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Olavo de Carvalho_Artigos_2009_Comentários Da Semana

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http://www.olavodecarvalho.org/semana/090101jb.html

Anúncio do fim

Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil , 1 de janeiro de 2009

Se fossem apenas previsões em sentido estrito, as especulações do cientista político russo Igor Panarin quanto ao futuro dos EUA não mereceriam mais atenção que um palpite de turfista. Mas, exatamente como aquelas de Arnold Toynbee que comentei em outro lugar

(http://www.olavodecarvalho.org/semana/080512dc.html), elas não são previsões: são o resumo de um plano já em avançada fase de execução. Nenhum estudioso em seu juízo perfeito se arriscaria a fazer prognósticos tão detalhados com base em puras tendências econômicas gerais. Se Panarin é levado a sério pelo Kremlin, é porque o Kremlin sabe do que ele está falando. Suas profecias só merecem respeito porque preparam aquilo que anunciam. Discuti-las como teoria é divertimento ocioso: ou a elite americana faz algo de prático para frustrá-las, ou trata logo de inventar algum pretexto elegante para relax and enjoy diante da ocupação estrangeira.

Panarin prevê a decomposição dos EUA a partir de 2010, com a subseqüente divisão do território em seis regiões separadas, sob o domínio da China, da Rússia, do México, da União Européia, do Canadá e do Japão (v.

http://online.wsj.com/article/SB123051100709638419.html). Não há espaço aqui para analisar cada um desses casos, mas, só para dar dois exemplos, a China, pretendente à posse de toda a costa oeste segundo Panarin, e o México, virtual herdeiro de nove Estados entre a Flórida e o Novo México, já desfrutam, nos EUA,

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de uma liberdade de ação que nenhuma potência concede usualmente a nações estrangeiras. Vinte e tantos anos de demolição sistemática da indústria americana em favor de seus concorrentes chineses – verdadeiro protecionismo às avessas –, acabaram por fazer do consumidor americano o principal sustentáculo da

economia chinesa, transmutando investimentos em débitos e ajuda econômica em ritual de auto-imolação. A política de favorecimento unilateral inaugurada por Richard Nixon e levada à perfeição por Bill Clinton deu enfim o resultado

previsível: mais até do que a velha URSS, que só cresceu às dimensões de potência ameaçadora graças ao auxílio recebido dos EUA, a China tornou-se, para usar a expressão clássica de Anthony Sutton, “o melhor inimigo que o dinheiro podia comprar”. Somem-se a isso a tolerância suicida ante a espionagem chinesa, a superioridade da China na produção de armas nanotecnológicas capazes de paralisar a nação adversária em poucas horas (v. as colunas de Lev Navrozov em

www.newsmax.com) e, last not least, a hegemonia cultural do anti-americanismo na Califórnia, e verão que Panarin não está tão maluco quanto parece. Quanto ao México, tem o privilégio de fomentar livremente movimentos de secessão em vários Estados do Sul, sob o olhar complacente do governo americano, que, com toda a certeza, se tornará ainda mais complacente na gestão Obama, de vez que o novo presidente apóia e é apoiado por “La Raza”, organização militante que advoga a expulsão dos “gringos” e a ocupação da área pela autoridade mexicana.

Com cáustica ironia, Panarin lembra que em vão o povo americano espera milagres de Barack Obama: os milagres não virão.

Obama é, na verdade, o presidente menos qualificado que já houve para defender a integridade e a soberania dos EUA. Amplamente beneficiado por ajudas

estrangeiras ilegais, vulnerável a toda sorte de chantagens pelo seu passado nebuloso, suas ligações comprometedoras e seus documentos falsificados, Obama foi posto no poder por quem sabe que pode destrui-lo com duas cuspidas. E foi posto lá precisamente por isso. Ele está bem protegido de seus inimigos, mas totalmente à mercê de seus protetores. Contra estes, ele não pode defender nem sequer a si próprio, quanto mais ao país inteiro.

Quanto àqueles que festejam antecipadamente o fim dos EUA, talvez não lhes ocorra, por falta de imaginação, a suspeita de que um mundo dominado pela Rússia e pela China não conhecerá outro regime político senão o russo e o chinês.

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Não obstante, desejo a todos um Feliz Ano Novo, seja isto lá o que for.

http://www.olavodecarvalho.org/semana/090105dce.html

Novas obamices

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 5 de janeiro de 2009

Bill Muehlenberg, popular comentarista de mídia australiano, considerou o meu artigo "O candidato do medo" (Diário do Comércio, 24 de outubro de 2008) uma das matérias mais importantes e reveladoras publicadas sobre as eleições

americanas. Seu site Culture Watch (www.billmuehlenberg.com) recomendou ainda "Milagres da fé obâmica", publicado no Mídia Sem Máscara em 1º de

novembro. Este foi discutido também no site de Melanie Phillips da revista inglesa

Spectator (http://www.spectator.co.uk/melaniephillips/2570751/join-up-the-dots.thtml): atacado e defendido, acabou-se saindo muito bem. Até agora, todas as reações adversas a esses dois artigos limitaram-se aos xingamentos impotentes e a contestações de detalhe que não afetam no mais mínimo que seja o seu argumento geral.

É absolutamente inevitável que, mais dia menos dia, todos os crimes de fraude praticados por Barack Hussein Obama antes e durante as eleições venham à tona. Os de revelação mais recente são os seguintes:

1. Ao preencher o formulário para inscrição na Ordem dos Advogados (Bar

Association) de Illinois, Obama declarou que nunca tinha usado nenhum outro

nome além de Barack Hussein Obama. É falso. Há documentos dele com os nomes de Barry Soetoro, Barry Dunham e outros, bem anteriores ao seu ingresso naquela entidade.

2. Durante a campanha, sob suspeita de ter adquirido sua mansão num negócio ilegal com Tony Rezko, Obama declarou que nada tinha a ver com o famoso

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vigarista, preso por uma dúzia de crimes. Agora apareceram as cobranças de

impostos daquele imóvel: não estão em nome de Obama, mas do advogado de Tony Rezko...

3. Repetidas vezes, Obama afirmou que não tinha nada a ver com a Acorn, a ONG que espalhou milhares de títulos de eleitor falsos. Agora revela-se não só que a Acorn prestou serviços à campanha de Obama, recebendo pagamentos de 80 mil dólares, mas que a firma de advocacia onde trabalhou Michelle Obama está defendendo a diretoria da Acorn num caso de desvio de verbas.

4. Com o apoio de toda a grande mídia, sem exceção, Barack Hussein Obama jurou que eram puras difamações as notícias de que ele tinha recebido educação islâmica. O vídeo reproduzido em http://www.youtube.com/watch?v=HkjFc3S21nY não deixa margem a dúvidas: Obama mentiu novamente.

Graças ao caso Blagojevitch, Obama tornou-se o primeiro presidente eleito dos EUA a ser interrogado pela polícia já antes da cerimônia de posse. E o promotor Patrick Fritzgerald – o mesmo do caso Valerie Plame, donde se vê que o sujeito não age por preferência partidária – já anunciou que pretende em breve espremer Obama quanto aos negócios ilícitos com Tony Rezko.

http://www.olavodecarvalho.org/semana/090107dc.html

A ciência contra a razão

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 7 de janeiro de 2009

Aquilo que hoje se chama orgulhosamente de "ciência", pretendendo-se com isso designar a instância última e suprema no julgamento de todas as questões públicas e privadas, nem é uma entidade univocamente reconhecível, nem muito menos um conhecimento que tenha em si seu próprio fundamento.

A possibilidade da existência de algo como a "ciência" repousa numa variedade de pressupostos que nem podem ser eles próprios submetidos a teste "científico", nem muito

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menos fornecem qualquer base racional para dar à dita "ciência" a autoridade da última palavra não só nas questões gerais da existência humana, mas até no próprio domínio especializado de cada área científica em particular.

Só para dar um exemplo elementar, sem as palavras "sim" e "não" nenhum raciocínio lógico é possível. Nenhuma ciência pode nos dizer o que elas significam. Toda a lógica formal baseia-se nessas duas palavras, e a própria lógica formal não pode defini-las. Qualquer definição lógico-formal que se ofereça para elas será sempre puramente

tautológica, nada dizendo em si mesma e baseando enfim toda a sua compreensão no apelo à experiência pessoal do ouvinte ou leitor. Se dizemos, por exemplo, que o sentido de "sim" é anuência, concordância, aceitação, etc, nada afirmamos exceto que dizer sim é dizer sim. Do mesmo modo, o "não" não pode ser definido como rejeição, impugnação, etc., pela simples razão de que o sentido dessas palavras consiste precisamente em dizer não. O único significado possível da palavra "sim" é o da responsabilidade moral integral que uma pessoa assume ao declarar alguma coisa. Essa responsabilidade, por sua vez, subdivide-se em graus que vão desde a disposição absoluta de morrer pelo que se diz até a mera

aceitação provisória de uma hipótese para fins de argumentação, portanto também de refutação. O mesmo acontece com o "não". Não há como definir essas palavras senão mediante o apelo à responsabilidade pessoal tal como aparece no autoconhecimento

subjetivo. Isso quer dizer, simplesmente, que todo emprego puramente lógico-formal desses termos, amputado da sua raiz na experiência moral humana, é apenas um uso convencional e hipotético que não permite distinguir se, no fim das contas, o "sim" quer dizer "sim" ou "não" e o "não" quer dizer "não" ou "sim".

Fenômeno idêntico acontece com inúmeros outros termos usados no raciocínio científico, como por exemplo “igualdade”, “diferença”, “causa”, “relação”, etc. Nenhuma ciência pode definir esses termos e também não o pode a metodologia científica se tomar como pressuposto a validade do conhecimento científico em vez de fundamentá-lo desde suas raízes. Podemos, é claro, fixar significados lógico-formais para essas palavras, bem como para muitas outras, mas somente como um recorte convencional operado em cima daquilo que elas significam na experiência humana responsável.

Também não teria sentido imaginar que essa dificuldade afeta apenas a expressão do conhecimento científico em palavras e não a substância mesma desse conhecimento. Ou os termos usuais da linguagem científica expressam o conteúdo mesmo e a própria estrutura do conhecimento científico, ou este último é em si um conhecimento indizível e místico cuja tradução em palavras permanece sempre externa, aproximativa e imperfeita.

Em suma, o conhecimento científico – e mais ainda aquilo que hoje se entende

popularmente como tal – é uma subdivisão especializada da capacidade racional geral e tem nela o seu fundamento, não podendo julgá-la por seus próprios critérios. O que aqui se entende como "razão" não se resume também às capacidades usuais da linguagem coerente e do cálculo, pois ambas essas capacidades também não passam de especializações de uma capacidade mais básica. A razão é, em primeiro lugar, a capacidade de abrir-se

imaginativamente ao campo inteiro da experiência real e virtual como uma totalidade e de contrastar essa totalidade com a dimensão de infinitude que a transcende

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aos equivalentes matemáticos desses termos, que são apenas as traduções deles para um domínio especializado. Dessa primeira distinção surgem inúmeras outras como inclusão e exclusão, limitado e ilimitado, permanência e mudança, substância e acidente e assim por diante. Sem essa imensa rede de distinções e inclusões que constitui a estrutura básica da razão, o método científico seria um nada. É ainda mais estúpido imaginar que, uma vez formado historicamente, o método científico se tornou independente da razão e pode prescindir dela ou julgá-la segundo seus próprios critérios. É a razão, e não o método científico, que confere sentido ao próprio discurso científico, o qual por sua vez não pode dar conta dela no mais mínimo que seja. A "ciência" não pode jamais ser a autoridade última em nenhum assunto exceto dentro dos limites que a razão lhe prescreva, limites estes que por sua vez continuam sujeitos à crítica racional a qualquer momento e em qualquer circunstância do processo científico.

O objeto da razão é a experiência humana tomada na sua totalidade indistinta, só limitada pelo senso da infinitude. O objeto da ciência é um recorte operado convencionalmente dentro dessa totalidade, recorte cuja validade não pode ser senão relativa e provisória, condicionada sempre à crítica segundo as categorias gerais da razão que transcende infinitamente não só o domínio de cada ciência em particular, mas o de todas elas em conjunto.

Afinal, como se constitui uma ciência? Supõe-se que determinado grupo de fenômenos obedece a certas constantes e em seguida se recortam amostras dentro desse mesmo grupo para averiguar, mediante observações, experiências e medições, se as coisas se passam como previsto na hipótese inicial. Repetida a operação um certo número de vezes, busca-se articular os seus resultados num discurso lógico-dedutivo, estruturando a realidade da experiência na forma de uma demonstração lógica, evidenciando, ao menos idealmente, a racionalidade do real. Tudo isso é impossível sem as categorias da razão, obtidas não desta ou daquela experiência científica, nem de todas elas em conjunto, mas do próprio senso da experiência humana como totalidade ilimitada.

A experiência humana tomada como totalidade ilimitada é a mais básica das realidades, ao passo que o objeto de cada ciência é uma construção hipotética erigida dentro de um recorte mais ou menos convencional dessa totalidade. Essa construção nada vale se amputada do fundo desde o qual se constituiu. O apego à autoridade da "ciência", tal como hoje se vê na maior parte dos debates públicos, não é senão a busca de uma proteção fetichista,

socialmente aprovada, contra as responsabilidades do uso da razão.

O mais evidente sintoma disso é a facilidade, a trêfega e saltitante mudança de canal com que os porta-vozes da “ciência” transitam das atenuações relativistas e desconstrucionistas, para as quais todos os discursos são válidos de algum modo, às proclamações absolutistas de “fatos científicos” imunes a toda discussão, tão sagrados que seus contestadores devem ser excluídos do meio universitário e expostos à execração pública. O culto da “ciência” começa na ignorância do que seja a razão e culmina no apelo explícito à autoridade do irracional.

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http://www.olavodecarvalho.org/semana/090107adc.html

Credibilidade fingida

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 7 de janeiro de 2009

Antes de levar muito a sério o que o Washington Post diz de Barack Obama e de seus críticos, é prudente levar em conta a seguinte advertência publicada pela

ombudsman (ou, se quiserem, ombudswoman) do jornal, Deborah Howell, em 10

de novembro: “Os leitores têm constantemente acusado a falta de matérias investigativas (sobre Obama) e aquilo que enxergam como um viés em favor do candidato democrata. Minhas pesquisas mostram que eles têm razão nos dois pontos.”

Numa época em que a opinião pública americana em peso prefere antes acreditar na internet do que nos jornais (v. pesquisa em www.breitbart.com/article.php? id=081224183017.jxmbrdyb&show_article=1), é ridícula a afetação de auto-importância com que órgãos de mídia semifalidos, posando de donos da credibilidade e blefando em cima de um prestígio extinto, fingem desprezar os “blogueiros de direita”, acusando-os de inventar “teorias conspiratórias”. Se a obsessão de apelar ad nauseam a esse chavão infamante como pretexto para fugir a um confronto com a realidade já não bastasse para mostrar quem está fazendo jornalismo e quem está trapaceando, restaria o fato de que é vigarice pura e simples depreciar como mero “blog” um site de jornalismo eletrônico poderoso como o

WorldNetDaily, que tem muito mais leitores do que o Washington Post jamais

teve. Nada predispõe mais à ostentação verbal de supremacia do que um bom complexo de inferioridade.

Contra factum argumentum non est, “contra fatos não há argumentos”, ensinava

Sto. Tomás. O establishment jornalístico americano (nem falo do brasileiro) não aprendeu até hoje essa lição. Tudo, absolutamente tudo o que se escreveu e se falou a favor de Barack Obama é baseado exclusivamente em dois argumentos: a

importância simbólica da eleição de um negro e as grandes esperanças que esse símbolo desperta nas almas dos crentes. Todos os méritos de Obama, enfim, com exceção de suas inegáveis habilidades cênicas, são futuros. Não se poderia escrever

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e realmente não se escreveu uma só linha em louvor dele com base no seu passado político, pela simples razão de que as únicas realizações dele antes e durante a sua breve passagem pelo Senado foram coletar dinheiro para ONGs esquerdistas, escrever cartas em favor dos projetos imobiliários de seu parceiro Tony Rezko e ajudar o genocida Raila Odinga, seu parente, a conquistar o poder no Quênia. Podem procurar à vontade, não encontrarão mais nada. Esse é todo o currículo do salvador. Nunca se apostou tanto em capacidades jamais provadas.

Aquilo que se escreve contra é mais rico e variado. Noto aí pelo menos três linhas de ataque.

Há em primeiro lugar os que sondam a biografia ideológica de Obama em busca das constantes que formaram sua mentalidade. A documentação a respeito é abundante, muito bem pesquisada – principalmente nos livros de Jerome Corsi, David Freddoso e Steve Sailer – e o perfil que dela transparece é nítido: os ingredientes que o compõem são o comunismo, o terceiromundismo, o anti-americanismo e o racismo negro mais exacerbado. Nada de cristianismo, nada de

Founding Fathers, nada de constitucionalismo americano. Filho de um militante

comunista, Obama é um afilhado mental de Frank Marshall Davis, Saul Alinsky, Williams Ayers, Frantz Fanon, Malcolm X, James Cohen e Jeremiah Wright. Todas as suas opiniões sempre foram convergentes com as desses mentores, até que ele se lançou candidato à presidência e subitamente mudou de identidade, tornando-se moderado, patriota e apegado aos valores tradicionais da nação americana, só raramente deixando à mostra, por engano, algo do velho Obama enragé. Não há, em toda essa sondagem, nada que se assemelhe nem de longe a uma “teoria da conspiração”, mas o rótulo é invariavelmente usado para neutralizar qualquer veleidade de contrastar a vida do personagem com o seu discurso de campanha. Este tem de ser aceito como a última palavra, sem qualquer apelo indecente à realidade dos fatos.

Uma segunda linha de ataque é ilustrada pelo livro de Brad O’Leary, The Audacity

of Deceit, e por uma infinidade de artigos na internet, que dos elementos

biográficos disponíveis procuram deduzir a orientação do futuro governo Obama, concluindo que será uma catástrofe. Certo ou errado nas suas conclusões, esse tipo de conjeturação é perfeitamente legítimo, usual e até obrigatório em toda

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Por fim, há aqueles que, fazendo abstração das discussões ideológicas, se atêm ao exame da carreira de Obama nos seus aspectos jurídicos e possivelmente criminais. Nenhum candidato presidencial jamais escapou de ser examinado sob esse ângulo, mas no caso de Obama a colheita é inusitadamente rica, e por isso mesmo o

silêncio total que a grande mídia tem mantido a respeito, contrariando sua prática usual em todas as eleições anteriores – e mesmo nesta com relação aos adversários de Obama –, evidencia a ascensão generalizada de um partidarismo anormal, manipulador e criminoso na classe jornalística americana. É compreensível que os responsáveis por essa anomalia, denunciados pelos próprios leitores de seus jornais, reajam com quatro pedras na mão, apelando a estereótipos pejorativos para não ter de justificar o injustificável.

Vou lhes dar um exemplo que, pela própria miudeza, se torna significativo. Quando um eleitor comum, Samuel Wurzelbacher, mais conhecido como Joe the Plumber, espremeu Obama na rua com umas perguntas difíceis, a mídia americana inteira caiu de pau sobre o coitado, tentando desmoralizá-lo por meio informações ilegalmente colhidas pelo governo, que o pintavam como vagabundo e marginal com base em picuinhas como duas multas de trânsito não pagas. As multas de Joe the Plumber apareceram em todos os maiores jornais e noticiários de TV. Ao mesmo tempo, praticamente nada se leu ou se ouviu sobre o fato de que o próprio Obama deixara de pagar não duas, mas quinze multas de trânsito – depois pagas com dezesseis anos de atraso por um obamista anônimo (v.

http://campaignspot.nationalreview.com/post/?

q=M2ExMGI1YzRhZjg5NDcxYjY2Y2VhZGFiZmE1MDRlM2E=). Quando a fiscalização da mídia é mais severa contra o zé-ninguém do que contra um

candidato presidencial, algo de muito errado está acontecendo. E, quando esse algo se repete uniformemente em quase todos os jornais e canais de TV, a única maneira de evitar a hipótese de uma conspiração ou coisa assim é apostar na

intercomunicação telepática simultânea entre milhares de jornalistas.

Mas há ainda um quarto fator: as autênticas teorias da conspiração. Dizem que Obama é filho secreto de Malcom X, que Obama é um agente plantado pela KGB, que Obama é muçulmano em segredo etc. etc. Essas teorias não surgem de

nenhuma alucinação coletiva, mas de uma causa bem razoável. Obama, como já lhes contei aqui, esconde por todos os meios uma série de episódios importantes da sua carreira. Esconde por meio da mentira direta (ao dizer, por exemplo, que nunca

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foi membro de um partido socialista, que nunca recebeu educação islâmica ou que nunca teve negócios com Tony Rezko), por meio da supressão de dezenas de documentos essenciais (a famosa certidão original de nascimento, as agendas do seu gabinete no Senado, etc. etc.) e por meio da falsificação pura e simples. Isso não é teoria da conspiração. São fatos. Mas esses fatos, por sua vez, são enigmas.

Obama é o presidente eleito mais secreto e incognoscível que os EUA já tiveram – um caso único na história das eleições democráticas. Será de estranhar que, diante de tanta obscuridade, algumas pessoas se ponham a conjeturar hipóteses, e que essas hipóteses acabem sempre sugerindo algo de perverso, até sinistro? Quem tem o direito de espalhar mistérios e depois ficar indignado ante a proliferação de suposições conspiratórias geradas pela sua própria conduta esquiva e inexplicável? Vejam com seus próprios olhos o alistamento militar da criatura, reproduzido em

http://www.debbieschlussel.com/archives/2008/11/exclusive_did_n.html:

Notem a data da assinatura no canto inferior esquerdo (letra D em azul), 30 de julho de 1980, e, no canto superior direito (letra A em azul), o ano de impressão do papel: 08, isto é, 2008. O miraculoso Obama assinou o formulário 28 anos antes de impresso. Mais ainda, notem a data do carimbo no canto inferior direito (letra E em azul). É 29 de julho de 1980: o documento foi autenticado 24 horas antes de assinado. Para completar, a sigla no carimbo é USPO, United States Post Office.

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Mas esse carimbo já não era válido na data de assinatura do documento, muito menos 28 anos depois: a repartição mudou de nome para USPS, United States Postal Service, em 12 de agosto de 1970. Em suma: é olhar esse papel e cair na mais completa perplexidade. Quem, diante de tamanho descalabro, pode ficar tranqüilo e confiante, seguro de que o país está em boas mãos? Só mesmo os articulistas do

Washington Post.

http://www.olavodecarvalho.org/semana/090109dc.html

Construindo a ditadura americana

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 9 de janeiro de 2009

Não há “crise de crédito” nem recessão nenhuma, mas os gastos do governo

americano para remediar problemas inexistentes podem criar um problema real: a hiperinflação. Os EUA ameaçam menos repetir a sua crise de 1929 do que o destino da República de Weimar em 1922, quando era preciso uma cesta de dinheiro para comprar um pãozinho.

Estas são as conclusões de um relatório publicado pela firma de consultoria Celent. O autor do estudo, Octavio Marenzi, é freqüentemente citado como fonte pelo

Economist, pelo Financial Times e pelo Wall Street Journal. Antes de fundar a

Celent, ele foi chefe do departamento de Tecnologia da Informação do Union Bank de Zurique e consultor do Booz, Allen & Hamilton's Financial Services Group na Europa e nos EUA.

Ele afirma que os diagnósticos apresentados ao público pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson, e pelo presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, são

integralmente desmentidos pelas estatísticas oficiais dos órgãos que eles mesmos dirigem.

Em setembro, quando persuadiu o presidente Bush a liberar 700 bilhões de dólares em verbas de emergência, Paulson disse que o sistema financeiro estava

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entre bancos tinham se “reduzido substancialmente”. Bernanke afirmou que os negócios estavam enfrentando “reduzido acesso ao crédito”.

Tudo isso é cem por cento falso. As tabelas da Secretaria do Tesouro e do Federal Reserve mostram que, em vez de diminuir, a oferta de dinheiro aumentou – e aumentou numa velocidade jamais vista antes na história americana: 74 por cento em apenas 84 dias (15 por cento só no auge da “crise”). “Antes, observa Marenzi, esse salto aconteceria no curso de uma década ou mais.”

“Sem dúvida – prossegue –, um certo número de importantes instituições financeiras e de firmas industriais está em sérias dificuldades. No entanto,

dificuldades de crédito que afetem um conjunto específico de firmas não é a mesma coisa que um problema no mercado de crédito como conjunto.” No geral, afirma Marenzi, este último estava funcionando muito bem. Se algum risco havia era o da hiperinflação – e a maciça injeção de dinheiro do governo só pode transformar esse risco numa realidade iminente.

O relatório está em

http://www.celent.com/PressReleases/20081210/WhatCreditCrisis.asp. A conclusão de Marenzi é que Paulson e Bernanke deformaram os fatos “para justificar um acréscimo sem precedentes da intervenção governamental nos mercados”. Mas os dois não fizeram isso sozinhos: a grande mídia inteira os ajudou, endossando suas palavras e abstendo-se meticulosamente de conferi-los com os dados publicados pelas instituições que eles chefiam. Foi justamente por ver que os jornalistas não cumpriam sua função que a Celent decidiu cumpri-la em lugar deles.

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No entanto, é claro que os riscos não se limitam à hiperinflação. O anúncio

espalhafatoso de uma crise inexistente deslancha, por si mesmo, uma crise real. O gráfico mostra claramente que a oferta de crédito caiu significativamente depois da Lei de Estabilização Econômica assinada em 3 de outubro (Emergency Economic

Stabilization Act). Mas, se o remédio foi tão manifestamente culpado por reduzir

ao estado de coma um paciente que estava são, não se pode dizer que esse

fenômeno não teve precedentes na história da economia americana. Num discurso pronunciado em 8 de novembro de 2002 na Universidade de Chicago, o próprio Bernanke confessou que a Grande Depressão de 1929-1933 não foi causada pela ação espontânea dos fatores econômicos, mas pelo intervencionismo nefasto do Federal Reserve. O discurso foi feito na cerimônia de homenagem ao nonagésimo aniversário de Milton Friedmann – o economista que ao longo de décadas, contra tudo e contra todos, vinha responsabilizando o Federal Reserve pela crise de 1929. Agora era um dos diretores do próprio Federal Reserve que confessava

publicamente as culpas da instituição. Mas nem sempre a confissão é um ato sincero de repúdio ao crime. Pode haver nela uma ponta de orgulho secreto, que prenuncia a reincidência. Decorridos seis anos, com Bernanke na presidência, o Federal Reserve está de novo criando uma crise do nada, e, como diz Marenzi, novamente “para justificar um acréscimo de intervenção governamental nos mercados”.

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Mas, se é assim – e, depois de olhar a tabela anexa, não imagino como possa ter sido outra coisa –, então resta a pergunta: foi George W. Bush quem mandou Paulson e Bernanke fazerem isso? Por que um presidente que está nos últimos dias do mandato buscaria aumentar dessa maneira o poder do Executivo, se ele mesmo não poderá desfrutar dos novos instrumentos de comando? Obviamente, Bernanke e Paulson não estão entregando esses instrumentos nas mãos de George W. Bush, mas de Barack Hussein Obama. Trata-se de fazer com que o próximo presidente já assuma o cargo na condição de ditador financeiro.

Se a operação foi realizada na base do engodo e da ocultação premeditada de informações, não há nisso nada de estranho, de vez que a própria vitória eleitoral de Obama foi alcançada pelos mesmos meios: não há a menor dúvida de que, se a mídia armasse em torno do sumiço dos documentos de Obama um centésimo do escarcéu que fez quanto à gravidez da filha de Sarah Palin ou das multas de trânsito de Joe the Plumber, o candidato democrata não teria tantos votos. O eleitorado foi totalmente ludibriado quanto à identidade do homem em quem votava, substituída pelo símbolo “candidato negro”, como se tudo quanto os votantes precisavam saber do futuro presidente fosse a cor da sua pele – e qualquer curiosidade quanto aos capítulos incertos da sua biografia fosse crime de racismo: duas premissas que a mídia inteira adotou como cláusulas pétreas do seu manual de redação durante as eleições.

Se duas gigantescas operações de desinformação são empreendidas

simultaneamente, uma para forçar o povo a escolher um candidato sem fazer perguntas, outra para ajudar esse candidato a subir ao cargo já com poderes incalculavelmente aumentados, só um idiota completo poderia supor que essas duas operações foram totalmente independentes, só unidas pela mera coincidência de um sincronismo junguiano ou de uma imponderável decisão divina.

Em compensação, é verdadeira a articulação das duas manobras com uma terceira, uma quarta e uma quinta, todas convergentemente destinadas a munir de poderes especiais o próximo presidente.

1) A mais óbvia de todas é invenção pessoal de Barack Hussein Obama: a menina-dos-olhos do presidente-eleito é o seu projeto de uma “força civil de segurança nacional”, militância estudantil armada, paga com o dinheiro dos contribuintes

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para atemorizá-los e persegui-los ao menor chamado do profeta ungido (v.

http://www.ibdeditorials.com/IBDArticles.aspx?id=305420655186700). 2) Enquanto o diretor do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Khan, advertia que as restrições de crédito para pessoas de baixa renda podem provocar distúrbios sociais, o próprio Paulson informava que o governo está

preparado para enfrentar com a lei marcial as eventuais agitações e protestos que a “crise” venha a suscitar. Lei marcial significa suspensão dos direitos e garantias individuais.

3) Discretamente, alguns expoentes do pensamento militar americano preparam-se para jogar no lixo a lei Posse Comitatus, que desde 1878 proíbe o uso das Forças Armadas como instrumento de repressão interna. Um relatório do Instituto de Estudos Estratégicos do U.S. Army War College afirma explicitamente: “O

Departamento de Defesa pode ser forçado a conter e reverter ameaças violentas à tranqüilidade interna. Sob as mais extremas circunstâncias, isso pode incluir o uso da força militar contra grupos hostis dentro dos EUA.” (V.

http://www.newsmax.com/headlines/military_domestic_use/2008/12/23/164765 .html?s=al&promo_code=763E-1). Alguns conservadores, num lance de humor negro, chamam isso de Posse Obamitatus.

Aqueles seres superiores que adquirem suas certezas da contemplação diária de um aparelho de TV devem sentir-se livres, sem nenhum ressentimento da minha parte, para desprezar a convergência lógica desses fatos como pura “teoria da

conspiração”. Mas não impedirão que, ao 61 anos de idade, eu já tenha

compreendido que a obsessão de parecer normal, equilibrado e mainstream é um sintoma de insegurança muito mal disfarçado.

http://www.olavodecarvalho.org/semana/090112dc.html

A paz como arma de guerra

Olavo de Carvalho

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Enquanto Hugo Chávez expulsa o embaixador de Israel e no Brasil o PT compara os israelenses aos nazistas, na Flórida a militância esquerdista sai às ruas e grita: “Judeus, voltem para o forno”.

Está aberta a temporada de caça.

Ninguém parece julgar isso de todo mau. Como é possível que, decorrido pouco mais de meio século do Holocausto, o ódio aos judeus vá aos poucos se

incorporando novamente ao senso comum, como se fosse coisa decente,

obrigatória, e dele dependessem as melhores esperanças de paz e liberdade para a espécie humana?

A resposta é simples: controle o fluxo de informações e terá o domínio absoluto das conclusões que o público vai tirar delas. Uma das regras mais elementares da ciência histórica é: a difusão dos fatos causa novos fatos. O fato desconhecido não gera efeitos. Se a maioria das distribuidoras de vídeos não tivesse bloqueado o acesso dos espectadores ao documentário Obsession

(www.obsessionthemovie.com), se o vídeo

www.israelnationalnews.com/News/News.aspx/129264 fosse exibido às massas, se no mínimo o direito de chorar seus mortos no horário nobre da TV não fosse um monopólio dos esquerdistas e terroristas, ninguém diria que a reação de Israel foi excessiva: todos entenderiam que foi justa, racional e tardia.

Para que esse desastre não aconteça, é preciso garantir que cada judeu explodido pelas bombas do Hamas seja enterrado duas vezes: uma no solo, outra no

desconhecimento geral. Assim todo mundo fica com a impressão de que os judeus não estão defendendo a própria pele, apenas arrancando a de seus inimigos.

Também seria ingenuidade acreditar que o abismo crescente entre noticiário e realidade é o efeito espontâneo de um simples viés ideológico, de preferências subjetivas da classe jornalística.

Só para fins de comparação: as Farc, segundo se descobriu no famoso laptop de Raul Reyes, não são um bando de psicóticos enfurnados na selva – são uma

organização mundial, com uma rica e eficiente rede de apoio em 29 países. Mutatis

mutandis, quantos colaboradores têm o Hamas e o Hezbollah no Brasil, nos demais

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influência colocados em postos decisivos das empresas jornalísticas para dar a impressão de que é normal chamar os judeus de nazistas e no mesmo ato sugerir enviá-los de volta aos campos de concentração? Ninguém vai jamais investigar isso em profundidade, dar nomes, responsabilizar criminalmente os desgraçados? Até quando a mídia continuará sendo a principal arma de guerra assimétrica e posando de observadora neutra, no máximo um tanto preconceituosa?

Claro, existem sempre os idiotas úteis, que repetem o que ouvem dizer. Mas a idiotice em estado bruto é inerme. Para tornar-se útil ela tem de sofrer um

upgrade. Não se pode explicar um preconceito geral pela simples propagação

automática, sem que alguém tenha deslanchado o processo. E quem o deslanchou sabe exatamente aonde pretende chegar com ele.

Lênin já explicava que o terrorismo não é jamais um objetivo em si mesmo, que suas finalidades só se cumprem quando os ataques cessam e as conquistas obtidas são sacramentadas na mesa das negociações. A transição depende, na sua quase totalidade, das disposições da opinião pública. Quando o povo está cansado de guerra, está na hora de o lado militarmente mais fraco ofecerer a paz ao mais forte em troca de vantagens políticas. A mídia é o instrumento-chave dessa mutação. Respaldada por ela, a equipe de governo de Barack Hussein Obama já oferece ao Hamas a oportunidade de transformar a derrota em vitória por meio do “diálogo”. Nenhuma organização terrorista aspira senão a isso: ser transmutada de bando de criminosos em organização política decente, portadora dos méritos da “paz”. Por isso mesmo a guerra assimétrica é chamada, tecnicamente, de “a derrota do vencedor”. Sob a pressão da mídia mundial, Israel arrisca-se a cair nesse engodo pela milésima vez.

http://www.olavodecarvalho.org/semana/090113dc.html

Normas de redação

Olavo de Carvalho

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Confissões de Luiz Garcia, um dos potentados da redação de O Globo, reveladas durante um simpósio da University of Tulane, em março de 2008, por Carolina Matos, em

conferência intitulada (sem ironia aparente) Partisanship versus professionalism: “Fizemos um enorme esforço para atrair o pensamento esquerdista para O Globo. E fizemos isso em tal extensão que depois tivemos de procurar um direitista que escrevesse bem, e escolhemos Olavo de Carvalho, o que hoje lamentamos um bocado. Toda a esquerda tem acesso ao Globo: Élio Gaspari, Zuenir Ventura, Veríssimo... E também os ativistas, as ONGs. Estamos fazendo uma coisa balanceada.”

Leram? Leiam de novo. Com o maior ar de inocência, com aquela consciência limpa de quem não quer sujá-la num confronto com os próprios atos, o criador da página de opinião de um grande diário brasileiro apresenta sua noção de jornalismo balanceado, isento, equilibrado: franquear as páginas do jornal para “toda a esquerda”, um exército inteiro de editorialistas, cronistas, analistas e ongueiros, depois camuflar o partidarismo concedendo um espacinho a um – isso mesmo: um, um único – articulista de direita, em seguida reduzir um pouco mais esse espacinho e no fim ainda reclamar que o convidado, um brutamontes sem educação, ultrapassou a quota de direitice admitida. Em matéria de disfarce, isso foi tão eficiente quanto limpar bumbum de elefante com um cotonete.

Mas disfarçar era totalmente desnecessário: quem, entre as multidões, reclamaria do viés esquerdista do Globo? Brasileiro não lê jornal. Num país de 180 milhões de habitantes, a tiragem dos maiores diários, somada, mal chega a dois milhões de exemplares. A imagem que o zé-povinho tem dos jornais é a de trinta anos atrás: o Estadão ainda é os Mesquita, O Globo ainda é Roberto Marinho. Diga ao cidadão comum que O Globo é de esquerda, e ele rirá na sua cara com aquele ar de infinita superioridade que é o privilégio sublime da completa ignorância. De outro lado, o esquerdismo da mídia nacional é mais que

hegemônico: é uma instituição tão antiga, tão sólida, tão tradicional e intocável que acabou por se tornar um estado natural. O jornalismo de esquerda já nem pode ser reconhecido como tal, pois há três gerações não existe um de direita que lhe sirva de contraste. A firme obediência ao programa esquerdista passa hoje como a encarnação mesma do

profissionalismo idôneo, mainstream. Fanatismo, propaganda, distorção ideológica, só na coluna do Olavo de Carvalho, é claro. Pois não é que o safado teve a ousadia de contar para todo mundo que o Foro de São Paulo existia, quando a massa de seus colegas de ofício se empenhava solicitamente em ajudar essa central da subversão a crescer em silêncio? Por que ele não se limitou ao direitismo cool, educado, àquele amável direitismo de centro que festeja a eleição de Barack Obama como uma glória da democracia americana e de vez em quando até verte umas lágrimas (de crocodilo ou não) pelos terroristas mortos nos “anos de chumbo”?

Se querem entender como essa mudança aconteceu, leiam o livro de Alzira Alves de Abreu, Eles Mudaram a Imprensa (FGV, 2003). São “depoimentos de seis jornalistas que, na qualidade de diretores de redação, tiveram uma participação fundamental na reformulação ou na criação de órgãos de imprensa brasileiros nas últimas três décadas do século XX”. Dos seis entrevistados, cinco são esquerdistas. Só faltou, dessa geração de reformadores célebres, o Cláudio Abramo, que já tinha morrido. E Cláudio era um devoto de Leon Trotski. Isso, meus amigos, é a mídia brasileira. Ser esquerdista, no ambiente que esses

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homens criaram, não requer nem mesmo uma tomada de posição pessoal: é só você não pensar no assunto, e a força da rotina geral o arrastará insensivelmente para a esquerda sem que você tenha de assumir a mínima responsabilidade por isso.

Se Luiz Garcia parece não ter a menor consciência de que confessou uma manipulação abjeta, delituosa até, não é porque seja cínico de propósito: é porque, no meio em que ele vive, a insensibilidade moral para com os abusos do esquerdismo se tornou uma espécie de norma de redação.

http://www.olavodecarvalho.org/semana/090114dc.html

Por que sou insuportável

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 14 de janeiro de 2009

Marx descrevia a socialização dos meios de produção como um processo longo e

complexo, que poderia se arrastar por muitas gerações. Nenhum partido comunista em seu juízo perfeito deve subir ao poder e logo no dia seguinte baixar um decreto: “Agora é o comunismo, turma. Fica abolida a propriedade privada.” Ao contrário: seja operada por meios pacíficos ou com farto recurso à violência, a transição é sempre lenta, irregular, intercalada de mil e uma concessões ao capital privado até que a elite comunista tenha se assenhoreado de todos os instrumentos de controle político, social, educacional e cultural, sem chance para o ressurgimento das forças reacionárias e conservadoras. O ideal é deixar a economia capitalista intacta e funcionando a pleno vapor até que a tomada do poder em todas as áreas da vida seja completa e irreversível.

Como a elite empresarial e os políticos “de direita” ignoram isso por completo – a maioria não leu nem sequer o Manifesto Comunista –, todos já começam a celebrar o triunfo do capitalismo tão logo um governo ou partido comunista dê sinal de se acomodar ao livre mercado, ainda que parcialmente. Ficam tão felizes com esse arranjo que nem reparam que a concessão no campo econômico vem junto com o avanço do controle hegemônico em todas as demais áreas. Que lhes importa que a militância comunista domine as escolas ou as instituições de alta cultura, se eles continuam ganhando dinheiro e até recebem alguns favores do governo esquerdista? Foi tendo isso em vista que Lênin disse: “A burguesia tece a corda com que a enforcamos.” É claro que a posição privilegiada do empresariado na sociedade não consiste só no direito de encher os bolsos, mas na obrigação de garantir que as próximas gerações desfrutem da mesma liberdade que o capitalismo lhes assegurou. Mas poucos, se algum chega a tanto, entendem que, sem um conjunto de valores culturais socialmente favoráveis à liberdade econômica e, mais ainda, sem os canais e instrumentos para a defesa e preservação desses valores, o capitalismo vai-se reduzindo pouco a pouco a uma concessão estatal provisória, até que se torne tão fraco politicamente que possa ser

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destruído da noite para o dia sem que um só protesto se levante contra o advento do comunismo.

Se querem saber, portanto, a que distância estamos desse advento, não perguntem se as empresas capitalistas estão prosperando. Perguntem quantos partidos políticos, jornais e canais de TV são abertamente anticomunistas. Quantos discursam habitualmente contra o martírio pérpétuo de prisioneiros políticos na China, na Coréia do Norte ou em Cuba em vez de fazê-lo contra as meras incomodidades que os tagarelas da esquerda alardeiam como “tortura” em Guantanamo? Quantos defendem a instituição da família e a moral

tradicional? Quantos denunciam a perseguição anticristã e antijudaica? Quantos protestam contra a doutrinação comunista nas escolas? Quantos se recusam a colaborar com a

demagogia gayzista e abortista ou com a eterna promoção de semi-intelectuais de esquerda à condição de representantes máximos da alta cultura? Quantos, ao menos, recusam

adaptar-se ao vocabulário “politicamente correto”?

Resposta: nenhum. No Brasil, nenhum. Em todos esses setores, a fase da conquista da hegemonia, tal como descrita por Antonio Gramsci, já passou. O que se observa aí é o domínio total e absoluto, o controle draconiano da formação de opiniões, a ditadura mental onipotente e incontestada.

Enquanto isso, é preciso dar à massa idiota a ilusão de que a liberdade ainda existe. Isso se obtém por dois meios:

1) Reservam-se, na mídia e nos partidos, dois ou três lugares para os discordes e resistentes, de modo que seu mero contraste com a maioria satisfeita lhes dê ares de excêntricos

amalucados, fazendo deles, mais que a exceção a confirmar a regra, um instrumento de legitimação inversa do estado de coisas. A estratégia gramsciana previa isso, dando a essas raridades o nome de “aberrações” e agradecendo sua ajuda involuntária à imposição dos novos padrões de normalidade. A única saída decente, para os que foram colocados nesse papel, é denunciar insistentemente a própria situação que lhes foi imposta, até que se tornem ainda mais aberrantes do que convém aos autores da manobra. O preço disso, é claro, é a discriminação aberta, o boicote ostensivo.

2) Abre-se oportunidade para um número um pouco maior de falsos conservadores,

incumbidos de ocupar o espaço com argumentos em favor do livre mercado, perfeitamente inofensivos na atual fase da estratégia comunista, e com generalidades insossas sobre democracia, constitucionalismo, ordem jurídica, etc., sem tocar jamais nas questões substantivas que mencionei acima.

Infelizmente, entre jovens que assistiram a meus cursos e conferências, sem se tornar por isso meus estudantes genuínos, abundam os que se dispõem a exercer esse papel abjeto, satisfeitos de ver-se bem recebidos onde fui rejeitado, e acreditando-se por isso uma “alternativa superior”, mais moderninha, serena e equilibrada, ao cada vez mais insuportável Olavo de Carvalho.

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http://www.olavodecarvalho.org/semana/090115dc.html

Cortina de trevas

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 15 de janeiro de 2009

O que está acontecendo na grande mídia americana é aterrorizante, para quem percebe. Exagero? Teoria da conspiração? Um exemplo recente permitirá que você julgue e tire suas próprias conclusões.

Quando o governador de Illinois foi acusado de leiloar a vaga do sucessor de Barack Obama no Senado, a primeira pergunta que veio à mente das autoridades policiais foi se o presidente eleito havia colaborado com o esquema, ou pelo menos sabia de alguma coisa. Não houve como esconder a dúvida, não só porque ela vinha

diretamente da promotoria, mas também porque, semanas antes, um dos

principais assessores da campanha obamista, David Axelrod, havia mencionado em entrevista um encontro recente entre Obama e o governador Blagojevitch. Logo veio a resposta calmante do próprio Obama, obtida, segundo ele, após uma rigorosa investigação interna, e alardeada por toda a mídia como solução final do enigma: Não, nem ele próprio, Obama, nem qualquer membro de sua equipe tivera qualquer contato com Blagojevich. Axelrod apressou-se a confirmá-lo, jurando que sua primeira declaração fora apenas um equívoco. Feito isso, a mídia inteira

anunciou, para alívio geral dos crentes, que a derrocada do governador de Illinois não manchava em nada a honra do Messias ungido.

Insatisfeita com essa solução demasiado fácil, a ONG Judicial Watch intimou o governo de Illinois, pelo Freedom of Information Act, a liberar todos os registros oficiais de quaisquer contatos recentes do governador com Barack Obama ou membros da sua equipe. O que veio em resposta foi assombroso, para dizer o mínimo: uma carta em papel timbrado da equipe de transição, assinada pessoalmente por Barack Obama, na qual este agradecia a Blagojevich pelo

encontro que haviam mantido na Filadélfia em 2 de dezembro, apenas uma semana antes de o governador de Illinois ser preso. Pior: da conversa não haviam

participado apenas Obama e Blagojevich, mas também o vice-presidente eleito, Joe Biden. O documento pode ser lido em

(22)

http://www.judicialwatch.org/documents/2009/BlagojevichFOIAresponse122408 .pdf. É a prova oficial, cabal, de que Obama mentiu.

Pois bem, sabem quantos jornais noticiaram isso até agora? Nenhum. Quantos noticiários de TV? Nenhum. Silêncio completo, proteção total à imagem do queridinho. Não importa quantos documentos venham à tona, não importa quantos fatos sejam revelados e bem provados, não importa quantos crimes e contravenções o sujeito tenha praticado, nem uma palavra contra ele será lida ou ouvida na mídia chique. O abismo entre noticiário e realidade tornou-se

imensurável, intransponível. Com uma unanimidade esmagadora, os repórteres, editores e comentaristas mentem, sonegam, falsificam, desconversam e, com um cinismo chocante, riem de quem tente praticar o jornalismo à moda antiga, o jornalismo de fatos e documentos, que, com os dias contados, sobrevive apenas na

internet e nas estações de rádio. Nada do que se tenha observado anteriormente

nas democracias ocidentais em matéria de falsificação e manipulação de notícias se compara a esse bloqueio completo e implacável, só igualado pela censura totalitária nos países comunistas, com a diferença de que esta era imposta pelo governo, ao passo que aquele nasce de uma cumplicidade voluntária – de tipo sistêmico, não conspiratório, exatamente como previsto por Antonio Gramsci.

Mais do que a própria eleição de Obama, esse fenômeno assinala uma mudança histórica, destinada a ter conseqüências devastadoras em escala mundial. Décadas de doutrinação universitária fundada na premissa de que não existe realidade, somente “imposição de narrativas”, produziram o efeito a que aspiravam: chegou ao poder nas redações uma nova geração de jornalistas profundamente imbuídos da convicção de que seu dever não é retratar o mundo, mas transformá-lo. Ao distinto público, correspondentemente, incumbe deixar-se arrastar pela mudança sem saber de onde ela vem nem para onde vai. Se a cortina de trevas vai

permanecer cerrada por mil anos ou apenas por uns dois ou três, não sei. O que é certo é que ela já baixou sobre a terra que foi um dia a da liberdade de imprensa.

http://www.olavodecarvalho.org/semana/090115dc.html

Cortina de trevas

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Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 15 de janeiro de 2009

O que está acontecendo na grande mídia americana é aterrorizante, para quem percebe. Exagero? Teoria da conspiração? Um exemplo recente permitirá que você julgue e tire suas próprias conclusões.

Quando o governador de Illinois foi acusado de leiloar a vaga do sucessor de Barack Obama no Senado, a primeira pergunta que veio à mente das autoridades policiais foi se o presidente eleito havia colaborado com o esquema, ou pelo menos sabia de alguma coisa. Não houve como esconder a dúvida, não só porque ela vinha

diretamente da promotoria, mas também porque, semanas antes, um dos

principais assessores da campanha obamista, David Axelrod, havia mencionado em entrevista um encontro recente entre Obama e o governador Blagojevitch. Logo veio a resposta calmante do próprio Obama, obtida, segundo ele, após uma rigorosa investigação interna, e alardeada por toda a mídia como solução final do enigma: Não, nem ele próprio, Obama, nem qualquer membro de sua equipe tivera qualquer contato com Blagojevich. Axelrod apressou-se a confirmá-lo, jurando que sua primeira declaração fora apenas um equívoco. Feito isso, a mídia inteira

anunciou, para alívio geral dos crentes, que a derrocada do governador de Illinois não manchava em nada a honra do Messias ungido.

Insatisfeita com essa solução demasiado fácil, a ONG Judicial Watch intimou o governo de Illinois, pelo Freedom of Information Act, a liberar todos os registros oficiais de quaisquer contatos recentes do governador com Barack Obama ou membros da sua equipe. O que veio em resposta foi assombroso, para dizer o mínimo: uma carta em papel timbrado da equipe de transição, assinada pessoalmente por Barack Obama, na qual este agradecia a Blagojevich pelo

encontro que haviam mantido na Filadélfia em 2 de dezembro, apenas uma semana antes de o governador de Illinois ser preso. Pior: da conversa não haviam

participado apenas Obama e Blagojevich, mas também o vice-presidente eleito, Joe Biden. O documento pode ser lido em

http://www.judicialwatch.org/documents/2009/BlagojevichFOIAresponse122408 .pdf. É a prova oficial, cabal, de que Obama mentiu.

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Pois bem, sabem quantos jornais noticiaram isso até agora? Nenhum. Quantos noticiários de TV? Nenhum. Silêncio completo, proteção total à imagem do queridinho. Não importa quantos documentos venham à tona, não importa quantos fatos sejam revelados e bem provados, não importa quantos crimes e contravenções o sujeito tenha praticado, nem uma palavra contra ele será lida ou ouvida na mídia chique. O abismo entre noticiário e realidade tornou-se

imensurável, intransponível. Com uma unanimidade esmagadora, os repórteres, editores e comentaristas mentem, sonegam, falsificam, desconversam e, com um cinismo chocante, riem de quem tente praticar o jornalismo à moda antiga, o jornalismo de fatos e documentos, que, com os dias contados, sobrevive apenas na

internet e nas estações de rádio. Nada do que se tenha observado anteriormente

nas democracias ocidentais em matéria de falsificação e manipulação de notícias se compara a esse bloqueio completo e implacável, só igualado pela censura totalitária nos países comunistas, com a diferença de que esta era imposta pelo governo, ao passo que aquele nasce de uma cumplicidade voluntária – de tipo sistêmico, não conspiratório, exatamente como previsto por Antonio Gramsci.

Mais do que a própria eleição de Obama, esse fenômeno assinala uma mudança histórica, destinada a ter conseqüências devastadoras em escala mundial. Décadas de doutrinação universitária fundada na premissa de que não existe realidade, somente “imposição de narrativas”, produziram o efeito a que aspiravam: chegou ao poder nas redações uma nova geração de jornalistas profundamente imbuídos da convicção de que seu dever não é retratar o mundo, mas transformá-lo. Ao distinto público, correspondentemente, incumbe deixar-se arrastar pela mudança sem saber de onde ela vem nem para onde vai. Se a cortina de trevas vai

permanecer cerrada por mil anos ou apenas por uns dois ou três, não sei. O que é certo é que ela já baixou sobre a terra que foi um dia a da liberdade de imprensa.

http://www.olavodecarvalho.org/semana/090116dc.html

Para além dos milagres

Olavo de Carvalho

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Eric Voegelin usava o termo "fé metastática" para designar a crença ou esperança numa repentina transfiguração da estrutura da realidade e na subseqüente emergência de uma ordem paradisíaca. A expectativa dessa transformação perpassa toda a literatura

revolucionária desde o século XVI. Com o tempo, acabou por se tornar uma figura de pensamento incorporada de tal modo nos usos populares, que a ela se pode recorrer com relativa certeza do efeito psicológico, a despeito do fracasso de todas as transfigurações anteriores.

O pressuposto embutido na expectativa revolucionária é que as limitações e entraves à realização dos desejos humanos não vêm da ordem geral do universo nem muito menos da natureza humana, mas de algum fator específico, inessencial e removível, cuja destruição abrirá as portas para um novo reino de felicidade e realizações majestosas. O obstáculo pode ser uma classe social, uma raça, um país, uma religião ou uma instituição. Destruído o inimigo, "tudo será mais belo", como dizia Antonio Gramsci num arremedo de conto de fadas que escreveu para a doutrinação de sua própria filha. Trotski assegurava que,

eliminada a exploração capitalista, o potencial de auto-realização humana seria liberado ao ponto de cada varredor de rua ser um novo Leonardo da Vinci. Marx sonhava com um reino de possibilidades ilimitadas no qual não haveria nem mesmo divisão de trabalho e a própria noção de "profissão" seria eliminada: cada cidadão seria operário, artista plástico, gênio das ciências naturais, esportista, militar e político, tudo isso no mesmo dia.

Voegelin enxergava a origem remota da fé metastática revolucionária no profetismo hebraico: "Na profecia de Isaías defrontamo-nos com a esquisitice de que Isaías

aconselhasse ao rei de Judá não confiar nas fortificações de Jerusalém ou no fortalecimento do seu exército, mas na fé em Iavé. Se o rei tivesse verdadeira fé, Deus faria o resto,

produzindo uma epidemia ou espalhando pânico entre os inimigos, de modo que o perigo para a cidade se dissolveria." Ele confessa que só não usou o termo "magia" para não ofender a memória do profeta, mas a fé metastática – a esperança numa metástase da realidade por efeito de um ato de fé – não passa, no fim das contas, da aposta num poder mágico.

Qual a diferença, então, entre a esperança metastática e a fé em milagres de modo geral? Afinal, uma súbita reversão no curso das batalhas, sem aparente iniciativa humana que a justifique, é algo de bem menos espantoso do que a "dança do sol" em Fátima,

testemunhada por setenta mil pessoas. Por que a fé extremada do rei de Judá no auxílio divino seria mais insensata do que a confiança com que três crianças portuguesas, advertidas por Nossa Senhora, compareceram fielmente na data e local marcados para o encontro com um sinal dos céus? Se o rei se abstivesse de construir as fortificações, confiando-se folgadamente à promessa de uma intervenção divina, ele teria rompido por sua própria iniciativa a lógica de causa e efeito, antecipando-se à ação de Deus e apostando em poder controlar a realidade por meio dela. Aí reside a diferença entre a magia e o milagre, ação divina transcendente ao controle humano. Mas o milagre, como se vê no exemplo de Fátima e como eu mesmo expliquei numa conferência recente (resumida por Jack Elliott na revista eletrônica The Voegelin View), não tem nada a ver com uma transfiguração da ordem da realidade: ele é apenas a abertura localizada e temporária do

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mundo humano para uma ordem de realidade maior e mais abrangente, onde o

aparentemente impossível se revela possível, mas só em circunstâncias excepcionais que levam o nome de “milagres” justamente por serem raridades dignas de admiração (mirare, ad-mirare, miraculum). Em torno da área beneficiada pelo milagre, a ordem do universo permanece intacta. A fé metastática, ao contrário, aposta numa transfiguração radical da ordem geral: as possibilidades divinas seriam postas ao alcance humano de maneira universal e definitiva. A fé metastática não imita a estrutura do milagre, mas a do

Apocalipse: não se trata de uma intervenção vinda dos céus para alívio e encorajamento dos homens neste vale de lágrimas, mas da transfiguração completa do vale de lágrimas em paraíso de liberdade, paz e abundância. Isso é infinitamente maior do que um simples milagre ou mesmo do que a coleção completa dos milagres registrados desde o início da história humana.

Mais ainda: na visão bíblica, o advento do novo céu e da nova terra só é possível com a extinção do presente universo e a conseqüente absorção da realidade finita na escala do infinito. A fé metastática, ao contrário, despreza essa exigência e se proclama capaz de espremer as possibilidades infinitas dentro das medidas finitas do universo físico presente. Eis por que ela não é fé religiosa: é loucura em sentido estrito. Graças à onipresença da fé metastática entre os componentes da moderna cultura revolucionária, a esperança nessa loucura é hoje em dia uma força latente no inconsciente das massas, podendo ser ativada a qualquer momento, seja para impeli-las à violência genocida ou para transformar um farsante medíocre, um Barack Hussein Obama qualquer, em nova encarnação do Messias.

http://www.olavodecarvalho.org/semana/090120dc.html

A cultura do genocídio

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 20 de janeiro de 2009

Desde que os exércitos aliados revelaram ao mundo os horrores dos campos de concentração nazistas, as tentativas de explicação histórica, sociológica e

psicológica de um fenômeno tão inusitado e monstruoso criaram um dos ramos mais prolíficos da bibliografia universal. A cada ano que passa, centenas ou

milhares de livros, teses acadêmicas e artigos em publicações eruditas e populares buscam enfrentar a questão angustiante: como e por que foi possível a uma parcela da humanidade culta rebaixar-se ao ponto de fazer da prática de crimes hediondos em massa uma obrigação legal e um mérito patriótico?

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As respostas oferecidas podem ser divididas em três grupos:

(1) A corrente dominante segue uma linha inaugurada pelo Doktor Faustus de Thomas Mann, que busca as origens do nazismo no subsolo irracional e satanista da cultura alemã. A noção de que a história social e cultural da Alemanha pudesse elucidar o totalitarismo e o holocausto veio a se tornar um dogma do senso comum e a dominar, praticamente sem contestações, toda essa imensa bibliografia. A aposta nessa tese é compartilhada, em medidas diversas, pelos autores e obras mais díspares, desde produções acadêmicas respeitáveis como os estudos de Otto

Friedrich, Siegfried Kracauer, Lotte Eisner, Peter Gay, Carl Schorske e as grandes biografias de Hitler por Joachim C. Fest, Ian Kershaw, Alan Bullock, até obras de cunho polêmico como The Pink Swastika, de Scott Lively e Kevin Abrams ou The

Occult Hitler, de Lothar Machtan, e até mesmo especulações sobre a contribuição

ocultista à formação da ideologia nazi (Nigel Pennick, Hitler's Secret Sciences; Peter Levenda, Unholy Alliance: History of the Nazi Involvement with the Occult; Dusty Sklar, The Nazis and the Occult; Wilhelm Wulff, Zodiac and Swastika, Nicholas Goodrick-Clarke, The Occult Roots of Nazism: Secret Aryan Cults and

Their Influence on Nazi Ideology etc.). O sucesso dessa linha de investigações é

facilmente explicável: como o nazismo se definia a si próprio como um movimento essencialmente nacionalista, nada mais natural do que buscar suas raízes na cultura nacional que o produziu. Lendo esse material, os alemães se convenceram de que são um povo de criminosos e até hoje se desgastam em perpétuos rituais de autopurificação, que contrastam de maneira patética com a orgulhosa recusa comunista de se entregar a idêntico exame de consciência.

(2) Ao lado dessa tradição, desenvolveu-se outra que, ao contrário, procura dissolver a peculiaridade nacional do nazismo no rótulo geral de "fascismo" ou "nazifascismo", uma noção infinitamente elástica que abarca de Hitler a George W. Bush, passando pelos líderes sionistas e pelo general Augusto Pinochet, sem

esquecer o senador Joe McCarthy, a Igreja Católica, as milícias patrióticas

americanas, os militares brasileiros e, de modo geral, todos os adeptos da economia de mercado (ouvi com os meus dois ouvidos um professor da USP, José Luís Fiore, exclamar: "Liberalismo é fascismo!"). Explicando o fenômeno nazista como

imperialismo capitalista, esta segunda linha de investigações, fortemente subsidiada pelos escritórios de propaganda do governo soviético, é

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um debate sério, mas, graças à rede global de organizações militantes, espalhou-se como uma peste nos meios universitários do Terceiro Mundo, daí saltando para conquistar até mesmo algum espaço na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, tornou-se um dogma estabelecido e um dado do senso comum. Raciocinar fora dela é considerado um sintoma de doença mental ou uma prova cabal de inclinações nazifascistas. Tsk, tsk.

(3) Uma terceira linha, que subordina o conceito de nazismo à noção mais genérica das ideologias de massa, sublinhando suas semelhanças com o comunismo

soviético e chinês e sondando suas origens nas fontes gerais do movimento

revolucionário mundial, nunca alcançou a popularidade das outras duas, mas teve boa aceitação em círculos de estudiosos especializados graças às obras de Friedrich Hayek, Ludwig von Mises, Hannah Arendt, Norman Cohn, Eric Voegelin, Ernest Topitsch e, mais recentemente, Richard Overy.

O documentário de Edvin Snore, The Soviet Story, que já comentei aqui e que vocês podem descarregar com legendas em português no site www.endireitar.org, traz uma poderosa confirmação à tese número 3, reduz a número 2 ao engodo publicitário que ela sempre foi e, se não impugna totalmente a número 1, debilita consideravelmente as suas pretensões a ser "a" explicação dos crimes nazistas. Ao mostrar que toda a técnica dos campos de concentração e do extermínio em massa foi inventada pelos comunistas e só tardiamente copiada pelos nazistas mediante convênio com o governo soviético, Snore faz picadinho de qualquer tentativa de atribuir a crueldade nazista a alguma causa especificamente alemã. Os fatores culturais assinalados na tese número 1 explicam a emergência de um movimento nacionalista de tipo místico e irracionalista, mas não a extensão e a brutalidade quase inimaginável de seus crimes. Afinal, movimentos de inspiração idêntica surgiram em muitas outras partes do mundo sem ter por isso recorrido

sistematicamente ao genocídio como técnica de governo. O próprio fascismo italiano, com toda a rigidez fanática do seu autoritarismo, nada fez de comparável ao Holocausto, e, segundo conhecedores habilitados como Hannah Arendt e Miguel Reale, não pode nem mesmo ser enquadrado legitimamente na categoria do

"totalitarismo", de vez que o governo de Mussolini jamais tentou sequer obter o controle total da sociedade italiana e, bem ao contrário, tolerou a existência de dois poderes concorrentes: a Igreja e a monarquia. O emprego sistemático do genocídio como instrumento de governo foi invenção comunista. O que aconteceu na

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Alemanha foi a fusão deliberada de um imaginário de tipo nacionalista-místico com a técnica comunista de governo. Essa foi a originalidade de Hitler, até na opinião dele próprio. Ao declarar que toda a sua luta se inspirava diretamente em Karl Marx, ele não se referia, naturalmente, à mitologia patriótica do nazismo, mas à organização socialista da economia e sobretudo ao emprego sistemático do terror genocida. Hitler fundiu Mussolini com Lênin, e a parte genocida da mistura não veio do primeiro componente.

Um dos depoimentos mais importantes de The Soviet Story é o de George Watson, um professor de literatura que se especializou na pesquisa das fontes textuais do socialismo. Autor de um importante estudo sobre The Lost Literature of Socialism, que infelizmente não é citado no filme, Watson descobriu que, antes de Marx e Engels, nenhum ideólogo de qualquer espécie havia jamais proposto a liquidação de "povos inferiores" (expressão do próprio Marx) como prática deliberada e condição indispensável para a instalação de um novo regime. Nem mesmo

Maquiavel havia pensado numa coisa dessas. O genocídio é criação sui generis do movimento socialista, e sete décadas se passaram antes que uma dissidência interna desse movimento desse origem ao fascismo e depois ao nazismo, que tardiamente adotou a fórmula do morticínio salvador então já posta em prática por Lênin na URSS.

http://www.olavodecarvalho.org/semana/090122dc.html

Rombo de segurança

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 22 de janeiro de 2009

Alguém espalhou pela internet o boato de que a filha de Leon Panetta, o escolhido de Barack Hussein Obama para chefiar a CIA, era comunista e amiga de Hugo Chávez. Vários blogs conservadores morderam a isca e repassaram a história, amparada numa foto de Linda Panetta – este o nome da criatura – ao lado do caudilho venezuelano. O problema é que Leon Panetta só tem filhos homens, três ao todo, e nunca viu a mocinha até o dia em que a foto dela apareceu na internet.

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O episódio e os comentários sarcásticos que suscitou na mídia iluminada só serviram para desviar as atenções populares de uma outra notícia que, totalmente omitida pelos jornais e TVs, circulava pela rede no mesmo instante. Escrita pelo repórter holandês Emerson Veermat – um profissional cuja seriedade na pesquisa jornalística já obteve elogios do governo do seu país –, ela informa que Leon Panetta não precisa de nenhuma filha para lhe arranjar ligações comprometedoras com o movimento comunista: ele tem as suas próprias, diretas e muito mais sérias do que a simples amizade com um pop star da esquerda. Como membro do Congresso, ele deu ostensivo apoio ao Institute for Policy Studies (IPS), um think tank esquerdista e raivosamente anti-CIA presidido por um cidadão de nome Richard Jackson Barnett, que segundo o FBI é mais que suspeito de ser um agente da KGB. A reportagem de Veermat está em http://www.pipelinenews.org/index.cfm?

page=vermaatciaid=1.8.09.htm.

Sustentado pelo dinheiro do milionário pró-comunista Samuel Rubin (cuja Samuel Rubin Foundation também subsidia no Brasil o Instituto “Sou da Paz”), o IPS não se limitou a tomar partido dos comunistas na guerra do Vietnã e a armar várias campanhas de propaganda contra a CIA – atividades que, em si, não o distinguiriam de qualquer organização militante de esquerda. Ele foi muito além disso, organizando operações de inteligência, altamente sofisticadas, para dificultar o acesso da agência a informações que pudessem prejudicar o bloco comunista. O coordenador dessas operações foi o

ex-funcionário da CIA Philip Agee, que mais tarde se confirmou ser um agente da inteligência cubana e da KGB. Entre outras realizações notáveis, o IPS, através da sua filial em

Amsterdã, ajudou na publicação da revista Counterspy, onde Agee revelou o nome de vários agentes secretos da CIA, um dos quais, Richard L. Welch, foi assassinado logo depois. Não espanta que o IPS fosse descrito por Brian Crozier, diretor do London Institute for the Study of Conflict, como “a fachada intelectual perfeita para as atividades soviéticas”. Como congressista, Leon Panetta delegou trabalhos importantes ao IPS – inclusive um projeto para a redução do orçamento militar americano – e ainda promoveu, junto com outros treze deputados, uma coleta de fundos para a festa de gala do aniversário da fundação da entidade em 1985.

As atividades subversivas do IPS já não são um grande segredo. Veermat baseou parte da sua matéria no relato meticuloso escrito por um ex-funcionário da organização, S. Steven Powell, Covert Cadre: Inside the Institute for Policy Studies, publicado em 1987 em Ottawa, Illinois, por Green Hill Publishers, Inc.

Mas nem todos os serviços prestados por Panetta aos inimigos dos EUA têm ligação com o IPS. Em 1997 foi ele quem, indicado por Bill Clinton, negociou a proposta de ceder aos chineses o estaleiro da Marinha em Long Beach, o que na época foi denunciado como um evidente risco para a segurança nacional americana (v. Rowan Scarborough, “Solomon: Is Cosco strategic threat? Long Beach deal triggers concern”, no Washington Times de 20 de maio de 1997, reproduzido nos Anais da Câmara de Representantes, em

http://thomas.loc.gov/cgi-bin/query/D?r105:1:./temp/~r105Cp2PD0::). Convém recordar que diretores da estatal chinesa interessada, a Chinese Ocean Shipping Co. (Cosco), haviam feito substanciais contribuições em dinheiro para a campanha presidencial de Clinton.

Referências

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