• Nenhum resultado encontrado

Quadro 27. Origem do conhecimento dos alunos sobre o tema Camada de Ozono (n A =8) Alunos entrevistados Categorias AA AB AC AD AE AF AG AH Nunca

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Quadro 27. Origem do conhecimento dos alunos sobre o tema Camada de Ozono (n A =8) Alunos entrevistados Categorias AA AB AC AD AE AF AG AH Nunca"

Copied!
56
0
0

Texto

(1)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada

182

A- Análise da Figura 1

Antes de entrarmos na análise propriamente dita da figura 1 (anexo 8), auscultámos os alunos acerca do conhecimento do léxico apresentado no excerto e da temática da Camada de Ozono. Quanto ao primeiro ponto, os alunos garantiram conhecer os termos envolvidos.

No que respeita ao segundo ponto, todos os alunos afirmaram ter ouvido falar deste tema, em contextos formais (sala de aula) e informais (meios de comunicação), como se mostra no quadro 27.

Metade dos alunos (quatro) refere já ter falado deste tema, formalmente, em contexto de sala de aula, na disciplina de Ciências Naturais, em distintos anos de escolaridade (embora o AF não recorde o ano):

“(...) poucas vezes- em Ciências-7ºano-foi uma vez, por acaso. Na parte em que andávamos a dar o Sol.” (AC)

“No 5ºano, devia ser a Ciências.” (AG) “No 8ºano, a Ciências” (AH)

“Deve ter sido a Ciências” (AF)

Um aluno indica que só se lembra de ter ouvido falar deste tema na 4ª classe:

“Quando andava na 4ª Classe.” (AA)

Outro diz ter abordado este tema na disciplina de C.F.Q.: Quadro 27. Origem do conhecimento dos alunos sobre o tema Camada de Ozono

(nA=8) Alunos entrevistados Categorias AA AB AC AD AE AF AG AH Nunca __ __ __ 3 __ __ __ __ Na 4ª Casse 3 __ __ __ __ __ __ __

Na disciplina de Ciências Naturais __ __ 3 __ __ 3 3 3 Na disciplina de C.F.Q. __ 3 __ __ __ __ __ __ A. Na sala de

aula

Em todas __ __ __ __ 3 __ __ __

(2)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 183

”Nas aulas de C.F.Q. na Física e na Química, também por causa dos símbolos químicos, nas moléculas, molécula de ozono, também falei sobre a camada de ozono.” (AB)

O aluno, AE, menciona que já tratou deste tema um pouco a cada disciplina:

”Já mas assim não tão aprofundado...às vezes falamos um bocadinho em todas.” (AE)

Apenas um aluno admite poder ter falado desta temática na escola, embora não se recorde de isso ter acontecido: “Não, nunca falei, poderia ter falado mas, agora não me lembro.” (AD)

Todos os alunos mencionam ter um conhecimento informal do tema Camada de Ozono, proveniente dos media. Este facto é ilustrado de seguida à custa de respostas de alguns deles:

“Também ouvi na rádio, televisão.” (AB) “No telejornal, jornais, panfletos.” (AC)

No que concerne à leccionação da temática Camada de Ozono, os professores entrevistados referiram que já a abordaram em aulas de C.F.Q., tendo, no entanto, indicado cinco unidades programáticas diferentes para inserirem o mesmo assunto (quadro 28).

Metade dos entrevistados afirmaram abordar o assunto da Camada de Ozono, no 8º ano, em Química, na parte das substâncias:

“Quando estou a falar em moléculas falamos sempre na molécula do ozono e eu pergunto-lhes se sabem o que é o ozono e para que serve.” (PD)

Quadro 28. Abordagem de assuntos relacionados com a Camada de Ozono (nP=8)

Professores entrevistados Categorias

Tema/Nível PA PB PC PD PE PF PG PH

A. Astronomia (Física), 7ºano 3 3 __ __ __ __ __ __ B. Substâncias (Química), 8º ano __ __ __ 3 3 3 __ 3 C. Energia (Física), 9º ano 3 __ __ __ 3 __ __ __ D. Atmosfera (Física), 9ºano __ __ __ __ __ __ 3 __ E. Questões Ambientais __ __ 3 __ 3 __ __ __

(3)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada

184

“Refiro quando se falam nas substâncias, normalmente falo do ozono na Química do 8º ano...”(PE)

Dois professores PA e PB afirmaram abordar este tema no 7º ano, na parte de Astronomia :

“No 7º ano, começamos com Astronomia, começamos com as camadas da terra e da atmosfera e falamos da Camada de ozono.”(PA)

“Neste momento, no 7º ano ao convergir para a Planeta Terra.” (PB)

Os professores PA e PE dizem que apresentam o tema da Camada de Ozono no 9ºano, em Física, no capítulo da Energia:

“Já abordei a propósito do 9ºano, em Energia, em Física, quando se fala de energia solar e vem à baila este tema porque eles lembram-se muito.” (PA)

“No 9ºano, quando falamos das energias renováveis...” (PE)

Os professores PC e PE referem abordar este tema a propósito de questões ambientais, como explicitam:

“ (...) nas questões ambientais, foi abordado, fizemos mesmo uma exposição ilustrada, nesse ano a professora de Inglês, que cá estava, encomendou uma exposição, isto porque as questões ambientais são também dadas nas aulas de Inglês (...).” (PC)

“ (...) sempre que vêm a propósito as condições de impactos ambientais fala-se da Camada de ozono (...) ”. (PE)

Apenas um professor (PG) garante ter abordado este tema no 9ºano, em Física, na Área Temática opcional, Atmosfera e Mudanças de Tempo:

“Já abordei pelo menos quando dei no 9ºano na parte da Atmosfera e Mudanças de Tempo.”(PG)

Apesar do tema da Camada de Ozono não ser um conteúdo programático obrigatório dos curricula de 2001/2002 de C.F.Q. do 3º Ciclo, os professores entrevistados afirmaram ter abordado este tema em diferentes unidades, sempre que se

(4)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 185 proporcionou, e os alunos entrevistados, à excepção de um, mencionaram ter ouvido falar deste tema na sala de aula.

Relativamente ao léxico da figura 1, foi perguntado aos professores, durante a entrevista, se, na sua óptica, haveria algum termo que pudesse suscitar dúvidas a um aluno no final da escolaridade obrigatória (quadro 29).

Mais de metade dos professores entrevistados (cinco) prevêem que um aluno no final do 3º Ciclo terá dificuldades em reconhecer os significados científicos dos vocábulos esburacada e Camada de Ozono, apresentando, desta forma, baixas expectativas em relação à performance dos alunos na interpretação deste excerto.

Três professores (PB, PC e PD) referem que os alunos não devem apresentar dificuldade na compreensão de nenhum vocábulo, parecendo, no entanto, estar pouco seguros disso, como é ilustrado para dois deles:

“Não, acho que não.” (PB)

“Não me parece, alguns sabem pouco, mas tinham obrigação de saber isto.” (PD)

Quatro professores, mencionam o termo esburacada como capaz de causar algum tipo de dificuldade aos alunos. Essa suspeita, relacionada com a conceptualização de buraco de Ozono, ilustrada de seguida:

“O esburacado, não é bem bem esburacado. Nós podemos dizer mas nós explicamos. Não é mesmo um buraco o que lá está! Mas em termos de conceito não é muito rigoroso (....).”(PA)

“Esse esburacada. Talvez não se apercebessem bem acerca do que quer dizer.” (PH)

Quadro 29. Termos científicos que, na opinião dos professores, podem suscitar dúvidas aos alunos (nP=8)

Professores entrevistados

Categorias PA PB PC PD PE PF PG PH

A. Nenhum termo suscita dúvidas __ 3 3 3 __ __ __ __ Esburacada 3 __ __ __ 3 __ 3 3 B. Pode suscitar dúvidas

(5)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada

186

O professor PF tem ainda a ideia de que os alunos saberão apenas o que é a Camada de Ozono, desconhecendo, porventura, “pormenores” científicos relacionados com a constituição Química dessa Camada, como explica:

“Eventualmente a camada de ozono, aqueles alunos mais desinteressados, toda a gente já ouviu falar, mas associar o ozono à molécula O3, acho que os alunos já não conseguiriam saber”.(PF)

Quanto à interpretação do excerto, diferentes professores apresentam expectativas diferentes acerca das respostas dos alunos (quadro 30).

Cinco professores indicam que os alunos interpretariam correctamente a figura 1. Contudo, os professores não têm certeza absoluta e/ou impõem algumas condições, para que a interpretação efectuada pelos alunos seja correcta. Assim:

- a professora PA afirma que os alunos interpretariam o excerto de uma forma correcta, mas não tem certeza de que isso acontecesse, colocando, no entanto, alguma esperança na sua afirmação:

“Eu penso que eles já terão conhecimentos para ser críticos também e para ver que o esburacado não está correcto. Oxalá chegassem a essa conclusão e fossem críticos. Mas penso que sim, que já tinham conhecimentos para isso de acordo com o que se passa na sala de aula.” (PA)

- três professores (PC, PG e PH) referem que apenas os bons alunos interpretariam correctamente a figura 1:

“Se for um aluno que seja possuidor de uma bagagem sólida dos anos lectivos anteriores, porque este conceito é dado não só ao nível de C.F.Q. mas também ao nível das Ciências Naturais, e ao nível do 5º, 6º ano, sobretudo no 6º ano, eles já têm a noção... da Camada de ozono. Se for um aluno nessas condições irá entender essa linguagem científica..” (PC)

Quadro 30. Previsão efectuada pelos professores acerca da interpretação da figura 1 por alunos do 9º ano

(nP=8) Professores entrevistados Categorias PA PB PC PD PE PF PG PH Todos os alunos 3 __ __ __ __ __ __ __ Só os alunos bons __ __ 3 __ __ __ 3 3 A. Interpretação correcta

Após preparação prévia dos conteúdos __ 3 __ __ __ __ __ __ Diriam que era um “buraco real “ __ __ __ __ 3 3 __ __ Achariam exagerada a posição do Pateta __ __ __ 3 3 __ __ __ B. Interpretação

“incorrecta”

(6)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 187

“Aqueles que têm menos informação iriam ficar com uma ideia errada.” (PG)

- a professora PB admite que os alunos compreenderiam o excerto, mas apenas após uma preparação prévia ao nível dos conteúdos:

“Acho que teria de existir uma preparação anterior, ao nível dos conteúdos, de termos, para compreender este texto. Para perceberem qual era o conteúdo desse texto.” (PB)

Três professores manifestam que os alunos interpretariam “erradamente” a figura 1, referindo, no entanto, três motivos díspares:

- dois professores (PE e PF) pensam que o tipo de interpretação em causa seria devido à interpretação que fazem a temática “buraco de Ozono”, ou seja, que os alunos imaginam que a Camada de Ozono tem um “buraco real”:

“(...) eles iriam imaginá-lo do tipo capacete com orifícios, e com buracos realmente e com os tais orifícios.”(PE)

“Esburacada, acho que diria que tem buracos...”(PF)

- dois entrevistados (PD e PE) afirmam que os alunos irão considerar que a posição do Pateta é exagerada:

“O Pateta tem sempre atitudes um pouco ... atitudes patetas, e, realmente o proteger o sol com a capa, isto é, ao mesmo tempo uma situação um pouco hilariante. Tenho a impressão que achavam que era um bocadinho ridículo.” (PD)

- o professor (PF) refere que este tipo de interpretação seria devido à temática da “protecção solar”, ou seja, seria devido ao facto de os alunos pensarem que a capa tem uma protecção mais eficaz que o protector solar:

“ (...) agora utilizar a capa, a maior parte já tem medo do sol que acha que nem o protector solar protege e então anda com a capa.” (PF)

Em suma, a maioria dos professores entrevistados (cinco) prevê que os alunos, de um modo geral, no terminus do 9º ano de escolaridade, façam uma interpretação “correcta” da figura 1 enquanto os restantes professores (três) referem que os alunos não conseguirão interpretar correctamente essa mesma figura.

(7)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada

188

Quando se solicita aos alunos, professores e investigadoras que refiram o que, na sua opinião, a figura 1 lhes sugere, obtêm-se duas ideias (quadro 31).

A primeira ideia, referida por mais sujeitos, é que a figura de B.D. transmite algo sobre a protecção da pele dos efeitos do sol. Esta ideia é referida:

- unanimemente pelas investigadoras:

“O efeito do sol sobre a pele. Que o pateta se quer proteger e então utiliza a capa e o Mickey diz que a pode tirar se usar o protector solar. Que será suficiente.” (IA)

“ Protecção necessária para proteger a pele dos raios U.V..” (IB)

“ (...) uso ou não dos protectores solares e se o pateta com a capa está ou não protegido dos raios U.V..” (IC)

- por dois professores (PA e PD):

“O ter que se usar protector solar.” (PA)

“Para já ensina os alunos, diz lhes que devem, quando estão ao sol, usar protector solar.” (PD)

- pela maioria dos alunos (sete), e no caso AE, de uma forma um pouco alarmista:

“É indicar às pessoas para usarem o protector solar por causa do sol.” (AD)

“Está a alertar-nos para a não poluição... e para o perigo que é expormo-nos ao sol.” (AA) “(...) nós ficamos com mais medo da exposição ao sol . Por causa desses buraquinhos” (AE)

A segunda ideia associa o excerto de B.D. à Camada de Ozono e é referida: - por duas investigadoras (IB e IC):

“ O que está aqui é a problemática da camada de ozono (...).”(IB)

Quadro 31. Interpretação da figura 1 pelos entrevistados

Grupos entrevistados Categorias Alunos (nA=8) Professores (nP=8) Investigadoras (nI=3)

A. Alerta para a protecção da pele dos efeitos do sol AA, AB, AD, AF, AE, AH, AG PA, PD Todas B. Aborda o tema da “Camada de Ozono” AC Todos IB, IC

(8)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 189

“Transmite-me alguma coisa sobre a camada de ozono (...).”(IC)

- por todos os professores, como ilustram os exemplos:

“O problema da camada de ozono”. (PA)

“Trata do problema da Camada de ozono ( ...) ficam a saber que a Camada de ozono, actualmente, está esburacada e devem prevenir-se.”(PD)

- por um aluno (AC):

“Põe-nos um bocadinho a par do que anda a acontecer. Que o ozono está a ficar completamente destruído (...)”(AC)

Desta forma, verifica-se que, de um modo geral, a figura 1 é interpretada pelos alunos, professores e investigadoras como abordando o mesmo tema, protecção solar. No entanto, a figura 1 é interpretada apenas por um aluno como tratando do tema Camada de Ozono, o que contrasta com o que acontece com os restantes grupos entrevistados (professores e investigadoras) na medida em que vários elementos destes grupos associam a figura 1 à Camada de Ozono. Parece deste modo que os alunos estão mais despertos para o tema da protecção solar do que para a Camada de Ozono, embora aquele seja também um conteúdo um pouco à margem dos conteúdos formais de C.F.Q. do 3º Ciclo do programa vigente de 2001/2002. A justificação para os alunos estarem mais alertos para a protecção solar pode ficar a dever-se à forte campanha publicitária nos meses de Verão a apelar para cuidados com a pele e à publicidade dos protectores solares.

No que concerne à posição tomada pelo Pateta, neste excerto de B.D., ao preferir usar uma capa do que protector solar, uma vez que, para ele, a Camada de Ozono está esburacada, as investigadoras e alunos afirmaram concordar ou discordar com a personagem, devido às razões apresentadas no quadro 32.

Quadro 32. Opiniões dos alunos e investigadoras acerca da afirmação emitida pelo Pateta

Grupos entrevistados Categorias Alunos (nA=8) Investigadoras (nI=3)

O protector solar tem uma protecção limitada ____ IA , IC

Depende do contexto ____ IA, IB

A. Concorda com o Pateta

Porque a camada de ozono está “esburacada” AB, AG, AH ____

É exagerado AA, AD, AE, AF Todas

B. Não concorda com o Pateta

(9)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada

190

Duas investigadoras (IA e IC) concordam com o Pateta, centrando-se na discussão capa e/ou protector solar:

“ (...) o protector solar tem uma protecção limitada ao tempo, as próprias substâncias que servem de protectores solares que estão presentes nos cremes, o seu efeito é questionável e até que vão bloquear os raios solares. Porque até os próprios guarda-sóis protegem da radiação que vem directa do sol, mas aquela que é reflectida uma pessoa acaba por apanhar e a roupa é segura.” (IA)

“ (...) se ele está vestido, está protegido das radiações.” (IC)

Contudo, duas delas (IA e IB) referem que a sua concordância com o Pateta depende do contexto da situação, como se ilustra de seguida:

“Depende um bocado da história. Já que eles não têm chapéu eles vão estar todo o tempo debaixo do sol, se a vivência deles ou do tipo de pele que ele possa ter possa ser mais sensível ao sol, provavelmente o protector solar pode não ser suficiente”.(IA)

“Depende de muita coisa, se for um dia insolarado, se não tiver nuvens, das horas, da pele estar sensibilizada ou não (...).” (IB)

Os alunos concordam com o Pateta, centrando-se no estado esburacado da Camada de Ozono:

- três alunos referem que a actuação do Pateta está relacionada com um certo alarmismo por admitirem que a Camada do Ozono está esburacada:

“Porque a poluição é cada vez maior e o sol está cada vez mais perigoso. Por causa da poluição, dos fumos, as poeiras vão para a camada de Ozono e vão rompê-la deixando mais facilmente o sol passar.” (AB)

“Porque o buraco que há na Camada do ozono, que pelos vistos cada vez é maior, deixa passar os raios ultravioletas e é prejudicial para a nossa pele.”(AH)

Cinco alunos e três investigadoras discordaram do Pateta por duas razões distintas:

- considerar a situação exagerada:

“Mas este tipo de roupa é capaz de ser um exagero. Ninguém se protege ao ponto de ir com um equipamento destes para a praia. Mas é levado ao extremo talvez para demonstrar a importância deste problema [diminuição da Camada de Ozono].”(IA)

(10)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 191

“Acho que é um pouco alarmismo, é um bocado exagerado talvez para passar a mensagem [da necessidade usarem o protecção solar].” (IB)

“A Camada do ozono não está bem, mas ele está a exagerar um bocadinho, porque para já não é preciso tanto alarme. Também não é isso [a capa] que nos faz proteger por causa da camada de ozono” (AE)

“Acho que ninguém usa assim capas para se proteger da Camada de Ozono.” (AF)

- entender que a capa não protege de todos os raios ultravioletas:

“A capa não nos iria servir de muito. Além de que teríamos a cara ao sol e é muito perigoso. É uma parte muito sensível. A capa pode-nos tapar um bocadinho uma vez que a camada de ozono está completamente destruída e o ultravioleta tem facilidade em passar. Só que eu penso que a capa nos poderia proteger de certos raios ultravioletas, mas não nos protege de todos.” (AC)

Ao compararmos os dois grupos, verificamos que três alunos (AB, AG e AH) limitam-se a ler o que está escrito no excerto de B.D., ou seja, a efectuar uma constatação de que a Camada de Ozono está esburacada, para argumentar a sua concordância com a personagem, enquanto que as investigadoras adoptam uma posição crítica perante o texto, referindo que a sua concordância depende do contexto (IA e IB) e do facto de considerarem que o protector solar tem uma protecção limitada (IA e IC). Pela não concordância estão quatro alunos (AA, AD, AE e AF) e todas as investigadoras por considerarem que estar na praia com uma capa que, ainda por cima é de chuva, é um exagero. Apenas uma aluna (AC) toma uma posição de não concordância com o Pateta devido ao facto de, para ela, a capa não conseguir proteger de todos os raios U.V., notando-se da parte do aluno uma posição crítica perante o texto. Quando se solicitou aos alunos, na entrevista, que explicassem o seu pensamento acerca do assunto Camada de Ozono, questionando-os directamente se consideram que a Camada de Ozono está mesmo esburacada, surgiram opiniões variadas, que agrupámos em quatro categorias (quadro 33).

(11)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada

192

Apenas dois alunos (AC e AH) dão respostas cientificamente aceites, na medida em que referem a função da Camada de Ozono e interpretam correctamente o sentido da palavra esburacada no contexto da figura 1.

“É a camada de ozono que nos protege dos raios ultravioletas emitidos pelo sol. Buracos, não. Mas está a ficar reduzida. Penso que seja só diminuição da largura.” (AC)

“É uma camada que protege a Terra, penso eu, dos raios solares prejudiciais. É uma expressão utilizada para referir que ela cada vez está a ficar mais fragilizada, mais fraca, para mim não é nenhum buraco, está é mais frágil.” (AH)

Metade dos alunos entrevistados (quatro) conhece a função da Camada de Ozono, explicando tudo o resto com muito pouca coerência e má interpretação do termo esburacado:

“Serve para proteger dos raios ultravioletas do sol que são perigosos (...) situa-se à volta do planeta (...) sei que está mais sobre a Gronelândia. Está esburacada por causa da poluição, dos fumos, as poeiras vão para a Camada de ozono e vão rompê-la deixando mais facilmente passar o sol.” (AB)

“A camada de ozono é assim como um chapeuzinho de chuva. E por exemplo, um chapéu se tiver buraquinhos vai-nos caindo a chuva em cima e na camada de ozono é precisamente a mesma coisa., os buraquinhos deixam passar os raios solares. Serve para nos proteger dos raios solares.” (AE)

“A camada de ozono é aquela que protege um pouco dos raios ultravioletas. Sim está cheio de buracos. É assim, falta qualquer coisa. Ali, talvez aquilo que falta é o bom.” (AF)

“É tipo rede que está em volta da Terra e que protege dos raios do sol. Do perigo do sol.” (AG)

Quadro 33. Distribuição das respostas sobre o Buraco de Ozono pelas diferentes categorias de resposta (nA=8)

Alunos entrevistados

Categorias AA AB AC AD AE AF AG AH

A. Cientificamente aceite __ __ 3 __ __ __ __ 3

B. Correcta ao nível da função da Camada de ozono __ 3 __ __ 3 3 3 __ C. Correcta só em relação à designação do termo “esburacado” 3 __ __ __ __ __ __ __

(12)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 193 O aluno AA parece apenas saber o significado de “buraco da Camada de Ozono”, tendo depois uma resposta bastante confusa, no que diz respeito à função dessa mesma Camada:

“Serve para proteger o Homem dos raios do solares e para a protecção dos meteoritos que podem cair. Tudo aquilo que está do lado de lá da Terra. Está mais esburacada nos pólos. Não é ter buracos, tem uma camada mais fina.” (AA)

Em síntese, apenas dois dos alunos entrevistados (AC e AH) interpretaram correctamente o termo esburacada e a função da Camada de Ozono na figura 1, apesar do tema ter sido abordado e/ou veiculado em contexto formais e/ou informais de aprendizagem.

Ao lerem duas interpretações da figura 1 feitas pelos alunos AB e AG (entrevistados anteriormente e com a escolaridade básica concluída) acerca da Camada de Ozono e da tomada de posição do Pateta, os professores emitiram três opiniões distintas (quadro 34).

A justificação apresentada por mais professores (cinco) indica que os alunos em causa fazem uma interpretação “ à letra” do assunto:

“Lá está, eles consideram que o que está aqui escrito é verdadeiro e levam à letra. E portanto, na B.D. temos que ter algum cuidado também na forma como aparece o texto escrito.” (PA)

“Têm uma visão como as pessoas vulgares têm. Para já aquilo não é realmente um buraco é uma diminuição de concentração. E eles talvez não se apercebam disso e tratam o problema terra a terra.”(PD)

Dois professores (PE e PG) referem que os alunos têm uma ideia “errada” do assunto:

Quadro 34. Comentários dos professores sobre as interpretações dos alunos acerca da figura 1

(nP=8)

Professores entrevistados Categorias

PA PB PC PD PE PF PG PH A. Os alunos têm uma ideia superficial acerca do tema da Camada de Ozono 3 3 3 3 3 __ __ B. Os alunos têm uma ideia ” errada” acerca da Camada de Ozono __ __ __ __ 3 __ 3 __ C. Os alunos têm concepções alternativas acerca do tema __ __ __ __ __ __ __ 3

(13)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada

194

“ (...) eles imaginam que aquele buraco existe realmente...Depois, uma coisa que eu não pensaria assim, eu nunca pensei que realmente era melhor estar vestido, no fundo ao ver isto, eles foram sensíveis a essa ideia, o que leva a crer que não estão muito bem informados (...) ” (PE)

“ (...) dá a ideia que tem uma ideia errada. Esta da rede também não estava a espera. Quem diz é tipo rede será que sabe que está a falar de um gás.” (PG)

O professor PH acredita que os alunos em causa têm concepções alternativas acerca da Camada do Ozono:

“Aqui há concepções alternativas por assim dizer. Pronto são concepções que os nossos alunos têm que não estão de acordo com os conceitos científicos. São comentários porque os alunos adquirem estas concepções porque ouvem falar no dia a dia, nos jornais, etc, é com essas concepções alternativas que permanecem na sua vida académica e que levam para toda a vida”. (PH)

No tocante à questão de saber se a problemática subjacente à figura 1 poder ter uma base real ou de ficção, a grande maioria dos professores, dos alunos e todas as investigadoras afirmou que, na sua óptica, o excerto tem uma base real. Um aluno e um professor consideraram, no entanto, que o excerto transmitia algo de ficção. Entrevistados acerca das razões da base de verdade/ficção imputada ao mesmo excerto, os elementos referem motivos diferentes (quadro 35).

Cinco professores, uma investigadora (IB) e dois alunos (AC, AH) referem que a mensagem é real, porque a Camada de Ozono está realmente a diminuir:

“A camada de ozono está a ficar mais reduzida.” (IB)

Quadro 35. Opiniões dos entrevistados acerca da veracidade da abordagem da problemática do excerto 1

Grupos entrevistados Categorias Alunos (nA=8) Professores (nP=8) Investigadoras (nI=3)

A camada de ozono está a diminuir AH, AC PA, PB, PD, PG, PH IB O buraco do ozono existe realmente AB, AE, AF ____ ____ A. Real

É necessário ter a pele protegida do sol AC, AD, AA PA, PD, PF, PG IA, IC

(14)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 195 “Porque, apesar de ser em B.D., é real porque nos alerta para o perigo. A camada de ozono está a ficar

cada vez mais fragilizada.” (AH)

“Eu acho que cada vez se vêem mais problemas de alergia de pele relacionados com o sol e que estão relacionados com o sol e que estão directamente ligados com este problema da camada de ozono.” (PA) “É real porque a camada de ozono está a ser destruída.” (PB)

Alguns alunos justificam a realidade do excerto com o facto de considerarem que o “Buraco da Camada de Ozono” existe:

“ (...) Acho que é bastante real. A Camada de ozono está a ficar esburacada entre aspas, já tem assim uns buraquinhos.” (AE)

“Isto é uma mensagem para as pessoas. Acho que há mesmo um buraco.” (AF)

Outra razão apresentada (por duas investigadoras, quatro professores e três alunos) para a veracidade do excerto é que é mesmo necessário ter a pele protegida dos efeitos do sol:

“O problema em si é verdadeiro, a forma como ele é aqui tratado é um bocado cómica. Ninguém se protege ao ponto de ir com um equipamento destes para a praia. Mas é levado ao extremo talvez para demonstrar a importância deste problema.” (IA)

“Cada vez mais temos de nos proteger. Mesmo de Inverno em dias de sol de Inverno é tão importante ter a pele protegida como no Verão.” (PA)

“ (...) e de facto é um perigo expormo-nos ao sol sem protecção solar.” (PF) “Basta pôr protector solar.” (AC)

Um professor (PE) e um aluno (AG) consideram que se trata de ficção, porque a mensagem é exagerada:

“É uma mensagem exagerada, um medo despropositado, desproporcionado com falta de compreensão até da própria situação em si.” (PE)

“E o Pateta quer ficar com esta capa na praia...uma capa assim com um calor destes!” (AG)

Apesar da figura 1 estar integrada num livro de B.D., a totalidade das investigadoras e os professores e alunos (à excepção do aluno AG e do professor PE) consideram a problemática veiculada pela figura 1 como real. Três alunos (AB, AE e AF) argumentam que o excerto é real pois, confiam que existe efectivamente um buraco

(15)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada

196

na Camada de Ozono. Todos os outros alunos indicam opiniões semelhantes às opiniões das investigadoras e professores acerca desse aspecto.

Aos alunos entrevistados foi perguntado se o excerto ia ao encontro do que eles sabiam acerca do assunto. Todos eles afirmaram que a informação emanada da figura 1 era compatível com o que eles conheciam, embora por razões diferentes (quadro 36).

Ao ler o excerto, três alunos (AB, AE e AG) afirmam que a figura 1 confirma o seu pensamento, porque o Pateta refere que a Camada de Ozono está esburacada e eles efectivamente julgam que é verdade:

“Sim porque já tinha ouvido falar, nas aulas, na televisão, já tinha conhecimento disto. Pelo termo

esburacado que já conhecia.” (AB)

“Sim, a camada de ozono está esburacada.” (AE)

“Vai, porque ele diz “esburacado”. Ou seja, sei mais ou menos o que é a camada de ozono tem tipo umas manchas tipo esburacadas” (AG)

Três alunos (AA, AC e AH) referem apenas que o excerto vai ao encontro do que conheciam, ou seja, que a Camada de Ozono se encontra destruída:

“Está estragada, acontece o efeito de estufa. Que temos que ter mais cuidado.” (AA)

“Põe-nos um bocadinho a par do que anda a acontecer. Que o ozono está a ficar completamente destruído, e que isso vai-nos criar bastantes problemas de cancro.”(AC)

“Porque eu já pensava assim, acho que tinha este pensamento acerca da camada de ozono.”(AH)

Quadro 36. Razões da concordância entre a mensagem que os alunos pensam ser transmitida pela figura 1 e os seus conhecimentos prévios

(nA=8)

Alunos entrevistados

Categorias AA AB AC AD AE AF AG AH

A Camada de Ozono está esburacada __ 3 __ __ 3 __ 3 __ A Camada de Ozono está destruída 3 __ 3 __ __ __ __ 3 A. Sim

É necessário protecção do sol __ __ __ __ __ 3 __ __

B. Não ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___

(16)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 197 O aluno AF afirma que as ideias veiculadas pelo excerto são concordantes com o que ele já sabia, porque ele sabe que tem de usar o protector solar para se proteger do sol: “Vai, porque sempre ouvi dizer que se tem de usar protector solar para proteger dos raios.” (AF).

A aluna AD não se pronunciou, pois revelou não ter conhecimento prévio desta temática.

Assim, parece-nos que, no caso dos alunos AC e AH, a utilização de um termo menos científico (esburacado) não foi, para nenhum deles, entrave à compreensão do excerto, pois já tinham demonstrado que conheciam o tema (quadro 32) e, portanto, foram coerentes ao manifestar concordância entre o que eles sabiam e a figura 1. Em relação aos alunos AB, AE e AG, a razão da concordância com a mensagem do excerto 1 parece ser devida ao facto destes alunos acatarem o que está escrito no excerto, uma vez que repetem o que está escrito. Os alunos AA e AF ao concordarem com a ideia veiculada no excerto estão, de certo modo, a reforçar a sua ideia prévia do assunto, pois, apesar do termo esburacado não lhes causar dificuldades na interpretação do excerto (quadro 32), os mesmos têm ideias menos claras acerca do assunto. Contudo, enquanto o aluno AA revela alguma confusão entre o efeito de estufa e a Camada de Ozono, o aluno AF remete também para a leitura do excerto a sua justificação, pelo que parece que a figura 1 está de certo modo a reforçar a ideia prévia que tinha. O aluno AD ignora por completo esta temática.

Estes resultados são consistentes com um estudo com 91 alunos canadianos, considerados “bons” alunos, a terminar o equivalente ao nosso ensino secundário com disciplinas científicas nas áreas de Química, Biologia e Física ou algumas combinações, realizado por Phillips e Norris (1999). Nesse estudo, a maioria dos alunos adoptou uma posição de acatamento e de confiança perante questões colocadas pelos investigadores sobre os conteúdos científicos existentes em quatro extractos de jornais e/ou revistas científicas e não científicas.

Auscultámos, em seguida, a opinião dos alunos e investigadoras acerca de qual das personagens do excerto, Mickey ou Pateta, no seu entender, poderia ter razão acerca de qual dos meios, capa ou do protector solar, teria uma maior eficácia para a protecção do sol (quadro 37).

(17)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada

198

Verifica-se (quadro 37) que as investigadoras foram consensuais em atribuir razão à actuação do Mickey, no contexto da figura 1. Semelhante posição foi tomada pela maioria dos alunos (seis). Uma das razões apontadas para justificarem esta opinião tem a ver com o facto de considerarem que o protector solar fornece protecção suficiente, como se ilustra a seguir:

“Para o senso comum e a publicidade a que estamos sujeitos e tudo, o protector solar é protecção suficiente...” (IA)

“ É o Mickey, porque acho que o uso do protector solar deverá ser suficiente para a protecção.” (IB) “ Porque o Mickey fala do protector solar que temos de usar.” (IC)

Reiterando a razão atribuída ao Mickey, uma investigadora (IC) e um aluno (AC) referem ainda que ir para a praia com uma capa é exagerado, do ponto de vista prático, normal, de um veraneante que se quer bronzear:

“ Por um lado é absurdo estar numa praia com capa (...)” (IC).

“O Mickey, acho que a B.D. exagera sempre um bocadinho nem que seja para soltarmos uma gargalhada.” (AC)

Uma das investigadoras (IA), apesar de ter concordado com o Mickey, considera que é necessário conhecer o contexto em que a discussão tem lugar porque, dependendo desse contexto, o Pateta poderá ter razão, uma vez que:

“ (...) há pessoas que deveriam mesmo vestir-se. ...principalmente se não se sabe as horas do dia que aqui estão, quanto tempo estão (...).” (IA)

Três alunos (AB, AG e AH) dão a razão ao Pateta por considerarem que com a capa fica mais protegido dos perigos do sol:

Quadro 37. Opinião dos alunos e das investigadoras acerca da posição do Mickey e/ou do Pateta na figura1

Grupos entrevistados Categorias Alunos (nA=8) Investigadoras (nI=3)

É absurdo estar numa praia com uma capa AC IC

A. O Mickey tem razão

O protector solar é protecção suficiente AB, AC, AD, AE, AF, AH Todas

Depende do contexto ____ IA

B. O Pateta tem razão

(18)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 199

“O Mickey está todo descontraído [...]. O Pateta é o que tem mais consciência do que se está a passar na vida real com a Camada de ozono.” (AB)

“É o Pateta. Enquanto os outros puseram protector solar, ele não quer, fica mais protegido.” (AG) “Porque se está a precaver para não ter nenhum problema de pele.” (AH)

Em termos de rigor científico foi solicitado às investigadoras que comentassem a utilização no excerto de B.D. do termo esburacada, para o Pateta se referir à diminuição da Camada de Ozono. As três investigadoras foram unânimes em considerar que, como é um termo utilizado num livro de B.D., a sua utilização não é problemática (quadro 38).

Todas as investigadoras defendem que o termo esburacado é acessível a todas as pessoas que lêem B.D.:

“Agora temos de transmitir através de uma linguagem que as pessoas percebam e que elas se identifiquem de alguma forma (...) ” (IA)

“Muitas vezes é um termo para chamar a atenção das crianças, acho que como é na B.D. é para ter um termo mais cómico [...] não substituiria por outro.” (IB)

Duas investigadoras (IA e IB) consideram que a utilização do termo esburacado não é problemático pois, é um termo próprio da B.D:

“Se o objectivo da B.D. é chegar aos mais jovens e é fazer com que eles se sintam de alguma forma traduzidos no que acontece, a linguagem tem de ser uma linguagem que eles compreendam...a linguagem que é utilizada na B.D., a B.D. (não é um livro científico), tem um papel importante para alertar por exemplo, sobre essas questões, eles sabem que esburacado é uma superfície que tem vários buracos, vários orifícios. Não podemos dizer em B.D., que existem algumas zonas deficitárias em... não batia os desenhos com o texto, e aí os miúdos não gostavam...a ciência tem de ser levada a todas as camadas, não só às crianças, mas também aqueles que não têm acesso às universidades, aos estudos. (IA)”

Quadro 38. Opiniões das investigadoras acerca da utilização do termo Esburacada na figura 1 (nI=3)

Investigadoras entrevistadas

Categorias IA IB IC

A. Esburacada é um termo acessível para todas as pessoas que lêem B.D 3 3 3 B. Numa aula o termo deve ser substituído __ __ 3

(19)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada

200

“Acho que na B.D. é para ter um termo mais cómico.” (IB)

No entanto, outra investigadora (IC) acrescenta ainda que uma professora deveria substituir o termo esburacado por um mais adequado em situações de ensino e de aprendizagem, numa aula, como é relatado a seguir:

“Uma professora ao pegar neste excerto para dar uma aula deve usar um termo adequado para os alunos se aperceberem melhor da dimensão do que está a acontecer.” (IC)

Em suma, os elementos entrevistados consideram que a problemática da figura 1 tem uma base real. No entanto, alunos e investigadoras centram as suas atenções em problemáticas semelhantes, ou seja, enquanto que os primeiros incidem as suas atenções apenas na protecção solar, os segundos centram-se na protecção solar e Camada de Ozono.

Porém, quando é solicitado aos alunos e às investigadoras para tomarem uma posição a favor ou contra uma das personagens no contexto da figura 1, os alunos, na sua maioria, tomam uma posição baseada no que as personagens dizem, ou seja, acatam (à excepção da aluna AC) a mensagem que é veiculada pela figura, enquanto que as investigadoras adoptam uma posição crítica perante o que as personagens dizem.

Ao contrário das investigadoras que, ao analisar a figura 1, ponderam o contexto em termos da hora do dia e eficácia do protector solar, os alunos emitem opiniões baseadas no que supostamente sabem/conhecem do assunto, esquecendo-se, do no nosso ponto de vista, de argumentar com base num contexto. Assim, apesar de dois alunos, ao longo da entrevista, terem manifestado conhecer o tema da Camada de Ozono e saberem interpretar o excerto, não conseguiram ponderar as circunstâncias e avaliar a situação da figura 1 com base num contexto.

A previsão dos professores relativamente aos alunos conhecerem a função da Camada de Ozono e entenderem o termo esburacada estava correcta, pois apenas dois alunos (AC e AH) o fizeram efectivamente, apesar do tema ser conhecido e ter sido abordado formal e informalmente. Desta forma, poder-se-á afirmar que as expectativas dos professores, em relação ao desempenho dos alunos, se confirmam, o que pode indicar que eles terão consciência que este tema, no Ensino Básico, não estará a ser objecto da melhor abordagem. Acresce ainda que, apesar de ser um tema tão veiculado

(20)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 201 informal e actualmente, devem ser poucas/raras as vezes que materiais do tipo informal (jornais, revistas, B.D., entre outros) abordando estes temas sejam analisados na sala de aula, o que não facilitará a aproximação entre dois mundos tão próximos, mas que permanecem tão distantes.

B- Análise da Figura 2

Perguntámos aos alunos se conheciam todos os vocábulos usados no excerto de B.D. apresentado na figura 2. A maioria dos alunos (seis) refere não conhecer o significado da palavra comburente (quadro 39), como dá a entender um deles:

“Comburente? Não, nunca ouvi falar!” (AF) Dois deles indicam não conhecer o que significa

combustão, como menciona o aluno, AG: “Lembro-me de falar da palavra combustão, mas não

conheço o significado.” (AG)

Apenas dois dos alunos entrevistados (AC e AH) admitem conhecer todas as palavras incluídas no excerto. No entanto, quando se lhes solicitou um exemplo de uma situação do dia-a-dia em que aparecessem essas palavras, as respostas por eles apresentadas deixaram transparecer algumas dúvidas quanto ao significado dos termos em causa, uma vez que afirmaram que o gás e a madeira tinham a função de comburente e o fogo/calor a função de combustível:

“Combustão, ligar o gás. Combustível: petróleo, gasolina; Comburente, gás.” (AC)

“Madeira a arder. E nesse contexto, o comburente é a madeira e o combustível é o fogo ou o calor”.(AH)

Quadro 39. Familiaridade dos alunos com os vocábulos apresentados na figura 2 (nA=8)

Alunos entrevistados

Categorias AA AB AC AD AE AF AG AH

A. Conhece todas as palavras __ __ 3 __ __ __ __ 3 Combustão __ __ __ 3 __ __ 3 __ B. Não conhece

(21)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada

202

Com o objectivo de elucidar a maioria dos alunos acerca dos termos, Combustão e comburente, ou seja, para tentar ultrapassar o “ruído” de comunicação e permitir, dentro do possível, prosseguir com a entrevista, foi dado um exemplo de uma combustão e de um comburente.

Aos alunos perguntou-se o meio de informação a partir do qual tiveram conhecimento do tema da figura 2, ou seja, de combustão (quadro 40). O aluno AD apresentou um desconhecimento total do tema, argumentando que nunca, em contexto algum, ouviu falar deste tema, enquanto que todos os restantes afirmaram já ter ouvido falar do assunto.

Quase todos os alunos (sete) falaram do tema da Combustão na sala de aula, na disciplina de C.F.Q., especificando, alguns deles, terem abordado as combustões na componente de Química:

“Química, 8º ano, Reagentes, Produtos de reacção?” (AA)

“Acho que foi na Química. Estávamos simplesmente a falar sobre a combustão, combustível, era uma matéria que vinha no programa, no livro do 8ºano (...). ” (AB)

“Sim, no 8º ano a C.F.Q..” (AH)

O aluno (AC) refere também ter tido conhecimento do tema Combustão através de panfletos de alerta: “Cuidados com o fogo, em panfletos de alerta.” E o aluno AA

assume ter conhecimento desta temática através do avô que é mecânico, “O meu avô é mecânico. E no Verão eu ia ao pé dele. E ele mexia nos carburadores dos carros, especialmente. E aprendi isso. Com o afinar dos carros” (AA)

Quadro 40. Origem do conhecimento dos alunos sobre a temática Combustão e Símbolos de perigo (nA=8) Alunos entrevistados Categorias AA AB AC AD AE AF AG AH Da disciplina de C.F.Q. - Química 3 3 3 __ 3 3 3 3 De panfletos de alerta __ __ 3 __ __ __ __ __ A. Conhece Através do avô 3 __ __ __ __ __ __ __ De combustão __ __ __ 3 __ __ __ __ B. Não conhece/

(22)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 203 No entanto, apenas quatro alunos conhecem os símbolos de perigo associados às combustões e, de acordo com os mesmos alunos, esses símbolos terão sido aprendidos na aula de C.F.Q.:

“Alguns. Há sim! Vinha no livro. Em C.F.Q. no 9º ano.” (AF) “Foi no 8ºano. Logo no início, penso que foi na Química”. (AG)

Estranha-se o facto do aluno AD referir não estar informado acerca do tema da Combustão e dos símbolos de perigo, uma vez que estes são conteúdos obrigatórios na componente de Química do 8ºano e são, frequentemente, abordados pelos meios de comunicação social. Obviamente que estes factos podem ser condição necessária, mas não são condição suficiente para a aprendizagem dos assuntos em causa.

Quanto à leccionação destes mesmos conteúdos (combustão/símbolos de perigo), na disciplina de C.F.Q., os professores entrevistados garantem tê-lo feito (quadro 41), como não podia deixar de ser, uma vez que é um conteúdo obrigatório do programa do 8º ano da componente de Química.

No entanto, quando questionados sobre se alguma palavra incluída no excerto ofereceria dificuldades aos alunos, os professores dividem-se, conforme é discriminado no quadro 42.

Quadro 41. Abordagem dos temas Combustão e Símbolos de perigo

(nP=8)

Professores entrevistados

Categorias PA PB PC PD PE PF PG PH

A. Combustão 8º ano, Transformações Químicas 3 3 3 3 3 3 3 3 B. Símbolos de perigo 8º ano, no início da Química 3 3 3 3 3 3 3 3

(23)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada

204

A maioria dos professores (cinco) é de opinião que há termos na figura 2 que causarão dúvida nos alunos. A palavra comburente é a palavra apontada por mais professores (cinco) como capaz de provocar dificuldades aos alunos. Segundo estes professores, a causa dessas dificuldades tem a ver com o facto desta palavra ser pouco usada:

“ (...) acho que comburente, embora nós falemos do comburente mas, porque acho que é um conceito que lhes passa ao lado.” (PA)

“A palavra comburente, porque é pouco utilizada no dia a dia.”(PG)

O professor PF estava convencido que o termo combustível, iria causar dificuldades aos alunos, argumentando que nunca o abordou na sala de aula. Esta consideração causa-nos alguma estranheza pois, geralmente, este termo é bastante veiculado pelos media, a propósito da oscilação de preço que este líquido está frequentemente sujeito, entre outros assuntos:

“Quase de certeza absoluta que combustível e comburente eles não vão saber. [...] Eu nunca falei” (PF)

Apenas dois professores (PC e PH) consideram que nenhum aluno teria dificuldades em entender palavras contidas no excerto; outro professor (PD) pensa que isso só seria para os alunos bons:

“Porque, talvez, eu sou de uma geração que acompanhei a utilização destas palavras sem haver rupturas, eu não vejo nada aos meus olhos que possa suscitar dúvidas.” (PC)

Quadro 42. Termos científicos que, na opinião dos professores, podem suscitar dúvidas aos alunos (nP=8)

Professores entrevistados

Categorias PA PB PC PD PE PF PG PH

Todos __ __ 3 __ __ __ __ 3

A. Nenhum causa dificuldade

Só os bons alunos __ __ __ 3 __ __ __ __ Combustível __ __ __ __ __ 3 __ __ Comburente 3 3 __ __ 3 3 3 __ B. Causa dificuldade

(24)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 205

“Não, porque ele já conhece. Quanto a mim combustão ele sabe o que é, comburente já não se utiliza muito, nem combustível. Ainda agora tenho feito revisões e eles sabem. São termos, lá está uma pessoa apela para o dia a dia, e nunca mais se esquecem.” (PH)

“Bem, se ele fosse um bom aluno eu acho que não.” (PD)

Dois professores (PB e PE) afirmam que os alunos não compreenderão o conceito de união, no contexto da figura 2:

“A palavra união pode causar dúvidas aos alunos.” (PB)

“A palavra união. Pronto, o que é que eles entenderiam acerca do termo. Daí considero que esta palavra levantaria e suscitaria mais atenção para explicar.” (PE)

Embora nenhum dos professores (PB e PE) tenha justificado o porquê da indicação do termo união, depreende-se que, para estes, os alunos não seriam capazes de lhe dar o significado correcto, do ponto de vista científico. A fim de obtermos fundamentação para esta inferência, pedimos aos professores opiniões acerca do modo como pensam que os alunos interpretariam o termo união. Aos alunos solicitámos que nos esclarecessem o significado da mesma palavra, no mesmo contexto. Colocámos no mesmo quadro 43 as apreciações efectuadas por estes grupos de entrevistados.

Pela análise do quadro 43, nota-se um contraste entre aquilo que os professores prevêem que os alunos diriam e o que eles dizem realmente.

Desta forma, seis professores admitem que os alunos associem de imediato, neste contexto, união a reacção, embora uns tivessem mais certeza disso do que outros:

“Eu penso que eles chegavam à conclusão que é uma reacção entre dois reagentes, comburente e combustível para formar produtos. Deveriam entender.” (PA)

“Eu tenho a certeza de que um aluno do 9º ano diria reacção. Porque eles associam uma combustão a uma reacção de facto. Tenho a certeza de que se pedisse a um aluno para corrigir isto eles diriam reacção.” (PH)

Quadro 43. Significado do termo união no contexto da figura 2

Grupos entrevistados Categorias Alunos (nA=8) Professores (nP=8) A. Reacção AC PA, PC, PD, PF, PG, PH

B. Significados do dia-a-dia AA, AB, AF, AG, AH PB, PE

(25)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada

206

Os professores que diagnosticam que os alunos não darão o significado correcto à palavra união são os mesmos que pensam que este vocábulo suscitaria dúvidas aos alunos, pois não compreenderiam a aplicação da palavra união neste contexto:

“Porque uma união para eles é estar unido um ao outro. Em contacto.” (PB)

“Um aluno que tivesse entendido não consideraria isto correcto. Não diria que é pela união do combustível ao comburente, questionaria também nesse sentido. Um aluno que não tivesse entendido imaginaria que o combustível e o comburente passavam a unir-se no sentido físico (...) ” (PE)

Quanto aos alunos, a maioria (cinco) associa à palavra união um termo inadequado ao exigido no contexto, dando sinónimos como mistura, junção:

“Misturar. É como aquilo que acontece nos carros. Há o oxigénio e a gasolina é pulverizada.” (AA) “É a junção dos dois. Quando juntamos fogo a um combustível este incendei-a imediatamente, portanto, acho eu que há aí uma ligação Química.” (AB)

“É de junção. Porque o combustível vai-se unir com o comburente. É uma coisa ligada a outra.” (AH) “É junção. Junção de alguma coisa com outra ou contacto. União do tipo tem um copo de água e metemos lá o azeite.” (AF)

Dois alunos não conseguem esclarecer o significado da palavra união neste contexto, “Aqui não posso falar tanto. É uma matéria que eu não aprofundei muito.” (AE). Somente um

aluno associa o termo união ao vocábulo correcto, reacção, para atribuir significado químico à frase; todavia fá-lo de uma forma confusa: “(...) quer dizer que essas duas substâncias é como o pólo positivo com o negativo que se atraem. Mas neste caso, eles reagem.”(AC)

Na análise da figura 2, professores e investigadores foram unânimes em considerar que o excerto trata de uma Combustão (quadro 44).

(26)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 207 A justificar, investigadoras e professores referem afirmações do género:

“O fogo parece ter saído do balde do lixo.” (IA)

“Da necessidade de existir o comburente e o combustível para a combustão, um incêndio.” (IB) “Vamos falar de combustão.” (IC)

“Fica a saber que numa combustão há o comburente e o combustível.” (PD)

“A reacção de uma combustão. Seria uma descrição de o que era uma combustão. De alguém que já tem informação suficiente para dizer o que entendia de o que é uma combustão.” (PE)

“Dá uma informação de que para haver combustão é preciso haver os dois componentes. “ (PG)

Apenas um aluno refere que o excerto trata de uma combustão, “O comburente e o combustível dão origem à combustão que aqui é originada pelo combustível que aqui é o papel. Para arder é preciso oxigénio” (AA)

Três alunos (AB, AG e AH) argumentam que o excerto dá uma informação acerca dos dois termos, comburente e combustível, considerando o aluno AG ter enriquecido o seu vocabulário com o excerto em questão:

“Porque o comburente e o combustível existem” (AB) “Assim já aprendemos mais uma palavra.” (AG)

“É para as pessoas saberem que normalmente tem de haver sempre um comburente e um combustível.” (AH)

Três alunos (AC, AD e AF) pensam que o excerto os alerta para questões de segurança, ou seja, para cuidados que é preciso ter quando se lida com alguns produtos/combustíveis:

Quadro 44. Interpretação da figura 2 pelos entrevistados

Grupos entrevistados Categorias Alunos (nA=8) Professores (nP=8) Investigadoras (nI=3)

A. Trata de uma Combustão AA Todos Todas

B. Alerta para os cuidados a ter com o fogo AC, AD, AF ____ ____ C. Informa acerca dos termos combustível, comburente AB, AG, AH ____ ____

(27)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada

208

“Pode fazer explosão.” (AC)

“Que é preciso ter cuidado com o combustível.” (AD)

“Ter cuidados com os produtos tóxicos. Para não haver nada que ponha em risco.” (AF)

Em relação ao carácter (real ou ficcional) do excerto, todas as investigadoras, professores e alunos (à excepção de dois que não se conseguem pronunciar) referem o mesmo, isto é, que figura 2 tem uma base verdadeira/real (quadro 45).

O único argumento utilizado pelas investigadoras, pelos professores e por cinco alunos é que a figura 2 trata de uma combustão, que pode efectivamente acontecer:

“Não só a situação em si pode acontecer como também a análise feita pelo Peninha pode ser verdade, está correcta, tudo o que está aqui, tanto o fogo como o extintor.” (IA)

“Isto pode acontecer no dia a dia. Pode acontecer uma combustão em casa.” (IC) “Real, porque está aqui um caixote de lixo que está a arder e pode acontecer.” (PF)

“Acho que é real. Realmente pode dizer mais qualquer coisa de facto relativamente à combustão.” (PA) “Pode acontecer a qualquer um. Isto aqui foi papel basta uma “beata” para dar origem ao fogo.” (AA) “Pode ser. Pode acontecer a qualquer um se tiver comburente e combustível.” (AG)

O aluno AF apresenta outra justificação para considerar que a figura tem um fundo real, pois, na sua perspectiva, o excerto, alerta para os cuidados que é necessário ter devido à perigosidade dos produtos tóxicos:

“Ter cuidados com os produtos tóxicos. Para não haver nada que ponha em risco.” (AF)

Quadro 45. Opiniões dos entrevistados acerca da veracidade da abordagem da problemática do excerto 2

Grupos entrevistados Categorias Alunos (nA=8) Professores (nP=8) Investigadoras (nI=3)

Uma combustão pode acontecer AA, AC, AB, AG, AH Todos Todas A. Real

Alerta para o cuidado com os produtos tóxicos AF ____ ____

B. Ficção ____ ____ ____

(28)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 209 No que respeita ao rigor científico da figura 2 de B.D., todas as investigadoras e dois alunos (AA e AB) são peremptórios em afirmar que o excerto não tem rigor científico. Já os restantes alunos dividem a sua opinião: quatro consideram o excerto, sob ponto de vista científico, rigoroso e dois alunos referem não conseguir emitir nenhum veredicto (quadro 46).

As investigadoras e os alunos AA e AB atribuem a falta de rigor científico da figura 2 à ausência explícita da fonte de ignição, como é exemplificado por alguns dos entrevistados:

“Se o combustível não estiver na presença do comburente o fogo não se dá. Claro que tem de haver uma fonte de ignição que falta aqui.” (IA)

“Mas aqui o fogo não pode aparecer do nada. Para haver fogo tem que haver ignição. Pode haver um curto-circuito. Uma combustão não aparece do nada. Está mal porque aqui não há ignição, não há uma faísca, não há fogo.” (AA)

“Eu acho que unir o comburente, o oxigénio, ao combustível, acho que isso não vai provocar uma combustão.” (AB)

Além deste factor, a investigadora IC refere outros dois motivos para a falta de rigor científico. Um deles está relacionado com o facto do excerto só falar num dos vários tipos de combustão existentes:

“Define combustão no sentido de comburente...mas, depois associa a uma imagem que pode conduzir a que os alunos pensem que combustão é fogo, porque existem outros tipos de combustão, menos assustadoras, por exemplo o da glicose no nosso corpo, outros tipos de combustão que não aparecem na B.D. (...)” (IC)

Quadro 46. Opiniões dos alunos e das investigadoras acerca do rigor científico da figura 2

Grupos entrevistados Categorias Alunos (nA=8) Investigadoras (nI=3)

A. Tem rigor científico AC, AF, AG, AH ____

Falta a fonte de ignição AA, AB Todas

Só fala num tipo de combustão ____ IC

B. Não tem rigor científico

O termo União pode trazer concepções alternativas ____ IC

(29)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada

210

O outro, com a inadequação do termo união, uma vez que para a investigadora IC o mesmo pode induzir concepções alternativas nos alunos:

“Aos miúdos quando se fala em reacções junta-se isto com aquilo. Eles podem pensar que existe realmente uma união e isso não está certo, existe uma reacção que depois dá... e isso pode trazer concepções alternativas aos alunos.” (IC)

Já a metade dos alunos (quatro) considera a afirmação cientificamente correcta porque, de acordo com a opinião deles, o que a personagem diz “Sim, Uma combustão provocada pela união do comburente ao combustível! BZZ!” é correcto:

“Está correcta. Ele aqui está assustado por ver o fogo. Porque é uma combustão provocada pela união do comburente ao combustível.” (AF)

“Sim, pelo que ele diz.” (AG)

É de realçar que o aluno AD refere não conseguir pronunciar-se acerca do rigor do excerto porque revelou já não conhecer o tema (quadro 39). O facto de o aluno AE não conhecer a palavra comburente causou-lhe alguma dificuldade e não conseguiu lidar com a informação que estava escrita no excerto, referindo: “Mas se o comburente pode ser oxigénio não tem assim muita lógica. Isto é, o comburente ao combustível, não pode dar combustão. Ao ler isto não consigo tirar significado.” (AE)

Em síntese, metade dos alunos entrevistados (quatro) considera que o que a personagem diz é rigoroso, opinião que contrasta com a falta de rigor indicada pelas investigadoras acerca do mesmo excerto

Metade dos alunos entrevistados (quatro) afirma que a informação contida no excerto vai ao encontro do que eles conheciam (quadro 47), dando, no entanto, justificações muito vagas, embora compatíveis com ideias apresentadas anteriormente.

Quadro 47. Razões da concordância entre a mensagem que os alunos pensam ser transmitida pela figura 2 e os seus conhecimentos prévios

(nA=8)

Alunos entrevistados

Categorias AA AB AC AD AE AF AG AH

Não se deve misturar combustível com comburente __ __ __ __ __ 3 __ __ A. Sim

Combustão exige combustível e comburente __ 3 3 __ __ __ __ 3 B. Não As combustões não são espontâneas 3 __ __ __ __ __ __ __

(30)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 211 Três alunos (AB, AC e AH) identificam o seu modo de pensar com o que está escrito no excerto uma vez que, para eles, uma combustão exige necessariamente a presença de um combustível e de um comburente, apresentando no entanto, justificações muito vagas, embora compatíveis com ideias apresentadas anteriormente:

“Sim, porque para haver uma combustão é preciso haver um comburente e um combustível, porque sem comburente é impossível haver combustão.”(AB)

“Vem de encontro ao que eu sabia.” (AC)

“Vai, porque eu sempre ouvi assim, pensei assim, tinha que haver combustível e comburente para haver combustão”.(AH)

O aluno AF refere que a informação contida no excerto 2 vai de encontro ao seu conhecimento prévio pois, na sua opinião, não se deve misturar o combustível ao comburente, denotando uma grande falta de cultura científica a este respeito:

“Sim, vai. Porque não devemos misturar uma coisa com outra para não nos pormos em risco. O combustível com outra coisa qualquer.” (AF)

O aluno AA diz que o excerto vai contra ao que ele conhecia do assunto, uma vez que, para ele, o excerto não traduz uma combustão espontânea:

“Não, um caixote do lixo não pega fogo do nada. Devia ser ele que estava a fumar e deitou para o lixo e então houve a tal ignição” (AA)

Enquanto que os outros quatro alunos que manifestaram conhecer formalmente os termos do excerto, quadro 40, concordam com a figura 2, limitando-se, no nosso entender, a repetir o que estava escrito, adoptando assim uma posição bastante passiva perante o texto. Três alunos (AD, AE e AG) admitem não conhecer o tema e/ou não conhecem os termos como comburente e combustão (quadros 39 e 40), como tal, não se conseguem pronunciar sobre a relação do excerto com os seus conhecimentos prévios. O aluno AA, que já havia referido que conhecia todos os termos associados à combustão, é o único que refere que o excerto vai contra o que ele conhecia acerca do assunto. Curioso é o facto deste aluno conseguir interpretar o excerto e argumentar sobre o que nele é dito, considerando-o não rigoroso:

(31)

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada

212

“Está mal porque não há ignição, não há faísca, não há fogo.” (AA).

Este conhecimento foi obtido, essencialmente, devido à vivência que tem com o avô que é mecânico, como assume: (...) o que conheço é de vê-lo [ao avô] a trabalhar com os carros e ajudá-lo nas férias (AA) ”. Estes resultados são concordantes com um estudo realizado por Phillips e

Norris (1999). Pois, tal como nesse estudo, a maioria dos alunos adoptou uma posição de acatamento e de confiança perante questões colocadas pelos investigadores sobre os conteúdo científicos existentes em quatro extractos de jornais e/ou revistas científicas e não científicas.

Os professores, ao conhecer algumas afirmações dos alunos sobre o excerto apresentado na figura 2, quase todas denotando algum desconhecimento da temática implícita, e inclusivamente de termos como comburente, combustão, tecem alguns comentários (quadro 48), uns centrados no programa e outros nos alunos.

No primeiro caso, os comentários enunciados por seis professores, têm intrínseca alguma crítica aos programas, da componente de Química do 8º ano, em vigor à data de recolha de dados:

“ (...) já depende muito se o assunto é interiorizado, evidentemente nas aulas. E comparando [com os programas do seu tempo em que era aluna], era uma coisa que vincava logo muito, composição do ar, oxigénio para um lado, hidrogénio, acompanhado de uma experiência de preparação do hidrogénio e registávamos as observações.” (PC)

“Mesmo o que lhes é ensinado na aula, não chega ao entendimento deles, porque se calhar não é explicado ao nível do que eles precisariam para entender, porque é exagerado, abstracto (...) ” (PE) “Se calhar estes dois termos [comburente e combustível] são um bocado complicados porque são coisas muito semelhantes e de facto é difícil perceber, é um bocado de abstracção.” (PF)

Quadro 48. Comentários dos professores sobre as interpretações dos alunos acerca da figura 2 (nP=8)

Professores entrevistados

Categorias PA PB PC PD PE PF PG PH

A. Conteúdo só abordado na Química do 8ºano 3 3 3 3 3 3 __ __ B. Conceitos não interiorizados pelos alunos 3 __ 3 __ 3 3 3 3

Referências

Documentos relacionados

Ao começar a estabelecer os contatos necessários para a execução do trabalho de campo, a idéia inicial era freqüentar as redações de três jornais do Rio de Janeiro, para

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

A prova do ENADE/2011, aplicada aos estudantes da Área de Tecnologia em Redes de Computadores, com duração total de 4 horas, apresentou questões discursivas e de múltipla

Nessa situação temos claramente a relação de tecnovívio apresentado por Dubatti (2012) operando, visto que nessa experiência ambos os atores tra- çam um diálogo que não se dá

By interpreting equations of Table 1, it is possible to see that the EM radiation process involves a periodic chain reaction where originally a time variant conduction

O desenvolvimento desta pesquisa está alicerçado ao método Dialético Crítico fundamentado no Materialismo Histórico, que segundo Triviños (1987)permite que se aproxime de

Neste caso se faz necessário inicializar o contador antes do repete ou do faz, incrementar o contador no interior e avaliar a condição no final de cada iteração..

Como já destacado anteriormente, o campus Viamão (campus da última fase de expansão da instituição), possui o mesmo número de grupos de pesquisa que alguns dos campi