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AS POLÍTICAS SOCIAIS PARA IDOSOS NO MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS E AS ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA DAS PESSOAS IDOSAS

2.2. Perfil da população usuária

Em decorrência do contexto descrito no primeiro capítulo deste trabalho sobre a minimização das políticas públicas, e em específico, voltadas para população idosa, foi objetivado inserir nesta pesquisa o perfil dos idosos que participam no SCFVI de Rio das Ostras, por meio de dados coletados no ano de 2014, através de 54 entrevistas realizadas de forma aleatória, que trouxeram base para o conhecimento da realidade desses usuários. Os dados são os seguintes:

Feminino 45

Masculino 9

o Escolaridade:

Não alfabetizados 10

Alfabetizados 11

Ensino fundamental completo 0 Ensino fundamental incompleto 24

Ensino médio completo 6

Ensino médio incompleto 2 Ensino superior completo 1 Ensino superior incompleto 0

o Procedência:

Outro município 47

Outro estado 7

Sempre morou em Rio das Ostras 0 o Situação da moradia: Própria 43 Alugada 9 Cedida 2 o Situação da construção Pronta 30 Iniciada 0 Inacabada 14 Paralisada 8 Em andamento 2 o Água: Encanada 32 Poço 20 Outra 2

o Esgoto: Fossa 39 Rede 14 Outra 1 o Eletricidade: Relógio próprio 47 Relógio compartilhado 5 Sem relógio 5 o Composição familiar: Mora sozinho 14 Esposo ou companheiro 22

Outros (filhos, irmãos, netos, genros, noras, netos)

18

o Renda mensal (somando com a renda dos membros da família): Menos de um salario mínimo 3

De 1 a 2 salários mínimos 40 De 2 a 3 salários mínimos 10 Acima de 3 salários mínimos 1

o Quem mais contribui com a renda:

Você mesmo 41

Cônjuge/companheiro 9

Outro 4

Possuem 32

Não possuem 22

o Benefício Municipal do idoso:

Recebem 33

Não recebem 21

o Cartão do bem:3

Recebem 24

Não recebem 30

o Beneficio de Prestação Continuada:

Recebem 17

Não recebem 37

o Aposentadoria:4

Recebem 32

Não recebem 22

De acordo com os dados 83% dos usuários que participam do projeto são mulheres (porcentagem referente aos 54 formulários).

Segundo dados do IBGE (censo demográfico de 2010), de 105.676 habitantes de Rio das Ostras, a população acima de 60 anos que representam as mulheres somam o quantitativo de quatro mil novecentos e noventa e sete (4997 moradoras), e dos homens soma quatro mil cento e sessenta e um (4161 moradoras), podendo ser 3 O Cartão do Bem é um benefício que veio substituir a cesta básica, sendo constituído no valor de R$ 100. O Benefício Municipal do Idoso é referente ao valor de R$ 360.

este um dos fatores que represente a grande maioria de mulheres inscritas no projeto. Apesar disso, deve-se levar em consideração também, que as configurações das famílias vêm mudando, tornando-se grande parte das mulheres as provedoras do lar, como afirma o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2010), que expõe que o número de mulheres como chefes de família vem crescendo a cada ano no Brasil.

Outro fator que chamou atenção foi que no somatório dos itens a seguir, essa mesma porcentagem procede para o número de idosos que são alfabetizados (ou seja, sabem apenas escrever o nome), não alfabetizados ou para aqueles que não completaram o ensino fundamental (a maior parte deles relata que começou o ensino fundamental, mas ao menos sabem ler e escrever direito). Os idosos que chegaram ao ensino médio ou superior, somou o total de 17% dos usuários.

Pôde ser percebido, que ao serem indagados sobre sua escolaridade, eles mostravam-se envergonhados pela sua condição. Justificavam-se dizendo que por morarem na “roça” tinham que parar de estudar para trabalhar e ajudar com as despesas de casa. Outros diziam: “Na roça não havia estudo direito”.

Peres (2011), em seu artigo para revista Sociedade Estado, aborda exatamente os fatores que levaram os idosos de hoje, que moravam na área rural ou no interior, terem um baixo nível escolar. Ele aponta o seguinte:

Como a atual educação escolar foi estruturada com a emergência da sociedade urbano-industrial capitalista, não é de se estranhar que o meio rural ficasse relegado ao esquecimento, na condição de mero "apêndice" da vida urbana. O resultado disso é a construção de uma educação centrada na vida da cidade e distante da vida no campo. (Peres, Idem:7)

Segundo o autor, a educação foi erguida nas grandes cidades com o advento da industrialização, com o intuito de formar e disciplinar o trabalhador da indústria. Entretanto o meio rural foi excluído desse projeto modernizador capitalista, pois seriam

educados aqueles que fossem úteis para a sociedade capitalista industrializada. Diante disso, compreende-se as altas taxas de analfabetismo e semi-analfabetismo da população idosa da região, que deriva de um fator histórico, pelo difícil acesso a educação na área rural.

Contudo, mesmo por este fator ter implicado em sua inserção no mercado de trabalho, 59% deles recebem aposentadoria ou pensão, e 31% recebem o Beneficio de Prestação Continuada. Sendo que 6% recebem menos de um salario mínimo e 74% recebem entre um a dois salários. Os que recebem acima de dois salários mínimos somam 20%.

Referente a situação da casa, quando eram questionados, muitos deles erguiam o seguinte discurso: “não está inacabada... quando posso ajeito algo. Até demora um pouco, mas faço uma coisa ou outra”. Ou diziam: “Está pronta, porque não vou ter mais dinheiro para fazer obra. Até precisa de melhorias, mas não posso”. Houveram também idosos que disseram já ter contraído empréstimos para terminar a casa, por elas estarem inacabadas comprometendo sua saúde.

Muitos deles, ao falarem da renda mensal, diziam que certo valor dos seus salários eram descontados por eles terem contraído algum empréstimo.

Segundo Eunice Chrisostomo (2013), os benefícios e os programas de transferência de renda tem sido alvo de financeirizaçao, de forma que as legislações que estabelecem o empréstimo consignado, possuem o intuito tão somente de beneficiar essas instituições financeiras.

A oferta de empréstimo vem embutida em propagandas que fazem com que os idosos acreditem em uma mudança de vida e o vejam como um benefício. E eles aceitam, quando assim o fazem por opção, porque se veêm diante de condições precárias, como se encontrassem no empréstimo a solução para a necessidade vivenciada. Entretanto, esses idosos não tem uma total compreensão sobre o funcionamento dessas operações de crédito, não se dando conta do quanto sua renda

estará comprometida com sua efetivação. O pagamento desta dívida se dá de forma que o valor é repassado diretamente para as instituições financeiras, para que o aposentado não possa ter a chance de escolha quanto as suas prioridades frente a suas necessidades.

De acordo com Chrisostomo, que fez seu TCC sobre “Empréstimo consignado da terceira idade: expressões da financeirização da politica social”, embasada na realidade dos idosos que frequentam o Projeto Feliz Idade, a maior parte dos idosos que contraíram empréstimos moram em casas próprias, bem como atesta os dados coletados por meio desses 54 formulários.

Apesar disso, em sua maioria, suas condições de moradia são precárias, pois segundo o site do sindipetro, baseado no relato do engenheiro florestal e ambientalista Júlio Leitão (Sindipetro.gov.br), apenas os bairros nobres do município, como o Mariléia e o Centro da cidade possuem coleta e tratamento de esgoto. Ele relata também que geralmente, as pessoas que possuem fossa ou sumidouro, descartam os resíduos nas redes pluviais, podendo acarretar em diversas doenças para a população. Assim, foi identificado que 72% dos usuários possuem fossa ou sumidouro, 2% dispensam diretamente em rios/canais e 26% dizem ter rede de esgoto. Deles, 59% possuem poço e 41% água encanada. Entretanto, muitos deles disseram que água quase não cai, tendo que comprar. Outros dizem que tem de ficar sem água mesmo, pois não possuem condições de realizar a compra.

Portanto, segundo as dados coletados, foi identificado que os idosos do Projeto Feliz Idade, em sua maioria, vivenciam uma realidade de exclusão e subalternidade, tendo que buscar na prestação de serviços públicos, alternativas para sua sobrevivência (Yasbek, 1993). São usuários, que tiveram seu processo histórico marcado por um baixo nível de rendimentos e precárias alternativas de trabalho, vivenciando em seu cotidiano diversas expressões da questão social.

2.3 - Estratégias de sobrevivência

Para realização do presente trabalho entrevistas com alguns usuários foram feitas novamente, neste ano de 2016, com a perspectiva de conhecer de maneira mais profunda suas realidades e estratégias de sobrevivência mediante as mazelas que vivenciam.

Neste momento, foi-lhes questionado sobre suas inserções no mercado de trabalho, onde obtivemos o resultado de que apenas 44% da quantidade entrevistada tiveram a carteira de trabalho assinada ao exercer suas profissões. Uma senhora ao ser indagada sobre a assinatura de sua CLT respondeu:

Ah, eu trabalhava cortando cana, na usina, capinando, roçando, tudo... Já fiz de tudo um pouco. Então antigamente não tinha esse negócio de assinar carteira. A gente trabalhava feito burro, mas não tinha direito nenhum. (MPS, 60 anos)

Da mesma maneira a maior parte deles relatou sobre as precárias condições de trabalho que vivenciaram, tendo alguns realizado a contribuição ou sobrevivem hoje apenas com as pensões deixadas pelos conjugês falecidos ou ainda fazem-se dependentes do Benefício de Prestação Continuada – BPC.

Desta forma, eles foram questionados sobre suas perspectivas frente a chegada da terceira idade e as respostas obtidas, em sua maioria, foram:

Pensava que ia ser momento de descanso, porque quando a gente tá novo, a gente luta para quando a idade chegar a gente descansar, ter uma idade mais tranquila, mas a minha vida ficou pior ainda. Minha vida se tornou pior, porque eu não tenho paz. Minha vida é chorar muito, porque eu passo por muita dificuldade. É conta de luz pra pagar, telefone bloqueado, cartão de banco, porque o cartão que eu tinha eu não pude pagar. É essa a minha vida. (LSB, 73 anos)

Eu achava que se aposentar era muito bom, mas não é não. É uma ilusão. Você quando é jovem e trabalha, você pensa na

aposentadoria, você pensa que ela vai ser um mar de rosas, mas não é nada disso. Sabe por quê? Porque com a aposentadoria vem a idade, com a idade vem as enfermidades, com as enfermidades vem os gastos e aqueles anos todos que você trabalhou e o dinheiro que você recebe como aposentado não dá pra nada. (MLC, 69 anos)

Por meio dessas falas pôde ser percebido o quanto essa fase da velhice se torna muitas vezes penosa para a maior parte deles, pois é um momento que eles aguardam esperando alcançar um descanso e um alívio de suas duras jornadas de trabalho, entretanto, acabam se encontrando em dificuldades, sobretudo financeira, de forma que não alcançam ter prazer nesta fase da vida. Eles expressam que o valor da aposentadoria não faz-se suficiente para suprir suas necessidades básicas, visto que possuem grandes gastos com remédios e exames devido a problemas de saúde, conforme uma idosa descreveu:

Infelizmente, eu falo por mim e por outros idosos, não estão conseguindo ganhar o suficiente pra se manter. Pra se manter com a comida, pra se manter com os remédios, pra se manter com tudo, é difícil, é muito, muito, muito difícil. (MLC, 69 anos)

Diante do exposto, os idosos expressaram suas principais estratégias de sobrevivência mediante a minimização de seus direitos. Uma delas faz-se voltada para realização de trabalhos informais como forma de obter um complemento em suas rendas para alcançar um pouco mais de suas necessidades básicas supridas, como apresentado nos relatos:

Qualquer dinheirinho que chega ajuda muito. Eu até pedi para uma dona pra arrumar uma roupa pra mim passar, que aí já dá pra quebrar um galho. (SMA, 62 anos)

Eu faço algumas coisinhas em casa, faço tapete de tirinhas e vou arrumando coisas pra eu fazer. Mas nem sempre as pessoas compram, mas quando vende já ajuda. (MPS, 60 anos)

Mesmo aposentado eu trabalhava em outros lugares, fazia biscates. (JEM, 73 anos)

Eu trabalho às vezes, faço alguma costura. (ESR, 66 anos)

Até pouco tempo eu trabalhava a noite numa casa de festas, mesmo aposentada. Só que eu adquiri Lúpus e eu não posso mais trabalhar a noite, porque essa doença acaba com a imunidade. Mas esse trabalho que eu fazia a noite me ajudava maravilhosamente bem. Mas faz falta porque você não tem de onde tirar o dinheiro, eu não tenho de onde tirar, porque eu não sei fazer nada, como uma costura por exemplo, pra tirar um extra. (MLC, 69 anos)

Este fator é exemplificado por Teixeira (2009), que expressa que imensa parte da população idosa sobrevive no mercado informal de trabalho, sendo exposto pela autora que 50% dos idosos e 1\3 das idosas no Brasil, ainda fazem-se inseridos no sistema produtivo.

Outra alternativa utilizada por alguns deles é recorrer aos parentes, vizinhos ou amigos:

Quando o salário não da pra tudo eu ligo para um dos meus filhos, porque eu tenho dois filhos, e esse tem uma condição financeira melhor, aí ele me ajuda. (MSP, 70 anos)

Quando meu esposo pode me ajudar ele me ajuda. Senão eu espero receber pra poder comprar os remédios. (MPS, 60 anos) Quando eu preciso de alguma coisa eu recorro aos meus vizinhos. Às vezes falta um remédio, uma comida, uma fruta, uma verdura. Mas meus filhos mesmo, nenhum liga pra mim. (LSB, 71 anos)

Como expressado na fala dessa idosa, a maioria deles não têm ajuda dos filhos, seja por conflitos familiares ou porque de fato eles também não tem condições financeiras de ajudar.

Eu não tenho ninguém que me ajude. Eles lá tem que cuidar dos filhos deles. São três filhos e eu até às vezes dou uma forcinha

pra eles, mas a maioria são eles. Eu não tenho compromisso de fazer nada pra eles não. (JEM, 73 anos)

Eu até tinha uma filha que me ajudava, mas ela tá desempregada. (SMA, 62 anos)

Não tenho filho que me ajude. Tudo é eu. Eu costuro, trabalho, não dependo de filho pra nada. (ERS, 66 anos)

Diante dos relatos, visto que alguns não recebiam nem ajuda de próximos, nem possuiam condições físicas de realizar algum trabalho com o intuito de adquirir renda extra, eles foram questionados sobre o que faziam para obter os remédios, alimentos e coisas básicas e a resposta voltou-se principalmente para a seguinte frase e realidade: “Eu deixo de comprar”. E pôde ser notado que o primeiro elemento que acaba tendo que cair de prioridade em vista a moradia e alimento, foram os remédios. Ou seja, eles acabam negligenciando a própria saúde como alternativa de sobrevivência, sendo que ela é essencial para que se tenha vida. Entretanto, essa se torna muita das vezes a única escolha possível.

Tô numa luta porque eu ganho um salário mínimo e pago uma casa de R$ 700,00 e tem conta de luz, sabe?! Não é suficiente. Eu tive pricípio de trombose e a doutora disse que eu não posso ficar sem tomar o remédio e ele é R$ 120,00. (SMA, 62 anos)

Alguns deles relataram ainda tentar conseguir remédios na farmácia municipal, porém disseram que nem sempre há os medicamentos que necessitam, restando apenas voltar-se para a compra dos mesmos.

O principal gasto é com remédio porque a gente vai na farmácia da prefeitura e não tem o remédio, então vou ter que comprar. (JEM, 73 anos)

Não falta remédio porque eu passo no cartão e compro. Esse mês meu remédio já acabou, mas eu tô esperando o cartão virar

pra eu comprar outro pra mim, porque a prefeitura nunca tem então eu compro. (LMCD, 70 anos)

Os remédios que os médicos passam não tem na prefeitura. Tem que entrar com um processo na prefeitura, esperar a liberação. Eu já fiz esse processo para receber esse remédio que é caro e estou esperando por três anos. Nunca veio! Não liberaram, então desisti. Voltei no médico e falei com ele: Doutor, não dá pra mim comprar, passa um mais barato que dê pra mim comprar. Aí foi. (MSP, 70 anos)

Ao tratar sobre o assunto, Chrisostomo (2013:59) relata que os critérios existentes para o acesso as políticas não considera a realidade social desses idosos, visto que alguns não alcançam obter o acesso as farmácias populares por exemplo, por possuirem plano de saúde, pago em alguns casos pelos filhos que não possuem condições de arcar com os custos dos medicamentos também, ou simplesmente por apresentarem receitas médicas oriundas da rede privada, não sendo levado em conta também a falta de médicos ou a precariedade existente na rede pública de saúde que os faz migrar a rede particular como meio de alcançar resposta mais rápida diante da doença.

Neste contexto pôde ser percebido que para a falha existente na concessão das políticas sociais, eles recorrem ao setor bancário, vendo-se forçados pelas circunstâncias a entrar na lógica da financeirização do capital. Neste viés alguns deles alegaram já ter contraído empréstimos, sendo essa mais uma estratégia obtida por eles, visto que aqueles que o declararam o disseram ter feito por questões de saúde.

Meu salário tá muito pouco. Eu tive que panhar um empréstimo devido a doença da minha mulher e eu não tinha dinheiro porque o pagamento era pra comprar os remédios. Então eu tive que panhar empréstimo caro e tô pagando ainda. (JEM, 73 anos) Eu peguei um empréstimo para ajudar minha filha porque ela tá com a perna machucada, aí meu benefício só sai R$ 480,00 pra mim, até eu pagar o empréstimo. Aí muitas vezes eu passo necessidade, porque não tenho ninguém que me ajude. Às vezes quem me ajuda é um estranho. (LSB, 71 anos)

Neste âmbito os idosos são vistos pelo capital como fonte de lucratividade. Certo é que, mediante a lógica da sociedade contemporânea, a importância do indivíduo está interligada a sua inserção no mundo do trabalho, fazendo com que o idoso, ao tornar- se inativo, perca um grande valor. Contudo, nessa população também foi encontrada um potencial para acelerar o desenvolvimento econômico por meio do empréstimo consignado. De acordo com Soares (2006), a aprovação do emprétimo consignado, instituído pela lei 10.820/2003 durante o governo Lula, tem o propósito de elevar o mercado de crédito, contendo assim os desequilíbrios macroeconômicos deixados pelos governos anteriores, como dívida pública, déficits em contas correntes, dentre outros. Nesta perspectiva, de acordo com Chrisóstomo (2013), o INSS foi escolhido como forma segura de que déficits não seriam acarretados, visto que os valores são repassados diretamente às instituições financeiras, de forma que a inadimplência não ocorra5. Neste sentindo, como tratado no tópico anterior, esses idosos realizam essas

operações de crédito como meio de suprir necessidades imprescindíveis, lhes sendo em alguns casos a única alternativa possível.

Diante dos relatos, pudemos conhecer as estratégias realizadas pelos usuários do SCFVI, onde foi alcançado entender que o acesso aos serviços públicos fazem-se essenciais na vida desses idosos de formas múltiplas. Entretanto, constatou-se também que esse atendimento se restringe as necessidades emergenciais, de forma fragmentada. Neste viés, Barbosa (2008) aponta que embora a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), vise que as políticas públicas se destinarão a atender “quem dela necessitar”, o acesso a esses serviços se dá forma restrita.

Essa restrição se apoia em diretrizes que vieram embutidas na configuração neoliberal, que deram subsídios ao Estado de transferir suas responsabilidades para a sociedade e a família dos usuários. Teixeira (2003) exemplifica este fator ao relatar que a perspectiva da Política Nacional do Idoso (Lei 8.842/94) de ter seus princípios básicos voltados para que a família, a sociedade e o Estado assegurem ao idoso os direitos a cidadania, bem como garantam sua participação na comunidade, defendam sua dignidade, bem-estar e o direito a vida, gerou a descentralização e a transferência

5

O emprétimo consignado ocorre também “via funcionários públicos, com abrangência a todos os trabalhadores regulamentados pela consolidação da lei trabalhista – CLT, que possuem conta salário.

dos serviços para setores comunitários, como forma de terceirizar a gestão da questão social, sendo isso que pretendem com o discurso da sociedade civil organizada.

Entretanto, ao buscarem outros caminhos além das políticas para suprimento de suas necessidades básicas, esses usuários buscam o caminho da caridade que depende da ajuda do próximo, não sendo este um meio garantido, como expressa Barbosa (2008):

Entendemos que o viver de “ajuda” quer dizer que não há certeza quanto ao futuro, que há uma espera, uma expectativa de que alguém lhe socorra, mas não existem garantias, já que o ato de ajudar vem da vontade e possibilidade do outro. (Barbosa, 2008:119)

Desta maneira, a vida desses idosos têm sido marcadas pelas expressões da “questão social” de infinitas formas, pois apesar da aposentadoria ter em seu propósito a garantia dos direitos do idoso e sua inclusão na sociedade, como apontam Fernandes e Santos (2007),

do ponto de vista econômico não permitem o atendimento satisfatório das suas necessidades de sobrevivência,

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