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Assessoria Escolar em Fonoaudiologia: o que

pensam os educadores a respeito da atuação

do fonoaudiólogo na escola?

Carolina Arantes Pereira Barcellos Janaína Daniele dos Santos Goulart

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Palavras-Chave

resumo

Introdução

Assessoria Escolar em Fonoau-diologia, Linguagem, Educação, Trabalho com Projetos.

1

Como atividade profissional fonoaudiológica, a Assessoria Escolar constitui-se em uma proposta de atuação importante e, ao mesmo tempo, polêmica, tendo em vista as diversas possibilidades de inserção do fonoaudiólogo na escola em razão de diversos referenciais teórico-metodológicos que as permeiam. O artigo 4º da Lei 6965/81 prevê a participação do fonoaudiólogo em equipes de orientação e planeja-mento escolar, tanto de ordem pública quanto privada.

No entanto, por se tratar de uma atuação diferenciada da perspec-tiva clínica, houve interesse em pesquisar o que os educadores sabem a respeito dessa proposta de atuação fonoaudiológica e o grau de satisfação e credibilidade que os mesmos lhe atribuem.

Existem alguns fatores que podem ser considerados, anteriores à pesquisa, como contribuintes de uma interpretação equivocada ou da negação da Assessoria Escolar em Fonoaudiologia, como por exemplo, o fato de não haver um consenso sobre a atuação escolar entre os pró-prios fonoaudiólogos; o caráter clínico da atuação do fonoaudiólogo na escola, que valoriza a realização de triagens fonoaudiológicas e encaminhamentos clínicos; a carência de recursos financeiros na escola,

Este artigo objetiva analisar critica-mente a opinião de educadores sobre a atuação escolar em fonoaudiologia. Ao final deste estudo concluiu-se que é fundamental ampliar as possibili-dades de ação fonoaudiológica na escola, e respaldar-se em concepções teóricas e metodológicas que permiti-rão um trabalho de Assessoria Escolar mais aceito, eficiente e coerente com a Proposta Educacional.

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pois aos olhos da mesma, a atuação fonoaudiológica pode significar um serviço dispendioso; a falta de conhecimento sobre as possibilidades de atuação desse profissional na escola, como conseqüência da atuação indefinida do fonoaudiólogo e, também, pelo fato de a Fonoaudiologia ainda ser uma profissão pouco conhecida, embora consideramos essa hipótese menos provável (mas não impossível).

No decorrer do artigo haverá uma discussão sobre o histórico, a terminologia e o funcionamento da Assessoria Escolar na visão de alguns autores, seguido da apresentação da opinião de alguns educadores sobre a atuação do fonoaudiólogo na escola e do debate sobre tal atu-ação, para então apresentarmos a proposta educacional defendida por Fernando Hernández, Doutor em Psicologia e Professor da Universidade de Barcelona, que aponta para a necessidade das escolas trabalharem com projetos. Um mesmo projeto sendo elaborado e utilizado por todos os professores, cada qual contribuindo e enfocando uma deter-minada área. Em se tratando de uma equipe, caberia ao assessor em fonoaudiologia, atuar, de forma direta, na elaboração e implementação desses projetos, partilhando seu conhecimento específico na área da linguagem e seu funcionamento.

Discussões preliminares a respeito da atuação

fonoaudiológica na escola

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Guirau (1999) afirma que o movimento da saúde escolar tem seus primórdios no final do século XIX e seu auge na década de 40; porém, as concepções de saúde escolar se contrapõem de tal forma que com-promete uma definição comum.

Diversos autores afirmam que a profissão do assessor pode ter surgido de uma mentalidade de uma época na qual o objetivo era normatizar a língua de uma sociedade que vivia determinados aconte-cimentos políticos, sociais e culturais.

Para Sacaloski, Alavarsi e Guerra (2000), as primeiras experiências de fonoaudiólogos em escolas começaram a surgir na década de 70 e se fundamentavam em três pilares: a participação em equipe técnica, a realização de triagens e de terapias.

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e 80 foram caracterizadas por ações fonoaudiológicas (na escola) que ora se desenvolveram em nível do Sistema Educacional ora em nível do Sistema de Saúde. E especificamente na década de 80, as ações foram totalmente influenciadas pela chamada Atuação Preventiva.

Com relação à terminologia utilizada para denominar essa área de atuação, vale citar Collaço (1991) que a conceitua como Fonoaudiolo-gia Escolar; também Guedes (1999) refere-se ao fonoaudiólogo como agente catalizador – que incentiva a liberdade de expressão e criação do aluno; Cavalheiro (1997), também faz citações como Fonoaudiologia Educacional ou Escolar, Fonoaudiologia em Saúde Pública e Fonoaudio-logia Social ou Preventiva ou FonoaudioFonoaudio-logia Sócio-Comunitária que eram termos utilizados até então e, finalmente, Sacaloski, Alavarsi e Guerra (2000) afirmam que o fonoaudiólogo atua na escola como asses-sor, participando do planejamento escolar e transmitindo informações e sugestões da área aos professores, e como consultor, orientando sobre os problemas detectados em triagens.

Palestras, colaboração no processo educativo, realização de tria-gens, realização e direção de pesquisas fonoaudiológicas, ministração de cursos a professores e psicólogos escolares sobre dificuldades de linguagem, formação de grupos de mães a fim de informar, orientar sobre as dificuldades de linguagem dos alunos e quanto aos encami-nhamentos específicos e prevenção das dificuldades de comunicação, foram ações relatadas por diversos autores como Guirau (1999), Collaço (1991), Bitar (1991), Pinto et al (1991), Penteado (2002) que citam ações ocorridas nas duas últimas décadas.

De uma forma geral, todos os trabalhos referidos anteriormente apresentam basicamente um mesmo modelo de atuação, no qual o fonoaudiólogo realiza triagens, orientações a pais e professores, pro-move estimulações ou até reabilitações dos alunos a ele encaminhados. Esse modelo ainda é muito semelhante ao modelo clínico e de acordo com essa concepção, a patologia sobressai ao sujeito, e um sujeito portador de uma patologia é nada mais nada menos que aquele que desvia do normal, foge à regra. Até então, o fonoaudiólogo atuante na escola continua atrelado a sua formação clínica e desvinculado do projeto escolar.

“Estas propostas de atuação foram, sem dúvida, as primeiras pos-sibilidades de inserção do fonoaudiólogo na escola, mas diante dessas, muitas outras ainda estão por vir” (BARCELLOS, 2003:17).

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Metodologia

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Para viabilizar a pesquisa foi elaborado e aplicado um questionário contendo quatro questões dissertativas referidas a seguir:

1- Você conhece o trabalho fonoaudiológico em escolas? 2- Você acha importante a atuação de um fonoaudiólogo na

escola? Por quê?

3- Como é o trabalho do fonoaudiólogo na sua escola? É satis-fatório ou insatissatis-fatório?

4- Se não há um trabalho fonoaudiológico em sua escola, como você acha que deve ser, como funciona?

A pesquisa foi realizada em todas as escolas particulares de Educa-ção Infantil, Ensino Fundamental e Médio, da cidade de Cruzeiro, situada na região do Vale do Paraíba – Estado de São Paulo, correspondendo ao total de 18 escolas. O questionário foi exposto a 17 educadores, sendo que 15 deles colaboraram e apenas dois se negaram a participar da pesquisa.

Dos 15 profissionais que participaram da pesquisa, 7 responde-ram que conhecem o trabalho fonoaudiológico nas escolas. Outros 8 responderam que não, ou seja, a maioria não tem conhecimento. Dos 7, apenas 3 justificaram que não conhecem um fonoaudiólogo que trabalhe diretamente na escola, mas sim o que faz atendimento clínico e recebe os alunos encaminhados pela mesma.

De todos os profissionais, 3 atribuíram a importância de um fono-audiólogo assessor na escola ao fato de realizar avaliações periódicas nos alunos. Outros 2 responderam que sua presença é primordial no período da alfabetização, porém não justificaram a resposta. Dois profissionais afirmaram que a atuação fonoaudiológica é importante, porém dispendiosa. Três educadores, ao mencionarem a importância da atuação de um fonoaudiólogo na escola, fizeram colocações relaciona-das ao processo de aprendizagem dos alunos.Um deles afirmou que ter um fonoaudiólogo na escola é importante porque ele trata os alunos com dificuldade de dicção. Outro, porque ele orienta, tira dúvidas dos professores, melhorando a qualidade do trabalho dos mesmos. Um dos profissionais afirmou que ele orienta os professores a trabalhar com leitura e escrita. Houve também um profissional que afirmou que a presença do fonoaudiólogo relaciona-se com o bem estar dos alunos,

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favorecendo as conquistas do dia-a-dia. E, finalmente, um educador afirmou que:

“Sim, pois atualmente encontramos bastante crianças com pro-blemas de fala”.

Outro dado importante diz respeito ao custo desse profissional para a escola. Dois educadores se referiram à Assessoria Escolar em Fonoaudiologia como sendo um trabalho dispendioso e que não era priorizado nas respectivas escolas.

Das 17 escolas, 3 fizeram uma mesma referência sobre a Assessoria Escolar em Fonoaudiologia, seja definindo o fonoaudiólogo assessor como aquele que lida com questões de aprendizagem, seja responsa-bilizando-o por realizar avaliações e orientações periódicas. Isso indica que alguns dos educadores pesquisados conhecem algumas ações que são, na verdade, recortes dentre tantas possibilidades de atuação fonoaudiológica na escola. Talvez esse conhecimento restrito seja resul-tante de uma atuação restrita por parte dos próprios fonoaudiólogos. E essa afirmativa também já havia sido considerada anteriormente a realização da pesquisa.

Nenhuma das escolas possui um fonoaudiólogo assessor. Das 17, apenas 5 recebem orientação de um fonoaudiólogo clínico. Em geral, os educadores fazem o encaminhamento, quando consideram neces-sário, para o fonoaudiólogo clínico, que é aquele com o qual a escola mantém uma boa relação, ou quem os pais (do aluno em questão) escolheram.

Quanto à satisfação ou não pelo trabalho, dos 5 educadores re-presentantes das escolas que recebem orientações do fonoaudiólogo, 3 responderam que é satisfatório. Dos outros 2, um afirmou que, por decisão da escola, o fonoaudiólogo atua apenas uma vez ao ano, o que muitas vezes deixa o professor sem retorno; o outro afirmou que quando os pais acatam as orientações dos mesmos (uma vez orientados pelo fonoaudiólogo), o resultado é satisfatório.

Com relação às expectativas dos educadores, foram feitas colo-cações diversas.

Dois educadores acreditam que o fonoaudiólogo deva realizar orientação constante, ou seja, deva permanecer na escola, num de-terminado período, diariamente, para orientar os professores. Outros 3, sugeriram visitas periódicas para avaliar os alunos com problemas de fala e posterior realizar um trabalho em conjunto com o professor. Outro acredita que as orientações devam ser periódicas (não-diárias), pois há uma necessidade maior em ter um trabalho do psicólogo em detrimento do fonoaudiólogo. Um deles afirmou que deva ser aquele profissional que realiza uma integração entre família-escola-fono-equipe. Um dos educadores afirmou que um fonoaudiólogo direto na

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escola seria quase uma “sofisticação” e, que, portanto, deve haver um para o qual encaminham-se os alunos com problema. Outro acredita que a atuação do fonoaudiólogo deva ser em conjunto com os demais profissionais. Seguindo uma mesma idéia, houve um educador que colo-cou que devam ser feitas sondagens individuais nos alunos mensalmente e promovidas dinâmicas de grupo para professores. Continuando, 3 educadores responderam que o fonoaudiólogo deva ser aquele para o qual indicamos aos pais e encaminhamos os alunos com problemas. Um deles definiu o fonoaudiólogo como sendo um profissional atuan-do em tempo integral na escola, fazenatuan-do um trabalho semelhante ao do consultório. Já é sabido que o fonoaudiólogo assessor não realiza terapia nas escolas. E, por fim, houve um educador que atribuiu ao fonoaudiólogo a função de promover parceria entre escola-família e realizar avaliação diária do desenvolvimento dos alunos.

Para iniciar a discussão, cabe ressaltar que o fato de a maioria dos educadores afirmarem não ter conhecimento dessa área de atuação da Fonoaudiologia merece atenção especial, pois, comprova que, pelo menos nesta amostra de educadores da cidade de Cruzeiro, a Assessoria Escolar em Fonoaudiologia ainda é pouco conhecida.

Por outro lado, a pesquisa revelou que, em geral, todos acreditam que a atuação do fonoaudiólogo na escola seja importante, ou seja, a princípio, é um trabalho bem aceito.

O fragmento do discurso de um educador pesquisado existe então para algumas considerações: a opinião do educador mencionada acima se refere ao fonoaudiólogo assessor como aquele que vem colaborar, de alguma forma, para que o aluno com algum tipo de dificuldade tenha condições de aprender. Em outras palavras, o assessor é aquele que vem trazer a “cura” do problema do aluno. Cabe aqui uma reflexão: não seria esse o papel exclusivo do fonoaudiólogo clínico? E, ainda, será que existem de fato problemas a serem tratados, doenças a serem curadas? E será a escola um lugar propício para levantar essas questões?

A afirmação de que a Assessoria representa um custo a mais à escola e que na maioria das vezes essa não está disposta a pagar por ela, comprova a hipótese levantada na introdução deste artigo.

Em geral, as principais ações do assessor levantadas pelos

educa-O Debate sobre os resultados

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dores pesquisados compreendem orientações aos pais e professores, triagens e avaliações dos alunos. Como foi exposto e segundo autores, já na década de 70, eram realizadas orientações aos pais e professores. Há, sem dúvida, uma tentativa de diferenciar o assessor do clínico, mas de acordo com os dados da pesquisa, as ações fonoaudiológicas na escola, quando existem, não se diferem muito do trabalho clínico.

Nenhum educador se referiu ao fonoaudiólogo como o profissio-nal que estuda a linguagem. Chegaram a utilizar termos como aquele que trata as dificuldades de fala, os distúrbios da aprendizagem, as dificuldades de dicção, de leitura e escrita, mas, ninguém mencionou a linguagem. Esse dado sugere que os educadores parecem não saber qual a área de conhecimento do fonoaudiólogo, ou pelo menos, que reduzem-na ao estudo da fala.

Falar da linguagem é algo muito peculiar, visto que pode ser con-cebida segundo diferentes e até opostas teorias. Mas, o respaldo por uma delas é impressendível não só para o assessor como também para a escola, porque irá permear todo o trabalho da equipe educacional, na qual o fonoaudiólogo pode fazer parte. Essa escolha pode ser conjunta, é uma escolha da equipe escolar. E o assessor deve manter interligadas a teoria e a prática, permitindo assim, a definição e a fundamentação do seu trabalho.

A análise crítica sobre as triagens fonoaudiológicas refere-se ao fato de que esse procedimento acaba por enfatizar erros compreendidos como dificuldades na aquisição de linguagem e decorrem de uma visão que considera que a linguagem esteja diretamente ligada à cognição e determinada principalmente por fatores maturacionais e ambientais. No procedimento em questão não é questionada a natureza simbólica e subjetiva da linguagem, na qual não se pode ver alterações, somente escutar e atribuir sentido (também subjetivo).

Em geral, quando se realiza triagem na escola, cria-se uma enorme demanda de “alunos-problema” que nem sempre podem ser encami-nhados para um atendimento clínico, seja por indisponibilidade finan-ceira por parte dos pais, ou até mesmo, por não saberem da importância desse tipo de atendimento. A impressão que dá é que o fonoaudiólogo assessor, que atua dentro dessa perspectiva, está na escola somente para confirmar a hipótese diagnóstica do educador com relação à patologia atribuída ao aluno. Na apresentação dos dados da pesquisa houve referência sobre a quantidade de alunos com problemas de fala no período escolar. Por isso, conceber o aluno como sujeito em processo de aquisição de linguagem e não como portador de uma patologia pode contribuir muito para o declínio dessa demanda escolar. Mas não há dúvida de que se esse aluno apresenta um problema fonoaudiológico, pode realizar uma avaliação clínica específica, porém em um âmbito

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Fernando Hernández é um educador espanhol, doutor em Psico-logia e professor de História da Educação Artística e PsicoPsico-logia da Arte na Universidade de Barcelona, que há 20 anos se dedica a lutar pela inserção dos projetos didáticos na escola.

O autor questiona principalmente a função da escola, que não deve apenas transmitir conteúdos, mas integrar conhecimentos. Dessa forma, facilitar a constituição da subjetividade dos seus alunos a fim de que tenham estratégias e recursos para interpretar o mundo em que vivem e chegar a conhecer sua própria história. A crítica que o autor faz ao ensino por disciplinas refere-se ao fato de que elas acabam por fragmentar idéias, afastando as crianças do mundo real, marginalizando ou até anulando as diferentes realidades sociais e culturais. Acredita que vários aspectos precisam ser revistos para uma melhoria no processo clínico e não escolar.

A orientação aos professores é um outro procedimento que precisa ser repensado. De acordo com BARCELLOS (2003:25), que também analisa criticamente tal procedimento “a orientação (...) traz em si a crença de que os distúrbios da linguagem podem ser evitados por meio de ações pedagógicas. Estas ações correspondem à orientação aos professores quanto à estimulação auditiva e visual para a produção adequada dos sons da fala”.

Mas, acreditar que a linguagem possa ser estimulada é acre-ditar que seu processo de aquisição caracteriza-se por um processo homogêneo e, que, portanto, não há singularidade e diversidade por parte de cada sujeito/aluno. Além disso, essa concepção não é compa-tível com o que Hernández, referência na proposta educacional atual, propõe, porque para ele, o que permeia o processo de escolarização é a significação atribuída pelo aluno, ao que está sendo investigado, a partir da íntima relação do tema-problema com a realidade em que vive. E, esse processo é altamente subjetivo, assim como a linguagem. Além disso, o que se sobressai desse procedimento – a orientação, é um discurso autoritário, também contestado por Hernández.

O Trabalho com Projetos

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educacional:

· visão dominadora da psicologia institucional que tanto in-fluencia a escola;

· forte tendência a encaminhar os alunos à etapa seguinte; · pouca autonomia do discurso dos professores também

in-fluenciados por discursos psicológicos;

· ineficiência da escola para de repensar, dialogar, perceber as transformações ocorridas na sociedade, nos alunos e na própria educação.

Hernández (1998b) afirma que ensinar por meio de disciplinas é uma opção entre as possíveis, mas não a única. Cabe ressaltar que já havia exposto essa idéia segundo Barcellos (2003), que se referia a Assessoria Escolar em Fonoaudiologia.

Logo, o autor sugere que se trabalhe com projetos ao invés de ensinar por disciplinas. Sendo que os principais objetivos incluem:

· formar alunos críticos, questionadores, interessados por problemas reais;

· formar educadores também críticos, que reflitam e conside-rem as diversas formas de interpretar o mundo, bem como a relação entre a vivência dentro e fora da escola;

· mudar a organização do espaço e tempo escolar, tornando pública as indagações dos alunos, em painéis, murais, confe-rências, debates, intercâmbios e publicações; num instante em que a biblioteca se constitua a parte central da comunidade escolar;

· ensinar a reconhecer as influências mútuas entre as diferentes culturas, a presença das representações de umas e outras em diversas formas de conhecimento, nas artes, nas ciências e nas crenças;

· ensinar a relacionar, estabelecer nexos, compreender, pes-quisar, explicar, generalizar, aplicar, estabelecer analogias, representar, ter autonomia. Assim, os alunos aprendem os procedimentos básicos para continuar pesquisando ao longo da vida.

A idéia de trabalhar com projetos é relativamente recente e, se di-fere de outras metolodologias por valorizar o sujeito/aluno e as relações que estabelece com outros sujeitos; os objetivos da proposta descritos anteriormente revelam bastante inovação no âmbito educacional. Para o fonoaudiólogo assessor, essa perspectiva pode também ser adotada,

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pressupondo um trabalho não só de valorização do sujeito/aluno, mas também do sujeito/professor, sujeito/família...

Como membro da equipe escolar, o fonoaudiólogo pode contri-buir para elaboração e implementação dos projetos educacionais, ou pode ainda apresentar para as escolas essa proposta de Trabalho com Projetos.

O fonoaudiólogo é o profissional que estuda a linguagem, os aspectos a ela relacionados, sua aquisição e seu funcionamento, bem como suas alterações. No entanto, a linguagem pode ser concebida de acordo com diversas abordagens teóricas e cada uma delas determina uma posição e um discurso fonoaudiológico. Com tal conhecimento acerca da linguagem, o fonoaudiólogo-assessor pode contribuir junto aos outros integrantes da equipe educacional na discussão sobre o trabalho com projetos, e possibilitar que os profissionais envolvidos (e mesmo os alunos) notem como a linguagem faz com que todo conhe-cimento descoberto nos projetos ganhe um sentido subjetivo.

Logo de início deve haver uma relação de parceria, na qual o fono-audiólogo e equipe de educadores discutirão sobre o referencial teórico e metodológico adotado pela escola. Isso inclui também a discussão sobre noções de linguagem, sujeito, outro, erro..., de forma que exista um embasamento teórico-metodológico na dimensão de todo trabalho a ser desenvolvido na escola.

O fonoaudiólogo assessor deve atuar por meio da escuta da de-manda do professor, fazendo reflexões sobre seus dizeres e fazeres, de forma que o enfoque seja no processo educacional. Essa conduta, com certeza, permitirá muitas transformações no conceito que o educador tem da atuação em Assessoria Escolar Fonoaudiológica.

Outras importantes contribuições do trabalho fonoaudiológico na escola podem ser destacadas:

· auxiliar o educador a lidar com a diversidade do grupo, res-peitando as diferenças de cada aluno;

· re-significar com o educador a noção do erro presente no processo de aquisição da linguagem (em especial, da escrita), oferecendo reflexões que permitam que esse “erro” ganhe um estatuto de indicador do movimento que a criança faz na sua constituição com falante/escriba e ainda, deixe de ser

A Posição do fonoaudiólogo assessor

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uma condição patológica evidente.

· auxiliar na busca de atividades e recursos como fontes de informação, considerando que a escola não é o único lugar possível de aquisição de linguagem;

· auxiliar na relação escola-família, a fim de que assim como o fonoaudiólogo se posiciona como ouvinte diante da demanda do educador, também esse seja ouvinte da demanda dos pais em relação às dificuldades dos seus filhos, reconhecendo como o erro presente na fala/escrita dos mesmos marca o processo de aquisição de linguagem na família.

Conclusão

Buscar outras possíveis leituras em que a linguagem seja diferen-temente concebida para quem sabe encontrar e definir outra forma de fazer – a Assessoria Escolar em Fonoaudiologia, foi o que permeou este trabalho. E além de atender a uma necessidade pessoal, ele nasceu e cresceu visando contribuir para formar ou firmar opiniões adequadas a respeito dessa área de atuação.

Atuar realizando orientações, avaliações e encaminhamentos, nada se diferencia do atendimento clínico, e ainda contribui para o aumento da demanda de alunos-problema no ambiente escolar; uma possível insatisfação da escola perante o trabalho do fonoaudiólogo; opiniões inadequadas a respeito do mesmo; e talvez, a falta de interesse em contratar esse profissional.

Ao longo do trabalho concluiu-se que realmente ainda perpetua uma atuação fonoaudiológica de caráter clínico nas escolas, cujas ações incluem detecção e definição da patologia, determinação da sua causa, sugestão e aplicação de procedimentos que visem à prevenção, estimulação ou à cura do sujeito/aluno, o que pode ser comprovado tanto com a pesquisa bibliográfica como a de campo; o fato de ser um serviço dispendioso para a escola, o que também foi confirmado por dois educadores; a falta de conhecimento sobre as possibilidades de atuação desse profissional na escola, como conseqüência da atuação indefinida do fonoaudiólogo, uma vez que os educadores que o co-nhecem, sabem referir somente a atuação com avaliações e orientações periódicas; e, finalmente, ao contrário do que esperava, mais da metade

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dos educadores não conhece essa área de atuação.

Na tentativa de contribuir no re-direcionamento do trabalho de Assessoria Escolar, tomou-se como base a proposta de Hernández (1998), que também contesta atitudes tradicionais. Embora não seja fonoaudiólogo e sim fale essencialmente de Educação, sua idéia fa-vorece a constituição da subjetividade, já considerando que a escola não existe apenas e somente para ensinar conteúdos fixos, mas para favorecer uma melhora na sociedade.

Com a re-significação da atuação fonoaudiológica na escola poderá haver maior possibilidade de inserção desse profissional na equipe edu-cacional, mais satisfação pelo seu trabalho, tanto para escola quanto para ele próprio.

Referências

BARCELLOS, C. A. P. Assessoria Escolar em Fonoaudiologia: sob o

efeito da escrita e sua aquisição. São Paulo: PUC [Dissertação de

Mestrado em Fonoaudiologia], 2003.

BITAR, M. L. Fonoaudiologia escolar: relato de experiência. In: O

fono-audiólogo e a escola. São Paulo: Summus, 1991.

CAVALHEIRO, M. T. P. A Saúde e a Educação na Prática e na Formação do Fonoaudiólogo. In: Tempo de Fonoaudiologia. Taubaté: Cabral Editora Universitária, 1997.

COLLAÇO, N. L. Fonoaudiologia escolar: as origens de uma proposta.

In: O fonoaudiólogo e a escola. São Paulo: Summus, 1991.

GUIRAU, A. R. A. Atuação Fonoaudiológica no Departamento de

Saúde Escolar: um resgate histórico. São Paulo, SP: PUC [Dissertação

de Mestrado em Distúrbios da Comunicação], 1999.

HERNÁNDEZ, F. Do currículo por projetos de trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

HERNÁNDEZ, F. Transgressão e mudança na educação: os projetos

de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

PENTEADO, R. Z. Fonoaudiologia e Escolas promotoras de Saúde: al-gumas reflexões. In: Tempo de Fonoaudiologia III, Taubaté: Cabral Editora Universitária, 2202.

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Abstract

PINTO, A. M. M. et. al. Fonoaudiologia educacional junto a um siste-ma de ensino público. In: O fonoaudiólogo e a escola. São Paulo: Summus, 1991.

SACALOSKI, M., ALAVARSI, E. & GUERRA, G. R. Fonoaudiologia na

Escola. São Paulo: Lovise, 2000.

Carolina Arantes Pereira Barcellos é Mestre em Fonoaudiologia na área da linguagem e subjetividade pela PUC/SP; Docente das Faculdades Integradas Teresa D´Ávila de Lorena/SP na área da linguagem e da pesquisa.

Janaina Daniele dos Santos Goulart é Fonoaudióloga formada pelas Faculdades Integradas Teresa D´Ávila de Lorena/SP.

The goal of this scientific article is to develop a critical analysis in opinion of the educators about the pho-noaudiology action inside schools. It was concluded, at the end of this research, that it is important the reflection of all the possible applications of the pho-noaudiology inside schools. Such kind of reflection could allow them a better, an efficient and a coherent school assessment and assistance in accordance with the whole educational proposal.

Referências

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