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O sentido de ser pescador : signos e marcas no povoado Pedreiras - São Cristóvão/SE

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - NPGEO. RONILSE PEREIRA DE AQUINO TORRES. O SENTIDO DE SER PESCADOR: SIGNOS E MARCAS NO POVOADO PEDREIRAS – SÃO CRISTÓVÃO/SE. São Cristovão/SE 2014.

(2) RONILSE PEREIRA DE AQUINO TORRES. O SENTIDO DE SER PESCADOR: SIGNOS E MARCAS NO POVOADO PEDREIRAS – SÃO CRISTÓVÃO/SE. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Sergipe, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Maria Augusta Mundim Vargas, como requisito à obtenção do título de Mestre em Geografia. Área de concentração: Dinâmica Ambiental. São Cristovão/SE 2014.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Torres, Ronilse Pereira de Aquino. T693s. O sentido de ser pescador : signos e marcas no povoado Pedreiras – São Cristóvão/SE / Ronilse Pereira de Aquino Torres ; orientadora Maria Augusta Mudim Vargas. – São Cristóvão, 2014. 140 f. : il. Dissertação (mestrado em Geografia) – Universidade Federal de Sergipe, 2014. 1. Geografia humana. 2. Territorialidade humana. 3. Identidade. 4. Pesca. 5. Pescadores – São Cristóvão (SE). I. Vargas, Maria Augusta Mudim, orient. II. Título. CDU 911.372.3:639.2.057(813.7).

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(5) AGRADECIMENTOS. Às vezes é difícil encontrar palavras na medida certa, para expressar gratidão àquelas pessoas que contribuíram, incentivaram, torceram e oraram por nós. Penso que neste momento deixamos de usar a razão e damos voz ao coração. Porque quando começamos a escrever, as lembranças de vários momentos compartilhados com tantas pessoas preenchem nossa mente. Pessoas amigas, companheiras, pessoas que nos mostram como é bom amar e ser amado. Pessoas como meu amado pai José Batista, “Seu Duduca”, que já desencarnou, mas que continua vivo dentro de mim. Sua presença se fará para sempre em meus caminhos. Meu exemplo de honestidade e dignidade, o ser mais otimista que já conheci, que me ensinou a nunca perder as esperanças, porque dias melhores sempre virão e “nada está perdido”. Te amo pra sempre meu pai! Obrigada. Obrigada, obrigada! Pessoas como minha mãe Maria da Luz, a LUZ que ilumina meus dias. Com sua simplicidade, humildade e generosidade, sempre estendendo a mão e quem precisa e também a quem não precisa. Tenho muito orgulho em ser sua filha. O meu amor e respeito pela senhora só cresce cada dia mais. Obrigada minha mãe pelo seu mais puro e sincero amor! Pessoas como meus irmãos de sangue e verdadeiros amigos, Rosana “Nanana”, Luíza “Lulu”, Rosemir “Mimi”, Romilson “Sinho”, Rômulo “Minho” e meus irmãos de coração José “Zé” (in memorian) e Valéria. Estamos e estaremos sempre juntos, unidos, nos apoiando, pois o maior ensinamento que nossos pais nos deram foi o da união e é essa união que fortalece nosso amor. Amo-os demais! Obrigada por estarem sempre comigo! Pessoas queridas como meus “pequenos grandes” amores, meus sobrinhos: Anna Paula “Paulinha”, Vítor César “Vitinho”, Matheus José “Veiti”, Miguel “Miguelito”, Ana Vitória, Lorena, Catarina, Letícia, Laís, Rômulo Filho, Lívia “Livinha” e Alice, pessoinhas que vieram para alegrar minha vida, que me fazem ter a certeza que minha passagem neste plano terreno não é em vão. Obrigada meus queridos! Pessoas como meu “Amor”, José Severino Torres, meu companheiro de todas as horas e todos os momentos, com quem compartilho meus sonhos, meus.

(6) medos, minhas angústias. Aquele que me protege, que está sempre demonstrando a importância que tenho em sua vida, me provando seu amor desmedido, compreensivo e acima de tudo generoso. A pessoa que segura minha mão e me ajuda a seguir nessa estrada da vida com tantos altos e baixos. Tudo que eu disser aqui é pouco pra expressar tudo que eu tenho a lhe agradecer e dizer o quanto eu TE AMO. Obrigada por ter me oferecido sua mão para seguirmos juntos nessa estrada! EU AMO VOCÊ! O que dizer de pessoas como a professora Maria Augusta Mundim Vargas. Faltam palavras para agradecer e falar sobre uma pessoa tão especial como ela. Sempre tão calma e serena, respeitando as limitações e o tempo de cada um, que com sua delicadeza e perspicácia percebe nossos melhores e piores momentos. Tem sempre um olhar ou palavra para nos incentivar e acalmar. Obrigada pelos ensinamentos, pela paciência, por sua amizade e companheirismo! Sem sua ajuda eu não teria chegado até aqui. À senhora toda minha gratidão e admiração! Minha amiga Anna Patrícia, pessoa querida, amiga-irmã. Muito bom ter sua amizade incondicional nos momentos difíceis pelos quais passei e só você sabe. Obrigada pela paciência em me ouvir nos momentos de angústia e por compreender minhas ausências! Te amo minha amiga! Denise Renata e Viviane Rocha minhas companheiras, amigas inseparáveis da graduação e da especialização, sempre ali, juntas uma apoiando a outra. Como sinto em não ter tido vocês nesta fase do mestrado, acredito que teria sido bem mais fácil com vocês ao meu lado, mas... “É vida que segue”. Saudades das nossas aventuras e das nossas risadas. Obrigada pela torcida “Denisona” e “Vivimaravilha”. Beijos... de longe. Pessoas de boa vontade como meu querido amigo Rodrigo Lima, sempre ali ajudando no que for possível com suas valiosas contribuições. Minhas amigas Maryane Meneses e Rosana Batista também sempre me apoiando. Obrigada pelos momentos de reflexão, pelas contribuições e palavras de incentivo! A todos os membros do Grupo de Pesquisa Sociedade e Cultura, especialmente aqueles com que tive a oportunidade de estreitar laços de amizade e companheirismo: Eliete, Auceia, Vanessa, Roseane, Rodrigo Herles, Angela, Jorgenaldo, Ivan, Isabella, enfim, a todos que fazem o grupo Sociedade e Cultura. Meus sinceros agradecimentos pelas contribuições para a realização desta dissertação e pelos momentos de descontração..

(7) Meus agradecimentos especiais aos moradores do povoado Pedreiras, os quais me proporcionaram a realização deste projeto, quando abriram suas casas para me receber, quando deixaram seus afazeres e sentaram comigo na calçada, embaixo de uma árvore para falaram de suas vidas, seus anseios, frustrações e esperanças. Muitíssimo obrigada a cada um deles! Muito obrigada à Prof.ª Dr.ª Rosemeri Melo e Souza pelas contribuições nas fases de qualificação e agora na defesa, sempre tão disposta a colaborar. Obrigada à Prof.ª Dr.ª Maria Lucia da Silva Sodré por ter aceitado participar da banca de defesa desta dissertação e com certeza pelas contribuições que surgirão. Pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para que este momento se concretizasse como os professores da graduação e pós-graduação, aos funcionários do NPGEO e, aos meus colegas de curso. Obrigada também à CAPES por ter me proporcionado a bolsa de estudos com qual eu pude realizar meus trabalhos de campo e a demanda logística da dissertação. Acima de tudo, agradeço imensamente a DEUS, força maior e divina, por me proporcionar momento tão singular em minha vida como este que estou vivendo que é a realização de um projeto de vida e por colocar pessoas tão especiais como todas estas que citei e tantas outras tão especiais quanto, que não foram citadas, mas que também são importantes em minha vida. Pessoas que me ensinaram o significado de amizade, companheirismo, compaixão, solidariedade, respeito, enfim o significado do AMOR..

(8) É Proibido É proibido chorar sem aprender, Levantar-se um dia sem saber o que fazer Ter medo de suas lembranças. É proibido não rir dos problemas Não lutar pelo que se quer, Abandonar tudo por medo, Não transformar sonhos em realidade. É proibido não demonstrar amor Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor. É proibido deixar os amigos Não tentar compreender o que viveram juntos Chamá-los somente quando necessita deles. É proibido não ser você mesmo diante das pessoas, Fingir que elas não te importam, Ser gentil só para que se lembrem de você, Esquecer aqueles que gostam de você. É proibido não fazer as coisas por si mesmo, Não crer em Deus e fazer seu destino, Ter medo da vida e de seus compromissos, Não viver cada dia como se fosse um último suspiro. É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar, Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se desencontraram, Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente. É proibido não tentar compreender as pessoas, Pensar que as vidas deles valem mais que a sua, Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte. É proibido não criar sua história, Deixar de dar graças a Deus por sua vida, Não ter um momento para quem necessita de você, Não compreender que o que a vida te dá, também te tira. É proibido não buscar a felicidade, Não viver sua vida com uma atitude positiva, Não pensar que podemos ser melhores, Não sentir que sem você este mundo não seria igual.. Pablo Neruda.

(9) Dedico este trabalho ao meu pai (in memorian). Meu amor maior..

(10) RESUMO. Esse trabalho teve como objetivo analisar a identidade dos pescadores do povoado Pedreiras situado no município de São Cristóvão/SE e das formas de apropriação simbólica e funcional empreendidas na construção dos territórios da pesca. Para alcançar tal análise, estabelecemos como objetivos específicos: i) investigar os elementos e as práticas de identificação dos pescadores do Povoado Pedreiras; ii) apreender os significados e as ressignificações das práticas e do “ser pescador”; iii) compreender as formas identitárias dos pescadores a partir do meio e das práticas desenvolvidas; iv) avaliar a identidade dos pescadores do povoado. As categorias território e identidade balizam a análise para a identificação das práticas e da percepção dos significados de ser pescador artesanal. O levantamento de campo realizado no período de 2012-2014, ancorado na abordagem qualitativa possibilitou apreender o cotidiano e as expectativas da comunidade, ou seja, como vivem e suas visões de mundo. Foram desvelados desde a pesca artesanal até o sentido de ser pescador na comunidade, a relação com o meio natural pela investigação do que se pesca como e quando, assim como, pelas memórias e percepções sobre o passado e o presente da pesca. Identificou-se que o território e as territorialidades no povoado Pedreiras se constroem e se reconstroem pela pesca, sendo o rio e a maré seus signos de referência afetiva com o lugar, e, portanto, propulsores de um forte sentimento de pertença e de identidade de seus moradores. Palavras-Chaves: Território; Identidade; Pesca e pescadores..

(11) ABSTRACT. This paper had as a goal analyzing the identity of fishermen from the thorp called Pedreiras located in the city of São Cristóvão/SE and identity of the forms of symbolic and functional appropriation engaged on the construction of fishing territories. To achieve this analysis, we established specific objectives: i) to investigate the elements and practices of identifying the fishermen the thorp Pedreiras; ii) understanding the meanings and the reinterpretation of the practices and "be a fisherman"; iii) understand the identity forms of fishermen from the middle and practices developed; iv) evaluate the identity of the fishermen of the thorp.The categories called territory and identity beacon the analysis to the identification of the practices and the perception of meanings of being a handmade fisherman. The field data collection realized during the period of 2012-2014, anchored by the qualitative approach, made possible the apprehension of the daily life and the expectations of the community, in other words, how they live and their views of the world. It has been unveiled since the handmade fishing until the sense of being a fisherman in the community, the relationship with the natural ambient through the investigation of what is fished by them, how and when, and also, through the memories and perceptions of the past and the present days of fishing. It was identified that the territory and the territorialities of the Pedreiras thorp are built and rebuilt by fishing, being the river and the tide their signs of affective reference with the place, and, thus, propellants of a strong feeling of belonging and identity to its tenants. Keywords: Territory, Identity, Fishing, Fishermen..

(12) LISTAS DE FIGURAS Figura 01 – Oficina “O Povoado Pedreiras em minha vida”. 46. Figura 02 – Desenho do Povoado Pedreiras. 46. Figura 03 – Oficina “Minhas Referências”. 47. Figura 04 – Foto tirada por um morador. 47. Figura 05 - Localização do Município de São Cristóvão no Estado de Sergipe. 51. Figura 06 – Imagem aérea parcial do município de São Cristóvão – situação do Povoado Pedreiras. 53. Figura 07 – Imagem de Satélite do Povoado Pedreiras.. 55. Figura 08 – Unidade de Saúde da Família “Alice Freire” – Povoado Pedreiras. 56. Figura 09 – Prédio da Associação de Desenvolvimento Comunitário do Povoado Pedreiras – ADCPP. 56. Figura 10 – Rua principal do Povoado Pedreiras. 57. Figura 11 – Casas de alvenaria no Povoado Pedreiras. 58. Figura 12 – Casa de taipa no Povoado Pedreiras. 58. Figura 13 – Cotidiano do Povoado Pedreiras. 60. Figura 14 – Portos de Pesca no Povoado Pedreiras. 76. Figura 15 – Depósito de barcos e apetrechos de pesca no Povoado Pedreiras. 77. Figura 16 – Barcos motorizados e a remo – Povoado Pedreiras. 78. Figura 17 – No presente, tal como no passado: estudar, brincar e depois pescar. 96. Figura 18 – Término da estrada na entrada do Povoado Pedreiras. 99. Figura 19 – Estação Coletora da Petrobrás – Povoado Pedreiras. 100. Figura 20 – Protestos dos moradores dos Povoados Pedreiras e Tinharé. 101. Figura 21 – Igreja de Santa Cruz – Povoado Pedreiras. 109. Figura 22 – Templo Evangélico – “Assembleia de Deus” – Povoado Pedreiras. 110. Figura 23 – Vista do “Rio das Pedreiras” (Rio Vaza Barris). 111. Figura 24 – Paisagem do rio Vaza Barris (manhã). 112. Figura 25 – Paisagem do rio Vaza Barris (fim de tarde). 112. Figura 26 – Escola de ensino Fundamental Terezita de Paiva Lima no Povoado Pedreiras. 113. Figura 27 - Fazer e refazer, dia a dia na pesca em Pedreiras. 114.

(13) LISTAS DE GRÁFICOS Gráfico 01 – Faixa etária dos entrevistados. 61. Gráfico 02 – Estado civil dos entrevistados. 63. Gráfico 03 – Escolaridade dos entrevistados. 65. Gráfico 04 – A pesca no cotidiano do povoado Pedreiras. 68. Gráfico 05 – Tempos de pescaria. 70. Gráfico 06 – Horas empregadas na pesca. 72. Gráfico 07 – Apetrechos de pesca – Povoado Pedreiras. 78. Gráfico 08 – Tipos de pescado. 80. Gráfico 09 – Espécie de pescado que maior produção – Povoado Pedreiras. 81. Gráfico 10 – Espécie de pescado de maior renda – Povoado Pedreiras. 82. Gráfico 11 – Espécie de pescado que mais gosta de pescar – Povoado Pedreiras. 82. Gráfico 12 – Locais de venda do pescado. 83. Gráfico 13 – Tempo de registrado na Colônia de Pescadores – Z2. 90. LISTA DE QUADROS Quadro 01 – Análise dos conteúdos. 50. Quadro 02 – Locais de pesca. 75. Quadro 03 – Materiais de coleta por espécie – Povoado Pedreiras. 81. Quadro 04 – Percepção ambiental dos entrevistados. 88. Quadro 05 – Signos e marcas do Povoado Pedreiras. 108. LISTA DE TABELAS Tabela 01 – Tempo de residência dos entrevistados. 62.

(14) SIGLAS. ANP – Agência Nacional de Petróleo IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais e Renováveis IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano INSS – Instituto Nacional de Seguro Social MPA – Ministério da Pesca e Aquicultura MTE - Ministério do Trabalho e Emprego NIT – Número de Identificação do Trabalhador NPGEO – Núcleo de Pós-Graduação em Geografia PIB – Produto Interno Bruto PIS/PASEP - Programa de Integração Social / Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público PSF – Programa de Saúde da Família RGP – Registro Geral da Pesca SAAE – Serviço Autônomo de Água e Esgoto SUDEPE – Superintendência de Desenvolvimento da Pesca UN-SEAL – Unidade de Negócio de Exploração e Produção de Sergipe e Alagoas.

(15) SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................................................................................ 17. 1 – REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................ 22. 1.1Território e Identidade........................................................................................ 22. 1.2 Comunidades Tradicionais Pesqueiras............................................................. 31. 1.3 A Pesca e o Pescador Artesanal....................................................................... 32. 1.4 Estado da Arte.................................................................................................. 34. 2 – A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA................................................................... 38. 2.1 A Ancoragem Fenomenológica da Percepção.................................................. 38. 2.2 A Pesquisa Qualitativa...................................................................................... 41. 2.3 Os Procedimentos............................................................................................. 43. 2.4 Tratamento dos Dados...................................................................................... 49. 2.5 Caracterização da Área de Estudo................................................................... 50. 3 – O COTIDIANO E A PESCA NO COTIDIANO EM PEDREIRAS...................... 67. 3.1 Viver da Pesca “é tradição a tradição”.............................................................. 67. 3.2 Os Tempos e os Territórios da Pesca “depende da maré”............................... 71. 3.3 Embarcações e Artes de Pesca “tem que levar todos os artifícios”..................... 77. 3.4 O que se Pesca “de tudo um pouco”................................................................. 80. 3.5 Mudanças na Pesca “mudou muito”.................................................................. 84. 3.6 As Políticas Públicas da Pesca......................................................................... 88. 4 – SIGNIFICADOS E RESSIGNIFICAÇÕES DA PESCA EM PEDREIRAS........ 95. 4.1 As Memórias..................................................................................................... 95. 4.2 O Presente........................................................................................................ 98. 4.3 A Percepção do Lugar: signos e marcas........................................................... 105. 4.4 O Sentido de Ser Pescador............................................................................... 113.

(16) 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 119. REFERÊNCIAS....................................................................................................... 123. APÊNDICES............................................................................................................ 130.

(17) P á g i n a | 16. INTRODUÇÃO.

(18) P á g i n a | 17. INTRODUÇÃO. Em. face. da. mudança. de. comportamento. da. sociedade. moderna. desencadeada pelo intenso processo de globalização, muito se tem discutido no meio acadêmico sobre as identidades. Seus constituintes tem suscitado debates nos mais diversos campos das ciências humanas, inclusive na Geografia, mais precisamente pela da abordagem cultural, pois argumenta-se que as velhas identidades estão sendo substituídas por novas identidades (HALL, 2011). Buscamos na Geografia Humana, sobretudo na abordagem cultural, subsídios para entender estas questões, bem como a formação de um território identitário. Entendemos que é a partir do processo de apropriação de um território que as relações de identidade e pertencimento são desenvolvidas. Por isso, citamos Bonnemaison (2002) quando este destaca que a ideia de cultura traduzida em termos de espaço não pode ser separada da ideia de território. O mesmo ainda diz que é pela existência de uma cultura que se cria um território e é por ele que se fortalece e se exprime a relação simbólica entre cultura e espaço. (p. 101-102) Paul Claval (2002, p. 20) defende a ideia que a abordagem cultural impõe a necessidade de repensar a Geografia Humana, onde esta não pode ser desvinculada da cultura. A abordagem cultural nos leva a refletir sobre as peculiaridades espaciais que o homem através de artefatos técnicos, materializa nas paisagens tornando-as singulares. Ainda de acordo com Claval (2001) a abordagem cultural enriqueceu ainda mais a ciência geográfica quando passou a considerar a dialética das relações sociais em detrimento da perspectiva material, onde o papel do geógrafo era fazer apenas uma mera descrição dos fatores físicos das paisagens, deixando de interpretar as paisagens humanas. Atualmente a Geografia não se pauta apenas em estudar a diversidade cultural com base nos seus conteúdos materiais, mas de admitir que a cultura esteja intimamente ligada ao sistema de representações, de significados, de valores que criam uma identidade que se manifesta mediante construções compartilhadas.

(19) P á g i n a | 18. socialmente e expressas espacialmente, ou seja, de admitir que a cultura no seu sentido mais amplo representa todo o modo de vida de uma sociedade, que não diz respeito somente a produção de objetos materiais, mas a um sistema cultural carregado de valores morais, éticos, hábitos e significados expressos nas práticas sociais. E é dentro dessa perspectiva geográfica e cultural que surge este trabalho, no sentido de lançar um olhar sob os pescadores artesanais do povoado Pedreiras no município de São Cristóvão, seu modo de vida, sua identidade com à atividade pesqueira e com seu território. Diante das considerações apresentadas, as indagações que nos levaram a refletir foram: . A pesca tem identificação e significação na vida laboral e cultural dos. moradores do Povoado Pedreiras/São Cristóvão/SE? . O saber-fazer da prática pesqueira é uma tradição passada de geração. para geração? . É possível apreender o sentimento de pertencimento com o lugar. associado à atividade pesqueira? A opção pelo tema desta pesquisa partiu da participação no projeto de pesquisa “Grandes Projetos e Identidades Locais: possibilidades e desafios de pequenas comunidades costeiras”, do Grupo de Pesquisa Sociedade e Cultura, desenvolvido no laboratório de Dinâmica Ambiental do Núcleo de Pós-Graduação em Geografia – NPGEO da Universidade Federal de Sergipe - UFS, que tem como proposta ampliar a abordagem cultural em análises socioeconômicas ainda pouco internalizadas em projetos e planos de desenvolvimento. No entanto, a escolha também foi pessoal, visto o encantamento com o lugar e seu cotidiano, com sua história, com sua gente, com a pesca e principalmente com a natureza, ou seja, a paisagem em si da região, banhada pelo rio Vaza Barris. O desafio de trabalhar com comunidades ribeirinhas também foi um dos fatores determinantes para a escolha do objeto de estudo. No sentido de conhecer a percepção das pessoas que vivenciam o lugar, como veem, interpretam e interferem no meio em que vivem..

(20) P á g i n a | 19. Com esta perspectiva buscamos apresentar contribuições à Geografia Cultural e ao NPGEO no que diz respeito a discussões sobre território e identidade, com o desenvolvimento de um estudo balizado pelos seguintes objetivos. Nosso objetivo geral ficou estabelecido na análise da identidade dos pescadores do povoado Pedreiras/São Cristóvão/SE e das formas de apropriação simbólica e funcional empreendidas na construção dos territórios da pesca. Para alcançar tal análise, estabelecemos como objetivos específicos: i) investigar os elementos e as práticas de identificação dos pescadores do Povoado Pedreiras; ii) apreender os significados e as ressignificações das práticas e do “ser pescador”; iii) compreender as formas identitárias dos pescadores a partir do meio e das práticas desenvolvidas; iv) compreender a identidade dos pescadores do povoado. Os estudos sobre território receberam contribuições da Geografia Cultural num momento em que surgiu a necessidade de compreender que as realidades sociais são influenciadas por elementos histórico-culturais de grupos responsáveis pela apropriação e construção de determinado espaço geográfico, aspecto este, relevante para a compreensão das dinâmicas dos locais em que se destacam os sentimentos, as intuições, os ideais, os anseios, as experiências e os símbolos de vida cotidiana como elementos territorializantes. Para o seu desenvolvimento procuramos ancorar a pesquisa, isto é, a reflexão sobre território e identidade pela abordagem da análise da percepção com o intuito de descrever os costumes e as tradições de um grupo humano. A contribuição das outras ciências enriquece este trabalho no sentido de explicar conceitos aqui trabalhados, ao mesmo tempo em que estabelece um diálogo dentro da abordagem cultural na Geografia Humanista. A Fenomenologia nos possibilitou apreender a percepção e os saberes dos pescadores e a compreender a realidade dando relevância aos trabalhos de campo com a vivência com o ambiente pesquisado. Iniciamos o primeiro capítulo apresentando o referencial teórico, abordando os principais conceitos e categorias trabalhadas na pesquisa, quais sejam, território e identidade. Em um segundo momento, discorremos sobre comunidades tradicionais pesqueiras, a pesca e o pescador artesanal apresentando o estado da arte sobre o tema no estado de Sergipe, através de autores que tratam do assunto e.

(21) P á g i n a | 20. mostram a importância e as características mais marcantes sobre os conhecimentos tradicionais de pescadores artesanais. O segundo capítulo trata da construção da pesquisa. Nele descrevemos o método ancorado na Fenomenologia e a abordagem qualitativa da pesquisa. Os procedimentos de campo, assim como o tratamento dos dados expõem a intrínseca relação entre os instrumentais adotados (entrevistas, diário de campo) e a análise de conteúdo. Os capítulos três e quatro apresentam os resultados da pesquisa empírica ressaltando, respectivamente “o cotidiano e a pesca no cotidiano” e “significados e ressignificações da pesca em Pedreiras”. Esses capítulos trazem desde a pesca artesanal até o sentido de ser pescador na comunidade, desvelados pelo cotidiano atual, pela relação com o meio natural (o que se pesca, como, quando), pelas memórias e percepções sobre o passado e o presente da pesca. Nas considerações finais procuramos tecer reflexões sobre as questões postas nos limites dos objetivos da pesquisa. O território e as territorialidades são apreendidas pela dimensão afetiva com o lugar e com a prática laboral: a pesca..

(22) P á g i n a | 21. CAPÍTULO I REFERENCIAL TEÓRICO.

(23) P á g i n a | 22. 1 – REFERENCIAL TEÓRICO. 1.1 Território e Identidade O conceito de território desponta como um conceito-chave na análise da sociedade e como forma de entender o território e suas derivações. Várias são as acepções propostas acerca deste conceito nas ciências sociais e humanas, dentre estas, a Geografia, pois desde sua constituição que o território vem permeando seus estudos nos diferentes métodos. Esta discussão tem sua raiz na chamada Geografia Clássica e permaneceu, durante muito tempo, intrinsecamente relacionada de forma quase exclusiva à ideia de território nacional, ou vinculada à natureza, elemento fundamental do conceito de espaço vital estudado por Friedrich Ratzel com sua Antropogeografia, o qual era para este, aquela fração de território necessária para o desenvolvimento social e econômico de um povo. Para Ratzel, o território é o espaço desde o qual uma família encontra sua subsistência, até o espaço necessário a evolução de um Estado, que deve assim, sempre pensar na aquisição de mais espaços territoriais. Com o fortalecimento da Geografia Crítica, sobretudo a Geografia Humanista, a partir da década de 1970, o território ganha um sentido diferente, mais amplo, ao abordar questões pertinentes ao controle físico e simbólico de determinada área. Entre alguns autores que retomam a discussão sobre o conceito de território, está o geógrafo norte-americano Jean Gottmann (1973), que centraliza sua abordagem no significado do território para as nações e sustenta que a relação das pessoas com o seu território apresenta-se de diversas formas sejam geográficas, políticas ou econômicas. A discussão sobre o conceito de território na Geografia, também trouxe algumas reflexões e considerações por parte de outros autores no tocante a diferenciação entre território e espaço. Esta diferenciação muitas das vezes está pautada no método, em que o território seria um conceito, enquanto que espaço seria uma categoria geral de análise da Geografia, ou até mesmo seu objeto. Na proposta de Raffestin (1993) há uma diferenciação conceitual entre espaço e território. Para ele, o espaço e o território não são termos equivalentes e.

(24) P á g i n a | 23. que se faz necessária uma distinção para melhor compreensão dos processos espaciais e das projeções territoriais resultantes das formas de apropriação da natureza pelos diferentes grupos sociais. É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator "territorializa" o espaço (RAFFESTIN, 1993, p. 143).. Nesta perspectiva, Raffestin op. cit. nos possibilita pensar o território em pelo menos quatro níveis e situações distintas e complementares, as quais podem ser: a) território do cotidiano, o qual é o da territorialidade imediata, banal e original, previsível e imprevisível; b) território das trocas é o da descontinuidade (ruptura) temporal, espacial e linguística; c) território de referência, de caráter histórico e imaginário, é material e imaterial, e, d) território sagrado, ligado diretamente às religiões. Conforme afirma Raffestin (1993, p. 143-144), há uma passagem do espaço ao território, destacando que: O território, nessa perspectiva, é um espaço onde se projetou um trabalho seja energia e informação, e que, por consequência, revela relações marcadas pelo poder. O espaço é a prisão original e o território é a prisão que os homens constroem para si.. Neste sentido, o território apoia-se no espaço, mas não é o espaço. É uma projeção a partir dele que envolve relações, sejam sociais, políticas, econômicas e culturais, inscrevendo-se em um campo de forças, manifestando-se como escala de manifestação do poder. Dessa forma o espaço é concreto, o território é abstrato. Na visão de Souza (2001), o território também deve ser apreendido em múltiplas vertentes com diversas funções. Mesmo privilegiando as transformações provenientes do poder no território, o autor aponta a existência de múltiplos territórios, principalmente nas grandes cidades, como o território da prostituição, do narcotráfico, dos homossexuais, das gangues e outros que podem ser temporários ou permanentes..

(25) P á g i n a | 24. Territórios são construídos e desconstruídos, dentro de escalas temporais as mais diferentes: séculos, décadas, anos, meses ou dias; territórios podem ter um caráter permanente, mas também podem ter uma existência periódica, cíclica. (SOUZA, 2001, p. 81). Ainda para Souza (2001:84), ocupação do território é vista como algo gerador de raízes e identidade, ou seja, um grupo não pode mais ser compreendido sem o seu território, no sentido de que a identidade sócio-cultural das pessoas estaria inarredavelmente ligada aos atributos do espaço concreto (natureza, patrimônio arquitetônico, “paisagem)”.. Saquet (2004) menciona a classificação jurídico-política, cultural e econômica do conceito de território mencionada por Haesbaert (2002) como sendo essencial para se fazer as interligações necessárias. Considera também a vertente da natureza, que sempre estará presente dentro do território. A natureza está no território, e dele é indissociável. Assim como Claude Raffestin, a ideia de poder também é uma constante na discussão sobre território feita por Marcos Aurélio Saquet: O território é produzido espaço-temporalmente pelas relações de poder engendradas por um determinado grupo social. Dessa forma, pode ser temporário ou permanente e se efetiva em diferentes escalas, portanto, não apenas naquela convencionalmente conhecida como o “território nacional” sob gestão do Estado-Nação. (SAQUET apud CANDIOTTO, 2004, p. 81).. Saquet (2010, p. 56) ainda corrobora com a ideia que “tanto as relações de poder como as identidades e os processos de territorialização, desterritorialização e reterritorialização1 são relacionais e historicamente instituídos”. Portanto, para este autor o tempo histórico pode ser usado como uma categoria fundamental na análise e interpretação dos territórios e suas derivações.. 1. Para Saquet, (2003, p. 218) a “(...) des-territorialização num lugar significa re-territorialização noutro, promovendo a mobilidade da força de trabalho e suas características culturais. É um processo inerente à natureza contraditória do espaço e do território”. Assim, a desterritorialização tem o sentido de perda do território apropriado e vivido, decorrente de diferentes processos capazes de desconstruírem territórios, ao passo que reterritorialização refere-se à criação de novos territórios..

(26) P á g i n a | 25. Saquet destaca que o território é produto do “entrelaçamento do sujeito com o território”. Tal fato nos remete a uma construção humana, cultural, essencialmente histórica, integrando tempo e espaço. O território e a territorialidade são produtos do entrelaçamento dos sujeitos de cada lugar, destes com o ambiente e com indivíduos de outros lugares, efetivando tramas transescalares em diferentes níveis territoriais. O território é uma construção coletiva e multidimensional, com múltiplas territorialidades (poderes, comportamentos, ações), [...] (SAQUET, 2010, p. 118).. O território enche o espaço com conteúdos particulares, relacionados a construções históricas entre pessoas, organizações e Estado. Para Corrêa (1996), o território é o espaço revestido da dimensão política, afetiva ou ambas, assim como a territorialidade refere-se ao conjunto de práticas e suas expressões materiais e simbólicas, que garantiriam uma apropriação e uma permanência em um dado espaço por determinados grupos sociais, organizacionais. Nesta perspectiva, Sack (1986, p. 216) conceitua que mesmo o território sendo um espaço de poder, reflete uma dimensão simbólica, e ainda aponta para a territorialidade. Ainda na concepção do mesmo o território caracteriza-se como expressão de intencionalidades de um indivíduo ou grupo de afetar/influenciar o comportamento humano a fim de controlar o acesso, fenômenos e pessoas afirmando controle sobre uma área geográfica que assim será identificada, segundo ele, como um território. A territorialidade é uma expressão básica de poder, provê uma sociedade essencial de ligação entre a sociedade, tempo e espaço (SACK, 1986, p. 216). Para Saquet (2010, p. 129) a territorialidade é o acontecer de todas as atividades cotidianas, seja no espaço do trabalho, do lazer, da igreja, da família, da escola etc, é o resultado do processo de produção de cada território, de cada lugar. Ela é múltipla, como também os territórios os são, revelam a complexidade social e as relações de dominação de indivíduos ou grupos sociais com o espaço geográfico, com outros indivíduos, objetos e relações. A territorialidade diz respeito às relações econômicas e culturais e relacionase ao modo de vida, como as pessoas se organizam no espaço e como elas dão significado ao lugar em que vivem. Portanto, a construção da territorialidade é um.

(27) P á g i n a | 26. fenômeno eminentemente cultural. A territorialidade nada mais é que as manifestações sociais dentro do território (HAESBAERT, 2004). Bonnemaison (2002, p. 96-97) destaca que territorialidade é a expressão de um comportamento vivido: ela engloba, ao mesmo tempo, a relação com o território e, a partir dela, a relação com o espaço ‘estrangeiro’. Para ele a territorialidade emana do grupo produtor, no sentido de que ela é, antes de tudo, “a relação culturalmente vivida entre um grupo humano e uma trama de lugares hierarquizados e interdependentes, cujo traçado no solo constitui um sistema espacial – dito de outra forma, um território”. Ainda neste sentido, Bonnemaison (2002, p.126) afirma que: O território apela para tudo aquilo que no homem se furta ao discurso científico e se aproxima do irracional: ele é vivido, é afetividade, subjetividade e muitas vezes o nó de uma religiosidade terrestre, pagã ou deísta. Enquanto o espaço tende à uniformidade e ao nivelamento, o território lembra as ideias de diferença, de etnia e de identidade cultural.. Para Haesrbeart (2002) a etimologia da palavra território se aproxima de terra-territorium quanto de terreo-territor (terror, aterrorizar), tem a ver com poder, dominação (jurídico-política) com inspiração do terror – especialmente para aqueles que, com esta dominação, ficam alijados da terra, ou no “territorium” são impedidos de entrar. Concomitantemente, tem os que têm o privilegio de usufruírem do território no sentido da identificação seja (positiva) e a efetiva “apropriação”. Desta forma para Haesbaert o território tem a ver com poder, não apenas do poder tradicional, diz respeito tanto ao poder no sentido mais concreto, de dominação, quanto ao poder no sentido mais simbólico, de apropriação. Neste sentido, o território aqui abordado nesta pesquisa fundamenta-se no conceito de território de Rogério Haesrbeart, em que esclarece que o conceito de território desde sua origem já nasceu com dupla conotação material e simbólica. Haesbaert (2002, p. 18) classifica o território sob três prismas básicos: 1) jurídico-política, segundo a qual “(...) o território é visto como um espaço delimitado e controlado sobre o qual se exerce um determinado poder, especialmente o de caráter estatal”; 2) cultural(ista), que “(...) prioriza dimensões simbólicas e mais subjetivas, o território visto fundamentalmente como produto da apropriação feita.

(28) P á g i n a | 27. através do imaginário e/ou identidade social sobre o espaço”: 3) econômica, “(...) que destaca a desterritorialização em sua perspectiva material, como produto espacial do embate entre classes sociais e da relação capital-trabalho”. Assim: O território, imerso em relações de dominação e/ou de apropriação sociedade-espaço, desdobra-se ao longo de um continuum que vai da dominação político-econômica mais “concreta” e “funcional” à apropriação mais subjetiva e/ou “cultural-simbólica” (HAESBAERT, 2004, 95-96).. Sendo assim, o território é apreendido não unicamente enquanto área controlada para obtenção dos recursos naturais, mas também como conjunto de referentes espaciais indissociáveis na criação e recriação de mitos e símbolos de um grupo. Todo território é, ao mesmo tempo e obrigatoriamente, em diferentes combinações, funcional e simbólico, pois exercemos domínio sobre o espaço tanto para realizar “funções” quanto para produzir “significados”. O território é funcional a começar pelo território como recurso, seja como proteção ou abrigo (“lar” para o nosso repouso), seja como fonte de “recursos naturais” – “matérias-primas” que variam em importância de acordo com o(s) modelo(s) de sociedade(s) vigente(s) (como é o caso do petróleo no atual modelo energético capitalista) (HAESBAERT, 2005, p.3).. É importante distinguir os territórios de acordo com aqueles que os constroem, sejam eles indivíduos, grupos sociais/culturais, o Estado, empresas, instituições como a Igreja entre outros, tal qual como coloca Haersbaert (2005, p. 22): “Os objetivos do controle social através de sua territorialização variam conforme a sociedade ou cultura, o grupo e, muitas vezes, com o próprio indivíduo.” Assim, pode-se interpretar a ambiguidade do “(...) território como múltiplo, diverso, subjetivo e complexo, tanto no lado homogeneizador da globalização como no lado diversificador da cultura” (HAESBAERT, 2004, p. 40). Para Haesbaert (2004), a territorialidade, além de incorporar uma dimensão estritamente política, diz respeito também às relações econômicas e culturais, pois está ligada ao modo como as pessoas utilizam a terra, se organizam no espaço e dão significado ao lugar. Ousamos dizer que a territorialidade está para além da dimensão do poder, pois compreende o conjunto de relações que se desencadeiam na complexidade do.

(29) P á g i n a | 28. território. Aí estão inseridas todas as manifestações humanas que incluem o saber, o fazer, as disputas, os equilíbrios, os símbolos, as representações coletivas, políticas e sociais. Haesbaert (2006) trata o fenômeno da territorialidade como um conceito simbólico cultural, o que a nosso ver possui extremo significado para a análise da territorialidade que propomos. Segundo ele: (...) mais do que território, a territorialidade é o conceito utilizado para enfatizar as questões de ordem simbólico-cultural. Territorialidade, além da acepção genérica ou sentido lato, onde é vista como a simples ‘qualidade de ser território’ é muitas vezes concebida em um sentido estrito como a dimensão simbólica do território (HAESBAERT, 2006, p. 73-74).. Independente da linha de pensamento que o pesquisador seguir, o que constatamos foi a relevância do conceito de território para as pesquisas referentes à pesca, em especial, à pesca artesanal. Principalmente na tentativa de aprofundar a discussão sobre território e identidade às práticas cotidianas dos pescadores artesanais. O debate sobre território e identidade permite evidenciar as ações e experiências concretas dos pescadores artesanais, os aspectos simbólicos das relações sócio territoriais e os códigos nativos. Por meio de depoimentos, os pescadores traduzem seus sentimentos em relação à realidade da pesca “antigamente” e nos dias atuais. Ao realizar a atividade pesqueira, os homens constroem saberes e acabam constituindo uma cultura distinta, dentro de um cotidiano muito particular. Essa especificidade nos remete ao conceito de identidade sócio territorial, conforme empregado por Haesbaert (1999, p.172): Toda identidade territorial é uma identidade social definida fundamentalmente por meio do território, ou seja, dentro de uma relação de apropriação que se dá tanto no campo das ideias quanto no da realidade concreta. O espaço geográfico constitui assim, parte fundamental dos processos de identificação social.. A identidade não tem tanto a ver com as questões de “quem nós somos” ou “de onde nós viemos”, mas “quem podemos nos tornar”, “como nós temos sido.

(30) P á g i n a | 29. representados” e “como essa representação afeta a forma como nós podemos representar a nós próprios” (...). As identidades são construídas dentro e não fora do discurso que nós precisamos compreendê-las como produzidas em locais históricos e institucionais específicos, no interior de formações e práticas discursivas especificas, por estratégias e iniciativas especificas (HALL, 2011). Para Hall (2011), a construção do conceito de identidade perpassa pela percepção de concepções distintas sobre a identidade e o sujeito. Essas percepções seriam a do sujeito do Iluminismo, do sujeito sociológico e do sujeito pós-moderno. O sujeito do iluminismo tende a perceber o indivíduo como portador de uma razão, sendo que o desenvolvimento desta viria a se constituir como base para a sua identidade. O sujeito sociológico parte de que a identidade é formada na interação do “eu” com e o outro. Nesta concepção, a identidade seria determinada pela ação tanto do indivíduo quanto do outro que com ele interage. O sujeito na pósmodernidade defende a ideia de que as identidades não estariam relacionadas ao fator biológico e sim ao histórico. Desta forma, as identidades se apresentariam como uma estrutura flexível e mutante. Hall (1996, p. 68) afirma que ao invés de tomar a identidade por um fato que, uma vez consumado, passa, em seguida, a ser representado pelas novas práticas culturais, deveríamos pensá-la, talvez, como uma “produção” que nunca se completa, que está sempre em processo e é sempre constituída interna e não externamente à representação. Esta visão problematiza a própria autoridade e a autenticidade que a expressão “identidade cultural” reivindica como sua. Segundo Hall (1996, p. 70), a identidade cultural não possui: (...) uma origem fixa à qual podemos fazer um retorno final e absoluto. (...) Tem suas histórias – e as histórias, por sua vez, têm seus efeitos reais, materiais e simbólicos. O passado continua a nos falar. (...) As identidades culturais são pontos de identificação, os pontos instáveis de identificação ou sutura, feitos no interior dos discursos da cultura e da história. Não uma essência, mas um posicionamento.. As diferentes identidades construídas nos diferentes territórios estão também relacionadas com a forma de ocupação e de apropriação. Nesse sentido, a definição de territórios imbrica aspectos ecológicos, históricos, sociais, culturais, políticos e.

(31) P á g i n a | 30. econômicos, fundamentalmente ligados às bases materiais e simbólicas da vida. Fundada na territorialidade, a construção da identidade coletiva dos pescadores, remete a uma determinada relação com a natureza. A origem da identidade de um povo pode ser formada de diferentes maneiras. Tanto pode ser a partir de histórias contadas e recontadas nas literaturas nacionais, na cultura popular e de outras formas, como pode ter base nas suas origens, na continuidade, na tradição e na intemporalidade. E também as identidades inventadas, que são baseadas num conjunto de práticas que buscam dar certos valores e normas de comportamentos através da repetição (HALL, 2011). Remetemo-nos a Bauman (2005) quando o mesmo afirma que, o “pertencimento” e a “identidade” não têm a solidez de uma rocha, não são garantidos para toda a vida, são bastante negociáveis, os caminhos que percorre, a maneira como age, são cruciais tanto para o “pertencimento” quanto para a “identidade”, ou seja, não são definitivos nem tão sólidos assim, mas negociáveis e revogáveis, depende das decisões que o indivíduo toma, do caminho que percorre e da maneira como age. Silva (2009) destaca o pertencimento como elemento da identidade. (...) por “identidade”, compreende-se que o conteúdo é a pertença e também que ela define as dimensões das comparações sociais, que (re)alimentam o seu conteúdo. Além disso, incorpora também o conteúdo de normas específicas do grupo. Mesmo atitudes ou comportamentos que não sejam explicitamente reconhecidos como valores do grupo, podem ser fontes relevantes de expressão de identidade, desde que sejam vistos como típicos ou característicos de membros de um grupo particular e guiem as atitudes e comportamentos dos membros desse grupo (p. 121).. Destarte, esse sentimento acontece em função dos conteúdos que são próprios, específicos do grupo social, ou seja, que aparecem em um modo de vida particular. Nesta perspectiva, é interessante analisar nas comunidades pesqueiras o significado cultural e a identidade que o pescador e a comunidade local têm da pesca, assim como as práticas socioculturais que dão a estas comunidades pesqueiras características identitárias e culturais..

(32) P á g i n a | 31. 1.2 Comunidades Tradicionais Pesqueiras A definição de comunidade de acordo com o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (FERREIRA, 1988, p. 165) é “quaisquer grupos sociais, cujos membros habitam uma região determinada, possuem um mesmo governo e estão irmanados por uma mesma herança cultural e histórica”. Ou ainda, como “um conjunto populacional considerado como um todo, em virtude de aspectos geográficos, econômicos e/ou culturais comuns” ou que compreendem um “grupo de pessoas considerado, dentro de uma formação social complexa, em suas características específicas e individualizantes; grupo de pessoas que comungam uma mesma crença ou ideal; grupo de pessoas que desenvolvem uma mesma atividade profissional”. No Brasil são considerados comunidades ou povos tradicionais de acordo com o DECRETO Nº 6.040 de 07 de ferreiro de 2007 os povos indígenas, os quilombolas, as comunidades de terreiro, os extrativistas, os ribeirinhos, os pescadores artesanais, os pomeranos, dentre outros. Na perspectiva do estado brasileiro de acordo com o referido decreto, o qual instituiu a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável e Povos e Comunidades Tradicionais, compreende-se que uma comunidade tradicional é aquela que se diferencia culturalmente das demais formas de organização social e, portanto, se reconhecem como tais; possuem formas próprias de organização social, ocupam e usam o território e recursos naturais para sua “reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica”; para tanto, utilizam-se de inovações e práticas geradas e transmitidas pela tradição de geração para geração. Entendemos que o Estado Brasileiro aufere direitos às comunidades tradicionais o que é por eles sabido. Assim, empreendemos no nosso estudo no povoado Pedreiras com a expectativa de encontrar cidadãos cônscios de seus direitos enquanto comunidade tradicional tal qual definida/delimitada por Diegues (1983; 2004a) e Brandão (2010). Na perspectiva de Diegues (1995) é difícil caracterizar uma comunidade tradicional, uma vez que não encontramos comunidades que exerçam todas as atividades da mesma forma como as realizavam há várias gerações atrás; na maioria das vezes já sofrem com influências externas e se modernizaram bastante..

(33) P á g i n a | 32. Mas dentro do contexto deste estudo, entende-se por comunidades tradicionais aqueles grupos sociais que tem um "modo de vida" diferenciado das populações urbano-industrial e que, via de regra mantém uma relação direta com os recursos naturais. É o que Diegues (1983) salienta que nenhuma cultura tradicional se acha em estado puro, intocado, havendo uma contínua reestruturação social, cultural e econômica que depende de uma maior ou menor articulação e dependência do modo de produção capitalista e da capacidade de assimilação cultural de elementos culturais externos. Comunidades tradicionais são aquelas que apresentam distinções em relação ao seu modo de viver, possuem uma cultura rica em costumes e crenças que são construídas no decorrer dos anos e transmitidas de geração para geração. Geralmente vivem em áreas afastadas, buscam obter meios de sobrevivência desenvolvendo seus próprios conhecimentos em relação à natureza e o seu próprio modo de viver. Com isolamento relativo, essas populações desenvolveram modos de vida particulares que envolvem grande dependência dos ciclos naturais, conhecimento profundo dos ciclos biológicos e dos recursos naturais, tecnologias patrimoniais, simbologias, mitos e até uma linguagem específica, com sotaques e inúmeras palavras de origem indígena e negra. (DIEGUES, 2004a, p.14).. Brandão (2010, p. 347) coloca que a sociedade tradicional e/ou a comunidade tradicional não surge como oposta a sociedade moderna ou ao mundo urbano, mas sim como um lugar diferente da sociedade primitiva, indígena, tribal.. Elas são. anteriores às cidades, e podem se reproduzir sem elas. São sociedades que ocupam territórios, e que “(...) realizam-se sem, fora da ou à margem da sociedade regional e de sua melhor representante: a cidade”.. 1.3 A Pesca e o Pescador Artesanal A pesca tem permeado os estudos geográficos no Brasil, ora como questão central, ora como pano de fundo no estudo de comunidades e áreas litorâneas e ribeirinhas (CARDOSO, 2003), buscando sempre compreender como os pescadores vêm produzindo seus espaços e sua relação com a natureza..

(34) P á g i n a | 33. Em. geral. a. pesca. é. representada. sob. duas. formas.. A. forma. industrial/mercantil realizada por empresas privadas com alto grau de produtividade e investimentos, tanto econômico como também tecnológico, em todo o processo de produção envolvido. E da forma artesanal, a qual se caracteriza principalmente pela mão de obra familiar ou não assalariada, com embarcações e aparelhagem utilizadas em muitos casos ainda rudimentares. No Brasil, então, coexistem desde a pesca em modelos modernos e de alta produtividade e os tipos de pesca que não atingem, sequer o nível de subsistência, sendo esta, a pesca predominante no Brasil (PIMENTA, 2001). De acordo com o Ministério da Pesca e Aquicultura – MPA, o(a) pescador(a) artesanal é o profissional que, devidamente licenciado por este órgão, exerce a pesca com fins comerciais, de forma autônoma ou em regime de economia familiar, com meios de produção próprios ou mediante contrato de parcerias, desembarcada ou com embarcações de pequeno porte. A pesca é uma atividade humana que tem articulações entre os meios aquáticos e terrestres, representando uma forma de uso do território e uma forte relação sociedade-natureza. O Código da Pesca, Lei 9605, Capítulo V, Art. 36 de 1998, define a pesca como sendo: (...) todo ato tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, apreender, ou capturar espécies de grupos de peixes, crustáceos, moluscos ou vegetais hidróbios suscetíveis ou não ao aproveitamento econômico ressalvado as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais de fauna e flora (IBAMA, 1998, p.9).. Historicamente a pesca artesanal está ligada à influência de três correntes étnicas que contribuíram para a formação da cultura das comunidades litorâneas e ribeirinhas no Brasil: a indígena, a portuguesa e a negra (SILVA et. al, 1990). Dos índios vem os conhecimentos culinários como o preparo do peixe para a alimentação, a confecção das canoas e jangadas, as flechas, os arpões e as tapagens; dos portugueses os métodos e instrumentos mais comuns como anzóis, pesos de metal, redes de arremessar e de arrastar; e da cultura negra, herdaram a variedade de cestos e outros utensílios utilizados para a captura dos peixes (DIEGUES, 1983)..

(35) P á g i n a | 34. Com a colonização, a chegada de diferentes povos no território nacional e a miscigenação, essa atividade se desenvolveu de forma significativa, o que configura que a pesca sempre fez parte das culturas humanas, não só como fonte de alimento, mas também como um modo de vida, fornecendo identidade a inúmeras comunidades. A pesca teve um papel importante no que diz respeito ao aspecto socioeconômico do país, visto que várias cidades litorâneas se formaram a partir de núcleo de pescadores, no decorrer dos distintos ciclos de nossa história. O tipo de pesca apreendido neste estudo refere-se à artesanal, que é realizada. por. pequenos. produtores. pesqueiros. que. utilizam. instrumentos. rudimentares para exercer a atividade e tem um modo de vida baseado principalmente na pesca ainda que exerçam outras atividades, ou seja, nosso enforque é no “ser” pescador artesanal, mais precisamente o pescador e morador do povoado Pedreiras, localizado no município de São Cristóvão no estado de SergipeBrasil.. 1.4 Estado da Arte A obra de Antonio Carlos Diegues (1983; 1995; 1999; 2002; 2004a e 2004b) apresentou-se fundamental para a compreensão do universo da pesca artesanal. Seus textos tratam de temas transversais que traduzem a dinâmica da realidade de comunidades e de pescadores que se deparam com, por exemplo, a escassez de recursos pesqueiros, política de conservação e preservação de áreas ocupadas por comunidades tradicionais; a organização social dos pescadores frente ao turismo e ao papel da mulher, dentre outros. Para ele (1995) o manejo dos recursos ocorre através de um complexo de conhecimentos adquiridos pela tradição herdada dos mais velhos, resultando na adequação de uso e manutenção dos ecossistemas naturais. Além disso, nas comunidades tradicionais há uma reduzida divisão técnica e social do trabalho, sobressaindo o trabalho artesanal, onde o produtor e sua família domina o processo de trabalho até o produto final, o que é o caso da comunidade estudada. Ainda de acordo com o referido autor (1983) populações que possuem um conhecimento adquirido e experimentado, através de gerações, para o uso e manejo.

(36) P á g i n a | 35. de recursos naturais, bem como do espaço vivido e concebido social e culturalmente, geralmente possuem uma forma específica de apropriação e relação entre grupos sociais e ambientes naturais. Seus conhecimentos se baseiam na transmissão oral, quer das formas produtivas quanto organizativas e culturais, como garantia da manutenção dos grupos sociais distintos; fazem uso de tecnologia simples, reduzida acumulação de capital, relações de produção definidas no âmbito da unidade familiar nuclear ou extensa, com reduzida divisão de trabalho. Nesse contexto, as obras de Simone Carneiro Maldonado (1993), Eduardo Schiavone Cardoso (2001; 2003; 2004) e José Geraldo Wanderley Marques (1995) complementam nosso levantamento referencial posto que tratam do modo de vida do pescador artesanal: divisão do trabalho, formas de apropriação do meio, conhecimentos e conflitos Vanessa Marion Andreoli (2006; 2010) salienta que “a tradição integra e monitora a ação à organização tempo-espacial de uma comunidade, ou seja, ela é parte do passado, presente e futuro; é um elemento intrínseco e inseparável da comunidade”. Esta vincula-se à compreensão do mundo fundada na superstição, religião e nos costumes; pressupõe uma atitude de resignação diante do destino, o qual, em última instância, não depende da intervenção humana, do “fazer a história”. A ordem social sedimentada na tradição expressa a valorização da cultura oral, do passado e dos símbolos enquanto fatores que perpetuam a experiência das gerações. No que se refere aos estudos sobre pesca no estado de Sergipe, procedemos levantamento nas bancas de dissertação do Núcleo de Pós-Graduação em Geografia – NPGEO e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA da Universidade Federal de Sergipe – UFS. Destacamos a dissertação de Roseli Pereira Nunes “A formação socioambiental de jovens filhos de pescador: percepções e relações culturais” defendida pelo PRODEMA (2013). Ela ressalta como os jovens filhos de pescadores do povoado Rua da Palha no município de Santa Luzia do Itanhy percebem as relações socioambientais do seu entorno, e a ligação existente entre a atividade pesqueira e o cotidiano socioeconômico da comunidade. A autora coloca que para trabalhar com questões socioambientais em comunidades cuja pesca é a principal atividade econômica, faz-.

(37) P á g i n a | 36. se necessário analisar a percepção ambiental dos envolvidos na atividade, portanto, com abordagem próxima à que assumimos em nossa pesquisa. A dissertação de mestrado de Eline Almeida Santos intitulada “(Re) Produção Social e Dinâmica Ambiental no Espaço da Pesca: reconstruindo a territorialidade das marisqueiras em Taiçoca de Fora- Nossa Senhora do Socorro/SE” foi defendida no NPGEO (2012). Ela aborda sobre a (re) produção da pesca pelo trabalho feminino, sobretudo, busca retratar as territorialidades das marisqueiras do Povoado Taiçoca de Fora em Nossa Senhora do Socorro, a partir da análise das suas vivências na terra e na água. A análise perpassa ainda pela discussão da dinâmica ambiental e permanência na atividade por parte das mulheres marisqueiras; sobre a divisão do trabalho e espaço da pesca. As manifestações culturais e religiosas no ambiente pesqueiro, também são destaques nesta dissertação, visto que o folclore faz parte da história de comunidades pesqueiras e sendo que esta não foge à regra. Embora com foco de análise direcionado ao trabalho da mulher no universo da pesca, sua abordagem sobre território e territorialidade auxiliou em nossas observações e reflexões sobre a realidade no povoado Pedreiras. Nesse contexto, extraímos das obras levantadas que o significado cultural e a identidade que o pescador e as comunidades pesqueiras têm da pesca. As práticas socioculturais dão às comunidades pesqueiras características identitárias e culturais, passam a fazer parte da vida social dos pescadores, um espaço de crenças, mitos, além de adquirir valor simbólico e material para a reprodução da condição humana desses pescadores..

(38) P á g i n a | 37. CAPÍTULO II A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA.

(39) P á g i n a | 38. 2 – A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA. 2.1 A Ancoragem Fenomenológica da Percepção A abordagem fenomenológica vem ganhando espaço nas pesquisas qualitativas, aplicada aos estudos dos fenômenos importantes em vários campos, mais ainda quando se quer dar destaque à experiência de vida das pessoas. (MOREIRA, 2002, p. 60). A contribuição da Fenomenologia dada a Geografia parte da forma como ela possibilita analisar o espaço geográfico, levando em consideração as experiências cotidianas, os significados e os valores que o homem atribui ao espaço vivido. Dessa forma (ROCHA, 2006, p. 25), coloca que: (...) a Geografia embasada na Fenomenologia procura salientar os significados e valores que as pessoas dão ao espaço, ao mundo que os rodeia, colocando, portanto, o homem em primeiro plano, como o individuo e o seu lugar, preocupação com a forma como vive, com seu cotidiano, com o mundo no qual está inserido.. O método fenomenológico consiste em mostrar e esclarecer determinado fenômeno. Para a Fenomenologia um objeto é como o sujeito o percebe, e tudo tem que ser estudado tal como é para o sujeito, pois tendo como objeto de estudo o fenômeno em si, estuda-se, literalmente, o que aparece. Um objeto, uma sensação, uma recordação, tem que ser estudado tal como é para o espectador, no caso o pesquisador. O termo Fenomenologia provém do grego “phainesthai” que é tudo aquilo que se revela, e logos que significa estudo. É uma ciência subjetiva, estuda o próprio fenômeno em si, tal qual como ele se apresenta. Emanuel Kant em 1770 já usava o termo “fenomenologia”, mas surgiu na filosofia a partir do século XIX e se consolidou no meio acadêmico no inicio do século XX com os estudos de filósofos como Edmund Husserl, Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty (GONÇALVES, 2008). A Fenomenologia, por Edmund Husserl, é a ciência dos fenômenos e das suas essências ou das “ideias puras”. Um fenômeno é o que aparece à consciência,.

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