• Nenhum resultado encontrado

Plataforma de Biodiversidade do BID para a América Latina e o Caribe

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Plataforma de Biodiversidade do BID para a América Latina e o Caribe"

Copied!
67
0
0

Texto

(1)

Plataforma de

Biodiversidade do

BID para a América

Latina e o Caribe

AproveitAndo As oportunidAdes

pArA um crescimento sustentável

(2)

Índice

Resumo executivo

4

Capítulo 1: Introdução

8

Capítulo 2: Situação e tendências dos ecossistemas

10

Capítulo 3: Desafios para alavancar o capital natural

16

Capítulo 4: Oportunidades para o crescimento sustentável

22

Capítulo 5: Mandato e experiência do BID em sustentabilidade

31

Capítulo 6: Plataforma do BID: uma proposta

38

Capítulo 7: Convite ao envolvimento

50

Citações bibliográficas

57

Anexos

61

Este documento foi preparado pelo Departamento de Infraestrutura e Meio Ambiente (INE), sob a coordenação de Hector Malarin (Chefe de Divisão, INE/RND) e a supervisão de Alexandre Rosa (Gerente, INE). O documento beneficiou-se das contribuições feitas pelo Grupo de Trabalho Interdepartamental de Biodiversidade formado por: Michele Lemay (ponto focal), Carolina Jaramillo, Rebecca Benner, Elizabeth Cushion, Maria Claudia Perazza, Eirivelthon Lima, Graham Watkins, Patrick Doyle, Gregory Watson, Paul Winters, Jaime Garcia Alba, Pablo Picon, Gaston Astesiano, Fernando Miralles-Wilhelm, Rosana Brandao, Arnaldo Vieira de Carvalho, Rafael Lima, Judith Anne Morrison, Carlos de Paco, Cristina Dengel, Janine Ferretti, Walter Vergara, Emma Torres e Elizabeth Chavez. Juan Pablo Bonilla, Assessor Principal, EVP/EVP, também forneceu valiosas sugestões. O Banco também agradece as contribuições de Resources for the Future e de Gonzalo Castro de la Mata pelos estudos realizados para fundamentar este documento.

(3)

ABreviAturAs

ALC América Latina e Caribe

AP Áreas Protegidas

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

CBD Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica

CIESIN Centro para a Rede Internacional de Informação em Ciências Naturais

CIFOR Centro Internacional de Pesquisa Florestal

ECLAC (CEPAL) Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe da Organização das Nações Unidas

ESG Unidade de Conformidade do Meio Ambiente e Salvaguardas do BID

FAO Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura

FEMSA Fundação FEMSA A.C.

FUMIN Fundo Multilateral de Investimentos

GCI-9 Nono Aumento Geral de Capital do BID

GEF Fundo Global para o Meio Ambiente

GEO 3 Perspectiva Global do Meio Ambiente — 3

IAG Grupo Consultivo Independente sobre Sustentabilidade do BID

IUCN União Internacional para a Conservação da Natureza

LNG Gás natural liquefeito

MPA Área Marinha Protegida

ONG Organizações Não Governamentais

OPAS Organização Pan-Americana de Saúde

PFNM Produtos Florestais Não Madeireiros

PIB Produto Interno Bruto

PME Pequenas e médias empresas

REDD Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação

RFF Resources for the Future

RSC Responsabilidade Social Corporativa

SEA Avaliação Ambiental e Social

TEEB A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade

UNDP (PNUD) Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas

UNEP (PNUMA) Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas

WB Banco Mundial

WBCSD Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável

WCMC Centro de Monitoramento e Preservação Mundial

WWF Fundo Mundial da Natureza

(4)

resumo executivo

Com 40% da biodiversidade do mundo, a região da América Latina e do Caribe

possui uma vasta e exclusiva fonte de capital — o capital natural. Se este patrimônio

for administrado de maneira inteligente, a biodiversidade oferece uma promessa

significativa para o crescimento e a prosperidade em longo prazo. A biodiversidade

bem administrada pode ajudar a região a suprir a demanda cada vez maior por

energia, água, alimentos, solo e outros recursos naturais já que enfrenta uma

população crescente que pode totalizar mais de 700 milhões de pessoas até 2030.

Para ajudar a cumprir esta promessa, o Banco Interamericano de Desenvolvimento

busca agora obter comentários a respeito de uma iniciativa inédita – a Plataforma

de Biodiversidade. Somente com as suas ideias e parceria, conseguiremos ajudar a

manter a incrível biodiversidade da região da América Latina e Caribe, ao mesmo

tempo em que impulsionamos o crescimento econômico e contribuímos para o

bem-estar de todos.

(5)

Embora a ALC componha

apenas

16%

do

território do planeta, a

região detém

40%

da biodiversidade

mundial

(UNDP, 2010).

PROTEGENDO A BIODIvERSIDADE,

SUSTENTANDO A vIDA

A região da América Latina e Caribe (ALC) é onde se encontra parte da diversidade biológica mais rica do mundo — uma rede de vida que oferece à humanidade uma gama de benefícios, conhecidos como serviços ecossistêmicos. De alimento e abrigo a água potável e ar limpo, da mitigação das enchentes a controle de doenças e pragas, de paisagens atraentes a locais sagrados, os serviços ecossistêmicos da ALC são vitais para a vida humana, hoje e para as futuras gerações. Esta riqueza de biodiversidade e os serviços relacionados criam uma importante vantagem comparativa para o futuro desenvolvimento da região — vantagem que deve ser preservada e aproveitada. À medida que as populações e economias da ALC expandem, crescem também as oportunidades para investir neste patrimônio para gerar um crescimento regional sustentável. No entanto, o crescimento da população, bem como as mudanças do clima e outros fatores estressantes que se intensificam, impõem ameaças sérias à biodiversidade e às inúmeras atividades econômicas que dependem de ecossistemas saudáveis. A classe média em ascensão e o crescimento econômico robusto da ALC estão aumentando a demanda por recursos, como alimentos, energia e água.

Como a biodiversidade pode ser um ativo para o crescimento econômico e, de outra forma, como o crescimento pode ajudar a preservar a rica biodiversidade da região para o beneficio da prosperidade de longo prazo?

MAxIMIZANDO AS

OPORTUNIDADES PARA O

CRESCIMENTO SUSTENTávEL

O investimento na biodiversidade impõe desafios claros. Por exemplo, pode ser difícil medir o valor econômico total dos ecossistemas, incluindo os benefícios indiretos e o valor da sua não utilização. Além disso, a maioria dos países da ALC ainda necessita desenvolver a capacidade de regulamentar as interações entre os mercados e os ecossistemas. Fatores como a falta de determinação política, fiscalização de cumprimento limitada e capacidade técnica insuficiente são obstáculos a uma governança efetiva.

Somente identificando e enfrentando desafios como estes é que poderemos maximizar as oportunidades. Desde o desenvolvimento de modelos comerciais sustentáveis a aumentar os investimentos na proteção dos recursos naturais, há inúmeras oportunidades para facilitar o crescimento na ALC. Em virtude das vantagens da região em termos de capital físico, biológico e humano, há uma ampla oportunidade para tornar o desenvolvimento, tanto social como biologicamente sustentável.

Uma dessas oportunidades é sustentar setores cujos produtos dependam diretamente da biodiversidade, como a silvicultura, a agricultura e o turismo. Estes setores formam uma grande porcentagem do PIB da região e, portanto, é fundamental respaldar os seus insumos que se baseiam nos ecossistemas. Outra oportunidade recai sobre a expansão de investimentos

(6)

compatíveis com a biodiversidade nos setores que crescem rapidamente e não são vistos tradicionalmente como dependentes diretos dos serviços ecossistêmicos, como geração de energia, mineração e infraestrutura. Outras áreas de oportunidade incluem a sustentação do meio de vida das comunidades nativas e de outras populações que dependem diretamente da biodiversidade para a sua subsistência e manutenção do suprimento de serviços básicos, como, por exemplo, energia e água.

ALAvANCANDO AS NOSSAS

vANTAGENS E ExPERIêNCIA

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) tem uma longa história de êxito em se tratando de financiamentos para a conservação e serviços ecossistêmicos. Trabalhamos com os países em diversas etapas do ciclo do projeto para integrar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos— desde estratégias regionais e de país até a avaliação final do projeto — e os nossos projetos abrangem uma ampla gama de objetivos, biomas, questões e protagonistas. Recorremos a uma combinação de instrumentos de financiamento e abordagens baseadas no mercado e facilitamos a ligação entre os setores público e privado. Com abrangência regional e presença em todos os países, o BID possui acesso direto às autoridades responsáveis pelas políticas públicas e a agenda de desenvolvimento.

É claro que também há áreas em que podem ser aprimoradas. Por exemplo, temos intenção de aperfeiçoar as métricas para medir o impacto

sobre a conservação da biodiversidade, criar uma demanda efetiva nos países por uma agenda de sustentabilidade, integrar a biodiversidade de maneira mais sistemática em todos os setores econômicos e aumentar a conscientização dos benefícios da biodiversidade, entre outros. Temos muito que aprender com os países da ALC, as ONGs, corporações, pesquisadores, cientistas, entre outros, que trabalham com essas questões no dia a dia na região. Desejamos nos respaldar com base em nossos pontos fortes para conseguirmos realizar mais.

áREAS PROPOSTAS DE AçãO E

INvESTIMENTOS

Como parte da nossa futura Iniciativa de Biodiversidade, o BID deseja aprimorar as contribuições da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos associados ao desenvolvimento sustentável e inclusivo da ALC. Como uma primeira etapa em relação a uma iniciativa totalmente validada, desenvolvemos uma Plataforma de Biodiversidade com a finalidade de nos ajudar a estruturar áreas potenciais de ação e solicitar a opinião sobre a orientação geral que está sendo proposta. A plataforma tem como objetivo estabelecer novas formas para o Banco conduzir seus negócios, com investimentos públicos e privados que aprimorem o bem-estar humano e a igualdade social e reduzam os riscos ambientais, ao mesmo tempo que alavancam resultados positivos para a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos.

(7)

Identificamos quatro temas em que a plataforma pode apoiar com investimento, desenvolvimento de conhecimento e capacitação. No âmbito dessas áreas, queremos:

Promover o pleno entendimento do valor e •

potencial da gestão do capital natural; Ajudar os países alcançar políticas e •

investimentos mais eficazes para a biodiversidade; e

Criar novas oportunidades econômicas, •

financeiras e comerciais que aumentem o valor da biodiversidade da ALC.

A diversidade da ALC, em termos de ecossistemas, política, cultura e economia, torna a priorização e o refinamento dos temas propostos uma tarefa complicada e crítica. Nesta publicação, detalhamos essas áreas temáticas, oferecemos indicadores para a definição e apresentamos exemplos de

como essa tarefa poderia ser realizada. Os quatro temas incluem:

Integrar a biodiversidade nos setores •

econômicos e contabilizar o valor dos ecossistemas;

Manter o patrimônio da biodiversidade; •

Promover investimentos do setor privado na •

biodiversidade; e

Aprimorar a governança e a estrutura •

de políticas.

Prosseguimos para propor como essas ideias seriam concretizadas. As etapas propostas no plano de ação incluem explorar mecanismos apropriados de financiamento, integrar os temas nos investimentos e no diálogo do Banco com os países, criar parcerias estratégicas e medir o progresso, entre outras.

PRóxIMOS PASSOS

AGORA A PLATAFORMA PRECISA DE REFINAMENTO. É Aí qUE vOCê ENTRA EM CENA. Para garantir

que a plataforma considere as preocupações das partes interessadas, as orientações dos especialistas e as soluções mais inovadoras, o BID está realizando um esforço sem precedentes para colher suas opiniões.

Após a nossa primeira atividade ampla de envolvimento das partes interessadas na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável — Rio+20, planejamos realizar quatro consultas regionais altamente interativas com partes interessadas na região. Além disso, oferecemos diversas oportunidades para o envio das opiniões on-line.

Uma vez sintetizadas e incorporadas todas as opiniões, apresentaremos a Plataforma revisada à diretoria do BID, em dezembro de 2012. Mediante a aprovação da Diretoria do BID, lançaremos a Iniciativa de Biodiversidade no início de 2013.

Agradecemos antecipadamente pela sua orientação e participação neste importante esforço para a região e o mundo.

(8)

ALC contém sete dos

25

hotspots de biodiversidade

do mundo e seis dos

17

países

com “megadiversidade”.

cApÍtulo 1:

Introdução

Desde a menor bactéria até a maior baleia azul, uma extraordinária riqueza de

biodiversidade na região da América Latina e do Caribe (ALC) sustenta todos os

processos naturais, dos quais a vida e o desenvolvimento humano dependem.

Conferida como uma “superpotência da biodiversidade” (Bovarnick et al., 2010), a

ALC contém algumas das coleções mais ricas de aves, mamíferos, plantas e anfíbios

do planeta. Essa biodiversidade gera importantes benefícios de suporte vital para as

pessoas, os chamados serviços ecossistêmicos.

(9)

Os países da ALC estão

crescendo cada vez mais

ricos, mais urbanizados

e com uma classe média

mais predominante,

não apenas por causa

de sua incomparável

biodiversidade, como

também às suas custas.

Embora a ALC componha apenas 16% do território do planeta, a região detém 40% da biodiversidade mundial (UNDP, 2010). Segundo dados da

Conservation International, a ALC contém sete dos 25 hotspots de biodiversidade do mundo1 e seis dos 17 países com “megadiversidade”.

Os países da ALC estão crescendo cada vez mais ricos, mais urbanizados e com uma classe média mais predominante, não apenas por causa de sua incomparável biodiversidade, como também às suas custas. Como é possível sustentar o crescimento da região e, ao mesmo tempo, não apenas preservamos a biodiversidade, mas também aprimoramos o seu valor natural e a sua contribuição para a economia da ALC?

Promover o crescimento sustentável e socialmente inclusivo na ALC apresenta uma gama de

oportunidades para investimento e lucro. Para aproveitar essas oportunidades singulares, os representantes dos setores público e privado devem entender plenamente os custos, benefícios e impactos de suas respectivas decisões.

Para isso, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) lançou um processo de transformação com o objetivo de tornar a conservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos uma parte fundamental de seu negócio. Como parte desta iniciativa, a Plataforma de Biodiversidade do BID visa aumentar os investimentos sustentáveis em termos sociais e biológicos na ALC que ajudem à população pobre,

envolvam o setor privado em novas oportunidades de negócios, incorporem o conhecimento

tradicional e criem resiliência ante os impactos da mudança do clima.

Neste relatório, introduzimos os ecossistemas da ALC, destacamos os desafios da biodiversidade regional, apresentamos oportunidades

emergentes de investimentos em biodiversidade e desenvolvimento, avaliamos experiências anteriores do BID em investimentos relacionados com a biodiversidade e, finalmente, apresentamos a nossa Plataforma de Biodiversidade.

O nosso objetivo é inspirar uma discussão vital sobre direção a seguir com a Plataforma. Como o BID deve trabalhar com as principais partes interessadas para ajudar a transformar esses desafios e oportunidades em sucessos duradouros? Esse relatório é um documento vivo. Através do envolvimento ativo das partes interessadas, ajustaremos a direção que atualmente o BID está considerando seguir. Precisamos da sua opinião e queremos a sua participação nesta jornada crucial para criarmos um futuro promissor, não apenas para a população da ALC, mas para todas as vidas sobre a Terra.

Esse relatório foi enriquecido com discussões internas entre os diversos setores, bem como com os comentários de acadêmicos, da sociedade civil e de instituições dos setores público e privado.

Um

1 hotspot de biodiversidade caracteriza-se por níveis excepcionais de endemismo de plantas e por níveis altos de

(10)

A região da América Latina e Caribe (ALC) contém uma gama vasta de ecossistemas terrestres, fluviais, costeiros e marinhos que representam muitos biomas da Terra.2 Esta rede de sistemas vivos e não vivos respalda algumas das comunidades naturais mais complexas e ricas do mundo, como os habitats úmidos e secos; sistemas tropicais, temperados e desérticos; florestas, savanas, matas secas e campos naturais; rios e seus deltas, zonas inundáveis e lagos; e ecossistemas marino-costeiros.

Esses ecossistemas oferecem serviços benéficos de provisionamento, de regulação e culturais que derivam da natureza, incluindo alimentos, abrigo, água e ar limpos, harmonia espiritual, fertilização do solo, entre outros. A Tabela 2.1 ilustra os benefícios humanos mais comuns dos principais ecossistemas, benefícios geralmente despercebidos na tomada de decisões. Entender como a diversidade dos ecossistemas se

apresenta atualmente — e o que se espera deles no futuro — ajuda a colocar em perspectiva os desafios que a ALC enfrenta no momento e nos próximos anos.

Um exame mais profundo de cada ecossistema revela em mais detalhe os muitos benefícios da biodiversidade — e as ameaças importantes que a ALC enfrenta.

cApÍtulo 2:

Situação e

tendências dos

ecossistemas

TABELA 2.1.

Que serviços benéficos os ecossistemas oferecem ao homem?

Tipo de

ecossistema Ecossistema Serviços de suprimento Serviços de regulação Serviços culturais Terrestre Floresta • Madeira

Combustível • Fibra • Mitigação de enchentes • Regulação da qualidade • do ar Lazer • Produtos florestais • não madeireiros Campos naturais • Agricultura

Pecuária

• • • PolinizaçãoControle de erosão • Beleza inerente Água doce Manguezais • Peixes • Equilíbrio das águas

Mitigação de enchentes

• • Valores culturais/valores religiosos

Rios • Energia

Água limpa

• • Regulação hídrica • Sentido do local Costeiro

e marinho Manguezais • • CombustívelPeixes • Regulação de riscos naturais Proteção das costas •

Relações sociais •

Recifes de corais • Peixes • Proteção

contra tormentas • Valores estéticos

Fonte: IDB baseado em MA, 2005

A ALC contém

11

dos

14

biomas

terrestres da Terra

Um bioma é considerado uma importante comunidade classificada de acordo com a vegetação predominante e

2

(11)

OS ECOSSISTEMAS TERRESTRES:

RICOS, MAS EM RISCO

A ALC contém 11 dos 14 biomas terrestres da Terra — desde florestas tropicais e subtropicais até campos temperados, savanas e matas secas, a florestas mediterrâneas, bosques e vegetação rasteira (ver Figura 2.1). Os biomas florestais, juntos, abrangem cerca de 900 milhões de hectares, ou seja, metade da massa terrestre da ALC e cerca de 22% da abrangência florestal total do mundo. O bioma mais predominante — a floresta pluvial latifoliada tropical e subtropical— abrange 44% da área da superfície da região, sendo a maior parte na América Central, Caribe e ao norte da América do Sul. Cerca de 75% destas florestas se mantém como cobertura florestal primária em áreas protegidas ou remotas (FAO, 2011).

Esses ecossistemas estão sujeitos a mudanças decorrentes da conversão e degradação das condições físicas e bióticas associadas com a expansão agrícola, desenvolvimento de rodovias, mineração, exploração madeireira, pastagens, incêndios e a introdução de espécies invasivas. Essas mudanças afetam a capacidade que os ecossistemas têm de gerar serviços, incluindo a regulação hídrica e dos ciclos de nutrientes e do carbono, o controle de doenças e pragas, a polinização e mitigação dos riscos naturais. Por exemplo, a conversão de áreas florestais para a agricultura leva a uma perda da habilidade que o ecossistema tem de capturar e reter carbono e gerar água. Fragmentações subsequentes e a perda de habitats expõem ainda mais as áreas naturais às espécies invasivas e aos efeitos da mudança do clima (UNEP, 2010b).

(12)

Dados recentes sugerem que entre 1990 e 2005, quase 7% da cobertura florestal da região foi convertida, a grande parte em áreas agrícolas (UNEP, 2010b). As taxas médias anuais de

desmatamento entre 2000 e 2010 foram em média 0,46% (FAO, 2011). Embora tivesse ocorrido uma pequena melhora em relação à década passada, essa taxa de desmatamento representou uma perda florestal próxima a 4,2 milhões de hectares a cada ano. O estoque total de carbono estimado nas florestas da ALC (incluindo biomassa, madeira morta e solo) é cerca de 200.000 milhões de toneladas (FAO, 2010), com emissões anuais de carbono como resultado da conversão florestal estimadas em 424 milhões de toneladas para o período de 1990 a 2010 (FAO, 2011). As emissões totais de gases de efeito estufa resultantes das mudanças do uso da terra são os maiores contribuintes (47%) das emissões totais desses gases na ALC (IDB-ECLACL-WWF, 2012) e manter os ecossistemas naturais será essencial para a estabilização do clima.

O nível de ameaça que a diversidade mais ampla dos ecossistemas terrestres enfrenta varia em toda a região. No entanto, há prioridades amplamente reconhecidas (Blackman et al., 2012) incluindo sete hotspots de biodiversidade — áreas de alta prioridade para conservação que combinam biodiversidade excepcional e grau de ameaça significativo. Os hotspots da ALC incluem grande parte da América Central e do México, o Caribe, a costa do Pacífico e a região atlântica central da América do Sul.

(Fonte: Blackman et al. 2012, baseado nos dados de Olson et al., 2004)

Florestas ombrófilas tropicais e subtropicais Florestas tropicais e subtropicais latifoliadas secas Florestas tropicais e subtropicais de coníferas Florestas latifoliadas temperadas e mistas Florestas temperadas de coníferas Florestas boreais/Taiga

Campos, savanas e matas secas tropicais e subtropicais Campos, savanas e matas secas temperadas Campos e savanas inundáveis

Campos e matas secas de altitude Tundra

Florestas, matas e vegetação rasteira mediterrâneas Desertos e caatingas xerófitas

Manguezais Lagos

(13)

ECOSSISTEMAS DE áGUA DOCE —

CORRENTE FRáGIL

Mais de 30% da água doce disponível na Terra e cerca de 40% de seus recursos hídricos renováveis se encontram na América Latina (UNEP, 2010c). A região contém uma gama ampla de habitats de água doce, incluindo rios (Amazonas, Paraná-Paraguai, Orinoco, Uruguai e Magdalena-Cauca), zonas úmidas (o Pantanal, planície do Amazonas e as turfeiras temperadas da América do Sul), lagos (Titicaca, Nicarágua, Manágua, Maracaibo e Chapala) e aquíferos (Guarani, Chaco e Puelche). A biodiversidade aquática associada com esses habitats é expressiva. Por exemplo, 227 locais designados Ramsar3 estão localizados na ALC, abrangendo uma área total de 35,9 milhões de hectares (UNEP, 2010a).

Somente na América do Sul, 55 bacias hidrográficas transfronteiriças (Plata-Paraná, Orinoco e

Amazonas) abrangem cerca de 60% do território total (UNEP, 2010a). Em alguns países, essas bacias representam cerca de 80% do território do país. Reservatórios hidrogeológicos ou aquíferos (Guarani, Chaco e Puelche e o Vale do México) são outra fonte importante dos recursos hídricos da ALC, fornecendo suprimento essencial de água para as cidades e utilização agrícola e industrial. As geleiras são sistemas importantes, principalmente em áreas montanhosas onde os campos de neve

apresentam uma fonte significativa de suprimento de água, fornecendo serviços de equilíbrio

hidrológico principalmente para o consumo urbano de água potável, energia hidroelétrica e agricultura (UNEP, 2010a).

A situação e o desempenho dos ecossistemas de água doce dependem de suas respectivas condições bióticas e físicas (ex., qualidade, quantidade e temperatura da água), que permitem que eles suportem a vida aquática e forneçam estes serviços, como mitigação das enchentes, proteção contra tormentas e equilíbrio hidrológico. As modificações ocorridas na quantidade, fluxo, temperatura e conectividade das águas têm a probabilidade de afetar essas condições e inibir a capacidade de atuação (Blackman et al., 2012).

A poluição proveniente de escoamento superficial dos campos agrícolas fertilizados, mineração, pesticidas e outros produtos agroquímicos, erosão do solo, esgotos não tratados e resíduos industriais também impõem um estresse ambiental sobre a biodiversidade aquática (Blackman et al., 2012). As mudanças do clima deverão agravar ainda mais essas condições, alterando os padrões de temperatura e chuvas, com impactos prováveis em relação à disponibilidade de água (IPCC, 2007). Esses fatores de estresse, por sua vez, podem afetar as atividades econômicas dependentes, como a pesca, a agricultura e o turismo. As populações urbanas podem estar sujeitas às circunstâncias prementes decorrentes da falta de fontes

confiáveis e de fluxo contínuo de água doce para o consumo humano.

A lista Ramsar de Zonas Úmidas de Importância

3

Internacional (ou sítios Ramsar) incluem aqueles ecossistemas de zonas úmidas que “são importantes para a conservação da diversidade biológica global e para a sustentação da vida humana através da manutenção de seus respectivos componentes, processos e benefícios/serviços ecossistêmicos”. Fonte: http:// www.ramsar.org/cda/en/ramsar-documents-list/main/ ramsar/1-31-218_4000_0_

(14)

ECOSSISTEMAS MARINhOS E

COSTEIROS SOB PRESSãO

A ALC contém seis regiões (ou províncias biogeográficas) costeiras e marinhas principais (ver Figura 2.2). Essas províncias representam um amplo espectro de ecossistemas de manguezais, pradarias marinhas e corais provenientes dos ambientes marinhos ricos e altamente endêmicos do Caribe às águas temperadas e frias do Cone Sul, e às regiões produtivas tropicais do Pacífico sul oriental. A temperatura variada e as características biofísicas se traduzem na diversidade de cada província. O Caribe é particularmente rico e abriga 12.000 espécies marinhas registradas, mais do que em qualquer outro local da região (Miloslavich et al., 2011).

A ALC contém mais de 30 ecorregiões distintas de manguezais ao longo de 37.000 km2 de costas tropicais e subtropicais que representam um quarto de todos os manguezais do mundo (Siikamaki et al., 2012). Assim como ocorre com os manguezais, marismas são geralmente encontrados em estuários, deltas e costas baixas que apresentam baixa energia de ondas. As pradarias de ervas marinhas compõem distintas espécies de flores que oferecem abrigo para os animais aquáticos e locais de criadouro de vários peixes (Kennedy e Bjork, 2009). Elas também estabilizam os sedimentos provenientes da terra e podem oferecer vínculos importantes entre os recifes de corais e os sistemas terrestres, como os manguezais.

O ambiente marinho também respalda recifes de corais altamente diversificados e ecossistemas associados. A costa caribenha do México, Belize, Guatemala e Honduras contêm o segundo maior sistema de recifes do mundo. Este sistema oferece Nordeste do Pacífico temperado quente Leste do Pacífico tropical Noroeste do Atlântico tropical Ilhas Galápagos

Sudeste das ilhas do Pacífico temperado quente

Juan Fernández e

Ilhas Desventuradas Sudoeste do Atlântico temperado quente

América do Sul temperado frio

Sudoeste do Atlântico tropical

FIGURA 2.2

Províncias biogeográficas costeiras

(15)

habitat para mais de 10.000 espécies e desempenha um importante papel no ambiente regional mais amplo. Os recifes de corais são criticamente importantes para a criação de peixes, que se tornam ainda mais produtivos em ecossistemas onde manguezais, pradarias marinhas e recifes de corais coexistem. Uma série de outros ecossistemas, como recifes rochosos e montes submarinos, vem sendo estudada por causa de sua contribuição à pesca e outros serviços.

Cerca de metade da toda a população da ALC vive em um raio de 100 km da costa (Chatwin et al., 2007). Esta concentração impõe demandas diretas e indiretas sobre os sistemas costeiros e marinhos, resultando em perdas de habitats, degradação, bem como na sobre-exploração (Halpern et al., 2008). Por exemplo, a extensão dos manguezais diminuiu em 40% desde 1980 em decorrência principalmente do desenvolvimento ao longo das costas (Valiela et al., 2001). Relatórios também sugerem que 66% dos recifes de corais da região estão danificados e sofreram uma redução em quase um terço em relação à sua abrangência histórica (Sherman et al., 2009).

A pesca na ALC apresenta o mesmo padrão dinâmico das últimas décadas que no resto do mundo. Apesar do aumento do número e da capacidade de embarcações pesqueiras, a produção atingiu um platô e pode estar em declínio (FAO e World Fish Center, 2008; Worm et al., 2009; FAO, 2010; Salas et al., 2011). Cerca de 80% das

49 reservas de peixes comerciais para as quais há dados disponíveis foram classificadas como moderadamente a completamente explotadas (UNDP, 2010).

A introdução de espécies invasivas e os efeitos das mudanças do clima, principalmente a acidificação do oceano e o aumento do nível do mar, impõem mais pressão sobre os ecossistemas costeiros e marinhos. Além disso, a poluição proveniente de fontes agrícolas, industriais e urbanas constitui um fator importante na perda de biodiversidade. A poluição agrícola dispersa e das águas residuais municipais são um problema particularmente sério na ALC, onde 85% de todo o esgoto municipal é despejado sem nenhum tratamento (Blackman et al., 2012). O fluxo cada vez maior de sedimentos devido a alterações do uso do solo e aos processos industriais também contribui para a poluição das águas.

PRESSãO CRESCENTE

Espera-se que as mudanças do clima, incluindo a oscilação de temperaturas e da precipitação, agreguem mais estresse sobre a biodiversidade terrestre e aquática da ALC (Blackman et al., 2012; Strayer e Dudgeon, 2010). Isso pode levar a mudanças na amplitude de ocorrência de espécies, aumento de doenças e surtos de pragas, além da variabilidade nas populações e condições dos habitats. É provável que esses impactos ocorram com rapidez maior do que certas espécies sejam capazes de se adaptar, principalmente em conjunto

com outros fatores de estresse, como a perda de habitats e a fragmentação (Thomas et al., 2004; Pounds et al., 2006). É provável que a mudança climática cause uma perda de 20 a 30% das espécies atualmente em risco (IPCC, 2007) e espera-se que as espécies localizadas no hemisfério sul, que é mais delgado, tenham mais dificuldade de se adaptar do que as espécies ao norte (ICSU-ALC, 2010).

A mudança do clima global também é considerada uma ameaça significativa para a biodiversidade marinha da ALC (IPCC, 2007). Impactos potencialmente graves sobre a biodiversidade costeira e marinha incluem a perda de habitats, expansões ou retrações de faixas de ocorrência de espécies naturais, aumento na transmissão de doenças e infestações por pragas e flutuações imprevisíveis nas populações e condições dos habitats. A elevação do nível do mar e a acidificação dos oceanos são vistos como as principais ameaças relacionadas com as mudanças do clima para a biodiversidade costeira e marinha (Miloslavich et al., 2011). Mudanças nas correntes oceânicas e nos padrões de precipitação também poderiam impor efeitos adversos.

(16)

A região da América Latina e Caribe (ALC) está mudando a um ritmo frenético. Entre 1950 e 2010, a população da região cresceu mais de 250% (ECLAC, 2011). O PIB da região aumentou 87% entre 1990 e 2010, enquanto que o PIB per capita aumentou 40% (ECLAC, 2011). O índice de pobreza, que atingiu 41% em 1980, foi reduzido a 32% até 2010. O crescimento econômico e uma classe média em expansão também levaram a uma maior demanda por alimentos, produtos florestais, minerais terrestres e energia. O progresso da globalização e da tecnologia acompanhou e contribuiu para este padrão de crescimento (Moreno, 2011). Como a riqueza dos ecossistemas da região — ou capital natural — afeta este desenvolvimento econômico? Por que a biodiversidade é um patrimônio essencial para o crescimento sustentável? A biodiversidade e os serviços ecossistêmicos constituem insumos diretos e indiretos para muitas atividades econômicas, bem como um sistema de suporte vital para pessoas em toda a ALC, inclusive seus povos indígenas e tradicionais. Além disso, também oferecem bens públicos globais, como armazenamento e regulação de carbono e habitats para as espécies com alto valor cultural.

A dependência econômica que a ALC tem da biodiversidade pode causar uma série de conflitos de escolha importantes, que precisarão ser entendidos e ponderados cuidadosamente ao se tomar decisões a respeito do futuro da região. Abaixo apresentamos quatro desafios para alavancar o Capital Natural que a ALC enfrentará em sua jornada contínua de rápido crescimento econômico, expansão populacional e aumento do comércio. Além disso, o Quadro 3.1 evidencia um exemplo de como esses desafios ocorrem em um ecossistema específico.

cApÍtulo 3:

Desafios para

alavancar o

capital natural

O PIB da região cresceu

87%

entre 1990

e 2010, enquanto

que o PIB per capita

cresceu

40%

.

TABELA 3.1.

Países da ALC com programas de contabilidade ambiental em 2012

País Piloto Programa regular

Chile n Costa Rica n Argentina n Peru n Colômbia n n Brasil n Bolívia n República Dominicana n Venezuela n Panamá n México n Guatemala   n (Fonte: Edens, 2012)

(17)

qUADRO 3.1.

A CONTABILIDADE

AMBIENTAL NACIONAL

SE ESTABELECE

No final da década de 80, a Costa Rica e o México foram os primeiros países da ALC

a implantar uma contabilidade ambiental em nível nacional através de projetos

piloto. Desde então, dez outros países, todos exceto um na América Latina, já

implantaram projetos piloto (Tabela 3.1). hoje, o Peru, México e Guatemala

possuem programas ativos totalmente independentes. No entanto, poucos países

na ALC ou em outra região em desenvolvimento já tiveram experiências com a

contabilidade ambiental, que incluíssem dados sobre os serviços ecossistêmicos

além da cobertura vegetal e do uso da terra (Edens, 2012).

Entre 1950 e 2010

a população da

região cresceu mais

(18)

CONSIDERAR O vALOR ECONôMICO

DA BIODIvERSIDADE

Grande parte dos serviços ecossistêmicos é considerada como tendo valores de uso direto, indireto ou de não utilização, que não são reconhecidos pelo mercado como são muitos valores de uso direto provenientes de bens e serviços comercializáveis. Valores não utilitários adicionais da biodiversidade, como patrimônio estético e cultural, também são difíceis de avaliar. A falha em refletir o valor econômico total dos ecossistemas, ou seja, a soma de todos esses valores sociais, leva à alocação ineficiente de recursos e o provisionamento inadequado desses bens e serviços para a sociedade. É fundamental criar mercados e instrumentos baseados em preço para corrigir essas falhas, se queremos preservar os valores além daqueles que geram riqueza direta privada.

Identificar, avaliar e quantificar os serviços dos ecossistemas é difícil, porém necessário para avaliar os conflitos entre os usos alternativos dos ecossistemas. Embora ferramentas de suporte à tomada de decisões, métodos para a avaliação econômica ampliada, contabilidade ambiental nacional (ver a Quadro 3.1) e o maior acesso às condições e às tendências dos ecossistemas estejam ajudando a superar essa barreira, ainda é preciso muito esforço para esta ser uma prática comum. Além do mais, captar o valor econômico através de preços é particularmente complexo, pois: (1) requer uma sólida base institucional e legal para respaldar os mecanismos corretivos necessários para que esses valores se reflitam no mercado; (2) geralmente um determinado ecossistema oferece uma gama de

serviços, dificultando captar o preço de um único serviço; e (3) muitos serviços, como os valores culturais, não podem precificados.

FACILITAR OS INvESTIMENTOS

PRIvADOS NA CONSERvAçãO

DA BIODIvERSIDADE

Há um reconhecimento crescente de que as empresas dependem de forma direta e indireta dos serviços ecossistêmicos para produzirem os produtos e serviços que oferecem à economia (TEEB, 2010). Identificar como esses serviços podem se tornar oportunidades de negócios é difícil, mas opções baseadas em mercado para se fazer isso estão emergindo. Essas opções incluem o uso de padrões de desempenho em biodiversidade para investidores, certificação em biodiversidade, esquemas de avaliação e comunicação e

mecanismos de incentivos, incluindo contratos de bioprospecção, pagamentos pela água ou carbono e compensação por perda de biodiversidade (TEEB, 2010 e Blackman et al., 2012).

As barreiras para desenvolver essas novas oportunidades de negócios incluem informações limitadas a respeito dos serviços ecossistêmicos, falta de conhecimento técnico e gerencial, custos transacionais altos em relação ao porte dos investimentos, falta de acesso a crédito e períodos longos de retorno financeiro dos projetos. As incertezas ou riscos relacionados a investimentos em biodiversidade resultam em custos de alto risco desnecessários, exigências de garantias expressivas e prazos curtos para empréstimos. Um obstáculo que emerge para o crescimento sustentável

há um reconhecimento

crescente de que as

empresas dependem

de forma direta e

indireta dos serviços

ecossistêmicos

para produzirem os

produtos e serviços que

oferecem à economia.

(19)

contínuo relaciona-se com políticas e regulamentos inadequados para favorecer um ambiente

propício para ajudar as empresas a aproveitar as oportunidades em conservação da biodiversidade e manutenção dos serviços ecossistêmicos.

Os impactos das empresas sobre a biodiversidade e os serviços dos ecossistemas — sejam eles positivos ou negativos — também são cada vez mais reconhecidos e entendidos na comunidade empresarial, mas é preciso fazer mais. Deixar de reconhecer esses impactos é ignorar oportunidades importantes para gerar um fluxo constante de lucros (TEEB, 2010). Na verdade, a perda e a degradação dos ecossistemas podem apresentar sérios riscos para as empresas, variando desde operacionais (interrupções devido à escassez de recursos hídricos ou a dependência de zonas úmidas para o tratamento de águas residuais) até reputacionais (relacionados com mercados e produtos) a financeiros (menos lucro e oportunidades de mercado). As empresas do mundo todo estão começando a prestar atenção e entender que a perda da biodiversidade não é apenas uma preocupação ecológica. O desafio é, portanto, integrar o valor real dos serviços que os ecossistemas oferecem em modelos comerciais para internalizar e contabilizar aqueles valores ocultos.

ABRINDO CAMINhO PARA UMA

GOvERNANçA EFICAZ

Governança é o exercício da autoridade econômica, política e administrativa para gerenciar os assuntos de um país. É necessário ter boa governança para desenvolver e impor estratégias regulatórias — sejam estas obrigatórias e baseadas em incentivos — para a gestão dos recursos ambientais e naturais. Debilidades na governança se tornam grandes obstáculos para a gestão eficaz dos ecossistemas e a aplicação da lei. Aprimorar a governança requer fortalecer os mecanismos de responsabilidade na prestação de contas e transparência, melhorar a prestação dos serviços públicos, estabelecer procedimentos para assegurar o cumprimento da lei, permitir a participação das partes interessadas e assegurar a devida coordenação entre os diferentes níveis de governo e órgãos administrativos. A maioria dos países da ALC ainda necessita desenvolver a capacidade institucional de regular as interações entre os mercados e os ecossistemas. É preciso fazer mais, por exemplo, na atribuição e imposição dos direitos de propriedade, resolução de conflitos, estabelecimento de cooperação e na promoção de maior envolvimento social nos processos de tomada de decisões. A falta de determinação política; recursos financeiros e humanos limitados; capacidade técnica e de pessoal insuficiente para monitorar a conformidade dos regulamentos ambientais; ineficiências jurisdicionais, processuais e interinstitucionais; e a preponderância de empresas e propriedades rurais de pequeno porte difíceis de monitorar tornam a fiscalização do cumprimento da lei um desafio especialmente difícil na região (Blackman et al., 2012).

(20)

qUADRO 3.2.

O DESENvOLvIMENTO

AGRíCOLA NO CERRADO

CRESCE — E AUMENTAM

TAMBÉM AS PREOCUPAçõES

O Cerrado, ou o ecossistema de vegetação do tipo savana na região central

do Brasil, é o segundo maior bioma da América do Sul tropical, originalmente

ocupando cerca de 24% do território brasileiro. Estima-se que continha

aproximadamente 5% da biodiversidade do mundo, incluindo cerca de 12.000

plantas vasculares (MMA, 2011). Essa riqueza torna o Cerrado um dos hotspots de

biodiversidade do mundo (CI, 2012). É também uma importante área de cabeceira

das principais bacias fluviais do leste da América do Sul, sendo, portanto, um

importante fornecedor de serviços de água para muitas comunidades.

Um impulso para modernizar a região oeste do Brasil, além da inovação

tecnológica, construção de rodovias e o crescimento dos mercados nacionais e

internacionais, promoveram uma expansão agrícola nesta área — à custa de suas

savanas silvestres e florestas nativas. Embora seja difícil avaliar as consequências

totais da perda da biodiversidade associada com essas mudanças, mais visível é o

impacto sobre os serviços de regulação do ecossistema, como maiores descargas

na época das chuvas e mais poluição decorrente do escoamento superficial e dos

sedimentos que afetam os usuários das águas a jusante (WB, 2007). Nas taxas

atuais de conversão do uso da terra, as emissões anuais de carbono desse bioma

para a atmosfera chegam a quase 275 milhões de toneladas (WWF, 2011).

Com uma demanda cada vez maior do mercado mundial, a consequente elevação

dos preços das commodities e uma pressão crescente dos produtos agrícolas do

Cerrado — carne bovina, soja, carvão, etanol — a ameaça de perda de habitats por

causa da expansão agrícola é atualmente ainda mais relevante (WWF, 2011). Essa

transformação, combinada com as mudanças projetadas do clima, pode levar à

extinção de espécies (IPCC, 2007), bem como à degradação da qualidade do solo,

redução da disponibilidade de água e das condições de produção. A diversificação

de cultivos, mais unidades de conservação e imposição eficaz da lei são

necessários para reverter essas tendências e garantir práticas sustentáveis. Sem

esta atuação, a subsistência e o desenvolvimento futuros dos mais de 18 milhões

de habitantes que se beneficiam de forma direta e indireta da economia desse

ecossistema poderiam estar comprometidos.

(21)

Os sistemas de gestão liderados pelos povos indígenas e tradicionais são essenciais para proteger a biodiversidade. A América Latina é um líder mundial na legislação sobre gestão de recursos naturais para povos tradicionais e indígenas e apresenta a mais alta porcentagem de governos que garantem o acesso e direitos dos povos indígenas na gestão dos recursos naturais. No entanto, independentemente do aumento expressivo do território de propriedade ou sob o domínio dos povos indígenas e tradicionais na América Latina, os procedimentos burocráticos e de licenciamento geralmente limitam o exercício desses direitos na prática. (Rights and Resources, 2012).

A GESTãO DOS ECOSSISTEMAS EM

UM CONTExTO DE INCERTEZAS

Consequências imprevisíveis podem resultar de mudanças ocorridas nos ecossistemas, o que está acelerando como resultado da mudança climática. Quando há muitas ameaças em jogo, o processo de degradação e perda pode ser ampliado ou definido em um curso difícil de gerenciar ou reverter.

Considere a Floresta Amazônica. Com o rápido desmatamento, espera-se que a maior floresta contínua do mundo perca 30% da sua cobertura original até 2050 (IPCC, 2007), aumentando de maneira significativa a susceptibilidade do bioma a incêndios.

Recentes evidências empíricas indicam que após desmatamentos é provável a ocorrência de climas mais secos e mais quentes, além de alterações nas chuvas na região. Isso poderia levar à retração (dieback) ou “savanizaçao” da Floresta Amazônica, um fenômeno no qual a floresta tropical úmida poderia se transformar em um ecossistema do tipo savana. As mudanças do clima podem ampliar muito este processo (IPCC, 2007). Os impactos sobre o armazenamento de carbono, a regulação hídrica e a produção primária de biomassa poderiam ser significativos. Monitorar e entender essas várias causas de mudança — e elaborar políticas que possam resolvê-las — surgem como um desafio não apenas em nível regional, como também em nível internacional.

Com o rápido desmatamento,

estima-se que a maior floresta

contínua do mundo perca

30%

da sua cobertura original até 2050.

(22)

Embora a região da América Latina e Caribe (ALC) enfrente desafios para acomodar o crescimento projetado para as próximas décadas, há também oportunidades sem precedentes para tornar este crescimento

sustentável do ponto de vista social e biológico. Essas oportunidades — possibilitadas pelo desenvolvimento de modelos comerciais sustentáveis, incentivo à sustentabilidade nos setores produtivos e por mais

investimentos na proteção de seus recursos naturais — se apresentam em diversas formas e em todos os setores econômicos. Considerando a riqueza do capital físico, biológico e humano da região, a ALC possui uma vantagem comparativa para alavancar muitas oportunidades emergentes, incluindo as descritas neste capítulo.

OPORTUNIDADE 1: SUSTENTAR OS SETORES PRODUTIvOS

A dependência dos ecossistemas pode ser apresentada em diversos pontos da cadeia de produção. Em alguns setores, como silvicultura, pesca e o turismo, os produtos finais dependem de ecossistemas saudáveis e da biodiversidade rica. Infelizmente, os insumos baseados em ecossistemas podem se esgotar. Se forem usados de forma insustentável, os ecossistemas serão incapazes de se recuperar e, com o tempo, seus insumos diretos se perderão. Mesmo assim, esses setores são essenciais para o crescimento econômico. A agricultura, pesca, silvicultura e o turismo juntos representam, em média, 15% do PIB da economia da ALC, empregando uma média de 17% da mão de obra da região. As exportações resultantes da agricultura, pesca e silvicultura representam uma média de 50% do valor total das exportações da região.

A ALC tem a oportunidade de manter esses setores como importantes contribuintes à economia, mas apenas mediante usos mais sustentáveis dos insumos, o que geralmente envolve sustentabilidade na governança, recursos e exploração renováveis e proteção da biodiversidade e dos ecossistemas que impulsionam esses setores. A seguir apresentamos exemplos de como o uso sustentável pode ajudar a respaldar a produtividade nos setores que dependem diretamente de bens e serviços ecossistêmicos.

PESCA

A pesca representa uma parte considerável do PIB em muitos países da ALC. Para evitar ou reverter a tendência atual que deixaria 85% dos estoques pesqueiros do mundo totalmente explotados,

sobreexplotados ou exauridos (FAO, 2010), a região precisa investir numa governança abrangente de seus recursos costeiros e marinhos, enfocando nos ecossistemas dos quais os recursos pesqueiros dependem, bem como nos próprios recursos. Evidências sugerem que onde esta medida foi tomada, como na Nova Zelândia, os estoques pesqueiros não apenas conseguem se recuperar, mas os benefícios econômicos para pescadores individuais também podem aumentar (Banco Mundial, 2009). Os principais elementos para uma governança abrangente são: (1) atribuição de direitos (para pescadores de pequeno porte e industriais); e (2) conservação de habitats. A atribuição de direitos na pesca, basicamente, proporciona aos pescadores direitos de propriedade de captura. Assim como acontece na terra, esses direitos oferecem aos pescadores um incentivo para a pesca sustentável. Informações sobre produção pesqueira sustentável estão cada vez

cApÍtulo 4:

Oportunidades

para o

crescimento

sustentável

A agricultura, pesca,

silvicultura e o turismo

juntos representam, em

média,

15%

do PIB

da economia da ALC.

(23)

qUADRO 4.1

O vALOR DOS RECIFES

SAUDávEIS NO CARIBE

Uma avaliação feita por Burke e Maidens (2004) observou a diferença na produtividade entre um ecossistema de recife de coral saudável e conservado e um degradado no Caribe. A partir deste estudo, estimou-se que um recife saudável no Caribe é capaz de prover um rendimento pesqueiro máximo sustentável de quatro (4) toneladas de pescado por quilômetro quadrado por ano, enquanto que os recifes degradados conseguem prover apenas entre 0,7 a 0,9 toneladas por quilômetro quadrado por ano. Se a captura continuar nas taxas atuais e os recifes de corais continuarem a ser degradados, as estimativas sugerem que poderá haver um declínio de 30 a 40% no rendimento. Convertendo isso em dólares, os recifes saudáveis gerariam uma receita bruta estimada em US$ 625 milhões por ano, enquanto que a receita proveniente dos recifes degradados baixaria em US$ 190 milhões a US$ 250 milhões até 2015.

A renda gerada anualmente

por 80 milhões de visitantes

depende diretamente

da biodiversidade e dos

ecossistemas da região.

(24)

mais conhecidas. Este conhecimento, juntamente com melhorias nas técnicas e tecnologias de pesca, tornam os incentivos um último componente essencial para tornar sustentável a produção pesqueira (ver Blackman et al. 2012 para obter mais detalhes).

A conservação dos habitats dos peixes – o outro componente crítico - mantém os ecossistemas que sustentam o recrutamento dos estoques de peixes. A conservação e manutenção dos ecossistemas, incluindo recifes de corais e manguezais, podem ser relativamente baratas quando comparadas com as consequências da degradação. A gestão abrangente dos recursos pesqueiros significa melhor governança para os ecossistemas costeiros e marinhos. Isso requer gerenciar não somente o recurso econômico, ou seja, os peixes, mas também os ecossistemas que os cerca. Se os pescadores recebem incentivos para assegurar a produção sustentável e a proteção dos habitats dos estoques pesqueiros através de zonas

de exclusão de pesca e áreas marinhas protegidas, os estoques pesqueiros conseguem recuperar, manter os serviços ecossistêmicos e oferecer um fluxo sustentável de benefícios econômicos.

TURISMO

Com cerca de US$ 60 bilhões por ano, a receita proveniente do turismo tornou-se uma parte cada vez mais importante na economia da ALC. Turistas chegam de todas as partes do mundo para realizar atividades de mergulho nos recifes de corais, caminhar pelas florestas tropicais e desfrutar das praias, principalmente na América Central e no Caribe. A renda gerada a partir de uma média de 80 milhões de visitantes anuais depende diretamente da biodiversidade e dos ecossistemas da região (UNWTO, 2010; CTO, 2011). A ALC tem uma

oportunidade de sustentar essa fonte de crescimento econômico, incentivando o turismo que minimiza os

impactos ecológicos e que envolve as comunidades locais no gerenciamento do turismo.

Para as pequenas nações insulares em

desenvolvimento, como as do Caribe, o turismo costeiro é a principal atividade econômica, cultural e social , gerando US$ 15,1 bilhões em receita anual e contribuindo diretamente com 4,5% do PIB (World Travel Tourism Council, 2011). O turismo costeiro requer o desenvolvimento da costa e praias. Os recifes de corais, manguezais e outros ecossistemas costeiros e marinhos naturalmente protegem e estabilizam os sistemas terrestres que os cercam. No Caribe, por exemplo, os serviços de proteção da linha da costa que os recifes de corais proporcionam estão avaliados em até US$ 2,2 bilhões por ano (Ramsar, 2010).

qUADRO 4.2

BENEFíCIOS DA

BIODIvERSIDADE PARA

O TURISMO

A Costa Rica apresenta um ótimo exemplo de um país que capitalizou o turismo

como uma oportunidade econômica duradoura ao sustentar os elementos

que respaldam esta oportunidade, ou seja, a biodiversidade e os serviços

ecossistêmicos. Como resultado, a Costa Rica recebe quase dois milhões de

turistas que gastam uma média de US$ 1.000 por dia, um dos mais altos gastos

diários em turismo na ALC.

(25)

AGRICULTURA

A agricultura depende diretamente da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos, mas também pode ser uma importante fonte de degradação. Este dupla relação proporciona oportunidades no setor agrícola, tanto para os pequenos produtores de subsistência como para os fazendeiros privados de escala industrial. As oportunidades estão em sustentar a agrodiversidade para aprimorar a segurança alimentar, reformar a governança agrícola para contabilizar totalmente os benefícios dos ecossistemas e os custos da produção, e evitar custos desnecessários ao manter os serviços ecossistêmicos.

Com 28% da terra cultivável do mundo e um terço de seus recursos hídricos renováveis, a ALC se beneficiará com o aumento na demanda por alimentos no mundo. Esta oportunidade

de aproveitar ao máximo o seu potencial de

produtividade somente será atingida se as paisagens agrícolas forem gerenciados com eficácia. A ALC tem a chance para reformar as políticas agrícolas que levaram ao uso excessivo do solo, da água e dos fertilizantes químicos na expansão da fronteira agrícola. O crescimento econômico de longo prazo e a sustentabilidade no setor agrícola podem ser obtidos somente com um conjunto apropriado de instrumentos de políticas que mantenham os serviços ecossistêmicos e aprimorem o manejo da terra (Blackman et al., 2012).

Por exemplo, práticas agrícolas ecologicamente corretas, como o uso de fertilizantes naturais, cobertura do solo, cercas vivas, atividade agroflorestal e manutenção de matas ciliares, podem proteger os ecossistemas e a biodiversidade dos quais a agricultura depende e manter os rendimentos e produção (veja Blackman et al.

2012). Oferecer incentivos aos fazendeiros em todas as escalas, de privados a grupos indígenas, para aplicar essas práticas pode ser um autorreforço. Com o passar do tempo, os benefícios agrícolas podem ajudar a reduzir os custos e melhorar a produção. Por fim, manter a diversidade agrícola oferece uma oportunidade para reduzir os riscos no setor agrícola e sustentar a subsistência dos pobres (Heal, 2000; Jackson et al., 2007; Pascual e Perrings, 2007; Smale e Drucker, 2008). Nesse sentido, é especialmente importante o papel da agrobiodiversidade como “apólice” de seguro econômica e efetiva proporcionada aos pobres (Heal 2000; CBD, 2010). A ALC possui uma base agrícola rica e capaz de garantir alimentos e nutrição para a população crescente da região e os mercados internacionais.

qUADRO 4.3

BENEFíCIOS DA POLINIZAçãO

PARA OS CAFEICULTORES

De acordo com Ricketts et al (2004), na Costa Rica, o rendimento na produção

de café aumentou 20% e a qualidade melhorou nas fazendas localizadas a

menos de um quilômetro de distância de fragmentos florestais (46 hectares e

111 hectares de superfície). Estimou-se o valor dos serviços de polinização para

essas fazendas de café em US$ 60.000/ano de 2000 a 2003, representando

7% da renda dessas fazendas.

(26)

OPORTUNIDADE 2: RESPALDAR O

SUSTENTO DE vIDA E O BEM-ESTAR

Os ecossistemas e sua respectiva biodiversidade ajudam a sustentar os pobres ao oferecer a eles opções de sustento de vida e outras maneiras de manter o bem-estar. Estima-se que os serviços ecossistêmicos e outros bens não comercializados são responsáveis por 47% a 89% do chamado “PIB dos pobres”, ou seja, o PIB efetivo ou a fonte total de sustento das famílias pobres nas áreas rurais e de florestas (TEEB, 2010). Na ALC, 43% da população se classifica como pobre e 19% que vivem em pobreza extrema (UN, 2005). Além disso, de acordo com a Avaliação dos Ecossistemas do Milênio (2005), algumas vezes a degradação dos serviços ecossistêmicos é o principal fator que causa a pobreza — sendo essencial a preservação da biodiversidade para cumprir as metas de desenvolvimento do milênio.

Uma oportunidade importante para suportar a subsistência dos pobres inclui a criação e a manutenção de áreas protegidas e da biodiversidade contida nas mesmas. Os benefícios decorrentes das áreas protegidas incluem, mas não se limitam a alimentos, abrigo e empregos. Além de proteger o bem-estar do homem, observa-se que as áreas protegidas também reduzem o desmatamento e, portanto, conservam os ecossistemas nativos (Andam et al., 2008; Andam et al., 2010). Os povos indígenas, por exemplo, dependem muito das florestas como fonte de subsistência e geração de renda. Além disso, a qualidade de vida dos povos indígenas geralmente está correlacionada com a saúde e o bem-estar das terras florestais onde eles vivem.

A redução do risco é outro benefício social importante da proteção da biodiversidade,

particularmente entre os pobres. Em geral, os pobres são os menos capazes de se proteger contra as

ameaças naturais e os ecossistemas têm capacidade para oferecer essa proteção natural. Por exemplo, os manguezais oferecem uma proteção eficaz contra as ondas para as pessoas que vivem ao longo da costa. Um estudo mostrou que uma floresta de mangue de seis anos de idade e 1,5 km de largura tem capacidade para reduzir ondas marítimas em um metro de altura e ondas costeiras em até meio metro (Kathiresan e Rajendran, 2005). Os riscos na segurança alimentar também podem ser mitigados através de produtos florestais não madeireiros que oferecem proteção contra mudanças inesperadas nos rendimentos agrícolas. Isso tem um valor especialmente importante entre os segmentos mais pobres da Amazônia no Brasil (Pattanayak e Sills, 2001; Takasaki et al., 2002; CDB, 2010).

qUADRO 4.4

FLORESTAS COMO REDES

DE SUBSISTêNCIA

Em geral, as florestas também suportam os pobres. O Banco Mundial (2001)

estima que cerca de 25% dos pobres do mundo — e 90% da camada mais pobre

— dependem significativamente das florestas para sua subsistência (Bovarnick et

al., 2010). Além do mais, os produtos florestais não madeireiros (PFNM) podem

desempenhar um papel decisivo no apoio à subsistência dos pobres (Neumann e

hirsch, 2000; CBD, 2010), podendo evitar um declínio mais profundo para a pobreza

(Angelsen e Wunder, 2003; CBD, 2010). As cadeias de produção da castanha no

Brasil, Bolívia e Peru, por exemplo, oferecem emprego para 15.000 pessoas (FAO,

2009; Bovarnick et al., 2010), e as exportações da castanha estão avaliadas em US$

70 milhões por ano na Bolívia (CIFOR, 2008a; Bovarnick et al., 2010)

(27)

A Reserva da Biosfera Maia

emprega mais de

7000

pessoas na região do

Petén na Guatemala.

qUADRO 4.5

áREAS PROTEGIDAS PARA O

BENEFíCIO DOS POBRES

Ferraro e hanauer (2010) demonstraram que as áreas protegidas da Costa

Rica conseguiram obter ganhos ambientais nas áreas de elevada pobreza sem

agravar a pobreza e, em muitos casos, conseguem aliviá-la. O impacto líquido

da proteção dos ecossistemas nessas áreas foi amenizar a pobreza (Andam

et al., 2010). As áreas protegidas também podem ser uma fonte valiosa

de renda e emprego para as comunidades locais. Por exemplo, a Reserva

de Biosfera Maia emprega mais de 7.000 pessoas na região do Petén na

Guatemala, gerando uma renda anual de US$ 47 milhões. A reserva também foi

reconhecida por dobrar a renda familiar local (Dudley et al., 2008).

(28)

OPORTUNIDADE 3: PROPORCIONAR

SUPRIMENTOS E SERvIçOS

BáSICOS CONFIávEIS

Além de respaldar os setores produtivos e sustentar a subsistência, a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos oferecem oportunidades para o suprimento confiável de serviços básicos, como energia e água, dos quais as pessoas dependem.

PRODUçãO DE ENERGIA

Até 2030, espera-se que a demanda por energia na ALC aumente em 50% (Moreno, 2011). Os ecossistemas, se administrados de maneira apropriada, têm capacidade para atender a essa demanda. Por exemplo, as inúmeras bacias hidrográficas da região podem ser uma fonte de energia hidrelétrica ao fornecer fluxos de água confiáveis e de qualidade para a produção de energia. A vida útil das represas hidrelétricas depende dos baixos níveis de sedimentos na água. A sedimentação nos reservatórios está diretamente associada com as taxas de erosão nas bacias

de captação acima da represa, e a remoção de sedimentos já depositados nos reservatórios é um processo oneroso.

áGUA POTávEL

Espera-se que o consumo de água na região aumente em 25% até 2030 — uma demanda que precisará ser atendida através de serviços fornecidos pelas florestas, zonas úmidas e outros ecossistemas. Regimes imprevisíveis de descargas de água, combinados com águas extremamente poluídas, podem causar doenças e escassez de água, podendo aumentar os custos para os provedores de água. Assim como as empresas hidrelétricas, os serviços públicos de água potável precisam manter os reservatórios limpos, com custos de dragagem igualmente proibitivos. Manter a função dos ecossistemas através da preservação da biodiversidade pode reduzir tais custos, ao mesmo tempo em que oferece um mecanismo de purificação natural para outros produtos químicos e nutrientes, e ajuda estabilizar o regime de escoamento dentro da bacia hidrográfica.

qUADRO 4.6

ECONOMIAS ATRAvÉS DA

PROTEçãO DAS BACIAS

Na bacia hidrográfica Reventazon na Costa Rica, gasta-se mais de US$ 2

milhões por ano para remover apenas parcialmente os sedimentos e fornecer

energia através de fontes alternativas durante a remoção dos sedimentos.

Para entender a importante economia obtida com a conservação de bacias, um

estudo de modelagem estimou os benefícios de práticas de conservação do solo

em áreas de alta prioridade. Com a realização de tais práticas, observou-se uma

redução de 97% na erosão, resultando numa economia de US$1 milhão por ano

para a empresa de energia hidrelétrica. Além disso, os fazendeiros dessas áreas

observaram solos mais férteis (Bovarnick et al., 2010).

Até 2030, espera-se que

a demanda por energia na

ALC aumente em

50%

.

(29)

qUADRO 4.7

CONSERvAçãO DE BACIAS

hIDROGRáFICAS PARA

CONFIABILIDADE E MENORES

CUSTOS DE ABASTECIMENTO

DE áGUA

O BID fez uma parceria com o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), a

Fundação FEMSA e a The Nature Conservancy com a finalidade de lançar 32

projetos de “fundos de água” em toda a ALC (Regional Policy Dialogue, 2012).

Os fundos de água são modelos financeiros construídos com a premissa de que

por medidas de conservação, como melhor gerenciamento agrícola, restauração

da manta vegetal e mais proteção dos parques nacionais, com a finalidade

de manter o abastecimento previsível de água do que pagar por grandes

reservatórios, que exigem limpeza e dragagens regulares.

Ou seja, os usuários podem poupar ao investir na natureza para o

abastecimento de fluxos regulares de água limpa em vez de usar tecnologia

para limpar e tratar águas extremamente poluídas. Uma análise dos impactos

relacionados com a água revelou que os cursos d’água com investimentos pelo

fundo de água apresentam uma maior integridade ecológica, melhor qualidade

dos habitats aquáticos e de ribeirinhos, menos erosão, maior diversidade de

macroinvertebrados e uma temperatura mais equilibrada do que os cursos

d’água sem investimentos de tais fundos (Encalada, Ibarra e de la Paz, 2011).

(30)

OPORTUNIDADE 4: EqUILIBRAR

INFRAESTRUTURA, INDúSTRIA

E BIODIvERSIDADE

O crescimento econômico geralmente requer compromissos e sacrifícios. Setores importantes para a economia da ALC, como a mineração, petróleo e gás e transporte, geralmente oferecem o respaldo necessário para o desenvolvimento econômico. Considere, por exemplo, as iniciativas regionais de infraestrutura para criar corredores de transporte que darão vazão ao crescimento contínuo na ALC. Projetos como estes geralmente vêm à custa da biodiversidade, que impõem conflitos para outros setores e pessoas; por exemplo, desmatar uma floresta para uma rodovia significa degradar os recursos dos quais as comunidades do entorno dependem. Os países têm uma oportunidade de agregar valor a projetos como este ao garantir melhores práticas de conservação da biodiversidade mais além da abordagem de “não causar dano” para mitigação dos impactos.

Uma análise de diversos projetos de infraestrutura, inclusive projetos de rodovias, gasodutos, represas hidroelétricas e abastecimento de água, mostra que estes projetos geraram benefícios positivos na biodiversidade ao não apenas minimizar e evitar impactos, mas ao compensá-los através da preservação de outras áreas críticas ou do fortalecimento da gestão de áreas protegidas existentes (Quintero 2007). O BID também trabalhou

em diversos projetos, como o projeto do Acre no Brasil (ver Anexo 1), que reconhecem a importância de manter a biodiversidade no futuro e fornecer mecanismos para a conservação dos ecossistemas ao mesmo tempo que adotam medidas importantes para o desenvolvimento. Da mesma maneira, o BID trabalhou com o Smithsonian Institute na abordagem de “sem rodovias” do projeto de Camisea (Peru) visando minimizar os impactos na biodiversidade (ver exemplo no Capítulo 5).

Estão sendo elaboradas ferramentas de suporte a decisões que permitirão a tomada de melhores decisões ao fornecer informações sobre a biodiversidade definidas espacialmente para aprimorar o processo de emissão de licenças e concessões para projetos de infraestrutura, minimizando os respectivos impactos sobre a biodiversidade. Entender a distribuição da biodiversidade e as áreas de alta prioridade de preservação pode ajudar os países a capitalizar a oportunidade de minimizar e evitar impactos sobre os ecossistemas inerentes em muitos projetos de infraestrutura, proporcionando meios para garantir a compensação adequada para os impactos que ocorrem. Igualmente importante é coordenar e simplificar os mecanismos para levar em conta os serviços ecossistêmicos de maneira qualitativa e quantitativa.

Referências

Documentos relacionados

No sentido de reverter tal situação, a realização deste trabalho elaborado na disciplina de Prática enquanto Componente Curricular V (PeCC V), buscou proporcionar as

Para esse fim, analisou, além do EVTEA, os Termos de Referência (TR) do EVTEA e do EIA da Ferrogrão, o manual para elaboração de EVTEA da empresa pública Valec –

Requiring a realignment of the EVTEA with its ToR, fine-tuning it to include the most relevant socio-environmental components and robust methodologies for assessing Ferrogrão’s impact

• A falta de registro do imóvel no CAR gera multa, impossibilidade de contar Áreas de Preservação Permanente (APP) na Reserva Legal (RL), restrição ao crédito agrícola em 2018

• Não garantir condições dignas e saudáveis para os trabalhadores pode gerar graves consequências para o empregador, inclusive ser enquadrado como condições análogas ao

• A falta de registro do imóvel no CAR gera multa, impossibilidade de contar Áreas de Preservação Permanente (APP) na Reserva Legal (RL), restrição ao crédito agrícola em 2018

• É necessário realizar o pagamento do ITR pelo seu fato gerador: deter propriedade, domínio útil ou posse de imóvel rural.. • O não pagamento do imposto gera cobrança do

Isto causa vários impactos (ex.: não conseguir tomar crédito rural, não conseguir concluir a inscrição no CAR, realizar atos no INCRA, transmissão do imóvel, etc.)?.