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APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO: O IMPACTO NA QUALIDADE DE VIDA DO SUJEITO

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Academic year: 2021

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APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO: O IMPACTO NA QUALIDADE DE VIDA DO SUJEITO

RETIREMENT FOR CONTRIBUTION TIME: THE IMPACT ON THE SUBJECT'S QUALITY OF LIFE

Amanda Linhares SoaresI

Carolina Bunn BartilottiII

Resumo: O objetivo desta pesquisa é identificar qual a influência da Aposentadoria por

Tempo de Contribuição na Qualidade de Vida do sujeito. Devido à centralidade do trabalho na organização da vida do sujeito, torna-se relevante haver uma maior produção de conhecimento acerca do afastamento do trabalho com a chegada da aposentadoria, e as possíveis mudanças na qualidade de vida decorrentes deste fenômeno. Esta pesquisa é de caráter qualitativo, com corte transversal e ex-post-facto, estudando as variáveis envolvidas após o acontecimento de um fenômeno, neste caso, a aposentadoria. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista semiestruturadas, com três aposentados, com mais de 65 anos, com níveis de escolaridade diferentes. As entrevistas visaram identificar os fatores envolvidos na adaptação e qualidade de vida na aposentadoria. Estes fatores dividem-se em cinco, sendo eles, centralidade do trabalho para estes aposentados, aspectos financeiros, relações familiares, relações sociais e autoestima. Os dados obtidos nas entrevistas evidenciam que as alterações que ocorreram foram auspiciosas, sendo a aposentadoria vivenciada de forma geral, como positiva. Pode-se perceber tal realidade com base no bem-estar obtido nos aspectos relacionais, financeiros e autoestima, considerando-os importantes para uma boa adaptação e qualidade de vida na aposentadoria, entretanto, por se tratar de uma pesquisa qualitativa, os dados obtidos não podem ser generalizados.

Palavras-chave: Aposentadoria. Qualidade de vida. Psicologia do Trabalho.

Abstract: The objective of this research is to identify the influence of Retirement by

Contribution Time on the individual's Quality of Life. Due to the centrality of work in the organization of the subject's life, it becomes relevant to have a greater production of knowledge about leaving work with the arrival of retirement, and the possible changes in the quality of life resulting from this phenomenon. This research is qualitative, cross-sectional and ex-post-facto, studying the variables involved after the occurrence of a phenomenon, in this case, retirement. Data collection was carried out through semi-structured interviews, with three retirees, over 65 years old, with different educational levels. The interviews aimed to identify the factors involved in adaptation and quality of life in retirement. These factors are divided into five, namely, centrality of work for these retirees, financial aspects, family

I Acadêmico do curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul. E-mail:

amanda.liinharess@gmail.com.

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relationships, social relationships and self-esteem. The data obtained in the interviews show that the changes that occurred were auspicious, with retirement being generally experienced as positive. Such reality can be perceived based on the well-being obtained in the relational, financial and self-esteem aspects, considering them important for a good adaptation and quality of life in retirement, however, because it is a qualitative research, the data obtained do not can be generalized.

Keywords: Retirement. Quality of life. Work Psychology.

1 INTRODUÇÃO

Ao iniciar um debate acerca da aposentadoria torna-se necessário abordar a centralidade do trabalho na vida do sujeito contemporâneo. A respeito disto, Zanelli, Silva & Soares (2010, p. 23) afirmam que “as sociedades humanas se organizam em função do trabalho”. Ainda segundo os autores, é por meio dele que o sujeito organiza seus horários, regras e interações sociais, e além de organizador, o trabalho assalariado é considerado de modo geral, uma forma de o sujeito suprir suas necessidades, além de proporcionar sua autonomia. Esta compreensão corrobora com a afirmação de Bruns, Abreu (1997), ao concluírem que é através do trabalho que o sujeito realiza seus sonhos e objetivos, constituindo-se como sujeito e alterando suas relações sociais. Sendo assim, pode-se compreender que o trabalho é, de forma geral, uma peça fundamental para o funcionamento da vida do sujeito inserido na sociedade capitalista atual.

Deste modo, faz-se necessário caracterizar o ato de trabalhar. O trabalho pode ser compreendido como um esforço desejado para a realização de objetivos, por vezes sem retorno financeiro, como o trabalho não assalariado da mulher dona de casa (ALBORNOZ, 1986). Sendo assim, a concepção acerca do trabalho possui uma compreensão para além da esfera profissional e de carreira, o trabalho pode ser compreendido como o ato de realizar uma atividade, com ou sem retorno financeiro, diferentemente do emprego.

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vincula-se às atividades de produção, remuneradas ou não, e o segundo, às atividades remuneradas realizadas por meio de contrato legal” (COSTA; SOARES, 2009, p. 100). A partir das definições previamente citadas, o trabalho será abordado, nesta pesquisa, como atividade remunerada, com vínculo empregatício, como emprego. Pois tratará do afastamento do sujeito de seu trabalho formal, com a chegada da aposentadoria.

Ainda sobre o trabalho, é possível afirmar que diversas vezes ele é considerado, como uma realização e fonte de criatividade. Entretanto, pode também ser compreendido como uma limitação e alienação da pessoa. Apesar disto, é possível afirmar que ele é instrumento de integração social, sendo considerado o principal meio de participação do sujeito na sociedade, propiciando parcial ou integralmente sua realização e obtenção de renda para sobrevivência individual e familiar (SANTOS, 1990; ANTUNES; SOARES; SILVA, 2013).

Tratando-se da centralidade do trabalho na vida do sujeito, Santos (1990) leciona que a sociedade é conduzida desde a infância e adolescência para ingressar no mercado de trabalho. Ou seja, o sujeito é ensinado a buscar uma profissão desde a tenra infância, como forma de adaptação ao contexto social ao qual está inserido. Ainda segundo a autora, pode-se compreender o trabalho como um papel obrigatório e prioritário, uma vez que o sujeito é treinado para isto. Esta afirmação pode ser percebida na pesquisa de Boehs & Silva (2017), onde os entrevistados, aposentados, afirmam que o trabalho é uma fonte geradora de dignidade, sentimento de utilidade e independência financeira, sendo um meio de atingir seus objetivos de vida.

Santos (1990) conclui que o trabalho, enquanto papel prioritário e obrigatório, exerce uma influência dupla sobre o sujeito. Ele propicia, enquanto instituição, um ambiente de referência, de modo que é por meio dele que o sujeito cria um grupo social e consequentemente, gera sua identidade e seus papéis.

Ainda segundo a autora, por vezes há uma alienação no trabalho, não há prazer e identificação do trabalhador com seu trabalho. Apesar disto, há uma valorização social sobre o tempo despendido ao trabalho e isto faz com que haja um estigma de desperdício de tempo quando não se está trabalhando. A partir disto surge uma crença social acerca da aposentadoria identificando-a como algo negativo, uma perda de vivências. Deste modo, pode-se compreender que apesar de haver por vezes, uma alienação no trabalho, o afastamento dele gera um impacto na vida do sujeito que o

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concerne o título de pessoa “desocupada”, improdutiva para o mercado, embora outras atividades possam ser realizadas.

Acerca deste tema, Boehs; Silva (2017), afirmam que é imprescindível haver um esclarecimento sobre a aposentadoria, gerar uma ruptura no paradigma que sustenta a aposentadoria como momento de tranquilidade e repouso. As formas de vivenciar a saída do mercado de trabalho irão variar entre os sujeitos. Aliás, segundo as autoras, vale ressaltar que a aposentadoria não é uma ruptura com todas as espécies de trabalho, sendo que podem ser desempenhados trabalhos voluntários, atividades de lazer e outras ocupações para preencher o tempo anteriormente dedicado ao trabalho com vínculo empregatício, se assim o aposentado desejar.

A respeito da aposentadoria, pode-se caracterizá-la como o afastamento do sujeito de seu trabalho formal, aquele que gera retorno financeiro, melhor definido como emprego (BRASIL, 2019). Sendo assim, a aposentadoria neste caso é o afastamento do trabalho formal, do emprego. Atualmente há diversas modalidades de aposentadoria, nesta pesquisa o olhar está voltado para a aposentadoria por tempo de contribuição. Modalidade a qual prevê um tempo mínimo de trabalho de 30 anos para mulheres e 35 anos para homens, para assim obter o direito a aposentadoria (BRASIL, 2019).

Neste contexto, Ramos (2001, apud PERES, 2007) afirma que a aposentadoria é a ruptura laboral e a aquisição de suporte financeiro por meio de sistemas previdenciários, pois acredita que após uma vida de trabalho o sujeito tem direito de apreciar seu tempo livre, condição que o Estado deve subsidiar a partir dos anos de contribuição fornecidos pelo trabalhador.

Magalhães et al (2004) consideraram a aposentadoria como um momento de transição, com mudanças no desempenho dos papéis sociais assumidos ao longo da vida. Isto se torna claro a partir da possibilidade de haver neste momento um distanciamento ou rompimento dos vínculos de amizade formados no ambiente laboral, de modo que o sujeito deverá ressignificar suas relações e sua existência, a buscar novos meios de ação para adaptar-se à nova realidade emergente.

Rodrigues (2005) considera que a partir da aposentadoria podem emergir mudanças na vida do aposentado, e cada sujeito irá vivenciar esta etapa da vida de forma subjetiva, particular. Sendo assim, a aposentadoria pode ser vivida como um

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momento de prazer e realizações pessoais bem como pode ser vivida como um luto pelo afastamento do trabalho, como afirmam Hoffmann e Zille (2017).

Santos (1990) afirma que o modo como a aposentadoria é vivenciada pelo sujeito está relacionada com o modo como ele organizava sua vida pessoal e o trabalho. Muitas vezes é a partir do trabalho que o sujeito organiza sua rede de amigos e convívio com a família, sendo assim, a aposentadoria pode vir a influenciar a qualidade de vida do sujeito e sua forma de experenciar o mundo, suas relações interpessoais e demais aspectos da sua vida.

Deste modo, o ato de aposentar-se, independentemente do tipo de aposentadoria, tende a gerar uma mudança na organização da existência do indivíduo. Sendo assim, pode-se considerar que a aposentadoria pode vir a ser, um momento estressante (ANTUNES; SOARES; MORÉ, 2015). Este período pode ser incômodo para o sujeito devido a perda do trabalho como variável influenciadora na organização da sua vida e seu tempo, de modo que com a aposentadoria este maior tempo disponível pode gerar ansiedade (SANTOS, 1990; RODRIGUES, 2005; HOFFMANN; ZILLE, 2017). Logo, a aposentadoria poderá alterar a rotina do sujeito, de modo que seus valores passarão por modificações juntamente com sua nova realidade.

Além da mudança em seus círculos sociais junto à aposentadoria pode emergir uma crise financeira e perda do status que a profissão proporcionava, e isto pode afetar negativamente a autoestima e a autoimagem do sujeito (RODRIGUES, 2005; ZANELLI, 2012). Para algumas pessoas o trabalho é fonte de prestígio e reconhecimento e com o afastamento laboral pode surgir sentimentos de solidão e vazio (ZANELLI, 2012).

Zanelli (2012) constatou que geralmente, mesmo havendo uma preparação financeira para este momento, há um desejo de retornar às atividades laborais. Desta forma, torna-se possível identificar que o trabalho é uma atividade complexa, que envolve outras variáveis além do retorno material, como uma identificação com as atividades desempenhadas ou uma valorização social, na qual identifica o trabalho como atividade que proporciona dignidade, possuindo valor social. Neste sentido, há pessoas que optam por continuar trabalhando após a aposentadoria, de modo a elevar sua autoestima (FRANÇA; VAUGHAN, 2008), através de contatos sociais e outros pontos positivos que o trabalho pode proporcionar.

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Deste modo, pode-se observar na aposentadoria segundo Krawulski et al., (2017, p. 61) que, “enquanto a continuidade na carreira for marcada pelos sentimentos de reconhecimento e de realização, a perspectiva da aposentadoria é percebida como vazio, perda e ruptura”. Esta afirmação reaviva a compreensão acerca do reconhecimento pessoal que o sujeito adquire através da realização do trabalho. Pois, segundo Boehs, et al, (2017) e Rodrigues (2005), a partir da ausência do trabalho, como referência de si no mundo, o sujeito deverá buscar alternativas para reaprender a interagir com a vida na aposentadoria, buscar novos papéis, sem o papel profissional, com o possível estigma de pessoa inativa e improdutiva. Pode-se considerar então que, ao assumir o trabalho como protagonista de sua vida, o sujeito pode encontrar dificuldades ao deparar-se sem ele na aposentadoria, buscando enxergar sua vida a partir de novas perspectivas.

Tal afirmação é identificada pela concepção de trabalho-aposentadoria dita por Santos (1990), de modo que na sociedade capitalista há uma valorização muito grande acerca dos papéis profissionais que o sujeito desempenha, sua atividade laboral é uma variável que influencia sua identificação social, seu reconhecimento perante si e os outros. Diante deste contexto, pressupõe-se que, quando o sujeito “descentraliza” o trabalho da sua vida, ou seja, possui outros projetos extratrabalho, sua adaptação à aposentadoria pode ser mais positiva.

Sendo assim, esta pesquisa visa compreender qual o impacto da aposentadoria por tempo de contribuição na qualidade de vida do sujeito, em diferentes aspectos de sua vida. Tendo como objetivo geral, identificar qual a influência da Aposentadoria por Tempo de Contribuição na Qualidade de Vida do sujeito. Pode-se caracterizar a qualidade de vida como sendo “(...) um conceito multidimensional que abrange aspectos físicos, sociais e emocionais” (COSTA, 2010, p. 24).

Ainda neste sentido, segundo o Development Of The World Health Organization Whoqol-bref Quality Of Life Assessment (1998, p. 551), pode-se compreender a qualidade de vida como a “percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive, e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Com base nisto, pode-se concluir que a qualidade de vida está relacionada com os aspectos físicos e psicossociais do sujeito, de modo que na aposentadoria, pode ocorrer uma mudança na

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organização destas variáveis na vida do sujeito, consequentemente, influenciando sua qualidade de vida.

Este trabalho visa responder o objetivo geral através dos seguintes objetivos específicos; identificar a centralidade do trabalho na vida destes trabalhadores aposentados, identificar as relações sociais, familiares, condição financeira e aspectos da autoestima após a aposentadoria e suas decorrências na qualidade de vida.

2 MÉTODO

Esta pesquisa é de caráter descritivo, pois observa, analisa, registra e correlaciona os aspectos envolvidos no fenômeno (aposentadoria) sem manipulá-los. Ou seja, é uma pesquisa que não interfere na realidade do fenômeno, apenas observa os aspectos envolvidos nele (LEONEL, 2007). Trata-se de uma pesquisa de corte transversal, qualitativa, pois, busca identificar a percepção do entrevistado frente à situação problema da pesquisa (LEONEL, 2007).

A pesquisa em questão é caracterizada como ex-post-facto, pois foram mensuradas as variações dos possíveis efeitos do acontecimento da variável independente. A pesquisa buscou um nexo na relação entre duas variáveis (RAUEN, 2015, p. 290), no caso a aposentadoria e a relação com a qualidade de vida, ou seja, foram avaliados os aspectos possivelmente decorrentes do fenômeno estudado, a aposentadoria. Este tipo de pesquisa caracteriza-se por não haver um controle de variável independente, pois ela acontece “a partir do fato passado” (GIL, 2002).

Como instrumento de coleta de dados foi realizado uma entrevista com cada participante. Esta entrevista foi semiestruturada, com perguntas pré-definidas, visando abordar os fenômenos psicológicos envolvidos na variável estudada, qualidade de vida na aposentadoria.

Foi-se definido em um primeiro momento, que seriam entrevistados seis sujeitos de pesquisa, pessoalmente. Entretanto, em decorrência da pandemia do Covid-19, e a recomendação de distanciamento social para maior segurança das pessoas, principalmente por se tratar de pessoas do grupo de risco, foi possível entrevistar apenas três sujeitos, por meio de uma ligação telefônica. O publico alvo afirmou não

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saber usar tecnologias de chamada de vídeo, optando por conversar via telefone. As entrevistas foram individuais, e para cada entrevistado um Termo de Compromisso Livre e Esclarecido (TCLE) foi assinado.

O critério de inclusão estabelecido foi ser aposentado por tempo de contribuição, com mais de 65 anos de idade, estar aposentado há no mínimo dois anos. Ademais, cada participante deveria ter um nível de escolaridade diferente, fundamental, médio e superior, de modo a identificar possíveis diferenças provenientes dos diferentes níveis de instrução. Devido às dificuldades de contato com possíveis participantes por conta da pandemia, uma participante que não atendia à idade estabelecida, foi incluída na pesquisa. Os participantes foram: duas mulheres e um homem. Senhora Anita, 64 anos, com nível superior, dentista, casada, reside com o marido. Senhora Gertrudes, 67 anos, com ensino médio, técnica de enfermagem, viúva, reside sozinha. E senhor Irineu, 81 anos, com ensino fundamental, padeiro, casado, reside com a esposa, a filha e alguns netos. Todos os nomes são fictícios, de modo a caracterizar os participantes, mantendo o sigilo acerca de sua identidade.

A entrevista foi realizada com o intuito de abranger aspectos da vida financeira, social, familiar e de autoestima do sujeito perante sua condição de pessoa aposentada, fatores compreendidos como essenciais para a adaptação à aposentadoria. Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas, estando os dados arquivados por um período de cinco anos, mantendo o sigilo das informações e identidade dos entrevistados. A coleta dos dados ocorreu no mês de maio de 2020, e a análise dos mesmos foi feita através da leitura flutuante, realizando uma categorização dos dados como o modelo de Bardin (1977), avaliando-os por meio de referencial teórico.

Esta pesquisa seguiu todos os aspectos éticos brasileiros de pesquisas envolvendo seres humanos, incluindo aprovação em Comitê de Ética em Pesquisa, parecer n° 4.017.512.

3 ANÁLISE DE DADOS

A apresentação e análise dos dados obtidos serão organizadas conforme os objetivos específicos, seguindo a ordem que foram apresentados anteriormente,

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centralidade do trabalho, aspectos sociais, aspectos familiares, condições financeiras e aspectos na autoestima após aposentadoria.

Centralidade do trabalho e seu valor social

De modo a otimizar a análise dos dados torna-se necessário pontuar o papel do trabalho na organização da vida do trabalhador, partindo da afirmação de Kupstas (1997) na qual conclui que é a partir do trabalho que o sujeito modifica a natureza, como através do plantio, construção de monumentos e instituições como a família e o Estado, é também pelo trabalho que o sujeito constrói sua subjetividade. Ademais, o trabalho pode ser compreendido também como “atividade de caráter produtivo, realizada por pessoas, para assim obterem alguma remuneração e/ou para contribuírem com sua própria subsistência” (BERNAL, 2010, p. 14). Corroborando com este pensamento Antunes, Moré (2014), consideram o trabalho como uma fonte para garantia da subsistência do sujeito e sua família, bem como sua inserção na sociedade.

A partir da breve definição acerca do trabalho e os dados obtidos nas entrevistas, foi possível perceber o vinculo estabelecido entre trabalho e aposentadoria, de modo que ambos estão conectados na vida profissional do sujeito. Durante as entrevistas o papel do trabalho esteve presente, cada participante falava sobre seu trabalho e o papel que ele desempenhou na organização de sua vida. Foi possível identificar a caracterização do trabalho de diferentes formas, sendo ele descrito com apreço, como no caso da senhora Anita, “o trabalho foi muito importante na minha vida”; “gostei muito de trabalhar, mas eu acho que cumpri minha missão, fiz minha parte”. Neste caso torna-se possível identificar o trabalho como forma de realização e criatividade, como afirmam Santos (1990); Antunes, Soares e Silva (2013). Ademais, através do relato de senhor Irineu, no qual afirma trabalhar desde os 7 anos de idade, e que está acostumado com isso, foi possível inferir o trabalho como peça fundamental na condução de sua vida. Neste caso é possível perceber que há certa valorização deste feito, no seguinte relato: “Eu tô acostumado a trabalhar, então sempre tinha emprego pra mim. E em toda a repartição que eu trabalhei eu nunca fui mandado embora, eu pedia pra sair”.

Esta afirmação vai ao encontro com o estudo de Santos (1990) no qual constata que há uma preparação do sujeito para o mercado de trabalho desde a tenra infância. O sujeito é criado para isto, como uma forma de inserção social, e ainda segundo a

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autora, mesmo que haja uma alienação na realização do trabalho há uma valorização social em desempenhar esta ação. Tal argumento torna-se evidente no relato do mesmo entrevistado, senhor Irineu, “não posso ficar parado”; “(...) nunca ninguém me chamou de mandrião, eu detesto mandrião viu”. Neste sentido pode-se perceber uma valorização do trabalho, um meio de ser respeitado socialmente, originando um estigma de desperdício de tempo quando não se está trabalhando (SANTOS, 1990). Entretanto, o trabalho não é caracterizado de forma homogênea, isto se torna evidente ao apanhar o relato da senhora Gertrudes, no qual diz que precisou trabalhar para atender à suas necessidades. “Eu nunca pretendi trabalhar fora”; “(...) eu sempre quis ser dona de casa igual minha irmã é, que ganha tudo”. Neste caso o trabalho pode ser percebido como uma forma de obrigação, como afirmara Santos (1990).

Os entrevistados alegaram não desejar retornar ao trabalho com vínculo empregatício, mesmo que o veja de modo geral, como símbolo de produtividade e reconhecimento, todavia, a senhora Gertrudes faz costuras em casa como forma de ocupar tempo e garantir uma renda extra. Já o senhor Irineu possui uma horta em frente sua casa, onde dedica seu tempo a este trabalho não remunerado, mas que lhe proporciona gratificação e lhe fornece ocupação, de modo que não pode ser intitulado de “mandrião”, como o mesmo afirma não gostar, ademais, este tempo despendido na horta é classificado por ele, como um lazer.

Estabelecida uma caracterização do trabalho segundo os dados das entrevistas, torna-se relevante pontuar que todos os participantes desejavam aposentar-se, pois como eles afirmam, foi um alivio, e ponderam que todos os trabalhadores esperam por este momento. Esta afirmação dos participantes pode ser identificada no estudo de Ramos (2001) apud Peres (2007, p. 147), “A palavra aposentadoria, tanto em inglês (retired) quanto em francês (retraite), significa retirar-se, ou seja, diz respeito ao direito do trabalhador de desfrutar do tempo livre após uma vida toda dedicada ao trabalho (...)”. A maior disponibilidade de tempo foi uma característica positiva marcante no período de aposentadoria de dois dos participantes. Segundo a senhora Anita e o senhor Irineu, agora eles tem mais tempo livre para realizarem atividades que gostam como cuidar da horta, estudar outros idiomas, fazer meditação, dentre outras coisas. Diferentemente dos estudos de Santos (1990); Rodrigues (2005); Hoffmann e Zille (2017) nos quais definem o maior tempo livre como algo

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ansiogênico, a maioria dos entrevistados desta pesquisa indicaram o maior tempo livre como um ponto positivo, convergindo com os estudos de Zanelli (2012).

Ao identificar as atividades realizadas pelos participantes torna-se possível observar que todos criaram uma nova rotina com a aposentadoria, de modo que puderam recriar sua identidade, função importante para uma melhor adaptação a esta nova realidade (SANTOS, 1990; ZANELLI, 2012). Segundo Santos (1990) existem três tipos de aposentadoria, são elas: aposentadoria recusa, aposentadoria sobrevivência e aposentadoria liberdade. Diante dos dados coletados pelos participantes foi possível definir a aposentadoria dos mesmos como aposentadoria liberdade. Nesta modalidade a transição para a aposentadoria torna-se uma realização, uma forma de recompensa pelo tempo de trabalho exercido, neste caso, há outras fontes de satisfação além do trabalho, outros papéis sociais e projetos que proporcionam prazer.

Influência nos Fatores Sociais- Relacionamentos

Acerca dos fatores sociais envolvidos na aposentadoria os entrevistados apresentaram algumas mudanças, mas não as atribuem à aposentadoria, como afirma senhora Anita, “(...) não sou assim de grandes ciclos sociais né, minhas amigas de 20 anos são aquelas, minha família, não sou assim de estar saindo”. Os outros entrevistados relataram não sair mais, senhor Irineu costumava jogar dominó e fazer atividades na igreja, mas atualmente esta mais recluso, pois não tem mais a mesma condição física. A senhora Gertrudes afirma que costumava sair para bailes e viajar, mas no momento não tem mais companhia para sair. Os entrevistados não atribuem este fato por estarem aposentados, afirmam que não sentiram mudanças sociais ao aposentarem-se.

Quanto à vida social no contexto do trabalho, junto com os colegas de profissão, a senhora Anita e Gertrudes afirmam ter contato esporádico com os antigos colegas. Diferentemente do senhor Irineu, que afirma não ter mais contato com os antigos colegas de trabalho, pois alguns estão aposentados, havendo uma perda de contato e outros já morreram. A experiência do senhor Irineu em relação ao afastamento com antigos colegas converge com os estudos de Boehs; Silva, (2017) e Hoffmann; Zille, (2017), os quais pontuam que as amizades feitas no ambiente de

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trabalho costumam não ser mantidas na aposentadoria, por haver uma perda do convívio diário.

Influência nos Aspectos Familiares- As questões de Gênero

Além dos aspectos sociais, a família representa um dos protagonistas da trama da vida do sujeito que deverá ser reescrita a partir do desenrolar desta nova etapa da sua existência, a aposentadoria. Algumas famílias terão que se reorganizar e conviver por um maior período de tempo com o aposentado. Neste sentido relacional, os entrevistados relataram ter pouco convívio com pessoas para além da família, convergindo com Zanelli (2012), o qual afirma que o principal meio de convívio social para o aposentado tende a ser a família, seja por escolha ou falta de opções para além deste circulo social. Este maior tempo livre com a família pode ser visto como positivo ou negativo (ANTUNES; SOARES; MORÉ, 2015).

Segundo os mesmos autores, é comum ocorrer uma maior preocupação dos pais, aposentados, com seus filhos, apesar da autonomia que os mesmos possam ter. Deste modo, dedicam grande parte do seu tempo em ajuda-los com suas necessidades, abdicando da realização de seus objetivos e desejos pessoais. Este caso pode ser apurado na entrevista da senhora Anita na qual comunica: “Então às vezes passo mais tempo na casa dela do que aqui (...)“. Neste caso o participante refere-se à casa de sua filha; afirma que dedica seu tempo em ajuda-la com muita alegria. Em seguida ela relata seu desejo de estudar novos idiomas, entretanto este desejo fica encoberto pelas “obrigações” desempenhadas.

A partir das entrevistas tornou-se possível identificar apreço dos aposentados pelos seus netos, todos eles são avós, afirmam gostar de passar tempo com os netos, ajudando a cuidá-los, abrigando em sua casa, pagando aulas, dentre outras formas. Tal fato é confirmado no relato da senhora Gertrudes, “Faço tudo pelos meus netos (...)”; “Quando a E. nasceu eu estudava, e depois cuidava dela a noite pra não acordar os pais”. Tal constatação vem ao encontro com os estudos de Zanelli (2012) e Antunes, Moré (2014), no qual concluem que o nascimento dos netos pode ser prazeroso para os aposentados, bem como possibilita que novos papéis sejam representados.

Dentre os entrevistados apenas a senhora Anita afirmou haver uma mudança relacional com a família após a aposentadoria, evidenciando a maior disponibilidade

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(2015) concluem que dentro deste ambiente familiar, e maior convívio com os seus, pode haver uma mudança na rotina do aposentado e sua família, principalmente com o cônjuge. Neste sentido, tornou-se possível constatar nas entrevistas o convívio entre o casal na aposentadoria, dois dos participantes são casados, a senhora Anita e o senhor Irineu. Ele especificou o convívio com a esposa como positivo. Já a senhora Anita resumiu em poucas palavras estar vivendo um período turbulento com o marido, algo não relacionado à aposentadoria. Senhora Gertrudes é viúva e mora sozinha.

Senhor Irineu relata ter um bom convívio com a esposa que também é aposentada, “(...) a minha convivência com a minha esposa é boa.” “(...) eu e a minha gata nos amamos, mas de vez em quando a gente se arranha”, o participante afirma que são duas pessoas convivendo juntas com gênios diferentes, mas que convivem bem. Ademais, ele demonstra preocupação em pensar na vida sem a companheira, caso ela venha a falecer antes dele. Neste sentido, Zanelli (2012); França (2002) afirmam que a aproximação com o cônjuge pode ser vivida de modo positivo, respeitando os desejos de cada um e divisão de afazeres domésticos. Fato confirmado na fala do senhor Irineu “eu não preciso chamar a mulher pra fazer um café porque eu faço, não sou esse tipo de homem que a mulher tem que viver de baixo dos pés igual escrava, nada disso”. Sendo assim, pode-se identificar aparentemente uma independência entre o casal, fator visto como positivo para melhor convívio e adaptação na aposentadoria (ANTUNES; SOARES; MORÉ, 2015).

Ao ser questionado sobre sua maior participação na vida doméstica, mais tempo dentro do ambiente familiar e convívio com a esposa, senhor Irineu comunica aos risos “(...) sabe que homem em casa incomoda né”; “Então eu vivo bem, um café daqui, outro dali, come muito, às vezes a mulher começa a dizer- tu tá comendo outra vez?-, mas é bom, é bom”. Tal relato torna-se comum bem como afirmam Antunes; Soares; Moré (2015), ao constatarem que a inserção do homem por maior tempo no ambiente domiciliar pode gerar um estranhamento por se tratar de uma alteração nesta família. E, devido à forte demarcação de papéis de gênero na sociedade, este estranhamento torna-se natural, ao constatar que nem todas as mulheres desejam o marido em casa todo tempo (FRANÇA, 2002).

Entretanto, ao considerar os dados obtidos pelo participante, torna-se possível identificar uma relação positiva com a cônjuge, contrariando a afirmação de França (2002) acima. Sendo assim, observando os dados obtidos por todos os participantes,

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torna-se possível identificar uma boa adaptação à aposentadoria e suas relações sociais e familiares, segundo os mesmos. Fator permeado por diversas variáveis, dentre elas, possuir um convívio social positivo seja com a família e/ou amigos, sendo este um fator indispensável para uma melhor adaptação e bem-estar na aposentadoria (BOEHS; SILVA, 2017).

Influência nos Fatores Financeiros- Classe econômica e Aposentadoria

O modo de adaptação à aposentadoria será influenciado também por rendimentos financeiros, pois, as diferenças sociais tornam-se mais claras com a chegada da aposentadoria (ZANELLI, 2012). Todos os entrevistados são de classe média, com condições de subsidiar suas necessidades básicas. Ao serem questionados acerca de um planejamento financeiro para este período, senhora Gertrudes e senhor Irineu alegaram não realizar um planejamento para a aposentadoria. Todavia, relatam não ter sentido alterações no padrão financeiro, pois a senhora Gertrudes aposentou-se pelo Estado, com todos os direitos garantidos e sem redução salarial. E o senhor Irineu relata que a aposentadoria da parceira é superior à dele, então vivem tranquilamente. Apesar dos relatos, pode-se perceber uma contradição neste caso, pois, a senhora Anita, que se planejou financeiramente, realiza atividades de lazer que exigem certo custo, como aulas de ioga, massagem, tratamento de pele, dentre outros. Em contrapartida, a senhora Gertrudes relata ter de trabalhar para obter uma renda extra e ocupar seu tempo, não realiza nenhuma atividade de lazer e está com algumas contas pendentes de viagens que realizou em anos anteriores. Deste modo, torna-se pertinente estabelecer uma reflexão acerca da eficácia e importância de um planejamento financeiro para esta nova etapa, de modo a propiciar uma melhor garantia a subsistência do aposentado e condições de realizar atividades de lazer, contribuindo para seu bem estar e qualidade de vida.

Ao observar os dados obtidos, apesar de não ter havido uma redução salarial, torna-se evidente a diferença de padrão social nesta fase, pois as condições de vida e acesso a lazeres são fortemente marcadas pela questão financeira e, devido a estas dificuldades o aposentado pode sentir-se preocupado em relação à organização da sua vida (ZANELLI, 2012; HOFFMANN; ZILLE, 2017). Entretanto, tal preocupação não foi relatada em nenhuma das entrevistas, nas quais os aposentados relatam viver com o

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materiais já conquistou, remetendo à ideia de aproveitar o momento que desejou com o que ela já possui. Neste caso, pode-se perceber uma satisfação com sua condição financeira, contrariando a constatação de Zanelli (2012), na qual afirma que as dificuldades financeiras podem ser acentuadas caso haja um incentivo ao consumo exagerado, de modo que extrapole os rendimentos do sujeito. Tornando-o uma pessoa endividada ou frustrada por não acompanhar a realidade capitalista na qual está inserida.

Autoestima- Quem sou eu enquanto sujeito aposentado?

Acerca do fator da autoestima na aposentadoria a senhora Anita e senhora Gertrudes responderam, respectivamente: “Sim, tudo melhorou, tem mais tempo”. “Não, tudo a mesma coisa”. Senhor Irineu não soube responder à pergunta. Neste sentido, torna-se possível estabelecer uma ligação controversa com os estudos de Rodrigues (2005) e Zanelli (2012), nos quais afirmam que a aposentadoria por vezes, pode ser vivenciada como algo negativo por conta do distanciamento dos vínculos sociais do ambiente laboral, possível crise financeira e perda do status que a profissão proporciona, e isto pode afetar negativamente a autoestima e a autoimagem do sujeito. Portanto, vale salientar que apesar da constatação realizada pelos autores, a aposentadoria e a autoestima neste período não são vivenciadas de forma homogênea.

Outro fator trabalhado na entrevista foi o preconceito por ser um sujeito aposentado, pois como afirmam Silva e Helal (2017), há um estereótipo que relaciona o aposentado com a velhice. Isto pode ser percebido ao buscar por imagens de pessoas aposentadas na internet, os resultados obtidos são em sua maioria, de pessoas idosas, consideradas incapazes de trabalhar e serem independentes. Entretanto, todos os entrevistados relataram não ter sofrido preconceito algum por sua condição de aposentado. Todavia, houve uma relação implícita estabelecida por eles, entre aposentadoria e velhice, pois ao serem questionados se sofrem preconceito por serem aposentados, os três responderam que não se envergonham de falar sua idade, sendo gratos por ter chego bem até o momento. Ou seja, pode-se estabelecer uma hipótese de que os próprios entrevistados relacionaram a aposentadoria com a chegada à velhice, estigma reproduzido pela sociedade.

Acerca da qualidade de vida na aposentadoria a senhora Anita, senhora Gertrudes e senhor Irineu relataram, respectivamente:

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“A qualidade de vida melhorou, mais tempo. Saía de manhã pra caminhar na beira mar como se tivesse ganhado na loteria”.

“É boa, nem ruim, nem ótima, é boa, consigo pagar minhas contas, consigo pagar uber pra sair, se me convidam pra alguma festinha e me buscam eu vou, se for perto vou de ônibus, se não uber”.

“Pra mim é bom né, eu tenho minha esposa também que é aposentada. Eu compro aquilo que eu posso alimentação nunca falta, nunca faltou. A gente só compra aquilo que pode, entendeu?!”.

Neste caso, é possível identificar uma boa adaptação à aposentadoria, de modo que demonstra uma qualidade de vida positiva. Sendo assim, a partir da coleta de dados, é possível reafirmar as constatações de Zanelli (2012), ao dizer que possuir um equilíbrio financeiro, juntamente com boas condições de saúde e convívio social prazeroso influencia positivamente na qualidade de vida na aposentadoria. Deste modo pode-se afirmar que a qualidade de vida na aposentadoria para os participantes da pesquisa, é vivenciada por meio de boas condições de saúde, física e emocional, aparente equilíbrio econômico e relações intra e interpessoais prazerosas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como foi possível perceber, em geral na literatura as vivências relacionadas à aposentadoria são tidas como negativas e geradoras de sofrimento, como diversos autores citados neste trabalho apontaram, sendo alguns deles Santos (1990), Rodrigues (2005), Hoffmann; Zille (2017). Entretanto, ao dar segmento com esta pesquisa, evidenciou-se que a aposentadoria não é um acontecimento vivido da mesma forma entre as pessoas. E que, diferentemente dos materiais encontrados, é percebida de modo positivo pelos aposentados entrevistados. Todavia, vale ressaltar que esta pesquisa é de caráter qualitativo, de modo que os dados obtidos não devem ser generalizados. Vale destacar que as entrevistas foram realizadas por telefone por conta da pandemia do Covid-19, de modo que realizando uma entrevista presencial, novos temas poderiam surgir e serem abordados.

Deste modo, torna-se relevante pontuar que o bem estar na aposentadoria, para estes entrevistados, é proveniente de uma boa relação familiar, condição de saúde,

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aposentadoria, como afirmara anteriormente Zanelli (2012). Ademais, durante o processo de pesquisa evidenciou-se uma baixa produção da psicologia acerca do tema qualidade de vida e aposentadoria. Foi possível identificar temas para novas pesquisas, como a diferença de gênero na aposentadoria, o papel social de cada gênero na relação conjugal de aposentados, as diferenças sociais na vivência da aposentadoria, dentre outros possíveis temas.

Sendo assim, sugere-se que haja uma maior produção de conhecimento científico nesta área, devido sua relevância, bem como é sugerido que haja uma preparação para a aposentadoria, acompanhando todas as esferas relacionais do sujeito, algo além de uma preparação financeira. Englobando os aspectos familiares, a rede de relacionamentos sociais, os lazeres e desejos bem como condições de subsidiar necessidades básicas. Atendendo a estes requisitos torna-se mais possível proporcionar uma boa qualidade de vida na aposentadoria, considerando estes fatores biopsicossociais os quais constituem a subjetividade do ser humano.

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