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Bruxelas, 31 de Março de 1998A Comissão promove os Mercados Europeus de
Capital de Risco
A Comissão Europeia lançou uma vasta iniciativa para promover o desenvolvimento de um importante mercado de capital de risco pan-europeu, como contributo vital para a criação de empregos na Europa. A fragmentação e o subdesenvolvimento que caracterizam os mercados de capital de risco na Europa constituem um obstáculo significativo ao crescimento das pequenas e médias empresas (PME). O documento da Comissão hoje publicado pretende identificar as barreiras que entravam o desenvolvimento dos mercados europeus de capital de risco e propõe um plano de acção global para as instituições europeias, as entidades nacionais e o sector privado. O plano de acção em seis pontos prevê medidas para (i) promover a integração dos mercados fragmentados de capital de risco na Europa, (ii) eliminar as barreiras institucionais e regulamentares ao seu desenvolvimento (incluindo a legislação comunitária), (iii) melhorar o regime fiscal do capital de risco, (iv) promover o desenvolvimento das PME no sector da alta tecnologia, (v) aumentar as capacidades em recursos humanos com as necessárias competências e vocação empresarial, e (vi) reduzir as barreiras culturais à iniciativa empresarial e à tomada de riscos. As propostas da Comissão serão debatidas primeiramente no Conselho de Ministros das Finanças, de 21 de Abril. À luz das reacções dos Estados-membros, a Comissão tenciona apresentar propostas formais no decurso do mês de Maio, antes da reunião do Conselho Europeu de Junho, que terá lugar em Cardiff.
O documento intitulado “ Capital de Risco: uma solução para a criação de empregos na União Europeia” responde ao mandato do Conselho Europeu do Luxemburgo sobre o emprego (Luxemburgo 20/21 de Novembro de 1997) que solicitou que a Comissão apresentasse ao Conselho Europeu de Cardiff um relatório sobre as barreiras ao desenvolvimento dos mercados pan-europeus de capital de risco na União Europeia.
Capital de Risco - uma contribuição vital para a criação de empregos
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A necessidade de financiar PME em rápido crescimento, especialmente as que se desenvolvem muito depressa, criando grande quantidade de postos de trabalho nesse processo. Nos EUA, entre 1991-95, 3% das empresas americanas foram responsáveis por 80% de crescimento de emprego, ou seja, mais de 6 milhões de empregos.•
A existência de uma bolsa com poder de atracção e capacidade de congregar a liquidez necessária para encorajar novas empresas em rápido crescimento a fazer uma primeira oferta pública. Nos EUA, este papel foi desempenhado pelo NASDAQ, que se desenvolveu muito rapidamente nos anos noventa. Este mercado proporciona capitais próprios a cerca de 5 500 empresas que representam um total de 9 milhões de empregados. O capital conseguido pelo NASDAQ em 1997 foi sete vezes superior ao reunido no conjunto dos mercados europeus equivalentes (EASDAQ, EURO NM e AIM).•
As exigências do investidor que necessita, nomeadamente, de poder financiar um conjunto de boas e novas empresas, com ideias de grande qualidade e na vanguarda do desenvolvimento tecnológico. Esta dinâmica é potenciada pelo efeito de agrupamento decorrente de um cadinho de investidores, financeiros, técnicos, juristas, peritos imobiliários, conhecedores do processo e nele activos.A fragilidade dos mercados europeus mantém-se, apesar dos sinais positivos de mudança
Em todas estas áreas, a União Europeia não tem a robustez que deveria ter, atrasando consequentemente o crescimento, a criação de empregos e o desenvolvimento tecnológico. O que nos preocupa particularmente é constatar que muitos dos principais empresários europeus, e das melhores ideias europeias, não são desenvolvidos nem comercializados na União. É, pois, crucial que a União Europeia e os Estados-membros criem as condições financeiras, institucionais e fiscais adequadas para que isso possa acontecer na UE.
Há alguns sinais positivos de mudança, dos quais o mais importante é a introdução do euro em 1 de Janeiro de 1999, com os seguintes resultados:
* Maior harmonia de condições nos mercados financeiros. * Mais cooperação entre as bolsas europeias.
* Maior liquidez e crescimento do mercado financeiro europeu, quer para investidores, quer para emissores, para o que contribuirá o fim dos problemas de câmbio entre activos e passivos.
Outro indicador significativo é o actual desenvolvimento na UE dos fundos de pensão e de seguros que, nos EUA, contribuíram para desenvolver e sustentar a cadeia de capital de risco. A Internet e o comércio electrónico em geral contribuirão também para fazer baixar os custos de entrada de novas firmas no mercado interno. Contudo, e apesar destes sinais positivos, existem ainda várias barreiras perniciosas que, se não forem vencidas, continuarão a obstar ao desenvolvimento do capital de risco na Europa e, simultaneamente, à criação de empregos.
Além das remoção das barreiras, há outras condições subjacentes que têm que ser resolvidas, incluindo regras comuns de gestão empresarial, a necessidade de transparência do mercado e de informações estatísticas, liquidez suficiente para os investidores poderem “sair de cena”, caso optem por esta solução, e um conjunto de oportunidades de investimento atraentes.
O Plano de Acção - seis soluções prioritárias ditadas pelo mercado
A Comissão propõe que seja adoptado um plano de acção comunitário coordenado, destinado a optimizar o crescimento do capital de risco na União e a garantir, desta forma, os maiores benefícios em termos de criação de emprego. A tónica será colocada na remoção das barreiras que impedem o desenvolvimento dos mercados. Os principais elementos são os seguintes:
I. Integração do mercado - necessidade de reduzir a fragmentação
* A Comissão organizará uma mesa redonda antes do fim de 1998 sobre o impacto da fragmentação do mercado no fornecimento do capital de risco. * Paralelamente, a Comissão trabalhará com a indústria no sentido de melhorar
estatísticas e outras informações existentes sobre o mercado do capital de risco na Europa. A Comissão estudará, em especial, os custos relativos do financiamento por dívida e por capital próprio para as empresas na Europa. II. Eliminar as barreiras institucionais e regulamentares
* A Comissão pretende propor legislação comunitária que permita aos fundos de capital de risco angariar capital em toda a União (eliminando assim as restrições dos mercados nacionais), o que contribuirá para que obtenham uma massa crítica de financiamento que viabilize as suas operações.
* Os Estados-membros são instados a adoptar medidas que tornem mais fácil para os investidores institucionais, como fundos de pensão, companhias de seguros e fundos comuns de poupança, o investimento em PME, quer directamente, quer através de empresas de capital de risco.
* A Comissão pretende propor a alteração da legislação comunitária no sentido de facilitar às pequenas empresas a cotação simultânea em vários mercados de diferentes países. O relatório destaca duas áreas: prospectos de admissão à cotação e regras de contabilidade. Actualmente, as empresas enfrentam o problema de dever preparar diferentes prospectos e documentos contabilísticos para obedecer a diferentes legislações nacionais. A Comissão sugere que no futuro seja criado um “passaporte único” para os prospectos (os documentos emitidos num Estado-membro seriam automaticamente aceites noutros) e uma maior harmonização das regras contabilísticas (por exemplo, no caso de imposto diferido e de pagamento de pensões), de acordo com normas internacionais.
* Cooperação reforçada entre as entidades responsáveis. III. Melhoria do enquadramento fiscal do capital de risco
* Uma análise geral dos regimes fiscais nacionais sugere que possa existir uma preferência pela remuneração do crédito (pagamento de juros), em detrimento do rendimento de capitais (dividendos, etc.). Os Estados-membros são encorajados a fazer uma análise crítica dos seus regimes fiscais, para terem a certeza de que estimulam da forma mais correcta os investidores de empresas potencialmente arriscadas com forte potencial de criação de empregos.
* Os Estados-membros são também encorajados a garantir que as disposições relativas aos impostos sobre os rendimentos do capital não sejam perniciosas para o desenvolvimento do capital de risco na Europa. Devem ser examinadas regras específicas relativas aos esquemas de opção de compra de acções, para ajudar as pequenas empresas de alta tecnologia, a braços com problemas orçamentais, a recrutar e manter pessoal de elevado nível. * Os Estados-membros devem clarificar o enquadramento fiscal dos fundos de
capital de risco.
IV.Promover o desenvolvimento das PME de alta tecnologia
* Melhorar as relações entre universitários, empresários e fontes de capital, através da ligação em rede e da constituição de grupos de universidades, centros de investigação, instituições financeiras e especialistas empresariais e comerciais.
* Criar um “clube” de empresas modelo de alta tecnologia e de rápido crescimento que possam servir de exemplo.
* Os Estados-membros são encorajados a simplificar e acelerar os procedimentos de criação de novas empresas. A Comissão dará o seu contributo, através da análise das melhores práticas europeias neste domínio.
V. Recursos humanos especializados e com espírito empresarial
* A Comissão estudará as necessidades, em termos de formação, das empresas de capital de risco e dos organizadores de mercado (“market makers”), capazes de conferir liquidez ao segundo mercado, sob forma de acções de pequenas empresas de alta tecnologia.
* A Comissão examinará os benefícios do tipo de remuneração sob forma de acções e os sistemas de participação propostos ao pessoal. A experiência nos EUA sugere que este tipo de sistemas pode estimular o crescimento de novas empresas dinâmicas, graças ao desenvolvimento do espírito empresarial e de um certo sentido de propriedade nos empregados.
* Os Estados-membros são encorajados a rever os sistemas de educação, para garantir que os currículos sejam coerentes com o espírito de iniciativa e de inovação.
* A Comissão colaborará com os Estados-membros no sentido de desenvolver redes de “business angels” ou de privados que tenham capital e estejam interessados em investir directamente em empresas novas ou emergentes ainda não cotadas.
VI.Reduzir as barreiras culturais que se colocam às empresas
* Os Estados-membros são instados a rever a legislação sobre insolvência e falência para evitar sanções excessivas que só servem, na prática, para impedir que pessoas com boas ideias possam ter uma segunda oportunidade (Nos EUA, o direito a falhar é considerado parte integrante da aprendizagem empresarial.)
* A Comissão planeia rever a prática europeia sobre gestão empresarial (com o objectivo de estimular a confiança entre os investidores).
* As entidades nacionais, os organismos profissionais e o sector privado são encorajados a assegurar uma vasta distribuição da informação sobre os benefícios do capital de risco ou das tomadas de participação e para promover o papel do espírito de empresa na sociedade.