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Ana COSTA e Markley CARVALHO

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Academic year: 2021

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CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: A NARRATIVA NA ORALIDADE E NOS SUPORTES DIGITAIS

Ana Karoliny Teixeira da COSTA (PPGL/FACALE/UFGD; CEELLE/UFGD)1

Markley Florentino CARVALHO (PPGL/FACALE/UFGD; CEELLE/UFGD)2

RESUMO: O artigo resulta da oficina de Contação de histórias, aplicada no Proler, em 2013. Na ocasião, colocamos como proposta o debate, em conjunto com os diferentes agentes do processo educacional básico, de uma questão que gera muitas discussões entre os pesquisadores da área: o espaço ocupado pela literatura oral no contexto escolar. Para tanto, elencamos como necessária, antes, uma reflexão acerca do papel do narrador de ontem e hoje, bem como, quais as possibilidades que se abrem para uma nova forma de fazer e de se relacionar com a literatura oral, a partir do diálogo possível entre narrativa e suportes digitais. São discussões feitas à luz de críticos, tais como Benjamin (2012), Bakhtin (2003), Zhumthor (1997), entre outros.

PALAVRAS-CHAVE: Contação de histórias; Leitura literária; Literatura oral

Introdução

Este artigo é resultado da oficina “Contação de histórias: a narrativa na oralidade e nos suportes digitais”, ministrada no evento Proler, em 2013. Como em trabalhos anteriores, a nossa preocupação foi estabelecer um diálogo com professores do ensino básico, acadêmicos de graduação, artistas regionais e profissionais de áreas afins, no intuito de contribuir para a conscientização do ato de contar histórias, associado ao perfil do narrador-pesquisador e responsável pela preservação do patrimônio cultural da literatura oral.

O principal desafio que nos moveu a fazer este trabalho de reflexão aliado à prática junto ao diversificado público que tivemos contato foi perceber que a literatura oral, em muitos momentos, é pouco utilizada no processo escolar, em especial, nos segmentos posteriores ao da alfabetização. Esta conclusão a que chegamos é resultado de discussões teóricas, como as levantadas por Prieto (2004), bem como, a partir de nossas próprias experiências enquanto agentes atuantes direta ou indiretamente no regime escolar.

1 Mestre em Letras pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação, Artes e Letras da

Universidade Federal da Grande Dourados (PPGL/FACALE-UFGD). Membro do Grupo de Pesquisa: Centro de Estudos em Ensino, Leitura, Literatura e Escrita (CEELLE). Membro do Grupo de Pesquisa: Núcleo de Estudos Literários e Culturais – UFGD.karoliny_costa@hotmail.com

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Mestre em Letras pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação, Artes e Letras da Universidade Federal da Grande Dourados (PPGL/FACALE-UFGD). Membro do Grupo de Pesquisa: Centro de Estudos em Ensino, Leitura, Literatura e Escrita (CEELLE). markleyflorenti@gmail.com

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Temos fortes indícios para acreditar na hipótese desta falta de espaço para a literatura oral no processo escolar, enquanto resultado dos próprios reflexos da organização social vigente. Isto é, temos uma escassez de manifestações de narrativas orais no contexto escolar, em virtude do fato de pesar aos ombros do professor no momento de propor ao educando/ouvinte-de-histórias o contato com um gênero que não lhes parecem (professor e educando) familiar e próximo. A sensação que predomina é de um esforço de contato com um gênero já não mais existente, por isso, comungado de forma muito contida, em pequenas doses, na maioria das vezes, de modo fragmentado.

Esta noção de literatura oral como um gênero extinto está intimamente ligada com as discussões propostas por Walter Benjamin (2012), no artigo intitulado “O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov”. Tal crítico chega a nos anunciar uma possível morte do narrador no mundo moderno, conforme veremos mais adiante. Contudo, embora seja uma leitura que embase nossos trabalhos, hoje, exigem-se de exigem-seus leitores algumas ressalvas. Isto ocorre devido a um fato evidente: a literatura oral ainda vive.

Prova dessa sobrevivência é a diversidade de trabalhos de pesquisadores e contadores de histórias reconhecidos (Benita Prieto, Francisco Gregório Filho, Celso Sisto, Frederico Fernandes, Eudes Fernando Leite, Catitu Tayassu, Bia Bedran, Aldo Mendéz, entre outros) que estão comprometidos com o estímulo à preservação ou ainda, com a formação de novos narradores. E, ao lado destes, ainda que de forma modesta, está o nosso próprio trabalho em oficinas e minicursos de contação de histórias, que iniciaram no ano de 2011; atividades estas ligadas, por sua vez, ao nosso projeto Recanto do Conto – o qual nasceu da necessidade observada de transformar as discussões teóricas propostas nas aulas do mestrado em Letras (UFGD) em objetos de discussão e prática com os diferentes agentes da comunidade escolar.

Mas, será esta literatura oral que nos reportamos agora a mesma vivenciada por nossos antepassados?

De antemão, podemos responder que há modificações nas formas de se fazer e se relacionar com a literatura oral. Benjamin mostra-se muito sensível a essas modificações em sua discussão. Mas, no lugar da morte do narrador, caberia falar, tomando-se como base Bakhtin (2003) e sua discussão sobre gêneros, que vivenciamos agora a reestruturação do ato de contar histórias orais e suas implicações sociais, em virtude de novas exigências sociointeracionistas.

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Dito isto, acreditamos que as tecnologias hoje existentes (inicialmente vistas como um risco, a partir de diferentes perspectivas, para a estrutura educacional) vêm contribuindo para aquilo que denominamos como a mais nova metamorfose da estrutura narrativa. A nossa proposta foi refletir, juntamente com aqueles que se propuseram a participar da oficina, de que modo a tecnologia dialoga com a literatura oral, bem como, as possibilidades que se abrem para a exploração desses recursos, no contato e experienciação com o universo narrativo, a partir dos suportes digitais.

1. Metamorfoses do processo narrativo

Poderíamos arriscar um paradoxo e dizer que a obra de Kafka, o maior “narrador” moderno, segundo Benjamin, representa uma “experiência” única: a da perda da experiência, da desagregação da tradição e do desaparecimento do sentido primordial. Kafka conta-nos com uma minúcia extrema [...], que não temos nenhuma mensagem definitiva para transmitir, que não existe mais uma totalidade de sentidos, mas somente trechos de histórias e de sonhos. Fragmentos esparsos que falam do fim da identidade do sujeito e da univocidade da palavra, indubitavelmente uma ameaça de destruição, mas também – e ao mesmo tempo – esperança e possibilidade de novas significações (GAGNEBIN apud BENJAMIN, 2012, p. 18, grifo nosso).

No fragmento acima, Jeanne Marie Gagnebin, responsável pelo prefácio do livro Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura (2012), de W. Benjamin, retoma uma discussão muito importante do crítico acerca da definição de narrador, bem como, a sua hipótese sobre a morte desse narrador no mundo moderno.

O narrador ganha forma e identidade, de modo mais específico, no ensaio “O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov”, desse livro. Aqui, essa figura é desenhada como alguém ‘que tem o que contar’. Isto porque trata-se de um indivíduo que viajou muito e, portanto, tem vivências de contatos com outras culturas, dos percalços passados durante suas viagens, e Benjamin ainda coloca, tem as lembranças e vivências incorporadas de outrem com quem teve contato.

Essas vivências divididas com os outros indivíduos da comunidade são recebidas a partir de conselhos, os quais não são simplesmente respostas diretas aos possíveis problemas enfrentados por aquele que é aconselhado. Mas, revela-se a partir de histórias, as quais, segundo Benjamin “[...] traz sempre consigo, de forma aberta e latente, uma utilidade” (BENJAMIN, 2012, p. 216).

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Como se vê, o crítico fala de um período em que as pessoas buscam umas as outras para se aconselharem. É igualmente um período em que elas sentam-se para ouvirem histórias, seja em reuniões comemorativas, seja em teares na confecção de produtos artesanais.

O divisor de águas para esta organização sociocultural, segundo o crítico, ocorre com a instauração da guerra mundial, de onde “[...] [não] se notou [...] que os combatentes voltavam mudos do campo de batalha” (BENJAMIN, 2012, p. 214). Possivelmente, consequência do tamanho horror que se depararam, conforme trecho:

[...] Uma geração que ainda fora à escola num bonde puxado por cavalos encontrou-se [desabrigada], numa paisagem em que nada permanecera inalterado, exceto as nuvens, e, debaixo delas, num campo de forças de torrentes e explosões destruidoras, o frágil e minúsculo corpo humano (BENJAMIN, 2012, p. 214).

Ainda nos guiando pelo o que é posto por Benjamin, o homem volta mudo, incapaz de compartilhar suas vivências. Este comportamento passa a ser ainda mais latente quando associado ao nascimento da imprensa e, aqui, do gênero romance. Assim, o comportamento predominante de se sentar em roda e compartilhar vivências vai se diluindo e dá espaço ao comportamento do homem isolado, imerso na leitura (em voz baixa) de seu livro.

Outro ponto colocado pelo crítico como importante é com relação a necessidade que o homem moderno (pós-guerra) sente de explicações sobre o porquê das coisas serem como são. Explicações estas não exigidas da narrativa:

[...] O extraordinário, o miraculoso é narrado com a maior exatidão, mas o contexto psicológico da ação não é imposto ao leitor. Ele é livre para interpretar a história como quiser, e com isso o episódio narrado atinge uma amplitude que falta à informação (BENJAMIN, 2012, p. 219).

E, possivelmente, uma das maiores dificuldades enfrentada pela narrativa tenha sido o embate com o surgimento e intensa circulação da notícia de imprensa. E, ao lado desta, a facilidade pela busca de comprovação dos fatos e sua rápida atualização de informação, responsável também, de certa forma, por marcar o próprio ritmo de vida levada pelo homem moderno. Isto é: aquele que não tem mais tempo/paciência para sentar-se e ouvir histórias de aconselhamentos. É neste contexto ao qual o homem moderno se insere que Benjamin anuncia a morte do narrador tradicional. A morte de

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uma figura que se silencia por perder a autoridade de ter o que contar em meio ao seu grupo.

É neste ponto que nos apoiamos em Bakhtin (2003) para dizer que a narrativa ‘passa bem’. Nossa discussão parte da premissa levantada pelo estudioso acerca de que cada comunidade ou cada esfera de comunicação humana corresponderá um universo de gêneros de comunicação. Isto implica dizer que uma modificação na esfera de comunicação, poderá refletir nos gêneros produzidos por ela. Este diagnóstico para a narrativa é oferecido a partir de uma constatação aparentemente muito simples: as narrativas se conservaram com o passar do tempo. O que nos faz inferir que elas ainda desempenham funções de aplicabilidade em situações práticas distintas.

Com base em pesquisas atualizadas sobre a questão (como é o caso do trabalho realizado pelos professores Eudes Fernando Leite e Frederico Fernandes - publicados pelas instituições da UFGD e da UEL), vemos um movimento de resgate daquela narrativa tradicional ainda encontrada nas tradições mantidas por pequenos grupos geograficamente isolados ou ainda, de modo mais simplificado, nas lembranças dos anciãos de nossas regiões.

Mas também, o que se pode observar é que, ao lado deste movimento de preservação de um patrimônio cultural, temos em paralelo um movimento que busca naquelas tradições, interligar as práticas culturais atuais. Estamos falando de movimentos que buscam interagir, ou ainda, buscam atualizar este contato com a literatura oral. O resultado disso são as diversas adaptações de narrativas advindas da oralidade para a escrita, o cinema, o desenho, o rádio, as telenovelas, entre outros.

2. A Literatura oral do cerrado

Conhecer as histórias, os mitos e as lendas em comum entre os sul-mato-grossenses e a cultura fronteiriça paraguaia e boliviana interessa como fator de preservação de nossas tradições, principalmente como promoção de integração. É na participação destas culturas, a diversidade e o regionalismo podem ser compreendidos e melhor desfrutados entre os seus povos, a partir das práticas e saberes vivenciados no cotidiano, ouvidos nos discursos e produzidos na escrita. Para isso, é essencial contar e ouvir a nossa história.

Vale ressaltar que por intermédio das narrativas de histórias e dos contos populares reconstruímos o cotidiano, o mágico, o drama, o ficcional e o não-ficcional. Os mitos e

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as lendas se propagaram em nossas paisagens sul-mato-grossenses por meio de relatos, dos contos, dos comentários, das poesias, do folclore e de imagens do cerrado.

Dentro da reconstrução dos contos populares entre ervais, pantanais e guavirais é reconhecido, entre outros nomes da Literatura sul-mato-grossense, o autor Hélio Serejo que na pesquisa e escrita no campo do Folclore é conhecido em diversos países da América do Sul. Outras referências importantes nos trabalhos de pesquisa aliado ao ato de ouvir, anotar e escrever sobre o regionalismo sul-mato-grossense, são: Lobivar Matos, Manoel de Barros, Augusto César Proença, Brígido Ibanhes e as escritoras Flora Tomé e Raquel Naveira, dentre outros de grande representatividade no Estado.

Ao comungar do prazer da leitura desses autores e, em especial, dos momentos de narração dessas leituras, acreditamos que os professores e pesquisadores também proporcionarão aos educandos a narração e, por sua vez, o lugar das aventuras e das histórias do Mato Grosso do Sul em suas memórias de leituras pela vida afora.

3. A arte de contar/encantar no contexto escolar

Você se lembra de alguma contação de história que tenha ouvido na infância ou na vida adulta?

Trazer à tona estas memórias de narrativas implica, no ato de relembrá-las e recontá-las nos variados espaços sociais (seja no ambiente familiar, entre amigos, ou ainda, no espaço escolar), na recuperação da oralidade.

Como vimos, na contemporaneidade, a prática de narrar um conto passou por modificações. A contação de histórias, na maioria das vezes, propõe uma articulação da oralidade com o texto escrito. Deste modo, ao ser vivenciada, a contação é construída a partir de uma ponte entre o lúdico e o ato da leitura.

Como define Candido (2004), a Literatura tem, entre as suas funções, a de “[...] satisfazer a necessidade universal de fantasia, contribuir para a formação da personalidade e ser uma forma de conhecimento do mundo e do ser” (CANDIDO, 2004, p. 176). Neste sentido, o ato de narrar em sala de aula poderá ser uma das formas de trazer o texto literário ao mundo dos alunos.

Contudo, há de se ressaltar que esta não é a única forma viável de se realizar uma contação. A volúpia de narrar ou ouvir uma história pode estar presente na narração de uma história com o texto não verbal, além de outras possibilidades que incluem o jogo lúdico, a brincadeira de roda, o canto e outras formas de manifestação da

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literatura oral. Ou ainda, como veremos, a narração de histórias pode ser realizada com o apoio auxiliar de multimídias.

Neste ponto, entretanto, é preciso deixar em evidência o fato de que o lúdico é responsável por trazer as sensações da leitura (o susto, o humor, a ideia, um jeito de compreender a história, etc.), porém, o que deve estar em primeiro plano é o prazer de aprender com o mundo da narrativa.

Dito isso, verifica-se que as oficinas de contação de histórias em sala de aula são fontes de motivação para a possibilidade de recuperar, preservar e divulgar a nossa história e cultura, por meio dos contos provenientes da literatura oral, como também, da literatura escrita.

Nesse processo de interação da literatura oral e a literatura escrita, a escola tem uma grande responsabilidade: o sistema educativo deve ajudar o ‘novo-ouvinte/leitor contemporâneo’ a vivenciar as histórias no momento do conto em sala de aula, na sala de multimídia, na biblioteca ou no pátio. Pois, quando instigados pela narrativa, os educandos passam a ter interesse em protagonizar e a produzir novos contos, por meio do reconto das narrativas ouvidas, ou ainda, de outras histórias.

Contudo, a atualidade pede do professor uma atenção maior as novas necessidades de se adaptar às exigências deste novo ouvinte/leitor contemporâneo, o qual utiliza (com muita propriedade em seu cotidiano) os suportes digitais que, por sua vez, podem ser vistos como uma das formas indispensáveis para a própria sobrevivência da narrativa, à medida que são ferramentas importantes para o armazenamento das histórias. Exemplo disso é o trabalho desenvolvido pela pesquisadora Catitu Tayassu, responsável por percorrer diferentes partes do mundo, a fim de fazer registros de áudio de contadores de histórias, entre outros desdobramentos, e divulgar o material recolhido em um site de acesso livre ao navegador da internet.

Sendo assim, uma possibilidade de aliar a necessidade de se formular uma tradição da narrativa para o novo ouvinte e o leitor contemporâneo, adepto dos suportes digitais, é lançar mãos dessas ferramentas. A internet ou o ipod podem ser meios úteis na hora de se propor o armazenamento digital, mas também, motivar o recontar das histórias. Processos estes necessários para a preservação da narrativa e também para a contribuição de inventários de narrativas da sua comunidade escolar, regional, acadêmica ou afim.

O uso da tecnologia no processo de contação de histórias, no modo presencial ou virtual, é um caminho para estimular a leitura e um recurso que potencializa a

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divulgação da literatura. Neste viés, as histórias narradas passam a fazer parte não somente da fase do ‘ritual da roda em torno da fogueira’, mas também, migram para ‘uma roda em torno do notebook’, com acesso às narrativas de histórias contadas e recontadas na rede virtual.

Os professores, no papel de mediadores, ao lado dos seus educandos, têm a possibilidade de fazer um trabalho de registro de narrativas. A atividade de reconto pode ser realizada por meio de postagens de histórias em áudio, em imagens de vídeo, em textos literários digitais, entre outras formas de tecnologias. São práticas que, ao serem aliadas aos suportes comuns ao cotidiano do homem contemporâneo, mostram-se capazes de revelar o quanto ainda narramos nos dias de hoje, principalmente, a partir de técnicas difundidas no letramento digital.

Há uma necessidade de conferir à prática narrativa, enquanto meio de recuperar e divulgar a literatura, a sua importância no espaço escolar e, principalmente, conferir aos educandos o seu valor, enquanto ‘criadores em potencial’.

É a partir desta iniciativa que iremos adquirir, assim, além da educação formal, a valorização daquilo que é de pertença ao homem: a sua capacidade de imaginação. Escutar uma história é o início da formação de um leitor, uma vez que o educando pode suscitar o imaginário na hora do reconto das histórias narradas.

Considerações finais

Como sabemos, a escassez de tempo destinado ao contato familiar ou à roda de conversas, faz com que os momentos de contação de histórias passem por transformações inerentes às condições das facilidades tecnológicas, das necessidades de imaginação e das expressões humanas.

O resgate das narrativas contadas por homens e mulheres que asseguravam ter vivenciado histórias que provocavam medos, espantos, outras emoções, provocações e fabulações, acontece muitas vezes em nossa atualidade a cada vez que se propõe a recuperação de saberes e práticas de leituras da tradição oral.

Desse modo, em geral, a proposta do contar e recontar histórias em salas de aulas, em laboratórios de informática, em bibliotecas, em pátios e em outros espaços escolares é um exercício que busca trazer à tona a voz e a narrativa como modo de oferecer novas formas de conhecimento da literatura oral e escrita, de conhecer o mundo

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e de se significar, enquanto ser e cidadão. Somado ao movimento desta proposta, está o fato de que esta prática cultural contribui para a construção de novos saberes e habilidades de vivências da leitura em vários suportes.

Apesar dessas novas possibilidades de resgate da narrativa ocasionadas pelo apoio tecnológico, ainda assim, devemos ter por certo que a literatura oral também desempenha notável importância em nosso contexto social (a opção por ouvir, pela interpretação, pela imaginação e pela busca às memórias, são exemplos vivos dessa necessidade de resgate da cultura da oralidade). Assim, acreditamos que é por meio do hábito de contar e recontar histórias, que a escola pode se revelar o ambiente propício para se redescobrir o espaço que deveria ser ocupado pela literatura oral.

Referências

BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In.: ____. Estética da criação verbal. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003. P. 261-269.

BENJAMIN, Walter. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: ______. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 2012. p. 213-239.

Candido, Antonio. O direito à literatura. In.:_____. Vários escritos. São Paulo: Ouro Sobre Azul, 2004, p. 169- 191.

LEITE, Eudes Fernando, FERNANDES, Frederico. Trânsitos da voz: estudos de oralidade e literatura. Londrina: EDUEL, Dourados: UFGD. 2012.

PRIETO, BENITA. Contadores de histórias: guardiões da cultura popular. In: ______ (org). Prosas do Simpósio: Simpósio Internacional 2004. Rio de Janeiro: SESC-RJ, 2004.

Referências

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