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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU AVM FACULDADE INTEGRADA

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A MATERNIDADE E SUAS

IMPLICAÇÕES NO SEIO

DA FAMÍLIA CONSTITUIDA

CONSTITUIDA POR UM

CASAL

Por: Delma da Silva Argento

Orientador

Prof. Fabiane Muniz

Niterói

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A MATERNIDADE E

SUAS IMPLICAÇÕES

NO SEIO DA

FAMÍLIA CONSTITUIDA

POR UM CASAL

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

Grau de especialista em terapia de família

Por: Delma da Silva Argento

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AGRADECIMENTOS

Ao meu esposo, a minha filha, Marceli, ao meu orientador pela competência e paciência, as minhas amigas, Flávia e Norma.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha filha, Juliana, por estar esperienciando o prazer singular de ser mãe do primeiro filho, bem como ter transformado a autora em avó da Antonella, primeira neta, que integra a família,

ocasionando todas as transformações previsíveis e expectativas gratificantes. O meu carinho

especial ao Jorge, genro especial, pai dedicado e esposo amável.

(5)

RESUMO

Este é um trabalho monográfico, cujo tema, a primeira maternidade, foi embasado em experiência real, e que pretende realizar uma abordagem das implicações pós e contra ao nascimento do primeiro filho na formação de uma família nuclear. Seu principal propósito é refletir sobre este momento de transição no ciclo de vida familiar, assim como estudar as mudanças, não somente da família ao longo de sua história, como permitir uma reflexão acerca desta fase específica de transformação social, profissional, econômica e psicológica da vida do casal, destacando a da mulher, assim como fazer uma primária alusão às fases subseqüentes da vida do primeiro filho.

Alguns pontos são ressaltados, como a história da família, a família como um sistema definido, a influência do ciclo de vida familiar no desenvolvimento desta nova família, o legado, os mitos e lealdades que são passados de geração para geração.

A necessária reorganização desse novo sistema familiar em busca do equilíbrio de extrema importância ao desenrolar desse processo familiar ora constituido. A influência que toda a família ampliada terá neste momento de mutação surpreendente, com alteração de papéis, principalmente a transformação de filha em mãe e filho em pai. Realização de ajustes

imprescindíveis como ocasionador deste conturbado pós nascimento em momento agradável.

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METODOLOGIA

Os principais autores e teóricos utilizados para a realização desta pesquisa foram Philippe Ariès, Bruno Bettelheim, Dr. Içami Tiba, Monica McGoldrick, Betty Carter, Giselda Maria Hironaka, Salvador Minuchin, Caio Mario Pereira, Debra Rosenberg, Lévi Strauss e Arnold Wald.

(7)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

08

CAPÍTULO I - História da infância, adolescência e

09

da família

1.1 - As primeiras idades da vida humana 13

1.2 - Visão da criança e do adolescente 15

CAPÍTULO II - O período que antecede a maternidade

19

2.1 - O matrimônio 24

2.2 - Legado, lealdade e mitos 25

CAPÍTULO III - As mudanças com a chegada do bebê

27

3.1 - O processo intrageracional 28 3.2 - A nova família 32

CONCLUSÃO

38

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

40

WEBGRAFIA

42

ANEXO 1 -

Palestra 43

(8)

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho monográfico é discorrer a respeito da família, considerando a influência histórica e enfocando o período pré e pós maternidade, com suas implicações na relação do casal e na individualidade de seus membros, bem como a repercussão em toda família ampliada. Com a modificação deste grupo social família, há a transformação em um sistema mais definido que, mesmo em caso de sisão, evidenciará a permanência da instituição familiar. A sua sobrevivência.

No primeiro capítulo abordaremos a evolução histórica da família, seus componentes, influenciada por aspectos culturais, religiosos e científicos e suas mutações, considerando todo o impacto dos velhos costumes nos componentes da família nuclear constituída “pós-moderna”. O capítulo segundo explanará as expectativas que antecedem a chegada deste novo membro. A maternidade como marco na vida do casal, principalmente para a mulher que sofre o impacto com as mudanças físicas, psíquicas, sociais, profissionais ... A repercussão na família ampliada, eixo vertical que, em algumas situações, serve de suporte a esta nova família. No terceiro capítulo fazemos um relato das transformações vividas, principalmente, pela mulher/mãe e pelo homem/pai, assim como as situações prazerosas e conflitantes deste momento inusitado e as perspectivas e expectativas futuras desta família nuclear constituída por três membros. A importância das adaptações de hábitos e atitudes para atingir uma organização e, consequentemente, um equilíbrio necessário para não sugestionar rupturas ao sistema ora constituido.

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CAPÍTULO I

HISTÓRIA DA INFÂNCIA, ADOLESCÊNCIA E DA

FAMÍLIA

No capítulo primeiro, abordaremos a influência cultural na

composição do primeiro e mais importante agrupamento humano: a família. Como ela se constitui , as funções de seus integrantes, suas manifestações socioeconômicas e educacionais, a influência da religião e da ciência sobre a família medieval, as mudanças evidenciadas nos componentes familiares com o decorrer dos séculos, a família pós moderna, o direito de opção da mulher e demais membros da família nuclear, com destaque aos filhos menores e aos adolescentes, com relação ao seu crescimento e desenvolvimento.

O pesquisador francês, Philippe Ariès, em sua obra, História Social da Criança e da Família, vai apontar que o conceito ou idéia que se tem da infância foi sendo historicamente construido e que a criança, por muito tempo, não foi vista como um ser em desenvolvimento, com características e necessidades próprias, e sim como um adulto em miniatura.

Nesse sentido, a história da infância surge como possibilidade para muitas reflexões sobre a forma como se entender e se relacionar com a criança no contexto familiar contemporâneo (Áries,1981).

As formações familiares são profundamente influenciadas por velhos costumes e, portanto, hábitos dos séculos passados deixam traços nas atuais famílias “pós-modernas”.

Para Giselda Hironaka (2000), que não se distancia deste enfoque, o desenvolvimento evolutivo da família está intimamente ligado ao desenvolvimento da humanidade, sendo longa, não linear e repleta de ruptura,

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de acordo com a época, interligada com os seus rumos e mutações da história. Pereira (1999) defende que a família sempre foi representada por um grupo natural de pessoas, unidos por uma dupla relação biológica: de um lado a procriação, essencial para a continuidade do grupo,de outro, as condições do meio, que postulam o modo de organização desses indivíduos para que se garanta a sobrevivência do grupo. Nesse contexto, surge a família como primeira e a principal forma de agrupamento humano.

Nas primeiras civilizações, homens e mulheres viviam em clãs, mantendo relações sexuais com aqueles que pertenciam ao grupo, sem constituir uma família ( Pereira, 1999).

No século XVII, Áries (1981) cita dois fatores que despertam especial atenção: um quanto ao poder patriarcal nas uniões e o outro quanto aos primogênitos. O poder patriarcal era definidor quanto às intencionalidades das uniões, pois, quando se tratava de casamento, ninguém contestava o poder dos pais nessa questão ( Strauss, 2003 ). Os casamentos arranjados continuavam a ser uma forma de manutenção e expansão patrimonial. Mas, uma alteração fundamental se instalou nessa “lógica econômica”, que consistiu no fim da exclusividade dos bens dirigidos aos primogênitos e, consequentemente, incentivo aos filhos mais novos. Tal mudança causou indignação social e veio acompanhada por outras mudanças socioeconômicas. No final do século XVII, a privacidade ainda era rara. As casas eram como grandes galpões, e essa ausência de delimitações fazia com que todas as coisas ficassem juntas. “Não havia local profissional, tudo se passava nos mesmos cômodos em que eles viviam com sua família. Também se dormia, se dançava...(Áries,1981). Aos poucos, alguns detalhes se modificavam, como as camas desmontáveis, que passaram a ser fixas e ganharam cortinas divisórias. Contudo, o cômodo onde ficava a cama, nem por isso passou a ser um quarto de dormir, continuava a ser um local público, onde transitavam e dormiam mais pessoas além da família (pai, mãe, filhos e parentes próximos). Essas mudanças mobiliárias indicavam uma transformação de valores, como o surgimento da ambição e da reputação. Para atingir tais valores, ninguém deveria se contentar com sua condição, e para elevá-la, muitos se sujeitavam

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a uma polida e detalhada disciplina social, que era disseminada via manuais de civilidade.

As mudanças continuaram e se intensificaram nos séculos seguintes. A família se torna mais fechada (nuclear) e sentimental, ao contrário do modelo anterior, que era mais funcional (a casa como empresa e as crianças que, após o parto, eram confinadas às amas de leite).

Surgimento da vacina que ocasionou redução da mortalidade infanto juvenil (Áries,1981).

Assim, nas famílias burguesas do século XVIII, a “nuclearização” e a interdição à masturbação assumiram progressivamente o centro do discurso, da visibilidade e, consequentemente, das preocupações. Nessa época, o problema da carne (pecado carnal) vai se transfigurando num problema do corpo (médico) e, principalmente, do corpo doente. O forte movimento industrial e a urbanização demandavam e justificavam a “normalização dos hábitos”. O empenho do controle social e de circulação da informação acabou por interditar os escritos pornográficos, por estarem associados aos atos de políticos, já que as prostitutas relatavam algumas confidências de alguns de seus clientes. Portanto, no início do século XVIII, o problema da sexualidade não estava ligado ao ato sexual em si e nem às orgias, mas ao trânsito de influências, ao poder. No final do século XVIII, o controle do corpo já estava no âmbito médico, que realizava as demonstrações do perigo físico e, sobretudo, do perigo que emana dos desejos sexuais incontrolados das crianças. A passagem do controle do corpo aos médicos, de certo modo, simplificou o problema da carne, que passou a ter o controle do contato físico: quem, quando, onde e como se toca. Assim, as interdições da sexualidade passaram para a responsabilidade médico-familiar com a instauração das inspeções feitas pelos pais nas manifestações corporais de seus filhos( Pereira, 2006). Até então, no início do século XVII, as crianças sempre eram partícipes de comentários, brincadeiras ou em cenas envolvendo seus órgãos genitais, chegando a causar constrangimento às mesmas, embora acreditassem que as crianças eram estranhas à sexualidade. À época, desconsiderava esse pudor. Era uma tradição propagada nas sociedades muçulmanas, que desconheciam o progresso científico e a reforma moral, inicialmente cristã e, posteriormente,

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leiga. No século XVIII, há profunda mudança nesta visão sexual infantil liberada. O que representava fraqueza passou a ser visto como inocência. O protecionismo ocupou o lugar da liberalidade (Áries, 1981 ).

Dessa forma, a nuclearização da família moderna corresponde a uma mudança nas instâncias dos desdobramentos do poder de alma-corpo para igreja, médicos e pais, e, também, pela crescente urbanização e industrialização. As idéias sobre o incesto divulgadas, sobretudo, no final do século XIX, invertem as idéias predominantes até então: os pais devem se distanciar dos corpos dos filhos, pois são eles próprios os alvos da curiosidade sexual infantil. Tal revelação chocou os padrões deste século, mas trouxe a possibilidade de lidar melhor com os temas ligados à sexualidade e, assim, os controles sobre a masturbação foram relaxados. Nas famílias proletárias, em meados do século XIX, as campanhas e as idéias veiculadas entre as camadas mais “baixas” eram diferentes das voltadas às camadas mais “altas” e focalizavam o controle da natalidade e a interdição à livre união. Tais preocupações com o proletariado diferiam de cem anos antes, quando as famílias pobres estavam profundamente aderidas às práticas matrimoniais e havia uma restrição à quantidade de filhos. Então, o que poderia estar se sucedendo é que o casamento estava ligado à vida comunitária das aldeias e aos modos aceitos para as transições patrimoniais. Por outro lado, com o incremento do proletariado urbano, os motivos que sustentavam as uniões e o controle da natalidade desapareceram. (Strauss,2003)

A urbanização consolidou a organização dos movimentos sociais, e esse “modus vivendi” de total desapego se mostrou perigoso ao Estado, que iniciou campanhas reforçando o valor da estabilidade, do casamento, de quartos separados, de sexos separados, de camas individuais, de famílias em casas separadas com no mínimo dois quartos, etc. ( Áries, 1981)

A família pós-moderna que está se emancipando de tantos traços dos últimos séculos, ao tentar se defender das pressões e mazelas sociais, investe seus esforços para que a casa assuma funções seculares, como resguardo (privado) e trabalho(público). A diferença em relação aos séculos passados reside em alguns elementos como abertura das relações e menores

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idealizações e resignação frente ao destino, que pode ser notada na ampliação da capacidade de se permitir fazer escolhas (Strauss, 2003) ( Ariès, 1981).

Verifica-se no período de maior miséria uma inversão da ordem familiar. A mulher passa a trabalhar e a contribuir para o sustento da casa e dos filhos, enquanto muitos homens estavam desempregados. Muda a visão sobre a mulher. (Hironaka, 2000)

1.1- As primeiras idades da vida humana

Assim que uma criança nasce, passado um tempo, começa a falar suas primeiras palavras, aprende a dizer seu nome, nome de seus pais e a sua idade.

Ressalva-se que, no século XVI ou XVII, segundo Áries, as exigências de identidade civil ainda não eram tão impostas desse modo. Considera-se normal uma criança responder a sua idade corretamente, quando questionada. Acontece que em certos lugares, como por exemplo, na savana africana, a noção de idade não se dá claramente como deveria. Nas civilizações técnicas, isso já se tornou corriqueiro. Sabemos que precisamos da data de nascimento, para fazer viagens, votar, preencher formulários, entre outros tantos. A criança logo se tornará Fulano N, da turma X. Depois de adulto, ganhará um número de inscrição juntamente com sua carteira de trabalho. Esse número passará a acompanhar seu nome. O cidadão será um número, que começa por seu sexo, seu ano e mês de nascimento de nascimento. O serviço de identidade pretende chegar à meta de que um dia todos terão seu número de registro, por isso tantas campanhas conduzindo a fazer o registro de nascimento da criança. (Hironaka, 2000)

Foi na Idade Média que surgiu o sobrenome. Um nome apenas estava muito impreciso, portanto resolveram completar esse nome com outro logo após, que muitas vezes era nome de lugares. Atualmente, a identidade da pessoa é um documento legalmente imensurável e muito preciso em questão

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numérica. Existem também outros tipos de documentos, cujo teor é de igual importância.

Acredita-se que somente no século XVIII, os párocos passaram a ter registros exatos como um Estado moderno deve ter. Essa importância da idade deu-se a partir dos reformadores religiosos e civis que impuseram isso nas camadas mais ricas da sociedade, as camadas que frequentavam colégios. (Áries, 1981)

A idade passou a ganhar uma atenção muito especial desde então. Em retratos do século XVI, já se percebe essa preocupação em ressaltar as idades e as datas das pinturas (Áries, 1981 ).

A partir do século XVII, muitas dessas inscrições começaram a desaparecer de quadros.

Referente à questão da criança, aprender seu nome e sua idade, logo após começar a falar, pode verificar-se, por exemplo, que Sancho Pança não tinha conhecimento exato da idade de sua filha. Era apenas algo inexato que descrevia que ela deveria ter uns 15 anos, ou mais, ou menos. (Áries, 1981 )

No século XVI, as crianças sabiam sua idade, mas existia um fato muito curioso em si. Por questão de boas maneiras, elas eram obrigadas a não falar claramente e responder certas reservas. Thomas Platter, humanista e pedagogo, natural de Valais, relata a história de sua vida com exatidão quando refere-se aonde e quando nasceu. Ele diz que quando se informou da data de seu nascimento, responderam-lhe que ele teria nascido em 1499, no domingo de Quinquagésima, no momento exato que os sinos chamavam para a missa. Estava aí um misto de rigorosidade e incerteza.

Os textos da Idade Média traziam a idéia de que a primeira idade é a infância que planta os dentes, e essa idade se dá quando a criança nasce e dura até 7 – sete – anos e tudo que nela nasce é denominado infante, que significa não falante, pois nessa idade a pessoa não fala bem e não forma ainda claramente suas palavras. Depois chega a segunda idade, que dura até os 14 –quatorze- anos. Posteriormente, vem a adolescência, que compreende o período até 21 – vinte e um – anos, segundo Constantino, entretanto Isidoro, se estende até 28 – vinte e oito - anos.

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Em relação à idade dos brinquedos, (Áries, 1981), no século XIV, as crianças brincavam com cavalo de pau, boneca, um moinho, pássaros amarrados. Em seguida vem a idade da escola, onde os meninos aprendem a ler ou segurar um livro, um estojo, e as meninas a fiar. Depois a idade do amor, das festas dos passeios de rapazes e moças, as cortes de amor, as bodas e as caçadas, isto mais tarde. Idade da guerra, dos homens da lei, das ciências ou dos estudos. (Áries, 1981)

1.2–Visão da criança e do adolescente

Com o sentido dado por Áries ao crescimento e desenvolvimento da criança e do adolescente, a história da infância surge como possibilidade para muitas reflexões sobre a forma como se entende e se relaciona com a criança

no contexto familiar contemporâneo. A primeira tese de Áries é uma tentativa de interpretação das sociedades

tradicionais. A segunda tese foi a pretensão de mostrar o novo lugar assumido pela criança e a família em nossas sociedades industriais.

A sociedade tradicional desconsiderava as fases da criança e do adolescente com a importância dada aos dias de hoje. Esses viviam integrados, misturados aos adultos, mesmo sem formação ou preparação específica. Participavam dos trabalhos e dos jogos. Havia prejuízo às etapas do seu desenvolvimento, em período anterior a Idade Média. A socialização e a aprendizagem davam por acaso. O ensino era realizado por jovem de 14 – quatorze – anos às crianças ou junto aos adultos com a realização de tarefas, prejudicando seu desenvolvimento da sensibilidade e da memória, visto seu afastamento muito cedo do convívio com os pais. A denominada paparicação era percebida apenas quando muito pequena. Mesmo assim, quando ocorria um óbito, logo era substituída por outro ou outra sem sentimento de perda ou luto. Refere-se ao infanticídio, quando crianças morriam asfixiadas na cama

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dos pais, onde dormiam. A igreja não se preocupava em batizar o corpo infantil. Quanto ao aspecto social, ser transferida para outra família, era uma constante nesta época. Os pais não se opunham nem se importavam com as conseqüências às crianças (Áries, 1981)

Alberti garantia a existência da família extensa, como moralista (Século XV) ou como os sociólogos tradicionalistas franceses do Século XIX, exceto em certas épocas de insegurança, quanto a linhagem -linha de parentesco-. ( Strauss,2003).

As trocas afetivas e as comunicações sociais davam-se fora da família (vizinhos, amigos, amos e criados, crianças, velhos mulheres e homens). Os historiadores consideravam os encontros como visitas e festas, forma de “sociabilidade” entre as crianças e os adolescentes. Tudo bem diferente do que se vê nos dias atuais. Não havia um Sistema Educacional específico, embasado pelo respeito às características individuais e preocupado com a funcionalidade, com objetivos específicos de crescimento e desenvolvimento social, psicológico e cognitivo.( Áries, 1981)

Observou-se considerável mudança deste enfoque a partir do final do Século XVII. A escola substituiu a aprendizagem como forma de educação. A criança assumindo o seu papel infantil e se colocando distante do meio familiar dos adultos, embora num sistema de quarentena que antecedia sua integração no meio social. Essa quarentena era a instituição colegial. Considerada uma clausura como dos loucos, pobres e prostitutas, cujo nome foi dado como escolarização. Essa separação denominada “a razão” (criança) deve ser interpretada como uma das faces do grande movimento de moralização dos homens promovido pelos reformadores católicos ou protestantes ligados à igreja, às leis ou ao Estado. Tudo isso foi possível com a cumplicidade sentimental das famílias, sendo essa a segunda abordagem do fenômeno que o autor gostaria de sublinhar. A família se torna o local de afeição com grande importância entre os cônjuges, pais e filhos, enfatizando a educação. (Ariès, 1981 )

Surge um novo sentimento no contexto familiar, nos séculos XIX e XX: os pais interessados no sistema educacional, o qual seus filhos pertenciam. Acompanhavam-nos com solicitude habitual. ( Ariès, 1981)

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Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, culminou-se com qualquer distinção relativa à filiação, sendo proibida discriminação em relação aos filhos, antes chamados legítimos, ilegítimos ou adotados. (Wald, 2005 )

A família tem uma nova estrutura. Surge a família nuclear ( pai, mãe e filhos). Organiza-se em torno da criança. A importância estabelecida no crescimento e desenvolvimento da criança deu lugar a uma prole menos volumosa. Essa revolução escolar e sentimental foi seguida de um “malthusianismo” demográfico, redução voluntária da natalidade – século XVIII. Surgiu outro estudo de Áries, 1981, que foi a polarização da vida social , no século XIX, em torno da família e da profissão e o desaparecimento, salvo raras exceções, da antiga sociabilidade.

Até o início do século XX, segundo Hironaka, 2000, as uniões livres, sem a figura do matrimônio, mas fundadas no amor recíproco entre os indivíduos, eram discriminadas. Os filhos só eram reconhecidos como filhos legítimos se nascidos dentro do organismo familiar, pois do contrário, eram duramente excluídos, ficando sem nenhuma proteção legal. Foi após meados deste século, que as transformações ocorreram com nova legislação aderindo às tendências mundiais, incorporando princípios que garantiriam proteção aos filhos havidos de relações não matrimonializadas.

O autor Áries, 1981, cita que as duas teses que acaba de escrever parece que não se dirigiram para o mesmo público. A segunda, que parecia voltar-se para a explicação do presente, foi imediatamente explorada por psicólogos e sociólogos. Especialmente o EUA, onde as ciências humanas se preocupavam mais cedo do que em qualquer outro lugar com as crises da juventude (o jovem com repugnância em passar para o estado adulto). Acredita-se ser a consequência do isolamento prolongado dos jovens na família e na escola.

O final dos séculos XIX ao XX, são considerados por Áries, 1981, e Strauss, 2003, como o da adolescência. A juventude aparece como depositária de valores novos. Passa-se de uma época sem adolescência a uma era onde a adolescência é a idade favorita. Assim, tem-se o privilégio da juventude no

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século XVII, da infância no século XIX e adolescência no século XX. (Áries, 1981)

A sociedade Medieval, na visão de Áries, 1981, não sentia a criança com características distintas, entretanto não se percebia desprezo, mas distante do afeto e preocupação imprescindíveis ao seu bem estar físico, social e moral. As famílias eram constituídas de um conglomerado de homens, mulheres, adolescentes e crianças sem distinção, entretanto, Strauss, 2003, não a desconsiderava família.

Segundo Hironaka, 2000, e Ariès,1981, a história da família se confunde com a história da humanidade. A família como forma de agrupamento primário, na concepção de Cunha,1999. As crianças eram vítimas de um sistema ameaçador, seja educacional ou social. A transformação destes conceitos foi visível no final do século XVII e início do século XIX até o XX. A partir daí, o respeito e dignidade à criança e adolescente é testemunhado em canções, reações institucionais e sistema legal vigente, com a promulgação da Constituição Federal Brasileira de 1988.

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CAPÍTULO II

O PERÍODO QUE ANTECEDE A MATERNIDADE

Neste capítulo abordaremos as expectativas da chegada do bebê, tanto para a mulher, futura mamãe, como para o futuro papai. Também para o futuro desta criança e seu legado. A maternidade como divisor de águas na vida da mulher, seja nos aspectos físicos, como sociais, profissionais, emocionais, assim como para o próprio relacionamento conjugal. O impacto no eixo vertical, onde a família ampliada servirá de recurso, auxílio a esta nova família. Minuchin (1982), Carter e Mcgoldrick (2001), Cavour (1996)

Ao ocuparem-se da nova função de pai e mãe, o casal assume novos papéis sociais que podem exigir uma adaptação de suas identidades individuais e da identidade do casal. Desta forma, esta é uma transição profunda que representa mudança completa de novos rumos da vida do casal (Brasileiro, 2002 ).

A vida de uma mulher modifica-se muito quando ela concebe um filho. Segundo Winnicott (1982), ocorre uma gradual transformação tanto nos sentimentos quanto no corpo da mulher que concebeu. Lento, mas seguramente, ela acaba por acreditar que o centro do mundo está situado em seu próprio corpo. Como Winnicott relata:

“À medida que vai ficando cada vez

mais certa de que em breve se converterá em mãe, começará a arriscar tudo numa só

jogada, como se costuma dizer.

Principiará a aceitar o risco de preocupar-se com um só objetivo, o menino ou menina que vai nascer. Esse pequeno ser humano será seu, no mais profundo sentido possível, e você será dele ou dela”.

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(Winnicott,1982,p.20).

Para Minuchin,1982, tanto a mulher quanto o homem vivem esta

transformação de formas e momentos diferentes. O compromisso da mulher com o casamento começa com a gravidez, enquanto para o homem, o sentimento paterno começa com o nascimento ou bem mais tarde.

Rosenberg, 2004, relata que nada na vida de uma mulher muda mais do que a maternidade. Tornar-se mãe é para sempre, irreversível e, para a maioria, apaixonante, pois envolve o corpo, a alma, a maneira como dividimos nosso tempo, entre outros. Muda também a forma que nos encaram e a forma que nos encaramos. A maioria se apaixona com a maternidade, entretanto se surpreende pela intensidade e variedade de emoções. Nas primeiras semanas de gestação, as mudanças de humor são normais devido a grande variação hormonal.

Considerando esta perspectiva, a mulher pode sentir mais o impacto da maternidade, seus conflitos e questões emocionais. Bettelheim,1988, também fala dos conflitos e desejos ambivalentes que a mulher vivencia com a maternidade. Para ele, os pais têm um papel fundamental na vida dos filhos, pois têm a função de mostrar-lhes quem ser e como ser. Devido ao peso deste importante lugar na criação dos filhos, ocorrem muitos questionamentos emocionais. Para Bettelheim,1988, a maioria dos casais, ao tomar conhecimento da gravidez da mulher, passa de um marasmo para um sentimento de esperança, mas são acometidos de grande ansiedade e preocupação. Chegam a se deparar com uma ambiguidade de sentimento. Algumas mulheres que não desejavam o filho, assim que se depara com aquele bebê, passam a se apaixonar por ele. Ao contrário, outras que tanto o desejavam, não se encantam pelo momento da maternidade, chegando a se decepcionar, sem encontrar a gratificação que tanto sonhavam. Carter e Mcgoldrick, (2001).

Estes sentimentos e pensamentos podem ocorrer também devido as mudanças hormonais. Depois do nascimento do bebê, os três meses seguintes são frequentemente considerados como parte da gravidez. Eles são mais precisamente identificados como o quarto trimestre. Durante este período,

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ocorrem mudanças endócrinas mais abruptas do que as mudanças hormonais da puberdade, os ciclos menstruais ou até mesmo a gravidez. Como sempre acontece nas mudanças hormonais, existem mudanças no afeto e instabilidade que tornam a nova mãe mais vulnerável à resposta do seu marido, da família ampliada e de seu bebê. Bettelheim, ( 1988), Carter, (2001).

Muitas vezes, a chegada do bebê dá início a uma experiência de sentir-se ignorada, isolada especialmente para a mãe. Sobrecarregada com a maior complexidade das tarefas. Para Bradt em McGoldrick, 2001, e Minnicott, 1982, a depressão pós-parto é um risco nesse período e pode ser avaliada com base no complexo entrelaçamento dos fatores biopsicossociais.

Assim, a maternidade tem uma complexa composição de sentimentos e desejos ambivalentes. Ambivalências estas que todas as mães compartilham, mas algumas sentem mais e outras menos. Ou seja, faz parte da chegada no lugar de mãe viver muitos conflitos e mudanças, que se tornam singulares na vida de cada mulher. Como relata Winnicott ,1982, para ser mãe, a mulher terá que passar por muitas experiências e é por causa disto que ela poderá estar apta a enxergar com uma clareza especial certos princípios fundamentais da assistência ao bebê e tende a ser a “melhor” pessoa para cuidar dele.

No enfoque de Carter e McGoldrick, 2001, a mulher, dentro de nossa cultura, é a principal responsável pela criação, educação e responsabilidade geral pelo filho. Não importa se ela tem dupla jornada, é considerada errada quando algo não vai bem.

Na família denominada “tradicional”, os papéis de gêneros eram definidos, bem claros. Em nossos dias, com as mudanças que vêm ocorrendo no âmbito familiar – divórcio, monoparentalidade...- novos papéis estão sendo construídos nas famílias acerca do feminino e masculino. Carter (2001), Pereira (1999).

Normalmente, a mãe é o progenitor cuja perspectiva fica obscurecida pelo cuidado à criança. Sua intenção de voltar ao trabalho torna-se um ponto crítico no processo familiar. Ela pode estar motivada por um desejo de recuperar seu senso de eu e reequilibrar seus relacionamentos adultos e obter validação social, mas se sente culpada por não estar perto de seu filho, acompanhando o seu desenvolvimento. ( Minuchin,1990)

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de um bebê poderão desequilibrar os sentimentos e as suposições de igualdade de escolha em relação ao trabalho e à vida no lar.

O modelo psicanalítico, segundo Lewis, 2000, também enfatizava a visão do desenvolvimento humano como um processo primariamente doloroso, em que a mãe e a criança eram vistas como adversárias. As suposições à cerca do desenvolvimento nos primeiros anos de vida do bebê levou a um determinismo psicológico que considerava a maternidade responsável por qualquer coisa que acontecesse à criança. A fantasia de que as mães eram poderosas levou a uma tendência a culpá-las por tudo aquilo que desse errado e a esperar que elas fossem perfeitas, generosas e sábias. Minuchin (1982)

A literatura e a mídia continuam a focar a mãe como o componente crucial do desenvolvimento sadio da criança. Os pais ainda são representados como adjuntos periféricos (normalmente para proporcionar um pouco de apoio extra para a mãe), particularmente até que a criança seja verbal e não use mais fraldas. De acordo com Lewis em McGoldrick, 2001, as tias, as avós e outros parentes quase nunca são mencionados na literatura sobre o desenvolvimento da criança..

Na atualidade, com outra visão, os casais igualitários acreditam que, após o nascimento do filho, a divisão das tarefas domésticas e dos cuidados ao bebê serão bem distribuídos. Entretanto, esta transição tende a assinalar uma divisão de papéis tradicionais, contradizendo os valores ditos modernos do casal (Clulow, 1996).

Mesmo quando o casal possui intenções igualitárias, mães e pais se divergem em seus cuidados e atitudes para com o filho. As mulheres tendem ao cuidado, à maternidade, enquanto os homens se preocupam mais com o sustento, com o papel de provedor. Isso se dá pela noção tradicional de que a mulher é quem deve ficar encarregada da manutenção doméstica e dos cuidados com a criança. Sendo assim, a divisão de tarefas do casal acaba sendo mais tradicional do que eles esperavam (Brasileiro,2002; Carter e Macgoldrick, 1995; Clulow, 1996;)

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Considerando o aspecto horizontal e vertical das gerações, decidir ter um filho significa o começo de um distanciamento em relação ao eixo horizontal do casamento, para um realinhamento vertical das gerações do futuro e do passado.

A família ampliada é um recurso para a família nuclear em momentos de calma e perturbação, isso significa que as outras gerações (mais velhas, intermediária e mais jovem) serão afetadas pelo nascimento do bebê. Sendo assim, muitas vezes a família nuclear recorre à família ampliada para solicitar ajuda com o novo ser.( Betty & MacGoldrick, 2001)

Em certas situações, um conjunto de avós tem dificuldade em aceitar o outro conjunto como iguais. Tornar-se avós remete a um estágio mais tardio do ciclo de vida e faz lembrar a realidade finita da própria vida. Além disso, promove uma mudança em relação ao filho ou filha, podendo o avô ou a avó assumir papel secundário neste relacionamento.

Em certos casos, os novos pais podem justificar um afastamento da família ampliada pela nova condição inserida. Muitas vezes, os rompimentos em relação à família ampliada e a super intensidade da relação dos pais com os filhos proíbem que haja uma maior intimidade com os avós maternos e paternos e demais membros da família. (Pereira,1999)

“Com a transição para a paternidade, a família se torna um grupo triplo, o que a transforma em um sistema permanente”. (McGoldrick,1995, p.42) Se esse novo sistema familiar é deixado por um dos cônjuges, esse permanecerá, enquanto num casal sem filhos que se separa não sobreviverá nenhum sistema. Sendo assim, a transição para a parentalidade pode ser considerada uma “transição chave” no ciclo de vida familiar.

Podemos perceber que a maternidade é um período de transformações profundas e definitivas na vida da mulher. Desde a gravidez onde o corpo se transforma, passando pelas mudanças hormonais do pós parto até a rotina de cuidar de uma criança, trabalhar e viver todos os outros aspectos da vida, tentando sentir o mínimo de culpa possível. As mudanças são muitas, então podemos considerar que uma mãe nunca voltará a ser aquela mulher de antes, pois a chegada da maternidade é irreversível. (Zinker, 2001), ( Minuchin,1982)

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2.1: O matrimônio

Para Rosenberg, 2004, a transição entre o matrimônio e a expectativa da chegada do bebê não é simples. É uma mudança que vai acontecer de casal para família. É uma transformação que exige negociação entre o casal, em diversas áreas do casamento. Tanto homens como mulheres vivenciam expectativas pouco realistas em relação ao que a vida deveria ser, neste momento. A maneira como o casal se relaciona no cotidiano, as diferenças individuais e atitudes em relação a forma de educar um filho, sexo, finanças, tarefas domésticas, cansaço podem proporcionar certa tensão entre os dois componentes do casal, enquanto se adaptam a nova condição de pais.

“Muitos casais (...) se sentem tão sobrecarregados de responsabilidades profissionais e com os cuidados com o

bebê, e tão exaustos com a privação de sono, que brigam por qualquer motivo. (Rosenberg, 2004, p.152)”.

Às vezes eles esquecem que o casamento é tão importante quanto o filho que virá. O objetivo deve girar em torno de estabelecer uma família na qual cada um se sinta respeitado, amado e valorizado.

A tranqüilidade vem com o tempo, quando o casal vai descobrindo que esse estágio não é perene. Após o primeiro ano, o bebê fica mais independente, menos necessitado de atenção e conforto, e o casamento vai voltando para o seu lugar de origem.

Para que a vida sexual retorne ao normal, é necessário que a mulher esteja emocional e fisicamente preparada e tenha tempo sem o bebê para desejar ficar com o marido.

“ Quando o corpo se recupera e o bebê tiver um padrão de sono vagamente previsível, o sexo voltará a ser atraente. (Rosenberg, 2004, .p 161).

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2.2: Legado, Lealdades e mitos

Quando nasce uma pessoa numa família, ela já vem encarregada em ocupar determinado lugar, além de ser depositária de diversas expectativas. A família transmite padrões que vão se repetindo ao longo das gerações e que são carregados de mitos, tabus e legados ( Krom, 2000).

Stierlin,1981), Groisman,1996, Lobo e Cavour, 1996) foi quem desenvolveu este conceito de legado: ”o elemento nuclear do legado é o vínculo de lealdade que une o delegante com o delegado” ( idem, p 30). Isto significa que a família espera lealdade desse novo indivíduo, lealdade essa que vai sendo cobrada de geração a geração.

A noção de lealdades invisíveis foi desenvolvida por Nagy e Spark,1983, Apud Groisman, Lobo e Cavour, 1996; Salomão, 2003 e Krom, 2000, partindo do pressuposto de que cada família tem suas leis que vão sendo herdadas no ciclo de vida familiar (Groisman, Lobo e Cavour, 1996).

Ainda conforme estes autores, as lealdades invisíveis criam uma rede de obrigações no sistema familiar, onde cada membro da família vai sentir-se subordinado às expectativas que deverá cumprir.

Segundo Krom, 2000, os fatores que se mostram mais importantes nas lealdades são os vínculos psicológicos. Quando algum membro da família não corresponde a essas expectativas de lealdades, pode haver uma sobrecarga nos laços familiares, bem como um enfraquecimento dos sentidos organizadores que as lealdades atribuem à vida.

A mesma autora nos diz que os períodos transacionais, como o nascimento de um filho, são importantes, pois facilitam a passagem dos conteúdos intergeracionais, principalmente aqueles determinados pelas lealdades familiares. A escolha do nome do filho, muitas vezes, obedece a essas lealdades. Notamos isso quando há repetição de nomes na família ou predominância de nomes com sentidos religiosos.

“Torna-se evidente que esse sentido que perpassa as gerações é transmitido intergeracionalmente e permeia todas as estruturas relacionais da família. Vai dando origem aos significados atribuídos às experiências e determinam as

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hierarquias de valores, influenciando a maneira como a família vê o mundo e o sentido que as pessoas atribuem à própria vida”. (Krom, 2000, p.24).

Através de seus estudos dos mitos familiares, Krom, 2000, pode concluir que estes são os conteúdos mais abrangentes na família, podendo organizá-los e direcioná-los.

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CAPÍTULO III

AS MUDANÇAS COM A CHEGADA DO BEBÊ

Nesse terceiro capítulo, vamos discorrer sobre o impacto da chegada do primeiro filho na família nuclear de um casal, as adaptações necessárias ao seu equilíbrio e organização, a fim de não ocasionar ruptura ao sistema constituído, a sistemática deste novo contexto familiar, que se move através do tempo e que sofre, inevitavelmente, as interferências desse.

A maternidade, segundo Susan Maushart, 2006, traz grandes transformações na vida da mulher. Sua personalidade e suas relações afetivas jamais serão as mesmas. A chegada do primeiro filho ocasiona uma visão diferente de si própria, como mãe, assim como do casal. Os medos, as frustrações e as confusões dos primeiros momentos da maternidade não são prova do fracasso pessoal, mas do fracasso de uma miríade de estrutura que não funciona de expectativas extravagantes e de demandas conflitantes.

“Eu poderia receber troféus ou condecorações pelo que fiz e faço, mas não existe nada neste mundo que se compare à emoção de ser mãe”. (Ana Maria Braga – Rede Globo de TV/Programa Mais Você– Em 09/08/2011).

Minuchin,1982, vê o sistema familiar como um sistema totalmente aberto, em mutação, que está constantemente em troca com o meio extra- familiar e que opera dentro de contextos sociais específicos.

A família estrutural é, segundo este autor, “o conjunto invisível de exigências funcionais que organiza as maneiras pelas quais os membros da família interagem” (idem, p.57). Portanto, a família deve ser capaz de se adaptar às mudanças internas e externas e de se transformar, de forma a atender às novas circunstâncias, sem perder sua continuidade.

O que diferencia as funções dentro do sistema familiar são os subsistemas. O subsistema pode ser caracterizado por um indivíduo, por

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díades (como mãe-filho, marido-esposa), ou até mesmo por geração, sexo, interesse ou função. Logo, cada indivíduo pertence a diferentes subsistemas.

Sendo assim, pode-se dizer que a família é um sistema, uma unidade, que ao mesmo tempo é um subsistema de unidades mais amplas, como a família ampliada, a sociedade... Ela é, em si, uma totalidade e, simultaneamente, é uma parte de um todo ainda maior, sempre em transformação. ( Minuchin, 1982)

3.1: O processo intrageracional (ciclos)

Para estudar o momento de configuração da nova família nuclear, faz-se necessário um estudo do ciclo da vida familiar. Segundo Carter e McGoldrick,1995, a família é mais que uma soma de partes: o ciclo de vida individual acontece sempre dentro de um maior contexto, o ciclo de vida familiar, sendo este o contexto primário do desenvolvimento humano.

Para que se possa compreender os problemas emocionais e as etapas pelas quais os indivíduos passam, à medida que se movimentam juntos ao longo da vida, é de extrema importância o estudo da perspectiva do ciclo de vida familiar.

Conforme essas autoras, ao estudar o ciclo de vida, deve-se ter o cuidado de não aplicar normas rígidas do que é dito “normal”, pois neste caso, qualquer desvio de norma se tornaria patológico. Ao mesmo tempo, não se deve super enfatizar as mudanças que vêm ocorrendo na família, a fim de não quebrar o significado do relacionamento entre as gerações. O que elas apresentam é o ciclo da vida em termos do relacionamento intergeracional na família, sendo a família um sistema que se move através do tempo.

Ainda segundo Carter e McGoldrick,1995, a família vista como sistema movendo-se através do tempo possui características particulares, que não são comuns a nenhum outro sistema ou organização. As famílias podem incorporar membros somente através do nascimento, de adoção ou casamento e os membros só podem ir embora através da morte. Sendo assim, não há outro sistema sujeito a tais limitações.

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A riqueza do contexto familiar, como as gerações se movem através da vida, dá-se pelas diversas maneiras como membros da família dependem uns dos outros, num movimento de interdependência.

De modo geral, o estresse familiar aparece com maior intensidade em momentos de transição de um estágio para outro no processo de desenvolvimento da família. Os diferentes autores, estudiosos do assunto, dividiram o ciclo de vida familiar em diversos números de estágios.

O fluxo horizontal é o desenvolvimento da família no ciclo de vida, a partir do nascimento de uma criança. Nele está contida a ansiedade produzida pelos estresses na família conforme ela avança no tempo, ou seja, as transições naturais que ocorrem no ciclo de vida e também imprevistos, como uma morte precoce ou o nascimento de uma criança doente, por exemplo. “Mesmo um pequeno estresse horizontal em uma família em que o eixo vertical apresenta um estresse intenso irá criar um grande rompimento no sistema” (Carter e McGoldrick, 1995,p.12).

Em determinado momento, esses estressores verticais vão convergir com o fluxo horizontal, quando nele for apresentado um evento de estresse. Neste ponto, o grau de ansiedade gerado por essa convergência será determinante para perceber como a família irá manejar suas transições ao longo do ciclo vital.

“Torna-se imperativo, consequentemente, avaliar não apenas as dimensões do estresse do ciclo de vida atual, como também suas conexões com temas, triângulos e rótulos familiares que acompanham a família no tempo histórico” (Carter e McGoldrick, 1995, p. 12).

Embora todas as transições do eixo horizontal ou desenvolvimental tragam alguma tensão à família, quando há interseção com o eixo vertical ou transgeracional, o sistema apresenta uma maior ansiedade, pois este seria um estresse herdado de gerações anteriores.

As autoras citam um exemplo de uma pessoa que teve pais que tiveram prazer em ser pais, que lidaram com essa tarefa sem grande ansiedade. Quando essa pessoa tiver o seu primeiro filho, ela produzirá somente os estresses normais de um sistema, expandindo suas fronteiras.

Se, por outro lado, em sua família de origem, a paternidade foi vivenciada como um fardo e não foi bem manejada, a transição para a

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paternidade pode provocar uma ansiedade aumentada nesse indivíduo e sua parceira. “Quanto maior a ansiedade gerada na família em qualquer ponto de transição, mais difícil ou disfuncional será a transição” (idem, p.12)

Fatores culturais também são muito importantes para compreender-se a forma como as famílias passam pelo ciclo de vida. Mesmo os estágios do ciclo de vida são relativos à cultura, bem como a época histórica, como citado no capítulo I.

Da geração passada para a atual, diversas mudanças ocorreram nos padrões do ciclo de vida familiar, devido, principalmente, à diminuição do índice de natalidade, maior expectativa de vida, mudança social no papel da mulher, divórcios, recasamentos e diferentes tipos de união.

A mudança no papel do feminino nas famílias é um fator central nas alterações do ciclo de vida familiar. As mulheres sempre tiveram papel fundamental na família, porém hoje a mulher pode optar por não ficar em casa apenas cuidando da família e ter sua carreira. São elas que estão mudando radicalmente o tradicional ciclo de vida familiar.

Além disso, outras mudanças recentes nos padrões familiares fazem com que o conceito de ciclo de vida familiar “normal” seja difícil de ser definido. Questões como o aumento da população homossexual, filhos fora do casamento, jovens que jamais casarão e alto índice de divórcios configuram uma nova forma de ver a família, fora do antigo padrão de “normalidade”.

“Nós consideramos proveitoso conceitualizar as transições do ciclo de vida familiar como requerendo uma mudança de segunda ordem, ou uma mudança do próprio sistema. Os problemas de cada fase, muitas vezes, podem ser resolvidos por uma mudança de primeira ordem, ou uma reorganização do sistema envolvendo uma mudança incremental” ( Carter, MacGoldrich, 2001,p.16).

O casamento passa a ser compreendido como uma união de dois indivíduos. Porém, na realidade ele representa as mudanças de dois sistemas inteiros e uma sobreposição que desenvolve um terceiro subsistema.

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Assim como todos os estágios de desenvolvimento do ciclo de vida familiar, tornar-se pai ou mãe apresenta características de mudança no sistema e no funcionamento de seus membros.

Tornar-se pais é uma mudança de estágio do ciclo da vida familiar, que requer do adulto avançar uma geração e se tornar cuidador da geração mais jovem. Quando os pais não conseguem fazer essas mudanças, surgem, na nova relação familiar, problemas como brigas entre o casal devido a dificuldade em assumir a responsabilidade, recusa ou incapacitação de comportar-se como pai ou mãe, dificuldades em impor limites e exercer a autoridade necessária, segundo Carter, 2001.

Em geral, quando aparecem grandes questões nesta fase, isso se dá pelo fato de os pais não estarem, de alguma forma, aceitando a fronteira geracional entre eles e seus filhos. Nesse caso, deve-se ajudar os pais a obterem “uma visão de si mesmos como parte de um novo nível geracional com responsabilidades e tarefas específicas em relação ao próximo nível da família” (Carter e McGoldrick, 1995, p. 19).

Segundo as autoras acima citadas, num casamento dito moderno, onde ambos os pais possuem carreira e trabalham fora, a grande questão nessa fase de transição é quanto a divisão das responsabilidades e cuidados à criança e as tarefas domésticas. Esse é um problema central na maioria dos conflitos conjugais neste momento.

Além disso, esse estágio é vivido de maneira diferente por homens e mulheres. Nesse momento ocorre uma colisão de paradigmas, crenças e valores. Fatores como a entrada da mulher no mercado de trabalho e a crença na igualdade dos sexos colaboram para essa colisão, já que com o nascimento do filho, a mulher é encaminhada em direção a vida doméstica, o que não acontece necessariamente com o homem (Carter e McGoldrick, 1995, p. 12). Rocha, 1993, entende o nascimento do primeiro filho como um evento psicossocial ligado ao ciclo de vida e vivido como uma descontinuidade em relação à estabilidade anterior, podendo provocar um “trauma”, e até mesmo desencadear uma crise familiar. Isso porque a chegada do bebê provoca uma ruptura que se impõe à vida do casal, ou seja, “acarreta mudanças profundas e implica, entre outras coisas, na aquisição de um novo estatuto familiar e de um

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novo papel para cada um dos cônjuges” (Rocha, 1993, p.20). Da mesma forma relatam Carter e MacGoldrick,1995.

3.2: A Nova Família

Inúmeras mudanças acontecem tanto na vida do casal, como na de sua família ampliada, exigindo que o sistema se adéque à nova situação com a chegada do bebê. Para isso, é necessária uma reorganização tanto do subsistema conjugal, no que diz respeito `a relação do casal, aos papéis de gêneros, bem como de todo o sistema familiar, no sentido de reconfigurar as fronteiras familiares que sofreram alteração com as exigências do novo membro na família.( Minuchin,1982, p.26)

A presença de uma criança na casa poderá impedir que os pais tenham privacidade, mesmo em seu próprio quarto. Existe a ameaça de tempo excessivamente curto e níveis de preocupação ocupando a mente do casal para que eles possam ter preservadas suas intimidades. Contudo, é o excessivo envolvimento da família nuclear nos relacionamentos progenitor-criança que poderá corroer os relacionamentos conjugais. Para os casais, cujo vínculo era mais de fusão do que de intimidade, a chegada de um filho aciona o triângulo da família nuclear, pondo em risco a estabilidade do relacionamento dos pais, com a posição de proximidade ameaçada pelo bebê. A presença e o comportamento do bebê podem fazer com que um dos pais se aproxime dele, deixando o outro distante. Comumente, o triângulo muda, de modo que o pai fica na posição distante e a mãe e a criança se aproximam.

Para este tema, Bradt, 2001, define intimidade como sendo:

“(...) um relacionamento carinhoso e sem fingimento, uma revelação sem risco de perda ou ganho por qualquer uma das partes, é dar e receber, uma troca que aumenta porque facilita a consciência dos eus, de suas diferenças e semelhanças.É uma elaboração discriminante e encorajadora das facetas de cada pessoa. Ela cria e sustenta o sentimento de pertencer a, ao mesmo tempo em que percebe a singularidade de cada indivíduo. A intimidade

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encoraja a continuidade e é a energia sustentadora do movimento humano através do tempo. Ela permite que não pertençamos apenas ao presente, mas também aqueles que vieram antes e aqueles que vêm depois ( em McGoldrick, 2001, p.212/213)”.

Nos primeiros meses, após o parto, é praticamente impossível dar conta de tudo como antes. É necessário nesse momento esperar menos de si e aprender a tolerar mais o “caos”. A organização virá quando a mãe conseguir se recuperar totalmente do parto e colocar o sono em dia.

“Nas primeiras semanas e meses de vida do bebê, é difícil manter tudo sob controle; nenhuma mãe precisa da preocupação extra de preencher as supostas expectativas dos outros (...) (Rosenberg, 2004, p.86)

Primeiramente precisamos estabelecer novas prioridades. É difícil saber o que fazer primeiro se não decidirmos o que é mais importante. Cada família tem o seu próprio esquema. Tem que ajustar um pouco aos novos padrões e abandonar a idéia de que precisa cuidar de tudo todos os dias. À medida que adquirimos eficiência e nos sentimos mais à vontade com a nova função, o pânico e a exaustão são substituídos pela confiança e o medo de não ser capaz de vencer os desafios de ser mãe dará caminho às inúmeras alegrias que o bebê nos traz. ”Permita-se certa desorganização durante algum tempo, para que possa redescobrir sua identidade (...); tenha paciência consigo mesma (...) ( Rosenberg, 2004,p.54).

É essencial trabalhar o reequilíbrio das responsabilidades entre o casal. Alguns homens e mulheres acham que, quando se tornam pais, a mulher não deve trabalhar. Muitas vezes, com isso, surgem conflitos entre o casal, com relação às necessidades de quem vêm em primeiro lugar, o trabalho, os compromissos, etc. Normalmente nunca surge a questão de quem está mais bem qualificado para cuidar da criança. Mas a suposição, quase sempre, é a de que a esposa é o progenitor que deve ficar em casa. Poucos casais compartilham igualmente as tarefas domésticas e as responsabilidades pelos cuidados dos filhos.

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Trabalhar ou não fora de casa? Durante quantas horas? Quem deve cuidar do bebê enquanto se está no trabalho? Como aceitar a sua opção? Algumas mulheres que antes de o bebê nascer tinham certeza de não quererem voltar ao trabalho, vêem-se ansiosas para retornar a carreira profissional satisfatória. Outras, que pensavam que ficariam entediadas cuidando do bebê, percebem que adoram ficar em casa e abominam a ideia de deixar o filho com outra pessoa e retomar o trabalho. Ainda há mulheres que aproveitam o descanso do trabalho para reavaliarem os planos de carreira e pensarem na possibilidade de mudar de profissão. ( Rosenberg, 2004) (MacGoldrick, 2001)

Antes do bebê nascer, por maior que fosse a certeza de que a maternidade e a carreira seriam equilibradas, quando seguramos nosso filho nos braços, escolhas que pareciam óbvias durante a gravidez – como a escolha da creche ou a queda no orçamento porque paramos de trabalhar – começam a se complicar. Surgem questões que nunca nos ocorreram.

Trabalhar ou não é uma decisão importante que interfere na configuração familiar e na criação do bebê. Quando a mãe resolve não trabalhar, muitas vezes ela se sente menos importante como se o trabalho de cuidar do bebê fosse menos valorizado do que trabalhar fora de casa. Já quando a mãe decide voltar para o trabalho, muitas vezes ela acha que está prejudicando o seu relacionamento com o bebê por passar menos tempo com ele.( Rosenberg, 2004) ( Rocha, 1993)

De acordo com Rosenberg, 2004, a mãe não deveria se preocupar tanto com isso, pois quando despende tempo diariamente curtindo o bebê, ele terá uma vida ótima. Trabalhando ou não fora de casa, se bem cuidado emocional e fisicamente, o bebê se desenvolve.

Ainda não existe nenhuma preparação dos homens para as tarefas muito mais complicadas e duradouras de criar os filhos. Os pais, segundo Rosenberg, 2004, raramente têm alguma experiência com crianças pequenas, de modo que eles precisam aprender a arte da intimidade com bebês. Isso, basicamente, requer um tempo sozinho com a criança; quando as suas esposas estão presentes, pode ser extremamente difícil para eles assumirem a responsabilidade primária por um filho ou desenvolver laços afetivos estreitos.

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Existem alguns pais que estão descobrindo o prazer e o desafio de se tornarem um pai progenitor participante, ativamente envolvido na esfera doméstica, um igual em relação a esposa e um pai completo para os filhos. Existem menos homens descobrindo a paternidade no casamento do que no divórcio. A típica noção do bom pai sempre foi: “Ele é um pai responsável, sempre trabalhou duro e sustentou sua esposa e filhos”.

Durante a transição para a paternidade, ao tornar-se uma família com filhos pequenos, os pais precisam assumir a pesada responsabilidade de criar os filhos, ao mesmo tempo em que tentam manter seu próprio relacionamento conjugal.

Segundo Bradt em McGoldrick, 2001, a saída de todos estes conflitos é encontrar o equilíbrio entre a vida conjugal, a paternidade e a vida profissional. Como ele diz:

“Super enfatizar os relacionamentos com o cônjuge e amigos e negligenciar os relacionamentos pais-criança significa correr o risco de negligenciar os filhos e as pessoas mais velhas, e sacrificar as lições e a nutrição da continuidade. Super enfatizar os relacionamentos pais-criança significa por em risco o casamento e pode levar a vínculos emocionais excessivamente intensos entre pais e filhos. Reequilibrar a distribuição do tempo, energia e conexões psicossociais pode ativar poderosos recursos em um sistema para curar a si próprio”. (Bradt em McGoldrick,2001,p.214).

Os pais devem estar atentos a assumir suas responsabilidades de adultos, para Zinker, 2001, deixando que o poder esteja firmemente em suas mãos, pois para desenvolver uma família saudável eles precisam ter uma dose de equilíbrio de proteção e usá-la com seus filhos.

Grande parte da vida muda logo quando o bebê chega em casa. Muitas mães admitem se sentir irreconhecíveis, emocionalmente e fisicamente, até para si mesmas. O corpo fica diferente, as emoções fogem de controle, a eficiência e a competência caem drasticamente. As prioridades e os interesses tornam-se limitados, e a maneira como se passam os dias e as noites muda de forma repentina, principalmente nas primeiras semanas.( Zinker,2001)

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“O nascimento do primeiro filho é também o nascimento de uma mãe – portanto, vá devagar e não seja muito dura consigo mesma. Seus esforços aos poucos começarão a compensar e você sentirá a vida mais fácil; com tempo, paciência e experiência, conseguimos nos recuperar fisicamente e nos adaptar à maternidade, aprendendo como conciliar nossas diversas funções e desenvolver confiança e competência” (Rosenberg, 2004,p.25,26).

Mães de primeira viagem, segundo Rosenberg, 2004, abraçam a maternidade pensando na alegria de cuidar do recém-nascido, jamais contando com o estresse da transição. Muitas não admitem para outras pessoas as dificuldades, descrevendo muitas vezes que estão dando conta de tudo sozinha. É preciso coragem para ser a primeira a reconhecer como é difícil a tarefa de se tornar mãe.

O relacionamento entre mãe e filho cresce e se aprofunda com o decorrer dos anos. Mulheres que, por diversas razões, não conseguem cuidar do recém-nascido são capazes de desenvolver excelente relacionamento com o bebê. Com pouco tempo e atenção, o vínculo se desenvolve naturalmente.

Ser boa mãe não requer que a mulher desista de tudo por causa do bebê. Por mais adorável que ele seja, passar cada minuto cuidando dele não preenche todas as necessidades. A mãe não deve fazer tudo para o bebê se não puder pensar um pouco em si mesma. É necessário cuidar

emocionalmente de si para ser generosa e carinhosa com o bebê. “Cuide-se, para cuidar do bebê. Não é egoísmo (...). Se a mamãe não estiver

feliz, ninguém na família estará. (Rosenberg, 2004, p.34/35).

Para Rosenberg, 2004, muitos pais de primeira viagem sentem ciúmes do relacionamento da esposa com o bebê. Antes de o bebê nascer, a pessoa mais importante na vida da mulher provavelmente era o marido e quando vem o bebê, muitas vezes, o marido não se sente a vontade com o fato do filho ocupar aquele lugar de honra. Acontece também de muitas mulheres concentrarem-se tanto no bebê que acabam ignorando o marido.

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“Quando somos mães pela primeira vez, é tentador transformar o bebê no centro de nossas atenções, mas manter nosso casamento também é muito importante quando há amor”. (Rosenberg, 2004,p.173)

O casal vai se estabilizando na medida em que vai descobrindo que esse estágio da vida dos pais não é eterno. O primeiro ano passa, o bebê precisará cada vez menos de atenção e conforto e o casamento, aos poucos, vai voltando para o seu lugar.

Esta é a formação da nova família com a chegada do primeiro filho, com suas diversidades de situações, às vezes conflitantes e limitadoras, mas em sua maioria gratificante e prazerosa, à medida que se busca o reequilíbrio, a reorganização com o passar dos dias, meses e anos e a eficiência em lidar com tamanha transformação. Alguns anos, e ele já estará bem mais independente, desde que os pais assumam os seus papéis na educação, como diz o médico psiquiatra, Dr. Içami Tiba:

“O erro mais frequente na educação do filho é colocá-lo no topo da casa. O filho não pode ser a razão de viver de um casal. O filho é um dos elementos. O casal tem que deixá-lo, no máximo, no mesmo nível que eles. A sociedade pagará o preço, quando alguém é educado achando-se o centro do universo”( Palestra, Dr. Tiba, médico psiquiatra, Curitiba, 23/07/2009).

Segundo o Dr. Içami, 2009, os comportamentos errados devem ser punidos, mas não em seu quarto, muito menos lhe privando de ver televisão, navegar em internet, redes sociais e outros, mas revivendo as conseqüências de seu ato. Cita o exemplo: “Queimou índio pataxó, a pena ( condenação judicial) deve se passar o dia todo em hospital de queimados. Isto é educar”. (Dr. Içami Tiba, Palestra,Curitiba, em 23/07/2009).

Segundo o Dr. Tiba, 2009, a educação é de responsabilidade do pai e da mãe. Os avós devem-se abster deste comprometimento: “Não é cabível palpite”( Dr. Tiba, Curitiba, 2009).

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CONCLUSÃO

No caminho percorrido por este estudo, discorremos sobre a importância do nascimento de uma criança numa família constituída apenas por um casal e suas implicações socioeconômicas. Não podemos negar ser este um período crítico, por se referir a uma fase de grande transformação na vida dos novos pais como no ciclo familiar.

Em toda a transição do ciclo de vida da família é visualizado um certo nível de tensão. Essa ansiedade poderá ser vivenciada em escala, com maior ou menor tensão, de acordo com a história vivida pelas gerações anteriores, sua cultura de valorizar ou não determinados aspectos de convivência e procriação.

Desejar ter um filho é idealizá-lo, fantasiar um momento mágico, em certas situações, acreditando que este novo membro poderá resolver problemas familiares ou do próprio casal. É a realização de um sonho de todo homem e de toda mulher. Entretanto, a chegada do bebê ocasiona transformações tão abruptas, que alguns casais ressentem, chegando a situações intoleráveis, podendo atingir a separação.

Em outros casos, ocorre uma união maior entre os pais, destacando conceito de missão. Determinados casais projetam no filho suas expectativas, daí o bebê chega com sua missão pré-estabelecida. Lealdades e mandatos predeterminados.

Neste momento inusitado da vida do casal, o vínculo conjugal é de alguma forma interrompido com a dedicação exclusiva e vital dispensada ao bebê. A relação íntima sofre alteração. Novas responsabilidades se evidenciam, dificuldades no trato com as atividades domésticas e novos cuidados decorrentes do novo membro. Verifica uma redução do tempo disponível, conflitos emergem, dificuldades emergem. Os pais têm

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comportamentos sinuosos na administração deste contexto. É hora de buscar um replanejamento e uma reorganização, seja no trato doméstico, social, econômico e psicológico, a fim de reequilibrar comportamentos e atitudes, consequentemente, o contexto do lar.

Não desejamos que este tema fosse esgotado com a exposição ora efetuada. A reflexão acerca deste vasto assunto deve prosseguir, pois é de extrema importância para a saúde social e mental da família nuclear que se constitui.

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