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Ao ler a figura 3 (excerto de B.D. de um livro do Astérix) todos os alunos mostraram compreender o significado de todos os vocábulos presentes no excerto de B.D. que ela apresenta.

Ao questionar alunos, professores e investigadoras acerca da mensagem que a figura 3 lhes transmite, surgem várias sugestões que foram agrupadas em quatro categorias (quadro 49).

A maioria dos entrevistados (seis alunos, três professores e uma investigadora) menciona que a personagem sugere um profeta com capacidades para fazer profecias/previsões:

“Parece uma passagem da bíblia. Os profetas diziam uma coisa e daqui a cem anos ia acontecer.” (AA)

“Penso que não seja tão contemporâneo como isso. O homem parece um ancião e ele prevê que depois da chuva vem sempre o bom tempo.” (AB)

“Depois da tempestade vem a bonança, é um mito, não existe.” (AC)

“É normal que depois da chuva venha o bom tempo. Chove e acho que em alguma altura tem de vir o bom tempo.” (AE)

“ (...) um fenómeno natural associado a uma profecia...” (PC)

A investigadora IA refere que a personagem do excerto é um profeta, embora em sua opinião, não seja necessário um profeta para afirmar o que esta personagem afirma na figura 3:

Quadro 49. Interpretação da figura 3 pelos entrevistados

Grupos entrevistados Categorias Alunos (nA=8) Professores (nP=8) Investigadoras (nI=3)

A. Profecia/Previsão AA, AB, AC, AD, AE, AH PC, PD, PG IA

B. Ditado popular ____ PA IB, IC

C. Método científico ____ PB, PE, PF ____

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 215

“Ele é um profeta, e não é preciso um profeta para dizer que depois da chuva vem o bom tempo.”(IA)

Um professor e duas investigadoras afirmam que o excerto lhes sugere um ditado popular:

“ (...) conselhos que ainda hoje os antigos nos dão relativamente aos provérbios, tempo, relacionados com a agricultura, meteorologia, etc.” (PA)

“ Depois da chuva pode vir o bom tempo, isto é um ditado popular (...) ”(IC)

Três professores (PB, PF, PG) referem implícita ou explicitamente, que a figura lhes sugere procedimentos associados ao método científico:

“Provavelmente provar que choveu.” (PB)

“Ao ler a mim chama-me a atenção o conceito de ciência.” (PE)

“Sugere-me o método científico que pôs uma hipótese e depois confirmou.” (PF)

Em Outras respostas aparecem afirmações relacionadas apenas com repetição do que a personagem diz, dos seus ensinamentos:

“Isto aqui é que eu não sei se é verdade. Depois da chuva pode vir outra chuva.” (AF) “O homem está à espera de bom tempo para ensinar mais alunos.” (AG)

“Já não é necessário ensinar-vos a vocês e vou ensinar outros. Eu só estou a ver isto em termos de pedagogia.” (PH)

Confrontados com uma pergunta acerca da possível realidade/ficção/história da afirmação feita pela personagem (figura 3) “Conforme eu tinha profetizado, depois da chuva, vem o bom tempo... Vou portanto deixá-los, pois outros precisam da minha Ciência”, as opiniões dos

entrevistados dividem-se em duas vertentes (quadro 50).

Quadro 50. Opiniões dos entrevistados acerca da veracidade da abordagem da problemática do excerto 3

Grupos entrevistados Categorias Alunos (nA=8) Professores (nP=8) Investigadoras (nI=3)

A. Real Traduz conhecimento empírico AA, AB, PA, PD, PE, PH Todas Fala de profecia e previsão AC, AD, AE, AF AH PG ____ B. Ficção

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A vertente mais consensual é a que tem a ver com a afirmação da personagem ser encarada como real por todas as investigadoras, metade dos professores (quatro) e dois alunos. A razão invocada por estes está associada ao facto dos entrevistados referirem que a personagem transmite conhecimentos empíricos:

“Pode ser real porque ele sabe que isso acontece devido aos anos de vida” (AA)

“Que há-de ter um fundo real. Todos os provérbios relacionados com a meteorologia, as marés, as luas, têm um fundo científico de facto. Embora os antigos não tivessem muitos conhecimentos para perceber isto, quanto mais não fosse pela experiência, acabavam por ver que as coisas aconteciam assim” (PA) “A questão que depois da chuva vem o bom tempo é verdadeira, depois de um mês toda a gente sabe que isto é verdade, isto é conhecimento empírico” (IA)

Para a maioria dos alunos (cinco) e para o professor PG, a figura 3 só pode ser ficção, uma vez que estes não concebem uma profecia ou uma previsão como algo real/verdadeiro:

“Porque não acredito naquilo que ele está a dizer. Acho que isto é uma previsão e não a ciência dele” (AE)

“A ciência não é um mito, depois da chuva vem o bom tempo, nunca se sabe!” (AC)

“Mas já dá uma ideia de ser uma história de ficção, pela palavra profetizado, profecia, acho pouco real” (PG).

Três professores (PB, PC e PF) e um aluno (AG) consideram ainda o excerto com algo de ficção, uma vez que o excerto transmite algo passado, antigo, concordante com o modo de ensinar e questionamento sobre a chuva/bom tempo que na época tinha razão de ser:

“Actualmente já ninguém questiona a chuva, mas os nossos antepassados tiveram já um pensamento destes.” (PF)

“Isto já parece tudo antigo. Ele a ensinar os seus conhecimentos” (AG)

Foi pedido aos professores entrevistados uma previsão sobre o modo como os alunos interpretariam o termo Ciência, em termos de conceito/significado, no contexto da figura 3 (quadro 51).

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 217 A este repto, a maioria dos professores respondeu defendendo que os alunos iriam referir que o que está no excerto não condiz com o seu pensamento acerca de Ciência, devido:

- às contradições que reconheceriam entre o termo profetizado e Ciência:

“Acho que eles diriam que isto não é ciência. Este termo” profetizado”… parece que aqui há bruxedo e a ciência é investigação e não a profetização, bruxedo.” (PF)

- à noção que têm de que a Ciência é experiência:

“Eu acho que não iam entender. Porque relacionam muito a ciência com a experiência e penso que não iam abranger este conceito de ciência neste contexto.” (PA)

“Eu acho que neste contexto iria associar a ciência a uma maneira de explicação de fenómenos que podem ser testados através da ciência.” (PB)

“Se calhar já não aceitavam com naturalidade isto ser ciência. Acho que não iriam associar o termo profetizado à ciência. Acho que um aluno do 9ºano já tem ideia do método científico, dos passos do método científico.” (PG)

- ao facto de não ser um assunto abordado na sala de aula:

“Eu não sei se os alunos do 9ºano teriam uma interpretação correcta ou mais ou menos correcta do que é a ciência. Apenas dão no início do 8º ano o que é Química e o que é Física. Associam a Química a transformações Químicas e isto tem que ser uma coisa muito bem trabalhada. Eu vejo pelos meus alunos. Mas não muito mais do que isso, eles não são capazes de dizer o que é a Ciência, a não ser que consigam distinguir transformações físicas de transformações químicas. Eles relacionariam às transformações químicas e físicas.” (PH)

- ao facto de o excerto não dar indicações sobre como a personagem da figura 3 reuniu as informações para afirmar que vai chover:

“Eu aqui não sei se eles iriam dar aqui a todas as influências científicas.E sabe porque é que eu digo que não sei, a chuva não podemos tirar a ideia da pressão atmosférica estar baixa a baixo de 760 mmHg

Quadro 51. Previsão efectuada pelos professores acerca da interpretação da figura 3, por alunos do 9º ano (nP=8)

Professores entrevistados

Categorias PA PB PC PD PE PF PG PH

A. Não considerariam Ciência 3 3 3 __ __ 3 3 3

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