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A CULTURA PATRIARCAL E A CULTURA MATRÍSTICA: CONTEXTUALIZANDO O EMOCIONAR E O BRINCAR

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Academic year: 2021

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A CULTURA PATRIARCAL E A CULTURA MATRÍSTICA: CONTEXTUALIZANDO O EMOCIONAR E O BRINCAR

BARRETO, Adriano Albuquerque 1 BARROS, Solange de Moraes2

OLIVEIRA JUNIOR, Constantino Ribeiro de3

Resumo: A constituição do ser humano não é fundamentalmente um avanço da racionalidade. A vida relacional diz muito mais do que somos que a própria razão. Nosso objetivo nesse trabalho é identificar as contribuições de Gerda Verden-Zoller e Humberto Maturana à concepção lúdica. A partir da obra Amar e Brincar: Fundamentos Esquecidos do Humano pretendemos demonstrar de que modo a capacidade relacional em nosso espaço psíquico qualifica nossas vidas através do brincar. Palavras Chave: infância, brincadeira, espaço psíquico.

Introdução

Huizinga (1980) na sua obra dedicada ao Homo-ludens já percebia que a civilização humana pouco acrescentou à idéia geral do jogo. Apesar de confundir o lúdico com os jogos regrados, lembrar que as atividades lúdicas tinham mais que função biológica e física era um dos propósitos de Huizinga. Declarava ele que as atividades lúdicas tinham uma função significante muito mais que os próprios instintos ou as vontades, tornamdo-se assim um dos próprios fundamentos da cultura (Huizinga 1980 pág. 4).

Parece-nos que Gerda Verden-Zoller e Humberto Maturana querem nos chamar a atenção a essa mesma característica. Considerar o elemento lúdico das atividades apenas como um fim é “furtar” (Marcelino 1990) a capacidade constitutiva do ser quanto “consciência de si e do outro”. Importar-se com o significado que há em vivenciar emoções autênticas no cotidiano é preocupar-se com a produção de sentido.

Objetivos

1 Licenciado em Geografia, acadêmico de Serviço Social e mestrando em Ciências Sociais

Aplicadas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Pesquisador do Núcleo de Estudos ,Pesquisa e Extensão na área da Infância e Juventude. e-mail: jahprovera@yahoo.com.br

2 Prof. Drª.do Curso de Serviço Social e docente do Programa de Mestrado em Ciências Sociais

Aplicadas UEPG Coordenadora do Nepia (Núcleo de estudos, pesquisas, assessoria e extensão e na área da infância e adolescência). e-mail: solangebarros@brturbo.com.br

3 Prof. Drº do Curso de Educação Física e docente do Programa de Mestrado em Ciências Sociais

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Procuraremos aqui, defender a substancialidade do elemento lúdico mais que sua funcionalidade. “Brincar é atentar para o presente” (Verden-Zöller, 2004, p. 230). “O brincar não tem a ver com o futuro” (Zöller, 2004, p. 231). Diria Verden-Zoller que é muito mais importante atentar para o que somos do que para quem queremos ser (Verden-Zöller, 2004, p. 230).

Metodologia

Intentamos neste trabalho, a partir da obra Amar e Brincar: Fundamentos

Esquecidos do Humano, interpretar o trabalho de Humberto Maturana com relação à

cultura patriarcal e à cultura matrística. Posteriormente pretendemos avaliar de que maneira Gerda Verden-Zoller em suas considerações sobre o brincar e a consciência de si e do outro pode contribuir para um olhar distinto sobre as atividades lúdicas com crianças.

Resultados e conclusão

Em nossa análise verificamos que Gerda Verden-Zoller e Humberto Maturana (2004) se referem à cultura como resultado do emocionar. Vivenciar emoções é conversar, é se relacionar e compartilhar. Segundo nossos autores são essas trocas que definem nossas ações (Verden-Zoller e Maturana 2004 pág 9-10).

A linguagem como artifício das emoções tem assim papel fundamental no curso da existência humana. O linguagear se consolidaria em nosso comportamento através dos consensos que as relações potencializariam (Verden-Zoller e Maturana 2004 pág 10). Com efeito, esta construção humana é percebida em nosso modo de viver moderno.

Esse fato não acontece sem pouco fôlego. Como Verden-Zoller e Maturana consideram que nossa cultura se dá a partir de uma rede fechada de relações é necessário sempre a superação de estruturas consolidadas e consensuais, e isso é possível somente através de mudanças em nosso emocionar, termo esse fundamental das alterações sociais.

A cultura patriarcal exemplifica assim um modo de sentir e agir que queiramos ou não é uma construção de nossa responsabilidade. O que Verden-Zoller e

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Maturana propõe é uma superação dessa cultura por outro relacionar-se fundamentado no que eles chamam cultura matrística.

Maturana (2004) faz um quadro comparativo destas duas culturas. A patriarcal, nominada por ele de européia moderna, seria a mais evidente nos dias de hoje. Entre suas características principais está a valorização da “guerra, a competição, a luta, as hierarquias, a autoridade, o poder, a procriação, o crescimento, a apropriação de recursos e a justificação racional do controle e da dominação dos outros por meio da apropriação da verdade” (Maturana 2004 pág. 37). A cultura matrística, por outro lado, se fundamenta na cooperação, no respeito mutuo e na ausência da dinâmica emocional da apropriação (Maturana 2004 pág. 40 - 41).

Nestas duas culturas o emocionar se manifesta de formas diferentes no cotidiano. Para representar o emocionar patriarcal e o emocionar matrístico Maturana recorre a duas etapas de formação da criança. As características da primeira etapa seriam semelhantes nas duas culturas. Estaria estabelecida na biologia do amor, ou seja, na confiança e coexistência como valores legítimos.

A criança vive a primeira fase da sua vida como uma dança prazerosa, na estética da coexistência harmônica própria da coerência sistêmica de um mundo que se configura com base na cooperação e no entendimento (Maturana 2004 pág. 44).

Na segunda etapa é que as culturas divergem de modo significativo4. Em quanto na cultura patriarcal infância é seguida do enfrentamento de situações de controle e de um “continuo esforço para aprovação” (Maturana 2004 pág 44) a cultura matrística dá continuidade às noções cooperativas do viver junto. Não que o viver (emocionar) matrísico seja pura irresponsabilidade em face o compromisso patriarcal, mas sim o ter consciência dos seus atos e suas conseqüências mediadas pela autonomia e reconhecimento da convivência (Maturana 2004 pág. 47).

Do que foi dito tomamos como fato que temos privilegiado a cultura patriarcal. Os valores que vivenciamos em nossa sociedade são competitivos e acabam gerando frustração na maioria das pessoas. O “emocionar-se” é significativo 4 Ponderamos aqui que a representação da infância é diferenciada nas duas culturas, mas o que importa nesse trabalho é perceber como o emocionar patriarcal pouco considera o emocionar matrísico que privilegia a cooperação e a convivência para em seguida refletirmos a luz da ludicidade a proposta de Verden-Zoller e Maturana.

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somente quando estamos em primeiro ou quando deixamos alguém para trás. Mas como podemos dar outro significado as nossas ações? Podemos beber de outras águas?

Propomos agora refletir sobre essas questões partindo do que Verden-Zoller pensa sobre “o brincar” e a retomada da “consciência de si e do outro” como projeto pedagógico infantil.

O emocionar matrísico na infância implica no relacionamento que as crianças estabelecem com os pais ou responsáveis (Verden-Zoller 2004). Mais que viver junto o conviver se dá na troca de olhares, sons e toques que significam momentos de confiança mutua, auto-respeito e auto-aceitação (Verden-Zoller 2004 pág. 229).

Se não nos entregamos por inteiro às atividades ao interagir com nossas crianças o emocionar patriarcal determinará enfim o significado de nossas ações. O brincar matrísico se caracteriza pela imersão na situação lúdica. Se nos preocupamos com outras coisas além da realização da própria atividade perde-se o emocionar matrísico do brincar.

Chamamos de brincadeira qualquer atividade humana praticada em inocência, isto é, qualquer atividade realizada no presente e com a atenção voltada para ela própria e não para seus resultados. Ou, em outros termos, vivida sem propósitos ulteriores e sem outra intenção além de sua própria prática (Verden-Zoller 2004 pág. 231).

O que qualifica a brincadeira na perspectiva matrísica é o simples ato de brincar. Se fizermos isso como obrigação, ou mesmo sem a inocência do presente, não podemos estabelecer como fundamento de nossas atividades a confiança, característica fundamental para o desenvolvimento de uma consciência livre.

A criança, segundo Verden-Zoller, adquire sua consciência social e sua autoconsciência quando estimuladas físico, emocional e intelectualmente de modo autêntico (Verden-Zoller 2004 pág. 228-229). O desenvolvimento legítimo é assim aquele proporcionado pelo emocionar matrísico motivado pelo amor e não pela prática em si.

Descobrimos a partir desse trabalho que o fundamento ontológico do brincar tem muito mais significado, quanto desenvolvimento da estrutura psíquica, do que o brincar de fato. As pesquisas de Gerda Verden-Zoller e de Humberto Maturana demonstram que devemos atentar para o fato de que é imprescindível construir outras mobilizações emotivas que a própria do racionalismo moderno.

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Referências:

HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva. 2.ª edição. 1980.

MARCELINO, Nelson Carvalho. Pedagogia da Animação. Campinas/SP: Papirus. 4ª edição. 2002. MATURANA, HUMBERTO E VERDEN-ZÖLLER, GERDA. AMAR E BRINCAR: FUNDAMENTOS ESQUECIDOS DO HUMANO. TRAD. HUMBERTO MARIOTTI E LIA DISKIN. SÃO PAULO: PALAS ATHENA, 2004.

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