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Academic year: 2021

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Educação para o turismo: o programa “Mais cultura nas

escolas” em uma escola de Parnaíba/Piauí

André Riani Costa Perinotto Doutor em Ciências da Comunicação – UNISINOS/RS; Mestre em Geografia (Organização do Espaço) – UNESP/Rio Claro; Especialista em Docência para Ensino Superior (Turismo e Hotelaria) – SENAC/SP; e Bacharel em Turismo – UNIMEP/SP. Professor Adjunto do Curso de Turismo da UFPI (Universidade Federal do Piauí – Brasil). Professor do Mestrado Profissional em Artes, Patrimônio e Museologia – UFPI e Professor do Mestrado em Gestão de Negócios Turísticos da UECE. Endereço para correspondência: Av. São Sebastião, 2819 (Bairro Reis Veloso). CEP: 64202-020 – Parnaíba – Piauí (Brasil). Telefone (+55 86 33235299). E-mail: perinotto@ufpi.edu.br Aline Ribeiro de Sousa Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Piauí- UFPI; e Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal do Piauí- UFPI. E-mail: a.line.rs@hotmail.com Dilene Magalhães Borges Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Piauí- UFPI. E-mail: dilene_phb@hotmail.com

Resumo

Buscou-se neste trabalho refletir sobre o papel da Educação para o Turismo, tendo a Educação Patrimonial como ponto de partida para as reflexões a respeito do fazer turístico no município de Parnaíba-Piauí. O objetivo consiste em analisar como a Educação Patrimonial tem ajudado os alunos da escola Municipal Borges Machado a conhecer e valorizar a cultura local e consequentemente a educação para o turismo. Neste sentido, adotou-se uma linha de conteúdos sobre Educação Patrimonial, o projeto Mais Cultura nas Escolas, sobre turismo, educação e hospitalidade. O delineamento da pesquisa se caracterizou como estudo de caso, por conseguinte a pesquisa classificou-se como exploratória e descritiva, e utilizou-se a pesquisa bibliográfica e documental. Para a coleta dos dados usou-se da entrevista não padronizada e aplicação de questionário. Diante dos resultados pode-se perceber que a Educação Patrimonial tem contribuído para validar as experiências e conhecimento da realidade dos envolvidos e com isso cria-se um sentimento de pertencimento e afetividade com seus bens patrimoniais. No entanto, notou-se as limitações existentes no projeto, por isso acredita-se que a educação para o turismo pode além de agregar valores em relação ao exercício da cidadania, como também ajuda no despertar de um sentimento de pertencimento da comunidade local, o que auxilia na preservação de suas tradições.

Palavras-chave

Patrimônio; Educação e Turismo; Parnaíba/PI.

Abstract

This job wanted to reflect the role of the Education for Tourism, having the Heritage Education as a starting point for the tourist reflections about doing in the city of Parnaíba-Piauí. The goal to analyze consist as the Heritage Education has helped the students of Municipal School Borges Machado to know and value to the local culture and therefore education for tourism, in this sense adopted a line of contents about Heritage Education, the project More Culture in Schools, about tourism, education and hospitality. The delineation of

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the research was characterized as a case study, so the research was classified as exploratory and descriptive, it was used bibliographical research and documental. For the collection of the data using one of the interview not standardized and application of questionnaire. Given the results can be realized the Heritage Education has contributed to validate the experience and knowledge of the reality of the people involved, and with that creates a sense of belonging and affectivity with your capital actives. However you noticed the limitations existing in the project, so help is believed that the education for tourism can beyond adding values in relation to the exercise of citizenship, as well as her to wake from a sense of belonging to the local community, what you watch on the preservation of your traditions.

Keywords

Heritage; Education and Tourism; Parnaíba/PI.

Introdução

O que seria do homem se não fosse a sua história, seus costumes e tudo mais que o faz ter uma identidade ou que o identifique como pertencente a um grupo social específico? É com este questionamento que se abre esta pesquisa e uma das respostas mais plausível para essa pergunta vai de encontro ao pensamento de Karl Marx (s/d, p.2) que já dizia “o homem é, inseparavelmente, produto do meio em que vive”. Deste modo o homem é fruto do meio em que vive, seja pelos fatores ambientais/naturais, seja pelas relações sociais, advindas dos ambientes de trabalho, escolar e principalmente, familiar. Dessa forma, infere-se que o homem se estrutura, influenciando e sendo influenciado nesse processo de interação.

Essas relações veiculam e fortalecem o que se conhece como patrimônio cultural, que do ponto de vista de Dias e Machado (2009) “compreende os elementos significativos da memória social de um povo ou de uma nação que englobam os elementos do meio ambiente”, como as crenças, costumes tradições e monumentos que são repassados de geração para geração e que ao longo dos anos sofrem transformações. Devido a isso o indivíduo é considerado um ser social, que constrói o seu legado e o transmite para seus descendentes. Isso significa dizer que a cultura, constituída de princípios éticos e morais, é a essência do ser humano no que diz respeito ao seu convívio em sociedade. Por conseguinte faz-se necessário repensar o que o sistema educacional tem feito em relação à preservação das diferentes culturas e de que maneira pode-se manter viva a identidade de um povo, haja vista que a educação tem papel decisivo no que diz respeito à construção do conhecimento e só se preserva o que se conhece.

Com base no que foi exposto buscou-se neste trabalho discutir o papel da escola no que tange a Educação para o Turismo, tendo a Educação Patrimonial como ponto de partida para as reflexões a respeito do fazer turístico no município de Parnaíba-Piauí. Para isso adotou-se o seguinte questionamento: De que maneira o projeto de Educação Patrimonial, desenvolvido na Escola Municipal Borges Machado no Município de Parnaíba-Piauí colabora no processo de ensino aprendizagem em relação ao grau de pertencimento da cultura local que os alunos podem adquirir com as atividades extraclasses?

Embora o turismo seja considerado uma atividade econômica por ser geradora de emprego e renda, este se encontra ligado a diversos setores que o torna multidisciplinar, visto que engloba diferentes áreas do saber como a geografia, história, artes, biodiversidade, dentre outras que estão contidas no universo e propostas educacionais, por isso, o interesse de se trabalhar a educação tendo como perspectiva o desenvolvimento da atividade turística no município de Parnaíba- Piauí.

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Há de se ter em vista que a cidade possui um grande acervo histórico-cultural e natural, que tem tudo para se tornar um dos destinos mais procurados e visitados da região nordeste para a prática do turismo. No entanto, a população parece não se atentar ao fato de que seu envolvimento nesse processo se torna necessário para alcançar o sucesso da atividade e em decorrência disto o seu patrimônio será salvaguardado para que as futuras gerações possam ter conhecimento das suas raízes e tradições e sintam-se orgulhosos do seu povo.

Para isso, é necessário que se incentive desde muito cedo o envolvimento e a inclusão da comunidade em conhecer e defender o que é seu, a sua identidade e seus costumes. A maneira mais viável é trazer essas discussões para a sala de aula através dos temas transversais que são destacados nos Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação-PCN e isso pode ser feito através da Educação Ambiental, Educação Patrimonial e demais disciplina formais, visto que a integração entre esses conteúdos são importantes para uma educação de qualidade, tendo em vista o novo momento que se vive.

Neste sentido, acredita-se que uma educação turística, possibilita a construção de meios para trabalhar desta maneira a multidisciplinaridade característica do turismo e da educação e com isso pode-se inserir uma infinidade de temas que estão direta ou indiretamente ligados à atividade turística e que são importantes para a relação entre hóspede e hospedeiro. Todavia o que se pode perceber é que as instituições não têm uma percepção de que através do turismo é possível reverter um problema que há muito tempo é debatido no meio educacional, que é a falta de conscientização e interesse dos alunos em assuntos que dizem respeito à cidadania e sua participação ativa no meio em que vivem. Assim, esse aluno passa de sujeito passivo para ser um indivíduo proativo, atuante no que tange a sobrevivência da sua história, cultura e tradições dentro desse sistema globalizado em que se vive.

Deste modo, a educação para o turismo traz consigo a possibilidade de salvaguardar a história de um lugar, fato este que define a origem e identidade de um povo que através disto o homem guarda seus costumes e valores, os quais irão ser transmitir para seus descendentes. E isso é que o visitante procura quando sai do seu local de origem, ou seja, o turista vem em busca de troca de experiências e vivências com o autóctone. Vale ressaltar que possibilita o enriquecimento do indivíduo e da sociedade, bem como se torna uma alternativa para o desenvolvimento consciente da atividade turística dentro de uma comunidade.

Portanto, a educação para o turismo tem como fator importante nesse processo, a inserção da população local com a finalidade, não só de envolvê-los nas ações de preservação do seu patrimônio, mas de sensibilizá-los e prepará-los para receberem bem o visitante, despertar assim o sentimento de povo acolhedor, de modo que a relação entre anfitrião e hóspede seja inteiramente amistosa e recíproca. Para alcançar esse objetivo não basta esperar que a comunidade receptora por si só já esteja preparada para recepcionar esse viajante, ela precisa ser introduzida no sistema de forma a participar das tomadas de decisões que interferem na sua vida, no seu cotidiano. Nesse sentido é relevante destacar que não basta só estruturar o destino para satisfazer as necessidades dos turistas, mas o envolvimento dos moradores com os visitantes são peça-chave com relação à hospitalidade de um lugar, tendo em vista que a maioria dos turistas preza pela boa receptividade que encontrarão nos futuros destinos.

Na concepção de Issa (2007) a hospitalidade se caracteriza pela proximidade de ações como solidariedade, vínculos e laços sociais que estão enraizados na composição e concepção das comunidades, deve-se assim iniciar no seio dos componentes da população local para posteriormente exteriorizar aos visitantes, ou seja, criar um ambiente amigável entre os próprios moradores e isso se reflete na recepção do turista.

Assim a Educação para o Turismo cria possibilidades do desenvolvimento sustentável da atividade turística, em que vise buscar meios de minimizar seus impactos negativos e maximizar os positivos de forma que autóctone e visitante convivam

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harmonicamente com o meio ambiente e que dessa relação resulte a preservação do patrimônio cultural e natural, bem como o crescimento econômico da região.

Educação patrimonial: significados, conceitos e desafios

A Educação Patrimonial refere-se a uma atividade que está relacionada a ações educacionais que visam o conhecimento do patrimônio cultural, seja ele local, regional ou nacional, e tem como finalidade sua preservação para que no futuro se tenha conhecimento sobre os fatos ocorridos no passado.

Desse modo, a proposta de desenvolver ações educativas com a finalidade de fazer uso e se apropriar dos bens culturais, surge no Brasil em 1983 no 1º seminário “Uso Educacional de Museus e Monumentos” que ocorreu em Petrópolis, Rio de Janeiro, Horta (1996, p.1). No entanto, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional- IPHAN desde a sua criação na década de 30 salienta sobre a importância de criar estratégias para a proteção e preservação do patrimônio, dando destaque as ações educativas.

Desde a sua criação, em 1937, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN – manifestou, em documentos, iniciativas e projetos, a importância da realização de ações educativas como estratégia de proteção e preservação do patrimônio sob sua responsabilidade, instaurando um campo de discussões teóricas e conceituais e metodologias de atuação que se encontram na base das atuais políticas públicas de Estado na área (FLORÊNCIO, CLEROT, BEZERRA, RAMASSOTE, 2014, p. 5).

Por isso, o Patrimônio Cultural é um direito do ser humano e isso foi formalizado em 1998 pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos). Como descrito por Rodrigues (2005) todo homem tem direito e este deve ser respeitado, mostrando-se autêntico, expressando sua identidade, utilizando seu patrimônio e dos demais, participando das decisões relacionadas à sua cultura, podendo associar-se para defender e preservar este.

Seguindo esta perspectiva é preciso ressaltar que a cultura resulta de uma construção social, visto que é a partir da convivência entre os indivíduos e sua interação com o meio ambiente que surgem os interesses em comum que os fazem pertencerem a um grupo social especifico. Esta por sua vez é o que contribui para a criação de uma identidade seja individual ou coletiva.

[...] Cultura é um processo pelo qual o homem acumula as experiências que vai sendo capaz de realizar, discerne entre elas, fixa as de efeito favorável e, como resultado da ação exercida, converte as idéias em imagens e lembranças, a princípio colocadas às realidades sensíveis, e depois generalizadas, desse contato inventivo com o mundo natural (PINTO, 1968, p. 123, apud TRIGO, 1993, p.52).

Ao destacar que as experiências se convertem em imagens e lembranças o autor faz uma reflexão a respeito da memória que é outro fator importante ao se trabalhar à educação patrimonial, pois através da memória coletiva, estimulada no ambiente escolar, é que se pode concretizar a apropriação e valorização da cultura local.

Segundo Cabral (2004, p.36) a “memória como construção, formada da inter-relação entres os seres e entre seres e coisas, sendo esta a base para a construção da identidade, da consciência do indivíduo e dos grupos sociais e é assim que se estabelecem as relações, a

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partir dessa identificação”. Partindo desse pressuposto é valido ressaltar que memória e identidade são primordiais para a existência e preservação do Patrimônio Cultural, o que Batista (2005, p.30) reforça ao dizendo que:

A identidade cultural e a memória reforçam-se mutuamente. Conhecemos as nossas raízes, distinguimos o que nos une e o que nos divide. Estamos aptos a entender que a cultura e a memória são faces de uma mesma moeda e que a atitude cultural por excelência e com o que nos rodeia, desde os testemunhos construídos ou das expressões da natureza aos testemunhos vivos aos quais são imprescindíveis para a construção desta identidade.

Seguindo essa perspectiva a Educação Patrimonial tem nos bens culturais, sejam estes materiais e imateriais e/ou tangíveis e intangíveis, a fonte de conhecimento primário, capaz de transformar a realidade de comunidades que muitas vezes não são percebidas pelos próprios moradores de quão importante é a sua cultura e que seu conhecimento e reconhecimento é preciso para que esta continue viva e assim possa fortalecer sua identidade e memória.

Nesse sentido, a escola é concebida como um espaço sociocultural, em que tem como obrigações conduzir o indivíduo ao conhecimento e assim o exercício pleno da cidadania, feita através de sua colaboração para com a comunidade onde está inserido. Neste sentido, é preciso frisar a importância que o sistema educacional tem em relação ao desenvolvimento de ações que visem ao respeito à diversidade cultural do país, buscando assim a valorização não só do patrimônio cultural nacional, mas principalmente ao patrimônio que se encontra ao seu redor. Para isso a Educação Patrimonial deve-se ser inserida, de fato, nos currículos escolares, entretanto deve-se pensar em uma metodologia inovadora, que agregue valores referentes à realidade das comunidades.

Do ponto de vista de Magalhães (2009, p.2), existem duas possibilidades ao se pensar na Educação Patrimonial, com características distintas e opostas, que são a educação tradicional e a educação transformadora. A primeira dá ênfase a uma visão impositiva que tem interesses específicos, enquanto a segunda segue uma visão de caráter libertador, em que o sujeito é autônomo capaz de produzir seu próprio conhecimento e perceber contradições nesse processo. Esse autor ainda justifica suas palavras dizendo que a educação tradicional “[...] preocupa-se apenas com construções significativas para alguns grupos sociais, geralmente identificados aos grandes barões do café ou a edificações religiosas, vinculando a memória da cidade com estes personagens. [...]” (p.4).

Desta maneira o desafio da educação está em inserir nos currículos uma proposta pedagógica que venha a trabalhar o educando de forma que o torne sujeito participativo no que se refere a sua participação no meio em que vive, incentivando-o a exercer sua cidadania e em consequência disto criar a possibilidade deste se apropriar e salvaguardar sua cultura.

Nas argumentações de Biazzeto (2013) em seu trabalho sobre educação patrimonial e memória, é destacado o arquivo histórico de Porto Alegre, e dois projetos desenvolvidos nele, como lugar de memória e a utilização deste como espaço não formal de educação, para esse autor lugares como esses “[...] contribui na construção de identidades a partir do momento que propicia a apropriação dos bens culturais que os educandos entram em contato durante as ações, conscientizando que todos são sujeitos históricos, construtores de memória e identidade”.

De acordo com Biazzeto (2013), pode-se referir a um método não muito recente, mas que se bem planejado é capaz de ultrapassar as barreiras existentes entre a teoria e a prática, são as chamadas aulas passeio ou city tour, em termos mais atuais visitas técnicas. O passeio

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pela cidade funciona como um importante instrumento pedagógico no processo de ensino aprendizado do estudo do meio utilizando práticas de recreação a fim de integrar conteúdos curriculares as vivências sociais e assim contribuir para enriquecer os conhecimentos sobre o lugar em que vive e seus moradores. Nesse contexto, a proposta se confronta com os princípios do turismo pedagógico.

No entanto a proposta de que trata esta pesquisa, não é necessariamente de levar os alunos a conhecerem a cultura de outros locais, não no primeiro momento, mas sim instigá-los a conhecer sua própria, para se auto afirmarem como possuidores de uma identidade autêntica e que tem valor equiparado às demais. As instituições educacionais, em sua grande maioria, insistem em uma educação tradicional com metodologias defasadas e que tem provocado diversos problemas, então a ideia é utilizar métodos que envolva o sujeito para que este passe de espectador a ator e autor da sua própria história. Gomes (1996, p. 87) diz que: “Discutir, compreender e pesquisar sobre a relação entre cultura, escola e diversidade étnica cultural nos possibilita um olhar mais aguçado sobre a instituição escolar e a adoção de novas práticas pedagógicas”.

A Educação Patrimonial tem com isso o papel fundamental de promover uma aproximação do educando com sua realidade, possibilitando que os conhecimentos adquiridos em sala de aula se intensifiquem na vivência da prática, criando deste modo novas possibilidades de ações dos cidadãos, bem como a preservação de seus bens culturais, construindo um elo entre passado e presente e desconstruindo assim essa identidade que por tempos foi imposta pelo sistema educacional. Para isso é interessante averiguar o tem sido feito em relação à introdução de políticas públicas que visem à valorização do patrimônio local por parte de todos os envolvidos no cenário onde este se encontra.

O programa mais cultura nas escolas e sua possibilidade de

ampliação

Diante do que foi exposto emerge a necessidade de explanar sobre um recente programa de política pública relacionada à temática, que é o Programa Mais Cultura nas Escolas. Este foi implantado em 2013 em todo território brasileiro e foi elaborado por uma iniciativa interministerial, Ministério da Educação (MEC) e Ministério da Cultura (MinC), (MANUAL, 2013). Esse tipo de iniciativa se torna necessário visto que os municípios não disponibilizam de recursos para a execução de projeto que requer uma atuação mais prática dos sujeitos envolvidos. De acordo com Sowa e Rosa (2014, p.5) “políticas como essas possibilitam a redução das desigualdades sociais, assim como garantir o direito humano e de cidadania a cultura”.

O Programa Mais Cultura teve seu surgimento iniciado a partir de dois outros programas do MEC, que são: Mais Educação (2007) e Ensino Médio Inovador (2009). Estes foram criados para comtemplar gradativamente a integralização do ensino público Sowa e Rosa (2014). Por isso que uma das exigências para as escolas se escreverem no Programa, era está participando de um desses outros dois. A finalidade é promover ações que façam a ligação entre o projeto pedagógico de escolas públicas e as experiências culturais nas comunidades locais e nos diversos territórios (MANUAL, 2013). Dentre os objetivos dos quais se propôs essa iniciativa destaca-se quatro dos nove que consta no manual de elaboração de atividades, que são:

•Reconhecer e promover a escola como espaço de circulação e produção da diversidade cultural brasileira; Contribuir com a formação de público para as artes e ampliar o repertório cultural da comunidade escolar;

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•Promover, fortalecer e consolidar territórios educativos, valorizando o diálogo entre saberes comunitários e escolares, integrando na realidade escolar as potencialidades educativas do território em que a escola está inserida;

•Proporcionar encontro entre vivências escolares e manifestações artísticas e culturais fora do contexto escolar;

•Fomentar o comprometimento de professores e estudantes com os saberes culturais locais (MANUAL, 2013).

Os objetivos em destaque são os que mais têm relação com o que foi exporto nesta pesquisa, que trazem a escola como espaço de integração e produção da diversidade cultural, enfatiza a importância das vivências e trocas de experiências entre saberes escolares e comunitários, que se fazem presente nas propostas da Educação Patrimonial. E por que não dizer que tem uma relação como a atividade turística?

A proposta de inserir o turismo nessas atividades se justifica por ser esse projeto aplicado em uma escola que está situada em uma cidade que tem perspectiva em se tornar um destino promissor e que possui diversos fatores que contribuirão para a expansão/extensão do projeto, auxiliando no processo de ensino aprendizagem que colaborarão para o enriquecimento dos conhecimentos vistos apenas em sala de aula. Visa com isso à inovação ou reformulação de métodos que permite uma compreensão mais eficaz do contexto histórico-socioambiental em que esse educando esteja inserido.

No entanto vale fazer uma ressalva quanto à aplicabilidade desse tipo de iniciativa, pois em sua grande maioria a sua ineficácia acontece por falta de continuidade desses projetos tanto por parte do órgão criador, como pelos executores. De forma que esses projetos devem ser vistos pelas escolas como base inicial para o desenvolvimento e elaboração de outros que busquem enquadrar conteúdos das disciplinas formais com a realidade dos alunos.

A organização dos conteúdos em torno de projetos, como forma de desenvolver atividades de ensino e aprendizagem, favorece a compreensão da multiplicidade de aspectos que compõem a realidade, uma vez que permite a articulação de contribuições de diversos campos de conhecimento. Esse tipo de organização permite que se dê relevância às questões dos Temas Transversais, pois os projetos podem se desenvolver em torno deles e serem direcionados para metas objetivas, com a produção de algo que sirva como instrumento de intervenção nas situações reais (como um jornal, por exemplo) (BRASIL, 1998, p.41)

A educação neste sentido pode utilizar-se do turismo para desenvolver atividades educadoras e criar mecanismo que facilite o processo de ensino aprendizagem. Para isso os educadores precisam se renovar quanto as suas práticas e investir em recursos que traga o aluno a participar mais das questões urgentes da sua realidade. Isso pode ser desenvolvido através de atividades complementares que ultrapasse os muros escolares, como visto na Educação Patrimonial.

Educação, turismo e hospitalidade

Até agora o discurso aqui produzido serviu para enfatizar a Educação Patrimonial no que diz respeito à preservação da identidade cultural de um povo. No entanto a proposta de se

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trabalhar a Educação Patrimonial deve ir além dos estudos aplicados à preservação do patrimônio material e imaterial, como já foi supracitado, deve envolver ações que comtemplem o desenvolvimento como um todo da comunidade, visando à qualidade de vida tanto do residente quanto das pessoas que possam vir a visitar a localidade.

Dentro desta perspectiva, o turismo de maneira geral, independente de qual seja o segmento, tem ajudado a mudar a realidade de inúmeras comunidades, dessa forma cabe fazer uma ressalva quanto ao envolvimento da população em relação à implantação ou ampliação desta atividade, uma vez que a população vai ter que se habituar a essa nova condição. Camargo (2002, p.98) salienta para o fato de que: “são os habitantes da localidade e do entorno imediato os primeiro a ser sensibilizados, com apoio na afetividade, para valorizar o patrimônio”.

Partindo desta concepção Barreto (2000, p.17) também destaca que a “ideia não é manter o patrimônio para lucrar com ele, mas lucrar com ele para conseguir mantê-lo”. Neste sentido o turismo pode contribuir nesse preservar, conscientizando a população de que sua cultura desperta o interesse do outro, pois embora esses indivíduos se reconheçam como pertencentes daquele meio, muitos não sabem valorizar o que tem. Ainda de acordo com Camargo (2002, p. 98) “Ao contrário do que se pode imaginar, os moradores locais, embora possuindo afetividade por elementos do patrimônio constituído ou potencialmente a constituir, não tem condições para distinguir sua importância enquanto tal”.

Por isso ao surgir o interesse em investir no turismo e em desenvolvimento local é preciso ter em primeiro plano a inclusão social, pois a participação de todos tende a evitar grandes impactos, sobretudo entre a cultura do visitante e da comunidade receptora. Já Bastos (2004) faz uma observação em relação às rupturas simbólicas que poderão surge a partir das trocas sociais e culturais com a implantação da atividade turística e ressalta que somete através do acesso educativo cultural é que se pode evitar o desenraizamento dos sujeitos com seu patrimônio. Ainda a respeito da exploração comercial do patrimônio, Bastos (2004, p.3) deixa claro que esta deve:

[...] ser precedida por um planejamento e acompanhamento permanente para que não ocorra a expropriação cultural das comunidades receptoras, a degradação ambiental, desequilíbrios socioeconômicos e a desvalorização cultural. Os empreendimentos devem promover a rentabilidade econômica e o desenvolvimento social, alicerçados em critérios de qualidade que resultem na melhoria da qualidade de vida dos moradores e não apenas canalizados para o bem estar do turista.

Seguindo a perspectiva da autora a Educação para o Turismo dar-se-á mediante a necessidade de deixar a par dos acontecimentos todos os envolvidos, não somente gestores públicos e empresários, mas sim a instância mais afetada (população local) pela atividade, pois a ausência da comunidade no processo de planejamento e monitoramento poderá acarretar problemas irreversíveis no futuro que vão desde os impactos causados no meio físico/ambiental como a degradação e descaracterização dos patrimônios explorados.

Do ponto de vista de Bonfim (2010) a estreita relação que existe entre turismo e educação vem de longe, visto que no século XVIII jovens aristocratas ingleses viajavam pela Europa, com o objetivo de obter mais conhecimento e ganhar destaque no meio profissional. Como observado por Silva e Holanda (2012) a inclusão do turismo nos currículos, seja feito como tema transversal, disciplina ou em atividade extraclasse, tem sentido pelo fato de que o turismo se torna uma ferramenta para o preenchimento de diversas lacunas que existe na implementação da transversalidade na educação formal, facilitando assim o processo de aprendizagem.

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Como descrito por Fonseca Filho (2007) o processo de construção do conhecimento turístico é recente e se concentra mais nos âmbitos da educação técnica e superior, ficando a educação básica de fora deste contexto. Por isso, o foco do seu estudo está direcionado ao ensino do turismo na educação básica, onde o turismo possa dialogar com as disciplinas tradicionais: geografia, história, artes, ciências, biologias dentre outras áreas afins.

Partindo dessa análise a integração do turismo com as disciplinas formais possibilita a criação de vínculos da comunidade com seu meio. De acordo com as concepções de Issa (2007, p. 7) “o turismo é um fenômeno social, que envolve relações, vínculos, trocas de interesses entre os diversos setores e atores e que desse relacionamento possa resultar tanto relações amistosas e satisfatórias, quanto vínculos insatisfatórios”. Neste sentido é importante considerar que essas relações se tornam sujeitas em um cenário turístico e que precisa ser desenvolvidas de forma que as duas partes envolvidas tenham a satisfação garantida.

Com base as colocações desses autores à educação para o turismo tanto é importante no que diz respeito ao processo de ensino-aprendizagem contínuo, visando à sustentabilidade de modo geral, como também para o artifício do bem receber o turista. A harmonia entre essas vertentes vão fazer com que o turismo seja bem recebido pela comunidade e esta será respeitada por quem a visita. Nas considerações de Scorsato (2006, p. 84) “O turismo é uma atividade que exige sempre um bem-receber, seja ele em uma pousada, em um restaurante, no transporte, na casa de amigos ou parentes, na cidade etc.”.

Levando em consideração a ideia de um espaço preparado para o sujeito residente, bem como este consciente que seu lugar, seu povo e cultura são motivadores para o estrangeiro vir a conhecer, esta comunidade se tornará hospitaleira, que é um dos motivos que faz com que o visitante retorne ao destino e/ou o indique a outras pessoas. Dentro desta perspectiva Scorsato (2006) ressalta que dentre os vários motivos que levam uma pessoa a viajar, ser bem-recebido é o que há de denominador comum entre os diversos tipos de turistas.

Busca neste sentido o relacionamento amistoso entre hóspede e anfitrião, visto que para Bedim e de Paula (2007) a hospitalidade é fruto da relação construída socialmente entre ambos. Dessa forma, o turismo e a hospitalidade devem estar alicerçado um ao outro, para que atividade turística desenvolva de forma ordenada e com a participação de todos amenizando os impactos negativos típicos desta prática.

De acordo como os estudos de Bezerra (2007) a hospitalidade é concebida a partir de duas fontes, a escola francesa e a norte-americana, em que a primeira se baseia nas concepções de Mauss (1974) que tem ênfase nos três deveres: dar, receber e retribuir, enquanto a segunda possui uma visão mais capitalista, contradizendo assim a primeira, é regida pelas atividades comerciais e que está mais direcionada a atividade turística são eles: ato de receber, hospedar, alimentar e entreter.

A hospitalidade vista pela ótica da cultura, da moral e tida como uma dádiva está no sentido daquilo que circula entre os envolvidos, que vai além da troca monetária Bezerra (2007, p.341). Ou seja, é uma relação que vai além dos tramites comerciais, envolve cordialidade, simpatia, reciprocidade, solidariedade e outros sentimento que está inserido no processo de acolhimento de um lugar.

Neste sentido, um dos principais aspectos da hospitalidade nestas comunidades é o bem-querer do turismo, ou seja, um dos fatores principais para que haja a hospitalidade é o exercício da reciprocidade, a comunidade deseja o turismo e o turista compartilha do modo de vida da comunidade. Esta reciprocidade gera a troca, que pode ser pelo simples fato de querer agradar o outro ou com a finalidade de suprir uma necessidade ou de prestar um serviço (SCORSATO, 2006, p.86).

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Para Issa (2007, p. 9) a hospitalidade tem como fundamento básico o acolhimento, independente da parte física do lugar, é o simples fato de acolher o indivíduo, no turismo, a autora faz referência da hospitalidade como sendo esta, dinâmica e que pode ser orientada e trabalhada para melhor desenvolver a atividade. Issa (2007) ainda acrescenta que sendo a aprendizagem um atributo básico do ser humano, devido a este ser dinâmico e propício a adaptações, a hospitalidade pode ser aprendida e absorvida pelo indivíduo.

Isso reafirma o papel que a educação tem em relação à promoção da atividade turística nas comunidades, visto que muitas vezes os autóctones podem ser hospitaleiros em decorrência da dádiva e/ou do dom, por outro lado os sujeitos podem ser inospitaleiro no sentido de não estarem preparados para aceitar o visitante, pois podem ver estes como invasores que irão prejudicar seu meio.

Dessa forma o acolhimento deve ser percebido desde a entrada do viajante no destino até o retorno para sua residência. Na visão de Dias (2010) assim como a placa na entrada diz algo sobre o lugar, a higiene dos locais utilizados para satisfazer suas necessidades básicas, o comportamentos dos operadores de serviços, assim como as placas de sinalizações agregam valores percebidos por qualquer cidadão que se insere nesse novo espaço.

Procedimentos metodológicos

O delineamento da pesquisa se caracterizou como estudo de caso, sendo o seu objeto bem delimitado, pois envolveu a aplicação de um projeto em um determinado local. Neste caso Gil (2012) considera este um processo profundo e desgastante de um ou poucos objetos, no entanto permite um amplo e detalhado conhecimento sobre o objeto.

A pesquisa classificou-se como exploratória e descritiva e, para fundamentar teoricamente a investigação recorreu-se a pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo, para propiciar uma melhor compreensão sobre as questões abordadas nesta investigação. A pesquisa bibliográfica nas considerações de Gil (2012) se define com base em material já publicado, como livros e artigos científicos. Sendo assim a investigação teve como alicerce trabalhos publicado em relação ao tema aqui abordado. Para isso buscou-se em livros, artigos, jornais, rede eletrônica e revista informações para subsidiar e fortalecer o embasamento teórico, tendo como fonte autores que descrevem sobre as temáticas: educação; patrimônio; turismo; cultura; hospitalidade dentre outros temas correlacionado com o objeto da pesquisa.

Utilizou-se também a pesquisa documental que ainda na concepção de Gil (2012) diferencia da bibliográfica pelo simples fato dos materiais não receberem tratamento analítico ou mesmo por poderem ser refeitos de acordo sua o surgimento de necessidades. A pesquisa documental é feita principalmente através de documentos oficiais, como foi o caso desta investigação que se valeu da LDB- Leis de Diretrizes e Base da Educação, dos PCN- Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação/ Temas Transversais, bem como de documentos extra oficial como fotografias, cartas, jornais, diários, dentre outros.

Após essa etapa a pesquisa estendeu-se ao campo, que para Andrade (2010) é onde ocorre a coleta de dados sem a interferência do pesquisador, e teve como colaboradores docentes e discentes da Escola Municipal Borges Machado localizada no município de Parnaíba/ Piauí, onde se encontra o objeto de estudo, tudo isso para desenvolver da melhor maneira um trabalho consistente e com embasamento suficiente para as conclusões da pesquisa.

Como instrumentos de coleta de dados optou-se por fazer um levantamento através de entrevista não padronizada que segundo Andrade (2010) possui um grau de estruturação focado no assunto que vai ser explorado permitindo assim que o entrevistado sinta-se livre e

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espontâneo no decorrer do processo. Esse procedimento é interessante para se ter uma compreensão maior sobre a opinião real dos entrevistados e de que forma estes se posicionam em relação ao assunto em questão.

Em seguida foi aplicado um questionário com outros atores envolvidos no estudo. O documento foi elaborado pelo autor da pesquisa que serviu de subsídio para a identificação dos impactos socioculturais que o objeto de estudo traria para atividade turística. Desta maneira Dencker (1998) enfatiza que os questionários devem ser redigidos de forma clara e que os entrevistados tenham conhecimento do que se trata a pesquisa, qual seu objetivo, por esse motivo deve constar na parte inicial um resumo sobre o assunto, bem como o agradecimento por fazerem parte desse processo.

A análise bem como a interpretação dos dados coletados foi realizada com a finalidade dar respostas à problemática inicial, de forma harmônica com a realidade, fazendo ligações com os conhecimentos existentes na literatura acerca da temática abordada.

Os resultados apresentados refletem as principais informações obtidas através da entrevista e dos questionários aplicados. Esses dois procedimentos apesar de possuírem conceitos diferentes estão intimamente ligados, uma vez que a análise tem como fim organizar e sumariar os dados, enquanto a interpretação se refere ao processo de confrontar as ideias dos dados obtidos durante a pesquisa e os conhecimentos já produzidos.

O primeiro contato com local da pesquisa de campo ocorreu no dia 19 de março de 2015 e teve como objetivo consultar os responsáveis a possibilidade de concretizar a pesquisa na escola. Nesta ocasião, foi colocado ao conhecimento da Diretora do se que se tratava a pesquisa, quais objetivos pretendidos e qual sua importância de ser realizada. E, neste sentido, houve uma boa receptividade por parte da mesma, que se colou disponível em colaborar com este processo, autorizando a continuidade da pesquisa. Essa conversa prévia é um passo muito importante para que os sujeitos investigados não se sintam invadidos e colabore de forma voluntária coma investigação.

Neste mesmo momento houve uma breve explanação sobre o projeto, feito pela gestora da escola, visto que a idealizadora deste não se encontrava no recinto, pois estava a caminho da capital, Teresina- PI, para a defesa de sua tese de mestrado. Solicitou-se então os contatos da professora responsável pelo projeto afim de que pudesse entrar em contato para agendar a próxima visita. Neste encontro a diretora se comprometeu em enviar via e-mail o projeto que foi enviado ao Ministério da Educação, visto que apenas ela tinha acesso ao sistema.

Logo em seguida entrou-se em contato com a coordenadora do projeto por meio de um telefonema, que ficou que enviar o projeto por e-mail que de fato ocorreu no dia 26 de março do ano corrente.

A entrevista de semiestruturada e/ou não padronizada passou-se para padronizada devido a falta de tempo da entrevistada, esse procedimento aconteceu em dois momentos: o primeiro, de forma informal na escola onde atua, no dia 14 de maio de 2015, e a segunda foi feita através de questionário aberto contendo 12 perguntas subjetivas no dia 22 de maio, na Regional de Educação seu outro local de trabalho. Esse foi o processo que mais se encontrou dificuldades, pois sempre que se entrava em contato com a professora não era possível o encontro, por falta de tempo da entrevistada, no entanto foi superado depois de várias tentativas.

No primeiro encontro com a professora, na escola, foi apresentado o questionário que os alunos responderiam, para que a professora pudesse fazer as alterações cabíveis para melhor entendimento destes, visto que ela conhece os alunos envolvidos no projeto, isso foi uma espécie de pré-teste. O questionário é composto por 10 questões, sendo sete fechadas de múltiplas escolhas e três abertas. Neste sentido, Andrade (2010) alerta sobre os cuidados que

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se deve ter ao elaborar as perguntas de um questionário, pois tem de levar em consideração que os pesquisados não contarão contar com demais esclarecimentos do pesquisador.

O público alvo desta fase foram os alunos do 7°, 8° e 9° ano do ensino fundamental II, esta etapa aconteceu no dia 15 de maio, após as alterações feitas a pedido da professora. Foram deixados setenta cópias do questionário com as professoras de cada turma e foram recolhidas quarenta e quatro. A divisão se fez da seguinte forma foram treze alunos do 7º ano, dezoito do 8º e treze do 9º ano.

Após a coleta houve a organização dos dados, a análise e interpretação das informações coletadas. Por consequência houve um confronto da literatura aplicada com o que foi detectado na realidade. Para isso utilizou-se o cruzamento de dados que possibilitou chegar às conclusões desta pesquisa.

Análise: escola e projeto

Pretende-se com este tópico mostrar os dados, seus resultados e análises da pesquisa de campo, com o intuito de saber ao final se os objetivos propostos foram alcançados. Para isso, optou-se por dividir em duas partes, a primeira está relacionada à análise dos dados coletados com a coordenadora e responsável pelo Projeto de Educação Patrimonial a professora Mestre Maria Dalva Fontenele Cerqueira e a segunda diz respeito aos resultados da aplicação dos questionários com os alunos do sétimo, oitavo e nono ano do ensino fundamental II da escola Municipal Borges Machado.

Esta divisão foi necessária tendo em vista que se realizou entrevista e aplicação de questionários com perguntas fechadas e abertas, o que requer uma análise separadamente, porém isso não quer dizer que os dados não possam ser cruzados em algum momento. A primeira parte a ser analisada é a entrevista que foi planejada com o intuito de buscar informações acerca da parte técnica do projeto desenvolvido na Escola Municipal Borges Machado, em que se procurou saber como aconteceu todo o processo, quais os envolvidos e outros detalhes que pudessem ajudar nesta investigação.

A professora entrevistada atua na escola desde 2012, ministrando a disciplina de História, o que confirma a concepção que se tem quando se trata de ações de Educação Patrimonial, pois a disciplina que mais trabalha com essa temática é História, apesar dos PCN focarem a pluralidade cultural como tema transversal e distribuir essa responsabilidade as disciplinas formais:

Optou-se por integrá-las no currículo por meio do que se chama de transversalidade: pretende-se que esses temas integrem as áreas convencionais de forma a estarem presentes em todas elas, relacionando-as às questões da atualidade e que sejam orientadores também do convívio escolar (BRASIL, 1998, p. 27).

Ao ser questionada sobre por qual meio soube do projeto, a professora diz que foi através da Secretaria Municipal de Educação-SEDUC e que este foi o único órgão que os apoia no projeto, sendo que para a elaboração do documento houve o envolvimento de todos os professores, juntamente como a diretora da escola. O envolvimento entre outros órgãos sejam públicos ou privados é indispensável para resultados positivos na construção e execução de projetos como este, devido à sua complexidade em trabalhar fatores que correspondem aos valores de uma comunidade e isso talvez seja um dos pontos negativos ao investir nesse tipo de atividade, pois é desenvolvido de forma isolada em cada escola, sem o envolvimento da comunidade em geral. No entanto em conversas informais, posteriormente, a

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professora deixou claro o seu interesse em formar parceria com a Universidade Federal do Piauí- UFPI, mais especificamente com o núcleo de mestrado sobre patrimônio, para ampliar e dar continuidade ao projeto.

Outra dificuldade encontrada no decorrer da execução do projeto, descrita pela docente, foi à falta de estrutura física da escola que consistiu em um empecilho durante todo o processo, uma vez que para trabalhar algumas das atividades era necessário um espaço mais amplo, como uma quadra coberta ou um auditório em que pudesse realizar palestra sobre o tema. Entretanto, a instituição não dispunha desse tipo de ambiente. Isso poderia ser sanado com a parceria feita entre Universidade e escola, visto que a primeira dispõe de lugares amplos que podem servir de apoio para o desenvolvimento de algumas atividades do projeto, como os momentos de culminância, que são as apresentações de todas as tarefas executados pelos alunos no final dos trabalhos, haja vista que este é um dos requisitos apresentados nos PCN, os quais descrevem:

Ao final do projeto, é interessante que seu resultado seja exposto publicamente, na forma de alguma atividade de atuação no meio, isto é, de uso no âmbito coletivo (seja no interior da classe, no âmbito da escola ou da comunidade) daquilo que foi produzido (BRASIL, 1998, p.41).

Em relação ao tempo de execução do projeto, segundo a entrevistada, não foi possível concluir na data prevista, pois estava planejado para realizar todas as atividades em 2014, mas até o momento da entrevista não havia sido concluído, devido a não entrada da segunda remessa de verba. O projeto envolveu toda a escola, nos turnos manhã e tarde, sendo que a pesquisa de campo envolveu somente o turno da manhã. O tempo entre o lançamento do edital e a execução da primeira parte do projeto foram dois meses e está previsto para terminar até o mês de julho, porém vale ressaltar que isso só ocorrerá se o restante da verba for disponibilizado. No que se refere à continuidade do projeto a professora foi enfática, ao confirmar que, por se tratar de um projeto proposto por ministério era inviável continuar, pois ele tem um prazo para ser concluído.

Essas questões levantadas pela educadora, do tempo de execução e o da não continuidade do projeto, reflete o progresso de todo o processo educacional, devido ao sistema não disponibilizar meios para investir em uma educação de qualidade que possibilite ao educando construir seu próprio conhecimento através das vivências do seu cotidiano. Por outro lado, existe a acomodação por parte dos professores, o que não é o caso da entrevistada, em pensar que ao se determinar um prazo para concluir tais projetos, estes não devem ser continuar, visão esta que deve ser repensada, visto que esses mecanismos servem como ponto de partida para a elaboração de diversos outros planos, ou seja, são exemplos a serem seguidos, melhorados e adaptados à realidade de cada um.

O projeto, segundo a professora, não contempla a área do turismo, pois a escola tinha que optar pelos eixos temáticos propostos no edital e optou por Educação Patrimonial dividido entre patrimônio material e imaterial, memória, identidade e vínculo social. Tendo em vista que os locais visitados também são pontos turísticos da cidade e do estado, relatou ainda que o turismo foi mencionado, superficialmente. No entanto, nas considerações de Fonseca Filho (2007), o turismo, como caráter multidisciplinar, pode, através da educação em turismo, desenvolver-se de maneira que aborde questões como cidadania, alteridade, sociabilidade, cultura, educação ambiental e patrimonial, que são extremamente relevantes para a formação dos cidadãos e que são deixados de lado devido à obrigação de cumprir os conteúdos das disciplinas formais.

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décima questão feita aos alunos do sétimo, oitavo e nono ano, respectivamente. Esses dois questionamentos foram formulados com a finalidade de compreender se os alunos associam o patrimônio cultural a pontos e/ou atrativos turísticos, para isso a posição das questões foi escolhida de modo a fazer com que os participantes tivessem um intervalo a responder tais indagações. A primeira questão pedia para citar três ou mais patrimônio cultural ou natural da cidade de Parnaíba, enquanto a décima solicitava para apontar quais pontos turísticos eles conheciam ou tinham vontade de conhecer.

Pesquisados Questão 1 Questão 10

7º Ano

Sujeito 1 Portos das Barcas, Casarão e Praça da Graça.

Casarão, Estação do Trem e Porto das Barcas

Sujeito 2 Casarão Porto das Barcas e Estação do Trem.

Porto das Barcas e Casarão

Sujeito 3 Portos das Barcas Rodovia Floriópolis e Casarão

Pedra do Sal Lagoa do Portinho e Portos das Barcas

Sujeito 4 Portos das Barcas, Casarão e Estação Floriópolis

Porto das Barcas e Praça da Graça

Sujeito 5 Portos das Barcas, Casarão e Estação Porto das Barcas Sujeito 6 Portos das Barcas, Casarão e Pedra

do Sal

Porto das Barcas, Casarão e estação de trem

Sujeito 7 Porto das Barcas Estação de Trem e Igreja Nossa Senhora das Graças

Eu conheço Porto das Barcas e tenho interesse Estação de Trem Sujeito 8 Porto das Barcas, Estação Floriópolis

e Igreja Nossa Senhora das Graças

Porto das Barcas, Estação

Floriópolis e Igreja Nossa Senhora das Graças

Sujeito 9 Porto das Barcas, Pedra do Sal. Coqueiro da praia, Pedra do sal e praia do coqueiro

Sujeito 10 Porto das Barcas Casarão e Praça da Graça

Porto das Barcas e Estação do Trem

Sujeito 11 Porto das Barcas, Estação Floriópolis, Nossa Senhora das Graças e Casarão

Porto das Barcas, Casarão e Sete Cidades

Sujeito 12 Porto das Barcas, Casarão e Rio Igaraçu

Porto das Barcas

Sujeito 13 Porto das Barcas, Estação de Trem e Nossa Senhora das Graças

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8º Ano

Sujeito 1 Porto das Barcas, casarão, Estação de Parnaíba e Floriópolis

Porto das Barcas, casarão, Estação de Parnaíba e Floriópolis.

Sujeito 2 Estação Floriópolis e porto das Barcas

Portinho Porto das Barcas, Delta.

Sujeito 3 O Trem Maria Fumaça, Estação Floriópolis e porto das Barcas.

Delta, Porto das Barcas e Lagoa do Portinho.

Sujeito 4 Porto das Barcas, Casarão de

Simplício Dias e Estação Floriópolis.

Estação Floriópolis

Sujeito 5 Estação Florianópolis, Porto das Barcas e Catedral.

Não lembro

Sujeito 6 Estação Floriópolis, Porto das Barcas e Casarão de Simplício Dias.

Porto das Barcas

Sujeito 7 Estação Floriópolis, Porto das Barcas e Casarão de Simplício Dias.

Estação Floriópolis, Porto das Barcas, queria conhecer o Casarão. Dizem que é muito grande.

Sujeito 8 Delta do Parnaíba, Porto das Barcas e Pedra do Sal.

Delta do Parnaíba, Serra da Capivara e Sete Cidades.

Sujeito 9 Porto das Barcas e Estação Museu Porto das Barcas, Casarão e Delta do Parnaíba.

Sujeito 10 Porto das Barcas, Estação e Igreja. Porto das Barcas, Estação, Casarão e Igreja.

Sujeito 11 Porto das Barcas, Estação Floriópolis e Casarão.

Praia Pedra do Sal

Sujeito 12 Porto das Barcas, Pedra do Sal e Estação.

Porto das Barcas e Pedra do Sal

Sujeito 13 Porto das Barcas e Casarão Simplício Dias

Casarão Simplício Dias

Sujeito 14 Trem Maria Fumaça e Estação Floriópolis.

Porto das Barcas, Lagoa do Portinho, Pedra do Sal e Praia de Luís Correia.

Sujeito 15 Estação Floriópolis, Porto das Barcas e Praça da Graça.

Porto das Barcas

Sujeito 16 Estação Floriópolis, Porto das Barcas e Praça da Graça.

Praça da Graça, Estação Floriópolis e Porto das Barcas.

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Estação do Trem.

Sujeito 18 Porto das Barcas e Casarão Simplício Dias

Casarão Simplício Dias

9º Ano

Sujeito 1 Casarão Simplício Dias, Matriz e Estação Floriópolis.

Pedra do Sal, Porto das Barcas, etc.

Sujeito 2 Porto das Barcas, Casa Simplício Dias e Praça da Graça

Porto das Barcas e Estação Floriópolis

Sujeito 3 Casarão, Portos das Barcas e Pedra do sal

Portos das Barcas, Praça da Graça, Portinho e Luís Correia

Sujeito 4 Casarão Simplício Dias, Matriz e Estação Floriópolis

Não respondeu

Sujeito 5 Casarão Simplício Dias, Matriz e Casa Inglesa

Delta, Pedra do Sal e Porto das Barcas.

Sujeito 6 Casarão Simplício Dias, Porto das Barcas e Estação Floriópolis

Delta, São Raimundo Nonato e outros, tenho muita vontade de conhecer.

Sujeito 7 Casarão Simplício Dias, Praça da Graça Matriz

Casarão, Praça da Graça, Matriz, etc.

Sujeito 8 Casarão Simplício Dias, Matriz e Estação Floriópolis

Porto das Barcas

Sujeito 9 Casarão Simplício Dias, Casa Inglesa, Estação Floriópolis e Porto das Barcas

Porto das Barcas, Lagoa do Portinho e Igreja Matriz

Sujeito 10 Casarão Simplício Dias, Porto das Barcas e Praça da Graça

Porto das Barcas

Sujeito 11 Porto das Barcas O Delta

Sujeito 12 Porto das Barcas, Casarão Simplício Dias e Praça da Graça.

Estação Floriópolis, Porto das Barcas, Casarão Simplício Dias Sujeito 13 Casa do Simplício Dias, Porto das

Barcas.

Porto das Barcas

Quadro 1: resposta das questões 1 e 10 do questionário

Como se pode observar no quadro acima existe uma associação por parte dos alunos entre o patrimônio e pontos turísticos. Essa correlação só foi possível devido à inserção do projeto de Educação Patrimonial, que segundo a professora não contemplava o tema turismo, todavia por se tratar de locais tombados e que são visitados pelos viajantes, houve explicações de maneira informal sobre o tema, o que de fato contribui para o conhecimento dos alunos em relação à atividade turística.

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Dentre os locais mais citados, o Casarão Simplício Dias, Portos das Barcas e Estação Floriópolis, foram os que mais apareceram tanto como patrimônio quanto pontos turísticos, isso se justifica pelo o fato de que esses lugares estavam entre os locais a serem visitados como uma das atividades proposta no projeto. Além desses o projeto inclui outros locais como: Esplanada da Estação; Praça da Graça: incluindo as duas igrejas, o prédio do Instituto Histórico, geográfico e genealógico de Parnaíba; Praça Santo Antônio e o Parque Nacional Sete Cidades situado numa cidade circunvizinha (PROJETO ESCOLAR, 2014). A partir disto os alunos eram instigados a produzir materiais referentes às atividades realizadas, que descrevem os relatos sobre o que aprenderam durante todo o processo, como: relatório das visitas; história oral; produção de crônicas; construção de jornal. Desta maneira, o projeto desenvolveu-se de forma organizada e pode-se identificar as três etapas primordiais no desenvolvimento desse tipo de ação que são os processos que acontecem antes, durante e após:

As viagens e os passeios incluem aprendizagens que ocorrem através de pelo menos, três momentos: o do planejamento, isto é, a fase de organização, que deve contar com a participação dos estudantes, num exercício de democracia, através da escolha do lugar a ser visitado, da elaboração de regras, da pesquisa sobre o local a ser visitado; o da execução propriamente dita, através da observação e coleta de dados, da fruição do prazer de dirigir o olhar para uma paisagem; o das atividades de retorno, através da sistematização de conhecimentos, de montagens de relatórios, de organização de painéis com fotos, com desenhos e textos, podendo-se contar atualmente, com os recursos multimídia advindos dos computadores e da Internet (VINHA, GARCIA, ROMÃO, et al. 2005, p.7).

De acordo com a pauta da reunião do projeto (anexo A), seu objetivo tem por finalidade mobilizar a escola e a comunidade em geral para conhecer e valorizar o patrimônio histórico material e imaterial de Parnaíba, não somete os já citados, mas os alunos foram levados a conhecer o que seu entorno (PROJETO ESCOLAR, 2014).

Segundo Dias e Machado (2009, p. 3) o patrimônio é visto como uma construção social e cultural, devido a este ser concebido a partir da realidade concreta da comunidade, percebendo-o como um processo simbólico e representativo de uma identidade coletiva. Neste sentido, “a educação deve levar o indivíduo a compreender sua própria existência e em consequência, suas necessidades e as necessidades ao seu entorno”. Na concepção desses autores, a educação deve buscar uma articulação entre a comunidade no geral para o fortalecimento de elos comuns entre si, visando assim à continuidade e sobrevivência da localidade.

Neste sentido é importante ressaltar que o turismo tem contribuído de forma significativa para o desenvolvimento de diversos municípios, que tem utilizado seus patrimônios, sejam eles naturais ou culturais, para atrair viajantes. Nas considerações de Dias e Machado (2009, p. 1) “a relação patrimônio cultural e desenvolvimento local torna-se cada vez mais relevante a partir do papel dinâmico desempenhado pelo Turismo”. De acordo com Silva e Holanda (2012, p.3), o turismo tem um grande potencial no processo educativo, podendo este ser utilizado como ferramenta de ensino e aprendizagem, devido ao seu caráter social, cultural, econômico, ambiental e político:

A inclusão do turismo nas escolas de municípios turísticos contribui para contextualizar os conteúdos das disciplinas tradicionais com a realidade da localidade, colaborando, por conseguinte, para a melhora do rendimento escolar. Além disso, a inserção do turismo pode auxiliar a formação de cidadãos críticos em relação à degradação dos patrimônios ambientais e

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histórico-culturais, aculturação, exploração sexual, dentre outros impactos negativos atribuídos ao fenômeno turístico, potencializando assim, os impactos positivos da atividade turística que, quando bem planejada, pode contribuir, significativamente, para o desenvolvimento local sustentável.

Dentro desta perspectiva, para não haver dúvida referente ao entendimento dos alunos sobre essa relação entre turismo e patrimônio cultural, foi perguntado diretamente a respeito disto, sendo que a nona questão dizia o seguinte: você acha que Patrimônio Cultural e turismo tem uma relação? Diante das respostas foi possível perceber o grau de compreensão dos investigados sobre a temática aqui abordada.

Dos quarenta e quatro participantes, cinco disseram não existir relação alguma enquanto trinta e nove disseram ter. Dois fatores chamaram a atenção nessa resposta: o primeiro foi que entre os cincos alunos que responderam não, três deles estão no nono ano de ensino fundamental II, indo para o ensino médio, levando-se em consideração a sua idade, estes deveriam ser os que mais poderiam se expressar de forma positiva em relação a esse questionamento, porém os PCN destacam que: “crianças pequenas têm, em geral, maiores possibilidades de participar produtivamente em situações simples nas quais possam perceber com clareza as consequências de sua intervenção” (BRASIL, 1998, p. 38). Ou seja, quanto mais cedo inserir nos currículos os temas transversais, os resultados serão positivos, consistentes e transformadores da realidade local.

O segundo fato destaca-se quando cruzados os dados da primeira e décima questão com a nona, pois dos cinco alunos que disseram não ter uma relação entre patrimônio e turismo colocam como sendo patrimônio cultural apenas os monumentos que visitaram, já quando pedidos para citar pontos turísticos, os mesmos alunos dão respaldo ao patrimônio natural, como Delta, Portinho, Pedra do Sal e outros. Deste modo, é importante enfatizar que o patrimônio engloba não somente a parte cultural, mas também o natural.

Partindo dessa premissa é certo afirmar que essa conceituação não tenha ficado claro para os alunos, uma vez que até mesmo a maioria dos profissionais da área deixam de falar sobre a parte natural dentro dos projetos de Educação Patrimonial que desenvolvem, o que dificulta o processo de conhecimento, apropriação e preservação do meio ambiente. Isso ganha evidência na fala da professora entrevistada quando é questionada sobre seu preparo para trabalhar essa temática:

Não sou especialista na área em Educação Patrimonial, sou especialista e mestre em História do Brasil, no entanto a minha pesquisa de mestrado envolve o Patrimônio Ferroviário Parnaibano, assim realizei leituras sobre patrimônio, memória e identidade trabalhando estes conceitos na parte teórica da pesquisa (FONTE PRIMÁRIA, 2015).

Diante disto entende-se que as colocações dos cincos alunos de não compreender que patrimônio inclui o cultural e o natural, reflete a falta de exposição sobre o meio ambiente neste processo, tendo em vista que o projeto enfatiza o patrimônio cultural dividido em material e imaterial que como já citado, este último, não aconteceu ainda.

Dentre as respostas afirmativas, algumas merecem destaque, pois demostram um nível de conhecimento elevado sobre turismo em relação às expectativas iniciais da pesquisa. Entre as argumentações que se segue pode-se perceber que na concepção dos alunos o turismo envolve o descolamento para conhecer novos lugares, patrimônio e cultura, bem como a vinda de estrangeiros para conhecer a sua própria:

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67 •Porque no turismo nós visitamos e conhecemos a cultura.

•Porque o turismo vem conhecer a nossa cidade, nosso histórico da nossa cidade.

•Porque a cultura chama muita atenção do turista. •Porque as pessoas tem cultura de conhecer novos lugares. •Porque é através do turismo que conhecemos novos lugares.

•Porque se não for pelo turismo como vamos conhecer os lugares, conhecer a cultura.

•Pois sem o turismo não poderíamos conhecer os patrimônios culturais

(FONTE PRIMÁRIA, 2015).

Outro aspecto importante é que alguns deles colocam a palavra “nosso (a)”, criando uma ideia de pertencimento o que de fato a Educação Patrimonial tem como finalidade que é a apropriação, e por conseguinte, a preservação do patrimônio. Essa apropriação que tanto se busca para a criação de uma identidade é decorrente do processo de ensino-aprendizagem que aos poucos, embora muito timidamente, vem sendo introduzido no sistema educacional envolvendo a interação entre o ensino formal e o ensino a partir da realidade do educando, como acontece na Educação Patrimonial. No entanto, Cascaes (2010) alerta sobre os cuidados que se deve ter em relação aos projetos de Educação Patrimonial para que seus resultados sejam de forma satisfatória e independente de que seja voltada para alunos ou professores este deve ser um processo sistemático e continuado.

Do ponto de vista de Cerqueira (2005) o desenvolvimento da educação patrimonial na escola deve visar à formação de cidadãos com qualidade, preocupada com o fortalecimento da identidade cultural, para tanto, é necessário que seja implementada de forma criativa incluindo atividades extraclasses e tendo professores preparados para os novos desafios. Neste sentido, a educação para o turismo ganha força para ser efetivado como uma ferramenta a mais para alcance do conhecimento, pois ampliaria o campo de estudo nas atividades fora do espaço escolar.

Partindo dessa realidade é importante ressaltar a resposta de três alunos que referiram à atividade turística como um meio de aprender sobre sua realidade, onde disseram: “sim. Porque incentiva na aprendizagem” (FONTE PRIMÁRIA, 2015). Isso é de comum acordo com o posicionamento de Silva e Holanda (2012, p.2) quando diz que “O turismo pode ser utilizado para facilitar a aprendizagem, seja como conteúdo transversal, como disciplina ou como atividade extracurricular”.

Dessa forma é possível promover a introdução do turismo em meio à educação formal, para através desde preparar a população não só para receber bem o visitante, mas para conscientizar a todos sobre o real valor do seu patrimônio e que se a própria população não se apropriar deste outros irão fazer isso de forma desordenada e provocar o desaparecimento da sua cultura. Para melhor compreender essa questão destacam-se as respostas abaixo, sobre a relação entre patrimônio e turismo, na visão dos alunos:

•Uma relação de deixar a história marcada o que eles viveram.

•Patrimônio cultural e turismo são iguais porque se não tiver o turismo não terá o patrimônio

•Porque são relações turísticas para que patrimônio não se perca (FONTE

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Percebe-se que os próprios alunos tem uma noção de que através do turismo pode-se estabelecer estratégias que possibilitem a preservação do patrimônio cultural e natural. Neste sentido, Fonseca Filho (2007) percebe a educação como base para a formação de indivíduos críticos e participativos e um meio de envolver estes nos eventos cotidianos, acordando-os para as questões sociais. Desta maneira a educação turística vem complementar o processo de preservação de valores no que se refere à cultura e ao meio ambiente natural.

Para Dias e Machado (2009) à medida que o indivíduo compreende a sua realidade, ele passa a dar valor a sua história e consequentemente a sua memória, que neste caso se torna uma ligação entre o indivíduo e a preservação de sua identidade, sendo que sem essa consciência as pessoas ficam incapazes de construir a cidadania. Nessa perspectiva os autores consideram que ao salvaguardar o patrimônio os grupos se tornam conscientes não só do seu passado, mas também do presente e futuro.

Dando continuidade à análise dos dados o gráfico a seguir corresponde aos resultados das questões 2ª a 8ª, do questionário. Para uma compreensão mais detalhada, por ser o gráfico é meramente ilustrativo, os resultados serão descritos abaixo.

Gráfico 1. Representação das questões 2º a 8º do questionário

A segunda questão perguntava se os alunos gostavam das aulas passeios, do total de quarenta e quatro alunos pesquisados quarenta responderam que sim enquanto quatro disseram que às vezes. E quando questionados, na terceira pergunta, a dizer como eram essas aulas vinte e um deles responderam serem ótimas, dezenove disseram boa e quatro normais, nenhum disse ser as aulas cansativas. Esse resultado significa que os alunos em sua grande maioria aprovam esse tipo de atividade (metodologia) até mesmo, como a diretora ressaltou em uma conversa informal, muitas vezes esses são os únicos momentos de lazer que esses adolescentes desfrutam.

A quarta questão perguntava se os patrimônios estudados faziam parte do seu cotidiano vinte e oito marcaram às vezes, onze responderam sim e cinco não. A quinta questionava sobre o estado de conservação dos locais visitados vinte e um boa, quinze ótima e cinco disseram regular. Percebe-se nestas respostas que os patrimônios escolhidos não fazem parte do seu entorno, uma vez que grande parte dos alunos respondeu que às vezes esses

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