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Envelhecimento e as condições de reprodução social da pessoa idosa no município de Rio das Ostras: uma análise preliminar a partir da experiência do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para pessoa idosa

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

DEPARTAMENTO INTERDISCIPLINAR DE RIO DAS OSTRAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

JUMARA SILVEIRA MARTINS

ENVELHECIMENTO E AS CONDIÇÕES DE REPRODUÇÃO SOCIAL DA PESSOA IDOSA NO MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS: Uma Análise Preliminar a Partir da Experiência do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para pessoa

Idosa.

Rio das Ostras – RJ 2016

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JUMARA SILVEIRA MARTINS

ENVELHECIMENTO E AS CONDIÇÕES DE REPRODUÇÃO SOCIAL DA PESSOA IDOSA NO MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS: Uma Análise Preliminar a Partir da Experiência do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para pessoa

Idosa.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Graduação em Serviço Social da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Serviço Social, sob orientação do Professor Juan Retana Jiménez.

Rio das Ostras – RJ 2016

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JUMARA SILVEIRA MARTINS

ENVELHECIMENTO E AS CONDIÇÕES DE REPRODUÇÃO SOCIAL DA PESSOA IDOSA NO MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS: Uma Análise Preliminar a Partir da Experiência do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para pessoa

Idosa.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Graduação em Serviço Social da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Serviço Social, sob orientação do Professor Juan Retana Jiménez.

Aprovado em ___/___/_____

_______________________________________ Orientador: Profº. Juan Retana Jiménez

Universidade Federal Fluminense

_______________________________________ Profº. Atonianna Defillippo

Universidade Federal Fluminense

______________________________________ Assistente Social Aclésio Rangel Siqueira

Supervisor de Campo

Rio das Ostras – RJ 2016

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso aborda o tema Envelhecimento e as Condições de Reprodução Social da Pessoa Idosa no Município de Rio das Ostras: uma análise preliminar a partir da experiência do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para pessoa Idosa. Neste sentido, buscou-se conhecer as condições de vida de uma parcela desses indivíduos e as estratégias de sobrevivência utilizadas por eles mediante a renda insuficiente.

Nesta direção, será contextualizado o capitalismo contemporâneo, tanto em sua constituição, como seu estabelecimento nos países periféricos, incluindo o Brasil. Assim será debatido sobre os governos que o vem implementando e as características de seus mandatos em sintonia ao capital vigente em nosso país, onde será exposto a influência de tal sobre os direitos sociais. A Seguridade Social também será abordada caracterizando o tripé que a compõe, bem como traremos a discussão sobre a atuação do Estado frente aos direitos intituídos mediante a configuração neoliberal.

A partir do contexto em questão, ao delinearmos o perfil dos usuários do Serviço de Convivência, buscaremos refletir sobre as vivências desses idosos e seu acesso aos direitos sociais, e assim, como tais tem influenciado em suas condições de vida frente a minimização dos mesmos ao capital vigente.

Palavras chave: Capitalismo contemporâneo, direitos sociais, idosos, estratégias de sobrevivência.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 07

CAPÍTULO I

ABRINDO O DEBATE SOBRE O BRASIL IDOSO: ESTADO E POLÍTICAS SOCIAIS...11

1.1 - Estado, Neoliberalismo e Política social no Brasil contemporâneo... 11

1.2 - A seguridade social na contramão do neoliberalismo: idosos... 17

CAPÍTULO II

AS POLÍTICAS SOCIAIS PARA IDOSOS NO MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS...29

2.1 – Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para pessoa Idosa no municipio de Rio das Ostras...29

2.2 - Perfil da população

usuária...32

2.3 – Estratégias de

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CONCLUSÃO...48

REFERÊNCIAS...53

ANEXOS...60

Anexo 1: Entrevista Semiaberta...61

Anexo 2: Termo de Compromisso...67

Anexo 3: Lei municipal de nº 818/2003 - Lei de regulamentação do Programa de Atenção e Atendimento a Terceira Idade...69

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INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso descende de uma análise a partir da prática de estágio realizada durante o segundo semestre do ano de 2013 ao primeiro semestre de 2015, no Programa de Atenção e Atendimento à Terceira Idade, denominado Projeto Feliz Idade, atual Serviço de Convivência e Fortalecimento de vínculos para pessoa Idosa – SCFVI.

O objetivo deste trabalho é conhecer as estratégias de sobrevivências dos idosos inseridos neste Projeto, mediante a minimização dos direitos sociais.

Assim foi objetivado a partir da inserção neste local por meio do estágio supervisionado, pelo qual houve a aproximação das políticas públicas voltadas para a população idosa, gerando o confronto com as normatizações nelas embutidas em sintonia com a corrente neoliberal, fator este que reflete de forma significativa nas condições de sobrevivência desses idosos mediante a realidade pauperizada que vivenciam. Esse entendimento e maior clareza sobre as políticas sociais, que foram sendo adquiridas a partir da prática de estágio com as experiências vividas em combinacao com o debate teorico-metodologico no processo de ensino, levou-me a questionar como esses idosos faziam para suprir suas necessidades básicas mediante a insuficiência da renda. Esse fator deixou-me ainda mais intrigada a partir dos dados obtidos por meio do levantamento do perfil dos usuários, que serão expostos no decorrer do trabalho, que atestou a grande quantidade de idosos que possuem condições precárias de vida.

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Neste sentido, trataremos no presente trabalho o fato de que a Constituição Federal de 1988 foi um grande marco para construção dos direitos sociais no Brasil e essencial para que regulações fossem criadas, como SUS, a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso, Politica Nacional de Assistência Social, entre outras. Tais leis deveriam “assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade”, bem como afirma o site do Ministério de Desenvolvimento Social – MDS (www.mds.gov.br)

Solange Teixeira, em seu artigo para revista Katalysis, “Descentralização e participação social: o novo desenho das politicas sociais” (2009), problematiza essas leis ajustadas ao modo de produção capitalista. A autora expressa que essas leis vieram consolidando um novo modelo de políticas sociais, pois foi a partir das mesmas que iniciativas privadas com ações de proteção ao idoso, passaram a ser legalizadas e incentivadas. Da mesma forma, a ideia de participação da sociedade civil foi trazida cooperando com a retirada do Estado quanto as suas responsabilidades sociais, onde seu dever é descentralizado e a sociedade civil é co-responsabilizada.

O Capítulo VII, art. 230 da Constituição Federal de 1988 exemplifica o debate: “A família, a sociedade e o Estado tem o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito a vida.

1° - Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares”.

Desta forma, o Estado se isenta de responsabilidade, lhe transferindo primeiramente a família e a sociedade, atuando apenas em caso de abandono ou extrema pobreza. Assim ocorre, segundo Yasbek (1993), porque as políticas sociais no Brasil são configuradas de forma que sejam voltadas para o enfrentamento da “questão social” no âmbito privado, permitindo ao Estado conformar suas ações particularmente aos setores pauperizados. E a autora acrescenta declarando que:

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“As políticas sociais no contexto das prioridades governamentais, nos últimos vinte anos, vem se caracterizando por sua pouca efetividade social e por sua subordinação a interesses econômicos, configurando o aspecto excludente que marca os investimentos sociais do Estado”. (Yasbek, 1993: 45)

No Brasil, essa minimização e descentralização ocorreu de forma mais intensificada nos anos de 1990, principalmente durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) em comparação as presidências anteriores e posteriores. O governo Lula (2003-2010), que o sucedeu, foi marcado pela ampliação do acesso das classes pauperizadas as políticas sociais, fazendo com que a miséria diminuísse. Entretanto, assim agiu sem mexer na estrutura econômica do país, não abstendo-se de dar prioridade ao capital, permitindo assim que as políticas permanecessem sob os anseios econômicos.

O caráter regulador de intervenção estatal subordinada aos interesses financeiros do capital vem fazendo com que as políticas sociais tomem um formato que permite a reprodução da desigualdade social, visto que o capital a conforma também aos seus anseios através do Estado, que trabalha para que ordem seja mantida.

No município de Rio das Ostras, os programas e benefícios voltados para os idosos também fazem-se permeados por características do modelo neoliberal, fazendo-se mínimos, insuficientes e excludentes. Por meio do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para pessoa Idosa, que tem por objetivo de acolher e desenvolver atividades com idosos a partir dos 60 anos, promovendo integração e qualidade de vida e fortalecimento de vínculos sociais e familiares, configurado como uma política de proteção social básica, foi identificado que este fator traz grandes impactos sociais para a vida dos idosos, pois estes em particular, apresentam ter grandes gastos com medicamentos, por terem diversos problemas de saúde, bem como com alimentação e moradia. De forma que, mesmo que procurem na assistência

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alternativas para sua sobrevivência, através dos benefícios que lhes são concedidos, estes não alcançam ter suas necessidades básicas supridas de maneira plena.

Portanto, visto que as políticas sociais estão configuradas de acordo com o sistema capitalista neoliberal, possuindo critérios para concessão de benefícios que alcancem os usuários no caso da família não poder sustê-los, ou de estar em condições de extrema pobreza, pretendeu-se pesquisar de forma mais ampla quais são as estratégias utilizadas por essa população para se fazer sobrevivente no sistema vigente.

Assim, objetivando pautar o presente trabalho neste âmbito, foi delineado no primeiro capítulo sobre o processo de criação e implementação das políticas sociais no Brasil sob a perspectiva do capitalismo contemporâneo, bem como será abordada a seguridade social voltada para idosos na contramão da atual conjuntura.

O segundo capítulo estará voltado para a apresentação do SCFVI, bem como idosos nele inseridos serão apresentados por meio do levantamento do seu perfil. A partir de então serão conhecidas suas estratégias de sobrevivência por meio de seus relatos de vida.

Os dados obtidos para identificação do perfil dos usuários do Projeto Feliz Idade foram coletados no primeiro semestre do ano de 2014, sendo realizado um levantamento do perfil dos idosos por meio de 54 formulários aleatórios enviados pela Secretaria Municipal de Bem-Estar Social - SEMBES, para realização de um censo.

Neste primeiro semestre de 2016 novas entrevistas, de caráter qualitativo, foram realizadas com 10% dos idosos que hoje encontram-se inseridos no Serviço de Convivência, que totalizam em média, cerca de 80 idosos, com o intuito de alcançar uma aproximação que nos permitisse conhecer as estratégias que eles utilizam mediante suas condições de vida.

Sendo assim, este trabalho se baseia numa pesquisa de análise qualitativa e descritiva, priorizando a pesquisa bibliográfica, documental e de campo, onde conheceremos a vivência desses idosos na atual conjuntura.

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CAPÍTULO I

ABRINDO O DEBATE: O BRASIL IDOSO, ESTADO E POLÍTICAS SOCIAIS

1.1 - Estado, Neoliberalismo e Política social no Brasil contemporâneo.

Após a crise dos anos 1970, com o enfraquecimento do Welfare State nos países capitalistas centrais, a ideologia neoliberalista começou a ser implantada, de forma que medidas foram criadas visando a retomada do crescimento econômico. Esta ideologia se estabeleceu como um contraponto à intervenção estatal, em defesa de um Estado Mínimo, onde este teria que retrair sua atuação em relação às políticas sociais, criando um ambiente macro-econômico estável para ação dos mercados (Ugá, 2004). Sobre o período Ugá expõe:

"Nos países avançados, as propostas neoliberais consistiam na redução do papel do Estado, no enfraquecimento dos sindicatos e na flexibilização do mercado de trabalho". (Ugá, 2004: 56)

No entanto, apenas mais tarde nos países Latino-americanos, e consequentemente no Brasil (embora este nem ao menos tenha vivido o Welfare State), a corrente teórica neoliberal é implantada, conforme veremos a seguir.

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O processo de desenvolvimento econômico dos países da América Latina, nos anos 1950 e 1960, se deu por meio do endividamento externo. Entretanto, esse desenvolvimentismo entrou em crise em 1979, que ocorreu segundo Ugá porque:

Houve um aumento da dívida externa em função do aumento das taxas de juros internacionais e uma drástica redução da entrada de recursos externos no país. (Ugá, 2004:56)

Desta forma, foi necessário renegociar a dívida externa. Todavia, para que assim ocorresse, os países da América Latina deveriam aceitar e seguir um conjunto de propostas de políticas e reformas estruturais, o qual chamaram de "Consenso de Washington". Este foi elaborado com embasamento no cunho neoliberal, que apresentou propostas como: “[...] redução dos gastos públicos; redução do papel do Estado na economia, redirecionando o gasto para áreas desinteressantes para o investimento privado; reforma tributária [...]; taxas de juros determinados pelo mercado; entre outros (Willimson, 1992)

Assim, o Estado passa a atuar somente como complementador do mercado, entrando onde ao setor privado não interessa entrar, ocorrendo também a retração de sua atuação voltada para as políticas sociais. Por meio das recomendações do Banco Mundial no início dos anos 1990, as políticas deveriam tornar-se focalizadas e compensatórias, de forma que os recursos fossem direcionados somente para os mais miseráveis.

Certo é que as políticas sociais fizeram-se um grande ganho para a classe trabalhadora, sendo fruto de suas reivindicações. Entretanto, mediante a convocação do Estado para implementá-las, o capital reconheceu sua funcionalidade para o sistema, criando um modelo de assistência social que cumpra funções políticas e ideológicas que respondam aos interesses tanto dos trabalhadores quanto do capital (Mattos, 2015). A mesma autora expressa:

"Aos trabalhadores, principalmente através dos programas de transferência de renda [...] é garantida complementação de renda para sua sobrevivência material, e ao capital a (re)naturalização

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da questão social, o crescimento econômico e a redução dos custos da reprodução dos trabalhadores, estratégias convenientes e necessárias à valorização do sistema de produção". (Mattos, 2015:118)

Ou seja, o capital, principalmente com o advento do neoliberalismo, veio configurando e reconfigurando as políticas sociais de maneiras que estas contenham em suas leis e normas propostas alinhadas às suas formulações.

De acordo com Mattos (2015), a assimilação desta corrente teórica, política e econômica neoliberal ocorreu no Brasil durante a década de 1990, fazendo-se continuada pelas gestões políticas sucessoras. Fernando Collor de Melo, que assumiu a presidência em 1990, teve suas iniciativas pautadas por este projeto, tendo seu governo caracterizado pelo desmonte do sistema de proteção social, principalmente em relação a seguridade, visto que os programas sociais do seu governo eram de caráter populista, clientelista e assistencialista.

Collor teve que deixar a presidência em 1992 por conta de processo de impeachement realizado devido a inúmeras denúncias de corrupção, tendo seu vice presidente, Itamar Franco, que assumir o cargo (1992-1994). No âmbito social, em seu governo foi aprovada a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS, n. 8.742 de 1993), que foi de grande importância visto que por meio dela foram apontadas as condições para que a assistência fosse considerada como direito social. Yasbek (1997), expressa o ganho obtido através dessa Lei:

“Inegavelmente, a Loas não apenas introduz novo significado para a assistência social, diferenciando-a do assistencialismo e situando-a como política de Seguridade voltada à extensão da cidadania social dos setores mais vulnerabilizados da população brasileira, mas também aponta a centralidade do Estado na universalização e garantia de direitos e de acesso a serviços sociais qualificados, ao mesmo tempo em que propõe o sistema descentralizado e participativo na gestão da assistência

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social no país, sob a égide da democracia e da cidadania”. (Yasbek, 1997:9)

Entretanto, esta fez-se resultado de pressões por parte de movimentos organizados pela sociedade. De acordo com Couto (2004), na área social, o governo de Itamar realizou poucas ações ou quase nulas no sentindo de se responsabilizar pela execução dos direitos sociais contidos na Constituição Federal de 1988, visto que o maior objetivo durante seu mandato presidencial fez-se voltado para o projeto econômico, buscando conter o déficit público e a inflação, tendo como estratégia o Plano Real. As metas desse plano entraram em choque com os conceitos da Constituição de 1988, que já vinha sendo desconstituída desde o governo de Collor. O argumento para tal fator se respaldava na justificativa de que a Constituição tornava o país ingovernável. Durante o governo de Itamar, Fernando Henrique Cardoso era Ministro da Fazenda, o que potencializou a eleição do mesmo a presidente em 1994, visto que no início da aplicação do Plano foi detectada uma relativa melhoria na qualidade de vida dos brasileiros, o que foi cessado ao passar os primeiros impactos das medidas econômicas.

Segundo Mattos (2015), a corrente neoliberalista se fez assimilada principalmente durante o período do governo de Fernando Henrique Cardoso, que assumiu a presidência em 1995, tendo o fim do seu mandato em 2003. Este visou com prioridade controlar a inflação e estabilizar a moeda, bem como ergueu em seu discurso uma reforma do Estado embasada na perspectiva do capitalismo contemporâneo, o que gerou um índice elevado de desemprego, a tentativa do desmonte dos direitos trabalhistas, um processo de privatização intenso e várias reformas na Constituição de 1988.

Neste sentido (Couto, 2004):

“Com o apoio do Congresso, [FHC] conseguiu aprovar inúmeras mudanças no texto constitucional para garantir as condições de implementação do seu plano econômico [...] Os esforços governamentais

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nessa área foram ínfimos, a ponto de, em 1995, o Relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) ter denunciado o descaso do governo Fernando Henrique Cardoso com as políticas sociais”. (Couto, 2004: 149)

Referência que pode ser complementada pela fala de Pereira (2000):

Nesse relatório, o TCU, com base em análises das ações e das contas do governo indicou que os gastos governamentais com o combate à pobreza, com investimentos na educação e com o programa de reforma agrária eram menores do que os de 1994, do governo Itamar (Pereira, 2000: 170)

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O governo Lula (2003-2010) deu seguimento a essa lógica. Embora tenha criado condições e ampliação ao acesso da classe subalterna as políticas sociais, lançando programas que tiveram grande importância na vida dos trabalhadores brasileiros, ele adotou medidas que mantiveram a política econômica do governo de Fernando Henrique Cardoso, sendo embasada no ajuste fiscal permanente, nas metas de inflação e no câmbio flutuante, comprometendo-se também com a transferência de renda aos mais pobres e ao capital financeiro, por meio do pagamento dos juros dos títulos da dívida pública1.

Desta forma, ao se priorizar o setor financeiro, as políticas públicas voltadas para saúde, educação, assistência, habitação recebem pouco investimento, contribuindo para os interesses financeiros do capital. O governo Dilma (2010-2016) dando a

mesma sequência, adotou

medidas que visam o corte em direitos previdenciários, com a justificativa de se economizar. A exemplo, Mustafa expressa:

É claro e notório que a orientação teórico-metodológica das políticas sociais na era Lula-Dilma não se respalda em direitos universalizados, mas sim, no principio da focalização, seguindo os preceitos neoliberais para este campo. Nesta direção passam e orientam-se pela lógica da focalização na pobreza extrema, a exemplo dos programas de transferência de renda, estigmatizando os pobres, mantendo e naturalizando a pobreza, e, ainda, responsabilizando o indivíduo pelo seu bem-estar. (Mustafa, 2015:101)

A mesma autora expõe que assim ocorre justamente porque o capitalismo contemporâneo vem buscando meios para se expandir, fazendo assim com que os

1

Por meio de pressões dos organismos internacionais e dos movimentos sociais, devido ao crescimento da pobreza nos países periféricos, que o governo Lula ergueu programas com o intuito de erradicar a

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direitos sociais passem a ser mercantilizados, permitindo que o Estado deixe de ser protagonista na garantia dos mesmos.

A constituição deste fator se consolida na herança histórica da cultura política brasileira, pois ao objetivar ingressar no mundo desenvolvido tardiamente, houve uma enorme produção e acumulação de desigualdades sociais nessa busca. Neste sentindo as formas de enfrentamento para este fenômeno social se baseiam em ações assistencialistas e clientelistas que vem sendo perpassadas até os dias atuais.

A forma assistencialista como se apresenta a assistência social no Brasil pode ser analisada a partir da constatação de que: do ponto de vista político, as intervenções no campo da política social e, particularmente, na assistência social, vem se apresentando como espaço propício à ocorrência de práticas assistencialistas e clientelistas, servindo também ao fisiologismo e à formação de redutos eleitorais. (Yasbek, 1993:41)

Assim, os atendimentos voltados para a população no Brasil fazem-se e assim permanecem pautadas em ações que focalizam a pobreza e consideram as mazelas sociais como fruto do fracasso individual daqueles que não conseguiram se adequar ao mercado.

A constante tentativa de explicar o campo assistencial como decorrência de desajustes individuais vai conformando respostas às demandas que vão desde a repressão individual até a benemerência, plasmada em princípios moralizantes. (Couto, 2004:165)

Este fator, como parte da tradição histórica brasileira, confere a assistência social um caráter assistencialista de benefício, conveniências eleitorais, clientelismos e ações compensatórias que transferem os interesses públicos para o âmbito privado, visando

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que as demandas do capital sejam correspondidas em detrimento das necessidades sociais. E o Estado cumpre bem essa função desestruturando as políticas no campo social, se desresponsabilizando na implementação das mesmas.

Essa retirada do Estado em relação as políticas públicas gera impactos diretos na vida dos idosos, dos quais trataremos de forma mais ampla no próximo capítulo. No momento nos ataremos a descrever o processo do desenvolvimento das políticas sociais a partir da institucionalização da Constituição Federal de 1988, bem como serão elencados os principais marcos legais e institucionais voltados para pessoa idosa no Brasil, como veremos a seguir.

1.2 - A seguridade social na contramão do neoliberalismo e as políticas para idosos

A partir do estabelecimento da Constituição Federal de 1988 e da institucionalização em 1993 da LOAS que a assistência social passou a ser considerada como política pública, ao integrar o tripé do sistema de Seguridade Social, composto também pelas políticas Previdenciárias e de Saúde, sendo estabelecido da seguinte maneira: saúde, direito de todos e dever do Estado; Previdência, devida mediante contribuição; e assistência, prestada a quem dela necessitar independente de contribuição (Couto, 2004).

Segundo Pereira a Constituição de 1988 visou a organização da Seguridade embasada nos seguintes objetivos:

“I - universalidade da cobertura e do atendimento (saúde); II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais (saúde, previdência e assistência);

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III – seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços (assistência);

IV – irredutibilidade do valor dos benefícios (saúde, previdência e assistência);

V – equidade na forma de participação do custeio (previdência)

VI – diversidade da base de financiamento (saúde, previdência e assistência)

VII – caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a participação da comunidade, em especial dos trabalhadores, empresários e aposentados (saúde, previdência e assistência)”. (Pereira, 2002: 36)

Sendo composta por essas três grandes áreas, a Seguridade se configura em um conjunto de políticas sociais que objetivam amparar o cidadão, sendo norteada pelos princípios da universalidade e da igualdade. Para isso, suas propostas indicam a realização de ações conjuntas e articuladas entre as políticas públicas, por meio de princípios que direcionem sua operacionalidade.

Entretanto, o cenário em que foi instituída não fez-se favorável para sua implementação, pois sua formulação era contrária ao ajuste neoliberal pela qual foi submetida.

Visto que as disposições constitucionais não eram auto-aplicáveis, dependendo da regulamentação por leis ordinárias, “todos os avanços polêmicos nela contidos foram tratados de forma genérica e remetidos a legislação complementar para sua efetivação” (Pereira, 2002), com o propósito de adiar algumas definições. Por meio dessa estratégia viu-se a possibilidade do Poder Executivo se isentar de responsabilidades na efetivação do Sistema.

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Apesar dos embates políticos que objetivaram desconstitucionalizar a configuração da Constituição de 1988, esta firmou-se como um grande passo no reconhecimento dos direitos no Brasil, introduzindo “significativos avanços no ordenamento legal brasileiro, ampliando direitos e corrigindo iniquidades” (Pereira, 2002).

Desta forma, também foram visados grandes avanços na perspectiva da melhoria da qualidade de vida da pessoa idosa, visto que por meio das leis instituídas os direitos dessa população vieram obter o propósito de ser garantidos, proporcionando meios para manutenção das suas necessidades básicas. Segundo Yasbek e Silva (2014), as necessidades e limitações vivenciadas pela população idosa só começam a pertencer a agenda pública governamental como prioridade com a promulgação da Carta Magna de 1988. Quanto a configuração dos direitos dos idosos Pereira e Leite expressam:

A seguridade social consiste num conjunto de políticas sociais, cujo fim é amparar e assistir o cidadão e sua família em situações como a velhice, a doença e o desemprego. (Pereira e Leite, pp. 3)

E a Constituição reconhece:

O dever da família, da sociedade e do Estado de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar social e garantindo-lhes o direito à vida. (Brasil, 1988)

Entretanto, segundo Fernandes e Santos, sua concretização ocorreu por meio do incentivo e impulso que a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização

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das Nações Unidas (ONU) davam aos países em desenvolvimento a adotarem medidas que firmassem direitos para os cidadãos, bem como, no âmbito voltado para os idosos, estimulava medidas que fomentassem o envelhecimento saudável, com direitos e dignidade. Outro fator que influenciou a construção da Constituição Federal de 1988 foi os movimentos societários que surgiram em meados dos anos de 1980, que contribuiu para que a carta constitucional viesse versar “sobre a proteção jurídica ao idoso, a qual impõe à família, à sociedade e ao Estado o dever de amparar os idosos” (pp. 53. Uvo e Zanatta. IN: Fernandes e Santos).

Esse movimento contribuiu para posicionar na cena pública os idosos como um novo sujeito político que reivindicava direitos a uma velhice com dignidade. (Yasbek e Silva, 2014: 107)

Com efeito no alcance dos seus direitos, na composição do tripé da Seguridade, a política de assistência a pessoa idosa, de acordo com Pereira e Leite, pressupõe cobertura em todas as unidades, sejam elas no âmbito federal, estadual, municipal ou no distrito federal, com leis e ações que visem a proteção básica e especial para essa população. Assim ocorre através de apoio financeiro a serviços, programas e projetos, para que seja instaurada uma rede de proteção que inclua centros de convivência, casas lares, abrigos, atendimentos domiciliares, entre outros. A assistência é definida pelos artigos 203 e 204 da Carta Magna, os quais se referem da seguinte forma:

Artigo 203 - A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:

 A proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;

 O amparo as crianças e adolescentes carentes;  A promoção da integração ao mercado de trabalho;

 A habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;

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 A garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou tê-la provido por sua família, conforme dispuser a lei.

Artigo 204 – As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no artigo 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes:

 Descentralização político administrativa, cabendo a coordenação e a execução dois respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como as entidades beneficentes e de assistência social;

 Participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. (Brasil, 1988)

Por meio do estabelecimento e definição da assistência, esta fez-se caracterizada como política social, visando o atendimento de populações antes excluídas. Por este fator, Pereira (2007) em seu artigo: “A assistência social prevista na Constituição de 1988 e operacionalizada pela PNAS e SUAS”, expressa o significado alcançado por esta:

Ganhou um paradigma norteador, centrado na cidadania; ressignificou-se, assumindo a identidade de política de Seguridade Social; e se introduziu nos ordenamentos jurídicos, nos currículos das universidades, na consciência e nos discursos intelectuais e políticos formadores de opinião, nos debates parlamentares, na agenda dos governos e de organizações da sociedade civil. Transformou-se igualmente em objeto de estudos e pesquisas; em matéria suscitadora de polêmicas; em bandeira de luta de grupos simpatizantes (e até militantes) e em ‘espinha atravessada na garganta’ de liberais conservadores que, até hoje, não a reconhecem como direito devido. (Pereira, 2007: 65)

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Nesse contexto, a assistência fez-se o ganho de lutas, sendo assim estabelecidos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado.

No âmbito da saúde, a Constituição encarrega o Estado de elaborar políticas sociais e econômicas que permitam o acesso universal e igualitário aos serviços (Moura, 2013), estando estas atreladas a redução do risco de doença e de outros agravos, visando a promoção, proteção e recuperação. Seu grande passo se deu também na concessão do esboço do que seria o Sistema Único de Saúde, lhe atribuindo a coordenação e a execução das políticas, indicando como se daria a atuação desse órgão administrativo e os objetivos que deveria perseguir.

Desta forma, todos os cidadãos fazem-se alcançados por essa política pública, inclusive os idosos. Pereira e Leite expõem o objetivo da política de saúde do idoso, a qual além de nortear todas as ações no setor da saúde e indicar as responsabilidades institucionais, visa:

A promoção do envelhecimento saudável, a prevenção de doenças, a recuperação da saúde, a preservação da melhoria e reabilitação da capacidade funcional dos idosos (Pereira e Leite, pp. 10)

Nesse campo, o setor da saúde tem encontrado avanços em relação aos seus programas, “buscando a prevenção, evitando o adoecimento, não se tornando portadores de doenças crônicas, podendo ser evitadas por exames em relação à diabetes, hipertensão, nutrição, osteoporose, quedas, saúde bucal, depressão e vacinação”. (Idem, pp. 3-4)

No entanto, certo é que, desde a Constituição Federal houveram muitas conquistas com relação as políticas públicas, todavia, não pode-se esquecer dos muitos desafios que precisam ser visados, enfrentados e rompidos para que essa política se efetive de maneira qualificada, sendo necessário que se implemente uma

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articulação intersetorial, não apenas no campo da saúde, mas no tripé da Seguridade, os quais deveriam ter plena articulação entre si.

Diferente da saúde que é instituída como direito de todos, a política previdenciária faz-se um seguro social para contribuintes. Quando este então perder sua capacidade de trabalho por doença, invalidez, morte, idade avançada, desemprego, maternidade ou reclusão, a renda lhe é garantida.

A previdência social também é responsável por implementar um benefício para não-contribuintes, por meio do Benefício de Prestação Continuada (BPC), sendo este garantido pela LOAS. Porém, para que o idoso tenha acesso ao mesmo, ele não pode obter renda, bem como só o receberá se sua família não obtiver condições de ampará-lo (mesmo se essas condições fizerem-se mínimas e precárias), levando em consideração a pobreza absoluta como critério de elegibilidade. Ou seja, muitos idosos não recebem benefícios porque ou estão fora do nível de pobreza estipulado, ou mesmo pela idade que é estabelecida, como mecanismos que expressam a seletividade existente nas políticas sociais. Couto fala do motivo pelo qual as políticas assim são consolidadas:

pode-se inferir que, embora a concepção de assistência social porte uma dimensão de ‘provisão social’, que tem por base a noção de direito social, a mesma é plasmada no contexto de uma sociedade que historicamente vinculou o campo dos direitos sociais à versão de compensação àqueles que, pelo trabalho, eram merecedores de ser atendidos socialmente. Sendo assim, o campo dos direitos, na sociedade brasileira, é marcado por um processo contraditório, próprio da relação acumulação de capital versus distribuição de renda. Ou seja, o que está em jogo para que sejam efetivados os direitos sociais é a possibilidade, ou não, nos parâmetros dessa sociedade, da ampliação de investimentos de capitais em áreas não lucrativas. (Couto, 2004:167)

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Assim ocorre porque o modelo de seguridade é estabelecido sob medidas embasadas no modelo neoliberal que visa a minimização das políticas públicas por parte do Estado, o permitindo atuar apenas em casos de extrema probreza, pois, tendo a previdência social como exemplo, esta faz-se uma das áreas mais importantes na configuração das políticas sociais, tornando-se objeto de profundas alterações no quadro das contra-reformas neoliberais implementadas durante a década de 1990 (Teixeira, 2001). A exemplo disso a autora expressa:

Esta ‘reforma’ faz parte de um projeto global, político e ideológico, ligado a abertura dos mercados e às privatizações, temas postos na ordem do dia pela agenda neoliberal [...] Desta forma, haverá um volume maior de receitas cumulativas (só podem ser acessadas a longo prazo pelo contribuinte), e uma clientela obrigatória (já que a única forma de proteção contra os riscos dependerá das condições individuais de compra). (Teixeira, 2001:54)

Essa “reforma”, em vista aos direitos dos trabalhadores, possui um caráter regressivo e reacionário, trazendo conceitos que vão contra a concepção de seguridade inscrita na Carta de 1988. E apesar dessas configurações alinhadas ao sistema do capitalismo contemporâneo, a Constituição Federal brasileira obtém grande importância na construção dos direitos no Brasil, pois a partir da mesma foi possível erguer normatizações visando melhores condições de vida para população.

Desta forma, tendo a Constituição como ponto de partida, marcos legais foram proclamados no Brasil, no qual o principal deles se destaca no Estatuto do Idoso, configurado como um marco jurídico para proteção da população idosa, visto que considera demandas, vulnerabilidades e direitos humanos. Este foi aprovado em 01 de outubro de 2003, na forma da lei n. 10.741, tendo incorporado em si medidas de proteção e que visem o bem-estar do idoso, bem como políticas de atendimento,

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acesso a justiça, discorrendo também sobre crimes. Contém não apenas leis e políticas já aprovadas pela Constituição Federal, mas traz novos elementos que possibilitaram a ampliação dos conhecimentos na área do envelhecimento e da saúde da pessoa idosa. Ele trata sobre os seguintes aspectos: vida, liberdade, respeito, dignidade, alimentação, saúde, educação, cultura, esporte, lazer, profissionalização do trabalho, previdência social, assistência social, habitação e transporte, determinando assim os direitos e o estabelecimento da rede de proteção e atendimento direcionados aos idosos. Diante disso, Torres e Sá vêm afirmar que essas legislações voltadas para pessoa idosa possibilitam:

reconhecer o lugar social desse idoso, bem como identificar o significado da condição de cidadania desse segmento populacional. (Torres e Sá, 2008:04)

Além dos fatores expressos, Camarano (2013) expõe que o Estatuto se faz o principal marco legal porque até a década de 1990 o que existia de legislação relativa aos idosos se manifestava de forma “fragmentada em ordenamentos jurídicos setoriais ou em instrumentos de gestão política”, sendo que somente a partir de sua instituição que os benefícios dos idosos foram regulados em múltiplas esferas e dimensões.

O Estatuto do Idoso levou sete anos tramitando no Congresso Nacional e resultou também de mobilizações como expressa Camarano:

Este foi fruto da organização e mobilização dos aposentados e pensionistas e idosos vinculados à Confederação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas (COBAP) e ao Movimento dos Servidores Aposentados e Pensionistas (MOSAP), de representantes da Associação Nacional de Gerontologia (ANG) e de diversas seções estaduais, de representantes da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), da Confederação

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Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG),de representantes religiosos, em especial, da Pastoral Nacional e pastorais de diversos estados e de federações associações de aposentados. (Camarano, 2013:08)

Apesar das grandes conquistas por meio de tal instrumento, o Estatuto possui diversas contradições, as quais algumas são explicitadas por Camarano (2013). A autora destaca alguns artigos que possuem controvérsias:

“Art. 40

I – a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários mínimos;

II – desconto de 50% (cinquenta por cento), no mínimo, no valor das passagens, para os idosos que excederem as vagas gratuitas, com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários mínimos”.

Ao buscar beneficiar os idosos neste âmbito o Estatuto falha ao não estipular fontes que financiem tais dispositivos, pois isso resulta em tarifas mais caras que recaem sobre a população. Da mesma forma acontece referente a proposta que visa a proibição da cobrança pelos planos de saúde de valores diferenciados para pessoas com idade acima dos 60 anos, não permitindo a existência de uma faixa de preço específica e mais elevada para idosos (Camarano, 2013).

Art. 15 - É vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade.

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Desta maneira os gestores buscam criar estratégias para que os recursos sejam alcançados, visto que os gastos com a saúde crescem com o avanço da idade. Como após os 60 anos as seguradoras não podem mais aumentar o valor dos planos, que são elevados anualmente em 20%, passam a ser cobrados com um valor 70% mais caro quando o indivíduo completa 59 anos.

Entre 54 e 58 anos, um indivíduo paga, em média, R$ 1.143,35 e quando completa 59 anos passa a pagar R$ 1.911,43. Ou seja, em vez de os custos serem diluídos ao longo do intervalo etário que caracteriza a população idosa, eles se concentram nos 59 anos. (Camarano, 2013: 15)

Desta forma, ao buscar a lucratividade de suas empresas, os benefícios são “descaracterizados” mediante as soluções encontradas, que impõem custos adicionais a população ou acionam mecanismos que prejudicam os idosos.

Outro âmbito que possue controvérsias se faz referente a saúde e cuidado com o idoso. Visando este fator, o Estatuto estabeleceu o direito do idoso de ter um acompanhante familiar no caso de internação, como é referido no artigo 16:

“Art. 16 – ao idoso internado ou em observação é assegurado o direito a acompanhante, devendo o órgão de saúde proporcionar as condições adequadas para a sua permanência em tempo integral, segundo o critério médico”.

Embasado assim na lei, os hospitais, sobretudo os públicos, têm transferido à família funções que são de sua responsabilidade, como dar banho ou alimentar o idoso por exemplo. Desta maneira, normas do Estatuto que visam a proteção da população

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idosa, se tornam alvo de distorções que isentam o Estado de responsabilidades e sobrecarregam cada vez mais as famílias sem considerar o contexto de suas vivências. Desta forma, o Estatuto trouxe avanços, bem como ainda possui contradições passíveis de reavaliação. Entretanto, ele ainda configura-se como uma grande conquista para efetivação dos direitos da pessoa idosa, visto que seus princípios orientaram as discussões sobre os mesmos, dispondo também em suas regras gerais sobre a proteção integral a essa população.

Portanto, como exposto, a Constituição Federal proporcionou muitos ganhos para todos os indivíduos e inclusive para pessoa idosa, visto que a partir dela, regulamentações e direitos foram instituídos buscando melhor qualidade de vida para população brasileira, mesmo tendo seus princípios vitimados pelos ajustes neoliberais, que buscou sua desregulamentação. Diante disto, o objetivo do próximo capítulo está em identificar quais são os impactos na vida dos idosos decorrente da atuação de forma mínima do Estado, bem como conhecer os impactos e estratégias de sobrevivência utilizadas por essa população, com base em pesquisas que foram realizadas com os idosos do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para pessoa Idosa do município de Rio das Ostras.

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CAPITULO II

AS POLÍTICAS SOCIAIS PARA IDOSOS NO MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS E AS ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA DAS PESSOAS IDOSAS

2.1 – Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para pessoa Idosa no município de Rio das Ostras

No ano de 1992 no município de Rio das Ostras, algumas ações isoladas começaram a ser registradas na esfera da assistência social. Como apontado por Borges (2009), a organização traçava-se como uma assessoria de promoção social vinculada à Secretaria Municipal de Saúde. As ações realizadas pautavam-se na realização de encaminhamentos para o serviço de saúde, marcação de exames, concessão de remédios, entre outras orientações. No ano de 1996 ocorre então o desmembramento desses setores por meio da criação da Secretaria Municipal de Bem-Estar Social - SEMBES. De acordo com Borges as áreas priorizadas foram:

Atendimento a família, atenção à criança e adolescente, apoio aos usuários com deficiência, promoção das pessoas da terceira idade, possibilitando também a qualificação profissional da população, bem como sua inserção no mercado de trabalho. (Borges, 2009:23)

Assim sendo, as ações foram ampliadas, de forma que, com o intuito de expandir o acesso dos idosos aos seus direitos, no ano de 2002 deu-se origem ao Projeto Feliz Idade, atual Serviço de Convivência e Fortalecimento de vínculos para pessoa Idosa - SCFVI.

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O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para pessoas Idosas, teve sua origem como Programa Especial de Atenção a Terceira Idade, no ano de 2002, por meio da Secretaria Municipal de Bem-Estar Social, sendo sancionado em 2003 pelo prefeito Alcebíades Sabino do Santos. O Programa foi criado embasado na lei 818/03, referente ao Benefício Municipal do Idoso. Esta lei foi alterada no ano de 2006, pelo prefeito Carlos Augusto Carvalho Baltazar, através da lei 1.056/06, que veio permitir aos idosos, inscritos no programa, estando porém, impossibilitados de participar das atividades por estarem acamados, a continuar recebendo o benefício.

O Programa ganhou espaço e recebeu o nome de Projeto Feliz Idade, passando a ofertar diversas atividades e oficinas aos idosos com intuito de lhes favorecer de formas múltiplas, lhes dando o acesso a mais um direito, visto que o lazer lhes é assegurado pelo Estatuto do Idoso.

Entretanto, em 2015, o Projeto recebeu uma nova configuração, se tornando um serviço de convivência, passando a acolher os idosos referenciados pelo CRAS - PAIF, tendo que promover a integração e qualidade de vida e fortalecimento de vínculos sociais e familiares desses indivíduos sociais, deixando também de estar responsável pela concessão dos benefícios acima citados.

Desta forma, o SCFVI firmou seu objetivo em também fazer com que os idosos se insiram em alguma atividade que lhes é oferecida para que sejam beneficiados mental, física e emocionalmente, pois as oficinas funcionam para eles como atividades terapêuticas, lhes favorecendo também fisicamente, funcionando estas como forma de melhorar a saúde, prevenindo e se dando como tratamento de doenças. Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, as atividades físicas alcançam retardar declínios funcionais que são causados pelo envelhecimento, contribuindo também para controlar depressão ou demência. Essas atividades beneficiam os idosos também psicológica e socialmente, pois o espaço do Projeto concede que eles alcancem a interação uns com os outros, bem como os faz estar mais perto da sociedade, ao invés de serem excluídos pela idade que possuem.

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Por meio de entrevistas realizadas com os idosos inseridos nesse Projeto, pôde ser identificado os benefícios que o mesmo tem trazido para a vida desses usuários, que vão além do âmbito financeiro.

Eu entrei aqui e eu não tinha idade. Eu vim do BBV, um programa para pessoas que tem problemas especiais. Então eu fiquei oito anos no BBV até inteirar os 60 anos pra entrar no Feliz Idade. Então me ajudou em muita coisa, porque eu não andava, tinha muita dificuldade, porque o Parkinson meu era muito forte. E eu tive muita ajuda. No BBV me ensinaram a me movimentar e hoje eu estou bem melhor. E depois vim pra cá e aí que melhorei mesmo. (ESR, 66 anos)

Me trouxe muitos benefícios, na saúde, no dia-a-dia... Porque quando eu vim para Rio das Ostras eu estava entrando em depressão e aí eu conheci o Projeto na praia, o Projeto Bom Dia. E através dele eu conheci o Projeto daqui e aqui é muito bom porque a gente faz amizade, a gente dança, a gente pula, a gente corre, a gente tem atenção. Então aquela depressão que estava sendo criada em mim eu não tenho mais. Eu fico feliz quando estou aqui. Isso aqui pra gente é saúde, não é benefício financeiro, porque daqui eu não ganho um centavo, mas as amizades que eu já fiz não tem preço. (MLC, 69 anos)

Os idosos não apenas obtiveram uma aproximação de seus direitos na área da saúde2 ao se inserirem no Projeto, como também passaram a ter maior conhecimento e

acesso aos direitos assistenciais.

Eu consegui me encostar através do projeto aqui, porque eu pegava cesta básica e ia no Projeto. Quando foi um dia, eu fui no Projeto e além de não ter o dinheiro para comprar o remédio, eu não tinha dinheiro pra comprar comida e nessa época eu morava sozinha. Então através dali, a assistência social pegou todos meus documentos e ligou pra lá e fez todo o acompanhamento comigo. Aí através do projeto que eu consegui me encostar. (MPS, 60 anos)

Oh, aqui tem benefício sim, porque eu tinha minha cesta básica. Agora parou, mas o dia que eu preciso eles me dão. Eu vim agora 2 O Projeto Feliz Idade trabalha com ações preventivas e não no tratamento de doenças. Este fator não absorve o sistema de saúde do munícipio de sua precariedade a que os cidadãos têm sido submetidos, visto que há falta de médicos, de material necessário e filas intermináveis, onde posterior a toda espera, os pacientes não são atendidos

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pedir um cobertor porque tá muito frio e a menina foi lá panhar pra mim. (JEM, 73 anos)

Como exposto acima na fala desse idoso, muitos deles também se inserem no Projeto com o intuito de alcançar o recebimento de algum benefício, pois embora hoje ele não se faça mais responsável pela concessão dos benefícios, muitos desses idosos ainda realizam essa associação.

Portanto, a partir disso, podemos então compreender que essa política pública traz benefícios para essa população que vão além do âmbito financeiro, pois embora este se faça essencial na vida desses idosos, pôde ser percebido que o Projeto Feliz Idade / SCFVI vem lhes beneficiando de diversas formas, os auxiliando na articulação com a cultura, com a arte, com educação, lhes concedendo também um aumento da qualidade de vida nessa etapa tão importante e que necessita de tantos cuidados.

A partir de todo esse contexto em que estão inseridos, conhecemos esses usuários de forma mais profunda por meio de um levantamento de dados, como veremos a seguir.

2.2. Perfil da população usuária

Em decorrência do contexto descrito no primeiro capítulo deste trabalho sobre a minimização das políticas públicas, e em específico, voltadas para população idosa, foi objetivado inserir nesta pesquisa o perfil dos idosos que participam no SCFVI de Rio das Ostras, por meio de dados coletados no ano de 2014, através de 54 entrevistas realizadas de forma aleatória, que trouxeram base para o conhecimento da realidade desses usuários. Os dados são os seguintes:

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Feminino 45

Masculino 9

o Escolaridade:

Não alfabetizados 10

Alfabetizados 11

Ensino fundamental completo 0 Ensino fundamental incompleto 24

Ensino médio completo 6

Ensino médio incompleto 2 Ensino superior completo 1 Ensino superior incompleto 0

o Procedência:

Outro município 47

Outro estado 7

Sempre morou em Rio das Ostras 0 o Situação da moradia: Própria 43 Alugada 9 Cedida 2 o Situação da construção Pronta 30 Iniciada 0 Inacabada 14 Paralisada 8 Em andamento 2 o Água: Encanada 32 Poço 20 Outra 2

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o Esgoto: Fossa 39 Rede 14 Outra 1 o Eletricidade: Relógio próprio 47 Relógio compartilhado 5 Sem relógio 5 o Composição familiar: Mora sozinho 14 Esposo ou companheiro 22

Outros (filhos, irmãos, netos, genros, noras, netos)

18

o Renda mensal (somando com a renda dos membros da família): Menos de um salario mínimo 3

De 1 a 2 salários mínimos 40 De 2 a 3 salários mínimos 10 Acima de 3 salários mínimos 1

o Quem mais contribui com a renda:

Você mesmo 41

Cônjuge/companheiro 9

Outro 4

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Possuem 32

Não possuem 22

o Benefício Municipal do idoso:

Recebem 33

Não recebem 21

o Cartão do bem:3

Recebem 24

Não recebem 30

o Beneficio de Prestação Continuada:

Recebem 17

Não recebem 37

o Aposentadoria:4

Recebem 32

Não recebem 22

De acordo com os dados 83% dos usuários que participam do projeto são mulheres (porcentagem referente aos 54 formulários).

Segundo dados do IBGE (censo demográfico de 2010), de 105.676 habitantes de Rio das Ostras, a população acima de 60 anos que representam as mulheres somam o quantitativo de quatro mil novecentos e noventa e sete (4997 moradoras), e dos homens soma quatro mil cento e sessenta e um (4161 moradoras), podendo ser 3 O Cartão do Bem é um benefício que veio substituir a cesta básica, sendo constituído no valor de R$ 100. O Benefício Municipal do Idoso é referente ao valor de R$ 360.

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este um dos fatores que represente a grande maioria de mulheres inscritas no projeto. Apesar disso, deve-se levar em consideração também, que as configurações das famílias vêm mudando, tornando-se grande parte das mulheres as provedoras do lar, como afirma o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2010), que expõe que o número de mulheres como chefes de família vem crescendo a cada ano no Brasil.

Outro fator que chamou atenção foi que no somatório dos itens a seguir, essa mesma porcentagem procede para o número de idosos que são alfabetizados (ou seja, sabem apenas escrever o nome), não alfabetizados ou para aqueles que não completaram o ensino fundamental (a maior parte deles relata que começou o ensino fundamental, mas ao menos sabem ler e escrever direito). Os idosos que chegaram ao ensino médio ou superior, somou o total de 17% dos usuários.

Pôde ser percebido, que ao serem indagados sobre sua escolaridade, eles mostravam-se envergonhados pela sua condição. Justificavam-se dizendo que por morarem na “roça” tinham que parar de estudar para trabalhar e ajudar com as despesas de casa. Outros diziam: “Na roça não havia estudo direito”.

Peres (2011), em seu artigo para revista Sociedade Estado, aborda exatamente os fatores que levaram os idosos de hoje, que moravam na área rural ou no interior, terem um baixo nível escolar. Ele aponta o seguinte:

Como a atual educação escolar foi estruturada com a emergência da sociedade urbano-industrial capitalista, não é de se estranhar que o meio rural ficasse relegado ao esquecimento, na condição de mero "apêndice" da vida urbana. O resultado disso é a construção de uma educação centrada na vida da cidade e distante da vida no campo. (Peres, Idem:7)

Segundo o autor, a educação foi erguida nas grandes cidades com o advento da industrialização, com o intuito de formar e disciplinar o trabalhador da indústria. Entretanto o meio rural foi excluído desse projeto modernizador capitalista, pois seriam

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educados aqueles que fossem úteis para a sociedade capitalista industrializada. Diante disso, compreende-se as altas taxas de analfabetismo e semi-analfabetismo da população idosa da região, que deriva de um fator histórico, pelo difícil acesso a educação na área rural.

Contudo, mesmo por este fator ter implicado em sua inserção no mercado de trabalho, 59% deles recebem aposentadoria ou pensão, e 31% recebem o Beneficio de Prestação Continuada. Sendo que 6% recebem menos de um salario mínimo e 74% recebem entre um a dois salários. Os que recebem acima de dois salários mínimos somam 20%.

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Referente a situação da casa, quando eram questionados, muitos deles erguiam o seguinte discurso: “não está inacabada... quando posso ajeito algo. Até demora um pouco, mas faço uma coisa ou outra”. Ou diziam: “Está pronta, porque não vou ter mais dinheiro para fazer obra. Até precisa de melhorias, mas não posso”. Houveram também idosos que disseram já ter contraído empréstimos para terminar a casa, por elas estarem inacabadas comprometendo sua saúde.

Muitos deles, ao falarem da renda mensal, diziam que certo valor dos seus salários eram descontados por eles terem contraído algum empréstimo.

Segundo Eunice Chrisostomo (2013), os benefícios e os programas de transferência de renda tem sido alvo de financeirizaçao, de forma que as legislações que estabelecem o empréstimo consignado, possuem o intuito tão somente de beneficiar essas instituições financeiras.

A oferta de empréstimo vem embutida em propagandas que fazem com que os idosos acreditem em uma mudança de vida e o vejam como um benefício. E eles aceitam, quando assim o fazem por opção, porque se veêm diante de condições precárias, como se encontrassem no empréstimo a solução para a necessidade vivenciada. Entretanto, esses idosos não tem uma total compreensão sobre o funcionamento dessas operações de crédito, não se dando conta do quanto sua renda

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estará comprometida com sua efetivação. O pagamento desta dívida se dá de forma que o valor é repassado diretamente para as instituições financeiras, para que o aposentado não possa ter a chance de escolha quanto as suas prioridades frente a suas necessidades.

De acordo com Chrisostomo, que fez seu TCC sobre “Empréstimo consignado da terceira idade: expressões da financeirização da politica social”, embasada na realidade dos idosos que frequentam o Projeto Feliz Idade, a maior parte dos idosos que contraíram empréstimos moram em casas próprias, bem como atesta os dados coletados por meio desses 54 formulários.

Apesar disso, em sua maioria, suas condições de moradia são precárias, pois segundo o site do sindipetro, baseado no relato do engenheiro florestal e ambientalista Júlio Leitão (Sindipetro.gov.br), apenas os bairros nobres do município, como o Mariléia e o Centro da cidade possuem coleta e tratamento de esgoto. Ele relata também que geralmente, as pessoas que possuem fossa ou sumidouro, descartam os resíduos nas redes pluviais, podendo acarretar em diversas doenças para a população. Assim, foi identificado que 72% dos usuários possuem fossa ou sumidouro, 2% dispensam diretamente em rios/canais e 26% dizem ter rede de esgoto. Deles, 59% possuem poço e 41% água encanada. Entretanto, muitos deles disseram que água quase não cai, tendo que comprar. Outros dizem que tem de ficar sem água mesmo, pois não possuem condições de realizar a compra.

Portanto, segundo as dados coletados, foi identificado que os idosos do Projeto Feliz Idade, em sua maioria, vivenciam uma realidade de exclusão e subalternidade, tendo que buscar na prestação de serviços públicos, alternativas para sua sobrevivência (Yasbek, 1993). São usuários, que tiveram seu processo histórico marcado por um baixo nível de rendimentos e precárias alternativas de trabalho, vivenciando em seu cotidiano diversas expressões da questão social.

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2.3 - Estratégias de sobrevivência

Para realização do presente trabalho entrevistas com alguns usuários foram feitas novamente, neste ano de 2016, com a perspectiva de conhecer de maneira mais profunda suas realidades e estratégias de sobrevivência mediante as mazelas que vivenciam.

Neste momento, foi-lhes questionado sobre suas inserções no mercado de trabalho, onde obtivemos o resultado de que apenas 44% da quantidade entrevistada tiveram a carteira de trabalho assinada ao exercer suas profissões. Uma senhora ao ser indagada sobre a assinatura de sua CLT respondeu:

Ah, eu trabalhava cortando cana, na usina, capinando, roçando, tudo... Já fiz de tudo um pouco. Então antigamente não tinha esse negócio de assinar carteira. A gente trabalhava feito burro, mas não tinha direito nenhum. (MPS, 60 anos)

Da mesma maneira a maior parte deles relatou sobre as precárias condições de trabalho que vivenciaram, tendo alguns realizado a contribuição ou sobrevivem hoje apenas com as pensões deixadas pelos conjugês falecidos ou ainda fazem-se dependentes do Benefício de Prestação Continuada – BPC.

Desta forma, eles foram questionados sobre suas perspectivas frente a chegada da terceira idade e as respostas obtidas, em sua maioria, foram:

Pensava que ia ser momento de descanso, porque quando a gente tá novo, a gente luta para quando a idade chegar a gente descansar, ter uma idade mais tranquila, mas a minha vida ficou pior ainda. Minha vida se tornou pior, porque eu não tenho paz. Minha vida é chorar muito, porque eu passo por muita dificuldade. É conta de luz pra pagar, telefone bloqueado, cartão de banco, porque o cartão que eu tinha eu não pude pagar. É essa a minha vida. (LSB, 73 anos)

Eu achava que se aposentar era muito bom, mas não é não. É uma ilusão. Você quando é jovem e trabalha, você pensa na

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aposentadoria, você pensa que ela vai ser um mar de rosas, mas não é nada disso. Sabe por quê? Porque com a aposentadoria vem a idade, com a idade vem as enfermidades, com as enfermidades vem os gastos e aqueles anos todos que você trabalhou e o dinheiro que você recebe como aposentado não dá pra nada. (MLC, 69 anos)

Por meio dessas falas pôde ser percebido o quanto essa fase da velhice se torna muitas vezes penosa para a maior parte deles, pois é um momento que eles aguardam esperando alcançar um descanso e um alívio de suas duras jornadas de trabalho, entretanto, acabam se encontrando em dificuldades, sobretudo financeira, de forma que não alcançam ter prazer nesta fase da vida. Eles expressam que o valor da aposentadoria não faz-se suficiente para suprir suas necessidades básicas, visto que possuem grandes gastos com remédios e exames devido a problemas de saúde, conforme uma idosa descreveu:

Infelizmente, eu falo por mim e por outros idosos, não estão conseguindo ganhar o suficiente pra se manter. Pra se manter com a comida, pra se manter com os remédios, pra se manter com tudo, é difícil, é muito, muito, muito difícil. (MLC, 69 anos)

Diante do exposto, os idosos expressaram suas principais estratégias de sobrevivência mediante a minimização de seus direitos. Uma delas faz-se voltada para realização de trabalhos informais como forma de obter um complemento em suas rendas para alcançar um pouco mais de suas necessidades básicas supridas, como apresentado nos relatos:

Qualquer dinheirinho que chega ajuda muito. Eu até pedi para uma dona pra arrumar uma roupa pra mim passar, que aí já dá pra quebrar um galho. (SMA, 62 anos)

Eu faço algumas coisinhas em casa, faço tapete de tirinhas e vou arrumando coisas pra eu fazer. Mas nem sempre as pessoas compram, mas quando vende já ajuda. (MPS, 60 anos)

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Mesmo aposentado eu trabalhava em outros lugares, fazia biscates. (JEM, 73 anos)

Eu trabalho às vezes, faço alguma costura. (ESR, 66 anos)

Até pouco tempo eu trabalhava a noite numa casa de festas, mesmo aposentada. Só que eu adquiri Lúpus e eu não posso mais trabalhar a noite, porque essa doença acaba com a imunidade. Mas esse trabalho que eu fazia a noite me ajudava maravilhosamente bem. Mas faz falta porque você não tem de onde tirar o dinheiro, eu não tenho de onde tirar, porque eu não sei fazer nada, como uma costura por exemplo, pra tirar um extra. (MLC, 69 anos)

Este fator é exemplificado por Teixeira (2009), que expressa que imensa parte da população idosa sobrevive no mercado informal de trabalho, sendo exposto pela autora que 50% dos idosos e 1\3 das idosas no Brasil, ainda fazem-se inseridos no sistema produtivo.

Outra alternativa utilizada por alguns deles é recorrer aos parentes, vizinhos ou amigos:

Quando o salário não da pra tudo eu ligo para um dos meus filhos, porque eu tenho dois filhos, e esse tem uma condição financeira melhor, aí ele me ajuda. (MSP, 70 anos)

Quando meu esposo pode me ajudar ele me ajuda. Senão eu espero receber pra poder comprar os remédios. (MPS, 60 anos) Quando eu preciso de alguma coisa eu recorro aos meus vizinhos. Às vezes falta um remédio, uma comida, uma fruta, uma verdura. Mas meus filhos mesmo, nenhum liga pra mim. (LSB, 71 anos)

Como expressado na fala dessa idosa, a maioria deles não têm ajuda dos filhos, seja por conflitos familiares ou porque de fato eles também não tem condições financeiras de ajudar.

Eu não tenho ninguém que me ajude. Eles lá tem que cuidar dos filhos deles. São três filhos e eu até às vezes dou uma forcinha

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pra eles, mas a maioria são eles. Eu não tenho compromisso de fazer nada pra eles não. (JEM, 73 anos)

Eu até tinha uma filha que me ajudava, mas ela tá desempregada. (SMA, 62 anos)

Não tenho filho que me ajude. Tudo é eu. Eu costuro, trabalho, não dependo de filho pra nada. (ERS, 66 anos)

Diante dos relatos, visto que alguns não recebiam nem ajuda de próximos, nem possuiam condições físicas de realizar algum trabalho com o intuito de adquirir renda extra, eles foram questionados sobre o que faziam para obter os remédios, alimentos e coisas básicas e a resposta voltou-se principalmente para a seguinte frase e realidade: “Eu deixo de comprar”. E pôde ser notado que o primeiro elemento que acaba tendo que cair de prioridade em vista a moradia e alimento, foram os remédios. Ou seja, eles acabam negligenciando a própria saúde como alternativa de sobrevivência, sendo que ela é essencial para que se tenha vida. Entretanto, essa se torna muita das vezes a única escolha possível.

Tô numa luta porque eu ganho um salário mínimo e pago uma casa de R$ 700,00 e tem conta de luz, sabe?! Não é suficiente. Eu tive pricípio de trombose e a doutora disse que eu não posso ficar sem tomar o remédio e ele é R$ 120,00. (SMA, 62 anos)

Alguns deles relataram ainda tentar conseguir remédios na farmácia municipal, porém disseram que nem sempre há os medicamentos que necessitam, restando apenas voltar-se para a compra dos mesmos.

O principal gasto é com remédio porque a gente vai na farmácia da prefeitura e não tem o remédio, então vou ter que comprar. (JEM, 73 anos)

Não falta remédio porque eu passo no cartão e compro. Esse mês meu remédio já acabou, mas eu tô esperando o cartão virar

Referências

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