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Paraparésia espástica hereditária tipo 72: descrição da 1ª família portuguesa com hereditariedade autossómica dominante

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Academic year: 2021

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Paraparésia espástica hereditária tipo 72: descrição

da 1ª família portuguesa com hereditariedade

autossómica dominante

Mestrado Integrado em Medicina

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade

do Porto

Estudante: Mariana Azevedo Cabral mariana_cabral2@hotmail.com

Orientadora: Joana Catarina Damásio Correia dos Santos

Serviço de Neurologia, Hospital de Santo António, Centro Hospitalar do Porto Coorientador: Manuel Jorge Pereira Maia Correia

Serviço de Neurologia, Hospital de Santo António, Centro Hospitalar do Porto Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto

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i

Agradecimentos

Um agradecimento à Dr.ª Joana Damásio pelo seu papel como orientadora, trabalho e dedicação ao longo de todo este percurso.

Um agradecimento ao Professor Doutor Manuel Correia pelo seu papel como coorientador e apoio no âmbito deste trabalho.

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ii Resumo

Introdução: As paraparésias espásticas hereditárias correspondem a um grupo raro e

heterogéneo de doenças neurológicas, caracterizado por uma síndrome piramidal progressiva. A paraparésia espástica hereditária tipo 72 associa-se a mutações no gene que codifica a receptor expression-enhancing protein 2 (REEP2). Esta é uma proteína moduladora da estrutura do retículo endoplasmático, interferindo na função e manutenção dos axónios. Do ponto de vista clínico corresponde a uma paraparésia espástica pura, estando descritas famílias com hereditariedade recessiva e uma com hereditariedade dominante.

Objetivos: Descrição da primeira família portuguesa com paraparésia espástica hereditária tipo

72, com hereditariedade autossómica dominante, incluindo (1) descrição da mutação identificada e análise da patogenicidade; (2) descrição das características clínicas, incluindo idade de início, sintomas não piramidais, e progressão da doença, (3) estudo do impacto da doença; (4) estudo de família e análise de familiares em risco; (5) análise da relação genótipo-fenótipo; (6) correlação entre idade de início e progressão da doença; (7) comparação com outras famílias descritas.

Métodos e Materiais: (1) Observação dos doentes através de um protocolo estruturado; (2)

Revisão do processo clínico, incluindo exames complementares de diagnóstico.

Resultados: Identificou-se uma família com paraparésia espástica hereditária tipo 72, em que três

elementos foram observados. Em dois a forma de apresentação foi um atraso do desenvolvimento motor, no terceiro alteração da marcha de início pelos 50 anos. Com 28,7±9,7 anos de evolução todos apresentavam uma síndrome piramidal de predomínio nos membros inferiores com marcha autónoma. Um doente cada apresentava ainda diminuição da sensibilidade vibratória a nível do hálux, espasmos e cãibras dos membros inferiores e pes cavus. A ressonância magnética do neuroeixo e eletromiografia não revelaram alterações de relevo. Todos eram heterozigóticos para a mutação p.Met40Arg (c.119T>G, exão 3) no gene REEP2.

Conclusões: Descrevemos a segunda família com paraparésia espástica hereditária tipo 72 de

hereditariedade autossómica dominante, primeira em Portugal. Verificou-se a possibilidade de um início tardio da doença, assim como aparente antecipação da idade de início e gravidade.

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iii Abstract

Introduction: Hereditary spastic paraplegia represents a heterogenous group of rare neurological

disorders, with progressive pyramidal syndrome. Hereditary spastic paraplegia type 72 is associated with mutations in the gene encoding the receptor expression-enhancing protein 2 (REEP2). This protein defines the shape of the endoplasmic reticulum. Therefore, mutations in this gene may interfere in the function and maintenance of the axons. From a clinical point of view, it corresponds to a pure spastic paraplegia, and there have been described cases with autosomal dominant and recessive inheritance.

Objectives: Description of the first portuguese family with hereditary spastic paraplegia type 72,

with autosomal dominant inheritance, including (1) Description of the identified mutation and pathogenicity analysis; (2) Description of clinical characteristics, including age at onset, non-pyramidal symptoms, and evolution; (3) Study of the impact of the disease; (4) Analysis of family members at risk; (5) Analysis of the genotype-phenotype correlations; (6) Correlation between age at onset and progression of the disease; (7) Comparison with other families described.

Methods and Materials: (1) Patient evaluation through a structured protocol; (2) Review of the

clinical process, including diagnostic tests.

Results: We identified a family with hereditary spastic paraplegia type 72, in which three patients

were observed. In two patients the onset was characterized by delayed motor development, and in the third by gait impairment. Only one of these patients had late onset, around the age of 50. After 28.7 ± 9.7 years of disease, all presented a pyramidal syndrome predominantly in the lower limbs but could still walk unaided. One patient each also had decreased vibration sense of the hallux, spasms and cramps of the lower limbs and pes cavus. Magnetic resonance imaging of the neuroaxis and electromyography did not show significant changes. All of them were heterozygous for the p.Met40Arg (c.119T>G, exon 3) mutation of the REEP2 gene .

Conclusions: We described the second family with hereditary spastic paraplegia type 72 of

autosomal dominant inheritance, first in Portugal. This family demonstrated the possibility of a late onset of the disorder, as well as apparent anticipation of age at onset and severity.

Key-words MeSH: Spastic, Paraplegia; Nervous System Diseases/genetics/physiopathology;

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iv Lista de abreviaturas e siglas

AD- Autossómica dominante AR- Autossómica recessiva

CHUP- Centro Hospitalar Universitário do Porto DNA- Ácido desoxirribonucléico

EMG- Eletromiografia

HIV- Vírus da imunodeficiência humana

HTLV-1- Vírus lintrofotrópico de células T humanas tipo 1 MI- Membros inferiores

MS- Membros superiores

PEH- Paraparésia espástica hereditária

PEH 72- Paraparésia espástica hereditária tipo 72 RE- Retículo endoplasmático

REEP2- Receptor expression-enhancing protein 2 RMN- Ressonância magnética

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v ÍNDICE INTRODUÇÃO ... 1 História ... 1 Prevalência ... 1 Fisiopatologia ... 2 Neuropatologia ... 2 Classificação ... 3 Clínica ... 3 Diagnóstico ... 3 Tratamento e prognóstico ... 5 OBJETIVOS ... 6 MATERIAIS E MÉTODOS ... 6 RESULTADOS ... 7 DISCUSSÃO ... 11 CONCLUSÃO ... 17 ANEXOS ... 18

A- Inquérito Aplicado em Consulta sobre sintomatologia e dados clínicos relevantes para estudo da PEH ... 18

B- Parecer do Conselho de Administração do CHUP ... 21

C- Consentimento Informado ... 24

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vi

Lista de tabelas

Tabela I. Diagnóstico Diferencial de PEH ... 25

Tabela II. Características imagiológicas sugestivas de tipos de PEH específicos... 27

Tabela III. Genes incluídos em multigene panels para a PEH ... 28

Tabela IV. Escala de Espasticidade Muscular de Ashworth ... 29

Tabela V. Escala do Medical Research Council para Força Muscular ... 30

Tabela VI. Análise da descrição de casos clínicos de PEH 72 presentes na literatura... 31

(10)

vii

Lista de imagens

Figura 1. Genograma da família com PEH 72 descrita ... 34 Figura 2. RMN do doente índex ... 35 Figura 3. RMN da doente C ... 36

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1 INTRODUÇÃO

As paraparésias espásticas hereditárias (PEH) são um grupo heterogéneo de doenças neurológicas, que surgem na sequência de uma axonopatia comprimento dependente com atingimento preferencial do primeiro neurónio motor. Caracterizam-se por uma síndrome piramidal progressiva com atingimento inicial e preferencial dos membros inferiores (MI), com défice motor, espasticidade, hiperreflexia osteotendinosa e sinal de Babinski. As PEH estão entre as doenças neurológicas com maior variabilidade genética, com mais de 70 loci e aproximadamente 60 genes identificados.1-3 Os tipos de hereditariedade descritos incluem

autossómica dominante (AD), autossómica recessiva (AR), ligada ao X e mitocondrial. A idade de início é muito variável, desde a infância precoce até à oitava década de vida.4, 5

A paraparésia espástica hereditária tipo 72 (PEH 72), associada a variantes patogénicas no gene REEP2, foi descrita em 2014, e tem dezassete doentes identificados até à data. Foram identificadas famílias com formas AD, AR e mutações de novo.2, 6-8

No presente estudo é descrita a segunda família, primeira em Portugal, com PEH 72 e hereditariedade AD.

História

Entre 1876 e 1898, Seeligmüller, Strümpell e Lorrain descreveram famílias com uma doença progressiva, de hereditariedade dominante, caracterizada por paraparésia, espasticidade, moderada disfunção vesico-esfincteriana e alteração das sensibilidades profundas. Para além da descrição clínica apresentaram estudos neuropatológicos com evidência de degeneração dos axónios mais longos dos tratos corticoespinais e cordões posteriores da medula.3

Prevalência

Os dados epidemiológicos sobre PEH em Portugal foram conhecidos através do estudo de base populacional liderado pela Professora Paula Coutinho ao longo de uma década. A prevalência verificada foi de 4,1/100.000, sendo 2,4 /100.000 para as formas dominantes e 1,6/100.000 para as recessivas.9 Nas formas AD, os tipos mais comuns foram: PEH 4 (0,91/100.000), PEH 3

(0,14/100.000) e PEH 31 (0.02/100.000). Nas recessivas, a PEH 11 foi a mais frequente (0,26/100.000), seguida da PEH 15 (0,03/100.000), PEH 32 (0,03/100.000) e PEH 5 (0,02/100.000).9 Em 66,7% das famílias AD e 82,3% das recessivas não foi identificada uma

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2 variante patogénica.9 A nível global a prevalência estimada das PEH é de 3-9 por 100.000

habitantes, variando de acordo com estudos e áreas geográficas. Nas formas dominantes, tal como em Portugal, os tipos mais comuns correspondem à PEH 4 (40%), PEH 3 (10%) e PEH 31 (4,5%); nas recessivas a PEH 11 é a mais frequente, representando cerca de 20% dos casos.4, 10-14

As novas técnicas de diagnóstico em genética têm permitido aumentar a capacidade diagnóstica nas PEH. Em 98 famílias do rastreio em que não se identificou uma alteração genética na abordagem inicial, a next generation sequencing (NGS) recorrendo a um painel que incluiu o REEP2, não identificou variantes patogénicas em nenhum doente.15 Estima-se, assim, que a PEH

72 seja uma patologia com baixa prevalência.

Fisiopatologia

As PEH são caracterizadas por uma axonopatia distal, com degeneração retrógrada, comprimento dependente que atinge preferencialmente as vias neurológicas mais longas: corticoespinal, fascículo gracillis e espinocerebelosas.1 Os mecanismos patogénicos envolvidos incluem

morfogénese do retículo endoplasmático (RE), transporte axonal e membranar, reparação de ácido desoxirribonucleico (DNA), autofagia, modulação da membrana do RE, metabolismo lipídico, função mitocondrial, dinâmica dos microtúbulos, metabolismo dos nucleótidos e vias de degradação e tráfego membranar endolisossomal. Produtos anormais de diferentes genes interagem numa cascata bioquímica resultando em padrões semelhantes de degeneração neuronal.1-4, 8, 13, 14, 16-18

Neuropatologia

Estudos neuropatológicos têm demonstrado degeneração axonal retrógrada, envolvendo preferencialmente as fibras medulares de maior comprimento, não dependente do diâmetro.4, 11,

16, 17, 19-22 Paralelamente pode ocorrer desmielinização secundária das fibras atingidas.4, 16 Em

doentes com fenótipos complexos foram ainda identificadas alterações da substância branca, atrofia do corpo caloso e gânglios da base e perda de pigmentação na substância nigra.17, 23

(13)

3 Classificação

As PEH podem ser classificadas de acordo com o fenótipo, modo de transmissão ou gene mutado, num sistema de classificação que não é mutuamente exclusivo.11 Clinicamente são subdivididas

em formas puras e complexas de acordo com a ausência ou presença de outras características neurológicas ou extra-neurológicas para além da síndrome piramidal.11, 22, 24 A classificação

genética organiza-as em números (PEH 1… PEH 79), que vão sendo atribuídos de acordo com a descrição do locus/ gene envolvido. A PEH 72 corresponde a uma forma pura e de início precoce com hereditariedade AD e AR.16

Clínica

A idade de início (primeiro ano até à oitava década de vida), progressão e incapacidade são variáveis dentro e entre diferentes tipos de PEH. A idade de início tende a ser tardia nas formas dominantes, e precoce nas recessivas.16, 25, 26 A ocorrência de antecipação de idade de início é

muito rara, ocorrendo frequentemente variabilidade fenotípica intra e inter famílias portadoras da mesma mutação.11, 19, 20, 27

A maioria das formas puras, tal como a PEH 72, são AD enquanto que as formas complexas são habitualmente AR.3, 5, 17, 28 Para além da síndrome piramidal admitem-se nas formas puras

atingimento das sensibilidades profundas e alterações vesico-esfincterianas (urgência com progressão para incontinência urinária).3, 11, 13, 19, 27, 29, 30 Nas formas complexas, entre outros,

podem estar presentes atraso/regressão cognitiva, epilepsia, doenças do movimento, polineuropatia, sinais extra-piramidais, sinais cerebelosos, entre outros.1, 3-5, 11, 13, 17, 25, 31, 32

Desde o início da sintomatologia, e mesmo após vários anos de duração de doença, a espasticidade predomina sobre a paraparésia. O doente apresenta uma marcha espástica, em circundação, com quedas frequentes devido à dificuldade na dorsiflexão do pé e flexão da anca.5, 33 A dificuldade de marcha em passo rápido e o desgaste anormal do bordo lateral dos sapatos

são também queixas frequentes. A alteração da marcha varia desde formas subtis, com marcha em pontas de pés ou tesoura, até formas graves com dependência de cadeira de rodas.3, 5, 10, 11, 19,

24, 27, 29, 30, 34

Diagnóstico

(14)

4 (1) Observação clínica

Cada doente deverá ser submetido a uma avaliação neurológica, em que para além do diagnóstico clínico serão excluídas outras causas de paraparésia espástica.5, 13, 17

(2) Presença de história familiar

A realização de uma história familiar detalhada é fundamental, sendo muitas vezes necessária a observação de outros familiares. No entanto, a sua aparente ausência não deverá excluir o diagnóstico de PEH uma vez que podem existir familiares com formas ligeiras, falsas paternidades, formas recessivas e mutações de novo.5, 11

(3) Exames complementares de diagnóstico

O diagnóstico de PEH em famílias com vários membros afetados e sintomatologia típica é relativamente linear.3 No caso de um fenótipo clássico com início na infância e história familiar

positiva a investigação adicional poderá incluir ressonância magnética (RMN) e eletromiografia (EMG), para além dos estudos genéticos.3, 35, 36 Em doentes com fenótipo ou idade de início

atípicas e sem história familiar, será necessária investigação diagnóstica adicional (ver tabela I).3

A RMN do neuroeixo é importante na exclusão de diagnósticos diferenciais como lesões neoplásicas ou doenças desmielinizantes, mas também na caracterização do padrão de atrofia ou alteração de sinal que muitas vezes é crucial na orientação da investigação genética (ver tabela

II).1, 3, 5, 11, 16, 37 A eletromiografia é fundamental na suspeita de envolvimento do sistema nervoso

periférico.11, 16 Do ponto de vista sérico, em doentes “atípicos” são frequentemente realizados

hemograma, bioquímica com função hepática e tiroideia, doseamento de ácido fólico, cobre e ceruloplasmina, vitaminas B12 e E, estudos serológicos para o vírus lintrofotrópico de células T humanas tipo 1 (HTLV-1), vírus da imunodeficiência humana (HIV) e Treponema pallidum.5, 11, 16, 19, 38

Os testes genéticos, apesar de não serem fundamentais para o diagnóstico de PEH, permitem o diagnóstico molecular e realização de aconselhamento genético.30 Os elementos clínicos

essenciais à orientação dos testes genéticos são a idade de início, classificação em fenótipo puro ou complexo, padrão de hereditariedade e alterações imagiológicas.1, 11, 13, 16, 17, 26, 30, 39, 40

As guidelines da European Federation of Neurological Societies, anteriores à generalização das técnicas de NGS, recomendam que em doentes com PEH pura AD sejam testados, sequencialmente, mutações nos genes SPAST (PEH 4) e ATL1 (PEH 3) (nível B) e numa fase seguinte os genes REEP1 (PEH 31) e KIF5A (PEH 10), este último em famílias com neuropatia (nível

(15)

5 C). No que diz respeito às formas recessivas e ligadas ao X recomendam, que sejam testadas mutações nos genes L1-CAM (PEH 1) e PLP (PEH 2), no caso de formas complexas com início precoce e alterações radiológicas típicas (nível B). Nas formas recessivas e com corpo caloso fino recomendam o teste sequencial de mutações nos genes KIAA1840 (PEH 11) e ZFYVE26 (PEH 15) (nível B). O gene PGN (PEH 7) deverá ser estudado na presença de sintomas cerebelosos (nível C). Esta abordagem single-gene testing simultânea ou seriada permite identificar a mutação na maioria dos casos.39

As técnicas de NGS com multigene panels (ver tabela III), permitem o estudo de um elevado número de genes, atualmente a custo controlado, tendo vindo a substituir os testes seriados. Em algumas séries o recurso a NGS permitiu identificar uma variante patogénica em 40% dos doentes com PEH AR e esporádica.31 As maiores desvantagens das novas técnicas de diagnóstico em

genética estão na identificação de mutações de significado indeterminado, que necessitam de estudos funcionais adicionais nem sempre disponíveis na prática clínica.26, 31, 41

Tratamento e prognóstico

Atualmente não existem fármacos modificadores da evolução da doença, mas vários tratamentos sintomáticos estão disponíveis.19 Anti-espásticos orais, como baclofeno, tizanidina e

benzodiazepinas são frequentemente utilizados. Em alguns doentes a administração intratecal de baclofeno pode ser uma mais-valia, assim como o uso de toxina botulínica.1 A fisioterapia,

alongamentos e atividade física são fundamentais, tendo como objetivo a manutenção da mobilidade.1 Em casos com pé pendente poderá ainda ser utilizada uma ortótese tornozelo-pé.30

Sintomatologia associada como epilepsia, dor neuropática ou alterações urinárias é tratada de acordo com as recomendações gerais.5

A maioria dos doentes apresenta uma esperança média de vida normal. O prognóstico funcional pode variar desde incapacidade ligeira a grave, o que dificulta o aconselhamento individualizado. Não obstante, alguns estudos demonstraram que o início da sintomatologia na infância se associa a maior agravamento nas primeiras duas décadas de vida e subsequente estabilização, com declínio associado aos padrões normais para a idade.16, 19 No início tardio a progressão da doença

é constante ao longo do tempo, o que pode agravar o prognóstico. As formas complexas (maioritariamente AR) geralmente apresentam sintomatologia mais grave, com atraso ou regressão cognitiva, associando-se a menor qualidade de vida.11, 16

(16)

6 OBJETIVOS

O objetivo do presente trabalho é a descrição da primeira família portuguesa com PEH 72, com hereditariedade AD, incluindo (1) descrição da variante patogénica identificada e análise da patogenicidade; (2) descrição das características clínicas, incluindo idade de início, sintomas não piramidais, e progressão da doença, (3) estudo do impacto da doença; (4) estudo de família e análise de familiares em risco; (5) análise da relação genótipo-fenótipo; (6) correlação entre idade de início e progressão da doença; (7) comparação com outras famílias descritas.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foi elaborado um protocolo de caracterização clínica (anexo A) com base naquele utilizado pela rede SPATAX-EUROSPA,42 que incluía a caracterização de:

- dados demográficos;

- gestação, parto e período neonatal; - marcos do desenvolvimento psicomotor; - sintomas iniciais e subsequentes.

Completou-se a informação com a revisão dos processos clínicos e exames complementares de diagnóstico. O exame neurológico, realizado em consulta nos dias 23 de julho de 2018 e 20 de fevereiro de 2019, foi efetuado de acordo com os cânones.

Foi realizada a comparação dos quadros clínicos desta família com os previamente descritos. Para identificação de outros doentes com PEH 72, foi realizada uma pesquisa na PubMed, tendo sido encontrados e usados artigos publicados no período de 2014 a 2017.

O estudo foi analisado pela Comissão de Ética para a Saúde, Gabinete Coordenador de Investigação, Direção do Departamento de Ensino, Formação e Investigação do Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP), Presidente do Conselho de Administração do CHUP, Conselho de Administração do CHUP e Responsável pelo Acesso à Informação, tendo obtido parecer favorável de todos. O último parecer emitido, referente ao Conselho de Administração do CHUP, data de 13 de fevereiro de 2019 (anexo B). Os doentes assinaram consentimento informado (anexo C).

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7 RESULTADOS

I. Apresentação clínica

A família identificada é natural de Rio Caldo, freguesia de Terras de Bouro. É constituída por quatro indivíduos afetados em duas gerações consecutivas, três dos quais observados, e cinco indivíduos em risco (figura 1).

O doente índex (A), com 33 anos, é fruto de uma gestação vigiada, de termo, e parto eutócico. Não teve intercorrências no período neonatal e o desenvolvimento psicomotor decorreu dentro da normalidade durante o primeiro ano de vida. A aquisição da marcha ocorreu apenas aos 24 meses, assim como da linguagem. O padrão de marcha foi normal até aos 5 anos de idade, altura em que iniciou marcha em bicos de pés, com quedas frequentes. Durante a infância e adolescência apresentou um agravamento progressivo da marcha, com dificuldade em acompanhar os seus pares nas atividades físicas. Apresentou estabilização da marcha pela terceira década de vida, com aparecimento de espasmos dos MI aos 28 anos. Sem envolvimento dos membros superiores (MS), mantém marcha autónoma, com agravamento das dificuldades motoras com o frio. Nunca teve crises epiléticas ou alteração de esfíncteres. Sem queixas mnésicas ou sintomatologia depressiva. Nega alteração da acuidade auditiva ou visual.

Ingressou na escola com seis anos, com um desempenho médio-baixo e três retenções de ano (uma no sétimo e duas no oitavo ano). Tirou um curso profissionalizante de ajudante de cozinha, profissão que desempenha até à atualidade. Já após ter ingressado no mercado de trabalho, concluiu o 9º ano de escolaridade com 20 anos, num programa de educação dirigido a adultos. Observado pela primeira vez em Neurologia aos 30 anos, com seguimento semestral desde então. Encontra-se medicado com baclofeno 20mg duas vezes ao dia e realiza fisioterapia três vezes por semana, ambos há três anos.

O exame neurológico atual é sobreponível ao da observação inicial. Não apresentava alteração de funções superiores nem de nervos cranianos. MS sem atrofias, com força e tónus normais. MI sem atrofias, com espasticidade grau 3 na escala de Ashworth modificada (ver tabela IV), paraparésia grau 4 na escala do Medical Research Council (MRC, tabela V). Não tinha movimentos involuntários nem sinais cerebelosos. Reflexos osteotendinosos e sensibilidade normais nos MS. Os reflexos rotulianos e Aquilianos eram bruscos, de limiar diminuído e área de despertar alargada, com clónus Aquiliano inesgotável e sinais de Babinski e Chaddock bilaterais. A sensibilidade vibratória estava ligeiramente diminuída no hálux, sensibilidade álgica e

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8 propriocetiva sem alterações. A marcha era autónoma, de base normal, com adução das coxas, abordagem ao solo com a ponta do pé, em padrão “tesoura”.

O doente B, irmão do doente índex, tem atualmente 39 anos. A sua gestação foi vigiada, de termo, o parto eutócico e sem intercorrências neonatais. O desenvolvimento psicomotor decorreu dentro dos parâmetros normais no primeiro ano de vida. Adquiriu linguagem e marcha aos 24 meses, sendo esta última de padrão normal até aos cinco anos de idade. Nesta altura iniciou marcha em pontas de pés, com quedas, e desde que se recorda que tem pes cavus. Descreve agravamento das dificuldades na marcha até ao início da idade adulta, com sensação de pernas presas e passos arrastados, que agravava com temperaturas baixas. Nunca teve atingimento dos MS e mantém marcha autónoma até à atualidade. Sem crises epilépticas, alterações visuais ou auditivas, nem queixas mnésicas. Nega alteração de esfíncteres.

Iniciou frequência escolar aos seis anos de idade, tendo desempenho médio-baixo (com uma retenção de ano no quinto ano). Completou o sexto ano de escolaridade com treze anos, após o qual realizou um curso profissionalizante de ajudante de cozinha, profissão que ainda desempenha.

Foi observado pela primeira vez em consulta de Neurologia aos 37 anos, com seguimento semestral desde então. Encontra-se desde os 38 anos sob baclofeno 5mg, com incumprimento terapêutico.

O exame neurológico atual era sobreponível ao inicial. Sem alteração a nível de funções superiores ou nervos cranianos. MS sem atrofias, com força, tónus e reflexos osteotendinosos normais. A nível dos MI apresentava pes cavus, dedos em martelo, espasticidade grau 2 na escala de Ashworth modificada e força muscular (escala do MRC) grau 4+ globalmente, à exceção da dorsiflexão dos dedos que correspondia a grau 2. Não tinha movimentos involuntários nem sinais cerebelosos. MS com reflexos osteotendinosos e sensibilidade normais. Os reflexos rotulianos e Aquilianos apresentavam limiar diminuído e área alargada, sem clónus Aquiliano, com sinais de Babinski e Chaddock bilaterais. A sensibilidade álgica, propriocetiva e vibratória eram normais nos MS e MI. A marcha era autónoma, de base normal, em padrão “tesoura” com adução das coxas e abordagem ao solo com a ponta do pé.

A doente C (mãe dos doentes anteriores) de 68 anos, filha de pais não consanguíneos, nasceu de parto eutócico, no domicílio, após gestação de termo não vigiada. Não teve intercorrências no

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9 período neonatal e o desenvolvimento psicomotor terá decorrido dentro da normalidade. Começou a trabalhar em agricultura durante a infância, tendo ingressado na escola na adolescência. Completou o quarto ano de escolaridade com 20 anos de idade, sem reprovações. Trabalhou como empregada doméstica, estando reformada desde os 65 anos.

Com 50 anos iniciou dificuldades progressivas na marcha, com sensação de “prisão” dos MI que era exacerbada por temperaturas baixas. Desde os 60 anos com cãibras frequentes (60 anos). Sem sintomatologia motora adicional, mantém marcha autónoma. Sem epilepsia, deterioração cognitiva, alterações visuais ou auditivas. Tem como antecedentes pessoais hipertensão arterial e diabetes mellitus tipo 2, medicados.

Foi observada pela primeira vez em Neurologia aos 66 anos, com seguimento semestral desde então e sem medicação dirigida. O exame neurológico tem-se mantido sobreponível ao longo do tempo. Não apresenta alteração de funções superiores nem de nervos cranianos. MS sem atrofias ou fasciculações, com força, tónus e reflexos osteotendinosos normais. Nos MI não existiam atrofias ou fasciculações, apresentava espasticidade grau 2 (escala de Ashworth modificada) de predomínio esquerdo e força muscular normal. Os reflexos osteotendinosos eram de limiar diminuído e área alargada, sem clónus Aquiliano e com reflexo cutâneoplantar em extensão. Sem alterações das sensibilidades álgica, propriocetiva ou vibratória nos MS e MI. Sem movimentos involuntários nem sinais cerebelosos. Marcha de base normal, com abordagem do solo calcanhar-ponta, boa progressão e boa amplitude dos passos.

O doente D, de 81 anos, meio-irmão da doente C (ver figura 1), nasceu de parto eutócico, no domicílio, após gestação de termo não vigiada. Precocemente na infância iniciou marcha em pontas de pés e quedas frequentes. Apresentou um agravamento progressivo da marcha, sendo descrito um padrão “em tesoura” durante a vida adulta. Numa fase tardia (idade precisa não conhecida) passou a utilizar auxiliares de marcha e atualmente encontra-se acamado. Desconhece-se outra sintomatologia. Nunca foi observado por Neurologia, e atendendo ao grau de dependência atual a família declinou a sua observação.

O doente índex tem um filho (indivíduo E), de quatro anos, fruto de uma gestação de termo, vigiada e parto eutócico, hospitalar. Não foram registadas intercorrências no período neonatal ou desenvolvimento psicomotor durante os primeiros doze meses de vida. Adquiriu linguagem e marcha pelos 24 meses, de características normais até ao momento. Tem seguimento regular

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10 pelo pediatra assistente, sem outra sintomatologia. A doente C tem uma filha de outro relacionamento, com 42 anos, com desenvolvimento psicomotor normal e sem queixas neurológicas. O pai da doente C, faleceu com 70 anos e teria um padrão de marcha normal. A mãe faleceu nova, com patologia cardíaca, também sem alterações da marcha. Esta tem um outro irmão, que não apresentará alterações da marcha. O doente D, tem dois filhos, descritos como tendo um desenvolvimento normal e sem queixas neurológicas. Estes familiares declinaram observação em consulta.

II. Exames complementares de diagnóstico

a. Estudos imagiológicos

Dois dos doentes (índex e C) realizaram RMN do neuroeixo com 27 e 18 anos de evolução de doença, respetivamente. Não foram visualizadas alterações da espessura ou sinal do corpo caloso, nem anomalias morfológicas ou de sinal encefálicas ou medulares ou alterações da amplitude e configuração das vias de circulação do líquido cefalo-raquidiano ou da charneira occipitovertebral (figuras 2 e 3). A doente C apresentava pequenos focos de hipersinal da substância branca em T2 (figura 3).

b. Estudos neurofisiológicos

Dois doentes (índex e C) realizaram EMG, com 28 e 18 anos de evolução de doença, respetivamente. Em ambos, o estudo de condução sensitiva e motora estava dentro dos limites normais, tendo todos os músculos avaliados atingido o padrão interferencial normal.

c. Estudos genéticos

O doente índex realizou estudo genético por NGS, que revelou a mutação p.Met40Arg (c.119T>G, exão 3), em heterozigotia no gene REEP2. Nos doentes B e C foi feito estudo dirigido à variante patogénica encontrada no caso índex, verificando-se a presença da mesma.

(21)

11 DISCUSSÃO

I. PEH 72 – fisiopatologia

A alteração genética subjacente a PEH 72 corresponde a uma mutação pontual no gene REEP2 localizado a nível 5q31. Este gene codifica a proteína REEP2, pertencente a uma família de proteínas envolvidas na modulação do RE, com expressão restrita ao tecido nervoso do SNC e tecidos com exocitose neuronal-like (testículos, hipófise e suprarrenais).13, 43

Os axónios possuem uma rede tubular extensa de RE, contínua ao longo de todo o neurónio, que constitui um dos mecanismos de comunicação inter-neuronal. A sua organização é controlada maioritariamente por duas famílias de proteínas: REEP(1-6) e reticulon(1-4).4, 44 Mutações no

gene que codifica a REEP1 ocorrem na PEH 31, e ao nível de reticulon 2 na PEH 12.4 As proteínas

de ambas as famílias têm duas regiões hidrofóbicas no N-terminal, que formam domínios hairpin que se inserem na bicamada fosfolipídica do RE, num processo denominado “hydrophobic wedging”. Estas desempenham um papel essencial na definição e estabilização da curvatura do

RE.4, 44 As proteínas REEP1-4 possuem ainda um domínio C-terminal que interage com

microtúbulos, contribuindo também para as interações dos túbulos do RE com microtúbulos do citoesqueleto.4, 44 A capacidade da REEP2 se ligar às membranas é provavelmente devida à

inserção do seu domínio hidrofóbico na bicamada fosfolipídica. Tal como demonstrado para outros membros desta família de proteínas, esta propriedade regula a curvatura da membrana do RE. A perda desta função pode conduzir à diminuição da curvatura da membrana do RE, explicando a expansão do RE observado nos fibroblastos dos doentes descritos por Esteves et al.2

Alguns autores defendem ainda que a REEP2 possua um papel na modulação do tráfego de proteínas do RE para o complexo de Golgi. Assim, estas funções desempenhadas pela REEP2, tornam provável que a perda da sua integração nas membranas com consequente alteração da morfologia do RE, afete a atividade de transporte neuronal, sendo responsável pelo fenótipo de PEH.2

II. PEH 72 – mutações identificadas

Até à data foram identificadas 4 variantes patogénicas no REEP2: p.Val36Glu (c.107T>A, exão 3), p.Phe72Tyr (intrão 2: c.105+3G>T; exão 4: c.215T>A) , p.Met1Thr (c.210T>C, exão 4), e p.Met40Arg (c.119T>G, exão 3).2, 7, 8 Esta última corresponde à mutação identificada na família

(22)

12 local de outra mutação também causadora de PEH 72 (p.Val36Glu).8 Trata-se de uma mutação

não presente no Exome Aggregation Consortium, cuja patogenicidade foi avaliada através de vários softwares dirigidos: score de Combined Annotation-Dependent Depletion de 21,79 (patogénico), provavelmente deletéria através do PolyPhen2 e deletéria pelo SIFT e MutationTaster.8

As variantes patogénicas p.Val36Glu e p.Phe72Tyr presentes em duas famílias descritas por Esteves et al., afetam resíduos do domínio hidrofóbico, N-terminal, altamente conservado de REEP2, afetando: interações proteína-proteína, ligação a microtúbulos, e ligação a membranas.2, 8

Na mutação p.Val36Glu (c.107T>A, exão 3), verificou-se uma diminuição da interação de REEP2 mutante com REEP1. Paralelamente, a proteína mutante estabelece menor interação com as membranas, inibindo a ligação direta REEP2 wild-type a estas e impedindo a regulação da curvatura da membrana do RE. Esta mutação tem um efeito de perda de função na base da sua fisiopatologia.2 Na mutação p.Phe72Tyr (intrão 2: c.105+3G>T; exão 4: c.215T>A), verificou-se

uma diminuição em 50% na expressão da proteína, assim como alteração das propriedades de ligação à membrana, com perda completa da ligação à membrana do REEP2.2

No caso da variante p.Met1Thr (c.210T>C, exão 4), foi verificado que conduzia à remoção do codão de iniciação, tendo prováveis implicações ao nível da produção da proteína REEP2, e assim tendo efeitos deletérios em todas as funções que esta desempenha.7

Tendo em conta a proximidade de p.Met40Arg (c.119T>G, exão 3) e p.Val36Glu (c.107T>A, exão 3), considera-se provável que induzam o mesmo tipo de alterações fisiopatológicas que foram descritas nos estudos funcionais Esteves et al., com inibição da ligação da proteína REEP2 wild-type às membranas e consequente alteração da conformação, com expansão, do RE.2, 8

III. PEH 72 – hereditariedade e características fenotípicas

Encontram-se descritos dezassete doentes com PEH 72, cujas características clínicas se encontram detalhadas na tabela VI.2, 7, 8

a. Hereditariedade

Nos casos reportados identificou-se hereditariedade AD (uma família francesa com dez doentes), AR (uma família portuguesa com quatro doentes, pertencente ao rastreio de paraparésias e ataxias; outra família com dois doentes) e de novo (um doente).2, 7, 8 A família presentemente

(23)

13 descrita corresponde a um modo de hereditariedade dominante, a primeira em Portugal e segunda a nível mundial. A variante patogénica p.Met40Arg tinha sido previamente identificada em heterozigotia num doente de novo.8

Tendo em conta os doentes C e D serem meios-irmãos maternos, coloca-se a hipótese de a mãe ser a portadora da mutação (falecida em idade jovem, sem alterações “aparentes”).

b. Idade de início

A idade de início tende a ser precoce, em média 4,44±4,45 anos (variando de onze meses até aos oito anos de idade) nos casos descritos.2, 7, 8 O doente portador da mesma mutação desta família

teve início da sintomatologia aos onze meses.8

Na maioria dos doentes desta família ocorreu início dos sintomas na infância precoce. Os doentes A e B apresentaram atraso na aquisição da marcha e marcha em pontas de pés três anos mais tarde. De salientar que a doente C corresponde à primeira descrição de PEH 72 com início da tardio da sintomatologia, assim como a antecipação da idade de início observada. Desta forma é alargada a idade de início da PEH 72 até à sexta década de vida. Dos doentes não observados, o D parece ter tido um quadro semelhante ao descrito, com início precoce. A criança E teve uma aquisição tardia da marcha, não podendo até ao momento ser tiradas outras conclusões.

c. Quadro Clínico

A forma de apresentação nos casos descritos foi: pernas “presas” (cinco doentes), marcha em pontas de pés (cinco casos) e atraso no desenvolvimento motor (dois doentes).2, 7, 8 O doente com

a variante patogénica p.Met40Arg, teve como sintoma inicial marcha em pontas de pés, desde a sua aquisição.8 Na nossa família os sintomas iniciais corresponderam a atraso do desenvolvimento

motor (dois casos) e alteração da marcha (um caso).

Quanto ao percurso escolar, os doentes em análise completaram o quarto ano em idade adulta (doente C), sexto ano (doente B) e nono ano (doente A), com algumas retenções de ano nos dois últimos doentes. Consideramos que esta situação esteve associada a fatores socioeconómicos, não representando um atraso cognitivo. Da mesma forma nos dezassete doentes descritos não se verificou atraso ou regressão cognitiva. 2, 7, 8

A PEH 72 corresponde a uma paraparésia espástica pura, não associada a características definidoras de fenótipo complexo. Na análise dos dezassete casos, surgiram como sintomas mais

(24)

14 comuns a marcha espástica, sinal de Babinski e hiperreflexia osteotendinosa dos MI. Para além disto, foi registada uma elevada frequência de paraparésia, sintoma ausente em apenas dois doentes descritos (com a variante p.Val36Glu). Outros sintomas também presentes foram: hiperreflexia osteotendinosa dos MS, alteração de esfíncteres, pes cavus, tremor dos MS, sinal de Hoffman, diminuição distal da sensibilidade vibratória, dor generalizada e alteração da memória (aos 59 anos de idade) (tabela VI e VII em anexo).2, 7, 8 O doente também portador da mutação

p.Met40Arg, apresentava apenas uma síndrome piramidal dos membros inferiores.8 Na presente

família o quadro caracterizou-se por: marcha espástica (três doentes), hiperreflexia osteotendinosa dos MI (três doentes), sinal de Babinski e Chaddock (três doentes), quedas frequentes (três doentes), paraparésia (dois doentes), défice sensitivo vibratório a nível do hálux (um doente), espasmos nos MI (um doente), cãibras nos MI (um doente) e pes cavus (um doente). Assim, tal como descrito, enquadram-se num fenótipo puro. Ainda de salientar, a presença de pes cavus, défice sensitivo vibratório a nível do hálux, assim como ausência de paraparésia em 1 dos doentes, não verificados no caso com a mesma mutação, o que demonstra alguma variabilidade genótipo-fenótipo.8

d. Evolução

Os sintomas desenvolvidos, após duração média de doença de 15,6±12,3 anos (mínimo 2,5 anos, máximo 61 anos), encontram-se analisados no ponto prévio.2, 7, 8 Os doentes portadores das

mutações p.Val36Glu e p.Phe72Tyr tiveram um agravamento lentamente progressivo, com manutenção da marcha independente na sua maioria.2 O estudo de Novarino et al. não refere a

evolução do ponto de vista motor e o doente descrito por Roda et al mantinha marcha autónoma ao fim de oito anos de evolução (nove de idade).7, 8

Assim, nos dezassete doentes, 70,6% dos pacientes mantinham marcha autónoma, sendo que os restantes tinham necessidade de auxiliares de marcha (unilateral em 5,9%, e bilateral em 23,5%) .2, 7, 8

Após uma média de duração de doença de 28,7±9,7 anos (mínima de dezoito anos, máxima de 37 anos), todos os doentes desta família apresentavam uma evolução lenta e mantinham marcha autónoma. O indivíduo D, não observado, terá necessitado de auxiliares de marcha numa fase tardia, desconhecendo-se em que circunstâncias. O início tardio da sintomatologia (doente C) associou-se a menor gravidade de clínica, pese embora o menor tempo de evolução que poderá constituir um viés.

(25)

15

IV. PEH 72 – estudos imagiológicos e neurofisiológicos

Dos dezassete doentes descritos, apenas existe informação sobre RMN cerebral de um. Este doente portador da variante patogénica p.Met40Arg tinha uma RMN normal8 tal como doente

índex desta família. A doente C apresentava pequenos focos de hipersinal da substância branca que, atendendo à idade, poderão ser de etiologia isquémica.

Da mesma forma apenas o doente com a mesma variante, dos dezassete doentes realizou EMG, tendo sido obtidos resultados dentro da normalidade.8 Em dois dos doentes em estudo (com

dezoito e 28 anos de doença) a EMG também foi normal.

V. Relação genótipo-fenótipo

Na família com a mutação p.Val36Glu (dez doentes) verificou-se alguma variabilidade fenotípica entre diferentes indivíduos, tendo em conta apenas parte destes doentes apresentarem alguns sintomas, tais como: alteração de esfíncteres (50%), pes cavus (30%), tremor dos MS e diminuição da sensibilidade vibratória distalmente (20%), dor generalizada e alteração da memória e concentração (10%).2 Nas famílias com as variantes patogénicas p.Phe72Tyr e p.Met1Thr

constatou-se maior homogeneidade fenotípica, no que diz respeito à idade de início, sintomatologia e evolução.2, 7

Nos casos em análise todos os indivíduos apresentam um fenótipo puro, existindo variabilidade da idade de início. Comparando com o caso descrito por Roda et al., e ressalvando o baixo número de doentes, a variante em estudo parece estar associada a um fenótipo com baixas implicações funcionais.8

VI. Abordagem

a. Tratamento

Dos dezassete casos em nenhum existe descrição do tratamento efetuado. No entanto, segundo a literatura atual, o tratamento deve ter por base a fisioterapia e atividade física com o objetivo de manutenção da mobilidade.30 As opções terapêuticas incluem ainda anti-espásticos orais (ex.:

(26)

16 cirúrgica de bomba de baclofeno.30, 45 Dos fármacos anti-espásticos existentes, o baclofeno oral é

habitualmente utilizado como primeira linha.30 Tendo em conta a diversidade de sintomas

presente, poderia ainda ser de considerar: (i) anticolinérgicos, antimuscarínicos, ou injeções de toxina botulínica intra-vesicais, na presença de disfunção de esfíncteres;46 (ii) antidepressivos

(amitriptilina, nortriptilina, duloxetina) ou anticonvulsivantes (pregabalina, gabapentina), no caso de dor neuropática.5

Na família descrita o tratamento consistiu em fisioterapia (um caso) e baclofeno (dois casos). Na doente com fenótipo mais ligeiro não houve necessidade de tratamento dirigido. Não se verificou sintomatologia que implicasse adição de outro tipo de fármacos.

b. Prognóstico

Os estudos realizados não fizeram considerações sobre a esperança média de vida destes doentes. No entanto, a maioria dos doentes com PEH apresenta uma esperança média de vida normal.16, 19

A família em estudo parece de igual modo, ter uma esperança média de vida normal, tendo em conta os indivíduos com idades mais avançadas terem 81 e 68 anos, e não se terem verificado óbitos precoces.

c. Aconselhamento genético

É apropriado oferecer aconselhamento genético aos jovens adultos afetados, portadores, ou em risco.24 Nas formas dominantes de PEH existe habitualmente penetrância completa (nunca

estimada com precisão), com grande variabilidade da idade de início e evolução.11, 19 Por este

motivo poderá ser difícil uma previsão precisa da gravidade na descendência.24

Um indivíduo com PEH AD, tal como o probando, tem um risco de 50% de transmitir a mutação em causa à descendência.24 Assim, o atraso na aquisição da marcha do filho poderá corresponder

a um sintoma inaugural de PEH, embora não se possa afirmar que assim seja. Por este mesmo motivo, e tendo em conta a possibilidade de um início tardio, os filhos do doente D, assim como filha e irmão da doente C, possuem igual risco de virem a ser afetados. Nesta família podemos então verificar a presença de cinco indivíduos em risco.

(27)

17 CONCLUSÃO

Apresentamos uma família com PEH 72 de fenótipo puro, com três elementos afetados observados. O início, tendencialmente precoce, da sintomatologia foi caracterizado por atraso do desenvolvimento motor e alteração da marcha. Com 28,7±9,7 anos de evolução todos apresentavam uma síndrome piramidal de predomínio nos membros inferiores com marcha autónoma. Salientamos, nesta família, o início na sexta década de vida e a antecipação na idade de início, não anteriormente descritos. A ausência de alterações major nos estudos imagiológicos e normalidade da EMG foi constante nos doentes em que estes exames foram efetuados, podendo ser mais uma característica definidora do fenótipo clínico.

Ressalva-se que as conclusões são de valor limitado tendo em conta o número reduzido de doentes analisados e o fenótipo altamente variável das PEH.

(28)

18 ANEXOS

A- Inquérito Aplicado em Consulta sobre sintomatologia e dados clínicos relevantes para estudo da PEH

(29)
(30)
(31)

21 B- Parecer do Conselho de Administração do CHUP

(32)
(33)
(34)

24 C- Consentimento Informado

(35)

25 Tabela I. Diagnóstico Diferencial de PEH.3, 16, 19, 22, 30, 36, 47-54

Categoria Patologia Idade Investigação

Alterações estruturais da medula

Malformação de Arnold-Chiari c, a RMN cerebral e medular

Espondilose cervical ou lombar a Rx e RMN medular

Síndrome de compressão do cone medular c,a RMN do cone medular Neoplasia (primária ou secundária da espinal

medula, meningioma parassagital)

a RMN cerebral e medular Malformação arteriovenosa medular a RMN e angiografia medular Granuloma (ex.: tuberculose) envolvendo

vertebras com espinal medula

c RMN da coluna

Subluxação atlanto-axial c Rx e/ou RMN da coluna

Patologia degenerativa da coluna cervical a RMN medular

Doenças inflamatórias Esclerose múltipla c, a RMN, análise do LCR, potenciais evocados

Sarcoidose a RMN, LCR, Rx do tórax

Leucodistrofias Adrenoleucodistrofia, Adrenomieloneuropatia c, a RMN cerebral; análise dos ácidos gordos plasmáticos de cadeia longa

Leucodistrofia metacromática c RMN cerebral, arilsulfatases

Leucodistrofia de Krabbe (célula globóide) c RMN cerevbral, galactocerebrosidade Doenças metabólicas Degeneração subaguda combinada a Concentração sérica de vitamina B12

Encefalomiopatia mitocondrial c RMN cerebral, lactato e piruvato séricos. Abetalipoproteinemia (doença de

Bassen-Kornzweig)

c Eletroforese de lipoproteínas

Défice de vitamina E a Vitamina E sérica

Défice de arginase c Arginase plasmática, aminoacidúria

Doenças Infeciosas Sífilis terciária (paquimeningite hipertrófica) a VDRL, FTA

Paraparésia espástica tropical a Anticorpos HTLV-1

(36)

26

Outras Distonia DOPA-responsiva c, a Teste terapêutico com levodopa-carbidopa

Paralisia cerebral diplégica c RMN crânio, história de parto

Neurolatirismo a História de ingestão prolongada Lathyrus sativus

Hipocupremia a Cobre e zinco séricos

Esclerose Lateral Amiotrófica a EMG, e estudos de condução nervosa

Ataxias Espinocerebelosas a Estudo genético

Legenda: a- adulto, c- criança, EMG- eletromiografia, FTA- fluorescent treponemal antibody absorption test, LCR- líquido cefalorraquidiano, RMN- ressonância magnética, Rx- radiografia.

(37)

27 Tabela II. Características imagiológicas sugestivas de tipos de PEH específicos.37, 5538, 56, 57

Achados característicos na RMN Tipo de PEH

Alterações da substância branca PEH 2, 5, 11, 15, 21 e 35 Sinal da “orelha de lince” PEH 11, 15 e 78

Atrofia do corpo caloso PEH 4, 7, 11, 15, 18, 21, 35, 46, 47, 49, 50 e 54

Hipossinal do globo pálido em T2 PEH 28, 35 e 43 Estenose do aqueduto de Sylvius PEH 1

Atrofia da espinal medula cervical e torácica Vários tipos Hidromielia da espinal medula torácica PEH 56

(38)

28 Tabela III. Genes incluídos em multigene panels para a PEH.24, 40, 58

Genes incluídos em multigene panels para a PEH

ABCD1 ERLIN1 PGAP1

AFG3L2 ERLIN2 PLP1

ALDH18A1 FA2H PNPLA6

ALS2 FARS2 PSEN1

AMPD2 FIG4 RAB3GAP2

AP1S2 FLRT1 EEP1

AP4B1 GAD1 REEP2

AP4E1 GAN RTN2

AP4M1 GBA2 SACS

AP4S1 GCH1 SIGMAR1

AP5Z1 GJA1 SLC16A2

ARG1 GJC2 SLC2A1

ARL6IP1 HEXA SLC33A1

ARSI HSPD1 SPAST

ATL1 IBA57 SPG11

ATP2B4 KDM5C SPG20

B4GALNT1 KIAA0196 SPG21

BSCL2 KIF1A SPG7

C12orf65 KIF1C TECPR2

C19orf12 KIF5A TFG

CCT5 KLC4 USP8

CPT1C L1CAM VAMP1

CYP27A1 LYST VPS37A

CYP2U1 MAG WDR45 CYP7B1 MARS WDR48 DDHD1 MARS2 ZFR DDHD2 MT-ATP6 ZFYVE26 DNM2 MTPAP ZFYVE27 EIF2B5 NIPA1 ENTPD1 NT5C2

(39)

29 Tabela IV. Escala de Espasticidade Muscular de Ashworth.59

Grau Descrição

0 Sem aumento do tónus muscular.

1 Ligeiro aumento do tónus muscular, manifestado por apreender e libertar, ou por mínima resistência no final da amplitude de movimento.

1+ Ligeiro aumento do tónus muscular, manifestado por apreender, seguido de resistência mínima ao longo do resto (menos de metade) da amplitude de movimento.

2 Marcado aumento do tónus muscular na maior parte da amplitude de movimento, mas as partes afetadas são facilmente

movimentadas.

3 Considerável aumento do tónus muscular: movimentos passivos dificultados.

(40)

30 Tabela V. Escala do Medical Research Council para Força Muscular.60

Grau Descrição

0 Sem movimento.

1 Apenas um esboço de movimento é visto ou sentido, ou fasciculações são observadas no músculo.

2 Força muscular e movimento se força da gravidade anulada. 3 Movimento contra a gravidade, mas não contra resistência. 4 Força muscular reduzida, mas há contração muscular contra

resistência.

(41)

31 Tabela VI. Análise da descrição de casos clínicos de PEH 72 presentes na literatura.2, 7, 8

Publicação Alteração Genética

Idade início (média)

Duração

(média) He Sintomas iniciais Quadro clínico Marcha ECD

Esteves et al. 2014 10 casos p.Val36Glu 3,7±1.9 anos 28±9,1 anos

AD Dificuldades de marcha (5) Hiperreflexia OT MI (10) Independente (7) Não aplicados Marcha espástica (10) Severa (4) Moderada (3) Ligeira (3) Marcha em pontas de pés (4)

Sinal de Babinski (10) Auxílio unilateral (2) Paraparésia (8) Auxílio bilateral (1) Alteração de esfíncteres (5) Pes cavus (3) Hiperreflexia OT MS (2) Sensibilidade vibratória diminuída distalmente (2) Sinal de Hoffman (2) Tremor MS (2) Afeção da memória e concentração (1) Dor generalizada (1)

(42)

32 Esteves et al. 2014 4 casos p.Phe72Tyr 2 anos 24±3,2 anos

AR Não conhecidos Hiperreflexia OT MI (4) Independente (2) Não aplicados Hiperreflexia OT MS (4) Auxílio unilateral (2)

Marcha espástica (4) Paraparésia (4) Sinal de Babinski (4) Novarino et al. 2014 2 casos p.Met1Thr 1 ano 2,5±0,5 anos AR Atraso no desenvolvimento motor (2)

Hiperreflexia OT MI (2) Independente (2) Não aplicados Marcha espástica (2) Paraparésia (2) Sinal de Babinski (2) Roda et al. 2017 1 caso

p.Met40Arg 11 meses 8 anos De novo

Marcha em pontas de pés (1)

Hiperreflexia OT MI (1) Independente (1) RM- normal

Marcha espástica (1) EMG-

normal Paraparésia (1)

Sinal de Babinski (1)

Legenda: AD- autossómico dominante, AR- autossómico recessivo, ECD- exames complementares de diagnóstico, EMG-eletromiografia, He- hereditariedade; MI- membros inferiores , MS – membros superiores, OT-osteotendinosa, RMN- ressonância magnética

(43)

33 Tabela VII. Prevalência de sintomas nos casos clínicos de PEH 72 descritos.2, 7, 8

Legenda: MI- membros inferiores, MS- membros superiores

Quadro Clínico nº e % de doentes que a apresentaram

Hiperreflexia osteotendinosa nos MI 17 (100%)

Marcha espástica 17 (100%)

Sinal de Babinski 17 (100%)

Paraparésia 15 (88,24%)

Hiperreflexia osteotendinosa nos MS 6 (35,29%)

Distúrbios esfincterianos 5 (29,41%)

Pes cavus 3 (17,65%)

Sensibilidade vibratória diminuída distalmente 2 (11,77%)

Sinal de Hoffman 2 (11,77%)

Tremor MS 2 (11,77%)

Alteração da memória e concentração 1 (5,8%)

(44)

34 Legenda:

Figura 1. Genograma da família com PEH 72 descrita.

1977 Doente A 1985 Criança E 2014 Doente C 1950 Doente D 1936 1985 1987 Doente B 1979

+70 anos +precoce; Patologia

cardíaca 1946 Após o parto Rio Caldo Rio Caldo -Homem -Mulher -PEH 72 -Em risco -Óbito -Casamento

(45)

35 Figura 2. RMN do doente índex. A,B e C: Cortes axiais FLAIR. D: Corte sagital T1. E e F: Cortes sagitais T2 Não foram visualizadas alterações da espessura ou sinal do corpo caloso, nem anomalias morfológicas ou de sinal encefálicas ou medulares ou alterações da amplitude e configuração das vias de circulação do líquido cefalo-raquidiano ou da charneira occipitovertebral.

A

B

C

(46)

36

Figura 3. RMN da doente C. A,B e C: Cortes axiais FLAIR. D: Corte sagital FLAIR. Foram verificados pequenos focos de hipersinal da substância branca em T2. Não foram visualizadas alterações da espessura ou sinal do corpo caloso, nem anomalias morfológicas ou de sinal encefálicas ou medulares ou alterações da amplitude e configuração das vias de circulação do líquido cefalo-raquidiano ou da charneira occipitovertebral.

A

B

C

D

A

B

(47)

37 BIBLIOGRAFIA

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