PREVALÊNCIA SOROLÓGICA DA DOENÇA DE CHAGAS E CORRELA
ÇÃO SOROLÓGICA-ELETROCARDIOGRÁFICA EM POPULAÇÕES
NÃO
SELECIONADAS DO MUNICÍPIO DE JAGUARÃO, RIO GRANDE DO SUL*
Giovanni Baruffa**
Foram examinadas 3 7 9 amostras de sangue colhidas ao acaso entre m ora
dores de 6 localidades do M u n ic íp io de Jaguarão. A reação de Guerreiro-Machado
resultou p o sitiva em 10 (2,64%). A nalisando a naturalidade dos positivos nenhum
deles resultou ser n a tu ra l do M u n ic íp io de Jaguarão.
O pequeno núm ero de positivos não p e rm ite estabelecer correlação entre
prevalência sorológica e alterações eletrocardiográficas. Estas últim as apresentaram
índices de prevalência elevados e isto parece estar relacionado com a presença de
valores tensionais alterados em uma alta porcentagem das pessoas examinadas.
Conclui-se que a Doença de Chagas não existe em form a endêmica no
M u n ic íp io de Jaguarão e que os altos índices de alterações eletrocardiográficas
encontrados guardam relação com a prevalência de valores tensionais alterados
na população examinada.
*
IN TRO DU ÇÃ O
O M u n ic íp io de Jaguarão, localizado no e x tre m o sul do R io G ra n d e do S u l, na m a r gem esquerda do rio h o m ô n im o , te m c o m o li mites: ao sul e sudoeste a R e p ú b lic a O rie n ta l do U rug uai, a leste a Lagoa M irim , ao n o rte e noroeste os M u n ic íp io s de A r ro io G ra n d e e Herval do Sul. As coordenadas são: 3 2 ° 3 3 ' 3 2 " de lat. Sul e 5 3 ° 2 3 ' 2 2 " de lona. O este.
A sede dista da c a p ita l do Estado 3 5 0 k m . O M u n ic íp io te m um a s u p e rfíc ie de 2 .1 0 0 k m 2e um a p o p u la ç ã o de 2 2 .8 4 0 h ab ita n te s , dos quais 1 6 .9 3 0 residem na sede5 . A a ltitu d e da sede é de 11 m etro s e a a ltitu d e m édia do M u n ic íp io é a p ro x im a d a m e n te a mesm a. Na área e n tre a rodovia B R -1 1 6 , que liga Jaguarão a Pelotas e a Lagoa M irim e n c o n tra m o s solos planos, m al drenados, de grande fe rtilid a d e , a m p la m e n te aproveitad o s para a c u ltu ra do a rro z . A área e n tre a B R -1 1 6 e o M u n ic íp io de H erval do Sul c o m p re e n d e "c a m p o s lim pos e estendidos
sobre c oxilh as suaves, c om raros matacões de rochas expostas. M ais ao fu n d o , essas coxilhas ganham v o lu m e , tra nsform an do -se em serrotes de pouca a lt u r a " 1 0 .
Jaguarão apresenta, em com paração aos o u tro s m u n ic íp io s da Z on a S ul, a m elh or e s tru tu ra fu n d iá ria , te n d o " m u ito m enos m i n ifú n d io s , e n ú m ero bem m a io r de empresas p ro p ria m e n te d itas, com p ou co mais de 30% da s u p e rfíc ie a g ríc o la t o t a l " 8 .
O c u ltiv o do a rro z é responsável por mais da m e ta d e do ingresso b ru to do setor p ri m ário. Segue-se a pecuária extensiva ta n to bo vina q u a n to o vin a , responsável p o r 30% do to ta l® .
N ão tiv e m o s o p o rtu n id a d e de enco n tra r na lite ra tu ra p o r nós consultada relatos de casos agudos ou crônicos de Doença de Cha gas p ro ced entes de Jaguarão, nem referências
•Trabalho realizado pela Cadeira de Doenças Infecciosas e Parasitárias do Curso de Medicina da Universidade Católica de Pelotas. A realização do mesmp contou com o auxflio da Fundação Amparo à Pesquisa do Rio do Sul (FAPERG S), através do Projeto "Medicina 1 8 0/74".
**Professor Titular da Cadeira de D.I.P. do Curso de Medicina da Universidade Católica de Pelotas. Recebido para publicação em 6.10.1975.
a inq uérito s ep id em io ló g ico s ali realizados. D i P rim io 6 ' 7 assinala a presença de
Triatoma rubrovaria,
espécie h a b itu a lm e n te não d o m ic ilia r, e não m enciona o e n c o n tro doTriatoma infestans,
espécie d o m ic ilia r. A a u sência de T ria to m ín e o s d o m ic ilia re s fo i c o m provada, ainda re c e n te m en te, em le v an tam e n to da S U C A M 1 2 .Parece, e n tã o , q ue as condições eco lógicas e sócio-econôm icas em Jaguarão não favorecem a d o m ic ilia ç ã o tria to m ín ic a . D isto resultaria a ausência de transm issão n atu ra l da Doença de Chagas no a m b ie n te d o m ic ilia r, sem dúvida o de m aio r im p o rtâ n c ia para a criação de focos e a m a n u te n ç ã o da e nd em ia.
A presença de grandes p lantações de arroz, p a rtic u la rm e n te nas p ro x im id a d e s da La goa M irim , é m o tiv o de im igrações de m ão-de- obra, na sua m a io ria p ro ce d e n te das áreas de m in ifú n d io da Serra do Sudeste, o n d e a D o e n ça de Chagas, c o m o pud em os c o m p ro v a r em inquéritos a n te rio re s 2 ' 3 , apresenta a lto s índices de prevalência.
A inexistên cia de condições de ende mia e a presença de um n um eroso c o n tin g e n te de tra balh ado res rurais o riu n d o s de áreas en dêmicas da Z o n a S ul, deverá p ro d u z ir em Ja guarão um a situação bem p ec u liar, c a racterizada:
1?) Pela ausência de sorologia positiva entre a pop ulação a u tó c to n e e que nunca tenha residido em zona endêm ica;
2 ? ) Pela presença e v e ntual de soro logia positiva e n tre os im igrados procedentes de zonas endêm icas.
0 presente in q u é rito propõe-se ao es tu d o do c o m p o rta m e n to da D o en ça de Chagas no M u n ic íp io de Jaguarão, te n d o c o m o h ip ó tese de tra b a lh o a situação m e n cion ada.
M A T E R IA L E M ÉTO D O
O tra b a lh o de c a m p o de c o lh e ita de amostras de sangue e registro dos e le tro c a rd io - gramas fo i re a liza d o de 2 5 a 3 0 de n o v e m b ro de 1 9 7 4 . A co m p a n h a v a a c o lh e ita a c o m p ila ç ã o de um a fich a da qual constavam : n ú m e ro , no me, sexo, cor, idade, residência, n a tu ra lid a d e , tip o de h ab itação , re c o n h e c im e n to de t r i a t o m í neos, presença dos mesmos na m o ra d ia a tu a l m ente ou em épocas a nterio res, sinal de R o mana, presença de d isp néia, p alp itaçõ es, ede mas, disfagia, constip ação , e mais os seguintes dados do e xam e c lín ic o e p a ra c lín ic o : auscul- ta c ard íaca, tensão a rte ria l, e le tro c a rd io g ra m a e sorologia.
F o ra m colh idas 3 8 2 am ostras de san gue e registrado igual n ú m e ro de e le tro c a rd io - gramas e n tre a p o p u la ç ã o , to m a d a ao acaso, das seguintes localidades: V ila K e n n e d y e C har- q ueada, no su b ú rb io , 1 6 0 am ostras; G ra n ja U n ião e G ra n ja B reta n h a , na zona a rro z e ira da Lagoa M irim , 1 2 8 am ostras; C e rrito e Pedras Brancas, na zona de criação de gado, 9 4 am os tras.
O sangue fo i re tira d o da veia d o b raço em preg and o agulhas de d u p lo bisel e tu b o s a vácuo V e n o je c t.
O soro, separado p o r c e n trifu g a ç ã o , fo i m a n tid o em geladeira a té a execu ção dos
exam es sorológicos.
As reações sorológicas fo ra m realizadas no la b o ra tó rio do D e p a rta m e n to de C lín ic a M é dica do Curso de M ed ic in a da U n iversid ade C a tó lic a de Pelotas. F o i u tiliz a d a a técn ica de fix a ç ã o de c o m p le m e n to em placa c o m a n tíg e - no tr íp lic e , segundo A lm e id a 1 : a n tíg e n o m e ti- , lico de
Trypanosoma cruzi,
a n tíg e n o aquoso deBrucella abortus,
C a rd io lip in a Sycco. Os soros positivos com o a n tíg e n o tr íp lic e fo ra m re exam in ado s com cada a n tíg e n o em separado.Nos ele tro c a rd io g ra m a s u tilizo u -s e um ap arelh o C a r—D io s ta t T Siem ens, a lim e n ta d o com um a b ate ria de 1 2 volts.
F o ra m registradas as seis derivações standard e as seis precordiais. A in te rp re ta ç ã o dos traçados fic o u a cargo do D r. José O sim o de A q u in o N e to , t itu la r da d is c ip lin a de Car- d io log ia no Curso de M ed ic in a da U n iversid ade C a tó lic a de Pelotas. Os dados fo rn e c id o s ao card iolo gista e a n o tad o s nos traçado s fo ra m : sexo, idade e tensão a rte ria l.
As alterações e le tro c a rd io g rá fic as f o ram reunidas em c in c o grupos:
1 9 ) D is tú rb io s da fo rm a ç ã o do es tím u lo ; 2 9 ) D is tú rb io s da c o n d u ç ã o do es t ím u lo (blo q u eio s , e tc .); 3 ? ) D is tú rb io s da re p o la rizaç ã o ven-tric u la r; 4 ? ) Sobrecarga de cavidades; 5 ? ) O u tro s (b a ix a v o lta g e m do Q R S , alterações sugestivas de necrose e /o u fib ro s e ).
RESULTADOS
a) Sorologia
Os resultados da reação de fix a ç ã o de c o m p le m e n to (G u e rre iro -M a c h a d o ) estão na
Tabela I.
Jan.—Fev., 1976
Rev. Soc. Bras. Med. Trop.
3
T A B E L A I
REAÇÃO DE FIXAÇÃO DE COMPLEMENTO EM 382 AMOSTRAS
Amostras Examinadas Anticomplementares % Positivas % Negativas %
382
3
0,78 10 2,64 369 97,36A d is trib u iç ã o p or sexo dos pacientes exam inad os consta da
Tabela II.
T A B E L A II
DISTRIBUIÇÃO POR SEXO DOS EXAMINADOS
Sexo Examinados % Positivos %
Homens 188 49,60 5 2,66
Mulheres 191 50,40 5 2,62
T O T A L 379 100,00 10 2,64
A d is trib u iç ã o p o r idade consta da
Tabela III.
T A B E L A III
DISTRIBUIÇÃO POR IDADES
Grupos Etários Examinados Positivos %
5 - 9 29 _ _ 10 - 19 78 -2 0 - -2 9 73 2 2,74 3 0 - 3 9 79 1 1,26 4 0 - 4 9 59 4 6,78 5 0 - 5 9 26 1 3,85 6 0 - 6 9 21 1 4,76 > 70 14 1 7,14 T O T A L 379 10 2,64
A n a tu ra lid a d e dos ex a m in a d o s e positivos está na
Tabela IV.
T A B E L A IV
NATURALIDADE DOS EXAMINADOS E POSITIVOS
N A T U R A L ID A D E EX A M IN A D O S PO S ITIVO S % Jaguarão 260 — -Arroio Grande 26 - -Bagé 8 - -Camaquã 9 1 11,11 Canguçu 9 3 33,33 Encruzilhada 2 - -Herval 11 - -Pedro Osório 6 2 33,33 Pelotas 20 2 10,00 Pinheiro Machado 5 1 20,00 Piratini 6 -
-São Lourenço do Sul 12 1 8,33
Outros 5 -
A d is trib u iç ã o dos p ositivos c o m relação ao lugar de residência no M u n ic íp io de Jaguarão está na T a b e la V .
T A B E L A V
LOCALIDADE DE RESIDÊNCIA DOS EXAMINADOS E POSITIVOS
R E S ID ÊN C IA E X A M IN A D O S PO S ITIVO S % Vila Kennedy 79 4 5,06 Charqueada 79 1 1,26 Granja UniSo 46 2 4 ,35 Granja Bretanha 81 3 3,70 Cerrito 33 — — Pedras Brancas 61 - -T O -T A L 379 10 2.64
b) Eletrocardiografia
F o ra m enco ntrad as alterações e le tro - cardiográficas em 7 dos 1 0 traçados p e rte n c e n tes as pessoas com sorolo gia p o s itiv a (7 0 % ) e em 1 1 4 dos 3 6 9 traçado s das pessoas com
sorologia negativa (3 0 ,9 0 % ).
A d is trib u iç ã o e tá ria e as alterações nos positivos e negativos estão nas T ab elas V I , V I I , V I U e I X .
T A B E L A VI
ELETROCARDIOGRAMAS COM SOROLOGIA POSITIVA
H O M E N S M U L H E R E S
Idade Examinados Normais Alterados Examinados Normais Alterados
0 - 9 _ — _ — — — 10 - 19 _ _ — — — — 2 0 - 2 9 1 _ 1 1 1 30 - 39 1 1 — — - -40 - 49 1 _ 1 3 1 2 5 0 - 5 9 _ _ _ 1 1 60 - 69 1 — 1 — — — 70 1 — 1 — — — T O T A L 5 1 4 5 2 3
Jan.—Fev., 1976
Rev. Soc. Bras. Med. Trop.
5
TABELA VII
ALTERAÇÕES NOS ELETROCARDIOGRAMAS DE INDIVÍDUOS COM SOROLOGIA POSITIVA
H O M E N S
IDADE 0-9 10-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70 0-9 10-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70 Extr. S. V. 1 1 Bire 1 1 Bcrd 1 1 Bfare 1 1 Aprv 1 1 1 1 4 Amrv 1 1 Sae 1 1 1 3 Sve 1 1 2 Necrose e/ ou Fibróse 1 1 TOTAL A L TERAÇÕES 2 2 1 3 5 2 5 M U L H E R E S CONVENÇOES:Extr. S. V. — Extrassistoles supraventriculares Bire — Bloqueio incompleto do ramos esquerdo
Bcrd — Bloqueio completo do ramo direito
Bfare — Bloqueio fasciculo anterior do ramo esquerdo Aprv — Alterações primárias da repolarização ventricular
mrv — Alterações mixtas da repolarização ventricular Sae — Sobrecarga atrial esquerda
Sve — Sobrecarga ventricular esquerda
TABELA VIII
ELETROCARDIOGRAMA NOS INDIVÍDUOS COM SOROLOGIA NEGATIVA
H O M E N S M U L H E R E S T O T A L IDADE E X A M I NADOS N O R M AIS A L T E RADOS % E X A M I NADOS N O R MAIS A L T E RADOS % E X A M I NADOS N O R M AIS A L T E RADOS % 0- 9 17 17 - - 12 12 - 29 29 - -10-19 39 38 1 2,56 39 37 2 5,12 78 75 3 4,0 20-29 36 31 5 13,88 35 25 10 28,57 71 56 15 21,12 30-39 35 26 9' 25,71 43 27 16 37,20 78 53 25 32,05 40-49 26 11 15 57,69 29 15 14 48,27 55 26 29 52,72 50-59 14 5 9 64,28 11 3 8 72,72 25 8 17 68,0 60-69 8 2 6 75,0 12 4 8 66,66 20 6 14 70,0 70 8 1 7 87,5 5 1 4 80,0 13 2 11 84,61 Total 183 131 52 28,41 186 124 62 33,33 369 255 114 30,90
TABELA IX
ALTERAÇÕES NOS ELETROCARDIOGRAMAS DOS INDIVÍDUOS COM SOROLOGIA NEGATIVA
IDADE 0-9 10-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70 0-9 10-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70 Ts 1 1 1 2 1 6 Bs 1 1 2 4 Ext.SV 1 1 E.V.Un 1 1 1 1 1 1 6 E.V.P. 1 1 1 3 Bav 1? 1 2 2 1 6 Bire 3 1 1 1 1 1 8 Bird 1 1 2 Bcrd 1 1 2 Bcr.' 1 1 2 Dciv 3 2 1 1 1 2 1 1 12 Aprv 1 1 3 5 7 3 2 8 13 10 7 6 2 68 Amrv 1 2 2 1 2 1 9 Sad 1 1 1 3 Sae 3 5 5 2 1 2 2 2 1 1 24 Svd 1 1 Sve 2 2 2 2 1 1 1 1 1 13 Baixa Volt QRS 1 1 2 Necro- se e/ou Fibrose 1 2 1 3 1 3 11 TOTAL - 2 6 14 23 21 11 14 - 3 14 24 20 9 13 9 183 CONVENÇÕES: Ts- Taquicardia sinusal Bs- Bradicardia sinusal
Ext. SV- Extrassistoles supraventriculares E. V. Un- Extrassistoles ventriculares unifocais E. V. P.- Extrassistoles ventriculares polifocais Bav 1P- Bloqueio atrio-ventricular de 1P grau Bire- Bloqueio incompleto do ramo esquerdo Bird- Bloqueio incompleto do ramo direito Bcrd- Bloqueio completo do ramo direito
Bcre- Bloqueio completo do ramos esquerdo Ociv- Distúrbio condução intraventricular
Aprv- Alterações primárias repolarização ventricular Amrv- Alterações mixtas repolarização ventricular Sad- Sobrecarga atrial direita
Sae- Sobrecarga atrial esquerda Svd- Sobrecarga ventricular direita Sve- Sobrecarga ventricular esquerda
c) Tensão A rte ria l
A tensão a rte ria l fo i m e d id a em 2 8 7 pessoas acima dos 1 8 anos. F o i u tiliz a d o um aparelho "O rig in al E r k a " m a n o b ra d o sem pre pelo mesmo o perador. A to m a d a era fe ita no braço d ire ito , com p aciente sen tad o , logo após a com pilação da fich a e antes da re tira d a do sangue e do e letrocard iog ram a. T od as as vezes que a tensão sistólica era acim a de 1 6 0 m m H g
e /o u a diastólica acim a de 1 0 0 m m H g , a t o m ada era re p e tid a após 1 5 a 2 0 m in u to s . U ti- lizaram -se para o presente estudo os valores mais baixos o b tid o s.
Das 2 8 7 pessoas exam inad as, 6 6 a p re sentaram valores de 1 4 0 /9 0 ou a c im a (2 2 ,9 9 % ) e 1 2 6 valores de 1 5 0 /1 0 0 ou a c im a (4 3 ,9 0 % ) c om o consta da T a b e la X .
Jan.—Fev.,1976
Rev. Soc. Bras. Med. Trop.
7
T A B E L A X
VALORES DA TENSÃO ARTERIAL EM 287 ADULTOS
IDADE E X A M IN A D O S 140/90 ou + 1 5 0/100 ou + T O TA L A C IM A DO N O R M A L % 18 - 24 45 12 6 18 40,0 25 - 34 84 22 33 55 65,67 35 - 44 78 17 36 53 67,94 45 - 54 31 4 20 24 77,41 55 - 64 26 5 17 22 84,61 65 - 74 \ 15 4 9 13 86,66 75 8 2 5 7 87,50 TOTAL 287 66 126 192 66,90 A N Á L IS E D O S R E S U L T A D O S
Sem d ú vid a o e le m e n to mais saliente do in q u é rito sorológico é q ue n en hu m a das 10 pessoas com sorologia p ositiva para a D o en ça de Chagas é n atu ra l d o m u n ic íp io de Jaguarão. Os 10 positivos são n aturais de 6 m u n ic íp io s da Zona Sul, o nd e p udem os c o m p ro v a r a e x istê n cia de áreas de e nd em ia chagásica 2 ' 3 . E m outras palavras, as pessoas c om sorologia p o s iti va pertencem todas ao c o n tig e n te de im igrados procedentes de áreas endêm icas da Z o n a S u l. A metade dos positivos encontra-se e n tre os assa lariados das granjas de a rro z da região de La goa M irim (T a b e la V ) e a o u tra m e tade e n tre os imigrados residentes em zona u rb an a ou sub ur bana. E assim co m p ro v a d a a v a lid a d e das h ip ó teses de tra b a lh o enunciadas na in tro d u ç ã o .
N o q ue se refere à p revalência das al terações e le trocard iog ráficas, o n ú m e ro re d u z i do de .pacientes com sorologia p ositiva não perm ite estabelecer com parações c o m o c o m p o rtam en to das alterações nos negativos e tira r conclusões de o rd e m geral. C h a m a , p o rém , atenção o fa to q ue de u m to ta l de 3 bloqueios com pletos do ram o d ir e ito e n c o n tra d o s nos 3 7 9 eletrogradiogram as, u m p erten ce a u m in d iv íd u o de 2 6 anos com sorologia positiva. E o ú nico bloqueio do fa s c íc u lo a n te rio r d o ra m o esquer do pertence ao m esm o in d iv íd u o (T a b e la V I I ) . Sabemos que os b lo qu eios de ra m o , p a rtic u la r m ente quand o presentes e m pessoas ainda jo vens, são a lta m e n te sugestivos de c a rd io p a tia chagásica crô nica4 ■* 1 .
Os dois b lo qu eios c o m p le to s do ram o d ire ito , e n co ntrad os nos negativos, p erten cem a pessoas na q u in ta e o ita v a década, ou seja, a
grupos etá rio s em q ue a e tio lo g ía pode e deve ser p ro cu ra d a e m processos in v o lu tiv o s m io cár- dicos. N ão d e ix a , p o ré m , de surpreender a e le vada p revalência de alterações e le tro c a rd io g rá fi cas nos negativos ( 3 0 ,9 0 % ), c om pequena e não sign ificativa d ife re n ç a en tre os hom ens (2 8 ,4 % ) e as m u lheres ( 3 3 ,3 3 % ). A c ham os q ue isto seja em d eco rrência dos valores tensionais elevados que e n c o n tra m o s e m p orcentagem significativa d e adultos.
D e aco rd o com a D ivision o f H e a lth S ta tis tic 9 , consideram os "H ip e rte n s ã o B order- lin e " um a sistólica a b a ix o de 1 6 0 m m H g e d iá to lic a b a ix o de 9 5 p o rém não s im u lta n e a m e n te a b a ix o re s p ectivam en te de 1 4 0 e 9 0 m m H g . C onsideram os "H ip e rte n s ã o D e fin i d a " q u a n d o a sistólica é 1 6 0 ou mais e a diásto- lica 9 5 ou mais.
Estam os conscientes de que a to m ad a de tensão a rte ria l, n um a situação que não exclui u m certo grau de "stress" , pode não e x p r im ir o v a lo r ten sion al v e rd a d e iro . A cham os, to d a via , que os valores e n co ntrad os, apesar de todas as reservas, são bastante indicativos de um a te n d ên cia real. A tab e la X nos m ostra que a p o r centagem de pessoas com níveis " B o rd e rlin e " ou com H ip erte n s ã o " D e f in id a " a u m enta gra d u a lm e n te c o m a idade, m a n te n d o u m sign ifica tiv o p aralelism o c o m o c o m p o rta m e n to , em relação à idad e, das alterações e le tro c a rd io g rá fi cas nos negativos (T a b e la V I I I ) . A tab e la I X nos m ostra q ue p re d o m in a m as alterações prin árias inespecíficas da rep olarização v e n tric u la r e as sobracargas atriais e ventricu lares esquerdas. Urna e x p lic a ç ão b em p lau sível para tais a lte ra ções são, sem d ú v id a , os níveis tensionais a lte
rados que e n c o n tra m o s e m alta p orcen tag em de adultos.
C O N C L U S Õ E S
0 in q u é rito nos p e rm ite de tira r as se guintes conclusões:
1 — A D o en ça d e Chagas não existe em fo rm a endêm ica no M u n ic íp io de Jaguarão;
2 — 0 p eq u en o n ú m ero de casos c om sorologia positiva p erten ce a pessoas im igradas procedentes de áreas endêm icas da Z o n a Sul do Estado;
3 — D a d o o peq uen o n ú m e ro de casos c o m sorologia não é possível estabelecer um a correlação e n tre p o s itiv id ad e sorológica e tip o e prevalência das alterações ele tro c a rd io g rá fic as ;
4 — Apesar das reservas relacionadas c om a to m a d a de tensão a rte ria l, e m condições q ue não e x c lu e m "stress" e m o c io n a l, acham os assim m esm o s ign ificativa a p orcen tag em de pessoas c o m níveis tensionais elevados;
5 — A elevada prevalência de a lte ra ções e le tro c a rd io g rá fic as nos parece estar re la c io n a d a c o m os níveis elevados da tensão a rte ria l encontrad os num a p orcen tag em substancial de pessoas exam inad as.
SUMMARY
The exam ination b y com plem ent fix a tio n test {M achado-G uerreiro) o f
3 79 b lo o d samples ra n d o m ly assembled in 6 localities o f the c o u n ty o f Jaguarão
(R io Grande do Sul - B razil), showed o n ly 10 positive cases (2,64%). Norte o f the
positive people is native to Jaguarão; a li are im m igrants fro m nearby éndem ic areas.
Owing to the U m ited n um ber o f p o sitive people i t is n o t possible to correlate
serological prevaience fo r Chagas'Disease and eletrocardiographic abnorm alities.
These abnorm alities showed a high prevaience rate apparently related to sustained
b lo o d tension among some o f the exam ined people.
In conclusion: 1) Chagas'Disease is n o t endemic in the c o u n ty o f Jagua
rão; 2) The high rate o f eletrocardiographic abnorm alities is related to the preva
ience o f altered b lo o d tension.
R E F E R Ê N C IA S B IB L IO G R Á F IC A S
1. A L M E I D A , J. O . de — Reação de F ix a ç ã o pela T écn ica q u a n tita tiv a para M o lé s tia de Chagas. T é c n ic a e m tub os e téc n ic a em placas. In J. R. C A N Ç A D O "D o e n ç a s de Chagas". Im prensa O fic ia l do Estado de M inas Gerais, Belo H o riz o n te , 1 9 6 8 , pág. 2 7 9 - 3 1 4 .
2. B A R U F F A , G . — Dados não publicad os.
3 . B A R U F F A , G .& A L C A N T A R A , F . A . - Prevalência sorológica da D oenças de Chagas em c inco M u n ic íp io s da Z o n a Sul d o R io G ran de do S u l. Rev. In s t. M ed . T ro p . São Paulo 16: 1 4 0 -1 4 4 ,1 9 7 4 .
4 . B R A S IL , A . — Evolução e p ro g n ó s tic o da D o en ça de Chagas. A r q . Bras. C a rd io l. 18: 3 6 5 -3 8 0 , 1 9 6 5 .
5 . D E M O G R A F I A , 1 9 7 2 - S ecretaria de C o o rd e n aç ã o e P la n e ja m e n to S u p e rite n - d ência de E s ta tís tic a e In fo rm á tic a , R io G ra n d e do S u l. •
6 . D l P R IM IO , R . — Transm issores da D o en ça de Chagas e respectivos índices de in fecção no R io G ra n d e do S u l. S eparata A n ais F ac u ld a d e de M ed icing de P o rto A le g re , 1 2 -1 3 , pág. 1 2 6 , 1 9 5 2 -1 9 5 3 . Im prensa U n iv e rs itá ria . P o rto A le g re ,1 9 5 4 .
7. D l P R IM IO , R. — T ria to m in e o s e índices de in fecção p elo T ry p a n o s s o m a c ru zi no R io G ra n d e do S ul. A n ais F acu ldad e de M e d ic in a d e P o rto A le g re , 1 9 : 2 1 -3 5 ,1 9 5 9 .
8. E studo p re lim in a r ao p la n o de desenvol v im e n to in tegrado dos m u n ic íp io s da
Jan.—Fev., 1976
Rev. Soc. Bras. Med. Trop.
9
Zo n a S u l. In s titu to T é c n ic o de Pesquisa e Assessoria ( IT E P A ) , U n iversid ade C a tó li ca de Pelotas, V o l. I, pág. 3 8 -4 0 ,1 9 7 1 .
9. L A R A G H , J. H . — H ip e rte n s io n M an u al. Y o rk e M ed icai B ooks, pág. 4 4 -4 5 , N e w Y o r k , 1 9 7 4 .
10. R A M B O , B . — A fis io n o m ia d o R io
G ra n d e d o S u l, L iv ra ria S elbach, P o rto A le g re , 1 9 5 6 , pág. 8 4 .
1 1 . R O M A N A , C. — E n ferm e d a d de Chagas, Lopes, L ib reros E d ito re s , Buenos A ires, 1 9 6 3 .
1 2. S U C A M : In fo rm e o b tid o aos Drs. A bdias L e ite M e llo e A n to n io M a lte z F ilh o .