Apresentação
Prezados,
Chegado o final de 2015, só temos a agradecer o ano que passou, especialmente por termos tido a oportunidade de contribuir para a ampliação de conhecimento e desenvolvimento de uma série de pessoas e, naturalmente, para diversas aprovações nos concursos públicos federais, estaduais e municipais.
Se para muitos o sonho foi atingido, tantos outros ainda estão na batalha pela aprovação. E, especialmente em relação a esses, tenham certeza de que nós da EBEJI estamos trabalhando incansavelmente – inclusive no período de “recesso” – visando a que, em 2016, possamos ampliar ainda mais a qualidade e a efetividade dos nossos serviços.
Ao longo do ano, também pudemos disponibilizar através das nossas redes sociais diversos materiais, textos e vídeos gratuitos que contribuíram com diversas pessoas. Diante do sucesso e das milhares visualizações de alguns posts do blog da EBEJI, resolvemos compilar os textos produzidos pela equipe de professores da Escola em que foram resolvidas e comentadas todas as assertivas cobradas na prova da AGU 2015 1, material esse que, para nossa felicidade, embasou muitos recursos providos pela organizadora, conforme relatos dos alunos!
Assim, o presente ebook da EBEJI é uma singela forma de presentear aqueles que nos acompanham nas redes sociais e para convidar a todos os interessados a conhecer a Escola Brasileira de Ensino Jurídico na Internet! O ano de 2016 será bastante especial e, quem sabe, o ano de sua aprovação! Nós faremos a nossa parte para contribuir com a realização dos seus objetivos!
Desejamos um maravilhoso ano de 2016. Obrigado.
Dezembro de 2015, EBEJI
1 - Os gabaritos constantes nos textos revelam o texto original do conteúdo produzido, ou seja, pautam-se nas opiniões dos professores ANTES do julgamento dos recursos. De toda for ma, ao final do material, foi inserido o GABARITO DEFINITIVO, após a apreciação dos recursos, definido pela banca organizadora do certame.
COMENTÁRIOS DA PROVA DE ADVOGADO DA
UNIÃO 2015
Caio Souza Aprovado na PGE-PI Daniela Carvalho Procuradora Federal Danilo Paz Defensor Público FederalFlávia Coelho
Procuradora da Fazenda Nacional
Frederico Rios Paula Procurador Federal
Hitala Mayara Advogada da União
João Paulo Cachate Defensor Público Federal
Joao Paulo Lawall Valle Advogado da União
Pedro Coelho Defensor Público Federal
Ubirajara Casado Advogado da União
Sumário
Direito Administrativo Direito Constitucional Direito Financeiro Direito Econômico Direito Tributário Direito Ambiental Direito CivilDireito Processual Civil Direito Empresarial
Direito Internacional Público e Privado Direito Penal e Processo Penal
Direito do Trabalho e Processo do Trabalho Direito da Seguridade Social
Direito Administrativo
Itens 01 a 26
Publicado em 14/10/15
Dr. Joao Paulo Lawall Valle Advogado da União
ITEM 01
CESPE ERRADO
Enunciado
A Secretaria-Geral de Contencioso é o órgão de direção superior
da AGU competente para subsidiar as informações a serem
prestadas pelo presidente da República ao STF em mandados de
segurança, tendo em vista a sua atribuição de assistência na
representação judicial da União perante referido tribunal.
Justificativa
O Decreto 7.392/2010 que aprovou a Estrutura Regimental da AGU assim dispôs sobre a Secretaria-Geral do Contencioso (SGCT):
Art. 2o A Advocacia-Geral da União tem a seguinte estrutura organizacional: II - órgãos de direção superior:
a) Secretaria-Geral de Consultoria;
b) Secretaria-Geral de Contencioso;
A atribuição da Secretaria-Geral do Contencioso está no artigo 8º do Decreto 7.392/2010, dentre elas:
Art.8º: À Secretaria-Geral de Contencioso compete:
II - assistir o Advogado-Geral da União na representação judicial, perante o Supremo Tribunal Federal, dos Ministros de Estado e do Presidente da República, ressalvadas as informações deste último em mandados de segurança e injunção;
Ou seja, não é da competência da SGCT a elaboração das informações que serão prestadas pelo Presidente da República tendo em vista a expressa ressalva contida no Decreto.
ITEM 02
CESPE ERRADO
Enunciado
Se a consultoria jurídica junto ao Ministério do Meio Ambiente
divergir acerca da interpretação dada pela consultoria jurídica
junto ao Ministério do Desenvolvimento Agrário sobre
determinada lei, a controvérsia deverá ser dirigida à
Secretaria-Geral de Consultoria, órgão de direção superior da AGU
competente para orientar e coordenar os trabalhos das
consultorias jurídicas no que se refere à uniformização da
jurisprudência administrativa e à correta interpretação das leis.
Justificativa
Neste caso a atribuição não é da Secretaria-Geral de Consultoria e sim da Consultoria-Geral da União (CGU).
A Consultoria-Geral da União (CGU) é órgão de direção superior da AGU, conforme previsto no artigo 2º, I, c da Lei Complementar nº 73/93 e no artigo 2º, II, c do Decreto 7.392/2010.
É atribuição da CGU, através dos seus órgãos o seguinte:
Art. 14. Ao Departamento de Coordenação e Orientação de Órgãos Jurídicos compete:
I - orientar e coordenar os trabalhos das Consultorias Jurídicas ou órgãos equivalentes, especialmente no que se refere à:
a) uniformização da jurisprudência administrativa;
b) correta aplicação das leis e observância dos pareceres, notas e demais orientações da Advocacia-Geral da União; e
ITEM 03
CESPE CORRETO
Enunciado
Na hipótese de haver controvérsia extrajudicial entre um órgão
municipal e uma autarquia federal, poderá a questão ser dirimida,
por meio de conciliação, pela Câmara de Conciliação e
Arbitragem da Administração Federal.
Justificativa
Decreto 7.392/2010:
Art. 18. A Câmara de Conciliação e Arbitragem da Administração Federal compete:
III - dirimir, por meio de conciliação, as controvérsias entre órgãos e entidades da Administração Pública Federal, bem como entre esses e a Administração Pública dos Estados, do Distrito Federal, e dos Municípios;
CESPE CORRETO
Enunciado
Para prevenir litígios nas hipóteses que envolvam interesse
público da União, pode o AGU autorizar a assinatura de termo de
ajustamento de conduta pela administração pública federal, o
qual deve conter, entre outros requisitos, a previsão de multa ou
sanção administrativa para o caso de seu descumprimento.
Justificativa
De acordo com o Decreto 7.392/2010 é atribuição do Advogado-Geral da União, entre outras autorizar a assinatura de Termo de Ajustamento de Conduta pela Administração Pública Federal:
Art. 36. São atribuições do Advogado-Geral da União, órgão mais elevado de assessoramento jurídico do Poder Executivo:
XIV - autorizar a assinatura de termo de ajustamento de conduta pela Administração Pública Federal; A Lei 9.469/97 dispõe de maneira detalhada sobre o Termo de Ajustamento de Conduta e assim determina:
Art. 4o-A. O termo de ajustamento de conduta, para prevenir ou terminar litígios, nas hipóteses que envolvam interesse público da União, suas autarquias e fundações, firmado pela Advocacia-Geral da União, deverá conter:
I - a descrição das obrigações assumidas;
II - o prazo e o modo para o cumprimento das obrigações; III - a forma de fiscalização da sua observância;
IV - os fundamentos de fato e de direito; e
V - a previsão de multa ou de sanção administrativa, no caso de seu descumprimento
CESPE ERRADO
Enunciado
O ato em questão — indeferimento de pedido — deve ser
prolatado sob a forma de resolução e não de despacho.
Justificativa
De acordo com Ricardo Alexandre a resolução é ato administrativo expedido por auxiliares diretos do chefe do executivo ou órgãos colegiados, visando estabelecer normas gerais ou da competência exclusiva do prolator, o que não é o caso.
ITEM 06
CESPE ERRADO
Enunciado
Na hipótese considerada, a minuta do ato do ministro apresenta
vício de forma em razão da obrigatoriedade de motivação dos atos
administrativos que neguem direitos aos interessados.
Justificativa
A resposta está no artigo 50, I e §1º da Lei 9.784/99. Os atos administrativos que neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses deve ser sempre motivado. O §1º expressamente permite que a motivação consista na declaração de concordância com os fundamentos de outros atos administrativos.
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
§ 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato.
ITEM 07
CESPE CORRETO
Enunciado
A portaria em questão poderá vir a ser sustada pelo Congresso
Nacional, se essa casa entender que o ministro exorbitou de seu
poder regulamentar.
Justificativa
A competência para sustar ato do Poder Executivo que exorbite o poder regulamentar é do Congresso Nacional nos termos do art. 49, V.
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;
A atribuição para julgar a conveniência de efetuar a sustação é do Congresso, não tendo o texto constitucional determinado essa forma de agir. Trata-se de controle político dos atos administrativos.
ITEM 08
Enunciado
As portarias são qualificadas como atos de regulamentação de
segundo grau.
Justificativa
De acordo com José dos Santos Carvalho Filho:
“Por esse motivo é que considerando nossa sistemática de hierarquia normativa, podemos dizer que existem graus diversos de regulamentação conforme o patamar em que se aloje o regulamentador. Os decretos e regulamentos podem ser considerados como atos de regulamentação de primeiro grau; outros atos que a eles se subordinem e que, por sua vez, os regulamentem, evidentemente com maior detalhamento, podem ser qualificados como atos de regulamentação de segundo grau, e assim por diante. Como exemplo de regulamentação de segundo grau, podemos citar as instruções expedidas pelos Ministérios de Estado, que têm por objetivo regulamentar as leis, decretos e regulamentos, possibilitando sua execução”. Cabe destacar que o Autor insere, na mesma classificação, as instruções, ordens de serviço, avisos, circulares e portarias.
ITEM 09
CESPE ERRADO
Enunciado
Na hipótese considerada, a portaria não ofendeu o princípio da
legalidade administrativa, tendo em vista o fenômeno da
deslegalização com fundamento na CF
Justificativa
No caso em questão houve ofensa ao princípio da legalidade administrativa, que determina que a Administração só pode fazer o que estiver expressamente previsto em lei.
A Constituição assim determina:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
(...)
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices.
Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.
§ 1º A concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração, a criação de cargos, empregos e funções ou alteração de estrutura de carreiras, bem como a admissão ou contratação de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades da administração direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo poder público, só poderão ser feitas:
I - se houver prévia dotação orçamentária suficiente para atender às projeções de despesa de pessoal e aos acréscimos dela decorrentes;
II - se houver autorização específica na lei de diretrizes orçamentárias, ressalvadas as empresas públicas e as sociedades de economia mista.
Ou seja, é vedada a criação de gratificação de não tenha suporte em lei em sentido estrito.
ITEM 10
CESPE CORRETO
Enunciado
Na hipótese de nulidade de contrato entre a União e determinada
empresa, a despesa sem cobertura contratual deverá ser
reconhecida pela União como obrigação de indenizar a contratada
pelo que esta houver executado até a data em que a nulidade do
contrato for declarada e por outros prejuízos regularmente
comprovados, sem prejuízo da apuração da responsabilidade de
quem der causa à nulidade.
Justificativa
A resposta dessa questão está na Orientação Normativa nº4 de 01/04/2009:
“A DESPESA SEM COBERTURA CONTRATUAL DEVERÁ SER OBJETO DE RECONHECIMENTO DA OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR NOS TERMOS DO ART. 59, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 8.666, DE 1993, SEM PREJUÍZO DA APURAÇÃO DA RESPONSABILIDADE DE QUEM LHE DER CAUSA.”
Além da ON nº4 devia o candidato conhecer o artigo artigo 59 da Lei 8.666/93:
Art. 59. A declaração de nulidade do contrato administrativo opera retroativamente impedindo os efeitos jurídicos que ele, ordinariamente, deveria produzir, além de desconstituir os já produzidos.
Parágrafo único. A nulidade não exonera a Administração do dever de indenizar o contratado pelo que este houver executado até a data em que ela for declarada e por outros prejuízos regularmente comprovados, contanto que não lhe seja imputável, promovendo-se a responsabilidade de quem lhe deu causa.
Não obstante a banca tenha sido expressa determinando que a questão deveria ser respondida com base A ON nº 4 da AGU e a sua ementa não preveja a limitação para a obrigação de indenizar até a data em que a nulidade for declarada, tampouco a indenização por outros prejuízos regularmente comprovados, o fundamento da ON faz referência ao artigo 59 da Lei de Licitações, não havendo possibilidade de recurso no caso.
ITEM 11
CESPE ERRADO
Enunciado
Se, em procedimento licitatório na modalidade convite deflagrado
pela União, não se apresentarem interessados, e se esse
procedimento não puder ser repetido sem prejuízo para a
administração, ele poderá ser dispensado, mantidas, nesse caso,
todas as condições preestabelecidas.
Justificativa
ORIENTAÇÃO NORMATIVA Nº 12, DE 1º DE ABRIL DE 2009, DA ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO – AGU
“NÃO SE DISPENSA LICITAÇÃO, COM FUNDAMENTO NOS INCS. V E VII DO ART. 24 DA LEI Nº 8.666, DE 1993, CASO A LICITAÇÃO FRACASSADA OU DESERTA TENHA SIDO REALIZADA NA MODALIDADE CONVITE.”
Não é permitida a dispensa de licitação deserta ou fracassada se esta tenha sido realizada na modalidade convite.
ITEM 12
CESPE CORRETO
Enunciado
Se a União, por intermédio de determinado órgão federal situado
em um estado da Federação, celebrar convênio cuja execução
envolva a alocação de créditos de leis orçamentárias
subsequentes, a consequente indicação do crédito orçamentário
do respectivo empenho para atender aos exercícios posteriores
dispensará a elaboração de termo aditivo, bem como a prévia
aprovação pela consultoria jurídica da União no mencionado
estado
Justificativa
Neste caso, a ONº 40 prevê expressamente a possibilidade de formalização do crédito indicado através de apostilamento (anotação do registro administrativo no próprio termo de contrato), situação que dispensa a formalização de termo contratual aditivo. A citado ON dispensa, também, o exame e aprovação pela assessoria jurídica.
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO – AGU "NOS CONVÊNIOS CUJA EXECUÇÃO ENVOLVA A ALOCAÇÃO DE CRÉDITOS DE LEIS ORÇAMENTÁRIAS SUBSEQUENTES, A INDICAÇÃO DO CRÉDITO ORÇAMENTÁRIO E DO RESPECTIVO EMPENHO PARA ATENDER À DESPESA RELATIVA AOS EXERCÍCIOS POSTERIORES PODERÁ SER FORMALIZADA, RELATIVAMENTE A CADA EXERCÍCIO, POR MEIO DE APOSTILA. TAL MEDIDA DISPENSA O PRÉVIO EXAME E APROVAÇÃO PELA ASSESSORIA JURÍDICA."
ITEM 13
CESPE CERTA
Enunciado
3 Na licitação para registro de preços, a indicação da dotação
orçamentária é exigível apenas antes da assinatura do contrato,
sendo o prazo de validade da ata de registro de preços de, no
máximo, um ano, no qual devem ser computadas as eventuais
prorrogações, que terão de ser devidamente justificadas e
autorizadas pela autoridade superior, devendo a proposta
continuar sendo mais vantajosa.
Justificativa
A resposta desta questão está na combinação das Orientações Normativas 19 e 20, ambas de 2009:
ORIENTAÇÃO NORMATIVA Nº 19, DE 1º DE ABRIL DE 2009, DA ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO – AGU (com redação alterada em 2014) “O PRAZO DE VALIDADE DA ATA DE REGISTRO DE PREÇOS É DE NO MÁXIMO UM ANO, NOS TERMOS DO ART.15, §3º, INC. III, DA LEI Nº 8.666, DE 1993, RAZÃO PELA QUAL EVENTUAL PRORROGAÇÃO DA SUA VIGÊNCIA, COM FUNDAMENTO NO ART. 12, CAPUT, DO DECRETO Nº 7.892, DE 2013, SOMENTE SERÁ ADMITIDA ATÉ O REFERIDO LIMITE E DESDE QUE DEVIDAMENTE JUSTIFICADA, MEDIANTE AUTORIZAÇÃO DA AUTORIDADE SUPERIOR E QUE A PROPOSTA CONTINUE SE MOSTRANDO MAIS VANTAJOSA.”
ORIENTAÇÃO NORMATIVA Nº 20, DE 1º DE ABRIL DE 2009, DA ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO – AGU “NA LICITAÇÃO PARA REGISTRO DE PREÇOS, A INDICAÇÃO DA DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA É EXIGÍVEL APENAS ANTES DA ASSINATURA DO CONTRATO.”
ITEM 14
CESPE CORRETO
Enunciado
De acordo com a doutrina dominante, caso uma universidade
tenha sido construída sobre parte de uma propriedade particular,
a União, assim como ocorre com os particulares, poderá adquirir o
referido bem imóvel por meio da usucapião, desde que sejam
obedecidos os requisitos legais.
Justificativa
De acordo com a doutrina de José dos Santos Carvalho Filho: Outra forma de aquisição de bens públicos é através de usucapião.
O Código Civil admite expressamente o usucapião como forma de aquisição de bens (art. 1 .238, Código Civil) e estabelece algumas condições necessárias à consumação aquisitiva, como a posse do bem por determinado período, a boa-fé em alguns casos e a sentença declaratória da propriedade.
Poder-se-ia indagar se a União, um Estado ou Município, ou ainda uma autarquia podem adquirir bens por usucapião. A resposta é positiva. A lei civil, ao estabelecer os requisitos para a aquisição da propriedade por usucapião, não descartou o Estado como possível titular do direito. Segue-se, pois, que, observados os requisitos legais exigidos para os possuidores particulares de modo geral, podem as pessoas de direito público adquirir bens por usucapião. Esses bens, uma vez consumado o processo aquisitivo, tornar-se-ão bens públicos. (Manual de Direito Administrativo – Carvalho Filho – 2014).
Em reforço a isso, Celso Antonio Bandeira de Mello fala em seu Curso de Direito Administrativo que “os bens públicos adquirem-se pelas mesmas formas previstas no direito privado (...)”.
ITEM 15
CESPE CERTA
Enunciado
Se o Ministério da Saúde adquirir um grande lote de
medicamentos para combater uma epidemia de dengue, essa
aquisição, no que se refere ao critério, será classificada como
serviço coletivo devido ao fato de esses medicamentos se
destinarem a um número indeterminado de pessoas.
Justificativa
De acordo com a doutrina dominante a classificação do serviço público quanto ao destinatário é: serviços públicos uti singuli (ou individuais) e serviços públicos uti universi (ou gerais). Conforme cobrado na questão, o fato dos medicamentos se destinarem a um número indeterminado de pessoas a classificação deverá ser a de serviços públicos uti universi (ou gerais) e não de serviço coletivo. De acordo com Ricardo Alexandre os serviços públicos uti universi podem ser chamados também de serviços coletivos.
ITEM 16
CESPE CERTA
Enunciado
Situação hipotética: Durante a realização de obras resultantes de
uma PPP firmada entre a União e determinada construtora, para a
duplicação de uma rodovia federal, parte do asfalto foi destruída
por
uma
forte
tempestade.
Assertiva:
Nessa
situação,
independentemente de o referido problema ter decorrido de fato
imprevisível, o Estado deverá solidarizar-se com os prejuízos
sofridos pela empresa responsável pela obra.
Justificativa
A resposta está no artigo 5º da Lei 11.079/2004, que assim diz:
Art. 5o As cláusulas dos contratos de parceria público-privada atenderão ao disposto no art. 23 da Lei no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, no que couber, devendo também prever: III – a repartição de riscos entre as partes, inclusive os referentes a caso fortuito, força maior, fato do príncipe e álea econômica extraordinária;
ITEM 17
CESPE ERRADA
Enunciado
Situação hipotética: A União decidiu construir um novo prédio
para a Procuradoria-Regional da União da 2.ª Região para receber
os novos advogados da União. No entanto, foi constatado que a
única área disponível, no centro do Rio de Janeiro, para a
realização da referida obra estava ocupada por uma praça pública.
Assertiva: Nessa situação, não há possibilidade de desafetação da
área disponível por se tratar de um bem de uso comum do povo,
razão por que a administração deverá procurar por um bem
dominical.
Os bens públicos classificados como bens de uso comum do povo são aqueles destinados ao uso indistinto de toda a população. Ex: Mar, rio, rua, praça, estradas, parques (art. 99, I do CC).
Afetação consiste em conferir ao bem público uma destinação. Desafetação (desconsagração) consiste em retirar do bem aquela destinação anteriormente conferida a ele.
É possível a desafetação dos bens de uso comum e de uso especial: Os bens de uso comum e de uso especial são inalienáveis enquanto estiverem afetados. - “Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar” (art. 100 do CC). Ou seja, é possível a desafetação dos bens de uso comum do povo, transformando-os em bens dominicais, e assim possível a alienação dos mesmos.
ITEM 18
CESPE ERRADO
Enunciado
De acordo com o STJ, ao contrário do que ocorre nos casos de
desapropriação para fins de reforma agrária, é vedada a imissão
provisória na posse de terreno pelo poder público em casos de
desapropriação para utilidade pública
Justificativa
O STJ tem solidificada jurisprudência no sentido de que é possível a imissão na posse em caso de desapropriação por utilidade pública, inclusive sendo devidos juros compensatórios por conta desse fato.
Destaco a decisão proferida no AgRg na SLS 1681 que diz o seguinte:
AGRAVO REGIMENTAL NA SUSPENSÃO DE LIMINAR E DE SENTENÇA. GRAVE LESÃO
DEFERIDO. AGRAVO REGIMENTAL DO PARTICULAR DESPROVIDO. I - Consoante a legislação de regência (v.g. Lei n. 8.437/1992 e n.
12.016/2009) e a jurisprudência deste Superior Tribunal e do c.
Pretório Excelso, somente será cabível o pedido de suspensão quandoa decisão proferida contra o Poder Público puder provocar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas.
II - Na hipótese, causa lesão à ordem e à economia públicas a decisão que impede, em ação de desapropriação de imóvel por
utilidade pública, a imissão provisória na posse pelo ente expropriante, em virtude da ausência de indenização prévia referente ao fundo de comércio, pois tal decisão paralisa obra de suma importância para a cidade de São Paulo/SP, qual seja, a expansão de seu sistema metroviário.
III - A indenização pelo fundo de comércio, apesar de devida, não pode obstar a imissão provisória da posse pelo ente expropriante, cujos requisitos são a declaração de urgência e o depósito do valor estabelecido conforme o art. 15 do Decreto-lei nº 3365/41. Agravo regimental desprovido.
ITEM 19
CESPE Errada
Enunciado
Se os membros de uma comunidade desejarem fechar uma rua
para realizar uma festa comemorativa do aniversário de seu bairro,
será necessário obter da administração pública uma permissão de
uso.
A permissão de uso é "ato negocial, unilateral, discricionário e precário através do qual a Administração faculta ao particular a utilização individual de determinado bem público " desde que haja interesse da coletividade, sem o qual o uso não deve ser permitido nem concedido, mas tão somente autorizado. (MEIRELLES, Hely Lopes.Direito Administrativo Brasileiro . 35 ed. São Paulo: Malheiros, 2009, pág 533)
A autorização é um ato administrativo discricionário, unilateral e precário, "pelo qual o Poder Público torna possível ao pretendente a realização de certa atividade, serviço ou utilização de determinados bens particulares ou públicos, de seu exclusivo ou predominante interesse, que a lei condiciona à aquiescência prévia da Administração " (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro . 35 ed. São Paulo: Malheiros, 2009, pág 190).
Já a concessão de uso é um contrato administrativo, no qual o Poder Público transfere ao particular a utilização de um bem público, sendo fundamentado no interesse público, a título solene e com exigências inerentes à relação contratual (MARINELA, Fernanda. Direito Administrativo).
A doutrina majoritária entende que a realização de festas comunitárias se encaixa no conceito de autorização de uso de bens públicos.
ITEM 20
CESPE ERRADA
Enunciado
Situação hipotética: Um veículo oficial da AGU, conduzido por
servidor desse órgão público, passou por um semáforo com sinal
vermelho e colidiu com um veículo particular que trafegava pela
contramão. Assertiva: Nessa situação, como o Brasil adota a teoria
da responsabilidade objetiva, existirá a responsabilização
indenizatória integral do Estado, visto que, na esfera
administrativa, a culpa concorrente elide apenas parcialmente a
responsabilização do servidor.
Na teoria da responsabilidade objetiva, a obrigação de indenizar incumbe ao Estado em razão de um procedimento lícito ou ilícito que produziu lesão na esfera juridicamente protegida de outrem. Nesta modalidade da responsabilidade, o dever de indenizar existe independente de dolo ou culpa por parte do Estado.
Para que haja a exclusão da responsabilidade objetiva é preciso que esteja presente uma das chamadas hipóteses de exclusão. Dentre as hipóteses existentes há a culpa concorrente da vítima. Esta situação não exclui integralmente o dever de indenizar do Estado, mas sim a reduz o quantum indenizatório. Esta situação é aplicada tanto para o Estado que responderá pelos atos praticados por seus servidores, quanto pelo próprio servidor.
ITEM 21
CESPE CERTA
Enunciado
Em consonância com o entendimento do STF, os serviços sociais
autônomos estão sujeitos ao controle finalístico do TCU no que se
refere à aplicação de recursos públicos recebidos.
Justificativa
Ementa: ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. SERVIÇOS SOCIAIS AUTÔNOMOS VINCULADOS A ENTIDADES SINDICAIS. SISTEMA “S”. AUTONOMIA ADMINISTRATIVA. RECRUTAMENTO DE PESSOAL. REGIME JURÍDICO DEFINIDO NA LEGISLAÇÃO INSTITUIDORA. SERVIÇO SOCIAL DO TRANSPORTE. NÃO SUBMISSÃO AO PRINCÍPIO DO CONCURSO PÚBLICO (ART. 37, II, DA CF). 1. Os serviços sociais autônomos integrantes do denominado Sistema “S”, vinculados a entidades patronais de grau superior e patrocinados basicamente por recursos recolhidos do próprio setor produtivo beneficiado, ostentam natureza de pessoa jurídica de direito privado e não integram a Administração Pública, embora colaborem com ela na execução de atividades de relevante significado social. Tanto a Constituição Federal de 1988, como a correspondente legislação de regência (como a Lei 8.706/93, que criou o Serviço Social do Trabalho – SEST) asseguram autonomia administrativa a essas entidades, sujeitas, formalmente, apenas ao controle finalístico, pelo Tribunal de Contas, da aplicação dos recursos recebidos. Presentes essas características, não estão submetidas à exigência de concurso público para a contratação de pessoal, nos moldes do
art. 37, II, da Constituição Federal. Precedente: ADI 1864, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe de 2/5/2008. 2. Recurso extraordinário a que se nega provimento. (RE 789874/DF – 17/09/2014)
ITEM 22
CESPE ERRADA
Enunciado
Se determinado agente público responder ação de improbidade
administrativa por desvio de recursos públicos, um eventual
acordo ou uma eventual transação entre as partes envolvidas no
processo estarão condicionados ao ressarcimento integral dos
recursos públicos ao erário antes da sentença
Justificativa
A Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/1992), tendo em vista os bens jurídicos por ela tutelados, expressamente veda transação, acordo ou conciliação nas ações de improbidade:
Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar.
§ 1º É vedada a transação, acordo ou conciliação nas ações de que trata o caput.
ITEM 23
CESPE CERTA
A Lei n.º 12.618/2012, que instituiu o regime de previdência
complementar dos servidores públicos federais, prevê como
beneficiários apenas os servidores públicos de cargo efetivo,
excluindo do seu alcance, por conseguinte, os servidores
ocupantes de cargos comissionados.
Justificativa
A lei 12.618/2012, que dispõe sobre o regime de previdência complementar para os servidores públicos dispõe expressamente que são participantes do regime apenas os titulares de cargo efetivo:
Art. 2o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
II - participante: o servidor público titular de cargo efetivo da União, inclusive o membro do Poder Judiciário, do Ministério Público e do Tribunal de Contas da União, que aderir aos planos de benefícios administrados pelas entidades a que se refere o art. 4o desta Lei;
ITEM 24
CESPE CERTA
Enunciado
De acordo com o STF, embora exista a possibilidade de desconto
pelos dias que não tenham sido trabalhados, será ilegal demitir
servidor público em estágio probatório que tenha aderido a
movimento paredista.
Justificativa
Ementa: DIREITOS CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. DIREITO DE GREVE. SERVIDORPÚBLICO EM ESTÁGIO PROBATÓRIO. FALTA POR MAIS DE TRINTA DIAS. DEMISSÃO.SEGURANÇA CONCEDIDA. 1. A simples circunstância de o servidor público estar em estágio probatório não é justificativa para demissão com fundamento na sua participação em movimento grevista por período superior a trinta dias. 2. A ausência de regulamentação do direito de greve não transforma os dias de paralização em movimento grevista em faltas injustificadas. 3. Recurso extraordinário a que se nega seguimento. (RE 226966/RS)
ITEM 25
CESPE ERRADA
Enunciado
Se, em uma operação da Polícia Federal, um agente público for
preso em flagrante devido ao recebimento de propina, e se, em
razão disso, houver ajuizamento de ação penal, um eventual
processo administrativo disciplinar deverá ser sobrestado até o
trânsito em julgado do processo criminal.
Justificativa
A questão está em conflito com a jurisprudência dominante no STJ:
DIREITO ADMINISTRATIVO. DESNECESSIDADE DE SUSPENSÃO DE PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR DIANTE DA EXISTÊNCIA DE AÇÃO PENAL RELATIVA AOS MESMOS FATOS.
Não deve ser paralisado o curso de processo administrativo disciplinar apenas em função de ajuizamento de ação penal destinada a apurar criminalmente os mesmos fatos investigados administrativamente. As esferas administrativa e penal são independentes, não havendo falar em suspensão do processo administrativo durante o trâmite do processo penal. Ademais, é perfeitamente possível que determinados fatos constituam infrações administrativas, mas não ilícitos penais, permitindo a aplicação de penalidade ao servidor pela Administração, sem que haja a correspondente aplicação de penalidade na esfera criminal. Vale destacar que é possível a repercussão do resultado do processo penal na esfera administrativa no caso de absolvição criminal que negue a
existência do fato ou sua autoria, devendo ser revista a pena administrativa porventura aplicada antes do término do processo penal. MS 18.090-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 8/5/2013.
ITEM 26
CESPE ERRADA
Enunciado
Situação hipotética: Determinado ministério, com base em parecer
opinativo emitido pela sua consultoria jurídica, decidiu adquirir
alguns equipamentos de informática. No entanto, durante o
processo de compra dos equipamentos, foi constatada, após
correição, ilegalidade consistente em superfaturamento dos
preços dos referidos equipamentos. Assertiva: Nessa situação, de
acordo com o entendimento do STF, ainda que não seja
comprovada a má-fé do advogado da União, ele será
solidariamente responsável com a autoridade que produziu o ato
final.
Justificativa
O STF classifica da seguinte forma os pareceres jurídicos (MS 24631/DF)
“Salientando, inicialmente, que a obrigatoriedade ou não da consulta tem influência decisiva na fixação da natureza do parecer, fez-se a distinção entre três hipóteses de consulta: 1. a facultativa, na qual a autoridade administrativa não se vincularia à consulta emitida; 2. a obrigatória, na qual a autoridade administrativa ficaria obrigada a realizar o ato tal como submetido à consultoria, com parecer favorável ou não, podendo agir de forma diversa após emissão de novo parecer; e 3. vinculante, na qual a lei estabeleceria a obrigação de ‘decidir à luz de parecer vinculante’, não podendo o administrador decidir senão nos termos da conclusão do parecer ou, então, não decidir”.
O Supremo Tribunal Federal entende que só é possível responsabilizar o parecerista em caso de dolo ou culpa:
"Controle externo. Auditoria pelo TCU. Responsabilidade de procurador de autarquia por emissão de parecer técnico-jurídico de natureza opinativa. Segurança deferida. Repercussões da natureza jurídico-administrativa do parecer jurídico: (i) quando a consulta é facultativa, a autoridade não se vincula ao parecer proferido, sendo que seu poder de decisão não se altera pela manifestação do órgão consultivo; (ii) quando a consulta é obrigatória, a autoridade administrativa se vincula a emitir o ato tal como submetido à consultoria, com parecer favorável ou contrário, e se pretender praticar ato de forma diversa da apresentada à consultoria, deverá submetê-lo a novo parecer; (iii) quando a lei estabelece a obrigação de decidir à luz de parecer vinculante, essa manifestação de teor jurídico deixa de ser meramente opinativa e o administrador não poderá decidir senão nos termos da conclusão do parecer ou, então, não decidir. No caso de que cuidam os autos, o parecer emitido pelo impetrante não tinha caráter vinculante. Sua aprovação pelo superior hierárquico não desvirtua sua natureza opinativa, nem o torna parte de ato administrativo posterior do qual possa eventualmente decorrer dano ao erário, mas apenas incorpora sua fundamentação ao ato. Controle externo: É lícito concluir que é abusiva a responsabilização do parecerista à luz de uma alargada relação de causalidade entre seu parecer e o ato administrativo do qual tenha resultado dano ao erário. Salvo demonstração de culpa ou erro grosseiro, submetida às instâncias administrativo-disciplinares ou jurisdicionais próprias, não cabe a responsabilização do advogado público pelo conteúdo de seu parecer de natureza meramente opinativa." (MS 24.631, rel. min.Joaquim Barbosa, julgamento em 9-8-2007, Plenário, DJ de 1º-2-2008.)
Direito Constitucional
Itens 27 a 53
Publicado em 13/10/15
Dr. Danilo Paz
Defensor Público Federal
Caros alunos EBEJI, vamos agora à análise da prova de Direito Constitucional da prova da AGU2015 – Advogado da União. Inicialmente, algumas considerações:
1. A prova não estava em nível excessivo, sendo, inclusive, uma disciplina bastante justa, apesar de cobrar alguns entendimentos ainda pouco consolidados que poderiam ter sido evitados numa prova objetiva;
2. Não resta dúvida de que o carro-chefe foi a jurisprudência dos tribunais superiores. Quem estudou bastante os precedentes certamente tomou a dianteira nessa matéria;
3. Não houve muita polêmica. A única questão passível de recurso é a de número 47, que, contudo, reputo estar correta (ainda que um pouco dúbia a respeito de qual fundamento deveria ter sido utilizado para se chegar à resposta).
Segue, portanto, a análise. Qualquer sugestão, dúvida ou discordância, não deixe de comentar no espaço abaixo.
ITEM 27
CESPE CORRETO
Enunciado
Constituições promulgadas – a exemplo das Constituições
brasileiras de 1891, 1934, e 1988 – originam-se de um órgão
constituinte composto de representantes do povo que são eleitos
para o fim de elaborar e estabelecer, ao passo que Constituições
outorgadas – a exemplo das Constituições brasileiras de 1824, 1937
e 1967 – são impostas de forma unilateral, sem que haja
participação do povo.
Justificativa
Realmente, as Constituições de 1891, 1934 e 1988 (além da Carta de 1946) foram votadas e promulgadas por Assembleias Constituintes, enquanto as demais (1824, 193 e 1967) foram outorgadas, sem participação popular.
ITEM 28
CESPE CORRETO
Enunciado
No neoconstitucionalismo, passou-se da supremacia da lei à
supremacia da Constituição, com ênfase na força normativa do
texto
constitucional
e
na
concretização
das
normas
constitucionais.
Justificativa
O “neoconstitucionalismo” pode ser entendido como uma compilação de ideais próprios do constitucionalismo contemporâneo e aglutinados sob um mesmo rótulo, de modo a parecer tratar-se de fenômeno autônomo e independente (não é). De toda forma, a assertiva está correta para fins de concurso, pois uma das características desse “movimento” é valorizar a supremacia da Constituição e sua força normativa – ainda que essa virada axiológica não tenha propriamente surgido com o neoconstitucionalismo, entendo não ser cabível recurso nesse ponto, pois essa redução não prejudica o julgamento objetivo do item.
CESPE CORRETO
Enunciado
De acordo com o princípio da unidade da CF, a interpretação das
normas constitucionais deve ser feita de forma sistemática,
afastando-se aparentes antinomias entre as regras e os princípios
que a compõem, razão por que não devem ser consideradas
contraditórias a norma constitucional que veda o estabelecimento
de distinção pela lei entre os brasileiros natos e os naturalizados e
a norma constitucional que estabelece que determinados cargos
públicos devam ser privativos de brasileiros natos.
Justificativa
O princípio da unidade visa “evitar contradições, harmonizando os espaços de tensão das normas constitucionais” (BULO, 2015, p. 459), ou seja, impõe a leitura da CF como uma unidade que não pode ser interpretada aos pedaços. Dessa forma, as antinomias resolvem-se através da consideração da totalidade da Carta Magna. Ressalte-se, porém, que essa harmonização de tensões também pode ser dar através do princípio da concordância prática, que “tem como meta coordenar, harmonizar e combinar bens constitucionais conflitantes, evitando o sacrifício total de uns em relação aos outros” (BULOS, 2015, p. 460).
ITEM 30
CESPE CORRETO
Enunciado
Diferentemente do poder constituinte derivado, que tem natureza
jurídica, o poder constituinte originário constitui-se como um
poder, de fato, inicial, que instaura uma nova ordem jurídica, mas
que, apesar de ser ilimitado juridicamente, encontra limites nos
valores que informam a sociedade.
Justificativa
O poder Constituinte Originário (PCO) é visto pela doutrina majoritária como um poder de fato, na esteira da concepção positivista de Carl Schmitt. Dessa forma, em tese, não obedece a limitações jurídicas, por ser pré-jurídico.
Entretanto, e pegando por empréstimos os ensinamentos de Jorge Miranda, o PCO encontra limitações transcendentes, imanentes e heterônomas, ou seja, ligadas à consciência ética coletiva da sociedade, à identidade política e cultural da nação e às regras de Direito Internacional.
Por seu turno, e finalizando o acerto do item, o Poder Constituinte Derivado (PCD) por surgir com a Carta Magna, possui natureza jurídica, encontrando, portanto, barreiras nas limitações jurídicas impostas pelo próprio PCO.
ITEM 31
CESPE ERRADO
Enunciado
O preâmbulo da CF não pode servir de parâmetro para o controle
de constitucionalidade, ao passo que as normas que compõem o
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, ainda que
tenham sua eficácia exaurida, podem ser usadas como paradigma
de controle em razão de sua natureza de norma constitucional.
Justificativa
As normas do preâmbulo não podem servir de paradigma para o controle de constitucionalidade (por todos, ADI 2469/AC), mas o ADCT pode, sim, cumprir esse papel. Confira julgado a respeito:
JURÍDICA DAS NORMAS INTEGRANTES DO ADCT - RELAÇÕES ENTRE O ADCT E AS DISPOSIÇÕES PERMANENTES DA CONSTITUIÇÃO - ANTINOMIA APARENTE A QUESTÃO DA COERÊNCIA DO ORDENAMENTO POSITIVO -RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO . - […] O Ato das Disposições Transitórias, promulgado em 1988 pelo legislador constituinte, qualifica-se, juridicamente, como estatuto de índole constitucional (RTJ 172/226-227). A estrutura normativa que nele se acha consubstanciada ostenta, em consequência, a rigidez peculiar às regras inscritas no texto básico da Lei Fundamental da República. Disso decorre o reconhecimento de que inexistem, entre as normas inscritas no ADCT e os preceitos constantes da Carta Política, quaisquer desníveis ou desigualdades quanto à intensidade de sua eficácia ou à prevalência de sua autoridade. Situam-se, ambos, no mais elevado grau de positividade jurídica, impondo-se, no plano do ordenamento estatal, enquanto categorias normativas subordinantes, à observância compulsória de todos, especialmente dos órgãos que integram o aparelho de Estado (RTJ 160/992-993) . […]
(STF, RE 215.107/PR, Segunda Turma, Rel. Min. Celso de Mello, j. 21/11/2006, p. DJ 02/02/2007).
Contudo, a questão erra ao afirmar que as normas do ADCT que tenham exaurido sua eficácia podem servir de parâmetro. Nesse caso, norma constitucional alguma – seja do texto ordinário da CRFB, seja do ADCT – pode cumprir tal mister.
ITEM 32
CESPE ERRADO
Enunciado
Situação hipotética: o presidente da República ajuizou no STF
ação
direta
de
inconstitucionalidade
que
impugna
a
constitucionalidade de uma lei estadual com base em precedente
dessa corte. A petição inicial dessa ação também foi assinada pela
AGU. Assertiva: Nessa situação, conforme entendimento do STF,
o AGU deverá defender a constitucionalidade da lei ao atuar como
curador da norma.
Na ADI 3916, o STF enfrentou Questão de Ordem sobre a obrigatoriedade da AGU defender a norma impugnada. Entendeu que a instituição teria autonomia para, entendendo que se trata de norma inconstitucional, deixar de defender o ato atacado. Não é outro o entendimento caso a AGU assine a petição inicial da ADI (o que ocorreu, por exemplo, na ADI 5296, que questiona a EC 74/13), o que demonstra, de plano, que não entende pela constitucionalidade do ato normativo.
ITEM 33
CESPE ERRADO
Enunciado
Considerando-se
que
a
emenda
constitucional,
como
manifestação do poder constituinte derivado, introduz no
ordenamento jurídico normas de hierarquia constitucional, não é
possível a declaração de inconstitucionalidade dessas normas.
Assim, eventuais incompatibilidades entre o texto da emenda e a
CF devem ser resolvidas com base no princípio da máxima
efetividade constitucional.
Justificativa
Assertiva incorreta. A decretação de inconstitucionalidade é, sim, possível. Há quem afirme que só se poderia realizar tal controle em face de cláusulas pétreas, mas a razão parece assistir a Uadi Lanmêgo Bulos (2015, pp. 211 e 212), que entende que o parâmetro, no caso, serão os limites ao poder constituinte reformador.
ITEM 34
Enunciado
O caso Marbury versus Madison, julgado pela Suprema Corte
norte-americana, conferiu visibilidade ao controle difuso de
constitucionalidade, tendo a decisão se fundamentado na
supremacia da Constituição, o que, consequentemente, resultou
na nulidade das normas infraconstitucionais que não estavam em
conformidade com a Carta Magna.
Justificativa
De fato, o caso Marbury versus Madison foi pioneiro no controle de constitucionalidade difuso ao pregar que havia hierarquias normativas distintas entre a Constituição e a lei. Na ocasião, firmou-se, de modo inédito, o entendimento de que a Constituição está acima da lei e estas lhe devem obediência.
ITEM 35
CESPE ERRADO
Enunciado
Situação hipotética: Servidor público, ocupante de cargo efetivo na
esfera federal, recebia vantagem decorrente de desempenho de
função comissionada por um período de dez anos. O servidor,
após ter sido regularmente exonerado do cargo efetivo anterior,
assumiu, também na esfera federal, novo cargo público efetivo.
Assertiva: Nessa situação, o servidor poderá continuar recebendo
a vantagem referente ao cargo anterior, de acordo com o princípio
do direito adquirido.
Veja que o caso é diferente daquele em que o servidor mantém a função comissionada por mais de 10 anos e, após isso, perde sua função. Na questão, houve a perda do próprio cargo público efetivo anteriormente ocupado, de modo que não poderia o servidor exigir o retorno de sua função de confiança desempenhada por ocasião de ocupação do cargo anterior.
ITEM 36
CESPE ERRADO
Enunciado
Situação hipotética: Determinado estado e um dos seus
municípios estão sendo processados judicialmente em razão de
denúncias acerca da má qualidade do serviço de atendimento à
saúde prestado à população em um hospital do referido
município. Assertiva: Nessa situação, o estado, em sua defesa,
poderá alegar que, nesse caso específico, ele não deverá figurar no
polo passivo da demanda, já que a responsabilidade pela
prestação adequada dos serviços de saúde à população é do
município e, subsidiariamente, da União.
Justificativa
Da mesma forma que a União não pode, por exemplo, chamar ao processo os Estados e Municípios em demandas envolvendo saúde ou, mais especificamente, entrega de medicamentos, os Estados também não podem se furtar de seu mister constitucional alegando que a responsabilidade é dos demais entes estatais.
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;
III - participação da comunidade.
§ 1º. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes.
ITEM 37
CESPE CORRETO
Enunciado
Vice-governador de estado que não tenha sucedido ou substituído
o
governador
durante
o
mandato
não
precisará
se
desincompatibilizar do cargo atual no período de seis meses antes
do pleito para concorrer a outro cargo eletivo.
Justificativa
Para concorrer a outro cargo, o vice que não tenha sucedido ou substituir o titular não precisa se desincompatibilizar antes do pleito. Inteligência da Resolução 19.491 do TSE.
ITEM 38
CESPE CORRETO
O princípio constitucional da norma mais favorável ao trabalhador
incide quando se está diante de conflito de normas possivelmente
aplicáveis ao caso.
Justificativa
Trata-se de princípio de solução de antinomias, logo sua aplicação restringe-se a casos em que há mais de uma norma passível de incidência no caso concreto – nessas situações, impõe-se a aplicação daquela norma que melhor tutele os direitos do trabalhador.
ITEM 39
CESPE CORRETO
Enunciado
De acordo com o atual entendimento do STF, a decisão proferida
em mandado de injunção pode levar à concretização da norma
constitucional despida de plena eficácia, no tocante a exercício
dos direitos e das liberdades constitucionais, à soberania e à
cidadania.
Justificativa
Em algumas situações, o STF tem adotado a posição concretista geral e utilizado o mandado de injunção para concretizar a norma no caso concreto. Também, já se valeu do instrumento constitucional para fazer aplicar instrumento legislativo análogo enquanto não suprida a omissão legislativa, a exemplo do MI 607/ES, que supriu omissão quanto à lei de greve dos funcionários públicos.
CESPE ERRADO
Enunciado
No federalismo pátrio, é admitida a decretação de intervenção
federal fundada em grave perturbação da ordem pública em caso
de ameaça de irrupção da ordem no âmbito de estado-membro,
não se exigindo para tal fim que o transtorno da vida social seja
efetivamente instalado e duradouro.
Justificativa
Não se pode valer da intervenção federal sob argumento de eventual possibilidade de irrupção da ordem. Por outros termos, a intervenção preventiva é, via de regra, vedada, pois pode ser utilizada como instrumento totalitário, mormente quando se faz juízo hipotético de quais as eventuais consequências da instabilidade social. Portanto, há que se fazer presente, ao menos, um transtorno da vida social efetivamente instalado.
ITEM 41
CESPE CORRETO
Enunciado
Entre as características do Estado federal, inclui-se a
possibilidade de formação de novos estados-membros e de
modificações dos já existentes conforme as regras estabelecidas
na CF.
Ainda que o próprio conceito de Federação não permita que os Estados-Membros possam se tornar soberanos, admite-se a formação de novos Estados e a modificação dos já existentes, inclusive por mandamento constitucional:
Art. 18, § 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar.
ITEM 42
CESPE ERRADO
Enunciado
Seria constitucional norma instituída por lei estadual exigindo
depósito recursal como pressuposto para sua interposição no
âmbito dos juizados especiais cíveis do estado, uma vez que esse
tema está inserido entre as competências legislativas dos
estados-membros acerca de procedimento em matéria processual.
Justificativa
O STF entendeu que, nesse caso, haveria inconstitucionalidade da norma, pois trata de direito processual civil (competência privativa da União) e a referida lei dificultaria a interposição de recurso, vulnerando os princípios do acesso à jurisdição, do contraditório e da ampla defesa.
O Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade do art. 7º e parágrafos da Lei 6.816/2007 do Estado de Alagoas. O dispositivo criara como requisito de admissibilidade, para a interposição de recurso inominado no âmbito dos juizados especiais, o depósito prévio de 100% do valor da condenação. O Tribunal sublinhou que a norma atacada versaria sobre admissibilidade recursal e, consequentemente, teria natureza processual. Dessa forma, seria evidente a inconstitucionalidade formal por ofensa ao art. 22, I, da CF (“Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho”). Ademais, a mencionada lei dificultaria ou inviabilizaria a interposição de recurso para o conselho recursal. Assim, vulneraria os
princípios constitucionais do acesso à jurisdição, do contraditório e da ampla defesa, contidos no art. 5º, XXXV e LV, da CF.
ADI 4161/AL, rel. Min. Cármen Lúcia, 30.10.2014.
ITEM 43
CESPE ERRADO
Enunciado
Seria constitucional lei estadual que, fundada no dever de
proteção à saúde dos consumidores, criasse restrições ao
comércio e ao transporte de produtos agrícolas importados no
âmbito do território do respectivo estado.
Justificativa
Item errado, já que o STF entende que, nesse caso, há inconstitucionalidade formal, por ser competência privativa da União (comércio exterior e interestadual).
É formalmente inconstitucional a lei estadual que cria restrições à comercialização, à estocagem e ao trânsito de produtos agrícolas importados no Estado, ainda que tenha por objetivo a proteção da saúde dos consumidores diante do possível uso indevido de agrotóxicos por outros países. A matéria é predominantemente de comércio exterior e interestadual, sendo, portanto, de competência privativa da União (CF, art. 22, inciso III).
ADI 3.813 , rel. min. Dias Toffoli, julgamento em 12-2-2015, Plenário, DJE de 20-4-2015.
ITEM 44
Enunciado
Situação
hipotética:
Determinada
Constituição
estadual
condicionou a deflagração formal de processo acusatório contra
governador pela prática de crime de responsabilidade a juízo
político prévia da assembleia legislativa local. Assertiva: Nessa
situação, a norma estadual é compatível com o estabelecido pela
CF quanto à competência legislativa dos estados-membros.
Justificativa
Entendeu recentemente o STF, em julgamento conjunto de três ADI's, que a Constituição Estadual deve seguir a sistemática disposta na legislação federal para julgamento de crime de responsabilidade. Assim, não há vício em CE que estabeleça procedimento similar à lei 1.079/50.
Por violar a competência privativa da União, o Estado-membro não pode dispor sobre crime de responsabilidade. No entanto, durante a fase inicial de tramitação de processo por crime de responsabilidade instaurado contra governador, a Constituição estadual deve obedecer à sistemática disposta na legislação federal. Assim, é constitucional norma prevista em Constituição estadual que preveja a necessidade de autorização prévia da Assembleia Legislativa para que sejam iniciadas ações por crimes comuns e de responsabilidade eventualmente dirigidas contra o governador de Estado. Com base nesse entendimento, o Plenário, em julgamento conjunto e por maioria, julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados em ações diretas para declarar a inconstitucionalidade das expressões “processar e julgar o Governador… nos crimes de responsabilidade” e “ou perante a própria Assembleia Legislativa, nos crimes de responsabilidade” previstas, respectivamente, nos artigos 54 e 89 da Constituição do Estado do Paraná. Declarou também a inconstitucionalidade do inciso XVI do art. 29, e da expressão “ou perante a Assembleia Legislativa, nos crimes de responsabilidade”, contida no art. 67, ambos da Constituição do Estado de Rondônia, bem como a inconstitucionalidade do inciso XXI do art. 56, e da segunda parte do art. 93, ambos da Constituição do Estado do Espírito Santo. A Corte rememorou que a Constituição Estadual deveria seguir rigorosamente os termos da legislação federal sobre crimes de responsabilidade, por imposição das normas dos artigos 22, I, e 85, da CF, que reservariam a competência para dispor sobre matéria penal e processual penal à União. Ademais, não seria possível interpretar literalmente os dispositivos atacados de modo a concluir que o julgamento de mérito das imputações por crimes de responsabilidade dirigidas contra o governador de Estado teria sido atribuído ao discernimento da Assembleia Legislativa local, e não do Tribunal Especial previsto no art. 78, § 3º, da Lei 1.079/1950. Esse tipo de exegese ofenderia os artigos 22, I, e 85, da CF.
ADI 4800/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 12.2.2015. (ADI-4800) ADI 4792/ES, rel. Min. Cármen Lúcia, 12.2.2015. (ADI-4792)
ITEM 45
CESPE CORRETO
Enunciado
Segundo STF, por força do princípio da presunção da inocência, a
administração deve abster-se de registrar, nos assentamentos
funcionais do servidor público, fatos que não forem apurados
devido à prescrição da pretensão punitiva administrativa antes da
instauração do processo disciplinar.
Justificativa
Assertiva correta, no termo do MS 23262/DF. A presunção de inocência impõe que a extinção da punibilidade administrativa deve ter os mesmos efeitos que a ausência de sanção por não se ter cometido a infração disciplinar ou não haver provas de seu consentimento. Não deve constar dos assentamentos individuais de servidor público federal a informação de que houve a extinção da punibilidade de determinada infração administrativa pela prescrição. O art. 170 da Lei 8.112/1990 dispõe que, "Extinta a punibilidade pela prescrição, a autoridade julgadora determinará o registro do fato nos assentamentos individuais do servidor". Entretanto, o STF declarou incidentalmente a inconstitucionalidade do referido artigo no julgamento do MS 23.262-DF (Tribunal Pleno, DJe 29/10/2014). Nesse contexto, não se deve utilizar norma legal declarada inconstitucional pelo STF (mesmo em controle difuso, mas por meio de posição sufragada por sua composição Plenária) como fundamento para anotação de atos desabonadores nos assentamentos funcionais individuais de servidor, por se tratar de conduta que fere, em última análise, a própria CF.
MS 21.598-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 10/6/2015, DJe 19/6/2015.
CESPE ERRADO
Enunciado
Caso um processo contra o presidente da República pela prática
de crime de responsabilidade fosse instaurado pelo Senado
Federal, não seria permitido o exercício do direito de defesa pelo
presidente da República no âmbito da Câmara dos Deputados.
Justificativa
O STF entende que, ainda que não haja previsão expressa na lei 1.079/50, há que se dá oportunidade ao Presidente para se defender na Câmara dos Deputados, uma vez que o próprio processo, de per si, constitui grave ônus à figura pública (MS-MC-QO 21.564/DF, 1992). Caso o procedimento tenha sido instaurado pelo Senado, não se pode, de igual modo, subtrair do chefe do Executivo o direito de defender-se em momento pré-processual, ou seja, durante o juízo de admissão do processo de responsabilidade.
ITEM 47
CESPE CORRETO
Enunciado
Conforme entendimento do STF, compete à justiça federal
processar e julgar o crime de redução à condição análoga à de
escravo, por ser este um crime contra a organização do trabalho,
se for praticado no contexto das relações de trabalho.
Essa questão é polêmica, já que o crime de redução à condição análoga à de escravo está entre os crimes contra a liberdade individual. A maioria da doutrina, contudo, entende que houve uma mera impropriedade do legislador, já que, em essência, trata-se de crime contra a organização do trabalho. Por esse motivo, a justiça federal é pacífica em reconhecer sua competência para processá-lo e julgá-lo.
Atenção. Se você errou essa questão, acredito que seja possível recorrer justamente pela posição topográfica do delito (o enunciado em momento algum afirma que a resposta deve se basear na doutrina, na jurisprudência ou na lei). Pessoalmente, contudo, acredito que as chances de êxito não são grandes nesse recurso.
ITEM 48
CESPE CORRETO
Enunciado
Compete à AGU a representação judicial e extrajudicial da União,
sendo que o poder de representação do ente federativo central
pelo advogado da União decorre da lei e, portanto, dispensa o
mandato.
Justificativa
O “mandato” do advogado da União ocorre ex vi legis , ou seja, por força de lei. Em verdade, sequer há um ente físico para estabelecer tal procuração, assim tratando-se de representação de ente imaterial como a União, não se pode exigir presença de mandato. Nesse sentido, o STF:
Representação processual. Pessoa jurídica de direito público. União. Instrumento de mandato. Dispensa. Uma vez subscrito o ato por detentor do cargo de advogado da União, dispensável é a apresentação de instrumento de mandato, da procuração.”
AO 1.757 , rel. min. Marco Aurélio, julgamento em 3-12-2013, Primeira Turma, DJE de 19-12-2013.
ITEM 49
CESPE CORRETO
Enunciado
Caso uma lei de iniciativa parlamentar afaste os efeitos de sanções
disciplinares aplicadas a servidores públicos que participarem de
movimento reivindicatório, tal norma padecerá de vício de
iniciativa por estar essa matéria no âmbito da reserva de iniciativa
do chefe do Poder Executivo.
Justificativa
O STF possui precedente no sentido de que lei de iniciativa parlamentar não pode disciplinar o assunto, justamente por se tratar de matéria de iniciativa reservada ao Executivo. Confira:
EMENTA: ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. LEI 10.076/96, DO ESTADO DE SANTA CATARINA. ART. 1º. ABOLIÇÃO DOS EFEITOS DE SANÇÕES DISCIPLINARES APLICADAS A SERVIDORES ESTADUAIS. REGIME JURÍDICO FUNCIONAL. MATÉRIA SUJEITA A RESERVA DE INICIATIVA LEGISLATIVA. NORMAS DE APLICAÇÃO OBRIGATÓRIA AOS ESTADOS-MEMBROS. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL DE LEI DECORRENTE DE INICIATIVA PARLAMENTAR. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA RESERVA ADMINISTRATIVA. ART. 2º. DEFINIÇÃO DE CRIME DE RESPONSABILIDADE. INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL. SÚMULA 722/STF.
[…] 2. Segundo consistente jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, as Assembleias Legislativas Estaduais possuem competência para deliberar sobre anistia administrativa de servidores estaduais. Contudo, não cabe a essas Casas Legislativas iniciar a deliberação de processos legislativos com esse objetivo, pois estão elas submetidas às normas processuais de reserva de iniciativa inscritas na Constituição Federal, por imposição do princípio da simetria. Precedentes.
3. Ao determinar a abolição dos efeitos das sanções disciplinares aplicadas a servidores estaduais por participação em movimentos reivindicatórios, o art. 1º da Lei 10.076/96 desfez consequências jurídicas de atos administrativos praticados com base no regime funcional dos servidores estaduais e, com isso, incursionou em domínio temático cuja iniciativa de lei é reservada ao Chefe do Poder Executivo, nos termos do art. 61, II, § 1º, “c”, da CF.