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DOCUMENTANDO A ARQUITETURA HISTÓRICA DE FORTALEZA: a casa cearense como patrimônio cultural edificado

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Academic year: 2021

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DOCUMENTANDO A ARQUITETURA HISTÓRICA DE FORTALEZA: a

casa cearense como patrimônio cultural edificado

VASCONCELOS, ANA CECÍLIA S. B (1) OLIVEIRA, FRANCISCO ELIEZER M. F.

(2) CAPASSO, MARCELO M. (3). VIEIRA, SYNARA B. H. L (4)

1. Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Departamento de Arquitetura e Urbanismo. Rua República do Líbado, 20. Ap. 901. Meireles.

anacecília@unifor.br

2. Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Departamento de Arquitetura e Urbanismo. Rua Migistrado Raul de Souza Girão, 222. Cambeba

eliezeroliveira@edu.unifor.br

3. Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Departamento de Arquitetura e Urbanismo. Rua João Cordeiro, 374. Bloco b. 303b. Praia de Iracema

mm.capasso@unifor.br

4. Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Departamento de Arquitetura e Urbanismo. Rua Juíz Raimundo Belmino Evangelista, 56. Edson Queiroz

synarabarros@edu.unifor.br

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo apresenta o modelo de levantamento histórico e arquitetônico desenvolvido dentro do projeto de pesquisa A Casa Cearense como Documento e Memória, a partir do uso do inventário arquitetônico como ferramenta de levantamento histórico e como forma de promover um maior conhecimento e apropriação da arquitetura histórica da cidade de Fortaleza, através da catalogação e registro de exemplares residenciais históricos do Centro da capital. A elaboração deste trabalho é decorrente das atividades realizadas pelo grupo de pesquisa A Casa Cearense, vinculado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza. Identificar e levantar casas históricas em Fortaleza ameaçadas de demolição, substituição ou descaracterização, por meio da realização de inventário arquitetônico, com vistas a contribuir para a preservação da memória cultural e urbana da cidade, e enriquecer a reflexão e informação acerca de seu patrimônio histórico, dentro e fora da academia.

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V SEMINÁRIO IBERO-AMAERICANO ARQUITETURA E DOCUMENTAÇÃO BELO HORIZONTE – DE 24 A 26 DE Outubro de 2017

Introdução

Em um contexto de acelerado processo de degradação da área central de Fortaleza, forma-se ali um quadro de constante risco de demolição, substituição ou descaracterização de imóveis que compõem o conjunto arquitetônico antigo do Centro, tornando relevante o debate acerca da política de conservação do patrimônio cultural no contexto local e o uso do inventário como ferramenta capaz de contribuir para a preservação da memória da cidade. Para isso, o grupo, num esforço de estudar e documentar a arquitetura residencial resistente, se propôs a realizar um trabalho com base nesse instrumento, o inventário arquitetônico, visando contribuir para o registro e preservação da memória da cidade de Fortaleza e para o enriquecimento do debate acerca da política de conservação do patrimônio cultural da mesma.

Como ponto de partida para o desenvolvimento dos trabalhos, foram feitas pesquisas bibliográficas como método de coleta de informações a serem discutidas e analisadas para, a partir daí, relacioná-las às experiências decorrentes das atividades do inventário em desenvolvimento dentro do contexto do grupo de pesquisa A Casa Cearense como Documento e Memória.

Hoje em Fortaleza, percebe-se que as políticas de conservação do patrimônio cultural material da cidade têm se mostrado frágeis. São muitos os exemplos de bens imóveis tombados possuidores de instruções de tombamento e que, mesmo assim, passam por desrespeito ao estabelecido nestas instruções. Essa precariedade na legislação, sendo o bem residencial, torna a questão ainda mais grave, dado que este uso histórico é o mais vulnerável, por ser o primeiro a desaparecer com o avanço da degradação urbana. Nesse sentido, o inventário como instrumento de registro, serve como uma ferramenta de compreensão, reflexão e informação acerca do patrimônio cultural edificado da cidade de Fortaleza.

O Centro de Fortaleza:

crescimento urbano e degradação

Fortaleza vem passando, ao longo de sua história recente, por um intenso processo de degradação de suas áreas centrais de morfologia tradicional e consolidação mais antiga. Em paralelo, uma onda de dispersão residencial urbana foi se consolidando na capital e hoje já ultrapassa os limites do município, se desenvolvendo na sua região metropolitana. Zonas de expansão imobiliária através de condomínios fechados e edifícios grandiosos vem se consolidando nas bordas do município. Entretanto, esse modelo, que antes vinha se

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construindo em áreas menos urbanizadas, vem se implantando em zonas consolidadas da cidade e na sua malha urbana tradicional, o que provoca a atenção para questões como o comprometimento da ambiência histórica e dos bens tradicionais de menos visibilidade, como é o caso das residências.

O conjunto arquitetônico mais ameaçado se encontra nas áreas residenciais remanescentes do Centro, que ainda possui casas representativas do ciclo de expansão econômica ocorridos na capital, especialmente a produção algodoeira e bovina. A intensificação da atividade econômica correspondeu à época em que houve um aprimoramento da vida urbana, identificado por uma tentativa de europeização do ambiente da cidade em seus espaços públicos (CASTRO, 1987). Verifica-se, assim, o relevante papel das casas cearenses tradicionais na consolidação da paisagem urbana da cidade e, portanto, a relevância e urgência de sua preservação.

Dessa forma, tal período corresponde à introdução paulatina do ecletismo arquitetônico na cidade, assimilando-se novos padrões estilísticos aos edifícios, mas que mantinham sua implantação colonial portuguesa. As residências mais nobres se propunham a copiar os padrões decorativos europeus, não necessariamente de maneira equilibrada, muitas vezes se podendo reconhecer sobre um mesmo edifício elementos do gótico, clássico e art nouveau, totalmente associados. Num momento posterior, talvez na década de 1920, se identificam alterações nos processos técnicos construtivos, abandonando-se o tijolo estrutural pelo concreto nas residências mais abastadas. Além disso, o fim do Século XIX fez Fortaleza conhecer um intenso processo migratório, seja de populações litorâneas ou sertanejas, que trouxeram sua visão de organização do espaço social, representada no edifício construído. Sua arquitetura popular, por exemplo, persiste até os dias de hoje e, praticamente, encontra quase nenhum reconhecimento nos tombamentos até então realizados (VASCONCELOS, 2008).

Com isso, considerando que o tombamento contemplou apenas alguns exemplares residenciais desse período, segundo informações da Secretaria de Cultura de Fortaleza (SECULTFOR) e tendo em vista que a situação real desse processo de descaracterização e demolições carece de estudos mais aprofundados e sistematização para que se tenha a dimensão clara da situação atual temos uma quadro onde, sob ameaça de demolição constante, sem o devido registro, os conhecimentos das manifestações da forma arquitetônica não passam de fotografias exibidas em acervos e páginas virtuais de compartilhamento social. Enquanto isso, a quantidade absoluta de casas históricas que mantém uso e forma residencial continua a diminuir significativamente.

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V SEMINÁRIO IBERO-AMAERICANO ARQUITETURA E DOCUMENTAÇÃO BELO HORIZONTE – DE 24 A 26 DE Outubro de 2017

Dessa maneira, faz se urgente a documentação desses exemplares arquitetônicos remanescentes, não apenas para a consolidação do conhecimento acerca da evolução da casa cearense urbana, como também como instrumento fundamentador de futuras ações de preservação da paisagem cultural construída, apontando a um claro potencial de continuidade deste projeto nos próximos anos.

Em paralelo a esse processo, e como base legal desse processo de degradação temos o Plano Diretor de Fortaleza (2009) que validou o entendimento de que o incentivo ao crescimento imobiliário seria a saída para a recuperação ambiental do Centro, respaldado por parâmetros urbanísticos de ocupação do solo bastante permissíveis, sendo o potencial construtivo gratuito e o gabarito mais altos do município – respectivamente, índice básico de aproveitamento igual a 4 e gabarito igual a 95 metros. Essa possibilidade construtiva vem norteando um processo de renovação urbana agressivo ao patrimônio edificado existente, que destrói o bem arquitetônico histórico sem antes analisar os impactos e a desfiguração da paisagem histórica. Contudo, o Centro ainda pode ser classificadas enquanto conjuntos paisagísticos de relevante interesse cultural.

A importância do registro histórico

O inventário e levantamentos relacionados figuram entre os principais instrumentos de construção do conhecimento sobre o edifício e conjuntos edificados no ensino e pesquisa em arquitetura. A assimilação dos processos construtivos tradicionais e a identificação de tipologias edificadas encontram no levantamento arquitetônico um dos seus procedimentos metodológicos mais significativos. Já a organização de tais levantamentos na forma de inventário possibilita o estudo estruturado de um período representativo da história urbana e resulta na compreensão elaborada acerca da manifestação arquitetônica enquanto expressão material de uma dada comunidade ou sociedade. Dessa maneira, o inventário possibilita a formação de arquivo de referência sobre arquitetura, sua evolução, podendo, em caráter social aplicado, servir como elemento orientador de futuras políticas públicas de reconhecimento e proteção de bens culturais imóveis.

Apenas recentemente, em 2015, o município de Fortaleza, por meio de sua Secretaria de Cultura, ensaiou uma primeira tentativa de inventário histórico arquitetônico, de pouca abrangência espacial e sem a exigibilidade do levantamento do edifício, em planta, fachada e cortes como estratégia fundamental na construção do cadastro. Anteriormente, somente o Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará havia iniciado tal

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trabalho, desde a década de 1970, mas cujo acervo não se encontra sequer sistematizado, e, portanto, apenas parcialmente disponível à consulta pública.

Dito isso e, considerando a evolução do instrumento inventário frente ao que era na época do SPHAN, visto apenas como mera ferramenta de catalogação, o grupo de pesquisa A Casa Cearense adotou um modelo de inventário que vai além da catalogação. Pois, mais do que isso, o grupo busca refletir sobre o processo de transformação da cidade mediante o “progresso” do capital especulativo imobiliário, que age de maneira devastadora na cidade ao demolir ou construir sem levar em consideração o contexto urbano e a paisagem cultural em que seus empreendimentos serão inseridos. Sabendo disso, o foco do inventário se deslocou primordialmente para o principal bairro que vêm sofrendo com esse tipo de investida, o Centro, e mais especificamente para as residências, pois estas acabaram por perder grande parte do seu uso original dando espaço para outros usos, como o comercial. Além do mais, estes edifícios possuem um valor histórico muito rico para a cidade de Fortaleza, pois grande parte desses exemplares que estão sendo demolidos ou abandonados representa uma linguagem arquitetônica que tem se apagado na cidade e que, por muito tempo, representou grande parte da paisagem urbana e cultural dela, que é o ecletismo.

Metodologia de trabalho do Grupo de Pesquisa A Casa Cearense

O inventário arquitetônico, nesta pesquisa, é, ao mesmo tempo, um de seus produtos, e, também, um instrumento que deverá dar suporte à reflexão acerca da memória arquitetônica e da forma urbana.

Além da abordagem histórica, a pesquisa também adota como estratégia metodológica o Estudo de Caso, apoiado no instrumento do levantamento arquitetônico de um bem existente na atualidade. São coletados, além das informações materiais e espaciais (forma, cor, textura e dimensão) obtidas mediante medições, registros gráficos e fotográficos, também informações referentes ao uso, ocupação e modificação dos espaços construído, percebidos pelos pesquisadores.

Dessa forma, o grupo se utilizou da ferramenta do inventário para tentar resgatar a memória desse tipo de arquitetura e tentar dar voz e maior importância para a recuperação, conservação e preservação dos lugares em que esses bens estão inseridos. Pois, em muitos casos, ainda se pode encontrar conjuntos arquitetônicos de grande valor histórico e cultural que estão à mercê de serem apagados da memória do município de Fortaleza.

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V SEMINÁRIO IBERO-AMAERICANO ARQUITETURA E DOCUMENTAÇÃO BELO HORIZONTE – DE 24 A 26 DE Outubro de 2017

O processo desse inventário está se desenvolvendo em quatro etapas (mapeamento, seleção, levantamento histórico, arquitetônico e conclusão em formato de inventário). A primeira etapa teve como objetivo a identificação de zonas do Centro de Fortaleza em que se concentram números significativos de ruas historicamente residenciais nas quais os processos de degradação através de demolição ou descaracterização estão mais evidentes, juntamente com uma dispersão residencial urbana dessa área. A partir disso, foram definidos três percursos a serem realizados pelo grupo, onde foram registradas as residências identificadas como sendo de relevante valor cultural e arquitetônico para a memória da cidade. Os percursos foram realizados durante os finais de semana, geralmente nas manhãs de sábado, sendo todas as residências identificadas como relevantes, registradas em mapas e fotografias (Imagem 1).

Imagem 1: Modelo de mapeamento construído após a realização de um dos percursos. Em azul as casas selecionadas, em vermelho aquelas já demolidas, em magenta os marcos históricos e em

amarelo casas em ruínas.

Após a conclusão dessa etapa, o grupo se dedicou a selecionar as casas que seriam possíveis de serem levantadas, a partir de sua viabilidade e da disponibilidade dos moradores. Ao longo da pesquisa, foram levantadas também casa que se encontravam fora dos percursos realizados. Isso se deu devido à proximidade de algum integrante do grupo com proprietários ou moradores de residências históricas. Em seguida, o grupo foi dividido

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em subgrupos (trios e duplas). Estes foram responsáveis pelos levantamentos do histórico e do desenho arquitetônico das residências, a partir de visitas previamente agendadas com os moradores (Imagens 2 e 3).

Imagens 2 e 3: A direita, uma das casas selecionadas nos mapeamentos realizados e, a esquerda, o levantamento de fachada realizado pelo grupo.

Até o momento foram realizados seis percursos exploratórios, onde foram mapeados 198 imóveis, dos quais três estão com levantamento arquitetônico concluído e três em processo de levantamento. Nessa etapa, são agendadas visitas aos moradores para medição arquitetônica e entrevistas. Com todo o material produzido, o processo é finalizado com a produção de um modelo de inventário que contempla todas as informações colhidas acerca do imóvel estudado e que é devolvido ao morador ou dono da residência para que este tenha em sua posse a possibilidade de usar esse documento à favor da conservação do seu imóvel.

Conclusão

A legislação urbana de uso e ocupação do solo vigente em Fortaleza induz à substituição e à demolição de edifícios de interesse cultural, ou à descaracterização da sua paisagem imediata. Com isso, desaparecem especialmente exemplares da arquitetura residencial histórica, seja popular ou das elites, sendo a moradia unifamiliar sempre o uso mais frágil frente à ação transformadora objetivada pelo aumento do potencial construtivo, gratuito ou oneroso, inscrita dentro do Plano Diretor. A necessidade da regulamentação de mecanismos que possibilitem o planejamento da paisagem urbana e, ainda, a retirada do Centro Histórico de Fortaleza da classificação mais permissiva ao mercado imobiliário no zoneamento urbano se fazem a cada dia mais urgentes.

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V SEMINÁRIO IBERO-AMAERICANO ARQUITETURA E DOCUMENTAÇÃO BELO HORIZONTE – DE 24 A 26 DE Outubro de 2017

Nesse sentido, o inventário como instrumento de registro, serve, como uma ferramenta de compreensão do que está acontecendo na cidade, uma espécie de diagnóstico que deve ser analisado e discutido, no intuito de se tomar medidas que busquem a solução do problema da conservação da paisagem cultural.

Referências Bibliográficas

CASTRO, José Liberal de. Arquitetura Eclética no Ceará. In: FABRIS, Annateresa. Ecletismo na Arquitetura Brasileira. São Paulo, 1987. 296p.

FORTALEZA. Plano Diretor de Fortaleza. Lei nº 62, de 2 de fevereiro de 2009. Diário Oficial [do] Município de Fortaleza. Fortaleza, CE, 13 de março, 2009.

FORTALEZA, Prefeitura Municipal de. “Inventário do Patrimônio Cultural de Fortaleza”: Objetivos. 2014. Disponível em:

<http://inventariodefortaleza.blogspot.com.br/p/obejtivos.html>. Acesso em: 22 ago. 2017. VASCONCELOS, Ana Cecilia S. B. Casas Cearenses estudo de caso: um lugar para identidade e sustentabilidade. Fortaleza, CE: 2008. Dissertação (mestrado) Universidade Federal do Ceará, Programa Regional em Desenvolvimento e Meio Ambiente Fortaleza, 2008.

Referências

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