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Nota Técnica. Universidade Federal de Mato Grosso. COVID-19: um ano da pandemia em Mato Grosso. Março de 2021

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COVID-19: um ano da pandemia em Mato Grosso

Autores

Ligia Regina de Oliveira

1

Moiseis dos Santos Cecconello

2

Amanda Cristina de Souza Andrade

1

Emerson Soares dos Santos

3

Ana Paula Muraro

2

Ruan Carlos Ramos da Silva

4

1 Instituto de Saúde Coletiva - UFMT 2 Departamento de Matemática - UFMT 3 Departamento de Geografia - UFMT 4 Laboratório de Geotecnologias – IFMT

Universidade Federal de Mato Grosso

Nota Técnica

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COVID-19: um ano da pandemia em Mato Grosso

Projeto de Extensão Difundindo informações sobre a covid-19 em Mato Grosso Instituto de Saúde Coletiva-UFMT. Nota Técnica 01/2021

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Introdução

Em 11 de março de 2020, a COVID-19 foi reconhecida, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como uma pandemia tendo, naquela data, a ocorrência cerca de 118.000 casos em 114 países e 4.291 óbitos1. Um ano após, o mundo contabiliza 118.754.336 casos confirmados de

COVID-19, e 2.634.370 mortes2. No mesmo período, o Brasil registrou 11.439.558 casos da Covid-19 e

277.102 óbitos3.

O país passa atualmente pelo pior cenário desde o início da pandemia, caracterizado pela ocorrência no agravamento simultâneo de diversos indicadores, como o crescimento do número de casos, de óbitos, alta positividade de testes e a sobrecarga de hospitais, além da exaustão dos profissionais de saúde4. Na última Semana Epidemiológica - SE 10 - (07 a 13 de março de 2021)

foram registrados o maior número de casos e mortes por semana - 500.722 e 12.777, respectivamente, com média diária 71.531,7 casos/dia e 1.825,3 óbitos/dia, as mais elevadas desde o início da pandemia3. Em 16 de março de 2021, 24 unidades federativas e o Distrito Federal

estavam na zona de alerta crítica, com 15 delas apresentando taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 superiores a 90%, entre essas Mato Grosso. Entre as 27 capitais do país, 25 encontravam-se com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos iguais ou superiores a 80%, encontravam-sendo 15 delas superiores a 90%, sendo Cuiabá uma delas4.

Mato Grosso registrou, até 13 de março de 2021, 270.169 casos confirmados da Covid-19 e 6.219 óbitos em residentes no estado5, resultando em taxa de incidência de 7.819,4/100.000

habitantes, taxa de mortalidade 180,0/100.000 habitantes e letalidade de 2,3%.

Em 11 de março de 2021, 16 municípios estavam classificados como alto risco para o coronavírus: Alta Floresta, Barra do Garças, Cáceres, Carlinda, Cuiabá, Nova Mutum, Nova Xavantina, Peixoto de Azevedo, Pontes e Lacerda, Primavera do Leste, Rondonópolis, Sinop, Sorriso, Várzea Grande, Conquista D’Oeste e Cotriguaçu6.

Em 20 de janeiro iniciou-se a vacinação contra Covid-19 no país sendo, até 17 de março, vacinadas com a primeira dose 4,3% (9.281.548) da população brasileira e com a segunda dose, 1,4% (3.539.612). Em Mato Grosso a cobertura vacinal foi 3,4% (119.484) e 1,5% (53.460), respectivamente, sendo que o estado utilizou 72,5% dos imunobiológicos recebidos7.

O objetivo desta nota técnica foi analisar o comportamento da covid-19 no tempo, espaço e características das pessoas residentes em Mato Grosso.

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Metodologia

Nesta nota técnica, analisa-se os microdados de casos notificados, internações e mortes disponíveis no painel da Secretaria de Estado da Saúde de Mato Grosso (SES/MT)5. Os dados de

casos e óbitos foram coletados no dia 13 de março de 2021, quando haviam registrados no Painel Epidemiológico no 3705, 270.169 casos e 6.219 mortes. Para análise do perfil dos casos que

necessitaram de internação foi utilizado os microdados do INDICASUS Internação, disponibilizados no dia 15 de janeiro de 2021.

Na planilha de microdados foram registrados 265.337 casos e 6.130 óbitos até 13 de março de 2021, e 22.576 internações até 14 de janeiro de 20215. Esses são, portanto, os dados utilizados

para o cálculo dos diversos indicadores apresentados nesta nota técnica.

Para a descrição espacial dos dados de casos, internações e óbitos considerou-se a composição das Regiões de Saúde (Resolução CIB/MT 57 de 26 de julho de 2018). Foram calculadas a taxa de incidência (por 100.000 habitantes), de mortalidade (por 100.000 habitantes) e de letalidade (% de óbitos entre os casos confirmados) da covid-19, além da taxa de leitos de enfermaria de UTI pactuados (por 100.000 habitantes). Para os cálculos, foram consideradas as estimativas populacionais por sexo e faixa etária estimadas para 2020 disponíveis no DATASUS-Ministério da Saúde8.

Neste trabalho foi utilizado uma variação do modelo SIR9 tanto para as estimativas de Rt

bem como para as simulações de cenários de projeção da dinâmica temporal futura. Os parâmetros do modelo são determinados por regressão não linear sobre o conjunto de dados. Diversas simulações foram realizadas para determinar a dinâmica temporal futura da Covid19 em MT e em cada simulação um valor de Rt é escolhido ao acaso com base nos valores de Rt obtidos nos dados históricos. Isto é, considera-se que a dinâmica temporal futura segue os padrões já estabelecidos nos dados históricos.

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O cenário epidemiológico da covid-19 em Mato Grosso

São distintas as características dos casos notificados quando comparadas com aqueles internados e os que vieram a óbito por covid-19 em Mato Grosso no primeiro ano da pandemia no estado (Tabela 1). Quanto ao sexo, houve maior acometimento do sexo masculino tanto nas internações (57,3%) como nos óbitos (58,9%) diferentemente dos casos, nos quais a maior frequência foi no sexo feminino (53,0%).

A idade média foi 39,6 anos entre os casos de covid-19 em Mato Grosso, 56,6 anos em pacientes internados e 66,0 anos entre aqueles que foram a óbito. Observa-se que a maioria dos casos ocorreu em adultos (20 a 59 anos), que representaram aproximadamente 78% dos casos registrados, enquanto os idosos representaram cerca de 70% das mortes por covid-19 em Mato Grosso (Tabela 1).

Tabela 1. Características dos casos, internações e mortes por covid-19. Mato Grosso, 2020-2021.

CARACTERÍSTICAS CASOS INTERNAÇÕES ÓBITOS

Número 265.337 22.576 6.130

Sexo (%) Feminino –53,0 Masculino –57,3 Masculino – 58,9

Idade média (anos) 39,6 56,6 66,0

Idosos (%) 13,0 45,7 68,4

Adultos (%) 77,6 52,1 30,9

Criança e adolescentes (%) 9,4 2,2 0,7

Preta+Parda (%)1 61,0 68,3 70,1

Comorbidade (%) 19,0 58,9 72,1

¹Percentual calculado pelo total de dados disponíveis para a variável raça/cor: Casos = 235.626 (88,8%); Internações = 19.024 (84,3%); Óbitos = 5.177 (84,4%).

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Prevaleceu indivíduos de cor/raça negra (preta+parda) seja nos casos, internações ou óbitos, com frequência mais elevada entre os óbitos mortes por covid-19 no estado (Tabela 1). A presença de comorbidades foi registrada em 19,0% dos casos, 58,6% dos indivíduos internados e 72,1% das mortes, sugerindo maior gravidade naqueles com presença de comorbidades. Entre as comorbidades destacam-se hipertensão e diabetes.

Em Mato Grosso a taxa de incidência por covid-19 no período foi de 7.527,0/100.000 habitantes. O sexo masculino tem menor taxa de incidência (6.984,8/100.000) que o sexo feminino (8.079,4/100.000), porém maior taxa de hospitalização (723,4/100.000; 554,8/100.000) e de mortalidade (207,0/100.000 ; 143,6/100.000).

A taxa de incidência mais elevada foi verificada em adultos (10.067,9/100.000 habitantes), enquanto a taxa de hospitalização, a taxa de mortalidade e a letalidade foi maior em idosos – 2.615,2/100.000, 1.064,7/100.000 e 12,1% respectivamente (Tabela 2). Observa-se que a letalidade cresce com a idade: entre os idosos, por exemplo, a maior letalidade foi no grupo de 80 anos e mais, dentre os quais cerca de 27,3% vieram a óbito, enquanto que entre 79 a 79 anos foi 16,2% e 7,0% em 60 a 69 anos. A letalidade entre indígenas (4,4%) e negros (2,3%) é mais elevada quando comparada com os demais grupos de indivíduos de cor/raça branca (1,9%) e amarela (1,4%). Tabela 2. Taxa de incidência, taxa de hospitalização, taxa de mortalidade por 100.000 habitantes e letalidade (%) por grupo etário. Mato Grosso, 2020-2021.

Grupo etário Taxa de

Incidência Taxa de Hospitalização Taxa de Mortalidade Letalidade (%) Crianças 1.546,0 51,6 4,7 0,3 Adolescentes 3.079,2 41,2 2,8 0,1 Adultos 10.067,9 575,9 92,8 0,9 Idosos 8.785,6 2.615,2 1.064,7 12,1 Total 7.527,2 640,2 173,8 2,3

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Ao longo dos primeiros 12 meses de epidemia de covid-19 em Mato Grosso, houve duas elevações importantes no número de casos e óbitos pela doença registrados. Entre as semanas epidemiológicas 20 e 30 (30 de maio a 25 de julho de 2020) o número de casos passou de 1.560 para 9.753 por semana e o número de óbitos pela doença subiu de 57 para 277 registrados por semana. Ou seja, o número de casos aumentou em 6 vezes e de óbitos em quase 5 vezes em aproximadamente dois meses. Nos meses subsequentes observou-se elevado número de óbitos registrados semanalmente, estando acima de 100 óbitos semanais até 03 de outubro de 2020 (final da semana epidemiológica 40). Este cenário volta a se repetir em dezembro de 2020 (semana epidemiológica 50), quando o número de casos registrados volta a mostrar rápido aumento e, consequentemente, poucas semanas depois, voltamos a registrar mais de 100 óbitos por semana no estado por covid-19 (Figura 1), sendo a média de 151 óbitos por semana nas nove primeiras semanas epidemiológicas de 2021.

Pela defasagem da alimentação dos dados no sistema, a análise das últimas semanas epidemiológicas fica prejudicada, uma vez que notificações e óbitos podem ainda não ter sido lançadas no sistema INDICASUS.

Figura 1. Casos e óbitos por semana epidemiológica de notificação. Mato Grosso, 2020-2021.

Em relação à evolução dos casos e óbitos entre internados e da taxa de mortalidade hospitalar conforme o mês de admissão, o maior número de internações foi nos meses de junho (n=3.581), julho (n=5.089) e agosto (n=4.178), representando 57,6% de todos as internações no período de 22 de março de 2020 a 14 de janeiro de 2021 (Figura 2). A maior taxa de mortalidade hospitalar por covid-19 foi observada em junho (2,97 por 100 pessoas/ dia), seguidos dos meses de

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julho (2,60) e agosto (2,28). É importante destacar a tendência de crescimento da taxa de mortalidade hospitalar a partir do mês de novembro e a alta taxa do mês de janeiro (2,46), que apesar de ter dados de somente 15 dias, tem valor próximo aos meses de pico observados no ano de 2020.

Figura 2. Hospitalizações e mortalidade hospitalar por covid-19. Mato Grosso, 2020-2021.

IC 95%: Intervalo de confiança de 95%

Quando avaliada a distribuição de casos e óbitos por região de saúde, a taxa de incidência variou de 3.513 casos por 100.000 habitantes na Região Araguaia Xingu para 9.890 casos por 100.000 habitantes na Região Teles Pires. A Região da Baixada Cuiabana liderou entre as regiões do estado quanto a taxa de mortalidade por covid-19 (3.192 óbitos por 100.000 habitantes), seguida da Região Garças Araguaia e Teles Pires, enquanto a Região Araguaia Xingu foi a de menor taxa (72 óbitos por 100.000 habitantes) (Tabela 3).

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Tabela 3: Casos e óbitos por covid-19 e leitos de UTI pactuados por regiões de saúde. Mato Grosso, 2020-2021. Região de Saúde Casos Óbitos Leitos pactuados para COVID-19 Taxa de incidência Comorb idade Taxa de mortali dade Comorb idade Letalid ade Leitos/ 100.000 hab Alto Tapajós 8.848 8.145,8 17,7 104 95,7 65,4 1,7 25 23,0 Araguaia Xingu 3.237 3.513,5 17,8 67 72,7 76,1 2,7 - - Baixada Cuiabana 78.710 7.736,8 28,7 2.513 247,0 76,8 3,4 258 25,4 Centro Norte 5.176 5.082,8 23,1 115 112,9 80,0 2,5 - - Garças Araguaia 9.293 7.318,4 19,0 253 199,2 76,7 3,2 9 7,1 Médio Araguaia 6.313 6.285,3 15,7 118 117,5 58,5 2,2 10 10,0

Médio Norte Matogrossense 20.956 8.289,5 12,1 344 136,1 66,9 1,5 13 5,1

Noroeste Matogrossense 6.519 3.854,0 13,6 150 88,7 77,3 2,3 10 5,9

Norte Araguaia Karajá 1.496 5.931,3 21,4 25 99,1 60,0 2,0 - -

Norte Matogrossense 5.969 8.690,5 12,0 107 155,8 76,6 2,4 - - Oeste Matogrossense 13.057 6.558,1 14,4 367 184,3 63,8 3,0 10 5,0 Sudoeste Matogrossense 8.282 6.891,8 19,6 178 148,1 71,3 2,5 10 8,3 Sul Matogrossense 43.471 8.071,2 17,6 1.042 193,5 67,8 2,6 50 9,3 Teles Pires 43.920 9.890,0 9,9 563 126,8 67,5 1,4 71 16,0 Vale do Peixoto 6.430 6.003,7 19,6 136 127,0 69,9 2,3 10 9,3

Vale dos Arinos 3.660 6.783,1 12,3 48 89,0 60,4 1,5 - -

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Desta forma, três regiões se destacaram quanto a elevada incidência (acima de 7 para cada 100 habitantes) e mortalidade (acima de 2 óbitos para cada 1.000 habitantes): Baixada Cuiabana, Garças Araguaia e Sul Matogrossense. A Região Oeste Matogrossense, apesar da taxa de incidência intermediária, teve elevada mortalidade, sendo aproximadamente 2 óbitos por covid-19 para cada 1.000 habitantes do município. Essa mesma região, juntamente com as regiões da Baixada Cuiabana e Garças Araguaia, tiveram letalidade acima de 3% (Figura 3).

A frequência de comorbidades entre os casos de covid-19 em Mato Grosso foi de 19%, sendo a mais elevada nas regiões Baixada Cuiabana (28,7%), Centro Norte (23,1%) e Norte Araguaia Karajá (21,4%). Cerca de 72% dos indivíduos que vieram a óbito apresentavam alguma comorbidade, sendo os maiores índices nas regiões Centro Norte (80,0%) e Noroeste Matogrossense (77,3%).

Figura 3. Taxa de incidência e taxa de mortalidade por covid-19 (por 10.000 habitantes) segundo regiões de saúde. Mato Grosso, 2020-2021 .

1-Alto Tapajós; 2-Araguaia Xingu; 3-Baixada Cuiabana; 4-Centro Norte; 5-Garças Araguaia; 6-Médio Araguaia; 7-Médio Norte Matogrossense; 8-Noroeste Matogrossense; 9-Norte Araguaia Karajá; 10-Norte Matogrossense; 11-Oeste Matogrossense; 12-Sudoeste Matogrossense; 13-Sul Matogrossense; 14-Teles Pires; 15-Vale do Peixoto; 16-Vale dos Arinos.

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Em relação a distribuição dos leitos de UTI, em 13 de março de 2020, Mato Grosso dispunha de 13 leitos para cada 100.000 habitantes, entretanto, observa-se ainda cinco das 16 regiões de saúde do estado sem leitos pactuados para atendimento exclusivo de casos de covid-19 em 13 de março de 2021. Além disso, as regiões Médio Norte, Noroeste e Oeste Matogrossense apresentavam menos de 6 leitos por 100.000 habitantes (Tabela 3).

No decorrer dos 12 primeiros meses de registro de casos de covid-19 no estado, como já mencionado anteriormente sobre a dinâmica de transmissão da doença, os meses de julho e agosto de 2020 e janeiro e fevereiro de 2021 foram os com as maiores taxas de incidência e de mortalidade. É importante destacar que a análise aqui apresentada se refere aos dados coletados no dia 13 de março de 2021, em que muitos casos e óbitos poderiam não ter sido computados. Na maioria dos meses a taxa de letalidade, dada pela proporção de casos que resultaram em óbitos por covid-19, manteve-se em torno de 2%, com exceção dos meses de maio a agosto de 2020 que foi superior a 3%. Os valores elevados de letalidade podem refletir graves falhas e a sobrecarga do sistema de atenção e vigilância em saúde nesses meses em que houve o elevado número de casos da doença, como a insuficiência de testes de diagnóstico, identificação de grupos vulneráveis e encaminhamento de doentes graves (Tabela 4).

A distribuição espacial da incidência por covid-19 nos municípios de Mato Grosso (Figura 4) tem sido heterogênea em todo o período da pandemia, com as taxas municipais variando de zero casos a 4.000 casos por 100.000 habitantes. Até o final do segundo mês da pandemia, cerca de 80 municípios (pouco mais da metade) ainda não tinha registro de casos, e no terceiro mês (segunda semana de junho de 2000) este número caiu para menos de 20 municípios, e as taxas não ultrapassaram 1.000 casos por 100.000 habitantes. A partir do dia 14 de junho de 2020 o surgimento de novos casos teve uma aceleração, com a maioria dos municípios apresentando taxas superiores a 500 casos por 100.000 habitantes nos meses de julho, agosto e setembro, sendo que neste período todas as regiões de saúde tinham municípios nesta situação.

Uma característica da covid-19 ao nível regional e municipal é a oscilação da incidência no decorrer do tempo, apresentando acréscimo e decréscimo de um mês para outro. Apesar deste aspecto geral, é importante destacar que a região Teles Pires tem fugido a esta característica, pois em todo o período há municípios com altas taxas, principalmente após o mês de junho de 2020. Mesmo no período de retração da doença (setembro, outubro e novembro), a região Teles Pires tem municípios com taxas superiores a 1.000 casos por 100.000 habitantes.

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Tabela 4. Taxa de incidência e taxa de mortalidade por 100.000 habitantes e letalidade (%) por covid-19 segundo mês de notificação. Mato Grosso, 2020-2021.

Mês/Ano Casos Taxa de

Incidência Óbitos Taxa de mortalidade Letalidade Março/2020 331 9,4 5 0,1 1,5 Abril/2020 2.135 60,5 22 0,6 1,0 Maio/2020 3.574 101,4 132 3,7 3,7 Junho/2020 22.850 648,0 949 26,9 4,2 Julho/2020 39.712 1.126,2 1.267 35,9 3,2 Agosto/2020 36.731 1.041,7 873 24,8 2,4 Setembro/2020 29.243 829,3 545 15,5 1,9 Outubro/2020 16.588 470,4 283 8,0 1,7 Novembro/2020 11.184 317,2 213 6,0 1,9 Dezembro/2020 23.363 662,6 373 10,6 1,6 Janeiro/2021 37.432 1.061,5 678 19,2 1,8 Fevereiro/2021 27.101 768,6 592 16,8 2,2 Março/2021¹ 15.069 427,3 198 5,6 1,3

¹Dados de somente 13 dias.

No oitavo e nono mês da pandemia (14/10 a 14/12) houve diminuição do surgimento de casos novos, e neste período menos de 20 municípios tinham taxas superiores a 500 casos por 100.000 habitantes, e a maioria registraram menos de 200/100.000 hab. Nos meses sequentes há forte aceleração e mais da metade dos municípios passam a registrar mais de 500/100.000 casos novos por mês, sendo os meses de janeiro e fevereiro de 2021 o período em que houve o maior número de municípios com taxas superiores a 500/100.000 habitantes.

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Figura 4. Taxa de incidência (100.000 habitantes) por covid-19 segundo município e mês de notificação. Mato Grosso, 2020-2021

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Quando avaliada a proporção de óbitos por faixa etária, segundo a presença de comorbidades, verifica-se que entre crianças e adolescentes dos 41 óbitos registrados no período, 24 (58,5%) não tinham comorbidade referida. Entre os adultos (de 20 a 59 anos), dos 1.896 óbitos confirmados por covid-19, 37,7% não tinham comorbidades e entre os idosos, dos 4.193 óbitos, 23,2% não apresentavam comorbidades (Figura 5). Chama atenção, portanto, a elevada proporção entre crianças, adolescentes e adultos que não apresentavam comorbidades de risco para agravamento da covid-19.

Figura 5: Proporção de óbitos por faixa etária, segundo presença de comorbidades. Mato Grosso, 2020-2021.

Na Figura 6 são apresentadas as taxas de mortalidade por região de saúde e sua distribuição temporal em cada área. Nas regiões Alto Tapajós, Noroeste, Vale do Arinos, Norte Araguaia Karajá, coincidentemente as regiões com as menores taxas de mortalidade durante todo o período, apresentam taxas maiores no segundo pico da pandemia em relação ao primeiro pico. Nas regiões Baixada Cuiabana, Sul, Garças Araguaia, Teles Pires e Médio Araguaia, o primeiro pico (julho/agosto de 2020) apresentou mortalidade maior. Já nas regiões Oeste, Sudoeste, Centro Norte, Médio Norte, Vale do Peixoto, Araguaia Xingu as taxas de mortalidade do primeiro e segundo pico são semelhantes.

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Figura 6. Taxa de mortalidade (100.000 habitantes) por covid-19 segundo regiões de saúde. Mato Grosso, 2020-2021.

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Entre abril de 2020 e março de 2021 houve a ampliação do número de leitos de enfermaria e de UTI pactuados para o atendimento dos casos de covid-19 no estado. Foi maior o incremento de leitos de enfermaria entre abril e agosto de 2020 e a partir de então houve a estabilidade entre 817 e 876 leitos, estando pactuados 836 ao final da 10ª semana epidemiológica de 2021, quando se registrou a maior taxa de ocupação de leitos de enfermaria do período avaliado (53%), apresentando elevação da ocupação nas dez primeiras semanas de 2021 (Figura 7).

Figura 7: Número de leitos de enfermaria pactuados e ocupados com casos de covid-19 no fechamento da semana epidemiológica. Mato Grosso, 2020 a 2021.

Quanto aos leitos de UTI, conforme já divulgado em nota técnica prévia10, em 20 de junho

de 2020, Mato Grosso dispunha de 241 leitos de UTI adulto, o que indicava uma relação de 0,73 leitos de UTI/10.000 habitantes. Ao final da 10ª semana epidemiológica de 2021 (13 de março de 2021) o número de leitos de UTI pactuados era de 486. Foram pactuados mais de 80 leitos de UTI entre a primeira e décima semana de 2021 (passando de 403 para 486), sendo que oito estavam bloqueados na data avaliada, mas ainda assim, a taxa de ocupação foi superior a 95% nas duas primeiras semanas de março de 2021 (Figura 8).

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Figura 8: Número de leitos de UTI pactuados e ocupados por casos de covid-19 ao fechamento das semanas epidemiológicas. Mato Grosso, 2020 a 2021.

Apesar da ampliação do número de leitos, ao classificar as taxas de ocupação dos leitos de UTI considerando zona de alerta crítica quando iguais ou superiores a 80%, zona de alerta intermediária quando iguais ou superiores a 60% e inferiores a 80%, e fora de zona de alerta quando inferiores a 60%, verificou-se que por 15 semanas epidemiológicas o nível de ocupação fora classificado como zona de alerta intermediária e em nove semanas como zona de alerta crítica, sendo três delas entre fevereiro e março de 2021. Ou seja, das 46 semanas epidemiológicas avaliadas, em menos da metade delas, Mato Grosso era classificado fora de zona de alerta (Figura 9).

Figura 9. Classificação do nível de alerta* de ocupação de leitos de UTI . Mato Grosso, 2020- 2021.

*Vermelho: zona de alerta crítica quando iguais ou superiores a 80%; Amarelo: zona de alerta intermediária quando iguais ou superiores a 60% e inferiores a 80%; Verde: fora de zona de alerta quando inferiores a 60%.

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Taxa de reprodução do vírus

A dinâmica temporal de uma doença infecciosa é caracterizada pela taxa de reprodução do agente causador da doença. Uma das principais métricas capaz de capturar essa taxa de reprodução é denominada por Rt e consiste em, fundamentalmente, medir o número médio de novos contágios causados por cada pessoa infectada em uma população em que todos são suscetíveis. Sendo assim, um valor de Rt menor do que 1 é interpretado como um crescimento desacelerado no número de casos e a doença não se estabelece.

Por outro lado, uma dinâmica com valor de Rt maior do que 1 apresenta inicialmente um crescimento acelerado, antes da fase de crescimento desacelerado, no acumulado de casos. Do ponto de vista do número de novos casos, um valor de Rt maior do que 1 acarreta inicialmente uma fase de crescimento, atingindo um pico antes de uma fase de decrescimento.

O comportamento do Rt médio estimado do estado por semana epidemiológica, está representado na Figura 10. As taxas de transmissão são altas no início da pandemia, apresentando tendência consistente de queda a partir da semana epidemiológica (SE) 20 (10 a 16 de maio/2020) que se estende até a SE 47 (15 a 21 de novembro/2020). As taxas de transmissão se mantêm inferiores a 1,0 durante praticamente todo o período compreendido entre a SE 33 e a SE 48 (09 de agosto a 28 de novembro de 2020), atingindo o seu menor valor na SE 47 (0,64) seguido por SE 42 (0,67; 11 a 17 de outubro/2020) e SE 45 (0,77; 01 a 07 de novembro/2020). A tendência de queda é revertida a partir da SE 49 destacando a presença de taxas de transmissão superiores a 1,0 consecutivamente em SE 49 (1,13), SE 50 (1,18) e SE 51 (1,17) (29 de novembro a 19 de dezembro/2020) além do pico atingido na SE 01/2021 (1,51; 03 a 09 de janeiro). É ainda importante mencionar que as taxas de transmissão apresentam um crescimento consistente nas últimas quatro semanas consideradas SE 07, SE 08, SE 09 e SE 10 (14 de fevereiro a 13 de março de 2021).

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Além de fatores temporais (sazonalidade, estratégias e medidas de distanciamento social e sanitárias adotadas em diferentes momentos), os fatores geográficos (densidade populacional, por exemplo) também podem influenciar a flutuação dos valores de Rt. Sendo assim, para melhor acompanhar a dinâmica de transmissão, analisou-se os dados em recortes trimestrais e por regiões de saúde (Tabela 5 e Figura 11).

Tabela 5: Rt médio estimado por Região de Saúde do estado.

Região de Saúde Abr - Jun Jul - Set Out - Dez Jan - Mar

Alto Tapajós 0,86 1,01 0,84 1,08 Araguaia Xingu 1,31 0,84 0,67 1,08 Baixada Cuiabana 1,45 0,97 0,95 1,06 Centro Norte 1,55 0,87 0,74 0,93 Garças Araguaia 1,39 0,97 0,77 0,95 Médio Araguaia 1,09 0,92 0,69 0,88

Médio Norte Matogrossense 1,37 0,99 0,96 0,97

Noroeste Matogrossense 1,13 0,93 0,55 1,00

Norte Araguaia Karajás 1,13 0,79 0,67 1,15

Norte Matogrossense 2,27 0,84 0,68 0,86 Oeste Matogrossense 1,18 0,98 0,64 0,96 Sudoeste Matogrossense 1,29 0,91 0,53 1,05 Sul Matogrossense 1,49 1,03 0,77 1,19 Teles Pires 1,45 0,98 0,92 1,05 Vale do Peixoto 1,43 0,86 0,79 1,11 Vale do Arinos 2,33 0,84 0,64 0,90 Mato Grosso 1,61 1,01 0,91 1,09

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No primeiro trimestre avaliado (abril a junho de 2020) o Rt médio estimado para o estado foi de 1,61(Figura 10). Exceto Alto Tapajós, todas as demais regiões de saúde do estado apresentaram Rt maior do que 1,0 com destaque para as regiões Vale do Arinos (2,33) e Norte Mato Grossense (2,27) que apresentaram os maiores valores de Rt. Destacam-se ainda as regiões Centro Norte (1,55), Sul Matogrossense (1,49), Baixada Cuiabana (1,45) e Teles Pires (1,45). Embora Alto Tapajós tenha apresentado Rt médio estimado inferior a 1,0, a amplitude do intervalo de confiança indica a ocorrência de momentos com taxas de transmissão superiores a 1,0.

Já no trimestre julho-setembro é possível verificar uma queda no Rt médio em praticamente todas as regiões de saúde do estado, com exceção de Alto Tapajós, na comparação com o primeiro trimestre. Nesse intervalo, além do estado, apenas as regiões Alto Tapajós (1,01) e Sul Mato Grossense (1,03) apresentaram Rt médio estimado superior a 1,0. A continuidade da tendência de queda no valor do Rt médio também é observada no trimestre outubro-dezembro. Todas as regiões de saúde, bem como o estado como um todo, apresentaram Rt médio inferior a 1,0. Nesse período, observa-se também que a amplitude do intervalo de confiança das regiões Baixada Cuiabana, Médio Norte Matogrossense e Teles Pires indicam a ocorrência de momentos com taxas de transmissão superiores a 1,0.

Figura 11: Média e Intervalo de Confiança (95%) do Rt por região de saúde. Mato Grosso, 2020-2021.

1-Alto Tapajós; 2-Araguaia Xingu; 3-Baixada Cuiabana; 4-Centro Norte; 5-Garças Araguaia; 6-Médio Araguaia; 7-Médio Norte Matogrossense; 8-Noroeste Matogrossense; 9-Norte Araguaia Karajá; 10-Norte Matogrossense; 11-Oeste Matogrossense; 12-Sudoeste Matogrossense; 13-Sul Matogrossense; 14-Teles Pires; 15-Vale do Peixoto; 16-Vale do Arinos; 17 - Mato Grosso.

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O trimestre janeiro-março de 2021 destaca-se pela reversão na tendência de queda no valor do Rt médio observada nos trimestres anteriores. Todas as regiões apresentaram aumento no Rt médio com nove delas - Alto Tapajós, Araguaia Xingu, Baixada Cuiabana, Noroeste Matogrossense, Norte Araguaia Karajá, Sudoeste Matogrossense, Sul Matogrossense, Teles Pires e Vale do Peixoto - além do estado, apresentando Rt superior a 1,0.

Projeção de casos em possíveis cenários

Levando em consideração o histórico de dados registrados e as estimativas de Rt obtidas anteriormente pode-se traçar alguns cenários para a dinâmica temporal futura da covid-19 em Mato Grosso (Tabela 6, Figura 12 e Figura 13).

A Tabela 6 mostra a projeção do percentual da população acometida entre março e setembro de 2021, sendo o Cenário I o mais otimista e o Cenário III, o mais pessimista, no qual ao final de setembro cerca de 14% da população matogrossense teria sido infectada.

Tabela 6. Projeção do percentual da população acometida por covid-19 ao final de cada mês para Mato Grosso no período março-setembro de 2021.

Cenário/Mês Cenário I Cenário II Cenário III

Março 8,21 8,57 9,02 Abril 8,81 9,76 10,98 Maio 9,23 10,64 12,45 Junho 9,51 11,17 13,31 Julho 9,69 11,51 13,75 Agosto 9,82 11,70 13,97 Setembro 9,84 11,74 14,01

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Em um cenário mais pessimista (Cenário III), as taxas de transmissão se manteriam elevadas de modo que o acumulado de casos poderia ter um crescimento de 81% nos próximos seis meses, em que aproximadamente 14% da população do estado teria contraído a doença até o final do mês de setembro. Ainda nesse cenário, o número de novos casos continuaria aumentando até meados de abril de 2021 (Figura 13).

Figura 12: Projeção da dinâmica do número de novos casos. Mato Grosso no período abril-setembro de 2021 em três cenários distintos.

Figura 13: Projeção para a evolução no número de casos acumulados para Mato Grosso no período abril-setembro de 2021 em três cenários distintos.

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Um cenário intermediário (Cenário II) consistiria em uma composição de taxas de transmissão de modo que se verificaria uma estabilidade no número de novos casos dos próximos dias antes de uma redução lenta e gradual. Neste caso, ter-se-ia um crescimento de aproximadamente 50% no acumulado de casos nos próximos seis meses, de modo que 11,7% da população do estado contrairia a doença até o final de setembro de 2021.

Já num cenário menos pessimista (Cenário I), observa-se uma redução nas taxas de transmissão de modo que o acumulado de casos entraria numa fase de desaceleração, crescendo em torno de 25% nos próximos seis meses, em que aproximadamente 9,8% da população do estado teria contraído a doença até o final do mês de setembro. Nesse cenário, haveria uma redução no número de novos casos ao longo do período.

Tais projeções apresentadas não consideram os efeitos das estratégias de vacinação, o que, em se concretizando, poderá reduzir as taxas de transmissão e mitigar os efeitos do crescimento do número de casos.

Conclusões

Diante do cenário revelado nesta Nota Técnica 01/2021, caracterizado pelo alto índice de propagação do vírus, por altas taxas de incidência e de mortalidade, por uma rede hospitalar desigual regionalmente e no seu limite de atendimento, bem como os riscos distintos para diferentes grupos de indivíduos e regiões de saúde, é imprescindível que medidas de controle mais rigorosas e eficazes sejam instituídas. Portanto, novas estratégias precisam, urgentemente, serem delineadas e efetivadas na busca pela eficiência do poder público no controle da covid-19 em Mato Grosso.

Vale ressaltar ainda que, mesmo tendo iniciado, recentemente, a vacinação de grupos prioritários no estado, até se atingir as coberturas vacinais necessárias para o controle da covid-19, a prevenção é a melhor estratégia. Contudo, embora as vacinas possam contribuir para cessar a pandemia, elas não resolverão tudo e, medidas de vigilância e controle eficazes deverão ser mantidas.

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Algumas limitações deste estudo, como a qualidade dos dados disponibilizados devem ser consideradas. Importante destacar a possível subnotificação de casos entre março e maio de 2020, quando se observou que a elevação brusca do número de casos por semana de notificação ocorreu com um lapso temporal do número de casos confirmados. Nos primeiros meses, a dificuldade de acesso aos testes diagnósticos recomendados, bem como os critérios para definição de casos preconizados à época estão entre os motivos da subnotificação. Assim como nesse período, o último período analisado também deve ser observado com cautela tendo em vista que muitos casos e óbitos podem não ter sido computados até a data da coleta de dados. Neste sentido, vale também ressaltar que a disponibilidade do dado influi não somente nos resultados dos indicadores de incidência e mortalidade, mas também na estimativa do Rt e projeção dos casos.

Considerações finais

Destaca-se a defasagem do registro do número de casos que prejudica a análise das semanas mais recentes, uma vez que os casos diagnosticados podem demorar para entrar no sistema. Além disso, deve-se considerar a subnotificação relacionada a baixa testagem da população e a limitação na investigação dos contatos de casos confirmados.

Mesmo com a intensa ampliação do número de leitos de UTI para atendimento exclusivo dos casos de covid-19 pelo governo estadual, observou-se a ocupação próxima ao máximo por semanas consecutivas. Desta forma, a ampliação do número de leitos de UTI não tem sido suficiente para atendimento dos casos graves da doença, evidenciando a necessidade de medidas de mitigação da disseminação da covid-19 na população.

A elevada ocupação de leitos de enfermaria nas primeiras semanas de 2021, maior do que observada em 2020, pode indicar tanto a maior busca por serviços de saúde entre casos com sintomas da doença, quanto a ocupação desse tipo de leito por casos graves que aguardam pela liberação de leitos de UTI.

Mais da metade dos óbitos ocorridos entre crianças e adolescentes e quase 40% dos óbitos entre adultos foram de indivíduos sem comorbidades referidas, o que ressalta a mortalidade para além dos grupos reconhecidamente de risco para desenvolver casos graves da doença.

As diferentes perspectivas de análise (taxas de mortalidade, incidência, Rt, ocupação dos leitos) reforçam-se mutuamente por apresentam panorama similares da dinâmica da covid19 em Mato Grosso, contribuindo assim para a robustez dos resultados apresentados .

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Referências

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https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6120:oms-afirma-que-covid-19-e-agora-caracterizada-como-pandemia&Itemid=812.

2. Organização Mundial da Saúde (OMS). Painel do Coronavirus. Acesso em 14 de março de 2021. Disponível em: https://covid19.who.int/

3. Brasil. Ministério da Saúde. Painel Coronavirus. Disponível: https://covid.saude.gov.br/. Acesso em 13 de março de 2021.

4. Fundação Oswaldo Cruz [FIOCRUZ]. Boletim Extraordinário Observatório Covid. Publicado em 16 de março de 2021. Acesso em 17 de março de 2021. Disponível em:

https://agencia.fiocruz.br/sites/agencia.fiocruz.br/files/u34/boletim_extraordinario_2021-marco-16-red-red-red.pdf

5. Mato Grosso. Secretaria de Estado da Saúde. Painel Epidemiológico nº 370

CORONAVIRUS/COVID-19 – Mato Grosso. Publicado 13 de março de 2021. Acesso em 13 de março de 2021. Disponível:http://www.saude.mt.gov.br/painelcovidmt2/.

6. Mato Grosso. Secretaria de Estado da Saúde. Painel Epidemiológico 368. Coronavirus/Covid Mato Grosso. Acesso em 11 de março de 2021. Disponível em:

http://www.saude.mt.gov.br/upload/noticia/1/arquivo/110321191112-SES-MT-A-indicasus-painel-novo--4-.pdf.

7. Brasil. Ministério da Saúde. COVID -Vacinação e doses aplicadas. Acesso em 17 de março de 2021. Disponível: https://viz.saude.gov.br/extensions/DEMAS_C19Vacina/DEMAS_C19Vacina.html 8. Brasil. Ministério da Saúde. DATASUS. Informações em Saúde. População residente - estudo de estimativas populacionais por município, idade e sexo 2000-2020 -Brasil. Acesso em 13 de março de 2021. Disponível em http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?popsvs/cnv/popbr.def 9. Ceconello MS,Muraro AP, Santos ES, Oliveira LR, Ceconello MS, Silva RCR; Evolução da Covid-19 em Mato Grosso: panorama atual e projeções para as regiões de saúde. Nota Técnica.

ICET/IGHD/ISC – UFMT: Cuiabá, 2020.

10. Muraro AP, Santos ES, Oliveira LR, Ceconello MS, Silva RCR;. Demanda por UTIs em Mato Grosso em decorrência da pandemia da Covid-19: situação e projeção para as macrorregiões de saúde. Nota Técnica. ICET/IGHD/ISC – UFMT: Cuiabá, 2020.

Forma de citação:

Oliveira LR; Cecconello MS; Andrade ACS; Santos ES; Muraro AP; Silva RCR. COVID-19: um ano da

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