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Ânforas lusitanas da Alcáçova de Santarém

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~Iúbal Arqueológica, Vol. /3, 1006, p. 133-152

,

Anforas lusitanas da Alcáçova de Santarém

Resumo

ANA MARGARIDA ARRUDA .-CATARL"VA VIEGAS*'"' PATRÍCIA BARGÃO***

Na Alcáçova de Santarem, é o periodo lardo republicano c alto imperial que melhor está documentado DO registo arqueológico. Os esrudos já realizados sob diferentes tipos cerâmicos de época romana (sigilfata, paredes flnas, ânforas, cerâmica comum. etc.) são evidente testemunho deste facto. não sendo portanto de estranhar a reduzida dimensão da amostra de ânforas lusitanas. No entanto, alguns exemplares foram recolhidos, concretamente os que podem intch'fD.r-se nas fonna.~ Almagro 50 e 51 e Dressel 14. É este o conjunto objecto de análise neste trabalho, apresentado-se os dados referentes aos contextos de recolha, bem como as características que pennitem integrar alguns dos nossos exemplares cm centros de produção específicos.

Résumé

Dans I'Alcãçova de Santarém, e'est la période de la fin de la République et du Haut Empire qui est la micll.""< rcpréscntéc dans la séquenee stratigraphique. Différcnts typcs de ecramiques (sigillécs, parois fines, amphores, cémmique commune, etc.) onl déjà fail l'objcI de rcchcrchcs ct de publications; elles metlent en évidence la place rort réduitedes amphores lusitaniennes (amphores Dressel14,Almagro 50 et Almagro 5Ic). Les ameurs les presentem ici, en faisant référence aux comextes archéologiques; cenains cxcmplaircs peuvent, par Icurs earaeteristiques, être attribués à des centres de produetion eonnus.

I. Introdução: O

sítio,

os trabalhos de campo e

a diacronia da ocupação

Ocupa uma posição estratégica fundamental, que possibilita controlar o rio cm excelente posição, já que domina visualmente amplas zonas do seu valc. Apresenta grande defensabilidade natuml e, como já se disse, um

extenso domínio visual. O planalto onde na Idade Média se construiu a

Alcáçova de Santarém, e que corresponde á colónia

romana de Scallabis, sirua-se na margem direita do antigo estuário do rio Tejo, a escassos 80

Km

da sua foz. A sua situação era, em termos estratégicos e de acessibilidade, francamellle favorável, uma vez que se localiza entre o

Oceano e o rio, na extremidade None do extenso mar que,

na antiguidade, o antigo estuário constituía, e no inicio do curso fluvial propriamcllIc dito.

A área escavada na Alcáçova de Santarém [em já uma considerável extcnsão, o que possibilitou traçar um quadro relativamente preciso sobre a diacronia da ocupação deste sítio arqucológico.

Ainda que a sua ocupação humana possa remontar à Idade do Bronze, parece ser durante a Idade do Ferro que a importância do sÍlio se assume plenamente.

* UNIARQ. Centro de Arqueologia. Flleuldade de urras, 1600-214 Lisboa. a.m.arruda@n.ul.pt .. UNIARQ. Centro de Arqueologia. Faculdade de Letras, 1600-214 Lisboa. c.viega~@n.ul.pt

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242

Arruda; Viegas e Bargàa· Â'!!oras lusitanas da Afcâço .. a de Santarém J8 20 21

,

, 22 23 24 27

,

29 28 ] 1 ]0 34 32 33 35 ~~_=

_ _

= IOcm Fig. 4 - Dressel 7 e 91usitana~ (diversos fabricos).

(3)

I

N° 23, Fig. 4, Ale.Sant. 3995 (Sup.). fragmento de bordo, lábio de secção triangular ligeiramente pendente com

! S,2em de diâmetro. Alruracon~ervada: 3,6cm. Fabrico Raro 3. N° 24, Fig. 4, Alc.SanL 10504, (94195, Q 14-17, 07), fragmento de bordo; lábio de secção quadrangular pendente, com l6crn de diâmetro exterior. Altura conservada: 3,3cm.

FabricolA.

N· 25, Fig. 4, AIcSant. 1859, (89, C 7.04), fragmenlode

bordo c colo: lábio de secção quadl'll.ngular com 19cm de

diâmetro, queo~tenta um ressalto cXleriorque separa o bordo do colo.Alruraconservada: 6,Rcm. Fabrico2.

N- 26, Fig. 4, AIe.Sane 3 J, (84, C8, 18, 03), fragmento de bordo; lábio cxvcrtido de secção rectangular, com 19,2crn de diâmetro.Altunl conservada: 5,4cm. Fabrico I C.

N° 27, Fig. 4, Ak.Sam. 10572, (88, b, 07), fragmento de bordo: lábio de secção triangular pendente eom 18,4cm de diâmetro. Altura conservada: 3,7cm. Fabrico I A

N~ 28, Fig. 4, Alc.sant. 10503 (94-95, Q30, 02), fragmento de bordo; lábio dc secção quadrangular com 15,4cm de diâmetro extcrior que ostenta um ressalto extcrior quc separa obordodo colo_ Alturaconservada: 5,3em. Fabrico IA.

N· 29, Fig. 4, Ale.Sane 10558 (94/95, Q 19, 03), fragmcnlo de bordo; lábio vcrtical de secção ovalada, com

15.6cmdc diâmetro. Alturaconservada: 3, 7cm. FabricolA.

N° 30, Fig. 4, AIe.San!. 6570 (89. C5,04a), fragmento de bordo: lábio de fita, com 16,6cm de diâmetro, ostenta um ressalto exterior que separa o bordo do colo. Allunl conservada: 4, 7cm. Fabrico 2.

N" 31, Fig. 4, Alc.Sant. 10887, (94-95, Q14-17, 03), fragmento de bordo; lábio curto de secção quadrangular, com 17.4cm dcdiâmetro.Ahura conservada: 3.gem. FabricolA

N" 32, Fig 4, Alc.Sanl. 6443. (89, CI, H18, 04), fragmento de bordo; lábio exvcnido de secção rectangular, com 16.8cm de diâmetro; ostenta um ressalto cxtcrior que separa o bordo do colo. Altura conservada: 5,4em. Fabrico IA

N" 33, Fig. 4, Ale.Sant. 383 I (89, C7,04b), fragmento de bordo c inicio de colo; lábio de sccção quadrangular de diâmetro indelcnninado, sob o qual surge um ressalto cxterior que separa o bordo do colo. Altura conservada: 5,3em. Fabrico IA.

N° 34, Fig. 4, Ale.Sant. 10574, (94/95, Q 14-17,05), fragmento de bordo; lábio de fila de diâmetro indetenninado que ostenta um ressalto exterior que separa o bordo do colo. Altura eonselVada: 4,8em. Fabrico IA.

N" 35, Fig. 4, Ale.Sant. 10889 (89, C7,03), fragmento de bordo e arranque dc asa; lábio de secção niangular c diâmetro indeternlinado, ostenta um ressalto exterior que separa o bordo doeolo. Alturaconservada: 4,'km. Fabrico IA.

N"63, não ilustrada, AIe.San!. 1882 (89, eg, Q3,05 )-fragmento de bordo; lábio com 15,2em de diâmetro exterior_ Alturaconservada: 3, 7em. Fabrico IA.

N" 64, não ilustrada, Ale.Sant. 14898 (92-93, S02, 3D)· fragmento de bordo; lábio vertical de secção rectangular com l5,8cm de diâmetro exterior. Altura conservada: 4em. Fabrico I A. fragmento inclassificáve1.

N~65, não ilustrada, Ale.Sanl. 5875, fragmento de bordo e colo; lábio arredondado convexo com l6,5em de diâmetro exterior, que apresenta uma molduração no lado exterior. Altura conservada: 8,2em. Fabrico IA.

3.3.3.2. A DresseI7/11

Com pasta em rudo semelhante ao que chamamos de «(Haltern 70» e que pudemos identificar com as

&nibal AITjUeo/Ogica. foI. /3. 2006

24

3

produções de Peniche, recolhemos um fmgmento de bordo cujas características morfológicas permitem a sua integração no grupo genérico Dressel 7-I I (Fig. ? nD

4). Também ao nível formal, os melhores paralelos para o fTagmento scallabitano encontram-se nos fomos do Mormçal da Ajuda, que produziram no momento inicial da laboração apenas esta forma c a ((Hal!cm 70», anteri or-mente comentada (Cardoso c Rodrigues, 1988).

A esta mesma forma pertence um fragmento de parede de urna ânfora de produção lusitana que ostenta uma marca bem legivel, que nos permite tecer algumas considerações (Fig. 2, n° 5).

Trata-se de um fragmento cuja pasta possui as tipicas características macroscópicas das produções de Peniehe,já referidas anterionnente (Fabrico 4). Apresenta uma estampilha de cartela rectangular, fragmemada, com a inscrição cm relevo RUST/CJ.

Paleograficamcntc, csta marca é idêntica à encontrada nos fomos do Morraçal da Ajuda em Peniche (CardosolRodrigues, 2002, p. 6), possuindo ambas um dI/CIOS «Clássico» com letras finas de remate triangular, típico do século J d.C. Por este motivo, julgamos estar perante a cartela L.ARVENl R VSTIC/ c não simplesmente

RVSTICVS. como no caso das marcas do Porto dos Cacos (Guerra,1996), que paleograficamente cm nada se assemelham à nossa inscrição.

As características palcogníficas, aliadas aos elcmentos diferenciadores do fabrico, não deixam, em nosso entender, margem para duvidar de que estamos em presença de uma produção de Penichc.

O curto período de laboração dos fomos do Mormçal da Ajuda, bem como o reduzido repertório fonnal ali documentado, faz supor a existência de apenas uma marca L:ARVENI RUSnCI, correspondendo provavelmente ao nome do proprietário da jiglina (lbidem).

Ainda que o fragmento nào pemlita a identificação da fonna da ãnfora, acreditamos que se trata de uma Dressel 7-11, dado que em Peniche é apenas nesta forma que a marca está documentada.

N· 4, Fig. 2, (95, Mur TI), fragmento de bordo; lábio cxvertido, espessado exterionnenle. com 23,4 cm de diâmetro. Alturaeonservada: 4,5cm. Fabrie04.

N· 5, Fig. 2, Ale. San!. 30004 (99, tC (1591). fragmento de bojo de ânfora com marca de oleiro incompleta. Cartela reetlmgulareom letras em relevo onde se pode ler [ ... 1RllSIlCl, atribuída a L ARVENI RUSTICI, originária dos fornos do Murraçal daAjuda (Peniche). Dimensões máximas conservadas

14 x 35 nun. Fabric04.

3.3.4.As Dressel 14

No conjunto das ânforas que consideramos de produção lusitana, as Drcssel 14 (Classe 20-2 1; Lusitana

2, Beltrân IV) constituem um grupo bem documentado, representando cerca de 20% (13 fragmentos de bordo) da amostra (Fig. 5, n° 36 a 48).

(4)

244 Armdu; Viega5 e SargãQ: Ânf(}ras lusilQII(':, da Alcáçova de Somarem

Esta fonua, abundantemente produzida nas olarias

lusitanas, tanto no Sado como no Tejo c no Algarve, cntre

o século I e os meados do século lll, apresenta significa

ti-vas variações fonuais, dada a alargada cronologia de produção e a diversidade de centros produtores. Por este

motivo, vários investigadores optaram pela sua sub -divisão fonnal, efectuada fundamenlalmente através da diferenciação da morfologia dos bordos.

Os exemplares scalfabitanos integráveis no tipo Dressel 14 apresentam as típicas características destas

produçõcs, com bordos de secção triangular c arredon

da-da, espessados intema c externamente, e colos dc paredes

espessas de tendência vertical.

As análises químicas realizadas sobre fragmentos de Santarém puderam comprovar que alguns deles Coram

produzidos DO vale do Tejo, concretamente na Quinta do

Rouxinol e no Porto dos Cacos (correspondem ao nosso

Fabrico 1B e I C).

No entanto, a grande maioria não parece cuber em nenhum dos centros oleiros conhecidos no tcmtôrio

actllitlmente português e cujas ânforas foram analisadas

do ponto de vista químico.

ln Celizmente, as condiçõcs concretas da sequência

ocupacional do sitio, já referidas na introdução, não

pennitiram a recolhu de exemplares deste tipo anfôrieo em contextos primários de ocupação. Assim, os dados de que dispomos para avaliar a cronologia do consumo dos

preparados piscícolas fabricados na foz do Tejo na A1câçova de Santarém são muito limitados.

1"°36, Fig. 5, Alc.Sanl. 14941, (88, C4, J4,OSb.w.), fragmento de bordo, colo e arranque de asa; lábio de secção triangular com 17cm de diâmetro, asa de secção ovalada COm

suleocentral.Alturaconservada: 8,5cm. Fabrico I C.

W 37, Fig. 5, Ale.Sant. 19 (84. C I, H 18,03), fragmento de bordo c colo; lábio espessado de secção triangulnr, com

lS,6cm dediâmctro. Alturaconservada: 7, Icm. Fabrico IA

N- 38, Fig. 5, Ale.Sanl. 6992, (85, Cl. FI6b.w.), fragmento de bordo, colo e arranque de asa; labio de secção

triangular com 22cm de diâmetro. Altura conSl.""TVada: S,8cm.

FabricoS.

N~ 39, Fig. 5, Ale.Sanl. 30002, fmb'11lemO dc bordo;

lábio espessado, de st'Cção triangular, com IS,8em de diâmetro. Altura conservada: 6,Scm. Fabrico 5.

/10- 40, f ig. 5, Ale.Sanl. 10622, (94-95, QII.02),

rragmento de bordo e colo; lábio espessado de secção triangular

com 16,4em de diâmetro. Altura conservada: SAcm. FabrieolA.

N° 41, Fig. 5, Alc.Sant. 4562, (84, 018, 02), fragmento de bordo; lábio espessado, de secção triangular, com 16cm de

diâmetro exterior. Alturaeonservada: S,Scm. Fabrico I C.

1"- 42, Fig. 5, A1e.Sanl. 3897, (89. C8, nivel 09), fragmento de horda e colo; lábio obliquo, espessado de secção triangular com 16,3cm de diâmetro. Altura conservada: S,8cm. Fabrico I B.

N" 43, Fig. 5, Ale.Sant. 11812, (97, Q2,02), fragmento

de bordo: labia ex"ertido ecspe.~sado externamente com 18,Scm de diâmetro. Altura conservada: Scm. Fabrico 3.

N· 44, Fig. 5, Ale.SanI. 30003, fragmento de bordo; lábio espessado, com 14,8cm de diâmetro. Altura conservada: 3,2em. Fabrico 1 A.

N" 45, Fig. 5, Ale.San!. 6282, fragmento de bordo; hibio

espessado, dc secção triaD~'Ular, com I 4,6cm de diâmetro. Altura conservada: 3,3cm. Fabrico I B.

N" 46, Fig. 5, Ale.Sanl. 475, (85,Cl, G18, 01 ), Cragmcnto de bordo; lábio espessado, de scrçâo triangular, com 14,7cmde diâmetro.Alturaeonser,.ada: 2em. Fabrico 5.

N" 47, Fig. 5, Alc.Sant. 10706, (89, C9, QI , silo 1), fragmento de bordo; lábio arredondado, obliquo com 16,2cm de

diâmetro. Altura conscrvada: 5,4c01. Fabrico IB.

N- 48, Fig, 5, Ale.Sant. 8148, (94-95, QI4·17W, 04), fragmento de bordo; lábio de secçào triangular com 14,6cm de diâmetro. Altura conservada: 3,9cm. Fabrico IA.

3.3.5.AsAlmagroSO

As escavações arqueológicas da Alcáçova de

Santarém ofcreceram um único bordo com arranque dc asa que é passível dc integração no tipo Almagro 50.

Possui um bordo de sccção triangular do qual arranca uma

asa achatada de secção oval (Fig. 5, nU 49).

Sabe-se que esta fonna foi diCerenciada por Keay em dois tipos, XXlJ e XVI, tendo este invcstigador

associado o último à fonna Beltmo 72 (Keay,1984), associação que tinhajá sido considerada pela equipa que

trabalhou em Oslia (Manacorda, 1977). As diferenças fonuais entre ambos os tipos de Keay são claras, nomea

-damente ao nível do corpo (no primeiro caso cilíndrico muito estreito, no segundo mais troncónico). Esta mesma diferenciação foi também tida em consideração na

tipologia de Dias Diogo, que fez corresponder a Kcay XVI

à Lusitana 5 e a Keay XX [[ à Lusitana 6 (Diogo, 1987). É sabido como a questão da origem destes tipos

anfóricos tem suscitado alguma polémica, estando, no

entanto, hoje ultrapassada a tese da exclusividade da produção algarvia, como chegou a ser proposto (Parkcr, 1977; Peacock/Williams, 1986). Com efcito, ânforas

Keay XVI estão documentadas nos fomos de Los

Barreros, Los Matagallares (Dario Bernal, 1998, p. 281) c

Puente Melchor (Lagostena Barrios, 1996) c um fabrico também bctico para as Keay XXlI pode ser considerado, atendendo às características maeroscôpicas de pastas de

exemplares deste tipo (lbidem). Além disso, a associação das Keay XVI às Bc1trán 72 e, sobrerndo, o registo epigráfico, Icvaram Carlos Fabião a sugerir a possibilida

-de -de se tratar «de diferentes modulações de um mesmo

fabrico, fenômeno bem documentado na bética, designa-mente para as ânforas olcárias)) (Fabião, J 997, p. 63), no

que foi, aliás, seguido por Dario Bernal (1998, p. 286-87).

Carlos Fabião insiste portanto num fabrico bético para este tipo anfôrico, diferenciado das Almagro 50 dilas clássicas, e prôximo das Bcltran 72, mas não descarta também uma produção lusitana para este tipo de ânfoms. Uma origem bélica para as Almagro SOlKeay XVI foi

também assumida por Françoise Mayet c Anne Schmill (1997), mas apenas para as que apresentam paslas calcárias semclhantes às quc se verificam nas Bellr.í.n 72.

(5)

I

$i>/uool Arqueológica. Vol. 13. 2006

24

5

37 J6

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39 • 43

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Fig. 5 • 36-48 -Anforas Dressel 14 lusitanas (diven;os fabriços); 49 -ãnforaA Imagro SO lusitana; 50 -ânfor .. AlmalVO 51 C lusitana.

(6)

246

Arruda; Viega.r e BQrgào: Ânforas lusi/anQs da Alcóçm:a de Santarém

grupo Keay XVI foram encontradas nos centros oleiros do

Algarve, do Sado e do Tejo, o que não parece validar a hipótese da exclusão limiar desta forma do repertório lusitano.

O início da produção destas ãnforas Keay

XVI

pode se.r colocado a partir dos finais do século TI e inícios do século lll, como ficou demonstrado em Capo Ognina,

onde aparecem em níveis datados de 210-215, c cm Luni em estratos de finais do II e princípios do

m

(Dario

Bernal, 1998, p. 281). O fabrico deste tipo anfórico prolongou-se por todo O século II I, como sugerem os dados de LosMatagallarcs e Puente Melchor (lbidem). Os exemplares encontrados na lixeira de Vila Roma compro -vam a continuidade da produção até ao século V (lbidem).

De produção lusitana são também as Keay XXII

(Lusitana 6) e que corresponderiam ã tipica Almagro 50,

de corpo estreito e cilíndrico. A sua produção está bem atestada nos fomos do vale do Sado, concretamenle no Pinheiro (Mayet e Tavares da Silva, 1998), Quinta da Alegria (Coelho-Soares e Tavares da Silva, 1979) e Abul (Mayet e Tavares da Silva, 2002) e nos do vale do Tejo, na Quinta do Rouxional (Duarte, 1988, p. 112, Fig. 17 e 113,

Fig. 18) e no Porto dos Cacos (Raposo, 1988, p. 151, Fig. 37; Raposo e Duarte, 1996, p. 261, Fig. 5).

Quanto à cronologia destas «Almagro 50», tudo indica que o início da sua produção pode situar-se no século III, datação comprovada tanto no Pinheiro (Mayet c Tavares da Silva, 1998, p. 148·149) como em Setúbal,

quer na Praça do Bocage (Tavares da Silva e Coelho·

-Soares, 1980-81 , p. 268-269) quer na Travcssa dos Apóstolos (Tavares da Silva e Coelho-Soares, 1986, p. 157). Tal cronologia contradiz, portanto, a proposta de Kcay, que localizava nos séculos IV e V a produçào desta

forma (Keay, 1984, p. 172), proposta que foi aceite, sem reservas, por Dario Bemal, mais recentemente (1988, p.

282), mas que à luz dos dados actuais deverá ser revista. O

terminus da produção das ânforas Almagro 50 está por clarificar devidamente, ainda que Keay tenha proposto os meados do século V.

O exemplar de Santarém, que se integra no tipo

Keay XXll, tem uma pasta, cujas análises químicas

efectuadas pennitiram o seu enquadramento nas produ

-ções da Quinta do Rouxinol (Fabrico 1 B). Foi recolhido em níveis de enrnlhamento de um silo de época islâmica,

contexto que lhe retira qualquer validade do ponto de vista cronológico.

N" 49, Fig. 5, AIe.Sant. 3859 (87, C2, [9,01), fragmento

de bordo e arranque de asa; lábio de secção triangular com 13cm

de diâmetro exterior. do qual arranca a asa de secção ovalada. Alturaconservada: 4,7cm. Fabrico I B.

3.3.6.AsAlmagro SIC

Na Alcáçova de Santarém, a forma Almagro SIC (Classe 23; Lusitana 4 c 10, Keay XXlll) encontra-se bem representada, tendo sido contabilizados seis exemplares.

(Fig. 5, n° 50 e Fig. 6, nOs 51 a 55). Trata-se de fragmentos de bordo de pequeno diâmetro, de secção triangular ou arredondada, asas achatadas em fita ou de secção sub

-rectangular, que arrancam ou da metade inferior do lábio ou imediatamente sob ete. Os colos são curtos, estreitos c tronco-cónicos. As caracteristicas morfológicas do bordo e sobretudo a fonna dos colos dc tres exemplares (Fig. 5, nO 50 e Fig. 6, n"s 51

e

52) possibilitamm a sua integração no tipo mais clássico deste contentor, de corpo pirifonne,

que no Sado foi designado por ... arianteR

Este tipo de ânfordS foi abundantemente produzido nas olarias da Lusitânia, concretamente nos vale do Tejo,

Sado e Algarve. Os dados estratigráficos proporcionados peJas intervenções em Abul e Pinheiro pennitem situá-lo, cronologicamente, no século UI da nossa Era (Mayet e Tavares da Silva, 1998 e 2001), embora haja dados que podem fazer recuar esta cronologia para os últimos anos

do século 11, concretamente os da Travessa dosApostólos,

na ãrea urbana dc Setübal (Soares c Tavares da Silva,

1986, p. 95).

Quanto ao fabrico, os exemplares de Santarém foram incluídos nos grupos I A, I Bel C, o que configura importaçõcs dos vales do Tejo e do Sado.

A maior parte dos exemplares foi recolhida em contexto de entulho, c apenas um deles é proveniente de uma camada, que o esrudo d3 terra sigillata pennitiu datar de finais do século IV (Viegas, 2003, p. 213-21 4)

Outros fragmentos (nO 5937) ainda pertencentes a este tipo apresentam bordos muito curtos, de secção su

b-circular, não espessados e de diâmetro inferior aos unteriormente comentados. Por outro lado, os colos

aparentam ser cilindróides, não havendo uma diferencia

-ção clara na sua separação com o bordo. Não são assim enquadráveis em qualquer das variantes conhecidas nos centros oleiros do acrnal território português, mas existem formas análogas cm centTos de consumo da Lusitânia, concretamente em vil/ae alentejanas, como por exemplo em Vilares de Alfundão (Norton et ai., 1993-94, Estampa

II, nO 19) e Quinta das Longas (Almeida c Carvalho, 1998,

p. 157, Fig. 6, nO 12).

A existência de um exemplar inteiro e de um corpo também completo (n° 10403) pennite afirmar que em Santarém está documentada

a

variante mais pequena e de

corpo fusiforme deste tipo. Esta varianTe, que foi classifi

-cada como Lusitana 10 na tipologia de Dias Diogo (1987, Figs. 2 e 7), foi produzida nos centros oleiros do vale do Tejo e Sado, onde foi englobada na variante C deste ripo

(Mayet e Tavares da Silva, 1998, p. 203). Os dados que a escavação dos fomos do Pinheiro e de Abul

proporciona-ram

,

bem como os de alguns centros de consumo, como por exemplo Conímbriga (Alarcão, 1976, p. 75-77) e S.

Cucufate (Alarcão, Etienne e Mayet, 1990, p. 254) permi· tem admitir a sua produção C comercialização até pelo

menos aos meados do século V.

A ânfora completa de Santarém levanta, no entanto, alguns problemas do ponto de vista da sua morfologia e da sua associação a um qualquer eenLro

(7)

produtor concreto. De facto, e ao contrário do que é

comum nas olarias conhecidas, o colo é praticamente

inex.istente e o corpo é de muito reduzidas dimensões.

Acrescente-se ainda que o aspecto fusifonm: é aqui muito mais evidente que nos exemplares recolh.1dos nos centros

produtores. O diâmetro máximo da pança ultmpassa

apenas em escassos centímetros o diâmetro do bordo. As

asas descaem do bordo, assentando directamente na pane superior da pansa, não desenhando a característica curva

presente em qualquer das variantes desta fonna.

Logramos identificar um paralelo relevante em

Conimbriga (Alarcão, 1976, p. 141, n0

48). Trata-se de um

exemplar fragmentado, mas com grandes semelhanças ao

nível do bordo, colo, asas e início da pança com um

contcmorque seria seb'Uramente fusiforme.

A cronologia de produção desta variante fusiforme

da Almagro 51 C, já referida anteriormente, leva-nos a equacionar uma evolução foooal, cuja principal tendência

é a aquisição de um corpo fusifoooe de reduzidas dimensões e, consequentemenle, de inferior capacidade.

As pastas destasAlmagro 51C de corpo fusifoooe

apresentam uma grande homegeneidade entre si,

pertencendo todus ao Fabrico I A, que fizemos

correspon-der ao Sado-jusante/Tejo.

Os contextos de recolha destas Lusitanas de

Santarém não pennitem avançar com grandes

considera-çõcs acercu da cronologia da sua produção e co

mercializa-ção. Ainda assim, duas são provenientes de um nível cuja foooação poderá ter ocorrido durante os finais do séeulo

IV, de acordo com o estudo da terra sigillulU (Viegas, 2002, p. 21 3-2 14).

N- 50, Fig. 5, Ale.San!. 6096 (89, e8, Q3, 08), fragme

n-to de bordo e arranque de asa: lábio de secção triangular com

8,8cm de diâmetro, da parte inferior do qual ammca a asa de

secção ovalada. Altura conservada: 4,6cllI. Fabrico I B.

W 51, Fig. 6, Ale.San!. 3927, (89,C8,Q3,08). fragmento de bordo e arranque de asa; lábio de secção triangular com

10,4cm de diâmetro, da parte inCerior do qual armnca a asa de

fita. Altura conservada: 4,5cm. Fabrico 18.

1'" 52, Fig. 6, Ale.San\. 1884, (89, C8, 09), fragmcnto

de bordo; lábio dc secção sub-circular com 10,2cm de diámetro.

Alturaconservada: 3.6cm. Fabrico I C.

N" 53, Fig. 6, Ale. Santo 10671, (88,C2 , 111,04),

fragmento de bordo e arranque dc asa; lábio de secção

concavo-convexa com 7,4cm de diâmetro, do qual amlllca a asa de secção ovalada. Altura con~ervada: 4,2cm. FabricolA.

N~ 54, Fig. 6, Ale.sant. 5937, (85, CI, F15; 03), fragmento de bordo e inicio de colo c arranque dc asa; lábio de

secção sub-circular, vertical com Ilem de diâmetro exterior, asa de secção ovalada.Alturaeonscrvada: 6.6cm. Fabrico IA.

N" 55, Fig. 6, Ale.Sanl. 10403, (85,Cl.FI5.03). ânfora

completa, bordo de secção triangular com 15,5em de diàmetro eXferno, asas de .secção elíptica, quc arrancam do bordo e

unem-se com o topo do corpo fu~ironne de pequena dimensão. rematado por um bico pequcno e maciço com 2,5 em de diárnetro externo. AIturn talaI: 59,7 cm. Fabrico IA.

W 60, f ig. 7, Ale.Sant. 10402, (85, CI, FI5, 01),

Crdgmcnto de fundo c corpo; bico cónico e maciço com 1, 7em de diâmetro exterior, corpo fusifonnc dc pequena dimensào. Altura

conservada: 36,7em. Fabrico 1 A.

N° 61, Fig. 7, Ale.Sant. 10405, (85, CI, F 15, O t), corpo de ânCora, corpo Cusifonne de pequena dimensão, cuja largma

máxima, no inicio da pança é de 23,4cm. Altura conscrvad<t:

59,7cm. Fabrico IA.

3.3.7.AsAlmagro51 A-R

No conjunto das ânforas lusitanas da Alcáçova de

Santarém, registou-se a presença de 4 fragmentos de bordo que foram incluídos no tipo Almagro 5 I A-B

(Lusitana 7; Keay XlXIXXl) (Fig. 6, nO 56 a 59). Os

diâmetros são consideravelmente estreitos e os bordos são ligcimmcnte exvertidos, com a parede extcrior côncava,

apresentando uma moldura saliente na sua ligação ao colo.

Os exemplares scallabiranos, pelo perfil do bordo,

podem jotegrar a variante A do Sado (Mayet c Tavares da

Silva, 1998, p. 205), variante que

é

no Pinheiro a mais abundante das quatro identificadas (lbidem). O facto da

asa arrancar da moldura que separa o bordo do corpo e não

do colo, como é mais frequente, confere aos nossos

fragmentos alguma singularidade no quadro da produção

das Almagro 51 A-B lusitanas. Refira-se, no entanto, que

esta mesma caractcristica, ainda que rara, está presente nos centros produtores do vale do Sado, concretamente no Pinhciro (Mayet e Tavare~ da Silva, 1998, Fig. 116, n° 16).

Pam além dos fomos do valc do Sado, este tipo

anfórico foi também produzido no Algarve, concre

tamen-te em S. João da Venda (Fabião e Arruda, 1988) e no

Martinhal (Tavares da Silva, Soares e Correia, 1988), estando a variante encontrada cm Santarém também represcntada cm ambos os centros oleiros algarvios. Destaque-se ainda que a produção desta fonna é, ã luz do

actual estado dos nossos conhecimentos, exelu~iva da

Lusitânia.

A escassa representatividade desta fomm no

conjunto das ânforas lusitanas de Santarém está de acordo

com o que conhecemos sobre a sua produção e consumo.

Com efeito, esta ânfora é sempre minoritária, quer nos centros produtores, quer nos locais de consumo.

Sabendo-se que esta

é

uma ânfora característica do

Baixo império, a sua cronologia pode ser melhor

precisa-da a partir dos dados obtidos nas escavações dos fornos do

Pinheiro, onde a sua produção está atestada apenas a partir dos finais do século IV (Mayct c Tavarcs da Silva, 1998, p.

205). Esta cronologia mais tardia para o início da produ-ção deste tipo anfórico, que de algum modo contradiz as teses mais tradicionais que a colocavam a partir do século

JIJ

com base nos dados de Ampúrias (Almagro, 1955), assenta também em outros dados arqueológicos conhec i-dos na Lusitânia, não SÓ em eentros produtores de ânforas, como é o caso do Martinhal no Algarve (Tavares da Silva,

Soares e Correia, 1988), mas também em centros produlOres de salgas de peixe, nomeadamente a llha do Pessegueiro (Tavares da Silva e Soares, 1978). Alguns

naufrágios, concretamente o de Sud-Lavezzi, ajudam a avançar a cronologia da difusão das Allllagro 51 A-B para

osséculoslVeV

(8)

248 Arruda; Viegas e Sargõo: ..ill/Oros IllSitu"aJ da A/caÇC1\'Il de Santarém

"

; , 52 53 56 57 '8

,

,

~.

-i----,i,

?

59 55

(9)

60

Fig, 7 - FundosdeânrorasAimagroSI C lusilllnas(diverw.; fabricos).

As ânforas 51 A-B de Santarém apresentam pastas do fabrico JAe IB, oque presssupõeasua imponaçãodos

vales do Tejo e do Sado. As análises químicas a que um

dos exemplares foi sujeÍlo provaram que foi produzido

nas olarias da Quinta do Rouxinol.

Os contextos de recolha são maioritariamente

desinteressantes para o estabelecimento de cronologias, e

apenas dois exemplares foram recolhidos cm níveis de

época romana, cuja fonnação pode ter ocorrido dumntc a

segunda metade do século TV, conforme ficou

demonstra-do pelo estudo da terra igillata (Viegas, 2003).

N" 56, Fig. 6, AIc.Sant. 6437, (SVP), fragmento de bordo e arranque de asa; lábio espessado c cxvcrtido com IO,6cm de diâmetro; apresenta uma molduraçiio na parede exterior de

onde arranca asa de scçção ovalada. Altura conservada: 4,8em. Fabrico IS.

N° 57, Fig. 6, Ale.Sanl. 9222, (94-95. Q2S, 02), fragmcnto de bordo e arranque de asai lábio de fita com II ,Sem

SenibalArqueQf6gica, VoL 13. 1()()6

61

•••

de diâmetro que apresenta uma dupla molduração na parede

exleriorde onde arranca asa de secção ovalada. Altura conserva

-da: 6, lem. Fabrico Raro 2.

i 58, Fig. 6, AIe.Sant. 3951, (88, b, 05), fragmento de

bordo; lábio ligeiramente cxvertido, espessado na parte inferior, com 13,4cm de diâmetro. Alturu conservada: 4,7cm. Fabrico I A

N° 59, Fig. 6, Alc.sant. 15793 (87, C 4,

n,

06)-fragmento de bordo; lábio arredondado c cxvcrtido com II ,Sem de diâmetro. Altura conservada: 3.3cm. Fabrico 2.

4. Discussão

Pouco mais há a discutir sobre as ânforas lusitanas

de Santarém. Convém, no entanto, talvez recordar que a

sua escassa presença na sede do ConventlL~ contrasta, de forma muito nítida, com a forma como outras áreas produtoras estão representadas no conjunto anfórico, nomeadamente a Itália e a Bética, tanto costeira como a

(10)

250

Arruda; VIegas e Sargão: Ânforas IUSirl11UlS dn Alcâçom de Santarém

bacia do Guadalquivir. Tal contraste deve, no cotamo, ser

matizado de acordo com o que outros dados puderam já

demonstrar. A importância que Santarém possui durante a

época republicana e os momentos iniciais doAlto Império nào écomparáve1 à quc:assumc a partir do final do reinado

dos Flávios. Tal facto, pode ser já atestado pelo estudo de

outros conjuntos cerâmicos. concrclamcnle o da terra

sigillara (Viegas, 2(03), das paredes finas (Arruda e

Sousa, 2003), e da cerâmica de cngobc vennelho pompei -aoo (Arruda e Viegas, 2002).

Ainda a propósito da questão cronológica, foi curioso verificar que, no conjunto das ânforas lusitanas, se

destacam as fonnas alto imperiais inspiradas cm protóti· pos béticos, concretamente as que classificámos de ((Haltem 70)} e Dressel 7 e 9. As análises das pastas dos exemplares destes tipos recolhidos em Santarém, C

mesmo as fonnas, indiciam um abastecimento em centros produtores localizados no vale do Sado e em Penichc, justamcntc nos momentos mais recuados da laboração destes centros oleiros. Lembre-se que estas olarias apresentam, no caso do Sado, um abrandamento da produção entre o século

n

c o início do século III e, no caso de Peniche, o abandono dessa produção data do final do

J

e início do II.

25

20

15 10 5 O >

As restantes ânforas são claramente minoritárias, chamando-se no entanto a atenção para o predomínio do tipoAlmagro 5IC, o que parece natural de acordo com o que se conhece, não só de outros locais de consumo, como também, aliás, dos próprios centros de produção.

Com

efeito, as Almagro 50 e as 51 A-B têm sempre uma expressão reduzida no conteúdo dos inventários.

Gostaríamos ainda de chamar a atenção para o facto desta fase tardia (século IV) corresponder também

ao auge da produção da Quinta do Rouxinol, de onde alguns dos exemplares scallabitanos são provenientes,

bem como ao momento de ressurgimento da olaria da Herdade do Pinheiro.

A presença de ânforas Almagro 51 C de corpo fusifonlle documenta os momentos mais tardios da aquisição de preparados piscícolas pela população que

habitou na Alcáçova de Santarém e cujas pastas podem, uma vez mais, relacionar-se com o Vale do Sado.

Devemos rcfcrirquc é notória a ausência de fonnas que poderiam ser associadas ao transporte de produtos vinícolas, concretamente as (DresseI 30», as Dressel 28,

situação que uma vez mais contrasta, gritantemente, com 11 que se verifica nas fases antigas da ocupação romana da A Icáçova de Santarém.

~

(11)

,

5.

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234

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--

/

I

-

?

• ' .

.

-

-

-Fig.l-Mapada Península Ibérica coma Jocalizaçãode Santarém.

A época republicana, sobrerudo nos seus

momcn-tos finais, está também muito bem documentada, o quc

parece namral dada a função quc terá desempenhado

duranteo pretorado de César.

Do período imperial restam abundames te

stemu-nhos, tanto arquitectónicos como ao nível do espólio, com

particular incidência no Alto Império.

A ocupação islâmica foi intensa e manifesta-se

sobretudo por um impressionante conjunto de silos

escavados no calcário.

A longa diacronia da ocupação da Alcáçova de

Santarém, e sobretudo as construções subterrâneas

construídas durante o pcriado muçulmano, foram, no

entanto, responsáveis pelo mau estado de conservação de

alguns níveis arqueológicos, muito particulannente dos que correspondem aos momentos finais da ocupação romana.

2. As ânforas lusitanas de

Santarém

no

conjunto das importações anfóricas

Entre o espólio de época romana recolhido nas

escavaçõcs arqueológicas levadas a efeito na Alcáçova de

Santarém, as ânforas constiruem um grupo muito

numcroso. Com efeito, os fragmentos cerâmicos quc

podemos intcgrar neste tipo de vasos contabilizam-se em

alguns milhares. A maioria pertence, no entanto, à época

republicana e augustana, sendo cseassas as ânforas que

atestam importações de produtos alimentares de fases

avançadas doAlto Império e do Baixo Império.

Por outro lado, as condições particulares do sítio ao

nivel da deposição dos estratos arqueológicos, já

breve-mente explicitadas na Introdução, não favoreceram a

conservação dos níveis romanos imperiais, facto que, cm

grande parte, justifica a ausência de contexto para a

grande maioria das ânforas agora objecto de estudo.

No conjunto das ânforas romanas recolhidas em

Santarém, as de preparados de peixe esmo presentes desde

a Idade do Ferro, como ficou documentado pelas Maiiá

Pascual A4 recolhidas (Arruda, 2000: p. 209, fig 143,

n"

9).

Durante a Republica, estes produtos chegaram a

Santarém envasados em ânforas de tipo Mana C2 (Arruda

e Almeida, 1998), Dressel 12 e Classe 67, parecendo

evidente que a aClual Andaluzia se constituiu como o principal centro abastecedor de Santarém. A exclusiv

ida-de não é total apenas porque no conjunto das ânforas Mana

C2 foi possível identificar um fragmento cujo tipo de pasta

se enquadra numa produção norte africana (ibidem).

Refira-se ainda que, também ao nível de outros produtos

alimentares

e

durante estes mesmo momentos do final da

república, é à Bética que temos que assacar a

responsabili-dade das exportações para a colonia .~callabitana. Desta

situação são eco o vinho envasado cm ânforas de tipo

Haltern 70, Dressel 28 e Dressel I (Arruda e Almeida,

1998), e o azcite envasado em ânforas ovóides produzidas

em fornos do Guadalquivir.

No Alto Império, e no que diz respeito aos

preparados de peixe, a Bélica continuou a ser o grdndc

centro de abastecimento de Santarém, sob a foona das

Dressel 7111, em todas as suas variantes, momento a panir

do qual, no entanto, os prcpamdos piscícolas lusitanos

começaram também a chegar à sede do conventus. Com

efeito, e como veremos, datam da primeira metade do

século I as primeims imponações de ânforas lusitanas,

concretamente as Drcsscl 14.

Os centros conserveiros da Lusitânia

constiruiram-se, a panir do século li, como exclusivos no que respeita

ao abastecimento de produtos piscícolas da Alcáçova de

Santarém, situação que se mantém até ao final do Baixo

Império,

Neste trabalho, estudamos as ânfoms lusitanas

provenientes das escavações que tiveram lugar desde

1983 a 1998, excluindo-se as campanhas mais recentes.

Esta amostragem nào é menos significativa, pois aquando

do estudo da terra sigilfara verificou-se que o conjunto

dos materiais provenientes dessas campanhas antigas

detinha as características gerais que se vieram a verificar

quando se adicionou o espólio das escavaçõcs de 1999 a

2001.

3.As ânforas lusitanas de

Santarém

3.1. Os fabricos 3.1.1. Introdução

As ânforas produzidas na Lusitânia foram já alvo de numerosos trabalhos no que se refere à caracteri7..ação das suas pastas. As metodologias usadas nestas aborda

-gens foram v1Írias. Para além de observações

macroscópi-•

(13)

I

,

252

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(14)

cas, análises químicas e lâminas delgadas foram já

rcali7..adas.

No que respeita às produções do Tejo, foram

divulgados os resultados da caracterização química das produções da Quinta do Rouxinol e do Porto dos Cacos

(Cabral, Gouveia, Morgado, [993-94, p. 191 -200; Cabral, Gouveia, Morgado, 1996,

p.

301-322, Cabral, Fonseca, Gouveia, 2002, p. 325-338).

As produções sadinas encontram-se publicadas

por F. Mayet; A. Schmitt e C. Tavares da Silva (1 996, p.

144-146; 1997), trabalhos onde se procurou, igualmente,

estabelecer uma comparação entre estes fabricos e os do

Vale do Tejo e da região algarvia.

No estudo petrográfico das ânfonlS de S.Cucufate

(MayetlSchmitt, t 997, p. 71 -109), estabeleceram-se seis

grupos para a Lusitânia, tcndo particular interesse a distinção cfcctuada entre Sado-montante e Sado

-jusante!Tcjo. Tomou-se notória a dificuldade de distinguir entre alguns dos fabrieos do Sado e do Tejo (/bidem: 91),

através dc simples análises petrográficas. Segundo A.

Schmitt, csta distinção pode fazer-se para dois grandes

grupos de oficinas ou centros produtores (MayeúSchmiu,

1997, p. 92): de um lado estariam

as

produções do Sado

Montante e, de outro, os fabricos do Sado-juzanterrejo. Na diferenciação dcstas duas realidades toma-se funda-menlal a observação dos elementos não plásticos, que surgem bem rolados nos fabricos do Sado Montante e com

uma configuração subrolada no que diz respeito às

produções do Sado-juzanteffejo.

Procurámos, tanto quanto possivel, distinguirestas

duas realidades nas ânforas de Santarém, mas por nos parecerem demasiado redutoras sentimos a necessidade de criar outros grupos de fabricos, alguns dos quais nào foi possível atribuir a ncnhum dos ecntros produtores conhecidos.

Deste modo,

a

análise macroscópica dos elemen

-tos petrográficos foi efectuada tcndo em consideração as características de pasta/engobe de cada exemplar, tendo

-se criado grupos sempre que existiam elementos diferen

-ciadores que talo pennitisse. Na descrição das pastas,

observadas com lupa de l5x, seguimos genericamente os

elemenlOS descritorcs propostos por Stienstra (1986) e A.

Sdunin (Mayet; Schmitt c. Tavares da Silva, 1996, p.

144--146; MayellSchmitt, 1997, p, 71-109).

Alguns exemplares das ânforas lusitanas de Santarém foram já objecto de análises quimicas, realiza

-das no Instituto de Tecnologia Nuclear pelas Doutoras Isabel Prudêncio e Isabel

Dias

ao abrigo do protocolo estabelecido entrc o ITN c o IPA e no âmbito do projecto

realizado no quadro do PNTA «A ocupação da Alcáçova

de Santarém durante a Idade do Fcrro e a Época Romana» I, A origem de alguns rragmcntos foi determina -da, tendo sido possivel verificar que alguns eram integrá

-1 - Rcsultlldosj6 apresentudos nu EMAC _ 2003,

Setúbal Arqueológica, Vai. J 3. 2006

veis nas produções do Porto dos Cacos (amostras s

-80/580; s-98-1884; s-I 00/1677) e outros nas da Quinta do Rouxinol (amostras s-66/10706; s-68/3897; s-69/6282),

No entanto, a grande maioria das amostras estudadas

corrcspondc a uma produção cuja origem se desconhece. Foram diferenciados, macroscopieamente, einco

fabricos, todos descritos, tendo os quc foram caracteri

za-dos como originários do Vale do Tejo através da análises químicas sido por nós integrados no que consideramos

fabrico! Bel C de Santarém,

3.1,2. Características gerais dos fabricos

Fabrico 1 A

Pasta de textura média, pouco dura, cozida cm modo A,

OS

elementos não plásticos, bem rolados,

oscilam entrc 15% c 20 %. A obscrvação macroscópica

penniliu identificar a presença de quartzo branco c

cinzento muito abundante, feldspatos e mica rara ou vestigiaJ, poucas partículas de cerâmica moída e raros

nódulos ferruginosos, As inclusões são, dc um modo

geral, de média dimensão, à excepção de escassas partículas de quartzo e de cerâmica moída,

A cor da pasta oscila entre o lamnja 2,5YR 6/8, o laranja-acastanho 5YR 5/5-4, e, em alguns casos, tons mais rosados 10R 5/6, embora estes constituam uma minoria, O cerne possui tonalidades beje-esverdeado

2,5Y6/3 (MUNSELL: 1994),

A superficie interna e externa encontra-se alisada

com um cngobe de espessura variável, bem aderente, de

coloração idêntica à própria pasta, em tons de laranja 2,5YR

6

/8

ou laranja-acastanhado 5YR 5/5-4. Alguns exemplares apresentam

um

engobe castanho-acinzentado

7.5YR 5-4/2, ou bcije-rosado 7,5YR 8/4, Um único exemplar possui engobe cinzento escuro acastanhado (5YR4/1 e3/1)

Algumas peças deste fabrico, nomeadamente nos

nOs 1859, 8097,6443, 1589 e 5875, possuem uma textura mais esponjosa, c apresentam uma maior quantidade de

e.n,p" cerca de 25%,

Fabrico I R-Quinta do ROUDDol

Pasta de textura compacta, dum, cozida cm modo

A, Apresenta cerca de 10% de enp, bem rolados, const ituí-dos por quartzos, partículas de calcite, bastantes micas e cerâmica moída de 10m vermelho acastanhado, assim

como raros nódulos de ferro, De uma maneira geral, as inelusõcs são de pequena dimensão, sendo igualmente

(15)

236

ArTlIda: Viega$ e BalXão: Ânforas lusiwnuJ da Alcãçol'a de Samurém

visíveis inúmeros váeuolos. A pasta é de eor castanha

alaranjada (7.5 YR 5/8). A superlicie foi alisada com um engobc pouco espesso da mesma cor da pasta com maior quantidade de micas.

Fabrico 1 C - Porto dos Cacos

Pasta dc textura compacta, com grau de dureza 2

(com unha), cozida em modo A. Aprescnta cerca de 15%

de enp, bcm rolados, podendo observar-se abundante

calcite, biotite, micas douradas e quartzos brancos e

cinzentos. As cores oscilam entre o laranja 2YR 6/8 e o

castanho-alaranjado 5YR 6/8. A superficie externa estã

alisada com um engobe fino castanho-acinzentado 7YR

5/3, rosa-acastanhado 2.5 YR 6/6 e 5/6 e castanho escuro

7.5YR SI3.

Fabrico 2

Pasta de textura média, dura, esponjosa, cozida em

modoA. Os elcmcntos não plásticos, sub-rolados, oscilam

entre 20 % e 25%. A observação macroscópica pcnnitiu identificar a presença de poucas partículas de cerâmica

moída de tons acastanhados e alaranjados, quartzo branco

e cinzento, calcitc muito abundante, raros nódulos

ferruginosos .As inclusões são de um modo geral de

pequena dimensão. Contudo, algumas inclusões de quartzo e de calcite c de cerâmica moída chegam a atingir

os2 mm.Acorda pasta oscila entre o lamnja 7.5YR 7/6eo

laranja-acastanho 5YR S/54. O cerne possuí tonalidade

beje-amarelado I OY 7/4 (MUNSELL: 1994).

As superfícies intcrna e externa encontram-se

alisadas com uma aguada de espessura variável, bem

aderente e de colomção idêntica à própria pasta, de tons

laranja 7 .SY R 7/4 ou laranja-acastanhado 5YR 6/6.

Fabrieo3

Pasta de textura compacta, dura, cozida cm modo

A. Apesar dos elementos não plásticos se distinguirem com dificuldade, constituem cerca de 10 % da pasta. A

observação macroscópica pcnnitiu identificar a presença

rara de quartzo, pouca calcite, mica branca e prateada c

escassas partículas de cerâmica moida acastanhada. As

inclusões são, de um modo geral, de pequena dimcnsão fi

excepção dacerâmica moída e das partículas de mica, que

apresentam dimensão média.

A pasta é de cor cinzento acastanhada (2.5Y 6/2) e

as superficies, interna e externa, encontram-se alisadas com um engobe fino, bem aderente

à

pasta. dc cor beige amarelado (2.5Y 8/3) ou de coloração idêntica à própria

pasta, de tons de laranja (2.5YR 6/8) ou laranja-acas

-tanhado (5YR S/54). Alguns exemplares apresentam um

engobe castanho-acinzentado (7.SYR 5-4/2), ou beje

--rosado(7.5YR 8/4).

Fabric04

Pasta de textura compacta, muito dura, cozida em modo A. Os elementos não plãsticos, bem rolados,

constituem cerca de 15% da pasta, tendo-se identificado

quartzo e calcite abundantes

c

mica vestigial. As inclusões

são, de um modo geral, de pequena e média dimensão; as

partículas de mica são de reduzidas dimensões.

A pasta é de cor laranja-rosada, possui um nucleo

cinzento (2YR S/ I) e as supcrficies interna e externa encontram-se alisadas com um engobe fino acinzentado, sobre o qual se aplicou um outro mais espesso, bem

aderente à pasta, de coloração bcige amarelado/esbran

-quiçado (I OYR 8/4).

Fabrico

5

Pasta de texmra média, pouco dura, cozida cm modo A. OS elementos não plásticos, bem rolados,

oscilam entre 10% e 15 %. A observação macroscópica pcnnitiu identificar a presença de quartzo braneo e cinzento muito abundantc, calcite e mica. As inclusões

são, de um modo geral, dc média dimensão, à excepção de

minúsculas partículas de mica. As pastas possucm cores

que oscilam cntre o beje-aeastanhado e o laranja (7.5 YR

7/6 c 5 YR 7/8). Asuperficie e:\(terna está alisada e possui engobc pouco espesso, de tonalidade bejc-acastanha

(7.5YR 7/4).

Peças que não se enquadram em nenbum fabrico

Na amostra analisada, existem três fragmentos

cujas características singulares não pcnnitiram o seu

enquadramento cm nenhum dos fabricos estabelecidos.

Por este motivo, procedemos fi sua dcscrição de fonna

individualizada

Fabrico Raro t

O fragmento N°I 0011 possui uma pasta de textura

compacta, dura e cozida em modo A. Apresenta cerca de

10% de e.o.p. bem rolados, constituídos por quartzos,

micas abundantes, de pequena dimensão e partículas dc

argila cozida e minerais negros A pasta é de cor laranja avennelhada (2YR 6/8) e a supcrficie exterior está alisada

com um engobe, pouco espesso de tonalidade mais

alaranjada (2.5YR 7/8).

FabricoRaro2

O fragmento N"9222 possui uma pasta de texmra

compacta, dura e cozida em modo A. Apresenta cerca de 15% de e.n.p., constituídos por quartzos de grandes

(16)

uma cor bege acastanhada, um cerne acizentado Grey 8/1.

A superfície exterior, alisada, possuiu engobe, pouco

espesso de tonalidade beje, semelhante à própria pasta.

Fabrico Raro 3

o

fragmento N°3995 possui uma pasta de textura média, pouco dura c cozida em modo A. Apresenta cerca de 20% de e.n.p. bem rolados, constituídos por quartzos, micas e calcites muito abundantcs, mas de pequena dimensão. Pasta de cor rosa-avcrmelhado (2.5YR 7/4),

supcrfície exterior com alisamento, possuindo engobe, pouco espesso, de tonal idade mais beje (7.5YR 7/6).

3.2.

Os

centros

produtores

As análisc químicas efectuadas resultaram na identificação de dois centros produtores do vale do Tejo, a Quinta do Rouxinol e o Porto dos Cacos (Fabricas 18 e

1 C).

A análise macroscópica permiliu identificar a existência de outras produções lusitanas na Alcáçova dc Santarem, nomeadamente fabricas genericamentc

enquadráveis nas olarias do Sado jusantcrrejo (Fabrico 1 A) e nas produções dos fomos de Peniche (Fabrico4).

Em alguns dos fabricos identificados, existe uma clara associação da forma ao fabrico. Os exemplares que

possucm claras afinidades formais com o tipo «Haltem

70» cnquadram-se nos Fabricos 3 e4.

Do total da amostra, 68% pertence ao fabrico 1, fabrico que, como já referimos, identificámos com as produções do Sado-juzante/Tejo. As formas produzidas pareccm corresponder, maioritariamente, à primeira fase de produçào onde estão presentes Dressel 14 e formas afins da Drcssel 7-11 (Lusitana 12). Deste modo, c apesar de estarem também representadas formas consideravel-mente mais tardias, a maioria dos exemplares deste fabrico lusitano corresponde a um momento recuado da sua produção, datável entre o séc. l-lI d.e.

O fabrico 4, que está associado exclusivamcnte a ânforas dc dois tipos, «Haltem 70,) e Dresscl 7-11, apresenta muitas semelhanças com fragmcntos

produzi-dos nas oficinas de Penichel. Aliás, uma marca de oleiro

sobrc um fragmento com características petrográficas que cabcm também neste fabrico, toma, como vercmos, ainda

Setúbal Arqueológica, Vo/. 13. 2006 237

mais clara a sua identificação com as produções de

Peniche. Esta identificação ganha ainda maior consistên-cia se tomarmos em consideração as semelhanças fannais entre os fragmentos que com este fabrico recolhemos cm Santarém e os que são conhecidos de Peniche.

O que chamámos de fabrico 5 integra apenas 3

exemplares, cuja área de produção concreta parece dificil

de precisar através da simples observação macroscópia.

Contudo, algumas características gerais permitem levan-tar a hipótese da sua inclusão no que roi designado Sado

jusante!rejo.

Um exemplar apresenta caracteristicas que o

excluem de qualquer dos grandes grupos identificados cm Santarem, assemelhando-se, contudo, a produções algarvias, possivelmente da Manta Rota'.

3.3.As formas

3.3.1. Introdução

Se um número muito significativo de exemplares não levantou grandes dificuldades na sua classificação, uma vez que apresentam morfologias típicas dc formas habitualmente enquadradas nos tipos «(classicamentc» lusitanos, outras, porém, toram mais dificcis de classifi

-car. Neste caso, incluímos um largo conjunto dc bordos c

fundos que, pelas suas características formais, eabcriam

bem no que se designa por Haltem 70 c um outro que tem fortes afinidades morfológicas com o n° 7 da tabcla de

DresseL Para alem destes, um bordo aparenta grandes semelhanças com a forma Dressel9.

Seria fácil integrar, sem qualquer discussão, estes dois grupos de ânforas no que foi designado, no Sado, por Variante A da Dresscl 14, ou mesmo no que é conhecido

por 8eltran I ou Dn:ssel 7/11, ou ainda no que Dias Diogo

classificou como Lusitana 12. Contudo, pareceu-nos que, neste contexto, scria de alguma utilidade discutir, ainda que brevemente, esta qucstào, até porque a Alcáçova de Santarem não é um caso isolado, e também porque nos próprios centros produtores a mesma situação parece verificar-se.

Não é novidade dizer que o conceito de 8eltrãn T

está hoje claramente ultrapassado, por demasiado abmngente. Deve-se aliás à investigadora quc estc

colóquio homenageia a separação das Haltem 70 do grande grupo das 7/11. O mesmo problema passa-se com a

2 - Jacinta llugalhão, 3 quem 3grad~e~m()s toda a informação prestada. rc<:othcu na Bertenga cxemplar~s idênticos aos de Santarém. quer quanto à fOTIna quer quanto às earact"';sticas petrográficas das pastas (Bugalhão e Lourenço, comunicação apresentada ao Congresso "A presença romana na regi~o

Oeste. em Novembro de2(01).Aorigem pcniehcnsedestas â()fora~ da Rerlenga n~o levanta grandes dúvidas, uma vczquea pn·'pria epigrafia aconfinna.

Com efeito, as marcas sobrc ânforas d~sta forma encontradas nos fomos de Peniche (Cardoso! Rodrigu~~, 2002) são as mesmas que as enconlr3das na Berlenga.

(17)

238

Arruda.- Viegas e Bargào: ÂII/oras lusilaTlQs da Alcáçova de $6nrarém

Lusitana 12, tipo que integra fomas muito diversificadas.

Por outro lado, ê verdade que às ânforas Haltern 70

está associada não só uma área de produção concreta (o

vale do Guadalquivir), como um conteúdo específico (o

vinho). Percebe-se portanto as reservas colocadas na designação de Haltcm 70 para ânforas fonnalmcntc

análogas, produzidas nos vales do Sado e do Tejo,

destinadas a conter preparados de peixe.

Descobertas recentes na área Oeste, concretamen

-te em Peniche e nas Bcrlcngas, permitem, em nossa

opinião, recolocar cm cena o problema das produções

lusitanas de fonnas cm tudo idênticas às chamadas

Haltern 70. Trata-se, de faclo, de ânforas que muito

dificilmente cabem no tipo Drcsscl 14, como foi proposto

para o Sado, ainda que concordemos que, neste caso

concreto, as primeiras possam estar na origem da forma das segundas, dadas as obselVaçi)es estratigráficas lidas

muito especialmente em Abu! (Mayet c Tavare-s da Silva,

2002), mas também no Pinheiro (Mayet e Tavares da Silva, 1998). Igualmente em Peniche, que produziu

~(Haltem 70» e Dressel 14 clássicas, as duas formas não

são coevas, e uma vez mais as segundas sucedem-sc às

primeiras (Dias et ai., 2003, p. 101).

Parece importantc dizer que se nos afigura problemàtico incluir no tipo Drcssel14, ainda que numa

variante específica e antiga, ânforas cuja morfologia não

c

minimamentc aproximada delas. Por outro lado, mas

ainda a propósito desta questão, convém lembrar que esta

variante A da Dressel 14 engloba, também ela, c â

semelhança dos tipos Beltran I, Dressel 7-11 e Lusitana

12, uma dcmasiado vasta variedade formal (com scme·

Ihançascom a Haltem 70, Dressel 7/11 em geral e 7 c9cm

particular), o que parece retirar· lhe operacional idade.

No caso de Santarém, a situação agrava-se com o

conjunto de ânforas de produção lusitana, mas com bordos

enquadráveis nas formas 7 e 9 de Dressel, especifica

-mente.

No entanto, consideramos que a caracteri7,.ação da produção lusitana das referidas formas carece de dados,

nomeadamente de centros produtores onde exislam

exemplares inteiros associados a cronologias de produção

específicas.

Assim, decidimos não incluir no grupo da variante

A da Oressel 14 bordos e fundos, cuja semelhança formal

com as Haltem 70 é grandc, c que não parecem ter afinidades com aquelas, ainda que possamos reconheçer

que esta não é ainda a melhor designação. De igual forma,

as ânforas análogas às Drcssel 7 e às Dressel 9 foram alvo

de um tratamento particular neste trabalho, e, portanto,

excluídas do grupo Dressel 14.

3.3.2.As «.Halter" 70)) lusitanas

Em Santarém, recolheram-se 8 fragmentos que

apresentam características formais em tudo idênticas a ânforas habitualmente denominadas Haltem 70: bordos

altos de secção rectangular, colos cilíndricos, asas de

,

secção elíptica com uma canclura longitudinal e fundos cilíndricos e ocos.

Como já atrás referimos, sabemos que a este tipo

concreto, individualizado do grupo Dressel 711 1 na

sequência do estudo do naufrágio de Port Vendres, está

associada uma área de produção concreta, o vale do

Gualdalquivire um contcudo específico-o vinho. Mas as

semelhanças morfológicas dos fragmentos scal/abitallOS

com o tipo assim dcsignado são tais que justificam, em nossa opinião, esta inclusão.

Esta forma possui uma cronologia de produção

alargada, entre 70-50 a.C. e 70-80 d.e.

Cinco das ânforas deste tipo de Santarém (Fig. 2, nOs I a 3, 6 e 7) correspondem a um fabrico concreto c

exclusivo (Fabrico 4), que foi possivel associar a wna das

produçõcs registadas em Peniche (Dias et aI., 2003). A sua

morfologia pode também ser relacionada aquele centro produtor (Cardoso e Rodrigues, 1998, p. 179, Fig. 7, n" 1 --3; 2002, p. 6), concretamente com a sua primeira fase,

datada da primeira metade do sL'culo T, dos reinados de

Augusto e Tibério.

Os dados de Santarém pareçem conlinnar esta

cronologia. Com cfeito, alguns fragmentos são provenien

-tes do enchimento de um tanque, mas foram rccolhidos

num nível que fornceeu, igualmente, abundante terra

s/gil/ata de fabrico itálico, nomeadamente Consp 12,22, e

Cálice COIISp. R.2.2, datávcis entre IS/lO a.c. e o rcinado de Tibério (Viegas, 2003, p. 225). Os outros, recolhidos

junto â fachada norte do templo, provêm de um estrato que ofereçeu também abundante terra sigi/lata de tipo itálico,

concretamente da forma COllSp. 22 ou 23 e Consp. 34,

com cronologia de 15 a

.e.

a 37 d.e. (lbidem, p. 261), para além de ânforas da Classe 15 do Guadalquivir e Dressel I

itálica.

Outras ânforas enquadráveis neste tipo (Fig. 3, n"

8

a 12) apresentam também caractcrísticas petrográficas especificas (Fabrico 3), características que estão apenas

presentes nestas formas.

Alguns destes nossos exemplares de «l-laltem 70»

de fabrico 3 têm bons paralelos morfológicos com formas produzidas por exemplo no Largo da Misericórdia em

Sctubal, datados de Tibério-Claudio (Tavares da

Silva, 1996, p. 47; Alarcão e Mayet,1990, p. 169), cm Abul

(Mayet e Tavares da Silva, 2002) e mesmo na fase mais

antiga dos fomos do Pinheiro (Mayet e Tavarcs da

Silva, 1998, p. 62), cuja cronologia pode ser situada cm

meados do século I (lbidem).

Como já antes referimos, os invcstigadores que têm trabalhado sobre os centros oleiros do vale do Sado

entenderam integrar estas ânforas no grupo genérico da

Dressel 14, ainda que reconheçam grandes afinidades

formais com ânforas de outros tipos, nomeadamente

Haltem 70 (lbidem). Atribuíram-lhe aqui a designação de varianteA.

Nota ao Catálogo: Iodas as peças foram rcnumcradas paro! o pres(.,'Ille texto indicando-se sempre o nU do inventário geral da Alcáçova de Santarém, c a proveniência no sítio

Referências

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