• Nenhum resultado encontrado

stf.empauta.com STF jamais puniu um parlamentar O PAÍS algum político.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "stf.empauta.com STF jamais puniu um parlamentar O PAÍS algum político."

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

stf.empauta.com

Brasília, 18 de março de 2007 O Globo - Rio de Janeiro/RJ STF

STF jamais puniu um parlamentar

O PAÍS

Ailton de Freitas

JOAQUIM BARBOSA: "Há obstáculos intransponíveis. E o principal é o foro privilegiado"

IMPUNIDADE

Congestionamento de processos beneficiaria in-vestigados, que têm for privilegiado

Alan Gripp e Carolina Brígido

BRASÍLIA O retrospecto da principal corte do país é um alívio para as dezenas de parlamentares que de-vem explicações à Justiça. No Supremo Tribunal Federal(STF), eles permanecem invictos - jamais houve uma condenação. Geralmente discretos ao fa-larem de assuntos que envolvam representantes de outros poderes, osministros do Supremocomeçam a externar cada vez mais essa preocupação. Para eles, a impunidade de autoridades tem sido alimentada pe-loforo privilegiado,direito dado a deputados e se-nadores de serem julgados na corte mais alta do país,

algum político.

- Há obstáculos intransponíveis. E o principal é o

foro privilegiado - diz o ministro Joaquim Bar-bosa,que faz uma revelação desanimadora: - Estou há quatro anos noSupremo Tribunal Federale não vi chegar ao fim nenhuma ação penal ( contra par-lamentares) .

Nem todos os ministros e juristas consagrados são contrários aoforo privilegiado.Mas a maioria con-corda que, com o congestionamento de processos, poucas ações penais chegarão ao fim. Ou, se che-garem, podem já não valer de nada porque os crimes já estariam prescritos, com o esgotamento do prazo para punir o réu. Hoje, cadaministro do Supremo re-cebe, em média, dez mil ações por ano, que vão de bri-gas de vizinhos não resolvidas em acordos até processos complexos, como o que julga os 40 per-sonagens denunciados pelo Ministério Público pelo escândalo do mensalão.

Um levantamento feito pelo próprio Supremo re-velou que, nos últimos dez anos, o tribunal concluiu apenas 20 ações criminais envolvendo políticos. En-tre os processos que chegaram ao desfecho, 13 já es-tavam prescritos. Nos outros sete, os acusados foram absolvidos.

Processo de Cunha Lima já leva 12 anos

Um dos casos mais emblemáticos é o do deputado Ronaldo Cunha Lima ( PSDB-PB) , ex-governador da Paraíba. Em 1993, ele disparou dois tiros contra um adversário político, Tarcísio Buriti, dentro de um restaurante em João Pessoa. Até hoje, o processo por tentativa de homicídio, que chegou ao Supremo dois anos depois, se arrasta. A investigação ficou parada por cinco anos porque o tribunal aguardava uma au-torização do Senado para seguir adiante - regra que não está mais em vigor.

(2)

Com tantos obstáculos, a denúncia só foi aceita em agosto de 2002, quando finalmente o inquérito se transformou em um processo. Não parou por aí. Só quatro meses depois o tribunal conseguiu tomar o de-poimento do réu, primeiro ato do processo criminal. Até hoje, oSTFestá ouvindo testemunhas de defesa, tendo que acionar varas daJustiça Federalem di-versos estados para localizar as pessoas indicadas pe-la defesa de Ronaldo Cunha Lima.

Protagonista de escândalos que o obrigaram a re-nunciar ao mandato de senador para fugir do risco de cassação, o hoje deputado Jader Barbalho ( PM-DB-PA) responde atualmente a três ações penais. Seu caso é um exemplo de como oforo privilegiado

pode retardar o fim de um processo. Em 2002, antes de se reeleger e recuperar o direito ao foro pri-vilegiado, Jader foi denunciado por evasão de di-visas. Eleito, o caso subiu para oSTF.O deputado tentou anular a denúncia, mas a presidente do tri-bunal,Ellen Gracie,não aceitou o pedido. A ação se arrasta em meio a diversos recursos de advogados do deputado.

A incapacidade da principal corte brasileira para pu-nir já é conhecida no exterior. Este mês, o promotor de Justiça de Nova York, Robert Morgenthau, que in-diciou o deputado Paulo Maluf ( PP-SP) pelo desvio de US$ 11, 6 milhões para um banco americano, se mostrou desanimado com o provável desfecho da ação.

- Como deputado, seu caso irá para aSuprema Cor-te, e nenhum deputado jamais foi condenado pela

Suprema Corteno Brasil - disse ele.

gar-se em tempo hábil ao desfecho dos processos. Nesses 17 anos de tribunal, não me lembro de ne-nhuma uma ação em que tenha havido condenação do acusado - diz ele, lembrando que o último caso concluído foi o do ex-presidente Fernando Collor, ab-solvido pelos ministros.

O ex-procurador-geral da República Claudio Fon-telescondena oforo privilegiadopara autoridades. Em especial, no caso doSTF.Ele acredita que os mi-nistros da corte estão preparados para debater teses jurídicas constitucionais, mas não para conduzir in-vestigações que envolvam colher depoimentos de tes-temunhas e examinar provas documentais.

Fonteles ressalta que, com a extensão do foro

pri-vilegiado para autoridades em ações de

improbidade administrativa,o tribunal ficou ainda mais abarrotado e, portanto, as conclusões dos pro-cessos ficaram mais improváveis. Fonteles atua no

STFhá mais de duas décadas e diz também não se lembrar de nenhuma condenação imposta pelo tribunal.

- Em um sistema autenticamente republicano e de-mocrático, não há espaço para oforo privilegiado.O

ministro do STFnão é cacifado para fazer toda essa garimpagem em torno dos fatos. O papel dele é dar definições sobre o direito. Investigação é tarefa para

juízesde primeira e segunda instâncias - diz. Os novos parlamentares ( 263) que respondem por crimes na Justiça conquistaram oforo privilegiado

ao serem diplomados no cargo no ano passado, após as eleições.

(3)

Um STF para 700 autoridades

O PAÍS Muito trabalho também noSuperior Tribunal de Justiça,que processa governadores

BRASÍLIA. A legislação em vigor dá a mais de 700 autoridades dos três poderes o direito de somente se-rem investigadas e processadas no Supremo Tri-bunal Federal ( STF) . São eles o presidente e o vice-presidente da República, os atuais 34 ministros do governo, 81 senadores, 513 deputados, além dos ministros do próprio Supremo, do Tribunal Su-perior do Trabalho(TST), doTribunal Superior Eleitoral(TSE)e doSuperior Tribunal de Justiça.

Já os 27 governadores dos estados e do Distrito Fe-deral só podem ser processados noSTJ,que enfrenta igual dificuldade com a alta carga de trabalho. Também têm foro noSTJdesembargadores de Jus-tiça e dos tribunais de contas ( TCEs) ,tribunais

re-gionais federais ( TRFs, segunda instância da

Justiça Federal), tribunais regionais eleitorais ( TREs) etribunais regionaisdo Trabalho ( TRTs) . Já juízes e integrantes do Ministério Público da União têm foro especial nos tribunais regionais federais.

Apesar de juristas de renome condenarem oforo pri-vilegiado, deputados planejam estendêlo a ex-au-toridades. Isso derramaria uma enxurrada de processos ainda não calculados sobre o já con-gestionado STF. Semana passada, o projeto foi defendido pelo presidente da Câmara, Arlindo

Chi-naglia ( PT-SP) . O projeto tenta recuperar um benefício assegurado por lei sancionada pelo ex-pre-sidente Fernando Henrique Cardoso no último mês de seu segundo mandato. A lei foi anulada peloSTF.

O novo projeto já foi aprovado no Senado e está pron-to para ir à votação no plenário da Câmara dos De-putados desde o final do ano passado. Chinaglia, que, na época do governo Fernando Henrique, se opôs jun-to com outros petistas à proposta, agora já dá sinais de que mudou de opinião.

Mas a idéia de darforo privilegiadoa ex-autoridades é considerada trágica pelo ministro do STF Joaquim Barbosa.Para ele, isso condenaria a Lei da Improbidade .

Prefeitos e vereadores também têm direito a foro privilegiado.

No caso deles, os processos criminais tramitam em órgãos especiais dos Tribunais de Justiça dos estados.

Pela regra atual, quando uma autoridade deixa o car-go ou mandato, o processo que tramita contra ela no

foro especialvolta a tramitar na primeira instância. Caso a pessoa reconquiste o direito ao foro, o pro-cesso volta mais uma vez à corte que julga au-toridades, o que pode atrasar ainda mais a tramitação da ação ou inquérito.

(4)

'Foro privilegiado agrava a situação'

O PAÍS

As pilhas intermináveis de processos espalhados pe-lo gabinete doministro Joaquim Barbosao ajudam a explicar por que são raros os processos contra au-toridades que chegam ao fim. Instigado, ele evita ci-tar o nome dos políticos que já se beneficiaram do congestionamento de ações penais noSTF.Mas não se furta em dizer que, ao manter oforo privilegiado,

muitos investigados estão pensando em se beneficiar da lentidão da Justiça. "É uma tentativa de obter essa incapacidade através da asfixia dos tribunais", diz.

O GLOBO: O que o senhor achou da declaração do promotor de Nova York?

JOAQUIM BARBOSA:Lamento o fato de que já

tenha chegado a autoridades internacionais a cons-tatação da incapacidade brasileira de punir seus di-rigentes. Para o Brasil, que mudou de patamar na percepção internacional, é lamentável ver que nesse campo estamos atrasados. Isso é um fato. Estou há quatro anos noSupremo Tribunal Federale não vi chegar ao fim nenhuma ação penal.

Por que isso acontece?

JOAQUIM BARBOSA:Há obstáculos estruturais

intransponíveis que levam a essa incapacidade de pu-nir. O principal é oforo privilegiado,que é uma ten-tativa de obter essa incapacidade através da asfixia dos tribunais. Os órgãos estão abarrotados de trabalho.

Qual é a conseqüência disso?

JOAQUIM BARBOSA:A realidade é muito grave.

Um exemplo de como isso é dramático são as de-zenas de casos urgentes de pessoas que estão presas aguardando o julgamento de extradição para outros países. Em 2005, só em relação ao governo alemão, eu decretei 16 prisões. Já passaram dois anos, e não consegui julgar nem três casos dehabeas corpus. Como resolver?

JOAQUIM BARBOSA:Oforo privilegiado

agra-va muito essa situação. Seria mais eficaz se ( po-líticos) fossem julgados na Justiça de primeira instância. Os tribunais superiores não têm vocação para julgar crimes, não têm estrutura para ouvir di-versas testemunhas para cada caso. Hoje, a maioria dos processos que são arquivados são por prescrição.

O que acontecerá se ex-autoridades também con-quistarem o direito aoforo privilegiado?

JOAQUIM BARBOSA:Será um desastre, um

gran-de retrocesso. A lei da improbidagran-de vem rengran-dendo bons frutos, diversos prefeitos perderam os seus car-gos em função de irregularidades cometidas. O que vai acontecer é que essa lei vai ser neutralizada, será reduzida a pó. Só em Minas Gerais há mais de 700 municípios, todos os casos seriam transferidos para o

Tribunal de Justiça,onde há apenas um procurador -geral.

(5)

Quem tem foro privilegiado

O PAÍS

NOSUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Presidente da República e vice 34 ministros de governo 81 senadores

513 deputados

Ministros doTST, TSEeSTJ

NOSUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

27 governadores

Desembargadores de Justiça

Desembargadores dos TCEs,TRFs,TREs e TRTs

NOSTRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS

Juízes federaise integrantes do Ministério Público da União

AÇÕES PENAIS EM ANDAMENTO

Atualmente, cerca de 100 deputados e senadores res-pondem a ações penais na Justiça, sendo 55 reeleitos. O número pode ser maior, já que os processos dos no-vos deputados ainda estão espalhados por tribunais de todo o país. Eles serão enviados nos próximos dias para o Supremo.

Referências

Documentos relacionados

A proposição desse trabalho é avaliar a desadaptação marginal de estruturas metálicas sobre pilares estheticone para PPF de três elementos com cilindros fundidos em titânio e

STF abre processo e Cunha vira 1º parlamentar réu na Lava Jato Por dez votos a zero, o STF (Supremo Tribunal Federal) concluiu nesta quinta-feira (3) o julgamento que decidiu

14 de fevereiro - O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, restabeleceu decisão anterior do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ/AM) que

udj jeêcg}o ~jpxgmucjpdoexo udj jeêcg}o ~jpxgmucjpdoexo ~pfauehj% Ho ajxf# ejzuocj ~pfauehj% Ho ajxf# ejzuocj po}~f}xj afpjd pomfphjhj} po}~f}xj afpjd pomfphjhj} qophjho} auehjdoexjg}

tricotomia e limpeza da pele. Durante o período trans-cirúrgico, o quarto do paciente deverá estar pronto para recebê-lo, equipado com materiais suficientes como: suporte de soro

Parágrafo Primeiro: Apurar os créditos remanescentes dos cartões bloqueados, no prazo máximo de 02 (dois) dias úteis após o prazo estabelecido no caput desta cláusula, ficando

Trata-se de pesquisa desenvolvida com o objetivo de analisar a competência originária penal, ou seja, foro privilegiado no âmbito do Supremo Tribunal Federal, fazendo uma

O julgamento do polêmico “mensalão”, a Ação Penal (AP) 470 pelo Supremo Tribunal Federal (STF) teve relevância não apenas no contexto interno nacional,