seu potencial genérico; e a saúde socioambiental como a harmonia entre essas.

O conteúdo socioambiental se

materializa nos corpos individuais humanos (físicos e biológicos), ficando visível essa interferência no produto saúde. Assim, as determinações sociais no ambiente natural deixam de serem fatores e realizam-se numa forma palpável (a doença), por corporificar-se como anomalia nos sujeitos.

Surge então, a necessidade de

planejamentos das ações em saúde, em especial da Saúde Coletiva, que abarque as aspirações no sentido da interdisciplinaridade com fundo do conceito ampliado de saúde, para sua concreta dimensão.

Considerando que somos únicos em viver esse estado de poder de transformação sobre a natureza por meio do trabalho, há de se mudar a relação de trabalho humano para se mudar a relação com a natureza.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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LEOPARDI, Maria Tereza (org) et al. Processo

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Pós-graduação em Enfermagem/UFSC. Ed. Papa-livros, 1999.176p.

MARX, Karl Heinrich e Engels, Friedrich. (Die deutsche Ideologie, 1932). A Ideologia Alemã Tradução Martin Claret, 2006. 145 p.

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Recebido em / Received: 2009-12-01 Aceito em / Accepted: 2010-06-01

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