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Ano 02 Edição 07 Abril Verminoses em gatos

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Ano 02 || Edição 07 || Abril 2015

Dr. Diefrey Ribeiro Campos

Médico Veterinário. Mestre em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Doutorando em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Laboratório de Quimioterapia Experimental em Parasitologia Veterinária.

Dra. Heloisa Justen Moreira de Souza

CRMV-RJ 3.261

Médica Veterinária. Professora de Patologia e Clínica Cirúrgica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Responsável pelo Setor de Medicina Felina do Hospital Veterinário da UFRRJ.

Dra. Lara Patricia Santos Carrasco

CRMV-RJ 12.575 Médica Veterinária. Mestranda pelo Programa de Patologia Animal e Ciências Clínicas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Verminoses em gatos

O

papel dos animais de companhia tem merecido destaque entre as famílias brasileiras. O estímulo afetivo e o companheirismo são marcos constantes desse relacionamento cada vez mais próximo e benéfico ao desenvol-vimento social e afetivo das pessoas.

No Brasil, apesar de a maioria da população ser composta por cães, a criação de gatos foi a que mais cresceu nesses últimos anos. Há uma mudança social, com a expansão e o enriquecimento das cidades, que fez crescer o número de felinos. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), em 2022, haverá um gato para cada cachorro. Nesse cenário, é de grande importância a conscientização dos ve-terinários para as necessidades e peculiaridades desses felinos.

Verminose é um termo popular designado às helmintoses. É a doença provocada por parasitos específicos, denominados helmintos, que vivem no interior do hospedeiro. Os estu-dos sobre parasitismo vêm despertando crescente interesse devido à relação de proximidade entre o homem e os animais. Os helmintos podem causar morbidade e mortalidade significa-tivas, bem como graves implicações na saúde pública, uma vez que algumas espécies possuem potencial zoonótico.1

Os gatos domésticos são considerados importantes reservatórios de endoparasitos, os quais acabam contaminando locais públicos, especialmente aqueles frequentados por crianças, expondo outros animais domésticos e o homem a um maior risco de infecção.1

As verminoses mais comuns em gatos são causadas pelos parasitas Toxocara cati,

Toxascaris leonina, Ancylostoma tubaeforme, A. braziliense, Dipylidium caninum e Aelurostrongylus abstrusus. Esses agentes apresentam ampla distribuição

geográ-fica e causam injúrias tanto para os animais quanto para o homem. A prevenção dessas parasitoses é fundamental para evitar danos indesejáveis.

(2)

É fundamental que os clínicos este-jam sensibilizados para a realização de um controle de endoparasitas dirigido às necessidades particulares de cada animal. Nesse contexto, o veterinário deve levar em consideração a dificulda-de na aceitação dificulda-de medicamentos por via oral para a espécie felina, buscando alternativas de administração de fárma-cos, como a via tópica ou in loco, para facilitar a adesão do proprietário à pre-venção das verminoses.2

Toxocaríase

É causada por nematoides das es-pécies Toxocara cati e Toxascaris

leoni-na. Raramente os gatos são parasitados

pelo T. canis. São parasitos grandes que medem de 4 a 18 cm de comprimento, que vivem livres no intestino delgado dos felinos. Esses vermes apresentam ampla distribuição em países de clima tropical, como o Brasil.

O ciclo biológico desses ascarídeos é bastante complexo, podendo existir 3 diferentes formas de infecção para os felinos (Figura 1). A primeira forma é a ingestão do ovo embrionado, contendo a larva de terceiro estágio, juntamente com água, alimentos ou lambeduras. A larva é liberada no intestino delgado e penetra na mucosa alcançando a circu-lação periférica, por onde inicia a sua migração pelo sistema porta-hepático

até o fígado e, em seguida, para o co-ração e os pulmões. No sistema respira-tório, a larva migra até a glote, onde é deglutida, e termina o seu desenvolvi-mento no interior do intestino delgado. Esse ciclo possui um período pré-paten-te de sepré-paten-te a oito semanas. Em animais adultos, algumas larvas são transpor-tadas pela artéria aorta para diferentes regiões do corpo, onde se encistam e permanecem em latência.3

A infecção transplacentária não ocor-re em gatos. Entocor-retanto, no final da gesta-ção, as larvas que estavam em latência na

musculatura tornam-se ativas e migram para a glândula mamária, infectando os filhotes pela via transmamária. As larvas podem estar presentes no colostro e até 45 dias de lactação.3

Outra via de infecção são os hospe-deiros paratênicos, como roedores, aves e lacertídeos. Nesta, não ocorre a migra-ção parasitária, e o desenvolvimento dos parasitos adultos ocorre diretamente no intestino delgado.3

Os felinos infectados podem apresen-tar enterite caapresen-tarral, hiporexia, anorexia, vômitos, diarreia alternada com constipa-ção, distúrbios de crescimento, obstrução intestinal, intussuscepção e anemia em casos de infecções graves.3

Nos gatos adultos, os sintomas cur-sam com vômitos, aumento do abdome e anorexia (Figura 2). Existem relatos de perfuração gástrica, com parasitas adul-tos na cavidade abdominal de gaadul-tos.3

As espécies de Toxocara spp. são responsáveis por uma importante zoo-nose denominada larva migrans visce-ral. O homem infecta-se ao ingerir os ovos desses ascarídeos presentes no ambiente. A L3 não completa seu ciclo biológico no homem e se aloja em dife-rentes partes do corpo. Os sintomas po-dem ser vários, como dores abdominais, náuseas, vômitos, tosse, febre e estra-bismo, podendo ocorrer diminuição da visão e cegueira, em caso de alojamento da larva em tecidos oculares.

Figura 1 - Ciclo de vida do Toxocara cati. Animais parasitados liberam ovos nas fezes. No ambiente ocorre o desenvolvimento da larva de terceiro estágio dentro do ovo. O felino ingere os ovos no ato de se lamber ou a partir da ingestão de alimentos ou água contaminados. Também pode infectar-se a partir da ingestão de hospedeiros paratênicos. Ocorre a transmissão vertical pela via transmamária

Eliminação dos ovos nas fezes de gato

L3 em latência na musculatura

Desenvolvimento no ambiente de L1 a L3

dentro do ovo Infecção a partir da ingestão de alimentos e água contaminados ou pelo processo de lambedura

Infecção dos filhotes pela via transmamária Ingestão de hospedeiros

paratênicos: aves, roedores e lacertídeos

Figura 2 - Gato portador de Toxocara cati. A: fezes apresentando a forma adulta do parasita do T. cati (seta vermelha); B: vômito apresentando a forma adulta do parasita T. cati (seta azul)

A

B

Foto gentilmente cedida pela Dra. Marúcia Cruz

(3)

O fármaco mais comumente utilizado para o controle e a prevenção da toxo-caríase é o pamoato de pirantel, por via oral, em dose única. Uma vez que esse anti-helmíntico não atua nas formas ima-turas do parasito, é importante repetir a administração do fármaco 15 dias após o primeiro tratamento.4

Em gatos, o emodepsida tem formu-lação spot on, com eficácia comprovada para adultos e fases imaturas do T. cati.

O uso de emodepsida/praziquantel na for-mulação spot on em gatas gestantes cinco dias antes do parto previne a transmissão transmamária de T. cati para os filhotes.4

Ancilostomíase

Existem duas diferentes espécies de ancilostomatídeos de importância veteri-nária para felinos no Brasil: Ancylostoma

tubaeforme e A. braziliense. São parasitos

cilíndricos pequenos que medem de 8 a 13 mm de comprimento e possuem hábi-to hematófago, com a cápsula bucal com dentes utilizados para a fixação do para-sito na mucosa intestinal.

Os ancilostomatídeos têm três formas de infecção (Figura 3). A primeira é a pe-netração da larva infectante (L3) na pele íntegra do hospedeiro definitivo, onde ganha a circulação periférica e migra até o coração e, em seguida, o sistema

res-piratório, onde migram dos alvéolos até a glote e é deglutida, tornando-se verme adulto no intestino delgado.3

Algumas dessas larvas são ejetadas pelo coração para diversas partes do corpo e se encistam permanecendo em latência na musculatura do hospedeiro definitivo. Elas são importantes quanto ao aspecto epidemiológico, pois, toda vez que a população de vermes adultos no intestino é diminuída, como após a vermifugação, larvas tornam-se ativas, completam o ciclo e voltam a colonizar o intestino delgado.3

A segunda forma de infecção é a par-tir da ingestão da larva de terceiro estágio (L3) juntamente com alimentos e água contaminados. Nesta, parte dos parasi-tos penetra na mucosa oral íntegra e faz a migração pelos sistemas circulatório e digestório. A outra parte é deglutida e se torna adulta no intestino delgado.3

A terceira forma de infecção envolve a ingestão de hospedeiros paratênicos, como roedores, aves e lacertídeos, que possuem a L3 encistada em sua muscula-tura e/ou vísceras.3

A idade é um fator crucial para a pa-togenicidade dos ancilostomatídeos. Os gatos filhotes são mais suscetíveis à in-fecção. À medida que o animal cresce, aumenta a resistência do hospedeiro. No entanto, fatores como má nutrição e estresse podem agravar casos em que a doença era subclínica.

Animais que apresentam grande carga parasitária desenvolvem quadros de anemia por deficiência de ferro devi-do à perda de sangue, causandevi-do anemia microcítica hipocrômica, melena, apatia, emaciação e, em casos graves, colapso respiratório.

Larvas em latência na musculatura colonizam o intestino após vermifugação

Penetração na pele íntegra

Ingestão de hospedeiros paratênicos: aves, roedores e lacertídeos

Eliminação dos ovos nas fezes e desenvolvimento no ambiente da larva infectante (L3)

Ingestão da L3 do ambiente

Figura 3 - Ciclo de vida do Ancylostoma spp. Os ovos são liberados nas fezes e no ambiente, e ocorre o desenvolvimento da larva de terceiro estágio. O felino pode infectar-se a partir da ingestão da larva em comida e água contaminadas, ingestão de hospedeiros paratênicos e penetração das larvas ativamente na pele íntegra

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As técnicas de flutuação simples ou centrifugoflutuação são as mais indica-das, para diagnosticar animais parasita-dos por ancilostomatídeos e ascarídeos por serem ovos leves.

Resultados negativos em apenas um exame não descartam a possibilidade de o animal estar parasitado, visto que a li-beração de ovos nas fezes pode ocorrer de forma intermitente.

Faz-se necessária a solicitação do exame de fezes mesmo que o animal esteja aparentemente saudável. Entre-tanto, animais adultos parasitados são geralmente assintomáticos e continuam a contaminar o ambiente. Vale lembrar que A. braziliense, T. cati e D. caninum têm potencial zoonótico e apresentam risco para a saúde do proprietário.

As técnicas moleculares e imunológi-cas ainda não estão padronizadas para a rotina clínica devido ao preço e à comple-xidade de execução.

A. braziliense causa a larva migrans

cutânea, conhecida popularmente como “bicho-geográfico” nos humanos. Ocorre a penetração ativa da L3 na pele íntegra, que não consegue completar seu ciclo biológico e permanece migrando pela epiderme, o que causa as lesões serpenti-formes, que lembram um mapa, e de ca-ráter pruriginoso.

Assim como na toxocaríase, o an-ti-helmíntico mais comumente utilizado é o pamoato de pirantel por via oral. En-tretanto, este não age sobre as formas imaturas dos ancilostomatídeos, sendo necessário repetir a vermifugação 15 dias após o primeiro tratamento.

A emodepsida/praziquantel na for-mulação spot on apresenta excelente eficácia no controle de formas adultas e imaturas de A. tubaeforme e A. braziliense em felinos domésticos.5

Dipilidiose

Dipylidium caninum causa uma

do-ença denominada dipilidiose, conside-rada zoonose parasitária de distribuição mundial para que se tem dado pouca importância, apesar de sua alta frequên-cia em gatos.1

Esses cestoides podem crescer até 40 a 50 cm de comprimento, mas a maior parte dos espécimes raramente excede

25 cm em gatos. Seu ciclo de vida possui, como hospedeiros definitivos, cães e ga-tos, e como hospedeiros intermediários, pulgas do gênero Ctenocephalides e pio-lhos do gênero Trichodectes.

O ciclo inicia-se com a eliminação das proglotes grávidas nas fezes do fe-lino infectado (Figura 4). Os ovos pre-sentes nas proglotes são ingeridos pe-las formas larvares da pulga. O embrião hexacanto penetra na cavidade corpórea da larva da pulga e lá permanece du-rante sua metamorfose. Após a pulga adulta emergir do casulo, o hexacanto desenvolve-se até cisticercoide em dois a três dias. O ciclo continua quando o gato – que atua como hospedeiro defini-tivo – ingere cisticercoides presentes em pulgas infectadas no ato de se lamber. No trato intestinal dos felinos, esses cis-ticercoides evoluem para a forma adulta do cestoide, e proglotes contendo mui-tos ovos em suas cápsulas são liberadas nas fezes, reiniciando o ciclo (Quadro 1).1

Nos felinos, a infecção é geralmente assintomática. Um sinal clínico caracte-rístico dessa verminose é a presença das proglotes do cestoide na zona perineal dos animais, nas fezes ou em locais onde

Hospedeiro intermediário Pupa Adulto Hospedeiros definitivos Proglote grávida Cápsula ovígera Ovo Larva Oncosfera Cisticercoide

Figura 4 - Ciclo de vida do Dipylidium caninum. O hospedeiro definitivo libera nas fezes proglotes grávidas que liberam suas cápsulas ovígeras enquanto se movem. Larvas de Ctenocephalides mastigam as cápsulas e ingerem as oncosferas do cestoide. A oncosfera libera o embrião hexacanto, o qual se desenvolve até cisticercoide após a pulga atingir a fase adulta. Se a pulga infectada for ingerida por um hospedeiro definitivo durante o ato de se lamber ou acidentalmente, o cisticercoide desenvolve-se até a forma adulta no intestino delgado, e novas proglotes grávidas são liberadas nas fezes

eles ficam. A maioria dos gatos apresen-ta prurido anal intenso que os obriga a friccionar o ânus contra o solo. Depen-dendo do grau de infecção, o gato pode apresentar dor abdominal, alteração no apetite, emagrecimento, inflamação da mucosa intestinal e até obstrução.1

Em seres humanos, a infecção ocorre principalmente em crianças de um a cin-co anos, devido à ingestão acidental de pulgas infectadas. Essa parasitose é geral-mente assintomática, porém pode causar mal-estar, perda de apetite, cólicas, diar-reia, prurido e insônia.1

Inúmeras apresentações comerciais estão disponíveis no mercado destinadas

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Quadro 1 - Imagens de parasitos gastrintestinais de gatos em diferentes estágios3,6

Os ovos de T. cati no exame coproparasitológico na técnica de centrifugoflutuação simples são

escuros, quase esféricos ou levemente arredondados, com casca espessa e rugosa, com conteúdo

granular de cor marrom a preto. Possuem tamanho entre 65 e 75 µm.

Ovos de Ancylostoma spp. no exame coproparasitológico na técnica de centrifugoflutuação

simples. São claros, com casca fina e lisa em seu interior e apresentam mórula contendo de 4 a 8

blastômeros. Possuem tamanho de 56 a 75 µm de diâmetro e 34 a 45 µm de largura.

Cápsula ovígera de D. caninum observada no exame coproparasitológico de fezes pela técnica

de centrifugoflutuação. Possui coloração castanho-amarelada com tamanho entre 120 e 200 µm.

Em seu interior estão presentes de 10 a 30 ovos pequenos de tamanho entre 25 e 50 µm. Esta

estrutura parasitária é difícil de ser observada nos exames coproparasitológicos de rotina devido à

baixa sensibilidade das técnicas para sua detecção.

Proglotes de D. caninum nas fezes de gato (setas). São estruturas brancas que saem ativas

nas fezes, ou seja, se movimentam. A observação de proglotes nas fezes fecha o diagnóstico

para dipilidiose.

à prevenção de helmintoses em animais de companhia. Cada base tem um espec-tro de ação distinto.6

Os anti-helmínticos niclosamida, pra-ziquantel e epsiprantel atuam nos princi-pais cestoides. O praziquantel surgiu em 1975 e foi o primeiro a ser empregado contra os cestoides, sendo seguro e eficaz. Pode ser administrado por via oral ou pa-renteral em gatos, com grande atividade contra todos os estádios de D. caninum.6

Atualmente está disponível uma nova formulação tópica com associação de emodepside e praziquantel, com eficácia de 100% numa aplicação única para pre-venção de D. caninum em gatos.6

Aelurostrongilose

A presença de vermes pulmonares em gatos tem despertado o interesse cada vez mais crescente pelos clínicos ve-terinários. Isso se deve principalmente ao desafio quanto à realização de testes de diagnóstico, ao maior número de casos descritos e à representação de risco para a saúde dos felinos.

Aelurostrongylus abstrusus, um

me-tastrongilídeo, é o parasito pulmonar mais comum no gato. É um nematoide delga-do, com 5 a 10 mm de comprimento, ca-paz de provocar pneumonia verminótica de gravidade variável. Vermes como esse, quando adultos, habitam dutos alveo-lares, bronquíolos terminais e pequenas ramificações das artérias pulmonares e, raramente, o ventrículo direito.

A ocorrência da infecção por A.

abstrusus não apresenta sazonalidade.

Há relatos em diversos países do mun-do, com diferentes condições climáti-cas, assim como em alguns estados do Brasil. A prevalência dessa parasitose está provavelmente subestimada, uma vez que o exame coproparasitológico, utilizando a técnica de Baermann, é pouco solicitado na rotina de atendi-mento clínico dos gatos domésticos.

O ciclo de vida do A. abstrusus é complexo e envolve moluscos terrestres e aquáticos, como hospedeiros interme-diários, e répteis, anfíbios, aves e peque-nos mamíferos, como hospedeiros para-tênicos (Figura 5).7 A infecção em gatos é resultante da ingestão de um desses hos-pedeiros, e as L3 penetram na mucosa do sistema digestório do hospedeiro defini-tivo e chegam aos pulmões pelo sistema linfático e pela corrente sanguínea, onde se desenvolvem até as formas adultas. A oviposição e o desenvolvimento das larvas de primeiro estádio ocorrem no parênquima pulmonar. Ovos e larvas são posteriormente deglutidos e eliminados juntamente com as fezes. No meio am-biente, as larvas livres (L1) sobrevivem por até duas semanas e,

ao serem ingeridas ou penetrarem nos hos-pedeiros intermediá-rios, sofrem duas mu-das e se desenvolvem em L3. O gato infecta-se ao caçar os

hospe-deiros paratênicos que contêm as larvas encistadas do parasita.

Essa parasitose apresenta um pe-ríodo pré-patente de seis semanas e um período patente de até dois anos. É frequente em gatos jovens, devido às brincadeiras com presas, e em gatos machos não domiciliados pelos hábitos noturnos de caça.

Na maioria das vezes, a infecção por

A. abstrusus manifesta-se de forma

subclí-nica devido à evolução autolimitante da doença. Os sintomas são brandos e, usu-almente, do tipo respiratório. Nos animais jovens, debilitados ou imunocomprometi-dos, observam-se sinais clínicos mais gra-ves. Estes podem variar desde tosse seca de baixa intensidade, causada por uma traqueíte, até sibilos e crepitações pulmo-nares graves devido à bronquite, mime-tizando a asma felina. Em alguns animais notam-se dispneia e angústia respiratória, sendo a tosse pouco comum ou ausente. Os sintomas respiratórios se devem aos

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Ingestão de

hospedeiros intermediários

Hospedeiros intermediários: moluscos terrestres e aquáticos

Eliminação de L1 nas fezes Ingestão de hospedeiros

paratênicos: aves, roedores e lacertídeos

ovos e às larvas localizados nos alvéolos pulmonares e à irritação mecânica produ-zida por estas nos sistemas respiratório e digestório. Outros sintomas menos fre-quentes incluem prostração, inapetência e emagrecimento. Uma eosinofilia acentua-da pode persistir por 24 semanas. Os sinais clínicos e lesões de aelurostrongilose de-pendem da carga parasitária e da resposta imunológica dos felinos. As infecções gra-ves comumente acarretam pneumonia, fe-bre (caso haja infecção bacteriana secun-dária), efusão pleural, piotórax, anorexia, diarreia e morte súbita, devido à postura simultânea de grande número de ovos no parênquima pulmonar.

As radiografias torácicas podem ser úteis como meios complementares de diagnóstico. Elas auxiliam a avaliação da gravidade da infecção parasitária. É ob-servada a presença de densidades no-dulares pequenas e pouco definidas por todos os campos pulmonares, principal-mente, nos lobos pulmonares caudais. Contudo, é difícil a distinção entre aelu-rostrongilose e outros processos pulmo-nares inflamatórios ou infecciosos.

O método mais confiável de diagnós-tico da infestação é a demonstração de L1 nas fezes, mais facilmente isoladas de amostras frescas por meio da técnica de

Figura 5 - Ciclo de vida do Aelurostrongylus abstrusus. O felino elimina a larva de primeiro estágio nas fezes. A infecção ocorre a partir da ingestão de hospedeiros intermediários ou paratênicos

Baermann. Múltiplas amostras fecais de-vem ser examinadas em casos suspeitos, preferencialmente, por três dias conse-cutivos, já que a larva nem sempre está presente. Uma característica que chama atenção nessas

lar-vas é a presença de um espinho subter-minal na cauda em forma de “S”. O exa-me dos líquidos dos lavados traqueais ou broncoalveolar pode revelar larvas e infla-mação eosinofílica.

O desempenho da técnica

“nes-ted PCR” na detecção do parasita obtido

de zaragatoas faríngeas de gatos tem demonstrado excelentes sensibilidade e especificidade, mas nem sempre essa ferramenta está disponível. Esses para-sitas pulmonares são difíceis de colher intactos, pois ficam incrustados nos teci-dos pulmonares. O exame histopatológi-co dos pulmões mostra fohistopatológi-cos de invasão dos alvéolos pulmonares por ovos e lar-vas em diferentes fases de desenvolvi-mento de A. abstrusus.

Diversas opções de tratamento são conhecidas para a aelurostrongilose fe-lina, tendo sido vários protocolos uti-lizados e reportados como eficazes. O tratamento recomendado é com o fem-bendazol por 14 dias.

Mais recentemente, foram avaliadas a eficácia e a segurança de dois antiparasitá-rios, um contendo imidacloprida a 10% e moxidectina a 1% e outro com emodepside a 2,1% e praziquantel a 8,6%, em formula-ção spot on e administrados uma única vez, os quais demonstraram ser seguros e efica-zes no tratamento de gatos infectados na-turalmente por A. abstrusus.8,9 A resposta ao tratamento é monitorada pela melhora dos sinais clínicos e das imagens das radiogra-fias torácicas, e pela realização do exame coproparasitológico pela técnica de Baer-mann, com amostras de fezes obtidas por três dias seguidos para garantir o término da excreção larvar. O uso de glicocorticoides e broncodilatadores auxilia na melhora do processo inflamatório pulmonar.

Considerações finais

O estado de saúde do gato será de-terminante para o grau de severidade da atuação das verminoses em seu organismo, sendo que alguns fatores como a idade, o tipo de alimentação e outras doenças preexistentes podem agravar o quadro.

A vermifugação do gato prote-ge o animal e toda a família contra

a ação dos parasitas. Esse ato deve ser incorporado à rotina de

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Referências:

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2. MADDISON, J. E. Medication compliance in small animal practice.

Veterinary Ireland Journal, v. 64, n. 1, p. 39-43, 2011.

3. TRAVERSA, D. Pet roundworms and hookworms: A continuing need

for global worming. Parasites & Vectors, v. 5, n. 91, p. 1-19, 2012.

4. WOLKEN, S.; SCHAPER, R.; NORBERT MENCKE, N.; et al. Treatment

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5. SCHAPER, R.; ALTREUTHER, G.; HOPKINS, T. Efficacy of

Emodepsi-de plus Praziquantel Topical Solution against Immature Stages of Nematodes (Ancylostoma sp. and Toxocara sp.) in Cats. Journal of Parasitology Research. n. 101, v. 1, p. 63-68, 2007. Suplemento.

6. CHARLES, S. D; ALTREUTHER, G.; REINEMEYER, C. R; et al.

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Echinococcus multilocularis) infections in cats. Journal of

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7. SCOFIELD, A.; MADUREIRA, R. C.; OLIVEIRA, C. J. F.; et al. Diagnóstico pós-morte de Aelurostrongylus abstrusus e caracterização morfo-métrica de ovos e mórulas por meio de histologia e impressão de tecido. Ciência Rural, v. 35, n. 4, p. 952-955, 2005.

8. TRAVERSA, D.; DI CESARE, A.; MILILLO, P. A.; et al. Efficacy and safe-ty of imidacloprid 10%/moxidectin 1% spot-on Formulation in the Treatment of Feline Aelurostrongylosis. Journal of Parasitology Re-search, v. 105, n. 1, p. 55-62, 2009. Suplemento.

9. TRAVERSA, D.; MILILLO, P.; DI CESARE, A.; et al. Efficacy and safety of Emodepside 2.1%/Praziquantel 8.6% spot-on Formulation in the Treatment of Feline Aelurostrongylosis. Journal of Parasitology Re-search, v. 105, n. 1, p. 83-89, 2009. Suplemento.

“As opiniões aqui refletidas são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da Bayer.”

Figura 6 - Demonstração da praticidade na aplicação do Profender® spot on em um gato

filhote. Deve ser aplicado na região da nuca, logo após o banho e com os pelos secos Quadro 2 - Medidas para a prevenção de verminoses

dos com o felino, pois mesmo os que vi-vem confinados em casas e apartamentos devem ser vermifugados com frequência. Desta maneira, é de grande importância um protocolo de prevenção de fácil ade-são dos proprietários, driblando a dificul-dade da administração oral de medica-mentos para a espécie.

O vermífugo tópico da Saúde Animal da Bayer HealthCare oferece praticidade em sua aplicação, pois em um tratamen-to único elimina os nematratamen-toides e ces-toides nas formas adultas e larvais, não sendo necessário repetir a dose após 15 ou 30 dias. Profender® spot on pode ser utilizado por gatas prenhes, em lactação e filhotes a partir de oito semanas de idade, com peso acima de 0,5 kg, sendo a sua aplicação realizada na região da nuca do felino, que pode receber a ver-mifugação logo após o banho, com os pelos secos (Figura 6).

É importante ressaltar que, em um ambiente com a presença de mais de um felino, todos devem ser vermifugados ao mesmo tempo, não somente o animal doente, pois o local torna-se contamina-do e pode servir como fonte de infecção para o gato sadio.

Elimine as verminoses

Com alguns cuidados higiênicos, é possível evitar as verminoses, apesar de o controle efetivo ocorrer com a vermifu-gação preventiva. Confira algumas dicas bem orientadas pelo médico veterinário que podem auxiliar a manter os vermes longe de seus gatos (Quadro 2).

Evite o contato do seu gato com hospedeiros paratênicos;

Escove o seu gato sempre que necessário – a escovação pode auxiliar na remoção de ovos de parasitos presos no pelo do animal;

Se possível, restrinja o acesso do seu gato à rua. Assim ele fica longe de áreas contaminadas;

Troque a areia da caixa sanitária diariamente, usando luvas, e periodicamente lave-a com água e sabão;

Realize o controle de ectoparasitos, como piolhos e pulgas, pois estes são hospedeiros intermediários de helmintos;

Realize exame de fezes com regularidade, pois este pode detectar precoce-mente a presença de parasitos.

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Referências

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