O perfil do ortodontista de Minas Gerais
Luiz Fernando Eto1, Valéria Matos Nunes de Andrade2
Objetivo: devido ao crescente número de ortodontistas e cursos de Ortodontia, surgiu o interesse de se conhecer o
perfil desses profissionais no estado de Minas Gerais, tornando públicas as condutas deles para a promoção de uma Ortodontia em excelência, evidenciando as técnicas mais utilizadas, as modificações do público alvo e as opiniões alheias no que tange ao futuro da especialidade e às entidades de classe.
Métodos: foram enviados questionários a todos os ortodontistas registrados no Conselho Regional de
Odontolo-gia de Minas Gerais (CRO-MG) até 30 de março de 2005, constituindo um total de 722 profissionais, dos quais 241 responderam (33%).
Conclusões: esse estudo permitiu levantar alguns pontos conclusivos sobre o perfil do ortodontista de Minas
Ge-rais, em relação à sua individualidade, formação e técnicas usadas. A demanda é constituída, em sua maioria por adolescentes (33,75%) e jovens adultos (27,45%), com indicação predominante dos próprios pacientes (46,79%). Dentre os dados mais relevantes, podemos citar a negligência no uso de alguns equipamentos de proteção indivi-dual, sendo que apenas 37,76% usam todos os recursos de biossegurança. A documentação final tem sido solicitada com menor frequência em relação àquela inicial, sendo as informações revisadas na literatura ainda mais assusta-doras, levando-se em conta a importância desses documentos. Considerando as perspectivas futuras da profissão, os ortodontistas otimistas não ultrapassaram a metade (45%) dos participantes.
Palavras-chave: Prática ortodôntica. Ortodontia em Minas Gerais. Ortodontia no Brasil.
Como citar este artigo: Eto LF, Andrade VMN. The orthodontist’s profile in Minas Gerais. Dental Press J Orthod. 2012 May-June;17(3):31.e1-9.
Enviado em: 08/08/2008 - Revisado e aceito: 11/05/2009
» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias des-critos nesse artigo.
Endereço para correspondência: Luiz Fernando Eto
Rua Ceará, 1431 – Sala 1302 – Bairro Funcionários – Belo Horizonte / MG CEP: 30150-311 – E-mail: ortoeto@globo.com
1 Professor assistente.
INTRODUÇÃO
Conhecer o perfil de uma área profissional é de extrema importância, tanto para os profissionais já atuantes, quanto para aqueles que ingressarão no mer-cado futuramente. Uma vez traçado esse perfil, os pro-fissionais terão à sua disposição informações valiosas, tais como onde a demanda é maior, quais tendências norteiam a profissão e quais mudanças ocorrem no público-alvo. Além disso, cria-se um espaço privilegia-do onde profissionais poderão compartilhar opiniões a respeito do futuro de sua profissão.
No campo da Ortodontia, já encontram-se disponí-veis estudos estatísticos que delineiam o perfil do pro-fissional e da profissão, sendo que, no Brasil, a primei-ra pesquisa sobre o perfil do ortodontista em âmbito nacional14 foi feita em 1994.
O presente trabalho, no entanto, foi motivado pela ausência de estudos específicos que tomassem como ob-jeto o ortodontista do estado de Minas Gerais. O estudo aqui apresentado reúne dados e conclusões, adquiridos através de um questionário que buscou as seguintes in-formações: dados profissionais, demanda de pacientes, filosofia de trabalho e perspectiva do futuro da profissão.
REvIsÃO DE lITERaTURa
Os Estados Unidos são o país que mais realizou pesquisas estatísticas com o objetivo de conhecer o perfil da Ortodontia em seus vários aspectos, princi-palmente o econômico. Vejamos a seguir alguns dados que fornecidos na literatura.
Em 1980, o número de ortodontistas norte-ameri-canos era de 7.500, havendo um aumento aproximado de 230 profissionais ao ano4. Observou-se que a
mé-dia de idade dos profissionais era de 45 anos, e que os homens dominavam o mercado (95,5%)7. A
docu-mentação diagnóstica solicitada apresentava distri-buição heterogênea: radiografias periapicais, 22,5%; interproximais, 13,6%; radiografia panorâmica, 91,7%; cefalometria lateral, 97,8%. Ao final do tratamento, notava-se uma redução considerável na documenta-ção solicitada inicialmente: radiografias periapicais, 10,5%; interproximais, 5,8%; radiografia panorâmica, 77,7%; cefalometria lateral, 69,3%7. Os traçados
cefa-lométricos tiveram preferência variável entre Steiner 43,3%, Ricketts 27,4% e Tweed 27,1%7.
Em relação à filosofia de trabalho dos ortodontis-tas, a literatura mostrou que a prática da Ortodontia e
Ortopedia coexistiam. Na Ortodontia, havia uma pre-ferência pela técnica dos aparelhos fixos pré-ajustados (64,7%), em detrimento às demais técnicas, e.g., Edge-wise Standard (20,0%), bioprogressiva (7,9%) e lingual (1,3%). Na Ortopedia, notou-se que o aparelho extrabu-cal (AEB) era indicado com mais frequência: Kloehn, 36,5%; cervical, 41,5%; e puxada alta, 26,6%); seguido pelo bionator, 23,7%, e plano de mordida, 23,1%7.
Quanto aos pacientes, a tendência ao atendimen-to de adulatendimen-tos era crescente,3,7,15 sendo que a indicação
ocorria, preferencialmente, através de colegas cirur-giões-dentistas (C.D.s) (50%), ou através dos próprios pacientes (34,6%)6. No que dizia respeito ao uso de
tecnologia no consultório, constatou-se que apenas 2% eram informatizados e outros 30% usavam serviço computadorizado terceirizado5.
No Brasil, esse tipo de levantamento da atividade clí-nica ortodôntica foi realizado, em 199214. Os dados
mos-traram que a média de idade dos profissionais era de 42 anos. A documentação inicial solicitada aos pacientes incluía modelos iniciais (99,19%), fotografias intrabucais (87,71%), telerradiografia de perfil (97,58%) e radiogra-fias panorâmicas (98,31%) e periapicais (75,78%).
Considerando a filosofia de trabalho, tanto a Or-todontia quanto a Ortopedia eram praticadas. No to-cante à Ortodontia, a técnica Edgewise era mais pre-valente (52,36%) em relação à técnica bioprogressiva (35,62%) ou à do arco contínuo (32,62%); o slot 0.022 era o mais utilizado (66,5%). Na prática da Ortopedia, 70,78% faziam uso dos aparelhos removíveis, sendo o bionator o mais usado (75%).
O cotidiano desses profissionais que, em sua maio-ria, atuavam há 16 anos no mercado, consistia em uma jornada de trabalho de 40 horas semanais, concentradas em 4 dias por semana. A média de atendimentos diários era de 16 pacientes, perfazendo um total de aproxima-damente 178 pacientes ativos, cuja indicação provinha de colegas (44,34%) e dos próprios pacientes (42%). Dos profissionais, 63,37% recebiam pacientes ortocirúrgicos e 74,49% cuidavam de pacientes com disfunção da arti-culação temporomandibular (ATM). Quanto ao empre-go de computador no consultório, 40% dos profissionais já possuíam serviços informatizados14.
No Brasil, o número de ortodontistas cresceu em sete anos (1993-2001), variando de 1.597 a 3.831, se-gundo dados do Conselho Federal de Odontologia (CFO). Nessa época, os ortodontistas constituíam
2,2% do total de C.D.s em âmbito nacional10. Um dado
que se sobressai ao compararmos o Brasil aos EUA é que, apesar de termos uma população equivalente a 40% àquela dos EUA e renda 82% menor, possuímos quase o triplo de cursos de Ortodontia (n=124, 2001)10.
A maioria dos profissionais da área apresentam uma visão pessimista em relação ao futuro da especia-lidade. Os motivos variam entre saturação do merca-do, cursos não-oficiais, concorrência com clínicos ge-rais e honorários insuficientes10.
A revisão da literatura evidencia a ausência de es-tudos mais específicos sobre o status quo da profissão em regiões específicas no Brasil. Partiu daí o interesse em delinear o perfil desses profissionais no estado de Minas Gerais e em tornar públicas suas condutas, vi-sando alcançar a excelência no exercício da especiali-dade. O estudo buscou evidenciar as técnicas mais uti-lizadas nos tratamentos, as mudanças apresentadas no público-alvo e as opiniões dos colegas com relação ao futuro da especialidade e das entidades de classe.
MÉTODOs
A coleta dos dados foi feita através de um questio-nário elaborado pelos pesquisadores envolvidos no es-tudo, o qual constituiu de 33 questões objetivas sobre a conduta diária do ortodontista e uma questão aber-ta, solicitando sugestões para melhorar a entidade de classe. Além do questionário, foi enviado, através dos correios, o Termo de Consentimento Livre e Esclare-cido que deveria ser assinado pelo profissional parti-cipante da pesquisa. O material deveria, então, ser de-volvido através de um envelope selado e endereçado, que também havia sido fornecido.
Todo material foi impresso em papel timbrado da Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE). Tais do-cumentos foram enviados a todos os ortodontistas que estavam registrados no Conselho Regional de Odon-tologia de Minas Gerais (CRO-MG) até a data de 30 de março de 2005. Eram 722 profissionais inscritos ativos, que recebiam regularmente as correspondências da entidade. A amostra constituiu-se de 241 ortodontistas que responderam e devolveram os questionários.
REsUlTaDOs
Dos 722 questionários enviados, 241 foram respon-didos, o que representa um percentual de 33.3%. Os dados coletados estão assim distribuídos:
Quanto ao sexo: 71,8% dos ortodontistas eram do
sexo masculino, enquanto 28,2% eram do sexo feminino.
Quanto à idade: a idade média dos profissionais
especialistas em Ortodontia, em Minas Gerais, foi de 39 anos, sendo a idade mínima de 27 anos e a máxima de 82 anos.
Quanto ao estado civil: o número de profissionais
casados perfaz um total de 75,9% da amostra, 13,3% são solteiros, 9,5% responderam “outros” e 1,2% não responderam.
Quanto ao perfil demográfico: todos os
orto-dontistas participantes da pesquisa residiam e traba-lhavam no estado de Minas Gerais, sendo que 11,63% encontravam-se na Grande BH (incluindo as cidades distantes de Belo Horizonte, até 50 km: Contagem, 21 km; Nova Lima, 22 km; Betim, 30 km; e São Joaquim de Bicas, 39 km) e 88,37% em cidades do interior do estado. Profissionais de 74 cidades do estado de Minas Gerais participaram espontaneamente da pesquisa.
Quanto à titulação: 91% dos entrevistados têm
ti-tulação completa de especialista; 24% têm mestrado e 4,6% doutorado. O estado onde mais se obteve o título de pós-graduação é Minas Gerais, com 54,8%, seguido de São Paulo, com 29% (Fig. 1).
Quanto à profissão: 96,7% dos profissionais da
amostra trabalham como autônomos. 5,8% deles rela-taram dividir o consultório com colegas (Fig. 2). 83% dos ortodontistas declararam atuar exclusivamente na especialidade.
Quanto ao tempo de exercício profissional, a Figu-ra 3 mostFigu-ra que 40% dos ortodontistas tFigu-rabalham há mais de 10 anos na especialidade; 36,9% têm de 5 a 10 anos de experiência na área. Constatou-se que 56,4% dos ortodontistas entrevistados trabalham uma mé-dia de 30 a 40 horas semanais, (Fig. 4).
Quanto aos pacientes: 36,1% dos ortodontistas
relataram que possuíam a média de mais de 200 pa-cientes em tratamento (Fig. 5). Dos entrevistados, 37,8% relataram que a média de pacientes atendidos por dia era de 11 a 20, conforme ilustra a Figura 6.
Adolescentes de 10 a 17 anos de idade constituem 33,75% da demanda por tratamento ortodôntico, se-guidos de jovens adultos de 17 a 30 anos de idade, 27,45%; crianças até 10 anos, 19,82%; e adultos acima de 30 anos, 18,98% da demanda.
A principal fonte de indicação de pacientes é par-ticular, totalizando 80,49%, enquanto 19,51% dos
Situação de exercício da especialização Autônomo Contratado - Funcionário Divide com colega Outros 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0
Figura 2 - Distribuição da amostra em relação à situação de exercício da
es-pecialização.
Tempo de exercício da especialidade 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0
Figura 3 - Distribuição da amostra em relação ao tempo em que exerce a
Or-todontia.
Figura 1 - Distribuição da amostra em relação ao local onde se obteve
a titulação. 100 MG SP RJ Outros estados Local da obtenção do título
Outros países 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0
Total de horas trabalhadas por semana com Ortodontia
100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0
Figura 4 - Total de horas trabalhadas por semana com Ortodontia.
Média de pacientes em tratamento 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0
Figura 5 - Distribuição da amostra em relação à média de pacientes em
tra-tamento. Figura 6 - Distribuição da amostra em relação à média de pacientes atendidos por dia.
Média de pacientes que são atendidos por dia
100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0
pacientes vêm através de convênios; 46,79% dos pacientes são indicados pelos próprios pacientes e 24,26%, por colegas C.D.s clínicos (Fig. 7).
A demanda de tratamento para pacientes com alte-rações de ATM no consultório é acima de 15 pacientes
ao ano, totalizando 29,5% da amostra; 6 a 10 pacientes, em 26,6%, da amostra; até 5 pacientes, em 22,4% e de 11 a 15 pacientes, em 17,8% da amostra.
Quanto aos pacientes que apresentam necessida-de ortocirúrgica, a necessida-demanda necessida-de tratamento é necessida-de 3 a 5
Não responderam + de 10 anos + 5-10 anos + 2-5 anos - 2 anos Não responderam +40 h +30-40 h +20-30 h 10-20 h 10 11-20 21-30 + de 30 0-50 +50-100 +100-150 +150-200 + 200
pacientes por ano, totalizando 35,7% da amostra; 1 a 2 pacientes, 33,6% da amostra; e mais de 10 pacientes por ano, 9,1% da amostra.
Quanto à documentação radiográfica: 100% dos
ortodontistas solicitam a documentação radiográfica em alguma fase do tratamento; 98,8% a solicitam ao paciente ao início de tratamento, 70,5%, a solicitam na fase intermediária e 80,01%, solicitam a documenta-ção ao final do tratamento.
Quanto ao tipo de documentação solicitada:
Os exames ficaram distribuídos em telerradiogra-fia, 97,1%; radiografia panorâmica, 96,3%; modelos, 94,6%; fotografias, 93,4%; radiografias periapicais de incisivos, 70,01%; radiografias periapicais de todos os dentes, 42,7%; e slides, 22,8%.
Em se tratando das análises cefalométricas usadas para diagnóstico, a mais utilizada pelos ortodontistas mineiros é a USP, com 48,1% da preferência. Em se-guida vêm cefalometria de Steiner-Tweed, com 32,8%; Ricketts, com 27,8%; Profis, com 19,5%; e, finalmente, Sassouni, com 14,9% (Fig. 8).
Quanto às técnicas ortodônticas e aparelhos uti-lizados: a técnica ortodôntica Edgewise Straight Wire,
mostrou-se a mais utilizada pelos ortodontistas em Mi-nas Gerais, com a preferência de 73,4% dos profissionais. A técnica Edgewise Standard é realizada por 35,3%; e 13,7% praticam Ricketts-bioprogressiva (Fig. 9).
O tamanho do slot dos braquetes mais utiliza-do em MG é o 0.022”, com 80,9% da preferência, e o 0.018” com 16,2%. Os outros 2,9 % dos participantes não responderam.
Verificou-se que 54,8% dos profissionais pratica a Ortopedia, sendo os aparelhos mais usados o Bionator (65,6%), Planas (27,0%), Bimler (22,8%) e o Frankel (10,0%) (Fig. 10).
No que diz respeito à extração, 63,9% dos profis-sionais participantes da amostra declararam realizar extrações com finalidade ortodôntica sempre que ne-cessário; os outros 32,8% preferem evitar a extração, buscando, antes, outros recursos.
Quanto à legalidade dos serviços prestados: dos
profissionais entrevistados, 80,1% afirmaram preen-cher um prontuário com a história clínica do paciente, 88% disseram planejar o tratamento por escrito, 83,4% solicitavam a assinatura do paciente em um documen-to antes do início do tratamendocumen-to e 73% afirmaram fazer um contrato de prestação de serviços antes do início do tratamento ortodôntico, sendo que 40% desses contra-tos eram avaliados por um advogado.
Quanto à utilização de computadores no con-sultório: 75% dos participantes declararam fazer uso
do computador no consultório.
Quanto à utilização de equipamentos de bios-segurança no consultório: a distribuição do uso de
equipamentos de biossegurança indica que 96,25% dos profissionais usam luvas; 95,8%, máscara; 77,6%, óculos; 44%, gorro; e 80%, jaleco (Fig. 11). A porcen-tagem dos profissionais que utilizam todos os tipos de recursos da biossegurança é de 37,76%.
Quanto ao grau de atualização, entidades de clas-se e perspectivas para o futuro da profissão: 38,6%
dos profissionais relataram participar de congressos
100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0
Percentual da fonte de indicação dos clientes ortodônticos
Figura 7 - Distribuição da amostra em relação à fonte de indicação de
pacien-tes ao consultório.
Rickets USP Sassouni Steiner-tweed Profis Tipos de análises cefalométricas usadas para diagnóstico
100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0
Figura 8 - Distribuição da amostra em relação às condutas adotadas pelos
or-todontistas quanto ao tipo de análise radiográfica utilizada para diagnóstico.
C.D.s clínicos Especialista Clientes Espontânea
Técnica ortodôntica que executa Ortopedia Edgewise Standard Edgewise Straight Wire Rickets Biopro-gressiva 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0
Figura 9 - Distribuição da amostra em relação à técnica ortodôntica
execu-tada.
Utensílio de biossegurança usado no consultório
Luvas Máscara Óculos Gorro Jaleco 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0
Figura 11 - Distribuição da amostra em relação à utilização de utensílios de
biossegurança.
Se pratica Ortopedia, quais os aparelhos mais usados?
Bionator Bimler Frankel Planas 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0
Figura 10 - Distribuição da amostra em relação aos aparelhos ortopédicos
usa-dos pelos ortodontistas.
Profissionais (%) que participam de congresso X Grau de atualização
100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Congressos regionais
Muito atualizado Atualizado Desatualizado
Congressos em outros estados Congressos interna-cionais
Figura 12 - Distribuição da amostra em relação ao grau de atualização dos
pro-fissionais ortodontistas e sua frequência a congressos.
Tipos de congressos (atualização)
Regionais Sim Não Não responderam Outros Estados Internacionais 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0
Figura 13 - Distribuição da amostra com relação ao tipo de congresso que
par-ticipam.
uma vez ao ano; 22,4%, duas vezes ao ano e 35,3% parti-cipam de mais de dois congressos anualmente.
Dos entrevistados, 55,2% se consideram atualiza-dos; 41,5%, muito atualizados, e 0,4% desatualizados. Dentre os que se consideram atualizados, 43,15% fre-quentam congressos em outros estados (Fig. 12). Os
ortodontistas revelaram que os congressos que fre-quentam em outros estados representam 79,3%; os regionais, 69,7%; e os internacionais, 40,2% (Fig. 13).
Quanto à participação em alguma entidade de clas-se, 80,1% declararam participar de alguma entidade regional; 34%, de uma entidade nacional; 30,3% par-ticipavam de entidades de outros estados e 15,7% ti-nham ligação com alguma entidade internacional. Os especialistas que não fazem parte de nenhuma entida-de entida-de classe totalizam 7,1%.
Dentre os profissionais, 45% têm perspectivas fu-turas positivas em relação à especialidade; 22,6%, perspectivas neutras e 28,6% perspectivas negativas.
Dentre as sugestões apresentadas pelos especialis-tas para a melhora de sua entidade de classe regional, destacamos as seguintes:
• Criar um selo de qualidade, como aquele usado pelos cirurgiões plásticos.
• Realizar campanhas de valorização da especiali-dade e do profissional, bem como conscientizar
e esclarecer a população com relação à impor-tância da Ortodontia.
• Fiscalizar o exercício da profissão.
• Incentivar uma maior participação dos ortodon-tistas em entidades de classe, fortalecendo-as e transformando-as em voz ativa na sociedade. •
Criar instrumentos que proíbam cursos não re-gularizados junto ao Ministério da Educação e Cultura (MEC) e ao Conselho Federal de Odon-tologia (CFO).
DIsCUssÃO
Até março de 2005, estavam registrados no Con-selho Regional de Odontologia do estado de Minas Gerais (CRO-MG), 722 ortodontistas, número que representa 9,81% desses especialistas no Brasil. Nessa mesma data, o Brasil contava com 6.428 especialistas em Ortodontia e Ortopedia Facial.
Nossa amostra contou com 241 questionários res-pondidos, o que corresponde a um percentual de 33,3 do total de profissionais da área no estado de Minas Gerais. Em 1992, existiam 1.597 ortodontistas registrados no CFO14. Em 1995, 2.008 especialistas em Ortodontia
esta-vam devidamente registrados13. Em 2001, esse número
havia aumentado para 3.83110. Uma pesquisa realizada
em âmbito nacional revelou que os ortodontistas equiva-liam a 16,4% dos C.D.s registrados no CFO em 19932.
Quanto ao sexo: podemos observar a ascensão das
mulheres no tocante à participação ativa no merca-do de trabalho, correspondenmerca-do à proporção de uma mulher (28,2%) para cada três homens ortodontistas (71,8%). Em 2002, uma pesquisa nacional mostrou que o número de cirurgiãs-dentistas brasileiras (57,5%) já ultrapassava de C.D.s homens (42,5%)2.
Quanto à idade: Com relação à idade dos
profissio-nais especialistas em Ortodontia, os resultados revelam que, em Minas Gerais, a média de idade foi de 39 anos, sendo a idade mínima de 27 anos e a máxima de 82 anos. Nesse mesmo período, a maioria (29,5%) dos C.D.s bra-sileiros apresentava entre 26 e 30 anos de idade2.
Quanto ao estado civil: o número de
profissio-nais casados, atualmente, perfaz um total de 75,9% da amostra; 13,3% são solteiros. A porcentagem de clíni-cos solteiros entrevistados, em 2002, era bem maior (41%) quando comparada aos casados (54,2%)2.
Quanto ao perfil demográfico: quando
compara-das aos C.D.s de todo o Brasil, os quais, em sua maioria
(83,9%), atuam somente na cidade onde residem2, as
porcentagens se invertem para o ortodontista de Mi-nas Gerais, cujo trabalho se desenvolve fora do local de residência (88,37%).
Quanto à titulação: 91% dos entrevistados têm
titulação completa de especialista; 24% têm mestra-do e 4,6% mestra-doutoramestra-do. Dos C.D.s brasileiros, 42,7% não fizeram cursos de pós-graduação, devido, principal-mente, à falta de recursos financeiros (46,6%) e à falta de tempo (19,5%). Aqueles que o fizeram compõem de um grupo de 42% de especialistas e de uma minoria de mestres (2,6%) e doutores (1,6%)2.
Quanto à profissão: a maioria dos ortodontistas é
autônoma (96,7%), como também ocorre com os C.D.s brasileiros (89,6%)2. Constatou-se que 56,4% dos
en-trevistados trabalha uma média de 30 a 40 horas por semana (Fig. 4). A mesma proporção de horas traba-lhadas foi verificada em relação aos C.D.s em âmbito nacional (54,6%)2.
Quanto aos pacientes: embora a melhor idade
para o tratamento da má oclusão seja na fase de cres-cimento, que abrange, aproximadamente, a faixa entre 6 e 14 anos, observa-se que a procura para o tratamen-to de crianças de até 10 anos nos consultórios é baixa (19,82%) e que equivale à percentagem de pacientes adultos acima de 30 anos (18,98%) que buscam o con-sultório do ortodontista.
Os pacientes são indicados, em 46,79% dos casos, pelos próprios pacientes e, em outros 24,26%, por cole-gas C.D.s clínicos, resultado que confirma os dados evi-denciados pela literatura específica, que a maior fonte de indicação provém dos próprios pacientes (89,3%)10.
A demanda para tratamento de pacientes com alte-rações de ATM no consultório ficou assim distribuída: 29,5% da amostra receberam mais de 15 pacientes por ano; 26,6% entre 6 a 10 pacientes; 22,4% até 5 pacien-tes; e 17,8% entre 11 e 15 pacientes. É importante, ain-da, ressaltar a importância de os ortodontistas tam-bém conhecerem mais a respeito dessas patologias, a fim de tratá-las adequadamente e até evitar tais pro-blemas, de posse das suas causas.
Dos pacientes, 74,49% têm disfunção ATM14. A
ne-cessidade de um exame mais criterioso dos sinais e sintomas de disfunção temporomandibular (DTM), antes de se iniciar o tratamento ortodôntico, já havia sido enfatizada em um estudo envolvendo 168 ado-lescentes, o qual correlacionava sintomas de dor e
desconforto facial com pacientes do sexo feminino, principalmente na fase pós-tratamento ortodôntico9.
Em outro estudo, a prevalência de DTM foi obser-vada em 301 pacientes pré-ortodônticos, o que levou os pesquisadores à conclusão de que, em um grande número de pacientes, há uma condição subclínica de DTM pré-existente, a qual poderá ser exacerbada com o tratamento ortodôntico11.
É oportuno, também, mencionar que os ortodon-tistas responsáveis pela manutenção de uma oclusão funcional equilibrada, muitas vezes, negligenciavam a integridade das ATMs e da musculatura mandibular de adolescentes pré-ortodônticos com sintomas de DTM12.
Quanto aos pacientes com necessidade ortocirúrgica, divide-se da seguinte maneira a demanda anual: 35,7% da amostra recebem de 3 a 5 pacientes; 33,6% , de 1 a 2 pacientes e 9,1% tratam mais de 10 pacientes. A literatu-ra relata prevalência de 63,37%14. Consequentemente, é
necessário que o ortodontista trabalhe de maneira inter-disciplinar com a especialidade bucomaxilofacial, já que sempre há pacientes com necessidade ortocirúrgica.
Quanto à documentação radiográfica: 100% dos
ortodontistas solicitam a documentação radiográfica em alguma fase do tratamento. Dada a importância desses exames complementares, não a solicitam so-mente para diagnóstico, mas também para fins jurídi-cos. Ao contrário desses achados, observamos que as documentações intermediárias e finais não estão sen-do realizadas por 82,8% sen-dos ortosen-dontistas10.
Quanto às técnicas ortodônticas e aparelhos utilizados: a técnica ortodôntica mais utilizada pelos
ortodontistas em Minas Gerais é a Edgewise Straight Wire, com 73,4% da preferência. Há um grupo sig-nificativo que realiza a técnica Edgewise Standard (35,3%) e um grupo menor (13,7%) que pratica a Ric-ketts-bioprogressiva.
Alguns fatores influenciaram o emprego de novas práticas ortodônticas como, por exemplo, a técnica do arco reto (straight wire), tendência notada em âmbi-to mundial1. São eles: produtividade, ou seja, o menor
tempo clínico que o paciente passa na cadeira do or-todontista; menor manipulação de fios e o anseio de todo profissional pela simplificação dos métodos de tratamento, os quais, ao mesmo tempo, primam pela excelência e estabilidade.
Quanto à legalidade dos serviços prestados: com o
aparecimento dos processos judiciais contra consultórios
de ortodontistas, tornou-se importante enfatizar alguns procedimentos preventivos nas condutas, quanto à lega-lização do serviço prestado pelo profissional, contratado pelo paciente8. O presente estudo evidenciou a
preocupa-ção dos ortodontistas participantes com relapreocupa-ção ao fator legalidade: 80,1% afirmaram preencher prontuário clíni-co; 88% fazem planejamento ortodôntico por escrito; 73% assinam contrato antes do início do tratamento, sendo que 40% desses contratos são revisados por um advogado.
Quanto à utilização de computadores no con-sultório: 75% dos participantes revelaram que fazem
uso do computador no consultório. Porém, 43,3% dos C.D.s brasileiros relataram que o consultório ainda não se encontrava informatizado2.
Quanto à utilização de equipamentos de biosse-gurança no consultório: a porcentagem dos
profissio-nais que utilizam todos os tipos de recursos da biosse-gurança ainda é baixa (37,76%); há necessidade de ên-fase. A fim de prevenir ocorrências de contaminações na equipe e proteger os pacientes de possíveis infecções cruzadas, todos os pacientes devem ser considerados como portadores em potencial de alguma infecção.
Quanto às entidades de classe e perspectivas para o futuro da profissão: 80,1% dos profissionais
entrevistados participam de alguma entidade regio-nal; 34% participam de uma entidade nacioregio-nal; 30,3% participam de entidades de outros estados; e 15,7% de entidades internacionais. Foi observado que 7,1% dos especialistas não fazem parte de nenhuma entidade de classe. Entre os C.D.s, encontramos que 57,7% par-ticipam de alguma entidade de classe que não o CFO, como, por exemplo, as associações (94,4%). O grau de satisfação com relação a esse tipo de entidade foi alto, sendo de 22,6% para ótimo e 47,7% para bom2.
De acordo com as respostas apresentadas pelos en-trevistados, observamos que 45% dos profissionais têm perspectivas futuras positivas em relação à especialidade; 22,6% apontam para uma neutralidade, enquanto 28,6% relataram perspectivas negativas em relação à Ortodontia.
Com os C.D.s brasileiros, a situação se mostrou um pouco melhor, com um total de 69,1% dos entrevistados declarando que escolheriam novamente a profissão e outros 69,5% se dizendo otimistas em relação ao futu-ro da Odontologia2. Confrontando esses dados, outros
autores apontam uma porcentagem extremamente alta (66,9%) de ortodontistas que não estimulariam seus fi-lhos a fazer o curso de Odontologia na atualidade10.
© 2012 Dental Press Journal of Orthodontics 31.e9 Dental Press J Orthod. 2012 May-June; 17(3):31.e1-9
Vislumbrando futuros mais promissores para a profissão, os especialistas que participaram do estudo fizeram algumas solicitações às entidades de classe, as quais, se fossem atendidas, teriam os seguintes efei-tos: diminuição do número de cursos e de ortodontis-tas através de maior rigor na fiscalização; a abertura de novos cursos de especialização, os quais trariam maiores possibilidades de benefícios financeiros para o profissional, além de uma valorização do seu desem-penho; maior valorização financeira ao especialista em ortodontia, além do crescente reconhecimento.
CONClUsÃO
Esse estudo permitiu levantar informações para delinear o perfil do profissional de Ortodontia do esta-do de Minas Gerais, consideranesta-do sua individualidade,
seus pacientes, formação e técnicas usadas. Em relação ao público-alvo, podemos concluir que ele é composto, em sua maioria, por adolescentes (33,75%) e jovens adultos (27,45%). Os pacientes chegam aos consultó-rios do ortodontista, predominantemente, através de indicação dos próprios pacientes (46,79%).
Dentre as informações mais relevantes coletadas, podemos citar a negligência no uso de alguns equi-pamentos de proteção individual, sendo que apenas 37,76% usam todos os recursos de biossegurança.
A documentação final tem sido solicitada com menor frequência em relação àquela inicial, o que evidencia a não-observância de uma parte importante do processo de documentação do tratamento ortodôntico. No tocante às perspectivas futuras da profissão, os ortodontistas otimis-tas não ultrapassaram a metade (45%) dos entrevistados.
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